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LUIZ ALEXANDRE SOUZA DA COSTA ELIZABETE ALBERNAZ 1ª edição SESES rio de janeiro 2017 PRÁTICA DE PESQUISA EM SEGURANÇA PÚBLICA Conselho editorial roberto paes e luciana varga Autores do original luiz alexandre souza da costa e elizabete albernaz Projeto editorial roberto paes Coordenação de produção luciana varga, paula r. de a. machado e aline karina rabello Projeto gráfico paulo vitor bastos Diagramação luís salgueiro Revisão linguística marlon magno Revisão de conteúdo marco aurélio nunes de barros Imagem de capa indypendenz | shutterstock.com Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2017. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) C837p Costa, Luiz Alexandre Souza da Prática de pesquisa em segurança pública. / Luiz Alexandre Souza da Costa; Elizabete Albernaz. Rio de Janeiro: SESES, 2017. 112 p.: il. ISBN 978-85-5548-430-8 1.Formatação. 2. Metodologia. 3. Pesquisa. 4.Pré-projeto. I.Albernaz, Elizabete. II. SESES. III. Estácio. CDD 341.59 Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063 Sumário Prefácio 5 1. A pesquisa e o conhecimento científico 7 Importância e aplicação da pesquisa científica 8 Sobre a “ideia de ciência” 8 Remontando a algumas origens de nossa “ideia de ciência” 12 A classificação da pesquisa com base em objetivos e procedimentos 21 2. O problema científico 31 Conceituando 32 A escolha do tema e a importância de sua delimitação 33 Realização da pesquisa bibliográfica e sua discussão 39 A introdução 43 Justificativa do estudo 44 A problematização do tema e o problema em si 46 A construção de hipóteses e as questões norteadoras 48 Cronograma 50 3. A construção do projeto de pesquisa 53 Determinação dos objetivos da pesquisa 54 A construção do embasamento teórico: levantamento preliminar 57 Tipos de bibliografia 57 Leitura e análise textual 61 Construindo seu embasamento teórico 63 A redação do projeto de pesquisa: ética e legitimidade do saber 65 Caracterização do problema 65 Sobre moral, ética e conhecimento científico 71 Os comitês de ética em pesquisa 79 4. O trabalho de conclusão de curso 81 Importância do trabalho de conclusão de curso 82 Os eixos articuladores e as áreas temáticas da formação em segurança pública no Brasil 85 Conceituando 85 História 86 O currículo 88 Os eixos articuladores 90 As áreas temáticas 92 Estrutura e formatação do projeto final 94 Conceituando 94 Formatação 95 Elementos textuais 102 Elementos pós-textuais 103 Relevância prática das pesquisas científicas na área de segurança pública 107 5 Prefácio Prezados(as) alunos(as), “O começo de todas as ciências é o espanto de as coisas serem o que são.” Essa frase famosa, extraída da Metafísica, de Aristóteles, mostra-se adequada para o início de nossa jornada por dois motivos principais. O primeiro e mais con- tundente de todos é o “chamado” aristotélico à observação empírica como ponto de partida para o pensamento científico. Em sua divergência com o “racionalismo” platônico, afastando-se do pensamento de seu mestre e mentor, Aristóteles afirma- va um “sentido” diferente para o processo do conhecimento: em vez de partir do “plano das ideias” (mundo inteligível) para encontrar e domesticar o real (mundo sensível), submetendo-o aos ditames da razão, Aristóteles sugeria que partíssemos das “coisas como são”, da observação detida e laboriosa dos fenômenos naturais, para aí sim colocar a razão a serviço do ordenamento e da compreensão do mundo que nos cerca. O debate entre Platão e Aristóteles, como veremos, marcará toda a história do pensamento científico, seus métodos e a própria forma de organização do campo disciplinar das ciências. Mas por que isso nos importa, afinal? Porque o “chamado” aristotélico – pode- -se dizer – é também o nosso. O movimento da ciência começa com a vida! Antes de fazer ciência é preciso viver, ver o mundo e se inquietar com ele, com as coisas que nos cercam e nos provocam sentimentos diversos: repulsa, amor, curiosidade. Como veremos em nossas aulas, o empreendimento científico sempre tem seu ponto de partida na conformação de um “interesse de pesquisa”. Sendo assim – diríamos a você, caro(a) aluno(a), em tom de aconselhamento inicial –, engaje-se atentamente ao fluxo diário da vida e busque o “espanto” aristotélico no mundo ao seu redor. Mas basta a vida para a ciência? Não, é verdade, suas andanças pelo mundo não farão de você um cientista (talvez um “sábio”, mas não um “cientista”, defini- tivamente). O passo mais elementar do processo de construção do conhecimento científico é interessar-se pelas coisas. Por isso o aconselhamos a ir ao mundo e se deixar afetar por ele. Agora, você precisa ter em mente também que existe uma franca diferença entre “interessar-se pelo mundo” e construir um “interesse de pesquisa”. O que nos leva à nossa segunda reflexão sobre a frase de Aristóteles. 6 Construir um “interesse de pesquisa” é um processo laborioso e metódico. Em primeiro lugar, ele implica a dedicação do(a) “candidato(a) a cientista” ao aprendizado da teoria e do método científico. Anos e anos de dedicação a esse “ofício intelectual” consolidaram alguns procedimentos rotineiros, reunidos em publicações técnicas da área como manuais e guias de pesquisa. Um dos principais objetivos de nossa aula – como você mesmo(a) poderá constatar – é justamente compartilhar algumas dessas “dicas” de modo a guia-los(as) pelos ca- minhos que nos levam do “espanto” aristotélico à conformação de um genuíno “interesse de pesquisa”. Em nossa disciplina, entretanto, não nos restringiremos a buscar esse “resul- tado” de modo instrumental, transmitindo ao(a) aluno(a) uma espécie de “passo a passo para o trabalho de conclusão de curso”. Buscaremos, ao contrário, fami- liarizar os(as) alunos(as) com a forma de organização e funcionamento do pen- samento científico. Para isso, apresentaremos a “ciência”, ela mesma, como um fenômeno histórico e sociologicamente datado, sua origem e desenvolvimento. Dessa forma, esperamos mais do que simplesmente habilitá-los(as) a produzir um trabalho cientificamente validável, mas a desenvolver uma sólida atitude científica em relação à vida. Bons estudos! A pesquisa e o conhecimento científico 1 capítulo 1 • 8 A pesquisa e o conhecimento científico OBJETIVOS • Apresentar a ciência e seus princípios operativos como um modo diferenciado de pensa- mento e de produção de conhecimento; • Desconstruir algumas ideias preconcebidas sobre o funcionamento das ciências; • Apresentar a ciência como um fenômeno histórica e socialmente datado; • Apresentar a ciência e suas “grandes divisões” baseadas em objetivos e procedimentos de pesquisa; • Apresentar aos(às) alunos(as) a ideia de que a metodologia científica deve estar a serviço da construção de abordagens de pesquisa concretas. Importância e aplicação da pesquisa científica Sobre a “ideia de ciência” O que é a ciência? O que a distingue de outras formas de pensamento? Qual o papel que desempenha em nossa sociedade? Seria a ciência a única forma de explicação do mundo? Quais são seus limites e possibilidades? Quando pensamos no conhecimento científico, algumas ideias e imagens ten- dem a nos vir à mente. É possível que você mesmo, neste exato momento, provo- cado por essas perguntas, esteja pensando em pessoas de jaleco,reunidas ao redor de bancadas de laboratório, envoltas pelo alvor de suas paredes, entre pipetas, tubos de ensaio e toda sorte de vidrarias e equipamentos. Isso porque, por um lado, nosso imaginário científico comum – como podemos chamar certo ideário, compartilhado socialmente, sobre a forma de organização e funcionamento das ciências – encontra-se profundamente vinculado às chamadas “ciências naturais” ou “ciências da natureza”, como a Química, a Biologia etc. Nesse sentido, quando pensamos na ciência, tendemos a pensar na Matemática e na precisão e objetividade dos números. Lembramos também das aulas de Física, de suas leis e expoentes famosos. Entretanto, as “ciências naturais”, muito embora tenham esse lugar na constituição de nossa ideia de ciência, não são as únicas for- mas possíveis para o fazer científico, como veremos no decorrer de nosso capítulo. capítulo 1 • 9 Entre as “ciências naturais” e as chamadas “ciências humanas” ou “ciências sociais”, como a Sociologia, a História etc., existem diferenças não só de objeto – no caso das primeiras, a interação entre elementos químicos e fenômenos físicos com o ambiente e os sistemas orgânicos, seu funcionamento e morfologia; no caso das segundas, o comportamento humano em sociedade e seus sistemas de valores –, mas também de método. Albert Einstein, pai da Física moderna e autor da Teoria da Relatividade Mesmo para cada uma dessas disciplinas, dentro da grande divisão entre “humanas” e “naturais”, existem ainda diferenças marcantes em termos de preocupações, ferramentas, práticas de trabalho etc. O “método histórico”, por exemplo, é totalmente diferente do “método sociológico” – muito embora a Sociologia sirva-se, muitas vezes, do recurso à História para formular as suas questões, produzir conhecimento e vice-versa –, assim como o “método físico” e o “químico”, no campo das “ciências da natureza”, também guardam distinções muito significativas. Bom, seguindo a proposta de pensar sobre a nossa “ideia de ciência”, não seria inesperado também que lhe viesse ao pensamento, mesmo que remotamen- te, a associação entre ciência e alguma concepção de “evolução” ou “progresso”. Para a percepção da “pessoa comum”, digamos assim, a cada nova descoberta capítulo 1 • 10 científica os seres humanos dariam mais um passo em direção a formas de pen- samento ditas mais “racionais” e “objetivas”, deixando para trás um rastro de “mistérios” e “crendices” sobre a natureza e o funcionamento das coisas. Esse imaginário não nos vem ao acaso. Ele é datado, possui uma história, como mostraremos na próxima sessão de nosso capítulo. Faz parte de uma concepção de ciência que ganhou força na Europa nos séculos XVII e XVIII, e que buscava, à época, se diferenciar dos modelos explicativos “religiosos” e de “senso comum” vigentes até então. “O Abismo” Na Idade Média, por exemplo, antes das grandes navegações dos séculos XV– XVI, os europeus fitavam o horizonte e, limitados por aquilo que seu olhar podia alcançar, achavam que a terra era plana e que, além da linha do crepúsculo, que di- vidia o céu e o mar, havia um abismo habitado por toda sorte de monstruosidades. Muito embora cientistas como Ptolomeu já acusassem a falácia dessa con- cepção, foi apenas com a empresa colonial europeia que essa ideia foi modifi- cada. Muito embora não fossem cientistas stricto sensu, mas homens movidos por ambições comerciais e espírito aventureiro, os primeiros navegadores, como Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral, acabaram por contribuir para a superação dessa percepção. capítulo 1 • 11 No caso da “teoria da terra plana” – bem como da “teoria geocêntrica”, de autoria do próprio Ptolomeu, que colocava a Terra no centro do universo –, essa percepção de que o incansável e irrequieto pensamento científico estaria conduzin- do a humanidade em uma espécie de “marcha evolutiva” em direção ao “esclareci- mento” nos parece, em princípio, bastante evidente. Possivelmente você, que está tomando contato com essa discussão agora, tam- bém tenha essa percepção. Isso é bastante comum e não está de todo equivocada. Na verdade, precisa ser complexificada para que possamos construir uma atitude genuinamente científica em relação ao mundo e a gama diversa de fenômenos (biológicos, psicológicos, sociológicos etc.) que nele tomam lugar. Outra forma comum de pensar a “ciência” é a ideia de “descoberta científica” como a obra de um gênio individual que, beneficiado por certa dose de sorte, descobre algum novo elemento químico, uma força misteriosa da natureza ou a tumba perdida de um faraó em meio às areias escaldantes de uma paisagem desér- tica inóspita. Pensemos em Isaac Newton, por exemplo, sentado sob a sombra de uma ár- vore quando subitamente uma maçã cai sobre sua cabeça e EUREKA!, a huma- nidade pôde finalmente conhecer a “gravidade” e tantas outras leis físicas sobre o movimento dos corpos sob seus efeitos. Newton e o “mito da maçã” Para desapontamento dos que um dia acreditaram na maçã newtoniana, não há registros históricos confiáveis de que tenha de fato sido a inspiração de Isaac Newton para construir a sua Teoria da Gravitação Universal – mesmo da parte do próprio Newton. capítulo 1 • 12 ATENÇÃO Na verdade, toda “descoberta científica” é fruto de um trabalho de observação detida e dedicada, bem como de um acúmulo de reflexões teóricas, inovações metodológicas, técni- cas e de instrumentos que encontram-se disponíveis para os cientistas num dado momento de seu processo de pesquisa. O próprio Newton foi inspirado diretamente – e beneficiou-se muitíssimo – das teorias de outro colega cientista, talvez menos conhecido, o astrônomo Johannes Kepler. A Teoria Heliocêntrica de Nicolau Copérnico, por sua vez, só pôde ser “inventada” porque um fabricante de lentes neerlandês, chamado Hans Lippershey, teria inventado o primeiro sistema de observação de objetos a distân- cia, posteriormente aprimorado pelo próprio Kepler e por Galileu Galilei. A ideia de “desenvolvimento” não está ausente da ideia de ciência. O conhe- cimento científico tem sim um caráter cumulativo (não necessariamente “evoluti- vo”) e beneficia-se dos avanços nas teorias, métodos, técnicas e equipamentos, como mencionamos. Entretanto, nas diferentes ciências, podemos observar diferentes formas de desenvolvimento, definidas a partir de diferentes maneiras de pensar a organização dos diversos “campos científicos”. Nas páginas a seguir, falaremos um pouco sobre algumas “origens” possíveis para essas formas de pensar a ciência (como “evolução”, como “descoberta” e como “avanço da razão”), remontando a alguns textos clássicos do pensamento ocidental sobre o seu papel e funcionamento em nossa sociedade de modo a tentar respon- der as perguntas sobre como se constituiu esse ideário coletivo sobre a natureza e o funcionamento do conhecimento científico. Remontando a algumas origens de nossa “ideia de ciência” A primeira coisa que precisamos entender é que o surgimento do chamado “pensamento científico” é um fenômeno historicamente datado e geograficamen- te situado. Nesse sentido, pode-se dizer que as ideias comumente associadas à ciência são produto, num primeiro momento, do desenvolvimento da “Filosofia Clássica”, na Grécia, e de um período específico da história política e social da Europa, com o chamado Renascimento, entre os séculos XIV–XVII, e o ideário capítulo 1 • 13 “iluminista” que lhe é peculiar, ambos inspirados pela crença na capacidade refor- madora – não só do pensamento, mas da própria sociedade – da razão. Com o passar dos anos, essas concepções de ciência expandiram-se a partir da Europa para uma boa parcela do mundo ocidental conhecido, bem como para os países do “novo mundo”, anexados com a expansão colonial (séc. XV–XVI) e neocolonial (XVII–XVIII). Inicialmenterestrito ao universo acadêmico de sua época, esse ideário foi progressivamente absorvido pela sociedade mais ampla de diversas maneiras: por meio de sua aplicação ao processo de formulação e implantação de políticas pú- blicas (por exemplo, as “reformas urbanas” e a doutrina “higienista” no Brasil do início do século XX, com Pereira Passos e Oswaldo Cruz), pela difusão de obras científicas impressas, pela veiculação nos meios de comunicação de massas etc. Enfim, comecemos nossa jornada em busca das “origens” de nossa “ideia de ciência” pela Grécia de Sócrates, Platão e Aristóteles, os mais famosos dentre os chamados “filósofos clássicos”. Na Grécia de seu tempo, havia um forte debate sobre os melhores princípios de governo e de sociedade para a vida das cidades. Em uma de suas mais famosas obras, A república, Platão, por exemplo, reputava ao “governo dos filósofos” a me- lhor e mais elevada forma de governo dentre as existentes. Segundo ele, a “razão” e a “sabedoria” deveriam ser os atributos do governante e, por conta disso, os filó- sofos deveriam governar como reis. Segundo a concepção platônica de sociedade, hierárquica e estamental, apenas os homens nobres, dedicados a ofícios elevados e treinados em Filosofia (a “mãe” de todas as ciências), eram capazes de atingir o “nível de racionalidade” necessário ao exercício do governo. “Alegoria da caverna” Em outro texto famoso, A alegoria da caverna, Platão nos fala, metaforicamen- te, do caminho do homem do “obscurantismo da ignorância” à “razão”. Em seu capítulo 1 • 14 relato, o autor nos fala do trajeto de homens que, feitos prisioneiros no interior de uma caverna, um dia são levados a confrontar a luz do sol e são ofuscados por seu brilho exuberante. Na caverna viviam iludidos, dada a sua condição de prisioneiros, contemplan- do apenas “sombras”. Uma vez libertos, percebem que, na verdade, o que viam eram apenas projeções de objetos contra a luz de uma fogueira, os quais tomavam, equivocadamente, como objetos verdadeiros. Na última etapa de sua jornada, ao deixar seu cativeiro, os homens, des- preparados para lidar com as “verdades filosóficas eternas”, são ofuscados por sua luz e nada podem ver com seus olhos mundanos, ainda acostumados às trevas. Para Platão, apenas o treinamento em Filosofia poderia habilitá-los a contemplar o que o autor chama de “ideias perfeitas”, os únicos objetos dignos de uma ciência verdadeiramente racional. A “alegoria da caverna” platônica dramatiza algumas ideias importantes para a conformação de nossa visão contemporânea, ocidental, de “ciência”. A pri- meira e mais marcante de todas é a percepção de que o saber científico implica em um movimento ascendente da “razão”, de conhecimento de uma espécie de “verdade superior” sobre o mundo, superando a ignorância (de uma “vida nas sombras”) de formas de pensamento classificadas como “mágicas”, “religiosas” ou de “senso comum”. O caminho que nos leva para fora da “caverna” é um caminho sem volta. Uma vez conhecida a “verdade”, não haveria como se contentar novamente com um mundo de “sombras”. A “marcha da razão” (e a “marcha da ciência”, conse- quentemente) é, para Platão e os filósofos gregos de um modo geral, um processo irreversível e, de certa forma, evolucionário, cujo motor é o pensamento racional! Já aqui podemos perceber alguma vinculação com a forma de pensar a ciência apresentada anteriormente. A segunda ideia marcante do pensamento platônico é essa divisão entre “mundo sensível” e “mundo inteligível” e sua patente desvalorização do conhe- cimento produzido pelos sentidos, da apreensão empírica da realidade. O “mun- do inteligível”, morada das “ideias perfeitas”, apreendido apenas como obra da “razão” e do intelecto humano, segundo Platão, era o único e verdadeiro objeto de ciência, como vimos. capítulo 1 • 15 O exemplo platônico mais famoso, utilizado largamente para falar da divisão entre o "mundo sensível" e o " mundo inteligível", nos apresenta a ideia de cadeira. No "mundo inteligível", apreendido apenas pela razão, moram as "ideias", modelos perfeitos a partir dos quais podemos reconhecer, no "mundo sensível", apreendido pelos sentidos, os objetos que, a despeito de seu estado ou formato, podem