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Teorias da comunicação
Profa. Dra. Carina Adriele Duarte de Melo Figueiredo
1ª Edição
Gestão da Educação a Distância
Todos os direitos desta edi-
ção ficam reservados ao Unis 
- MG.
É proibida a duplicação ou 
reprodução deste volume (ou 
parte do mesmo), sob qual-
quer meio, sem autorização 
expressa da instituição.
Cidade Universitária - Bloco C
Avenida Alzira Barra Gazzola, 650,
Bairro Aeroporto. Varginha /MG
ead.unis.edu.br
0800 283 5665
Autoria
Currículo Lattes:
Doutora em Ciências da Linguagem. Concluiu o Mestrado em Letras (Linguagem, Cultura e Dis-
curso) em 2008 e graduação também em Letras em 2005. Foi professora efetiva na rede pública 
de ensino de 2006 a 2009. Atuou como professora substituta no Centro Tecnológico de Minas 
Gerais - CEFET/Varginha, no período de 2014 a 2015. Atualmente, é coordenadora no curso de 
Letras no Centro Universitário Sul de Minas - UNIS/MG, instituição na qual também leciona em 
diversos cursos de graduação desde 2009. Possui experiência na área de Letras, com ênfase 
em Língua e Literatura, e desenvolve pesquisas sobre língua, literatura, discurso e formação de 
professores.
Profa. Dra. 
Carina Adriele Duarte de Melo Figueiredo
http://lattes.cnpq.br/6909130283777291
5
Unis EaD
Cidade Universitária – Bloco C
Avenida Alzira Barra Gazzola, 650, 
Bairro Aeroporto. Varginha /MG 
ead.unis.edu.br
FIGUEIREDO, Carina Adriele Duarte de Melo. Teorias da Comunica-
ção. Varginha: GEaD-UNIS/MG, 2020.
98 p.
1. Comunicação. 2. Linguagem. 3. Mundo. 4. Pensamento.
Os escafandristas virão explorar sua casa
seu quarto, suas coisas, sua alma, desvãos
Sábios em vão tentarão decifrar
o eco de antigas palavras fragmentos de cartas, 
poemas mentiras, retratos 
vestígios de estranha civilização
(Chico Buarque, Futuros Amantes) 
 Caro estudante, proponho, nesta disciplina, que você seja um escafandrista no oceano 
da linguagem: olhe para os sentidos das palavras, investigue a sensação das cores, explore as 
diferentes formas de dizer, decifre os silêncios…
 O Capítulo I investigará o objeto de estudos da Comunicação enquanto campo do sa-
ber. Ao final, há uma breve incursão na teoria dos signos na perspectivas dos estudos semioló-
gicos e semióticos. 
 No Capítulo II, vamos tentar compreender os (des)encontros entre as palavras Língua, 
Linguagem, Texto e Discurso. Também falaremos sobre as práticas e os modelos de comunica-
ção.
 O Capítulo III apresenta um breve panorama da história das Teorias da Comunicação e, 
posteriormente, aborda com mais ênfase algumas dessas correntes teóricas. 
 Nos Capítulos IV e V, realizaremos discussões críticas e interdisciplinares a respeito da 
comunicação, sobretudo, da comunicação contemporânea. 
 Há muito conteúdo para estudarmos? Há. Mas “não se afobe, não, que nada é pra já.” Nos 
estudos das Teorias da Comunicação, pretendemos instaurar mais perguntas que respostas. 
 O filósofo Wittgenstein dizia que “Os limites da minha linguagem são os limites do meu 
mundo.” Venha com os olhos bem abertos e os ouvidos atentos, a disciplina Teorias da Comuni-
cação nos ajudará a aprender a aprender e ampliará o nosso mundo a partir das novas lingua-
gens que conheceremos. 
 Seja bem-vinda(o)! Sinta-se acolhida(o).
 Um abraço,
 Carina
Ementa
Orientações
Palavras-chave
O objeto da comunicação social: a informação e a comunicação. A semiologia e 
a semiótica. Objetivo, identificação e compreensão das práticas de comunicação. 
Estudos dos modelos e processos de comunicação. Comunicação: contribuição 
interdisciplinar. Abordagem crítica dos meios de comunicação. A teoria da infor-
mação e da recepção. As diversas correntes teóricas da comunicação. Crítica da 
comunicação na contemporaneidade.
Ver Plano de Estudos da disciplina, disponível no ambiente virtual.
Comunicação. Linguagem. Mundo. Pensamento. 
Unidade I - O Objeto da Comunicação Social: A Informação e a Comunicação 12
Introdução 12
1.1. Afinal, o que é a Comunicação? 12
1.2. As Produções de Sentido na Não Comunicação 16
1.3. O Objeto da Comunicação 18
1.4. Semiologia e Semiótica: Primeiras Palavras 19
1.5. Palavras Finais da Unidade I 33
Unidade II - As Práticas Comunicativas e os Seus Modelos 35
Introdução 35
2.1. Objetivo, Identificação e Compreensão das Práticas de Comunicação 35
2.2. Estudos dos Modelos e Processos de Comunicação 38
2.2.1. Modelo Linear de Lasswell 39
2.2.2. O Modelo de Osgood e Schramm 39
2.2.3. Modelos de Merton e Lazarsfeld 40
2.2.4. O Modelo Espiral de Dance 41
2.2.5. O Modelo Geral de Comunicação de Gerbner 42
2.2.6. Os Modelos de Produção de Notícias 44
2.2.6.1. O Gatekeeper 44
2.2.6.2. Newsworthness 45
2.2.7. Os Modelos de Schramm e de Westley e McLean 46
2.2.8. O Modelo de “Efeito de Enquadramento” 48
2.3. Palavras Finais da Unidade II 52
Unidade III - As Diversas Correntes Teóricas da Comunicação 54
Introdução 54
3.1. Panorama dos Estudos da Comunicação 54
3.2. A Teoria Hipodérmica 60
3.3. A Teoria Funcionalista 61
3.4. A Teoria Matemática da Comunicação 63
3.5. A Escola de Frankfurt e a Teoria Crítica 64
3.6. Palavras Finais da Unidade III 72
Unidade IV – Os Estudos Culturais e as Contribuições de Mcluhan e Edgar 
Morin Para a Comunicação 74
Introdução 74
4.1. Os Estudos Culturais 74
4.2. A Técnica e os Meios de Comunicação 75
4.2.1. McLuhan e os Meios de Comunicação 76
4.2.2. Edgar Morin e a Crítica da Comunicação na Contemporaneidade 78
4.3. Palavras Finais da Unidade IV 82
Unidade V - Cibercultura, Comunicação Ubíqua e a Abordagem Interdiscipli-
nar 84
Introdução 84
5.1. Pierre Lévy e a Cibercultura 84
5.2. Lucia Santaella e a Comunicação Ubíqua 86
5.3. A Comunicação e Suas Contribuições Interdisciplinares 88
5.3.1. A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica 89
5.3.2. A Estética da Recepção 91
5.3.3. Damázio e Fabiano: a Força da Comunicação em Dois Exemplos Literários 93
5.4. Palavras Finais 94
Referências Bibliográficas 96
Objetivos da Unidade
Unidade I – O Objeto 
da Comunicação Social: 
A Informação e a 
Comunicação.I
- Compreender a comunicação como um campo do saber; 
- Investigar qual é o objeto de estudo da comunicação; 
- Introduzir os estudos semióticos; 
- Conhecer teoria geral dos signos nas perspectivas de Saus-
sure, Barthes e Peirce.
12 
Unidade I - O Objeto da Comunicação Social: A Informação e a Comunicação
Introdução
1.1. Afinal, o que é a Comunicação? 
 Sabemos que o tempo todo emanamos e consumimos sentidos: somos bombardea-
dos por diversas notícias, imagens, mensagens, mas também construímos sentidos através de 
linguagens, o nosso próprio corpo significa, o nosso silêncio significa... As mensagens que re-
cebemos e as que enviamos constituem possíveis formas de comunicação. De acordo com o 
Dicionário Aulete, o verbete comunicação tem as seguintes acepções:
(co.mu.ni.ca.ção)
sf.
1. Conceito, capacidade, processo e técnicas de transmitir e receber ideias, 
mensagens, com vistas à troca de informações, instruções etc.: A comunicação é 
um pré-requisito para a formação e consolidação de uma sociedade.
2. Ação ou resultado de comunicar(-se), de transmitir e receber mensagens: 
Esta empresa precisa melhorar a comunicação com as filiais.
3. A mensagem transmitida ou recebida, oral ou por escrito: Chegou uma comu-
nicação da matriz.
4. O conjunto de conhecimentos, técnicas e procedimentos sobre essa trans-
missão e recepção de ideias, informações e mensagens, ministrado como disci-
plina: Ela estudou comunicação.
5. Exposição oral ou escrita sobre determinado tema
6. Capacidade de dialogar; ENTENDIMENTO: A comunicação entre os cônjuges é 
fundamental.
7. Ação de conversar; COLÓQUIO; CONVERSÇÃO: Só têm comunicação por tele-
fone.
8. Aviso, participação (comunicação de noivado)
9. Ligação, passagem entre dois lugares: esse quarto tem comunicação com a 
sala.
10. Elet. Transmissão à distância de informação por meio de sinais em fios ouondaseletromagnéticas
11. Med. Anomalia cardíaca na qual há comunicação (9) entre compartimentos 
do coração que não deveriam tê-la (comunicação inter-auricular)
13
12. Telc. Conexão entre dois ou mais locais distanciados no espaço, por meio de 
dispositivos elétricos, eletrônicos, telegráficos, telefônicos etc.
13. Mec. Transmissão de movimento de um sistema mecânico a outro
14. Ling. Processo de emissão (por um emissor) e recepção (por um receptor) 
de mensagem em código linguístico comum a ambos
15. Psi. Inter-relação entre dois aspectos de uma personalidade, que propicia a 
influência das alterações sofridas por um deles sobre o outro
[Pl.: -ções.]
[F.: Do lat. communicatio, onis.]
Comunicação de massa
1 Teor.in. Circulação ou difusão de mensagens dirigidas indiferenciadamente a 
grandes parcelas da população, através dos meios de comunicação de massa 
(televisão, rádio, jornais etc.).
