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Prática de pesquisa em segurança pública - SP

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Prévia do material em texto

LUIZ ALEXANDRE SOUZA DA COSTA
ELIZABETE ALBERNAZ
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2017
PRÁTICA DE
PESQUISA EM
SEGURANÇA
PÚBLICA
Conselho editorial roberto paes e luciana varga
Autores do original luiz alexandre souza da costa e elizabete albernaz
Projeto editorial roberto paes
Coordenação de produção luciana varga, paula r. de a. machado e aline karina 
rabello 
Projeto gráfico paulo vitor bastos
Diagramação luís salgueiro
Revisão linguística marlon magno
Revisão de conteúdo marco aurélio nunes de barros
Imagem de capa indypendenz | shutterstock.com
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida 
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em 
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2017.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
 C837p Costa, Luiz Alexandre Souza da
 Prática de pesquisa em segurança pública. / Luiz Alexandre
 Souza da Costa; Elizabete Albernaz. Rio de Janeiro: SESES, 2017.
 112 p.: il.
 ISBN 978-85-5548-430-8
 1.Formatação. 2. Metodologia. 3. Pesquisa. 4.Pré-projeto. 
 I.Albernaz, Elizabete. II. SESES. III. Estácio.
CDD 341.59
Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento
Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário
Prefácio 5
1. A pesquisa e o conhecimento científico 7
Importância e aplicação da pesquisa científica 8
Sobre a “ideia de ciência” 8
Remontando a algumas origens de nossa “ideia de ciência” 12
A classificação da pesquisa com base em objetivos e procedimentos 21
2. O problema científico 31
Conceituando 32
A escolha do tema e a importância de sua delimitação 33
Realização da pesquisa bibliográfica e sua discussão 39
A introdução 43
Justificativa do estudo 44
A problematização do tema e o problema em si 46
A construção de hipóteses e as questões norteadoras 48
Cronograma 50
3. A construção do projeto de pesquisa 53
Determinação dos objetivos da pesquisa 54
A construção do embasamento teórico: levantamento preliminar 57
Tipos de bibliografia 57
Leitura e análise textual 61
Construindo seu embasamento teórico 63
A redação do projeto de pesquisa: ética e legitimidade do saber 65
Caracterização do problema 65
Sobre moral, ética e conhecimento científico 71
Os comitês de ética em pesquisa 79
4. O trabalho de conclusão de curso 81
Importância do trabalho de conclusão de curso 82
Os eixos articuladores e as áreas temáticas da formação 
em segurança pública no Brasil 85
Conceituando 85
História 86
O currículo 88
Os eixos articuladores 90
As áreas temáticas 92
Estrutura e formatação do projeto final 94
Conceituando 94
Formatação 95
Elementos textuais 102
Elementos pós-textuais 103
Relevância prática das pesquisas científicas na área 
de segurança pública 107
5
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),
“O começo de todas as ciências é o espanto de as coisas serem o que são.”
Essa frase famosa, extraída da Metafísica, de Aristóteles, mostra-se adequada 
para o início de nossa jornada por dois motivos principais. O primeiro e mais con-
tundente de todos é o “chamado” aristotélico à observação empírica como ponto 
de partida para o pensamento científico. Em sua divergência com o “racionalismo” 
platônico, afastando-se do pensamento de seu mestre e mentor, Aristóteles afirma-
va um “sentido” diferente para o processo do conhecimento: em vez de partir do 
“plano das ideias” (mundo inteligível) para encontrar e domesticar o real (mundo 
sensível), submetendo-o aos ditames da razão, Aristóteles sugeria que partíssemos 
das “coisas como são”, da observação detida e laboriosa dos fenômenos naturais, 
para aí sim colocar a razão a serviço do ordenamento e da compreensão do mundo 
que nos cerca. 
O debate entre Platão e Aristóteles, como veremos, marcará toda a história do 
pensamento científico, seus métodos e a própria forma de organização do campo 
disciplinar das ciências.
Mas por que isso nos importa, afinal? Porque o “chamado” aristotélico – pode-
-se dizer – é também o nosso. O movimento da ciência começa com a vida! Antes 
de fazer ciência é preciso viver, ver o mundo e se inquietar com ele, com as coisas 
que nos cercam e nos provocam sentimentos diversos: repulsa, amor, curiosidade. 
Como veremos em nossas aulas, o empreendimento científico sempre tem seu 
ponto de partida na conformação de um “interesse de pesquisa”. Sendo assim – 
diríamos a você, caro(a) aluno(a), em tom de aconselhamento inicial –, engaje-se 
atentamente ao fluxo diário da vida e busque o “espanto” aristotélico no mundo 
ao seu redor.