ser identificados como cadeiras por remissão a essa "ideia perfeita" original e imutável. Para Aristóteles, por sua vez, o enfoque da Filosofia deveria ser diametralmen- te oposto ao enfoque platônico no “mundo das ideias”. Para ele, a construção do conhecimento se dava justamente a partir da observação sistemática do “mundo sensível”, de onde o filósofo, o portador por excelência do pensamento científico, deve extrair as leis e tipologias que classificam e organizam o universo de fenôme- nos que nos cercam. As bases principiológicas desse debate original serão retomadas, muito tem- po depois, a partir dos séculos XVII-XVIII, durante o Renascimento, no embate entre "empiristas" e "racionalistas". Os primeiros, de origem majoritariamente anglo-saxã, defendiam o conhecimento produzido a partir da experiência empírica do mundo, ou seja, o caminho para o conhecimento segue do "sensível" ao "inte- ligível", do "particular" para a formulação de "leis gerais". Para os segundos, fran- ceses em sua maioria, o caminho era diametralmente inverso. Todo conhecimento deveria advir unicamente da razão, do intelecto, e ser aplicado, sob a forma de conceitos, ao mundo a nossa volta. A ciência moderna do "nosso tempo", pode-se dizer, adota uma via de "mão dupla": as bases conceitual e empírica de qualquer pesquisa devem dialogar e fortalecer-se mutuamente. Agora daremos um “salto no tempo”, de cerca de 2 mil anos, e vamos parar na Europa dos séculos XIV–XVII, durante o chamado “Renascimento”. O que é interessante de se pensar é que esse “salto”, muito embora pareça um tanto abrupto e arbitrário, faz sentido para a própria caracterização do período vivido no continente europeu. CONCEITO O termo "Renascimento" é utilizado para caracterizar um movimento, típico do período na Europa, de revalorização da chamada "antiguidade clássica", inspirada pela releitura dos grandes filósofos gregos (como Platão e Aristóteles), pelas artes e padrões estéticos "clás- capítulo 1 • 16 sicos", bem como pelos princípios de vida em sociedade e de governo. Sociológica e histo- ricamente, o período também é marcado pela transição entre o sistema feudal e o sistema capitalista de produção, pela organização dos "Estados Nacionais", a partir do esvaziamento do poder local dos 'príncipes feudais', e pelo surgimento do "Regime Absolutista", de concen- tração de poder sob a figura do Rei/Imperador. Ideologicamente, com a referência "renascentista", buscava-se um afastamen- to do que se caracterizava como o "obscurantismo medieval", em que havia o pre- domínio da Igreja Católica, seja em termos de ideário para a vida e para o governo, seja na própria administração da justiça, com os "Tribunais do Santo Ofício da Inquisição". No século XVIII, o chamado "Iluminismo" ou "Idade das Luzes", movido pelo referente humanista e naturalista do Renascimento, vem coroar essa espécie de reforma moral e estrutural da sociedade europeia, traduzindo seu ideá- rio nas artes e nas ciências. Você conseguiu perceber a conexão entre os dois períodos, entre a Antiguidade Clássica e o Renascimento? Esperamos que, depois dessa explicação, nosso “salto espaço-temporal” talvez não lhe pareça tão arbitrário. Agora, até este ponto, você conseguiu perceber algumas conexões, em termos de ideário compartilhado, entre essas referências históricas e o que chamamos aqui de nossa “ideia de ciência”? Propositalmente, nós buscamos utilizar uma lingua- gem, na primeira parte de nossa discussão, que remontava a esses ideais comuns: a concepção de uma ciência evolutiva/progressista, de marchada razão sobre as formas irracionais de pensamento, da ciência como um saber que ilumina os “obscurantis- mos” das “crendices” e “superstições”, da ciência como oposta à religião etc. Outro marco importante para a nossa forma de conceber as ciências foi a publicação de A origem das espécies, de Charles Darwin. A Teoria da Evolução das Espécies influenciou toda a nossa forma de pensar a vida, incluindo aí a nossa forma de pensar as ciências. A primeira edição da obra, publicada em 1859, chamava-se, inicialmente, Sobre a Origem das Espécies por Meio da Selecção Natural ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta pela Vida. Nesse livro, o naturalista Charles Darwin, baseado em um vasto inventário de espécies de todos os continentes conhecidos à época, coletados em suas próprias viagens ou catalogado por outros pesquisadores, pro- põe que a diversidade de espécies observada em cada momento de nossa longa história evolucionária é o resultado de um processo de adaptação seletiva ao meio, capítulo 1 • 17 transmitida (muito embora ele ainda não tivesse clareza de como isso acontecia exatamente, o que só veio a ser esclarecido pela descoberta dos genes e o surgi- mento da genética de Georg Mendel, no final do século XVIII) entre as gerações sucessivas em uma temporalidade de longo termo. O surgimento da ideia de “evolução” revolucionou a forma de pensar as ciên- cias no mundo ocidental. Não só as ciências. Até o discurso religioso se associou ao paradigma evolucionário enquanto ideário marcante da Europa de meados do século XIX. O melhor exemplo disso foi o surgimento da chamada “religião dos espíritos”, a doutrina espírita de Allan Kardec, contemporânea da publicação de A origem das espécies, com a sua teoria da evolução da alma e da reencarnação. A formulação da “doutrina kardecista” fornece outro bom exemplo dos modos pelos quais o conhecimento científico pode se popularizar, contribuindo para a constituição de nossa “ideia de ciência”, como aqui chamamos. No mesmo período efervescente da história europeia, na primeira metade do século XIX, Augusto Comte propunha o “positivismo científico”, em que con- cebia uma linha evolutiva para o conhecimento humano que tinha a sua origem nas formas de pensamento “teológico”, seguindo, a partir da evolução do processo cognitivo humano, ao estado “metafísico” para finalmente atingir o modo de pen- samento propriamente “científico”, de uma “ciência positiva”. No estado metafísico, (...) os agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstratas, verdadeiras entidades (abstrações personificadas) inerentes aos diversos seres do mundo, e concebidas como capazes de engendrar por elas próprias todos os fenômenos observados (...). Enfim, no estado positivo, o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade de obter noções absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do universo, a conhecer as causas íntimas dos fenômenos, para preocupar-se unicamente em descobrir, graças ao uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas leis efetivas, a saber, suas relações invariáveis de sucessão e de similitude. A explicação dos fatos, reduzida então a seus termos reais, se resume de agora em diante na ligação estabelecida entre os diversos fenômenos particulares e alguns fatos gerais, cujo número o progresso da ciência tende cada vez mais a diminuir" (pág. 35-37). Como vimos, desde o “positivismo” de Augusto Comte à “evolução das espé- cies” de Charles Darwin, passando até mesmo pelas doutrinas do “espiritismo”, a capítulo 1 • 18 ideia de “evolução” é muito marcante no imaginário científico europeu dos sécu- los XVIII e XIX, imaginário este que progressivamente colonizou todo o mundo ocidental de sua época. No caso específico do positivismo comtiano, três outras características ainda se destacam. A primeira delas é a ideia de que o objetivo das ciências é a “desco- berta de leis gerais” para o funcionamento das dimensões biológicas, psicológicas, sociológicas e naturalísticas da existência material humana. De um modo geral, a ciência atual abandonou essa pretensão de conectar todas as dimensões do huma- no por meio da descoberta de uma lei ou de explicar todos os fenômenos naturais a partir de um princípio geral. A segunda imagem que faz parte do nosso “ideário científico comum” seria a defesa de um princípio de hierarquização entre os saberes, em que os conhecimen- tos ditos “teológicos” (ou “religiosos”) e “metafísicos” estariam subordinados ao modo “científico” (no caso, “positivo”) de explicação do mundo. Como vimos, a ciência não deve ter a pretensão de suplantar outras formas de conhecimento e pensamento ditas “arcaicas”, “crendices religiosas”, “supers- tições” etc., mas deve ter por missão – principalmente no caso das “ciências hu- manas” ou “sociais”, como veremos – estudá-las, compreendê-las e respeitá-las como formas de vida. Por fim, está contida também no pensamento comtiano a ideia de que essas leis, uma vez descobertas, seriam invariáveis, ou seja, não seriam passíveis de ques- tionamento e revisão. Se ainda é possível questioná-las em seu mérito, segundo Comte, é porque ainda não seriam leis descobertas sob o paradigma científico po- sitivo. Trocando em miúdos, pensar a ciência dessa forma significa dizer que se as propriedades de algo já foram objeto do pensamento científico, nada mais há que se dizer sobre ele. Esse objeto, uma vez abordado, deve ser deixado para trás e não mais estudado. Mais uma vez, nada mais inadequado para a perspectiva contemporânea de ciência do que essa afirmação. Além das variações de método e técnica que podem afetar os resultados das pesquisas, para o caso específico das “ciências humanas”, como a Sociologia e a Antropologia, isso significaria que, uma vez estudada uma determinada sociedade ou grupo social, por exemplo, nada mais poderia ser dito a esse respeito. Essa postura ignora, por exemplo, os processos de mudança social pelos quais passam esses agrupamentos, tornando-os objetos extremamente dinâmicos, capítulo 1 • 19 supondo ainda que uma pesquisa poderia dar