Comunicação humana
1 Teor.in. A que se faz entre seres humanos, por meio de sistemas de signos 
(como a linguagem falada e escrita), e não por instruções ou comandos (como 
a que envolve animais e máquinas); comunicação social.
Comunicação interpessoal
1 Teor.in. A que que se faz diretamente entre dois ou mais indivíduos (pela fala, 
por carta ou mensagem, por e-mail, pelo telefone etc.).
Comunicação não verbal
1 Teor.in. Comunicação que emprega sistemas de signos que não os da lingua-
gem falada ou escrita (como gestos, imagens, sinais etc.).
Comunicação social
1 Teor.in. A que, através de meios especializados e tecnicamente estruturados, 
se realiza entre um órgão de informação (empresa, organização oficial ou go-
vernamental etc.) e a sociedade.
2 A atividade profissional que se dedica a planejar e realiza essa comunicação.
3 Lus. Ver Comunicação de massa.
4 Ver Comunicação humana.
Comunicação verbal
1 Teor.in. A que se realiza por meio da linguagem falada ou escrita, exclusiva 
dos seres humanos.
14 
Comunicação visual
1 Teor.in. Aquela que tem como principal suporte o aspecto gráfico ou visual de 
uma mensagem (como expressa em formatação de textos, criação de cartazes, 
concepção de logotipos e logomarcas etc.).
2 Programação visual, parte do desenho industrial que expressa o conteúdo 
de mensagens e de informações em uma forma visual. (AULETE, 2011, p. 367)
 Lendo assim, a palavra e suas acepções parecem de fácil compreensão. “Comunicação: 
Ação ou resultado de comunicar(-se), de transmitir e receber mensagens.” No entanto, 
nem sempre as mensagens são trocadas sem ruídos, sem falhas e problemas na compreensão. 
As mensagens também não são sempre inocentes, sem implícitos, muitas vezes são arquite-
tonicamente construídas com intenções muito específicas. Investigar esses fenômenos e os 
efeitos de sentidos que eles geram será um dos nossos objetivos.
 Os estudos sobre “o que é a comunicação” e “como ela se faz?” constituem o que chama-
mos de Teorias da Comunicação. Como afirmam FRANÇA; SIMÕES (2016): “O estudo da co-
municação inicia com uma reflexão sobre o seu próprio objeto: o que é, afinal, comunicação?”. 
Sabemos que a comunicação está em toda parte: nas séries a que assistimos, nos podcasts que 
ouvimos, no “Bom dia” na padaria, nas conversas cotidianas, nos livros teóricos que lemos. Por 
isso, o tempo todo estamos aprendendo algo, pois somos sujeitos constituídos de linguagem. 
Em nós, falam os discursos de nossos avós, pais, os discursos dos livros que lemos, das nos-
sas filiações políticas e filosóficas. A comunicação produz em nós conhecimentos. As autoras 
FRANÇA e SIMÕES (2016) ainda chamam atenção para esses conhecimentos que a comunica-
ção suscita:
15
Essa comunicação - dimensão sensível, concreta, material da re-
alidade social - suscita dois tipos de conhecimento. O primeiro 
deles poderíamos chamar de conhecimento prático ou opera-
cional. A comunicação é do domínio do fazer: é ação humana, 
intervenção especializada dos indivíduos no mundo. Enquanto 
fazer, supõe e aciona um saber-fazer: o trabalho com a comuni-
cação supõe o domínio de técnicas e operações; a familiarida-
de com suas linguagens, o desenvolvimento de certas atitudes, 
como a criatividade, o senso crítico, a capacidade de organiza-
ção e de síntese. 
Podemos, no entanto, também falar de um outro conhecimen-
to, igualmente necessário, que vai além do conhecimento ope-
racional, que complementa o saber fazer, e constitui um saber 
sobre o fazer, sobre os “fazeres” e sobre os “feitos”. Trata-se de um 
conhecimento mais global, que vem indagar sobre o alcance e 
o significado das próprias práticas comunicativas, sobre a inter-
venção e a criação dos indivíduos no terrenos das imagens e 
dos sentidos, sobre a produção das representações e dos mun-
dos imaginais. Existindo enquanto fenômeno particular, prática 
social que veio reconfigurar o perfil e a dinâmica da sociedade 
contemporânea, a comunicação moderna vem sendo objeto de 
uma reflexão acadêmica que busca compreender, explicar e por 
vezes dominar o fenômeno comunicativo. (FRANÇA; SIMÕES, 
2016, p. 20-21).
 Interessante pensar nessa criação dos indivíduos no terreno das imagens e dos senti-
dos. Se nascêssemos no sul da Rússia, seríamos quem hoje somos? A fim de continuarmos com 
essas reflexões, recomendo que você, estudante das Teorias da Comunicação, assista a dois 
filmes:
16 
a) Nell - Nell é uma jovem que cresceu em uma casa no meio da flo-
resta. A jovem foi criada apenas por sua mãe que aparentava ter al-
gum problema neurológico (possivelmente vítima de um AVA), pois 
apresentava dificuldades na fala e no andar. Depois que sua mãe 
morre, Nell é descoberta por um médico e se torna motivo de muita curiosidade: teria 
a jovem algum distúrbio? Ou seria apenas a reprodução do que aprendeu na floresta e 
na convivência com sua mãe. 
b) O Enigma de Kaspar Houser - O filme apresenta uma temática semelhante à de 
Nell. Kaspar Houser foi uma criança misteriosamente encarcerada e isolada até os 16 
anos. Só a partir daí ele passou a ter contato com a civilização e com a língua. Kaspar 
Houser nunca desenvolveu plenamente as habilidades da fala e apresentava compor-
tamentos muito distintos dos demais jovens que tiveram a interação desde criança. As 
questões que ficam são: quais são os impactos de um isolamento social? Há reversão?
 Ambos os filmes nos permitem pensar no quanto somos sujeitos de linguagem e o 
quanto as nossas relações e o meio interferem em quem somos. As narrativas revelam, inclusi-
ve, a importância da comunicação no processo civilizador de um sujeito. Isso fica notório quan-
do viajamos para lugares com culturas muitos distintas das nossas. A forma como vivemos é 
apenas um convenção, visto que existem várias outras formas de uma sociedade ser constituí-
da. 
1.2. As Produções de Sentido na Não Comunicação 
 Até mesmo quando “a comunicação não comunica” há uma produção de sentido. Pen-
semos, por exemplo, nos boletins de números relacionados à pandemia de COVID-19 publica-
dos nas redes sociais dos jornais ou das prefeituras:
17
Fonte: Imagem disponível no Instagram do perfil @noticiandovarginha 
Figura 1 - Boletim Diário do Coronavírus, cidade de Varginha
18 
 Neste contexto, se uma prefeitura evita publicar os números como os acima relaciona-
dos à contaminação, provoca, na sociedade, uma falsa sensação de que não existe uma con-
taminação pelo vírus. O mesmo podemos dizer sobre os casos de corrupção no Brasil, se não 
há investigações de determinados políticos, gera uma possível falsa sensação de que aqueles 
políticos não são corruptos.
 Como se pode notar, até quando não há a comunicação, 
construímos sentidos.
1.3. O Objeto da Comunicação
 Até o momento, vimos a como as práticas comunicativas nos afetam, mas, ao pensar na 
Comunicação como um campo do saber, qual seria, afinal,o seu objeto investigativo? Quando 
pensamos nas Teorias da Comunicação em uma perspectiva mais empírica, somos induzidos a 
questionar qual é o seu objeto de estudo.
[...] entendemos que o objeto de estudo da comunicação é exatamente a co-
municação: uma concepção, uma forma de ver, perceber e enquadrar uma 
ação qualquer enfocando e resgatando sua dimensão comunicacional. Trata-se 
de um modelo através do qual podemos ler um dado fenômeno, por exemplo, 
um programa televisivo, um comício, uma conversa, enquanto prática comuni-
cativa, troca simbólica que envolve vários elementos. [...] A Comunicação, en-
quanto campo de estudo, apresenta-se como proposta de um novo caminho 
para conhecer e tratar os fenômenos sociais. Neste sentido, e em princípio, a 
análise comunicativa, isto é, o viés analítico comunicacional, pode se debruçar 
sobre múltiplos objetos: a comunicação amorosa entre duas pessoas, as práti-
cas comunicativas de uma tribo urbana, a Rede Globo, um fórum na internet. O 
que distingue a especificidade de um estudo sobre qualquer um desses temas 
não é o objeto em si, sua empiria, mas a maneira como vai ser tomado e anali-
sado. Os meios de comunicação podem ser analisados sob um viés psicológico, 
cultural, econômico... ou comunicativo. O que significa dizer, neste último caso: 
19
enquanto processo comunicativo, processo de produção e circulação de senti-
do entre duas ou mais pessoas; atividade de troca simbólica através da produ-
ção de material discursivo em certo contexto. (FRANÇA; SIMÕES, 2016, p. 29). 
 Como podemos notar, o objeto de estudo da Comunicação é a própria comunicação. 
No entanto, em uma análise, há que se considerar outros fenômenos decorrentes do processo 
comunicativo e da própria mídia.
 Tais fenômenos podem ilustrar aspectos culturais fundantes 
de uma sociedade, visto que a comunicação está presente em toda 
comunidade. Por exemplo, quando as pessoas não tinham acesso à 
internet e escreviam cartas, a forma como cada um lidava com a noção 
de tempo era diferente da atualidade em que uma mensagem instantânea visualizada 
e não respondida no Whatsapp gera até certa ansiedade. Observa-se aí, nesse pequeno 
exemplo, que o meio e o tipo de comunicação interferem nas formas de (con)viver.
1.4. Semiologia e Semiótica: Primeiras Palavras
 Além da palavra Semiótica, é comum ouvirmos a palavra Semiologia. A noção de se-
miologia aparece em Ferdinand de Saussure, no Curso de Linguística Geral. 
 Você sabia que o livro Curso de Linguística Geral foi uma pu-
blicação póstuma? Trata-se do resultado de uma compilação realizada 
pelos seus alunos de Saussure a partir das anotações que realizaram 
durante o curso de Linguística.
 Para Saussure, a semiologia é uma ciência que abrange as representações e tem como 
principal objeto de estudos: o signo.