Mas basta a vida para a ciência? Não, é verdade, suas andanças pelo mundo 
não farão de você um cientista (talvez um “sábio”, mas não um “cientista”, defini-
tivamente). O passo mais elementar do processo de construção do conhecimento 
científico é interessar-se pelas coisas. Por isso o aconselhamos a ir ao mundo e se 
deixar afetar por ele. Agora, você precisa ter em mente também que existe uma 
franca diferença entre “interessar-se pelo mundo” e construir um “interesse de 
pesquisa”. O que nos leva à nossa segunda reflexão sobre a frase de Aristóteles.
6
Construir um “interesse de pesquisa” é um processo laborioso e metódico. 
Em primeiro lugar, ele implica a dedicação do(a) “candidato(a) a cientista” ao 
aprendizado da teoria e do método científico. Anos e anos de dedicação a esse 
“ofício intelectual” consolidaram alguns procedimentos rotineiros, reunidos 
em publicações técnicas da área como manuais e guias de pesquisa. Um dos 
principais objetivos de nossa aula – como você mesmo(a) poderá constatar – é 
justamente compartilhar algumas dessas “dicas” de modo a guia-los(as) pelos ca-
minhos que nos levam do “espanto” aristotélico à conformação de um genuíno 
“interesse de pesquisa”. 
Em nossa disciplina, entretanto, não nos restringiremos a buscar esse “resul-
tado” de modo instrumental, transmitindo ao(a) aluno(a) uma espécie de “passo 
a passo para o trabalho de conclusão de curso”. Buscaremos, ao contrário, fami-
liarizar os(as) alunos(as) com a forma de organização e funcionamento do pen-
samento científico. Para isso, apresentaremos a “ciência”, ela mesma, como um 
fenômeno histórico e sociologicamente datado, sua origem e desenvolvimento. 
Dessa forma, esperamos mais do que simplesmente habilitá-los(as) a produzir 
um trabalho cientificamente validável, mas a desenvolver uma sólida atitude 
científica em relação à vida.
Bons estudos!
A pesquisa e o 
conhecimento 
científico
1
capítulo 1 • 8
A pesquisa e o conhecimento científico
OBJETIVOS
• Apresentar a ciência e seus princípios operativos como um modo diferenciado de pensa-
mento e de produção de conhecimento;
• Desconstruir algumas ideias preconcebidas sobre o funcionamento das ciências;
• Apresentar a ciência como um fenômeno histórica e socialmente datado;
• Apresentar a ciência e suas “grandes divisões” baseadas em objetivos e procedimentos 
de pesquisa;
• Apresentar aos(às) alunos(as) a ideia de que a metodologia científica deve estar a serviço 
da construção de abordagens de pesquisa concretas.
Importância e aplicação da pesquisa científica
Sobre a “ideia de ciência”
O que é a ciência? O que a distingue de outras formas de pensamento? Qual 
o papel que desempenha em nossa sociedade? Seria a ciência a única forma de 
explicação do mundo? Quais são seus limites e possibilidades? 
Quando pensamos no conhecimento científico, algumas ideias e imagens ten-
dem a nos vir à mente. É possível que você mesmo, neste exato momento, provo-
cado por essas perguntas, esteja pensando em pessoas de jaleco,reunidas ao redor 
de bancadas de laboratório, envoltas pelo alvor de suas paredes, entre pipetas, 
tubos de ensaio e toda sorte de vidrarias e equipamentos. 
Isso porque, por um lado, nosso imaginário científico comum – como podemos 
chamar certo ideário, compartilhado socialmente, sobre a forma de organização e 
funcionamento das ciências – encontra-se profundamente vinculado às chamadas 
“ciências naturais” ou “ciências da natureza”, como a Química, a Biologia etc.
Nesse sentido, quando pensamos na ciência, tendemos a pensar na Matemática 
e na precisão e objetividade dos números. Lembramos também das aulas de Física, 
de suas leis e expoentes famosos. Entretanto, as “ciências naturais”, muito embora 
tenham esse lugar na constituição de nossa ideia de ciência, não são as únicas for-
mas possíveis para o fazer científico, como veremos no decorrer de nosso capítulo.
capítulo 1 • 9
Entre as “ciências naturais” e as chamadas “ciências humanas” ou “ciências 
sociais”, como a Sociologia, a História etc., existem diferenças não só de objeto – 
no caso das primeiras, a interação entre elementos químicos e fenômenos físicos 
com o ambiente e os sistemas orgânicos, seu funcionamento e morfologia; no 
caso das segundas, o comportamento humano em sociedade e seus sistemas de 
valores –, mas também de método.