conta de toda a complexidade de sua existência social, da totalidade de sua sociedade, seus processos e valores. Mesmo no caso das “ciências da natureza”, essa ideia de que a ciência produz um saber definitivo e imutável não se verifica. O que dizer, por exemplo, do eterno debate sobre os malefícios/benefícios do consumo de ovos ou de café? Você já se questionou sobre como é possível um mesmo alimento passar de “herói” a “vilão” da saúde tantas vezes? Se pensamos a “ciência” apenas como essa espécie de força impetuosamente progressista de superação de formas “não científicas” ou “pré-científicas” de expli- car o mundo, certamente não conseguiremos compreender a permanência desse tipo de debate. Afinal, para que voltar a refletir cientificamente sobre algo que já foi estudado, que já teve sua “verdade revelada”? Como esses diferentes resulta- dos são possíveis? Seria um indicativo de “fraqueza” ou de “força” do argumento científico? Se as ideias de “evolução” e “ciência” se superpõem, bem como a pers- pectiva de que a adesão ao “pensamento científico” implica a renúncia a formas ditas “irracionais”, como explicar a existência de outras “formas de pensamento”, como no caso das diferenças observadas entre os princípios que regem a medicina “ocidental” e “oriental”? A própria ideia de “descoberta” também aparece repetidamente na constru- ção teórica de Augusto Comte. Para ele, essas relações invariáveis (leis de funcio- namento) tinham uma existência independente, “interior”, de alguma forma, e precisavam ser desveladas (portanto, “descobertas” no sentido de retirar a prote- ção, capa ou invólucro) além de sua aparência superficial. Essa apreensão ignora o que realmente ocorre nos investimentos de pesquisa concretos:um processo de construção do conhecimento. capítulo 1 • 20 O conhecimento produzido por meio da pesquisa científica é produto de um investimento detido e laborioso na construção de uma abordagem teórico-metodológica, no sentido de que envolve a pesquisa prévia de autores e procedimentos metodológicos mais adequados para aplicação a um determinado objeto de pesquisa; a construção de um ferramental de pesquisa, seja ele composto de ferramentas materiais (equipamentos etc) ou conceituais, no sentido de que os próprios conceitos são também instrumentos utilizados pelo pesquisador para abordar e trabalhar a realidade a ser estudada. É uma construção também no sentido de que envolve sempre as dinâmicas de busca por financiamentos e toda a socialidade acadêmica implicada na aceitação e afirmação de um projeto de pesquisa no campo científico (apresentação de projeto, qualificação, inserção em uma linha de pesquisa etc.) E por último - mas não menos importante, claro -, porquê os resultados destes estudos precisam sempre ser "traduzidos" para o idioma científico a partir do diálogo com a teoria disponível e resultados de outras pesquisas, uma construção feita pelo pesquisador e, eventualmente, por sua equipe de pesquisa. Por fim, podemos mencionar um importante fator para a conformação da nossa “ideia de ciência”: a maneira pela qual organizamos o que podemos chamar de “História das Ciências”. De modo a transmitir a ideia de que a ciência é um fenômeno datado, passível de ser compreendido historicamente, manuais e publicações de me- todologia científica tendem a organizar os debates travados entre os cientistas em termos de “escolas”, que se sucedem cronologicamente como “fases” de um desenvolvimento progressivo e unilinear. Para o leitor desavisado, sem treina- mento científico, essa espécie de recurso “didático” pode transmitir a ideia de que essas “fases” ou “paradigmas científicos” se sucederiam no tempo de forma mutuamente excludente, a “fase posterior” superando a “anterior”. Essa forma de pensar o desenvolvimento científico não é típica de todos os campos da ciência e mesmo as ciências ditas “paradigmáticas” (que operam com a ideia de superação e adesão a um novo paradigma explicativo) não funcionam exatamente dessa maneira. capítulo 1 • 21 O campo científico é, no geral, muito mais dinâmico. O que há, pode-se dizer, na conformação empiricamente observável desse campo, são diversas li- nhagens teórico-metodológicas vinculadas a centros de produção acadêmica e de pesquisa, programas de pós-graduação etc. que disputam recursos humanos, materiais e financeiros, no sentido de fortalecer suas perspectivas e abordagens científicas dos fenômenos. Essas disputas podem ganhar dimensões de grande embate teórico, entrando para a “História das Ciências” como uma “disputa de paradigmas”, em que uma perspectiva – a “vitoriosa”, claro – parece suplantar a outra. Na prática, não fun- ciona bem assim. Como vimos, existem vários centros acadêmicos e de pesquisa produzindo ao mesmo tempo, com perspectivas diferentes, em uma espécie de ambiente de “pluralismo teórico”, de coexistência daquilo que Lakatos (1979) chama de “programas de pesquisa”. Para efeitos de conclusão, vimos que o motor do conhecimento científico, por- tanto, não é, para a ciência contemporânea, a marcha inexorável da razão em busca de leis imutáveis e princípios gerais, mas um dinamismo produzido pelas disputas entre diversos “programas de pesquisa” (LAKATOS, 1979), tanto em termos de orientações teóricas e prático-metodológicas como em termos de recursos materiais e humanos. Vimos também que a ciência não opera em termos de “descobertas”, mas de um trabalho de “construção” que envolve desde a escolha do ferramental teórico (autores, publicações, conceitos etc.), passando por decisões de cunho me- ramente logístico (onde e quando realizar um trabalho de campo ou um experimen- to etc.), até o próprio processo de análise dos resultados empíricos à luz das teorias e pesquisas existentes em um campo disciplinar determinado. Por fim, enquanto questão ética e princípio metodológico, vimos também que uma postura genuina- mente científica não deve implicar qualquer juízo de superioridade em relação a outras formas de conhecer o mundo. Principalmente no caso das “ciências humanas” ou “sociais”, como vimos – principal referência para a metodologia de pesquisas que se debruça sobre temas ligados à segurança pública –, essa é uma regra de con- duta científica ainda mais relevante. A classificação da pesquisa com base em objetivos e procedimentos Já vimos, lá no começo de nossa aula, que uma das “grandes divisões”, pode-se dizer assim, das ciências em termos de objetivos e procedimentos é a separação entre “ciências humanas” e as “ciências naturais”. Entendida também sob a terminologia capítulo 1 • 22 de “soft science” e “hard science”, respectivamente, em inglês, essa separação parte do pressuposto de que os fenômenos ditos “naturais” e “sociais” funcionam como esferas de vida apartadas uma da outra. Entretanto, quando pensamos em fe- nômenos contemporâneos como o “aquecimento global”, essa divisão original é colocada em xeque. Pense em que “caixinha” dessas, “natural” e “social”, você encaixaria o fenôme- no do “aquecimento global”. Se pensarmos nas reações químicas que ocorrem na atmosfera, ele talvez pudesse ser dito um “fenômeno químico”. Se pensarmos no seu impacto sobre as condições de vida dos organismos no planeta Terra, pode-se dizer que ele é um “fenômeno biológico”. Se pensarmos, por sua vez, no impacto do degelo das calotas polares sobre o “estilo de vida” das cidades litorâneas, ele é também um “fenômeno sociológico”. O aquecimento global Percebeu o potencial de certos fenômenos de colocar em xeque nossa adesão estrita a essa divisão entre o “reino natural” e o “mundo social”? Sim, ela nos ajuda a organizar um pouco a forma como percebemos o campo científico, mas devemos estar sempre prontos a reconhecer as especificidades dos objetos de pesquisa que escolhemos e aos quais nos dedicamos para definir a melhor metodologia para responder as perguntas que nós colocamos. Uma segunda “grande divisão” que podemos indicar, além dessa, é a separa- ção entre o “saber popular” e o “saber científico”. Como já vimos, partindo do capítulo 1 • 23 princípio de que as ideias ditas científicas têm vida social e de que essa vida é pas- sível de ser contada (PEIRANO, 2006, p. 103), falamos sobre a “origem” de nossa concepção comum de ciência na ideia (“renascentista”/”iluminista”) de que o saber científico representava um marco de separação em relação às formas de explicação baseadas no “senso comum”, principalmente naquele “saber popular” inspirado por valores “religiosos”. No fazer científico contemporâneo, essa separação não é uma “separação de natureza”, de conteúdo, mas de forma. Segundo Marconi e Lakatos (2013), "o conhecimento vulgar ou popular, às vezes denominado senso comum, não se distingue do conhecimento científico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto conhecido: o que os diferencia é a forma, o modo ou o método e os instrumentos do "conhecer". Saber que determinada planta necessita de uma quantidade "X" de água e que, se não a receber de forma "natural", deve ser irrigada pode ser um conhecimento verdadeiro e comprovável, mas, nem por isso, científico. Para que isso ocorra, é necessário ir mais além: conhecer a natureza dos vegetais, sua composição, seu ciclo de desenvolvimento e as particularidades que distinguem uma espécie de outra"(p.76). Percebeu a diferença? Ambas as formas de conhecer são plenamente racionais, pois são formas críticas de pensamento que buscam a construção de causalidades lógicas e coerentes (mesmo que inspiradas por lógicas diferentes),e objetivos, uma vez que to- mam elementos empíricos que de alguma forma impõem limitações a especulação pura e simples. São formas de conhecer o