20 
 Dito de uma forma bastante simplificada, poderíamos dizer 
que o signo = significante + significado. O significante é uma imagem 
acústica que está atrelado ao significado que, por sua vez, é o próprio 
conceito. A relação entre o significado e significante é arbitrária. O que 
isso quer dizer? Tal relação é apenas uma convenção social. “O signo linguístico une não 
uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica.” (SAUSSURE, 2000, p. 
81). Por exemplo,
Fonte: Figura extraída de SAUSSURE, 2000, p. 81.
Figura 2 - Representação do signo linguístico
 Roland Barthes - escritor, sociólogo, crítico literário, semiólogo e filósofo francês - am-
pliou a noção de signo desenvolvida por Saussure. Segundo Barthes, o signo é usado em sen-
tido figurado, metafórico ou simbólico, de acordo com o contexto em que é utilizado. A fim de 
compreender melhor, leia com atenção o texto de Barthes:
A cozinha dos sentidos 
 Uma roupa, um carro, uma iguaria, um gesto, um filme, uma música, uma ima-
gem publicitária, uma mobília, uma manchete de jornal, eis aí, aparentemente, objetos 
completamente heterogêneos. 
 Que podem ter em comum? Pelo menos o seguinte: todos são signos. Quando 
me movimento na rua - ou na vida - e encontro esses objetos, aplico a todos, às vezes 
21
sem me dar conta, uma mesma atividade, que é a de certa leitura: o homem moderno, 
o homem das cidades, passa o tempo a ler. Lê primeiro e principalmente imagens, ges-
tos, comportamentos: tal carro me diz o status social do proprietário, tal roupa me diz 
exatamente a dose de conformismo ou de excentricidade do seu portador, tal aperitivo 
(uísque, pernod ou vinho branco com cassis) o estilo de vida do meu hóspede. Mesmo 
quando se trata de um texto escrito, é-nos continuamente proposta uma segunda men-
sagem nas entrelinhas da primeira: se leio, em manchete com letras garrafais: Paulo VI 
tem medo, isso quer dizer também: se você ler a continuação, saberá por quê. 
 Todas essas “leituras” são importantes demais na nossa vida, implicam dema-
siados valores sociais, morais, ideológicos para que uma reflexão sistemática não tente 
assumi-las: é essa reflexão que, por enquanto pelo menos, chamamos de semiologia. 
Ciência das mensagens sociais? das mensagens culturais? das informações segundas? 
Apanhado de tudo que é “teatro” no mundo, da pompa eclesiástica à cabeleiras dos 
Beatles, do pijama de gala aos certames da política internacional? Pouco importa no 
momento a diversidade ou a flutuação das definições. 
 O que conta é poder submeter uma massa enorme de fatos aparentemente 
anárquicos a um princípio de classificação, e é a significação que fornece esse princípio: 
ao lado das diversas determinações (econômicas, históricas, psicológicas), será preciso 
doravante prever uma nova qualidade do fato: o sentido. 
 O mundo está cheio de signos, mas esses signos não têm todos a bela simplici-
dade das letras do alfabeto, das tabuletas do código de trânsito ou dos uniformes mili-
tares: são infinitamente mais complicados. Na maioria das vezes, nós os vemos como se 
fossem informações “naturais”; encontrou-se uma metralhadora tcheca nas mãos dos 
rebeldes congoleses: aí está uma informação incontestável; entretanto, na medida mes-
mo em que não se faz menção, ao mesmo tempo, do número de armas americanas em 
uso entre os governistas, a informação se torna um signo segundo, ela patenteia uma 
22 
escolha política. 
 Decifrar os signos do mundo sempre quer dizer lutar com certa inocência dos 
objetos. Todos nós, franceses, entendemos tão “naturalmente” o francês que nunca nos 
vem à cabeça a ideia de que a língua francesa é um sistema complicadíssimo e muito 
pouco “natural” de signos e de regras: da mesma maneira, é necessária uma constante 
sacudida da observação para ajustar o foco não sobre o conteúdo das mensagens, mas 
sobre a sua feitura: enfim, o semiólogo, como o linguista, deve entrar na “cozinha do 
sentido”. 
 Isso constitui uma empreitada imensa. Por quê? Porque um sentido nunca se 
pode analisar de modo isolado. Se estabeleço que o blue-jeans é o signo de certo dan-
dismo adolescente, ou o cozido, fotografado por determinada revista de luxo, o de uma 
rusticidade bastante teatral, e mesmo se multiplico essas equivalências para constituir 
listas de signos como as colunas de um dicionário não terei descoberto absolutamente 
nada. Os signos são constituídos por diferenças. 
 No início do projeto semiológico, pensou-se que a principal tarefa era, segundo 
a palavra de Saussure, estudar a vida dos signos no seio da vida social e, consequente-
mente, reconstituir sistemas semânticos de objetos (indumentária, alimentação, ima-
gens, rituais, protocolos, músicas etc.). Isso está por fazer. Mas, ao avançar nesse projeto 
já imenso, a semiologia encontra novas tarefas; por exemplo, estudar essa operação 
misteriosa pela qual uma mensagem qualquer se impregna de um sentido segundo, 
difuso, em geral ideológico, a que se chama “sentido conotado”: seleio num jornal a 
seguinte manchete: “Em Bombaim reina uma atmosfera de fervor que não exclui nem o 
luxo nem o triunfalismo”, recebo por certo uma informação literal sobre a atmosfera do 
Congresso Eucarístico; mas percebo também certo estereótipo de frase, feito de um 
sutil balanceamento de negações, que me remete a uma espécie de visão equilibrante 
do mundo: esses fenômenos são constantes, é preciso desde já estudá-los em grande 
23
escala com todos os recursos da linguística. 
 Se as tarefas da semiologia aumentam sem cessar, é que de fato descobrimos 
cada vez mais a importância e a extensão da significação no mundo; a significação tor-
na-se o modo de pensar do mundo moderno, algo como o “fato” constituiu preceden-
temente a unidade de reflexão da ciência positiva. 
Le Nouvel Observateur, 
10 de dezembro de 1964. 
 Esse texto de Roland Barthes está disponível no livro A aventura 
semiológica, publicado no Brasil pela editora Martins Fontes. 
 Como vimos, Barthes amplia a noção de signo proposta por Saussure. Ambos os auto-
res ainda utilizam a palavra semiologia. Muitos estudiosos consideram a Semiologia apenas 
um subconjunto da Semiótica que, por sua vez, tem uma bem mais ampla, pois ela é uma 
ciência dos signos em geral - e não apenas dos signos linguísticos, como propunha Saussure. 
Segundo a professora e pesquisadora Lúcia Santaella:
a Semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação to-
das as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exa-
me e dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno 
como fenômeno de produção de significado e de sentido. (SAN-
TAELLA, 1983, p. 13)
24 
 Nos estudos semióticos, uma grande referência é Charles Sanders Peirce - americano 
que se dedicou aos estudos da lógica, matemática, filosofia e, principalmente da semiótica. 
 Para os estudos semióticos, interessa-nos muito a relação objeto-pensamento desen-
volvido nas pesquisas de Peirce. Nos textos a seguir, há uma breve apresentação da tríade peir-
ceana:
Texto I
Charles S. Peirce (1839- 1914) funda a semiótica, corrente norte-americana 
da ciência dos signos, contrapondo, ao sistema dicotômico de Saussure, uma 
estrutura triádica básica formada pelo signo ou representámen, pelo objeto e 
pelo interpretante que dinamiza a relação de significação. Peirce introduz a 
imagem nesta trilogia, ao definir que “um signo, ou, para usar um termo mais 
genérico e mais definido, um representamen é um ou outro destas três cate-
gorias: ou é um ícone, ou um índice, ou um símbolo” (Pierce, 1998, CP 4.447) 
Os ícones são signos substitutivos, ou imagens que mantêm uma relação 
de semelhança (conexão ótica), com a realidade representada (fotografia, 
mapa), enquanto os símbolos são signos convencionais, que representam 
algo através de diagramas comummente reconhecidos e aceites pelos intér-
pretes (pomba, símbolo de paz), e os índices são signos indiciais, que mantém 
relações causais com os objetos ou as ideias que representam (fumo, indício 
de fogo).
Fonte: Texto disponível em: https://amusearte.hypotheses.org/1075 Acesso: 26 jul. 2020.
Figura 3 - Relação triádica do signo, segundo C. S. Peirce
25
Texto II
 Peirce listou três modos de o signo mediar os significados:
• Ícone: um parâmetro com relação de semelhança com o objeto. Uma foto, por 
exemplo. Onomatopeias seriam ícones verbais. As limitações do ícone basica-
mente são duas: nem todos os seres reconhecem um ícone (animais se auto re-
conhecerem em uma pintura) e depende da qualidade da representação, como 
um retrato cubista não ter um retratado tão facilmente reconhecível quanto em 
uma pintura realista.
• Índice: um parâmetro cujo signo possua uma relação de causalidade sensorial 
indicando seu significado. Alguns índices podem ser interpretados por animais. 
Por exemplo, onde há fumaça geralmente há fogo. Uma poça d’água pode indi-
car que houve chuva. Pronomes demonstrativos e advérbios são equivalentes 
verbais dos índices.
• Símbolo: uma relação puramente convencional entre o signo e seu significado. 
Não há fortes evidências que animais na natureza usem os símbolos. Sinais de 
chamados de baleias, cachorros e pássaros aproximam-se mais dos índices. A go-
rila Koko ou outro primatas que respondem a símbolos são exceções a serem 
estudados. O símbolo é explicado ad infinitum por outros referentes, como nas 
definições de um dicionário que levam a outra definição. Alguns símbolos são 
não verbais, como a cruz para simbolizar uma sepultura, a religião cristã, uma 
nacionalidade (em bandeiras), um hospital, dentre outros. Nas línguas, quase a 
totalidade das palavras são símbolos, representando alguma coisa, quer nominal 
(um substantivo ou adjetivo) ou uma ação.
Disponível em: https://url.gratis/kHAZ0 Acesso: 26 jul. 2020.