Albert Einstein, pai da Física moderna e autor da Teoria da Relatividade
Mesmo para cada uma dessas disciplinas, dentro da grande divisão entre 
“humanas” e “naturais”, existem ainda diferenças marcantes em termos de 
preocupações, ferramentas, práticas de trabalho etc. O “método histórico”, por 
exemplo, é totalmente diferente do “método sociológico” – muito embora a 
Sociologia sirva-se, muitas vezes, do recurso à História para formular as suas 
questões, produzir conhecimento e vice-versa –, assim como o “método físico” e 
o “químico”, no campo das “ciências da natureza”, também guardam distinções 
muito significativas.
Bom, seguindo a proposta de pensar sobre a nossa “ideia de ciência”, não 
seria inesperado também que lhe viesse ao pensamento, mesmo que remotamen-
te, a associação entre ciência e alguma concepção de “evolução” ou “progresso”. 
Para a percepção da “pessoa comum”, digamos assim, a cada nova descoberta 
capítulo 1 • 10
científica os seres humanos dariam mais um passo em direção a formas de pen-
samento ditas mais “racionais” e “objetivas”, deixando para trás um rastro de 
“mistérios” e “crendices” sobre a natureza e o funcionamento das coisas.
Esse imaginário não nos vem ao acaso. Ele é datado, possui uma história, 
como mostraremos na próxima sessão de nosso capítulo. Faz parte de uma 
concepção de ciência que ganhou força na Europa nos séculos XVII e XVIII, e 
que buscava, à época, se diferenciar dos modelos explicativos “religiosos” e de 
“senso comum” vigentes até então.
“O Abismo”
Na Idade Média, por exemplo, antes das grandes navegações dos séculos XV–
XVI, os europeus fitavam o horizonte e, limitados por aquilo que seu olhar podia 
alcançar, achavam que a terra era plana e que, além da linha do crepúsculo, que di-
vidia o céu e o mar, havia um abismo habitado por toda sorte de monstruosidades. 
Muito embora cientistas como Ptolomeu já acusassem a falácia dessa con-
cepção, foi apenas com a empresa colonial europeia que essa ideia foi modifi-
cada. Muito embora não fossem cientistas stricto sensu, mas homens movidos 
por ambições comerciais e espírito aventureiro, os primeiros navegadores, como 
Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral, acabaram por contribuir para a 
superação dessa percepção. 
capítulo 1 • 11
No caso da “teoria da terra plana” – bem como da “teoria geocêntrica”, de 
autoria do próprio Ptolomeu, que colocava a Terra no centro do universo –, essa 
percepção de que o incansável e irrequieto pensamento científico estaria conduzin-
do a humanidade em uma espécie de “marcha evolutiva” em direção ao “esclareci-
mento” nos parece, em princípio, bastante evidente. 
Possivelmente você, que está tomando contato com essa discussão agora, tam-
bém tenha essa percepção. Isso é bastante comum e não está de todo equivocada. 
Na verdade, precisa ser complexificada para que possamos construir uma atitude 
genuinamente científica em relação ao mundo e a gama diversa de fenômenos 
(biológicos, psicológicos, sociológicos etc.) que nele tomam lugar. 
Outra forma comum de pensar a “ciência” é a ideia de “descoberta científica” 
como a obra de um gênio individual que, beneficiado por certa dose de sorte, 
descobre algum novo elemento químico, uma força misteriosa da natureza ou a 
tumba perdida de um faraó em meio às areias escaldantes de uma paisagem desér-
tica inóspita.
Pensemos em Isaac Newton, por exemplo, sentado sob a sombra de uma ár-
vore quando subitamente uma maçã cai sobre sua cabeça e EUREKA!, a huma-
nidade pôde finalmente conhecer a “gravidade” e tantas outras leis físicas sobre o 
movimento dos corpos sob seus efeitos.
Newton e o “mito da maçã”
Para desapontamento dos que um dia acreditaram na maçã newtoniana, não 
há registros históricos confiáveis de que tenha de fato sido a inspiração de Isaac 
Newton para construir a sua Teoria da Gravitação Universal – mesmo da parte do 
próprio Newton.
capítulo 1 • 12
ATENÇÃO
Na verdade, toda “descoberta científica” é fruto de um trabalho de observação detida e 
dedicada, bem como de um acúmulo de reflexões teóricas, inovações metodológicas, técni-
cas e de instrumentos que encontram-se disponíveis para os cientistas num dado momento 
de seu processo de pesquisa.
O próprio Newton foi inspirado diretamente – e beneficiou-se muitíssimo 
– das teorias de outro colega cientista, talvez menos conhecido, o astrônomo 
Johannes Kepler. A Teoria Heliocêntrica de Nicolau Copérnico, por sua vez, só 
pôde ser “inventada” porque um fabricante de lentes neerlandês, chamado Hans 
Lippershey, teria inventado o primeiro sistema de observação de objetos a distân-
cia, posteriormente aprimorado pelo próprio Kepler e por Galileu Galilei.