mundo, separadas, entretanto, pelo método de cons- trução e validação do conhecimento que produzem (MARCONI; LAKATOS, 2013). Propomos então que você se detenha, por um minuto, a pensar sobre aquilo que então outorga a uma determinada forma de conhecimento a alcunha de “cientí- fico”, formulando esse ponto da perspectiva de Michel Foucault. O que legitima- ria então as “pretensões de verdade” de uma “forma de discurso” para que possa ser dita “científica” (FOUCAULT, 2009)? Vamos começar, em princípio, com a indicação de Marconi e Lakatos (2013), o método! O que é o “método científico”? Segundo Mário Bunge, o método científico é a “teoria da investigação”. capítulo 1 • 24 Muito embora, para o autor, exista um “método geral”, uma maneira propria- mente científica de encarar os problemas e se dedicar à produção de conhecimento sobre o mundo que nos cerca, o método não deve ser encarado como um tipo de a priori, um universal cuja existência independe da pesquisa a que se aplica. Pelo contrário! Para Bunge, a ciência possui um método que lhe é comum e que a distingue de outras formas de pensamento, mas o que define o método verda- deiramente é a sua aplicação a problemas específicos e objetos concretos. Somente nessa confrontação com os desafios impostos à construção de um objeto de pesquisa empírico que o método toma sua forma mais acabada em termos de escolhas meto- dológicas (BUNGE, 1979). Cabe destacar também que, além disso, cada campo disciplinar desenvolve seu próprio ferramental em termos de procedimentos específicos para lidar com esse desafio de construção de um objeto de pesquisa. A consideração de mais essa variável compõe uma boa contextualização do campo científico e da variedade exponencial de métodos de que um cientista dispõe para realizar sua atividade. Para Bunge, em relação ao método, as atitudes dos pesquisadores giram em torno de dois extremos possíveis: o “determinismo metodológico”, onde o investi- gador segue cegamente as normas preestabelecidas pela metodologia e por seus fiéis guardiões, os “metodólogos”; e o que o autor chama de “anarquismo metodoló- gico”, em que a investigação não segue qualquer cânone preestabelecido, ficando totalmente a cargo da subjetividade do pesquisador (BUNGE 1980a; 1980b). Vamos lá! “Nem tanto ao mar, nem tanto à terra”, diria a sabedoria popular. É certo que não se pode abrir mão da submissão da investigação a alguns princípios científicos elementares. Entretanto, é verdade também que o método não deve se emancipar da pesquisa, e submeter e restringir suas possibilidades de investiga- ção e resultados. Sobre esse perigo da “emancipação do método”, Howard Becker (1999, p. 17) tem uma frase bastante ilustrativa: “A metodologia é importante demais para ser deixada aos metodólogos”. Preocupado com as restrições do método aos efeitos da subjetividade do pesqui- sador sobre a construção de objetos sociológicos, Becker nos fala de uma concepção da “ciência como máquina”. O que isso quer dizer? No caso da Sociologia – campo disciplinar ao qual Howard Becker dedicou toda a sua vida –, isso significa dizer que, com o intuito de eliminar as diversas fontes de “vieses” (bias, em inglês), os metodólogos, em seu “ofício proselitista”, acabam por restringir ao campo de objetos e procedimentos da disciplina aquilo que é possível verificar apenas pelos métodos consagrados como “totalmente objetivos” capítulo 1 • 25 (daí a analogia com a “máquina”), afastados da influência “nefasta” da subjetivida- de do pesquisador, seus valores e preferências pessoais. Para o autor, essa concepção restritiva dos objetos e procedimentos é altamente nociva para a disciplina. Nas palavras de Howard Becker (1999, p. 18-20): "Embora alguns renomado metodólogos e filósofos da ciência acreditem que a metodologia deve se dedicar a explicar e aperfeiçoar a prática sociológica contemporânea, a metodologia convencional em geral não faz isso. Ao contrário, ela se dedica a dizer aos sociólogos o que deveriam estar fazendo e que tipos de método deveriam estar usando, e sugerem que eles ou estudem o que pode ser estudado por estes métodos ou se ocupem a imaginar como o que querem estudar pode ser transformado no que pode ser estudado por estes métodos (...). Mas, como se sabe muito bem, é difícil reduzir a ciência a tais procedimentos estritos e a algorítmos plenamente detalhados. Diante desta dificuldade, podemos optar entre dois caminhos pelo menos. Ao invés de insistir em procedimentos mecânicos que minimizam o julgamento humano, podemos tentar tornar as bases desses julgamentos tão explícitas quanto possível, de modo que outros possam chegar as suas próprias conclusões. Ou podemos transformar nossos problemas em problemas que possam ser resolvidos por procedimentos típicos de uma máquina (BECKER, 1999, p. 18;20) Não é preciso dizer que, para Becker, a alternativa da “ciência como máquina”, da perseguição da absoluta “objetividade científica”, é uma quimera. Mais do que isso, implica em uma perda inestimável para a Sociologia, tanto em termos da restrição de seu universo de objetos possíveis como em termos da construção de métodos e inovações fundamentais ao desenvolvimento do campo científico. A Sociologia é uma das principais fontes de objetos e procedimentos metodo- lógicos para as pesquisas em segurança pública – ela e suas disciplinas coirmãs “humanas”, pode-se dizer, como a Antropologia, a Ciência Política, a História, a Estatística etc. Nesse sentido, as problematizações de Becker sobre o método sociológico tornam-se ainda mais pertinentes para nós. Agora, retomando a pergunta que fizemos anteriormente, sobre o que define um conhecimento como científico, cremos que agora podemos respondê-la. capítulo 1 • 26 ATENÇÃO Seguindo a análise de Becker, o que define um conhecimento como “científico” é a verifica- bilidade do método. O que isso quer dizer, concretamente? Significa que, em sua pesquisa, para que ela seja “científica”, você precisa explicitar todas as condições e condicionalidades sobre as quais foram produzidas as escolhas metodológicas que levaram aos resultados obtidos por sua investigação. Isso permitirá, como nos fala Howard Becker, o chamado “controle de pares”, prin- cipal mecanismo de controle do campo científico, ou seja, permitirá que outros pesquisadores possam percorrer as suas escolhas metodológicas e chegar as suas próprias conclusões sobre a pertinência e a propriedade do que foi dito em sua pesquisa. Isso é “ser científico”. Dito isso, podemos seguir nosso caminho pelas “grandes divisões” do pensa- mento científico, retomando o debate entre as ciências “empíricas” ou “factuais” e as ciências “formais”, cujas origens retomam, como vimos na primeira parte de nossa aula, os debates científicos dos séculos XVIII–XIX. Estas últimas, de caráter “formal”, trabalhariam com modelos abstratos, os quais lançam mão da empiria, quando muito, apenas para ilustrar seus postulados, formulados racionalmente, por obra do intelecto. As primeiras, ditas “factuais”, também têm por objetivo a formulação de “modelos explicativos”. Entretanto, esses modelos são construídos ‘a partir de’ e ‘em diálogo’ com a empiria, ou seja, com base na observação. Segundo Bunge (1985, p. 14), há uma distinção de terminologia, entre os procedimentos de “demonstração” e “verificação”, que ilustra essa diferença. "As ciências formais demonstram ou provam: as ciências factuais verificam (confir- mar ou desconfirmam) hipóteses que em sua maioria são provisórias. A demonstração é completa e final; a verificação é incompleta e por isso temporária. A própria natureza do método científico impedea confirmação final das hipóteses factuais" (1985:14). Essa outra “grande divisão”, entretanto, também caiu em desuso. Muito embora existam disciplinas majoritariamente “formais”, como a Matemática e a Lógica, esse não é o caso para a maioria dos campos científicos. Intelecto e observa- ção, no geral, convergem no processo de construção do conhecimento. O que isso quer dizer em termos concretos? Bom, isso quer dizer que, em toda pesquisa, os investigadores partem sempre dos modelos explicativos existentes (as teo- rias) para formular seus temas, problemas e objetivos de pesquisa, mas que, ao serem aplicados às observações empíricas, tendem a demonstrar uma série de inadequações. capítulo 1 • 27 Isso se deve ao fato de uma vez tendo sido elaborados com base em observa- ções de outros contextos empíricos, quando aplicados em nossos próprios campos de pesquisa, é previsível que haja desajustes, digamos assim. Mas isso não quer dizer que, para a dinâmica de funcionamento das ciências, esses “desajustes” sejam negativos. Pelo contrário! Eles são previsíveis! Fazem parte da própria dinâmica do desenvolvimento científico! Vejamos como Karl Popper (2004), ilustrando seu “princípio da falseabilida- de”, pensa esse diálogo entre a “produção de hipóteses” e sua “verifi cação empírica” a partir de um esquema mais dialógico entre as dimensões “formais” e “factuais” do processo de pesquisa. Foi possível para você visualizar como essas duas dimensões, “factual” e “formal”, podem interagir em uma pesquisa? Primeiro é preciso formular o seu “problema de pesquisa”. Em seguida, com o auxílio de autores e estudos acadêmicos, você formula um conjunto de “hipóteses”, bem como suas “consequências lógicas”, que é a forma capítulo 1 • 28 como o problema, em sua formulação lógica, afetaria uma determinada realidade. Até aqui, todas as operações feitas no processo de pesquisa são modelares e teóricas. Realizadas essas operações lógicas, o pesquisador vai à empiria a fi m de verifi car suas hipóteses. É nesse encontro que