26 
Um Leonardo das ciências modernas 
 C. S. Peirce (1839-1914) era, antes de tudo, um cientista. Seu pai (Benjamim Peir-
ce) foi, na época, o mais importante matemático de Harvard, sendo sua casa uma es-
pécie de centro de reuniões para onde naturalmente convergiam os mais renomados 
artistas e cientistas. Portanto, desde criança, o pequeno Charles já conduzia sua exis-
tência num ambiente de acentuada respiração intelectual. É por isso que químico ele já 
era, desde os seis anos de idade. Aos 11 anos escreveu uma História da Química; e em 
Química se bacharelou na Universidade de Harvard.
 Mas Peirce era também matemático, físico, astrônomo, além de ter realizado 
contribuições importantes no campo da Geodésia, Metrologia e Espectroscopia. Era 
ainda um estudioso dos mais sérios tanto da Biologia quanto da Geologia, assim como 
fez, quando jovem, estudos intensivos de classificação zoológica sob a direção de Agas-
siz.
 Em nenhum momento de sua vida, contudo, Peirce se confinou estritamente às 
ciências exatas e naturais. No campo das ciências culturais, ele se devotou particular-
mente à Linguística, Filologia e História. Isso sem mencionarmos suas enormes contri-
buições à Psicologia que fizeram dele o primeiro psicólogo experimental dos EUA.
 Como se isso não bastasse, conhecia ainda mais de uma dezena de línguas, além 
deter realizado estudos em Arquitetura e cultivado a amizade de pintores. Conhecedor 
profundo de Literatura (especialmente Shakespeare e Edgar Allan Poe), fez elaborados 
estudos de dicção poética e chegou a escrever um longo conto (A Tale of Thessaly) para 
o qual não encontrou editor. Mais para o fim de sua vida, estava escrevendo uma peça 
de teatro. Praticava ainda a “arte quirográfica”, além de ser um grande experimentador 
TEXTO COMPLEMENTAR
27
de vinhos, tendo desenvolvido essa aprendizagem numa estada de seis meses em Voi-
sin. 
 Como explicar essa quase assombrosa diversidade de campos e interesses?
 Repetimos: Peirce era, antes de tudo, um cientista. E como cientista sobreviveu, 
trabalhando para o governo federal a serviço da “Costa e Inspeção Geodésica”, durante 
o dia, de 1861 a 1891, e simultaneamente, por algum tempo, no Observatório de Har-
vard College, durante a noite; trabalhos que aparentemente o afastaram da Química 
para pesquisas em Astronomia e ciências correlatas. No entanto, ao se aposentar, aos 52 
anos de idade, Peirce tentou se estabelecer como engenheiro químico, numa atividade 
que hoje chamaríamos de free-lancer.
 Um cientista, portanto, ele jamais deixou de ser, tendo produzido contribuições 
importantes e originais na Matemática e outras ciências até poucos dias antes de sua 
morte, em 1914. No entanto, por trás de tudo isso, existia um fio condutor: sendo um 
cientista, Peirce era, acima de tudo, um lógico. Essa foi a grande e irresistível paixão de 
toda a sua vida. 
 A quase inacreditável diversidade de campos a que se dedicou pode ser expli-
cada, portanto, devido ao fato de que se devotar ao estudo das mais diversas ciênciasexatas ou naturais, físicas ou psíquicas, era para ele um modo de se dedicar à Lógica. 
Seu interesse em Lógica era, primariamente, um interesse na Lógica das ciências. Ora, 
entender a Lógica das ciências era, em primeiro lugar, entender seus métodos de ra-
ciocínio. Os métodos diferem muito de uma ciência a outra e, de tempos em tempos, 
dentro de uma mesma ciência. Os pontos em comum entre esses métodos só podem 
ser estabelecidos, desse modo, por um estudioso que conheça as diferenças, e que as 
conheça através da prática das diferentes ciências. 
 Essa gigantesca empresa foi o que Peirce tomou para si, durante toda a sua vida. 
E, pela enormidade dessa empresa, pagou o preço da solidão, da miséria e de uma exis-
28 
tência sem qualquer tipo de glória. Durante 60 anos de sua vida, lutou pela considera-
ção da Lógica como uma ciência. Mas o dia da Lógica não havia ainda soado… 
 Peirce estava perfeitamente consciente (e isso ele declarou muitas vezes) de que 
a deliberada diversificação de seu trabalho em múltiplas ciências impediria que ele atin-
gisse a eminência que ele deveria ter atingido, se tivesse concentrado seus esforços 
em apenas uma delas, ou mesmo em algumas ciências proximamente relacionadas. No 
entanto, para ele a Lógica não era uma opção, mas uma paixão da qual não podia se 
desviar, mesmo que quisesse. 
 É por isso que as poucas e temporárias vezes que penetrou, como professor con-
vidado, os umbrais da Universidade do seu tempo, foram para ministrar palestras sobre 
Lógica. É por isso que, ao ser nomeado membro da Academia Americana de Ciência 
e Artes, em 1867, ele não apresentou senão cinco estudos, todos sobre Lógica. E, em 
1877, ao ser nomeado membro da Academia Nacional de Ciências (depois de ter sido 
indicado por cinco anos consecutivos), ele assim o foi, apesar de ter enviado apenas 
quatro estudos sobre Lógica, pelos quais queria ser julgado um homem da ciência ou 
não. Ao responderá Academia pela honra concedida, Peirce expressou sua satisfação 
pelo reconhecimento implícito da Lógica como ciência. 
 Mesmo assim, foi apenas na edição de 1910 em Quem é quem na América que 
compareceu, pela primeira vez, uma referência à profissão de Peirce como aquela de 
um lógico. Mas foi só depois de sua morte que ele passou a ser considerado um filósofo. 
E aqui começa uma outra estória. 
 Um só homem dialogando com 25 séculos de filosofia ocidental 
 Todo o tempo em que Peirce foi um cientista, ele foi também um filósofo. Aos 16 
anos de idade, começou a estudar Kant e, alguns anos mais tarde, sabia a Crítica da Ra-
zão Pura de cor. Não há qualquer campo da especulação filosófica que lhe tenha passa-
do despercebido: dos pré-socráticos e gregos aos empiristas ingleses, dos escolásticos 
29
a Descartes e todos os alemães...
 Desde muito cedo, quando ele começou na Filosofia, pretendeu trazer para 
esta uma aproximação alternativa que tinha, até então, poucos representantes, isto é, a 
aproximação ao pensamento filosófico através das ciências. Um filósofo, portanto, que 
levou para a Filosofia o espírito da investigação científica, que assumiu que as discipli-
nas filosóficas são ou podem se tornar também ciências e que, para tal, propôs aplicar 
na Filosofia, com as modificações necessárias, os métodos de observação, hipóteses e 
experimentos que são praticados nas ciências.
 Não é difícil se perceber, a partir disso, o vínculo que se estabeleceu, no seu pen-
samento, entre a Lógica e a Filosofia. Para ele, o caminho para a Filosofia tinha de se dar 
através da Lógica, mais particularmente, através da Lógica da ciência. Este caminho, por 
seu turno, se bifurcava: de um lado, através da prática das diversas ciências, de outro, 
através da História da ciência.
 Conclusão: se, até quase o final de sua vida, Peirce não conseguiu ser reconhe-
cido como lógico, não é de se estranhar que, através do caminho pelo qual optou pela 
Filosofia, tenha atravessado sua existência inteira, sem jamais ser reconhecido como 
filósofo. Não é de se estranhar, ainda, porque nenhuma Universidade americana soube 
lhe dar um emprego como professor: nem como cientista, nem como lógico, nem como 
filósofo. Peirce chegou cedo demais para o seu próprio tempo.
 Conforme uma afirmação de Max H. Fisch (filósofo norte-americano, venerável 
figura humana que tem dedicado praticamente quase 50 anos de sua existência à recu-
peração da obra de Peirce e a cujos artigos devo grande parte das informações biográfi-
cas que ora exponho), “Peirce era uma espécie de filósofo que era, em primeiro lugar um 
cientista, e uma espécie de cientista que era, em primeiro lugar, um lógico da ciência. 
Nenhuma Universidade, grande ou pequena, do seu tempo, soube o que fazer com tal 
filósofo ou com tal cientista”.
 Mas aqui chegamos ao ponto de cercar uma outra questão: o que tem a Semió-
30 
tica a ver com tudo isso? 
 A resposta, pelo menos em princípio, é simples: desde o começo do despertar 
do seu interesse pela Lógica, Peirce a concebeu como nascendo, na sua completude, 
dentro do campo de uma teoria geral dos signos ou Semiótica. Primeiramente, ele con-
cebeu a lógica propriamente dita (aquilo que conhecemos como Lógica) como sendo 
um ramo da Semiótica. Mais tarde, ele adotou uma concepção muito mais ampla da 
Lógica que era quase coextensiva a uma teoria geral de todos os tipos possíveis de sig-
nos. Na última década de sua vida, estava trabalhando num livro que se chamaria Um 
Sistema de Lógica, considerada como Semiótica.
 Mas o caminho de Peirce para a Semiótica começou muito, muito cedo. Diz 
ele:”... desde o dia em que, na idade de 12 ou 13 anos, eu peguei, no quarto de meu ir-
mão mais velho, uma cópia da Lógica de Whateley e perguntei ao meu irmão o que era 
Lógica, ao receber uma resposta simples, joguei-me no assoalho e me enterrei no livro. 
Desde então, nunca esteve em meus poderes estudar qualquer coisa — matemática, 
ética, metafísica, anatomia, termodinâmica, ótica, gravitação, astronomia, psicologia, 
fonética, economia, a história da ciência, jogo de cartas, homens e mulheres, vinho, 
metrologia, exceto como um estudo de Semiótica”.
 De tudo isso, cumpre, por enquanto, ser enfatizado que foi de dentro do diálogo 
de um só homem com 25 séculos de tradição filosófica ocidental, assim como foi de 
dentro de um gigantesco corpo teórico que veio gradativamente emergindo a sua teo-
ria lógica, filosófica e científica da linguagem, isto é, a Semiótica. Aproximar-se, portan-
to, dessa Semiótica, ignorando suas fundações e seu caráter de diálogo com a tradição, 
é “perder 99% de seu potencial instigador e enriquecedor para a história da Filosofia.
 Trata-se da obra de um pensador solitário e incansável, figura de uma rara e ini-
maginável envergadura científica, que passou praticamente os últimos 30 anos de sua 
vida estudando 16 horas por dia, e que deixou para a posteridade nada menos o que 80 
000 manuscritos, além de 12 000 páginas publicadas em vida.