A ideia de “desenvolvimento” não está ausente da ideia de ciência. O conhe-
cimento científico tem sim um caráter cumulativo (não necessariamente “evoluti-
vo”) e beneficia-se dos avanços nas teorias, métodos, técnicas e equipamentos, como 
mencionamos. Entretanto, nas diferentes ciências, podemos observar diferentes 
formas de desenvolvimento, definidas a partir de diferentes maneiras de pensar a 
organização dos diversos “campos científicos”.
Nas páginas a seguir, falaremos um pouco sobre algumas “origens” possíveis 
para essas formas de pensar a ciência (como “evolução”, como “descoberta” e como 
“avanço da razão”), remontando a alguns textos clássicos do pensamento ocidental 
sobre o seu papel e funcionamento em nossa sociedade de modo a tentar respon-
der as perguntas sobre como se constituiu esse ideário coletivo sobre a natureza e o 
funcionamento do conhecimento científico. 
Remontando a algumas origens de nossa “ideia de ciência”
A primeira coisa que precisamos entender é que o surgimento do chamado 
“pensamento científico” é um fenômeno historicamente datado e geograficamen-
te situado. Nesse sentido, pode-se dizer que as ideias comumente associadas à 
ciência são produto, num primeiro momento, do desenvolvimento da “Filosofia 
Clássica”, na Grécia, e de um período específico da história política e social da 
Europa, com o chamado Renascimento, entre os séculos XIV–XVII, e o ideário 
capítulo 1 • 13
“iluminista” que lhe é peculiar, ambos inspirados pela crença na capacidade refor-
madora – não só do pensamento, mas da própria sociedade – da razão.
Com o passar dos anos, essas concepções de ciência expandiram-se a partir da 
Europa para uma boa parcela do mundo ocidental conhecido, bem como para 
os países do “novo mundo”, anexados com a expansão colonial (séc. XV–XVI) e 
neocolonial (XVII–XVIII).
Inicialmenterestrito ao universo acadêmico de sua época, esse ideário foi 
progressivamente absorvido pela sociedade mais ampla de diversas maneiras: por 
meio de sua aplicação ao processo de formulação e implantação de políticas pú-
blicas (por exemplo, as “reformas urbanas” e a doutrina “higienista” no Brasil do 
início do século XX, com Pereira Passos e Oswaldo Cruz), pela difusão de obras 
científicas impressas, pela veiculação nos meios de comunicação de massas etc.
Enfim, comecemos nossa jornada em busca das “origens” de nossa “ideia de 
ciência” pela Grécia de Sócrates, Platão e Aristóteles, os mais famosos dentre os 
chamados “filósofos clássicos”. 
Na Grécia de seu tempo, havia um forte debate sobre os melhores princípios 
de governo e de sociedade para a vida das cidades. Em uma de suas mais famosas 
obras, A república, Platão, por exemplo, reputava ao “governo dos filósofos” a me-
lhor e mais elevada forma de governo dentre as existentes. Segundo ele, a “razão” 
e a “sabedoria” deveriam ser os atributos do governante e, por conta disso, os filó-
sofos deveriam governar como reis. Segundo a concepção platônica de sociedade, 
hierárquica e estamental, apenas os homens nobres, dedicados a ofícios elevados 
e treinados em Filosofia (a “mãe” de todas as ciências), eram capazes de atingir o 
“nível de racionalidade” necessário ao exercício do governo. 
“Alegoria da caverna”
Em outro texto famoso, A alegoria da caverna, Platão nos fala, metaforicamen-
te, do caminho do homem do “obscurantismo da ignorância” à “razão”. Em seu 
capítulo 1 • 14
relato, o autor nos fala do trajeto de homens que, feitos prisioneiros no interior 
de uma caverna, um dia são levados a confrontar a luz do sol e são ofuscados por 
seu brilho exuberante.
Na caverna viviam iludidos, dada a sua condição de prisioneiros, contemplan-
do apenas “sombras”. Uma vez libertos, percebem que, na verdade, o que viam 
eram apenas projeções de objetos contra a luz de uma fogueira, os quais tomavam, 
equivocadamente, como objetos verdadeiros. 
 Na última etapa de sua jornada, ao deixar seu cativeiro, os homens, des-
preparados para lidar com as “verdades filosóficas eternas”, são ofuscados por sua 
luz e nada podem ver com seus olhos mundanos, ainda acostumados às trevas. 
Para Platão, apenas o treinamento em Filosofia poderia habilitá-los a contemplar 
o que o autor chama de “ideias perfeitas”, os únicos objetos dignos de uma ciência 
verdadeiramente racional. 
A “alegoria da caverna” platônica dramatiza algumas ideias importantes para 
a conformação de nossa visão contemporânea, ocidental, de “ciência”. A pri-
meira e mais marcante de todas é a percepção de que o saber científico implica 
em um movimento ascendente da “razão”, de conhecimento de uma espécie de 
“verdade superior” sobre o mundo, superando a ignorância (de uma “vida nas 
sombras”) de formas de pensamento classificadas como “mágicas”, “religiosas” 
ou de “senso comum”.