começamos a produzir nossas pesquisas. Para Karl Popper, quando, nesse encontro, essa “teoria” é “falseada”, ou seja, é majoritariamente refutada pela experimentação empírica, ela deve ser reformulada. Se o “teste empí- rico”, entretanto, é corroborativo, no todo ou em parte, a “teoria” que fundamentou cientifi camente aquela formulação de hipóteses sobre o problema sai fortalecida. Para o “princípio da falseabilidade” de Popper (2004), a força de sua cientifi cidade, entretan- to, reside no fato de ela ser submetida a repetidos “testes empíricos”. Falemos agora de outra “grande divisão” entre as ciências “indutivas” e “dedu- tivas”, ou seja, aquelas que aplicam métodos de generalização de resultados a partir de uma amostra empírica observada (“método indutivo”) ou de uma cadeia lógica de pensamento (“método dedutivo”). Para que essa divisão não fi que muito etérea para você, vejamos o exemplo de Marconi e Lakatos (2003, p. 91) sobre essa diferenciação em termos de sentenças ilus- trativas das lógicas que inspiram os dois métodos científi cos, “indutivo” e “dedutivo”: Dedutivo Todo mamífero tem um coração. Ora, todos os cães são mamíferos. Logo, todos os cães têm um coração. Indutivo Todos os cães que foram observados tinham um coração. Logo, todos os cães têm um coração. (MARCONI & LAKATOS, 2003 :91) Como você pode perceber, essa “divisão” remonta bastante à anterior, entre “ciências empíricas” e “formais”. Nesse caso, entretanto, pode se dizer que ela capítulo 1 • 29 encontra-se mais centrada na forma pela qual a ciência produzem generalizações, no primeiro caso, a partir da lógica, no segundo, do caso concreto. Por fim, para fecharmos nosso primeiro capítulo sobre a ciência e o método científi- co, falemos da diferenciação entre os “quantitativos” e métodos “qualitativos”, também conhecida pela distinção entre abordagens “macro” e “micro”. Vejamos por quê. Tratando essa separação de modo bastante genérico e superficial, ela postula a distinção entre, por um lado, métodos de pesquisa que se servem de dados quantifi- cados ou quantificáveis e, por outro, métodos que tomam por base empírica o com- portamento de objetos em situações concretas, por meio da observação direta (“da- dos primários”) ou de relatos, entrevistas etc. (“dados secundários”). No primeiro caso, os dados utilizados produzem generalizações indutivas mais abrangentes. Essa maior capacidade de generalização se dá em razão do tamanho da “popula- ção” e do volume de casos contemplados na construção de uma “amostra de pesquisa”. Abrimos um breve parêntese para falar da distinção entre "pesquisa por população' e "pesquisa por amostragem". Essa distinção será aprofundada nas próximas aulas, mas, já que mencionamos, cabe uma breve explanação. A "pesquisa por população" implica que um levantamento, seja de tipo qualita- tivo (entrevistas, estudos de caso etc.) ou quantitativo (aplicação de questionários etc.), obtenha dados de todos os indivíduos ou casos de um grupo. A "pesquisa por amostragem", por sua vez, se debruça sobre uma parcela aleató- ria (o pesquisador não interfere na seleção dos casos) ou representativa (o pesqui- sador interfere de modo a fazer com que a amostra represente os vários segmentos etários, sexuais, de renda etc.) de uma população. EXEMPLO Se o seu universo empírico de pesquisa é um grupo de alunos em sala de aula, obter dados de toda a população de indivíduos é uma tarefa bem mais fácil e desejável, inclusive. Se es- tamos falando de toda a população da Universidade, a coisa já fica um pouco mais difícil e pode-se recorrer a construção de uma "amostra", aleatória ou representativa. As abordagens de pesquisa ditas “qualitativas”, como mencionamos, por lan- çarem mão de entrevistas, relatos, observações diretas e estudos de casos (vere- mos, posteriormente, todas essas ferramentas de pesquisa), produzem generalizações menos abrangentes, porém mais qualificadas em termos de profundidade sobre determinado fenômeno. capítulo 1 • 30 Você já deve ter percebido que, apresentada dessa maneira, a opção entre a aplica- ção de métodos quantitativos ou qualitativos equivaleria a uma escolha entre “abrangên- cia” e “profundidade”, “generalidade” e “especificidade”. Um debate entre a alternativa de produzir um conhecimento genérico sobre um grande número de casos ou, ao contrário, produzir um conhecimento profundo sobre um universo de casos muito menor. Atualmente, entretanto, a boa técnica de pesquisa recomenda que se aplique o que chamamos “triangulação de métodos” ou “pesquisa com métodos mistos”. Esse tipo de abordagem não só apregoa a utilização simultânea, em uma mesma pesquisa, de métodos ditos “qualitativos” e “quantitativos”, como contempla também a aplicação de metodologias e técnicas de pesquisa de várias áreas do conhecimento. EXEMPLO Pense numa pesquisa sobre o tema "vitimização policial". Ela pode lançar mão, em princípio, de uma série de dados produzidos pelas próprias organizações policiais, reunidos em bases e, portanto, altamente passíveis de quantificação. Numa primeira etapa da pesquisa teríamos então um panorama abrangente de estatísticas, taxas e índices relacionados ao fenômeno da "vitimiza- ção policial" (um panorama quantitativo). Esse levantamento pode ser exaustivo, dando conta de toda a população de casos para um período de 5 (cinco) anos, por exemplo, mas ele ainda sim é genérico. Numa segunda etapa deste nosso investimento de pesquisa hipotético, a equipe de pesquisas poderia se dedicar a realizar entrevistas com policiais vitimados e visitar suas unidades para a realização de observações in loco. Esse tipo de abordagem qualitativa da realidade permite uma maior profundidade acerca das dinâmicas cotidianas do funcionamento desuas unidades e das características do local em que se situa, por exemplo, bem como das vivências individuais dos sujeitos vitimados. Poderemos, com isso, agregar um detalhamento mais vívido ao panorama estatístico inicial e corrigir eventuais distorções causadas pelo registro e tratamento dos dados quantitativos. Por sua vez, a pesquisa pode agregar também dados da área de Psicologia das cor- porações, de modo a enriquecer suas análises sobre o impacto da violência sobre os sujeitos, ou mesmo dados históricos para pensar sobre a forma como a missão e o mandato das instituições de segurança se modificou com o tempo e o seu papel na sociedade atual. Bom, é isso. Esperamos que você tenha tido uma boa compreensão do conteúdo desse nosso primeiro encontro. Até a próxima aula! O problema científico 2 capítulo 2 • 32 O problema científico OBJETIVOS • Conceituar a ideia do problema científico e reforçar o entendimento de metodologia científica. • Entender a importância da escolha e da delimitação do tema da pesquisa científica como fator primordial para sua realização. • Entender o que são as fontes de pesquisa primárias e secundárias, bem como facilitar sua busca. • Apresentar os pontos essenciais de um projeto de pesquisa, entendendo seus elemen- tos estruturais. Conceituando Podemos conceituar o problema científico como sendo aquele que é proposto, dentro de determinada área de conhecimento, para sanar um questionamento existente. O problema científico, para que, sua resposta ou solução seja, válida, deve ser investigado a partir de técnicas e métodos inerentes à certificação do co- nhecimento científico, denominados metodologia científica. A metodologia científica deverá ser aplicada durante a investigação do proble- ma pesquisado, tendo como premissa a pergunta de como o investigador deverá proceder para encontrar as respostas. Os métodos são as maneiras utilizadas para se chegar a determinado objetivo almejado. Dentre os tipos de métodos existentes, podemos destacar o dedutivo, o indutivo e o dialético. Podemos resumir o método dedutivo como aquele que parte da premissa geral, para uma conclusão individual lógica e definitiva. No método indutivo ocorre o contrário. A premissa é a particularidade individual, pressupondo, assim, que ela irá se repetir no caso geral. Porém, esse pressuposto pode não ser verdadeiro. capítulo 2 • 33 Já o método dialético é proveniente dos antigos gregos. Ele consiste numa troca de argumentações racionais, permanentes e contraditórias, através de perguntas, respostas e conclusões. Não existe uma conclusão definitiva no método dialético, pois como a realida- de está em constante transformação as respostas são transitórias. Ou seja, a cada nova descoberta ou inovação, ocorre uma síntese entre a tese antiga e a nova, gerando uma nova conclusão. Isso ocasiona o enriquecimento do conhecimento e o avanço científico permanente. EXEMPLO Método dedutivo: Todo réptil tem sangue frio. O lagarto é um réptil. Então o lagarto tem sangue frio. Método indutivo: A cobra coloca ovo. A cobra é um réptil. O lagarto coloca ovo. O lagarto é um réptil. O jacaré coloca ovo. O jacaré é um réptil Logo, todos os répteis colocam ovos. A escolha do tema e a importância de sua delimitação A escolha do tema é um dos momentos mais importantes do Trabalho de Conclusão de Curso. Isso porque é com ele que o aluno irá “namorar” nos próxi- mos meses ou até anos de sua vida. Com ele, muitos finais de semanas, feriados e até mesmo algumas madrugadas serão passados. Por isso então, é primordial, que você escolha um tema de que realmente goste, e sobre o qual tenha interesse e vontade de conhecer mais. Muitas vezes você ficará desmotivado em escrever ou pensar sobre o tema de sua pesquisa. E se escrever sobre algo de que se gosta já é uma prática extenuante, imagine escrever sobre algo sobre o qual não se tem o menor interesse ou proximidade. capítulo 2 • 34 O planeta