31
 Considerando-se que, décadas depois de sua morte, apenas perto de 5.000 pá-
ginas (fragmentos mais ou menos arbitrariamente selecionados por entre essas 80 000) 
foram publicadas; considerando-se que só recentemente, graças aos esforços de grupos 
de estudiosos norte-americanos, esses manuscritos foram catalogados; considerando-
-se que só agora uma edição cronológica da produção de Peirce está sendo preparada 
para restaurar, senão a integralidade, pelo menos a integridade do seu pensamento, 
pode-se concluir que é com muito vagar que sua obra está sendo posta a público. Com 
igual vagar está sendo decifrada, devido ao seu alto teor de complexibilidade e origina-
lidade. 
 Contudo, pelo que me foi dado conhecer por entre essas dezenas de milhares de 
páginas — inclusive consultando diretamente os arquivos de Peirce, nos EstadosUni-
dos — posso afirmar que a Semiótica peirceana, longe de ser uma ciência a mais, é, na 
realidade, uma Filosofia científica da linguagem, sustentada em bases inovadoras que 
revolucionam, nos alicerces, 25 séculos de Filosofia ocidental. Afirmei isso, com alguma 
timidez, alguns anos atrás. Cada vez mais, no entanto, sou levada a confirmá-lo com 
menos hesitação. Evidentemente, neste pequeno volume, não poderei senão insinuar 
certas pistas e aclarar alguns conceitos de sua teoria. Faço questão dessas afirmações, 
no entanto, para que elas aqui compareçam como uma espécie de sinal de alerta.
 Resta, entretanto, tocar uma outra questão. Não há dúvida de que a tarefa, que 
assumi levar à frente neste livro, pode parecer ousada: traduzir para um nível de com-
preensão bem simples a visão geral de um pensamento e uma teoria que pulsam em 
complexibilidades e desbordam de muito o campo mais estrito de minha própria capa-
cidade. No entanto, assumo os riscos de minhas possíveis e prováveis lacunas. Se a am-
plidão de horizontes da Semiótica de Peirce veio muito cedo para o seu próprio tempo, 
que, pelo menos, não venha tarde demais para o nosso próprio tempo. E isso defendo 
porque, tanto quanto posso ver, toda grande descoberta científica, assim como toda 
grande obra de criação, não deveria, de direito, pertencer a um grupo, uma classe ou 
32 
mesmo uma nação, mas ao acervo da espécie humana. 
 O texto acima foi extraído do livro O que é Semiótica, de Lúcia 
Santaella, uma boa referência para quem pretende iniciar os estudos 
semióticos. 
 Antes de iniciarmos a próxima unidade, faça um breve resumo dos tópicos que estuda-
mos até o momento. Construir mapas mentais referentes aos conteúdos estudados também 
pode ajudar na compreensão dos tópicos.
33
1.5. Palavras Finais da Unidade I 
 Nesta primeira unidade vimos um pouco sobre a Comunicação e o seu objeto de es-
tudo e nos enveredamos na introdução à semiótica. Conhecemos brevemente a teoria dos 
signos nas perspectivas de Saussure, Barthes e Peirce. 
 Esperamos que essa primeira leitura tenha contribuído para que nos reconheçamos 
como sujeitos de linguagem. Tal premissa possibilita a construção de um olhar mais crítico à 
nossa volta e às leituras que fazemos da palavra e do mundo. 
 Na próxima unidade falaremos sobre o objetivo, a identificação e a compreensão das 
práticas de comunicação e estudaremos modelos e processos de comunicação. 
Objetivos da Unidade
Unidade II – As Práticas 
Comunicativas e os Seus 
ModelosII
- Compreender as noções de Língua, Linguagem, Texto e Dis-
curso;
- Identificar os objetivos e compreender as práticas de comu-
nicação;
- Estudar importantes modelos e processos de comunicação.
35
Unidade II - As Práticas Comunicativas e os Seus Modelos
Introdução
2.1. Objetivo, Identificação e Compreensão das Práticas de Comunicação
 Antes de adentramos nas práticas comunicativas, vamos retomar alguns vocábulos que 
recorrentemente aparecem nos estudos das Teorias da Comunicação, são eles: Língua, Lingua-
gem, Texto, Discurso e Comunicação.
Língua: A Língua é um sistema de comunicação de um povo. A Língua é arbitrária.
Linguagem: Mais ampla que a noção de Língua, a Linguagem engloba outras manifesta-
ções, como, por exemplo, a Linguagem Musical, a Linguagem Corporal, Linguagem Compu-
tacional etc.
Texto: A palavra “Texto” terá diferentes acepções a depender da teoria em que estiver in-
serida. No entanto, quando falamos de Texto em contraste a Discurso, podemos pensar no 
texto mais atrelado ao código linguístico e com menos ênfase aos aspectos extralinguísticos. 
Nesse contexto, texto seria apenas a materialidade, o encadeamento de palavras. Também é 
importante dizer que temos os textos verbais (compostos por palavras), os textos não verbais 
(imagens, símbolos…) e o textos mistos (junção dos textos verbais e não verbais).
Discurso: Não há como pensar em discurso sem pensar em sujeito e ideologia. Todo sujeito 
fala de um lugar social e sua fala é interpelada pela ideologia.
 Você sabe a diferença entre INTERTEXTO e INTERDISCURSO? A intertextualidade é a re-
lação entre textos. Um texto é criado a partir de outro pré-existente, há uma relação dialógica 
entre eles. Podemos citar como exemplos, as paródias, as paráfrases, as citações, entre outros. 
36 
 A interdiscursividade é a relação entre discursos. De acordo 
com FIORIN (2006): “A relação dialógica no texto não é manifestada, 
não é materializada linguisticamente quando ocorre a interdiscursivi-
dade, pois a interdiscursividade é a relação entre enunciados, os quais 
são compostos por vozes sociais que o enunciam. A relação interdiscursiva é uma rela-
ção dialógica a partir do momento em que existe uma relação de sentido entre os dis-
cursos, seja ele negado ou afirmado em outros enunciados.” (FIORIN, 2006). Por exemplo, 
o discurso “quase jurídico” de Bentinho em Dom Casmurro. 
 Em um processo comunicativo, devemos sempre considerar quem são os interlocuto-
res, qual é a produção discursiva e em qual contexto ela ocorre. De acordo com FRANÇA e 
SIMÕES (2016): 
O processo comunicativo compreende vários elementos: os 
interlocutores (a presença correferenciada de um e do outro); 
uma materialidade simbólica (a produção discursiva); a situação 
discursiva (o contexto imediato; sua inserção numa estrutura só-
cio-histórica particular). A relação que se estabelece entre esses 
elementos é móvel e diversificada. O objetivo da análise comu-
nicativa é justamente captar o desenho dessas relações; o po-
sicionamento dos sujeitos interlocutores; a criação das formas 
simbólicas; a dinâmica de produção de sentidos. O que, sem 
dúvida, é a contribuição ímpar para o conhecimento de nossa 
realidade contemporânea. (FRANÇA; SIMÕES, 2016, p. 29).
 Todos os três elementos são fundamentais na compreensão do processos comunicati-
vos. Vale ressaltar também suas condições móveis e diversificadas, se há alteração de um dos 
três elementos é provável que haverá também alteração de sentidos. 
37
Fonte: A autora
Figura 4 - Elementos do processo comunicativo
 Vejamos como uma simples alteração dos interlocutores pode alterar o sentido da 
produção discursiva. Imagine a frase “O sonho acabou” dita pelo músico John Lennon, agora 
imagine a mesma frase dita por um padeiro. Os sentidos serão completamente diferentes. Atu-
almente, muitas fake news são construídas alterando apenas um ou dois elementos do proces-
sos comunicativos. Veja:
Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/ Acesso 27 jul. 2020
Figura 5 - Notícia verificada
38 
 Como se pode notar, existe a produção discursiva (o vídeo), existem os interlocutores, 
no entanto, o contexto é diferente do que estava sendo falsamente divulgado: a comemoração 
foi em função da Páscoa judaica (Pessach), que celebra a libertação dos hebreus da escravidão 
no Egito. No entanto, estavam divulgando como se não houvesse mais nenhum paciente de 
Covid-19 na unidade de saúde. A alteração do contexto afeta os efeitos de sentido. 
 As práticas comunicativas possuem diferentes funções. Reconhecer tais funções e saber 
como as produções interferem nos resultados têm sido objeto de investigação desde o início 
do século XX. Cada vez mais teóricos da comunicação tem aperfeiçoado suas pesquisas a fim 
de investigar como cada prática comunicativa interfere socialmente o sujeito. Se a comunica-
ção tem diferentes funções, veremos também que há diversas formas de “dizer”. É sobre isso 
que falaremos no próximo tópico: modelos e processos de comunicação. 
2.2. Estudos dos Modelos e Processos de Comunicação
 Vimos que os interlocutores e o contexto são fundamentais na compreensão da prática 
comunicativa, mas como a produção discursiva pode se constituir? Existem diferentesmodelos 
de construção da mensagem? Sim. Existem! Nas próximas linhas vamos nos debruçar sobre 
alguns desses modelos a fim de tentar compreender como eles se manifestam socialmente 
através dos seus efeitos de sentidos.
 Os modelos de comunicação são criados a partir de dados es-
pecíficos e atual como um retrato analítico de uma situação. O modelo 
permite ao pesquisador ter uma imagem nítida dos dados e variáveis 
observadas. (MARTINO, 2009, p. 27)
 No entanto, há quem critique o uso de modelos, pois geralmente eles ilustram uma 
contexto restrito no tempo e no espaço. Vejamos alguns exemplos para que tiremos a nossa 
própria conclusão: 
39
2.2.1. Modelo Linear de Lasswell 
 O modelo foi proposto em 1948 por Harold D. Lasswell, um dos maiores teóricos da 
comunicação na primeira metade do século XX. Lasswell, que também era cientista político, 
propôs um modelo a partir dos seus estudos sobre mídia e política. Ele se interessava pela po-
tencialidade da comunicação em criar atitudes e opiniões. Veja o modelo:
Fonte: (MARTINO, 2009, p. 29 - Biblioteca Pearson)
Figura 6 - O modelo de Lasswell
 Apesar de uma aparente simplicidade, o modelo de Lasswell virou referência para vá-
rios outros modelos. Ele acredita que a comunicação tem funções e que a mídia funciona como 
agente articulador da sociedade. 