O caminho que nos leva para fora da “caverna” é um caminho sem volta. 
Uma vez conhecida a “verdade”, não haveria como se contentar novamente com 
um mundo de “sombras”. A “marcha da razão” (e a “marcha da ciência”, conse-
quentemente) é, para Platão e os filósofos gregos de um modo geral, um processo 
irreversível e, de certa forma, evolucionário, cujo motor é o pensamento racional! 
Já aqui podemos perceber alguma vinculação com a forma de pensar a ciência 
apresentada anteriormente.
A segunda ideia marcante do pensamento platônico é essa divisão entre 
“mundo sensível” e “mundo inteligível” e sua patente desvalorização do conhe-
cimento produzido pelos sentidos, da apreensão empírica da realidade. O “mun-
do inteligível”, morada das “ideias perfeitas”, apreendido apenas como obra da 
“razão” e do intelecto humano, segundo Platão, era o único e verdadeiro objeto 
de ciência, como vimos.
capítulo 1 • 15
O exemplo platônico mais famoso, utilizado largamente para falar da divisão entre 
o "mundo sensível" e o " mundo inteligível", nos apresenta a ideia de cadeira. No 
"mundo inteligível", apreendido apenas pela razão, moram as "ideias", modelos 
perfeitos a partir dos quais podemos reconhecer, no "mundo sensível", apreendido 
pelos sentidos, os objetos que, a despeito de seu estado ou formato, podem ser 
identificados como cadeiras por remissão a essa "ideia perfeita" original e imutável.
Para Aristóteles, por sua vez, o enfoque da Filosofia deveria ser diametralmen-
te oposto ao enfoque platônico no “mundo das ideias”. Para ele, a construção do 
conhecimento se dava justamente a partir da observação sistemática do “mundo 
sensível”, de onde o filósofo, o portador por excelência do pensamento científico, 
deve extrair as leis e tipologias que classificam e organizam o universo de fenôme-
nos que nos cercam.
As bases principiológicas desse debate original serão retomadas, muito tem-
po depois, a partir dos séculos XVII-XVIII, durante o Renascimento, no embate 
entre "empiristas" e "racionalistas". Os primeiros, de origem majoritariamente 
anglo-saxã, defendiam o conhecimento produzido a partir da experiência empírica 
do mundo, ou seja, o caminho para o conhecimento segue do "sensível" ao "inte-
ligível", do "particular" para a formulação de "leis gerais". Para os segundos, fran-
ceses em sua maioria, o caminho era diametralmente inverso. Todo conhecimento 
deveria advir unicamente da razão, do intelecto, e ser aplicado, sob a forma de 
conceitos, ao mundo a nossa volta. A ciência moderna do "nosso tempo", pode-se 
dizer, adota uma via de "mão dupla": as bases conceitual e empírica de qualquer 
pesquisa devem dialogar e fortalecer-se mutuamente.
Agora daremos um “salto no tempo”, de cerca de 2 mil anos, e vamos parar 
na Europa dos séculos XIV–XVII, durante o chamado “Renascimento”. O que 
é interessante de se pensar é que esse “salto”, muito embora pareça um tanto 
abrupto e arbitrário, faz sentido para a própria caracterização do período vivido 
no continente europeu.
CONCEITO
O termo "Renascimento" é utilizado para caracterizar um movimento, típico do período 
na Europa, de revalorização da chamada "antiguidade clássica", inspirada pela releitura dos 
grandes filósofos gregos (como Platão e Aristóteles), pelas artes e padrões estéticos "clás-
capítulo 1 • 16
sicos", bem como pelos princípios de vida em sociedade e de governo. Sociológica e histo-
ricamente, o período também é marcado pela transição entre o sistema feudal e o sistema 
capitalista de produção, pela organização dos "Estados Nacionais", a partir do esvaziamento 
do poder local dos 'príncipes feudais', e pelo surgimento do "Regime Absolutista", de concen-
tração de poder sob a figura do Rei/Imperador. 
Ideologicamente, com a referência "renascentista", buscava-se um afastamen-
to do que se caracterizava como o "obscurantismo medieval", em que havia o pre-
domínio da Igreja Católica, seja em termos de ideário para a vida e para o governo, 
seja na própria administração da justiça, com os "Tribunais do Santo Ofício da 
Inquisição". No século XVIII, o chamado "Iluminismo" ou "Idade das Luzes", 
movido pelo referente humanista e naturalista do Renascimento, vem coroar essa 
espécie de reforma moral e estrutural da sociedade europeia, traduzindo seu ideá-
rio nas artes e nas ciências.