Terra Há uma infi nidade de assuntos que podem ser pesquisados em nosso grande planeta azul. Porém, para o pesquisador iniciante, as barreiras devem ser transpos- tas uma a uma. Para que esse processo de escolha seja mais simples, existem algumas técnicas que facilitarão sua vida para uma correta comunhão com o seu tema. Inicialmente, é mais fácil optar por um assunto com o qual você tenha proxi- midade, podendo se relacionar com as suas experiências profi ssionais ou pessoais; com assuntos sobre os quais você já tenha estudado e sentido um maior interesse; com situações que propiciem um status de observador privilegiado; com deba- tes, seminários ou fóruns de que tenha participado como aluno e cujos assuntos comentados tenham lhe causando inquietações; e suposições ou mesmo temas contemporâneos e controversos que lhe tenham despertado curiosidade. A partir desse primeiro momento, que é a conjugação do interesse entre você, pesquisador, e o seu tema, os fatores paralelos que podem impactar tanto na con- fecção do seu trabalho como na avaliação da banca e do professor que farão sua análise devem ser observados. Ampulheta capítulo 2 • 35 O tempo disponível para pesquisar sobre o tema delimitado é um desses fa- tores. Digamos que você tenha escolhido um assunto que envolva uma longa pes- quisa de campo em unidades policiais ou fóruns, somado a centenas de entrevistas estruturadas, feitas através de questionários. Você terá tempo para efetivamente exercitar toda essa dinâmica e, ainda, computar corretamente os dados obtidos? Outro fator é a relevância do tema, bem como a sua atualidade. O tema deve ser relevante para o seu curso e de alguma forma atual, caso contrário seu trabalho não será interessante. Uma pesquisa sobre o uso correto de uma insígnia na farda de um policial militar, apesar de até poder ser relevante para o pesquisador e mais meia dúzia de pessoas, não terá uma efetividade em conquistar o fascínio da maio- ria, provavelmente nem dos membros de sua banca examinadora. É importante saber se existe material bibliográfico sobre seu tema, ou se, mes- mo se esse material existir, você conseguirá ter acesso a ele. É possível que haja interesse em escrever sobre determinado tema cuja bibliografia existente – dada a extrema novidade do assunto – esteja em uma língua estrangeira. Nesse caso, além da dificuldade de obter o material para a pesquisa, há a barreira da língua, que deverá ser previamente pensada. Biblioteca Além disso, atrelado ao último exemplo, outro fator é relevante para a escolha. Deve-se pensar na possibilidade de não existir um orientador habi- litado sobre o tema escolhido pelo pesquisador – mesmo que não exista um capítulo 2 • 36 orientador interessado em orientar aquele tema, por achar que está ultrapassa- do ou que não há relevância. Finalmente, o pesquisador deve se perguntar sobre o que tem a escrever sobre aquele tema; quais suas inquietações e questionamentos; e o que poderá transmitir de relevante sobre o assunto escolhido. Passada essa primeira fase, surge imediatamente a segunda, que é a deli- mitação do tema. É extremamente comum que o pesquisador, principalmente o iniciante, tenha como tema um assunto extremamente complexo, envolvendo diversos outros temas. Na ansiedade de querer respostas as suas inquietações, o pesquisador não consegue delimitar um objeto de pesquisa, idealizando um tema que estará abrangendo diversos objetos. Por exemplo: pesquisar sobre os homicídios co- metidos por policiais. Aqui o pesquisador não conseguiu especificar seu ob- jeto, dando uma abrangência extrema na possibilidade de sua investigação. Afinal, para quais homicídios estaria voltada a pesquisa? Sobre homicídios realizados por policiais de folga, de serviço, de suas esposas, de crianças,de ne- gros, de pobres, de ricos, de brancos? A investigação versa sobre a prática dos homicídios ou a punição deles? Essa punição se refere ao início da persecução penal, procurando demonstrar um suposto corporativismo na investigação, ou se refere ao julgamento e à existência de impunidade? Portanto, é necessário que o pesquisador consiga delimitar seu tema, pois seu objeto de pesquisa deve lhe possibilitar ter consciência do que irá pes- quisar, bem como deve fazer o leitor entender qual é o assunto de que trata aquele trabalho. Uma dica importante é que não existe excesso para se delimitar um tema. Quanto mais você conseguir delimitar o seu tema, mais facilidade terá para realizar a pesquisa de forma satisfatória e maiores serão as chances de que seu trabalho seja bem-sucedido. Portanto, não fique chateado se o seu orientador transformar o seu trabalho final em apenas um dos capítulos do que você pretendia pesquisar. capítulo 2 • 37 Não se preocupe que a delimitação excessiva do tema possa deixar seu trabalho superficial. Muito pelo contrário! Quanto mais localizado e pontuado seu trabalho estiver, mais profundo ele terá a chance de ser. Ao pesquisar um ambiente complexo, onde diversos fatores atuam entre si, as suas definições tenderão a ser mais superficiais, tendo em vista a quantidade enor- me de elementos existentes e a dificuldade em se esmiuçar cada um deles. Quando o pesquisador se debruça apenas sobre um dos fatores, seus elemen- tos são restritos tão somente aos elementos existentes nele, não ao conjunto, pro- piciando uma análise muito mais detalhada. Tomemos como exemplo um carro. Se um pesquisador se dedicar a descrever tudo sobre um carro, certamente detalhará suas rodas. Provavelmente, esse pesqui- sador dirá que as rodas de um carro são feitas de metal, encobertas por uma cama- da de borracha destacável, chamada pneu, que entra em contato com o solo. Daí partirá logo para outras características em tese mais importantes daquele veículo. Quando analisamos sistemas complexos, a tendência a relevar suas minúcias se torna uma necessidade, tendo em vista a quantidade de dados que poderão ser considerados mais relevantes. Agora, imaginemos um pesquisador que se proponha a pesquisar não o carro, mas tão somente as rodas do veículo. Certamente ele iria descrevê-las de forma muito diferente. Falaria sobre a relação entre os diâmetros das rodas e a dirigibi- lidade, faria uma longa exposição sobre os diversos tipos de metais que podem ser usados na sua fabricação, os quais influenciam tanto na durabilidade como na segurança, descreveria os pneus e seus diversos modelos, passando pelo material de que são feitos, o processo de fabricação etc. Ou seja, não se preocupe: quanto maior a delimitação do tema, mais profunda se torna a pesquisa sobre o objeto escolhido. E como delimitar o meu tema? Procure chegar a essa delimitação através de suas próprias inquietações. Ou seja, pense no que levou você a se interessar por aquele tema. Se você se interessa em estudar a morte de policiais, talvez a sua inquietação seja sobre a falta de segurança a que esses profissionais estão expostos durante o serviço. Também pode ser sobre o risco que a profissão lhes oferece ao estarem de capítulo 2 • 38 folga. Ou que o envolvimento de policiais com o crime perfaz um caminho que culmina com a morte acentuada desses agentes públicos. Somente nessas três possibilidades descritas é possível delimitar três objetos de pesquisa diferentes, com todos versando sobre o tema da morte de policiais, no entanto. É claro que não se pode deixar de observar a existência de bibliografias que possam lhe dar subsídios para que seu trabalho tenha continuidade. As bibliogra- fias são fontes secundárias de pesquisa que versam sobre as fontes primárias, quais sejam, a análise de dados previamente apurados e computados. Caso não exista bibliografia secundária para seu objeto de pesquisa – ou até exista, mas se for escassa ou não versar diretamente sobre o seu tema –, será neces- sário empreender uma busca de fontes primárias. Ou seja, o pesquisador deverá ir a campo a fim de angariar e computar os dados de que precisa. Não que isso seja um impedimento para o desenvolvimento da pesquisa, po- rém será necessário avaliar, nesse caso, se o pesquisador terá tempo suficiente para recolher os dados necessários. Além disso, é importante observar o fator tempo, bem como a dimensão dos dados levantados. Uma pesquisa que buscasse identificar a quantidade de mortes ocorridas por meio de linchamentos ocorridos na cidade do Rio de Janeiro estaria seriamente comprometida se esses dados se restringirem ao período de um ou dois meses em apenas três ou quatro bairros, por exemplo, pois não teria a dimensão temporal ou espacial de retratar a realidade existente. Finalmente, o interesse do pesquisador é fundamental para o sucesso da pesquisa. Uma pesquisa sobre um tema que lhe seja desinteressante ou sobre o qual você não tem o menor conhecimento prévio irá dificultar muito o seu desenvolvimento. Portanto, a proximidade com o tema escolhido e o objeto delimitado é fundamental para que a pesquisa seja realizada de forma mais tranquila. Imagine-se, estudante de segurança pública, pesquisando sobre legislações e processos civis. Não que seja impossível, porém o grau de dificuldade dessa pesquisa seria muito superior devido à necessidade de uma iniciação completa sobre o tema. Um pesquisador que conheça minimamente, de forma prévia, o que vai ser pesquisado, fará com que o desenvolvimento de seu trabalho seja facilitado. Além capítulo 2 • 39 disso, temos, em alguns casos, a posição privilegiada de observação, que poderá proporcionar, tomados os devidos cuidados metodológicos, a inserção de dados a que outras pesquisas anteriores não conseguiram chegar devido a um possível maior distanciamento do pesquisador com o objeto. Nesse caso, aproveite