 Existem críticas ao modelo de Lasswell por considerarem-no bastante funcionalista. 
Lasswell cria um modelo de comunicação linear, mas a prática comunicativa é complexa. Por 
isso o modelo não dá conta das variáveis. Mas, sem dúvidas, o modelo teve o seu mérito por ser 
um dos primeiras dedicados exclusivamente à comunicação. 
2.2.2. O Modelo de Osgood e Schramm 
 Formulado por Charles Osgood e Wilbur Schramm em 1954, o modelo considerava im-
portante a possibilidade de uma reformulação da mensagem e uma resposta pelo receptor, 
40 
por isso sua principal premissa é a circularidade dos processos de comunicação (recepção e a 
resposta sempre existem).
Fonte: (MARTINO, 2009, p. 31 - Biblioteca Pearson)
Figura 7 - O modelo de Osgood e Schramm
 Como se pode notar, o ponto forte desse modelo é a interação. 
Osgood e Schramm enfatizam a existência de uma atividade de "interpretação" 
agindo ao mesmo tempo na codificação e na decodificação. Na prática, isso sig-
nifica que uma mensagem é sempre construída, tanto por quem emite quanto 
por quem recebe. Não existe uma mensagem pura, digamos, desvinculada das 
pessoas ou elementos vinculados a ela. [...] (MARTINO, 2009, p. 32 - Biblioteca 
Pearson) 
2.2.3. Modelos de Merton e Lazarsfeld 
 Os autores Robert Merton e Paul Lazarsfeld seguiram o modelo de Lasswell acerca das 
funções da comunicação. Para os autores, há que se perguntar: "qual é a extensão do poder da 
mídia na sociedade partindo do princípio de que não é possível deixar de ver as transforma-
41
ções provocadas pelos meios em todos os universos sociais." (MARTINO, 2009, p. 32 - Biblioteca 
Pearson)
 Robert Merton e Paul Lazarsfeld voltaram a atenção para as transformações sociais em 
que ocorria a substituição de uma cultura autêntica para uma cultura de massa produzida pela 
mídia. Eles elencam três funções da mídia que ainda são atuais para nós:
• A função de conferir e garantir status;
• A função de reforçar padrões de comportamento;
• A “disfunção” narcotizante (espécie de droga que distrai os sujeitos).
2.2.4. O Modelo Espiral de Dance 
 Criado por Frank Dance em 1967, é o primeiro modelo a considerar como o tempo 
transforma as relações da comunicação.
Não existe, para ele, uma comunicação estática: ela está sempre 
se movendo no sentido do tempo. A estrutura de comunicação 
tende a se alterar de acordo com a sequência de emissor-men-
sagem- receptor. [...] As falas de cada interlocutor ao mesmo 
tempo alteram e são alteradas pelas do outro. Não apenas a 
pergunta é alterada pela resposta, mas a cada frase os interlo-
cutores estão diferentes do que estavam no momento anterior. 
(MARTINO, 2009, p. 35 - Biblioteca Pearson)
42 
Fonte: (MARTINO, 2009, p. 35 - Biblioteca Pearson)
Figura 8 - O modelo espiral de Dance
2.2.5. O Modelo Geral de Comunicação de Gerbner 
 Criado pelo norte-americano George Gerbner em 1956, o modelo de Gerbner se expli-
ca da seguinte forma: "alguém percebe um evento e reage a essa situação através dos meios 
disponíveis, criando um produto, em uma forma e dentro de um contexto, conduzindo o con-
teúdo com alguma consequência." 
De acordo com Gerbner, seres humanos vivem em uma espécie 
de ilusão: pensamos que damos conta de falar sobre tudo ou 
de entender a totalidade das coisas. No entanto, o que perce-
bemos é apenas uma parte limitada, uma espécie de resumo da 
realidade - seu modelo explica como esse resumo é formado. 
Em sua representação gráfica, um evento (E) é percebido por 
algo ou alguém (M). Essa percepção, isto é, a relação entre a re-
alidade e o indivíduo que percebe, é necessariamente transfor-
mada por ao menos três fatores: uma seleção do conjunto de 
fatos, o contexto onde transcorre a comunicação e a disponibi-
lidade das mensagens. Esses elementos fazem com que exista 
43
uma diferença entre o evento real (E) e o evento percebido por 
(M), que Gerbner denomina (E1). Essa parte é a dimensão per-
ceptiva do modelo. 
A parte produtiva tem início quando (M) transmite sua mensa-
gem. Sua mensagem será criada a partir de (E1), isto é, a sua 
dimensão perceptiva do evento. No entanto, é necessário trans-
formar essa percepção em uma mensagem. Isso demanda a 
existência de uma forma (F) e um conteúdo (C). Esse sistema 
(FC) será transmitido a partir de um determinado canal ou mí-
dia, controlado por (A). Essa mensagem, por sua vez, será per-
cebida por outro indivíduo como uma mensagem (FC1) e assim 
por diante. (MARTINO, 2009, p. 37 - Biblioteca Pearson) 
Fonte: (MARTINO, 2009, p. 37 - Biblioteca Pearson) 
Figura 9 - O modelo geral da comunicação de Gerbner
44 
2.2.6. Os Modelos de Produção de Notícias
 Os estudos de produção de notícias, conhecido como Newsmaking, preocupam-se em 
analisar como a mídia conta uma história, visto que o evento é diferente do fato narrado. A 
forma como o fato é narrado interfere no sentido, pense na diferença entre dizer manifestação 
ou balbúrdia.
 O jornalista, por exemplo, é responsável por colocar várias vozes das notícias na sua 
própria voz. Interessante observar quando eles querem se isentar de alguma possível distor-
ção ou evidenciar que não é a voz deles e iniciam a notícia: "Segundo fulano, abre aspas...". Gaye 
Tuchman chama isso de "ritual estratégico", ato que diminui a responsabilidade do jornalista. 
2.2.6.1. O Gatekeeper 
 O norte-americano David M. White, em 1950, realizou a primeira pesquisa a respeito 
da seleção de notícias. Ele nomeou como gatekeeper - guarda do portão - o responsável por 
definir o que pode ou não entrar em um jornal. "Da quantidade de fatos apurados, apenas uma 
parte será efetivamente transformada em texto." (MARTINO, 2009, p. 41 - Biblioteca Pearson)
Fonte: (MARTINO, 2009, p. 41 - Biblioteca Pearson) 
Figura 10 - O gatekeeper
45
2.2.6.2. Newsworthness
 Criado em 1965 pelos noruegueses J. Galtung e M. Rugue, foi um dos mais influentes 
modelos de seleção e valoração de notícias que nasceu a partir dos gatekeepers. Os autores 
analisaram o comportamento da imprensa na cobertura de crises política de Cuba em 1960 e 
do Congo em 1964, e elencaram 12 critérios práticos para a transformação de um fato em no-
tícia, o modelo evidencia a transformação de eventos em imagens criadas na mídia: 
Há quatro componentes no modelo: 
• Os eventos cotidianos;
• A percepção que a mídia tem do evento;
• Doze fatores de seleção;
• A imagem do mundo criada pela mídia.
1. Frequência ou momento do acontecimento: quanto maispróximo um fato 
estiver da realidade imediata, maior a chance de ser transformado em notícia. A 
natureza dos fatos está ligada aos critérios de tempo de publicação. [...]
2. Magnitude do acontecimento: quanto mais importante um acontecimento, 
em particular o número de pessoas que ele influencia, maior a chance de publi-
cação. Uma decisão política em uma cidade do interior terá menos chance de 
ser pautada do que uma decisão do presidente da República em um jornal de 
circulação nacional. 
3. Clareza: quanto mais claro e simples de compreender um acontecimento, 
maior a chance de publicação.
4. Significação: um acontecimento será noticiado não só pela proximidade ge-
ográfica, mas também pela relevância e proximidade cultural. 
5. A correspondência ou consonância: um evento planejado e esperado tem 
mais chance de se tornar notícia do que outro, de mesma característica, que 
não tenha sido previamente informado para a mídia. Feriados, celebrações na-
cionais, eventos organizados por assessorias de comunicação e produtoras en-
tram nesse critério, bem como a suíte de um acontecimento prévio. 
6. O inesperado: paradoxalmente, um fato raro ou inesperado também tem 
grande possibilidade de ser pautado. [...] 
7. Continuidade: um tema conhecido tem mais chances de continuar no notici-
ário do que outro, de mesmo teor, mas inédito.
8. Composição: uma notícia pode ser selecionada em razão do conjunto de no-
46 
tícias do veículo, Em uma primeira página com diversas chamadas sobre políti-
ca, uma matéria de economia, mesmo que mais fraca, tem mais chances de ser 
veiculada como uma espécie de contraponto às outras. 
9. Notícias sobre o Primeiro Mundo. [...] os países ditos "desenvolvidos" ocupam 
um lugar maior na mídia. [...] 
10. Reportagens sobre as elites. Celebridades locais ou mundiais, em qualquer 
área, têm maiores chances de serem pautadas. 
11. Personalização: o chamado "interesse humano" do acontecimento é levado 
em consideração na hora de escolher qual notícia será publicada. 
12. O negativo: notícias ruins tendem a ganhar mais espaço do que notícias 
boas. (MARTINO, 2009, p. 42-43, Biblioteca Pearson)
Fonte: (MARTINO, 2009, p. 42 - Biblioteca Pearson) 
Figura 11 - O newsworthness
2.2.7. Os Modelos de Schramm e de Westley e McLean
 Wilbur Schramm, em 1957, identifica a empresa de comunicação como responsável pela 
codificação, interpretação e (re)decodificação das inúmeras mensagens que chegam até ela. 
Cabe à mídia selecionar, dentre as informações possíveis, as que interessam às aspirações ins-
titucionais e dentro dos parâmetros da empresa. (MARTINO, 2009).
47
Figura 12 - Os modelos de Schramm e de Westley e McLean 
Fonte: (MARTINO, 2009, p. 42 - Biblioteca Pearson) 
 “Em 1957, B.H. Westley e M. McLean ampliaram o modelo de 
Schramm. Eles evidenciaram como os receptores podem adquirir in-
formações de outras fontes.