Você conseguiu perceber a conexão entre os dois períodos, entre a Antiguidade 
Clássica e o Renascimento? Esperamos que, depois dessa explicação, nosso “salto 
espaço-temporal” talvez não lhe pareça tão arbitrário.
Agora, até este ponto, você conseguiu perceber algumas conexões, em termos 
de ideário compartilhado, entre essas referências históricas e o que chamamos aqui 
de nossa “ideia de ciência”? Propositalmente, nós buscamos utilizar uma lingua-
gem, na primeira parte de nossa discussão, que remontava a esses ideais comuns: a 
concepção de uma ciência evolutiva/progressista, de marchada razão sobre as formas 
irracionais de pensamento, da ciência como um saber que ilumina os “obscurantis-
mos” das “crendices” e “superstições”, da ciência como oposta à religião etc.
Outro marco importante para a nossa forma de conceber as ciências foi a 
publicação de A origem das espécies, de Charles Darwin. A Teoria da Evolução das 
Espécies influenciou toda a nossa forma de pensar a vida, incluindo aí a nossa 
forma de pensar as ciências.
A primeira edição da obra, publicada em 1859, chamava-se, inicialmente, 
Sobre a Origem das Espécies por Meio da Selecção Natural ou a Preservação de Raças 
Favorecidas na Luta pela Vida. Nesse livro, o naturalista Charles Darwin, baseado 
em um vasto inventário de espécies de todos os continentes conhecidos à época, 
coletados em suas próprias viagens ou catalogado por outros pesquisadores, pro-
põe que a diversidade de espécies observada em cada momento de nossa longa 
história evolucionária é o resultado de um processo de adaptação seletiva ao meio, 
capítulo 1 • 17
transmitida (muito embora ele ainda não tivesse clareza de como isso acontecia 
exatamente, o que só veio a ser esclarecido pela descoberta dos genes e o surgi-
mento da genética de Georg Mendel, no final do século XVIII) entre as gerações 
sucessivas em uma temporalidade de longo termo.
O surgimento da ideia de “evolução” revolucionou a forma de pensar as ciên-
cias no mundo ocidental. Não só as ciências. Até o discurso religioso se associou 
ao paradigma evolucionário enquanto ideário marcante da Europa de meados do 
século XIX. O melhor exemplo disso foi o surgimento da chamada “religião dos 
espíritos”, a doutrina espírita de Allan Kardec, contemporânea da publicação de 
A origem das espécies, com a sua teoria da evolução da alma e da reencarnação.
A formulação da “doutrina kardecista” fornece outro bom exemplo dos modos 
pelos quais o conhecimento científico pode se popularizar, contribuindo para a 
constituição de nossa “ideia de ciência”, como aqui chamamos.
No mesmo período efervescente da história europeia, na primeira metade do 
século XIX, Augusto Comte propunha o “positivismo científico”, em que con-
cebia uma linha evolutiva para o conhecimento humano que tinha a sua origem 
nas formas de pensamento “teológico”, seguindo, a partir da evolução do processo 
cognitivo humano, ao estado “metafísico” para finalmente atingir o modo de pen-
samento propriamente “científico”, de uma “ciência positiva”.
No estado metafísico, (...) os agentes sobrenaturais são substituídos por forças 
abstratas, verdadeiras entidades (abstrações personificadas) inerentes aos diversos 
seres do mundo, e concebidas como capazes de engendrar por elas próprias 
todos os fenômenos observados (...). Enfim, no estado positivo, o espírito humano, 
reconhecendo a impossibilidade de obter noções absolutas, renuncia a procurar 
a origem e o destino do universo, a conhecer as causas íntimas dos fenômenos, 
para preocupar-se unicamente em descobrir, graças ao uso bem combinado do 
raciocínio e da observação, suas leis efetivas, a saber, suas relações invariáveis 
de sucessão e de similitude. A explicação dos fatos, reduzida então a seus termos 
reais, se resume de agora em diante na ligação estabelecida entre os diversos 
fenômenos particulares e alguns fatos gerais, cujo número o progresso da ciência 
tende cada vez mais a diminuir" (pág. 35-37).
Como vimos, desde o “positivismo” de Augusto Comte à “evolução das espé-
cies” de Charles Darwin, passando até mesmo pelas doutrinas do “espiritismo”, a 
capítulo 1 • 18
ideia de “evolução” é muito marcante no imaginário científico europeu dos sécu-
los XVIII e XIX, imaginário este que progressivamente colonizou todo o mundo 
ocidental de sua época.
No caso específico do positivismo comtiano, três outras características ainda 
se destacam. A primeira delas é a ideia de que o objetivo das ciências é a “desco-
berta de leis gerais” para o funcionamento das dimensões biológicas, psicológicas, 
sociológicas e naturalísticas da existência material humana. De um modo geral, a 
ciência atual abandonou essa pretensão de conectar todas as dimensões do huma-
no por meio da descoberta de uma lei ou de explicar todos os fenômenos naturais 
a partir de um princípio geral.