a oportunidade e faça com que seu trabalho se destaque no aspecto de inovação e relevância acadêmica. EXEMPLO Diversos alunos que iniciam suas pesquisas sobre segurança pública pensam em pes- quisar dentro de comunidades dominadas por traficantes de drogas. Ou seja, tal pesquisa, apesar de interessante, acabaria por comprometer a segurança do pesquisador, tornando-se, muitas vezes, inviável. Cabe, em casos assim, avaliar os riscos a que o pesquisador estaria se submetendo. Realização da pesquisa bibliográfica e sua discussão Passada a fase de escolha e delimitação do tema da pesquisa, já comentada detalhadamente no tópico anterior, é chegada a hora de, enfim, iniciar o aprofun- damento dos estudos. A pesquisa bibliográfica é também chamada por diversos outros nomes, como fundamentação bibliográfica, revisão de literatura, estado da arte, revisão teórica e outros. Porém, não se assuste: qualquer um dos nomes que ela receber irá se referir às regras de que falaremos mais adiante. Vergara (2000) divide os tipos de pesquisa em seis: TIPOS DE PESQUISA EXPLORATÓRIA Ocorre quando o pesquisador não conse- gue identificar elementos ou dados exis- tentes suficientes. Portanto, ele deverá explorar o tema e o objeto a fim de le- vantar seus próprios dados e, até mesmo, formular sua hipótese no decorrer desse processo. capítulo 2 • 40 DESCRITIVA Também conhecida como etnográfica, objetivando a descrição, através da ob- servação, das características da popula- ção ou do fenômeno pesquisado. EXPLICATIVA Explica prováveis relações entre duas va-riáveis comparadas. METODOLÓGICA Objetiva a construção de instrumentos avaliativos. APLICADA Tipo de pesquisa que utiliza o conheci- mento oriundo de outras pesquisas a fim de uma aplicação concreta em uma finali- dade específica, imediata ou não. INTERVENCIONISTA Procura não somenteexplicações sobre o objeto investigado, mas também inter- ferir na sua realidade a fim de que se ob- tenha finalidades práticas. Uma descoberta científica dificilmente irá surgir do nada, como já falamos. Até mesmo sir Isaac Newton, o cientista responsável pela formulação da Teoria da Gravidade, ao ter uma maçã se espatifando sobre sua cabeça (como reza a lenda), precisou pesquisar profundamente os motivos científicos que levavam os objetos a serem projetados em direção ao solo quando soltos no ar. Você e sua pesquisa não serão diferentes. Portanto, o levantamento bibliográ- fico, ou seja, a leitura do que outros pesquisadores já estudaram e descobriram a respeito do tema sobre o qual você agora se debruça será fundamental. Pois é. Por mais que você acredite que o seu trabalho é inovador e vai revolu- cionar o mundo moderno, fazendo com que saia da graduação com seu primeiro Prêmio Nobel, não é bem assim que as coisas acontecem. Muito provavelmente dezenas de pesquisadores antes de você já pensaram so- bre esse tema, gerando, em consequência, diversos materiais bibliográficos, como livros, artigos científicos, dissertações, teses e monografias. Mas não fique chateado com isso, pois esse material será imprescindível para auxiliá-lo na sua pesquisa, clareando suas ideias a partir das reflexões e debates com os textos oriundos desses autores. capítulo 2 • 41 A pesquisa bibliográfica será a base de sustentação para seu trabalho científico e deverá responder a três questionamentos: quem já escreveu sobre o tema; o que já foi escrito sobre o assunto; e quais foram as lacunas deixadas pelos pesquisadores anteriores. Obviamente, apesar de a dica parecer um pouco datada, tendo em vista es- tarmos em plena era tecnológica, um porto seguro para achar farto material de pesquisa são as bibliotecas. Em sua universidade certamente existe uma biblioteca que poderá ajudá-lo com uma enorme variedade de livros. É necessário, entretanto, tendo em vista as inovações cientificas e a atualização constante de diversos materiais, a avaliação sobre a idade e a validade sobre aquilo que se está lendo. Imagine pesquisarmos em um maravilhoso livro de Direito, de um autor outrora consagrado, da década de 1960, que fale sobre as inovações inseridas na “novíssima” Constituição da República daquele ano, redigida sobre o pe- ríodo militar. É claro que, se estivermos fazendo uma pesquisa histórica, esse relato poderá ser de grande valia, através de uma análise comparativa com a Constituição da República de 1988. Porém, se estivermos pesquisando sobre as normas constitu- cionais brasileiras atuais, tal livro de pouco serviria, podendo, inclusive, confundir o pesquisador iniciante. Além dos livros, outros acervos podem e devem ser consultados, como já mencionado. Na própria biblioteca da sua universidade existem diversos trabalhos arquivados, os quais podem, senão integralmente, parcialmente au- xiliá-lo. Provavelmente outros alunos já dissertaram sobre seu tema ou sobre questões que o envolvam, podendo, com isso, além de facilitar o seu enten- dimento, lhe proporcionar, através das referências bibliográficas, novas fontes de consulta. A internet, hoje a ferramenta mais utilizada (ou subutilizada) do mundo, também pode ser uma valiosa fonte. Diversos trabalhos científicos são pos- tados por seus autores em sites especializados sobre aquele assunto, sites de universidades, revistas científicas eletrônicas ou revistas científicas impressas e digitalizadas por alguém. capítulo 2 • 42 ATENÇÃO É necessário, porém, o devido cuidado com as pesquisas na internet. É preciso checar a confiabilidade do site que se está pesquisando, a fim de que você não insira informações não verídicas acreditando que são reais. Sites como a Wikipédia, onde os textos são inseridos por colaboradores, sem nenhuma forma mais robusta de verificação das informações, não devem ser utilizados. Até mesmo jornais e revistas, quando não indexados, devem ser utilizados de forma moderada na sua pesquisa, pois grande parte daquelas informações são eivadas de opiniões de acordo com a linha editorial daquele periódico. Não que artigos em jornais e revistas não devam ser utilizados como fonte de consulta, porém deve-se ter atenção na informação que utilizar. Além de todas as facilidades já mencionadas, existe mais uma proporcionada pela grande rede: a possibilidade de adquirir uma infinidade de e-books (livros em formato eletrônico). Esses livros podem ser encontrados em sites próprios de venda on-line, tanto na nossa língua pátria como em outras línguas, o que o fará aumentar o seu leque de opções, caso tenha domínio de outros idiomas. CURIOSIDADE A indexação refere-se a um “selo de qualidade” dado por determinados órgãos volta- dos à pesquisa científica, como Lilacs, SciELO, ISI e Qualis. As publicações científicas são agrupadas em um sistema de acordo com seu grau de relevância, servindo para avaliar a produção científica dos programas de pós-graduação. A classificação é: A1 (mais elevado); A2; B1; B2; B3; B4; B5; C (peso zero). Fonte: http://www.capes.gov.br/avaliacao/instrumentos-de-apoio/classificacao-da-pro- ducao-intelectual. Acesso em: 10 jun. 2016. A facilidade de localizar e rapidamente adquirir os e-books torna o processo de pesquisa incrivelmente mais fácil, pois com apenas meia hora de busca e alguns capítulo 2 • 43 cliques você terá em suas mãos a possibilidade de adquirir diversos livros, nacio- nais e internacionais, sobre o tema de seu interesse. O aprofundamento do pesquisador na bibliografia fará com que consiga o necessário conhecimento para que possa, com segurança, entender e escrever so- bre o seu tema. Além disso, a conclusão dos autores consultados não será, neces- sariamente, a mesma. Assim, o pesquisador pode, a partir da divergência ou do consenso entre esses trabalhos já realizados, se posicionar sobre seu tema. E, como exemplo dessa divergência, podemos citar os pesquisadores da área de economia, que se aprofundam, por exemplo, na questão dos modos de produção. Muitos, a propósito, se dividem no abismo entre a teoria marxista e a teoria capitalista. Cabe ao pesquisador iniciante, que queira debater a respeito, entender as duas teorias a fim de poder, a partir desse debate entre os autores, chegar a sua própria conclusão. Lembre-se que a bibliografia utilizada na sua pesquisa nunca será demais, pois ela robustecerá o seu conhecimento e, em consequência, o seu trabalho. O seu orientador será de grande ajuda para lhe indicar muitas das bibliografias que você poderá consultar, facilitando ainda mais a sua busca pelo conhecimento. Resumindo, um levantamento bibliográfico poderá ser avaliado como bem feito quanto maior for a extensão da localização de tudo o que já foi feito na área e o correto entendimento de suas respectivas conclusões. A introdução Tanto em um projeto de pesquisa como na pesquisa realizada, a introdução é um importante elemento do seu trabalho, pois servirá para que você apresente ao seu leitor ou a um avaliador o que pretende fazer ou o que já foi feito. Para elaborar uma boa introdução, é importante que sua apresentação seja clara e concisa, explicando qual seu tema, seu problema de pesquisa, a proposta e o tipo de pesquisa que realizará, bem como sua consubstanciação teórica e seus objetivos, conduzindo o leitor/avaliador pelo seu trabalho. É importante destacar que na introdução o interesse que se procura instigar no leitor/avaliador é um interesse técnico, pragmático, demonstrando que o seu projeto apresenta os elementos formais suficientes e concretos a fim de que sua pesquisa demonstre que pode ser aprovada e, assim sendo, consiga ser finalizada com sucesso. Essa é a maior diferença entre a introdução e o resumo, pois enquanto este último
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