 “Pensando em A como uma empresa de comunicação, respon-
sável por selecionar as mensagens de X1 X4, seu trabalho será fazer que o público B co-
nheça apenas a mensagem produzida por ela, Xn. No entanto, argumentam Westley e 
McLean, há canais que podem atingir B diretamente com outras informações, X1, mesmo 
dados contrastante, e mesmo influenciar sua resposta para A”. (MARTINO, 2009, p. 46 - Bi-
blioteca Pearson) 
48 
Figura 13 - Os modelos de Schramm e de Westley e McLean 
Fonte: (MARTINO, 2009, p. 46 - Biblioteca Pearson) 
2.2.8. O Modelo de “Efeito de Enquadramento”
 Por volta dos anos 70, surge o modelo "framming effect", preocupada em como a mídia 
afeta a maneira como as pessoas veem o mundo. 
 “Quando se está diante de uma informação, ela é enquadra-
da nos esquemas prévios de percepção do leitor. Esses esquemas, em 
uma definição simples, são o conhecimento da pessoa. Essas referên-
cias vêm de algum lugar, e essa é uma das premissas mais importantes 
do modelo Efeito de Enquadramento: os esquemas de recepção da informação são igual-
mente construídos pela mídia.” (MARTINO, 2009, p. 49 - Biblioteca Pearson)
49
Figura 14 - O modelo de efeito de enquadramento
Fonte: (MARTINO, 2009, p. 49 - Biblioteca Pearson) 
 A fim de darmos continuidade nos nossos estudos sobre os 
modelos de comunicação, recomendo a leitura do livro “Teoria da Co-
municação”, de Luís Mauro Matino. Os exemplos do capítulo foram ex-
traídos dessa obra. 
50 
 Antonio Prata é escritor e foi cronista da revista Capricho, reconhecido por seu jeito 
descontraído de escrever assuntos ditos “sérios” para o público adolescente. Na edição do dia 
30/11/2003, em sua coluna, Antonio Prata escreveu um texto intitulado A Ju e o Bush, onde o 
principal assunto é convencer o público a ler o mundo a sua volta. A partir da referência de uma 
pequena intriga entre adolescentes o autor conduz a história à temas mais universais: como 
política e sociedade. Vejamos: 
51
Questão: Considerando nossos estudos sobre como as notícias são veiculadas, leia a crônica 
a seguir e analise o posicionamento do autor em relação às notícias que circularam a respeito 
dos EUA e Iraque. Procure também observar como o autor, Antonio Prata, adéqua sua lingua-
gem ao público-alvo da revista: meninas adolescentes.
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2.3. Palavras Finais da Unidade II
 Chegamos ao fim de mais uma unidade! Nosso objetivo aqui foi conhecer como surgi-
ram alguns dos primeiros estudos acerca da comunicação, bem como conhecer os seus mo-
delos. Embora muitas teorias já tenham ficado ultrapassadas, conhecê-las é fundamental na 
compreensão da comunicação enquanto um campo do saber. 
 Na próxima unidade, vamos retomar alguns modelos e conhecer importantes correntes 
teóricas da comunicação. Sigamos juntos! Ou, como diria Drummond, “vamos de mãos dadas.”
Objetivos da Unidade
Unidade III – As Diversas 
Correntes Teóricas da 
Comunicação
III
- Conhecer panoramicamente os estudos da comunicação; 
- Identificar as contribuições, dentro dos estudos da comu-
nicação, da Teoria Hipodérmica, do Funcionalismo, da Teoria 
Matemática e da Escola de Frankfurt. 
54 
Unidade III - As Diversas Correntes Teóricas da Comunicação
Introdução
3.1. Panorama dos Estudos da Comunicação 
 Você com certeza estudou nas aulas de Língua Portuguesa a Teoria da Comunicação de 
Roman Jakobson, a saber:
 Dentro de um dado contexto (referente), o emissor envia pelo 
canal a mensagem (produzida a partir de um código) ao receptor. 
 A Teoria do russo foi a mais difundida nas escolas de educação básica do Brasil, mas está 
longe de ser única e de ser o modelo que melhor representa a comunicação hoje. Nem por isso 
deixa de ter a devida importância dentro dos estudos da Comunicação. Outrossim, os demais 
modelo de comunicação que vimos na Unidade II, ainda que muitos tenham sido superados 
por teorias subsequentes, compõem o quadro de estudos das Teorias da Comunicação e repre-
sentam a força desse campo do saber. 
 Nesta Unidade,ainda vamos nos debruçar sobre algumas dessas teorias, não a fim de 
esgotá-las, mas de trazer uma visão panorâmica dos seus avanços nos estudos da comunica-
ção e da linguagem de forma geral. A seguir, as autoras FRANÇA e SIMÕES (2016) nos apresen-
tam um pouco desse quadro panorâmico:
 Para o bem ou para o mal, vale sempre lembrar que a ciência é social e é históri-
ca. É um produto dos seres humanos e das condições específicas por eles vividas; traz 
as marcas de suas necessidades, de suas vicissitudes, de seus limites e de seus inves-
timentos. As dificuldades do campo teórico da Comunicação foram criadas e vividas 
55
historicamente, e traduzem a forma de inserção da ciência no mundo. Traçar, mesmo 
que de forma sucinta, um breve panorama das teorias, realçando as condições e os 
estímulos que motivaram seu surgimento, bem como o seu caráter recente, pode nos 
ajudar a situar melhor os aspectos apontados acima. 
 Naturalmente, sabemos que a comunicação é tão antiga quanto as primeiras 
sociedades humanas e seria um equívoco afirmar que até então os indivíduos e as so-
ciedades não se preocuparam com a comunicação (ainda que nomeada de outra ma-
neira). Já entre os gregos, há mais de dois mil anos, encontramos os sofistas exercitando 
o uso da palavra e ensinando a arte do discurso. Os filósofos, por sua vez, pregavam a 
necessidade da discussão racional para a direção da pólis; Platão realça a importância 
do discurso que busca a verdade, distinguindo-o da Retórica; Aristóteles conceitua a 
Retórica como a busca de todos os meios possíveis de persuasão, classifica e organiza 
suas técnicas. 
 Não obstante, estudos específicos sobre o fazer comunicativo, ou sobre os 
meios de comunicação, datam do início do século XX. São contemporâneos das pro-
fundas mudanças que atingiram esse domínio, e que se referem ao desenvolvimento 
vertiginoso das técnicas, à institucionalização e profissionalização das práticas às novas 
configurações espaçotemporais que ganham forma no âmbito da nova realidade co-
municativa. 
 Se estabelecemos uma primeira correlação entre a intensificação das práticas 
comunicativas e a maior necessidade de seu conhecimento, uma outra correlação fun-
damental que devemos estabelecer é entre o desenvolvimento dos meios de comuni-
cação e respectivos estudos com a dinâmica mais ampla que marcou a primeira metade 
do século XX, com as transformações vividas pelo mundo, com as necessidades que as 
sociedades ocidentais formularam à comunicação naquele momento. Os estudos sobre 
a comunicação foram provocados tanto pela chegada dos novos meios como foram 
também, e, sobretudo, demandados por uma sociedade que necessitava usar melhor 
56 
a comunicação para a consecução de seus projetos. O conhecimento da comunicação 
surge marcado pelas questões colocadas pela urbanização crescente, pela fase de con-
solidação do capitalismo industrial e pela instalação da sociedade de consumo, pela 
expansão do imperialismo norte-americano, pela divisão política do globo entre capita-
lismo e comunismo. A aceleração dos estudos reflete também o papel central ocupado 
pela ciência, que responde cada vez mais pelo progresso e planificação da vida social. 
 É nesse contexto que vamos identificar o surgimento dos primeiros trabalhos. 
Alguns autores apontam o pioneirismo do alemão de Otto Groth que, em Estrasburgo 
(hoje, território da França), nas primeiras décadas do século XX, dedicou-se a escrever 
uma espécie de enciclopédia sobre o jornalismo, conhecida como “teoria do diário”. Po-
rém, é nos Estados Unidos, a partir de 1930, que começa a se desenvolver um tipo de 
pesquisa voltada para os meios de comunicação de massa, particularmente para seus 
efeitos e funções. São esses estudos, conhecido como Mass Communication Resear-
ch, que teriam inaugurado - ou marcado o “nascimento” - da Teoria da comunicação1. 
Este nascimento teve paternidade reconhecida; quatro pesquisadores apontados como 
“pais fundadores” da pesquisa em comunicação. São eles: Paul Lazarsfeld, Harold Las-
swell, Kurt Lewin e Carl Hovland2. Naquele momento, vários institutos e centro de pes-
quisa são criados, com o desenvolvimento de projetos abrangentes e ambiciosos, com 
a montagem de experimentos, possibilitando a formulação das primeiras teorizações 
sobre o papel dos meios e o processo de influência. 
1 Estudos da Escola de Chicago são anteriores, mas apenas recentemente são contabilizados na esfera 
dos estudos da comunicação.
2 A denominação “pais fundadores” é dada por Wilbur Schramm, no livro Panorama da comunicação co-
letiva (1964). Paul Lazarsfeld era sociólogo, formado em Viena, e se dedicou, sobretudo, ao estudo das 
audiências dos meios de comunicação de massa, à caracterização dos efeitos e processos de formação 
da opinião pública. Harold Lasswell era cientista político, trabalhou com opinião pública; identificou as 
funções básicas da comunicação; estabeleceu um modelo que se tornou quase um paradigma da área 
(“Quem diz/o quê/em que canal/a quem/com que efeito”). Kurt Lewin era psicólogo, formado em Viena, 
e desenvolveu estudos sobre a comunicação em pequenos grupos sobre líderes de opinião. Carl Hovland 
era também psicólogo, desenvolvia pesquisas experimentais sobre influências e mudanças de atitude.
57
 Tais estudos estavam intimamente ligados a motivações de ordem política e 
econômica: por um lado, a expansão da produção industrial e a necessidade de ampliar 
a venda dos novos produtos (de estimular a formação e a ampliação dos mercados con-
sumidores) impulsiona o investimento em pesquisas voltadas para o comportamento 
das audiências e para o aperfeiçoamento das técnicas de intervenção e de persuasão. 