A segunda imagem que faz parte do nosso “ideário científico comum” seria a 
defesa de um princípio de hierarquização entre os saberes, em que os conhecimen-
tos ditos “teológicos” (ou “religiosos”) e “metafísicos” estariam subordinados ao 
modo “científico” (no caso, “positivo”) de explicação do mundo.
Como vimos, a ciência não deve ter a pretensão de suplantar outras formas 
de conhecimento e pensamento ditas “arcaicas”, “crendices religiosas”, “supers-
tições” etc., mas deve ter por missão – principalmente no caso das “ciências hu-
manas” ou “sociais”, como veremos – estudá-las, compreendê-las e respeitá-las 
como formas de vida.
Por fim, está contida também no pensamento comtiano a ideia de que essas 
leis, uma vez descobertas, seriam invariáveis, ou seja, não seriam passíveis de ques-
tionamento e revisão. Se ainda é possível questioná-las em seu mérito, segundo 
Comte, é porque ainda não seriam leis descobertas sob o paradigma científico po-
sitivo. Trocando em miúdos, pensar a ciência dessa forma significa dizer que se as 
propriedades de algo já foram objeto do pensamento científico, nada mais há que 
se dizer sobre ele. Esse objeto, uma vez abordado, deve ser deixado para trás e não 
mais estudado.
Mais uma vez, nada mais inadequado para a perspectiva contemporânea de 
ciência do que essa afirmação. Além das variações de método e técnica que podem 
afetar os resultados das pesquisas, para o caso específico das “ciências humanas”, 
como a Sociologia e a Antropologia, isso significaria que, uma vez estudada uma 
determinada sociedade ou grupo social, por exemplo, nada mais poderia ser dito 
a esse respeito.
Essa postura ignora, por exemplo, os processos de mudança social pelos 
quais passam esses agrupamentos, tornando-os objetos extremamente dinâmicos, 
capítulo 1 • 19
supondo ainda que uma pesquisa poderia dar conta de toda a complexidade de sua 
existência social, da totalidade de sua sociedade, seus processos e valores.
Mesmo no caso das “ciências da natureza”, essa 
ideia de que a ciência produz um saber definitivo 
e imutável não se verifica.
O que dizer, por exemplo, do eterno debate sobre os malefícios/benefícios 
do consumo de ovos ou de café? Você já se questionou sobre como é possível um 
mesmo alimento passar de “herói” a “vilão” da saúde tantas vezes?
Se pensamos a “ciência” apenas como essa espécie de força impetuosamente 
progressista de superação de formas “não científicas” ou “pré-científicas” de expli-
car o mundo, certamente não conseguiremos compreender a permanência desse 
tipo de debate. Afinal, para que voltar a refletir cientificamente sobre algo que já 
foi estudado, que já teve sua “verdade revelada”? Como esses diferentes resulta-
dos são possíveis? Seria um indicativo de “fraqueza” ou de “força” do argumento 
científico? Se as ideias de “evolução” e “ciência” se superpõem, bem como a pers-
pectiva de que a adesão ao “pensamento científico” implica a renúncia a formas 
ditas “irracionais”, como explicar a existência de outras “formas de pensamento”, 
como no caso das diferenças observadas entre os princípios que regem a medicina 
“ocidental” e “oriental”?
A própria ideia de “descoberta” também aparece repetidamente na constru-
ção teórica de Augusto Comte. Para ele, essas relações invariáveis (leis de funcio-
namento) tinham uma existência independente, “interior”, de alguma forma, e 
precisavam ser desveladas (portanto, “descobertas” no sentido de retirar a prote-
ção, capa ou invólucro) além de sua aparência superficial. Essa apreensão ignora 
o que realmente ocorre nos investimentos de pesquisa concretos:um processo 
de construção do conhecimento.
capítulo 1 • 20
O conhecimento produzido por meio da pesquisa científica é produto de um investimento 
detido e laborioso na construção de uma abordagem teórico-metodológica, no sentido 
de que envolve a pesquisa prévia de autores e procedimentos metodológicos mais 
adequados para aplicação a um determinado objeto de pesquisa; a construção de um 
ferramental de pesquisa, seja ele composto de ferramentas materiais (equipamentos 
etc) ou conceituais, no sentido de que os próprios conceitos são também instrumentos 
utilizados pelo pesquisador para abordar e trabalhar a realidade a ser estudada.