Por outro lado, a reacomodação do mundo sob o impacto da fase monopolista do capi-
talismo, bem como a ascensão dos Estados Unidos como grande potência imperialista, 
atribuem à comunicação um papel estratégico. 
 Já na Primeira Guerra Mundial, na Europa, os meios de comunicação são chama-
dos a desempenhar o papel de persuasores das vontades e dos sentimentos individuais 
da população civil na sustentação da economia e no fortalecimento do sentimento na-
cional. Pouco depois, a crise de 1929 e a retomada econômica dos Estados Unidos sob a 
égide do New Deal incluem a comunicação no projeto de planificação e racionalização 
da sociedade. 
 Mas foi, sobretudo, a Segunda Grande Guerra que veio expor a potencialidade e 
o alcance da comunicação, através dos programas empreendidos pela Alemanha nazis-
ta , sob a inspiração de Joseph Goebbels, com o uso da propaganda como mecanismo 
de controle e manipulação político-ideológica, a combinação de formas interpessoais 
e massivas, a utilização máxima dos meios disponíveis em programas voltados tanto a 
um público interno quanto externo. Paralelamente, deve-se registrar também o volume 
e a eficácia da propaganda dos aliados nessa guerra. Os Estados Unidos adaptaram as 
técnicas de Goebbels e desenvolveram seu modelo próprio de intervenção. Instituições 
públicas e privadas, civis e militares se dedicam a análises e experimentos, testando e 
aperfeiçoando o desempenho e a eficácia da comunicação. 
 No pós-guerra, a comunicação continua a cumprir um papel crucial, sobretudo 
no contexto da Guerra Fria e na política intervencionista americana. Dos serviços de in-
formação à difusão de produtos culturais, passando pela criação de agências de desen-
58 
volvimento e institutos de pesquisa nos países do terceiro mundo, toda uma política de 
intervenção centrada na manipulação ideológica (no “domínio das mentes e corações”) 
vem incentivar e exigir o desenvolvimento das pesquisas e o maior domínio das técni-
cas e do fazer comunicativo. 
 Naturalmente, esta é apenas uma etapa da história que contextualiza o surgi-
mento dos primeiros estudos sobre osmeios de comunicação de massa. Porém, é uma 
etapa que marcou o desenvolvimento posterior desses estudos, imprimindo uma con-
cepção muito duradoura da comunicação, identificada como processo de transmissão, 
e por seus objetivos de persuasão. 
 Mesmo nos Estados Unidos, vamos encontrar outras importantes tendências 
de estudo voltadas para a comunicação humana e social, trilhando caminhos distintos, 
tendo como ponto de partida o trabalho desenvolvido pelos pesquisadores da Escola 
de Chicago. Tais estudos, no entanto, permaneceram até muito recentemente aparta-
dos da chamada “teoria da comunicação”, ou das abordagens que tratam da comuni-
cação institucional ou midiática, porque não estavam afinados com a problemática 
formulada pela época, voltada para o conhecimento e a obtenção de efeitos. Apenas 
mais recentemente, começa a se desenvolver uma confluência maior entre as diferen-
tes perspectivas de estudo, e a incorporação, na análise dos meios de comunicação de 
massa, de referenciais oriundos da etnometodologia, de teorias sobre a produção social 
da realidade, entre outros. 
 Na Europa, os estudos sobre os meios de comunicação, na primeira metade do 
século XX, não se desenvolveram com a mesma intensidade e se construíram sobre 
bases completamente distintas, seguindo uma orientação mais analítica e especulativa, 
desvinculada de objetivos instrumentais ou administrativos. 
 O final dos anos 1920 e o início dos anos 1930 marcam o surgimento de impor-
tante corrente de estudos sobre a cultura da sociedade industrial, que também exerceu 
uma influência decisiva na orientação de estudos posteriores sobre os meios de comu-
59
nicação - a Teoria Crítica, ou Escola de Frankfurt, como é mais conhecida. A Teoria Crítica 
se desenvolve em contraposição - e quase como antídoto - para a perspectiva funcional 
e positivista americana, promovendo uma crítica severa à mercantilização da cultura e 
à manipulação ideológica operada pelos meios de comunicação de massa. 
 Na França, no final dos anos 1930, é criado o Instituto Francês de Imprensa onde 
Jacques Kayser desenvolve e coordena um trabalho de análise morfológica dos jornais. 
Alguns anos mais tarde, pesquisadores agrupado no Centre d’Études des Communica-
tions de Masse (CECMAS) desenvolvem importantes reflexões sobre a cultura de massa 
e a ideologia dos produtos culturais. O surgimento do estruturalismo inspira o estudo e 
a ênfase na linguagem dos meios. 
 Na Inglaterra, rediscutindo e se distinguindo da tradição estruturalista francesa, 
os estudos sobre a mídia surgem no âmbito das análises sobre a dinâmica da produção 
cultural na sociedade contemporânea. Ultrapassando as clivagens entre os diferentes 
níveis de cultura, e estendendo o próprio conceito de cultura, os pesquisadores do Cen-
tre for Contemporary Cultural Studies, da Universidade de Birmingham, se propõem a 
analisar a produção dos meios de comunicação inserida no contexto das práticas so-
ciais cotidianas e da experiência. 
 Na América Latina3, as primeiras investigações sobre a comunicação surgem nos 
anos 1950 e 1960, marcadas por forte influência americana, tanto do ponto de vista do 
modelo teórico como da formulação das temáticas a serem investigadas. Na década de 
1970, o pensamento latino-americano no campo das ciências sociais é atravessado por 
um profundo sentimento crítico e anti-imperialista; intelectuais de formação marxista 
desenvolvem reflexões no campo das ciências sociais batizadas com o nome de “teoria 
da dependência”. No seio dos estudos da comunicação, surge o conceito de imperialis-
mo cultural, bem como a proposição de um novo modelo e uma nova prática comuni-
3 Na primeira metade do século XX, foram desenvolvidos alguns estudos esporádicos sobre a história e 
a legislação dos meios de comunicação.
60 
cativa, a comunicação horizontal ou participativa. Em sintonia com debates também 
desenvolvidos em outras partes do mundo, propõe-se uma nova ordem internacional 
da comunicação; nos vários países, luta-se pela constituição de políticas nacionais de 
comunicação, pela democratização dos meios. 
 Em linhas gerais, este é o quadro que se delineava até por volta de 1970. Novas 
tendências de estudo se desenvolvem em nossos dias, tanto na América Latina quanto 
na Europa e nos Estados Unidos. Algumas perspectivas caducaram e foram ultrapassa-
das; outras, anteriormente pouco evidenciadas, datas algumas do início do século, são 
retomadas e ganham um novo investimento. Novas proposições e temáticas aparecem 
em cena. Há uma reconfiguração do quadro das teorias, e uma perspectiva mais pro-
priamente comunicativa começa a se evidenciar. Tais mudanças traduzem os reorde-
namentos vividos pela sociedade naquele final de século, que dizem respeito a uma 
verdadeira revolução no campo das tecnologias da informação, profundas alterações 
no campo dos valores, no universo das representações, no desenho das relações inter-
nacionais e no quadro das sociabilidades. O mundo que encerra o século XX não é o 
mesmo que iniciou. [...] (FRANÇA; SIMÕES, 2016, p. 35-41). 
 Gostou do texto?! Recomendo o acesso à Biblioteca Virtual Pe-
arson para a leitura completa do livro de França e Simões: Curso básico 
de Teorias da Comunicação.
3.2. A Teoria Hipodérmica 
 Desde a Primeira Grande Guerra, a propaganda vem sendo usada para influenciar pes-
soas. A Teoria Hipodérmica surge nesse contexto, no período entreguerras em meados de 1920 
e 1930.
61
 A Teoria Hipodérmica é também chamada de Agulha Hipodér-
mica ou Bala Mágica, a metáfora se justifica porque a Teoria compara a 
Mensagem a uma injeção (seringa hipodérmica). Segundo ela, a men-
sagem enviada pela mídia é aceita e se propaga rápida e igualmente 
entre todos os receptores. 
 A Teoria Hipodérmica possui sua relevância por ter sido a primeira no período de en-
treguerras a se preocupar com a manipulação de massa através da propaganda, no entanto, 
a Teoria se mostra muito simplista porque exclui da análise as subjetividades do sujeito, bem 
como sua capacidade de escolha. 
 Vale lembrar que a Teoria Hipodérmica foi muito influenciada pela behaviorismo, se-
gundo os behavioristas todos os comportamentos se dão por influência do ambiente em que 
o sujeito se encontra, o comportamento é baseado através do estímulo-resposta. 
3.3. A Teoria Funcionalista
 A Teoria Funcionalista é considerada uma evolução da Teoria Hipodérmica. Lembra-se 
de Lasswell? Falamos dele na unidade anterior. A Teoria Funcionalista ganha força a partir dos 
estudos de Lasswell, que se preocupava com a força que a comunicação tinha quando usada 
como instrumento político. O modelo de Lasswell procura responder: Quem? Diz o quê? Atra-
vés de que canal? Com que efeito?
 A Teoria Funcionalista desloca o interesse dos efeitos da comunicação de massa para 
as funções que elas exercem. Se outrora a questão era "o que é que os mass media fazem às 
pessoas?", agora pergunta-se "o que é que as pessoas fazem com os mass media?".
 As funções podem ser: 
• Latentes: não intencionais e difíceis de observar. 
62 
• Manifestas: visíveis. 
• Relativas à sociedade: alertar os cidadãos contra os perigos e ameaças; e também for-
necer instrumentos para certas atividades cotidianas institucionalizadas na sociedade.
• Relativas ao indivíduo: atribuição de posição social e prestígio a pessoas que são objetos 
de atenção dos mass media (cria-se heróis, personalidades…), reforça o prestígio da-
queles que se identificam com a necessidade e o valor socialmente difundido, de serem 
cidadãos bem informados; reforça as normas sociais e da ética vigente na sociedade. 
 A Teoria Funcionalista explora também a disfunção dos meio de comunicação. Os te-
óricos nomeiam como “disfunção narcotizante”. O acesso a muitas informações provoca a 
disfunção narcotizante.

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