 
É uma construção também no sentido de que envolve sempre as dinâmicas de 
busca por financiamentos e toda a socialidade acadêmica implicada na aceitação 
e afirmação de um projeto de pesquisa no campo científico (apresentação de 
projeto, qualificação, inserção em uma linha de pesquisa etc.) E por último - mas 
não menos importante, claro -, porquê os resultados destes estudos precisam 
sempre ser "traduzidos" para o idioma científico a partir do diálogo com a teoria 
disponível e resultados de outras pesquisas, uma construção feita pelo pesquisador 
e, eventualmente, por sua equipe de pesquisa.
Por fim, podemos mencionar um importante fator para a conformação 
da nossa “ideia de ciência”: a maneira pela qual organizamos o que podemos 
chamar de “História das Ciências”.
De modo a transmitir a ideia de que a ciência é um fenômeno datado, 
passível de ser compreendido historicamente, manuais e publicações de me-
todologia científica tendem a organizar os debates travados entre os cientistas 
em termos de “escolas”, que se sucedem cronologicamente como “fases” de um 
desenvolvimento progressivo e unilinear. Para o leitor desavisado, sem treina-
mento científico, essa espécie de recurso “didático” pode transmitir a ideia de 
que essas “fases” ou “paradigmas científicos” se sucederiam no tempo de forma 
mutuamente excludente, a “fase posterior” superando a “anterior”. 
Essa forma de pensar o desenvolvimento científico não é típica de todos os 
campos da ciência e mesmo as ciências ditas “paradigmáticas” (que operam com 
a ideia de superação e adesão a um novo paradigma explicativo) não funcionam 
exatamente dessa maneira.
capítulo 1 • 21
O campo científico é, no geral, muito mais dinâmico. O que há, pode-se 
dizer, na conformação empiricamente observável desse campo, são diversas li-
nhagens teórico-metodológicas vinculadas a centros de produção acadêmica e de 
pesquisa, programas de pós-graduação etc. que disputam recursos humanos, 
materiais e financeiros, no sentido de fortalecer suas perspectivas e abordagens 
científicas dos fenômenos. 
Essas disputas podem ganhar dimensões de grande embate teórico, entrando 
para a “História das Ciências” como uma “disputa de paradigmas”, em que uma 
perspectiva – a “vitoriosa”, claro – parece suplantar a outra. Na prática, não fun-
ciona bem assim. Como vimos, existem vários centros acadêmicos e de pesquisa 
produzindo ao mesmo tempo, com perspectivas diferentes, em uma espécie de 
ambiente de “pluralismo teórico”, de coexistência daquilo que Lakatos (1979) 
chama de “programas de pesquisa”.
Para efeitos de conclusão, vimos que o motor do conhecimento científico, por-
tanto, não é, para a ciência contemporânea, a marcha inexorável da razão em busca 
de leis imutáveis e princípios gerais, mas um dinamismo produzido pelas disputas 
entre diversos “programas de pesquisa” (LAKATOS, 1979), tanto em termos de 
orientações teóricas e prático-metodológicas como em termos de recursos materiais 
e humanos. Vimos também que a ciência não opera em termos de “descobertas”, 
mas de um trabalho de “construção” que envolve desde a escolha do ferramental 
teórico (autores, publicações, conceitos etc.), passando por decisões de cunho me-
ramente logístico (onde e quando realizar um trabalho de campo ou um experimen-
to etc.), até o próprio processo de análise dos resultados empíricos à luz das teorias 
e pesquisas existentes em um campo disciplinar determinado. Por fim, enquanto 
questão ética e princípio metodológico, vimos também que uma postura genuina-
mente científica não deve implicar qualquer juízo de superioridade em relação a 
outras formas de conhecer o mundo. Principalmente no caso das “ciências humanas” 
ou “sociais”, como vimos – principal referência para a metodologia de pesquisas 
que se debruça sobre temas ligados à segurança pública –, essa é uma regra de con-
duta científica ainda mais relevante.
A classificação da pesquisa com base em objetivos e procedimentos
Já vimos, lá no começo de nossa aula, que uma das “grandes divisões”, pode-se 
dizer assim, das ciências em termos de objetivos e procedimentos é a separação entre 
“ciências humanas” e as “ciências naturais”. Entendida também sob a terminologia 
capítulo 1 • 22
de “soft science” e “hard science”, respectivamente, em inglês, essa separação parte 
do pressuposto de que os fenômenos ditos “naturais” e “sociais” funcionam como 
esferas de vida apartadas uma da outra. Entretanto, quando pensamos em fe-
nômenos contemporâneos como o “aquecimento global”, essa divisão original é 
colocada em xeque.
Pense em que “caixinha” dessas, “natural” e “social”, você encaixaria o fenôme-
no do “aquecimento global”. Se pensarmos nas reações químicas que ocorrem na 
atmosfera, ele talvez pudesse ser dito um “fenômeno químico”. Se pensarmos no 
seu impacto sobre as condições de vida dos organismos no planeta Terra, pode-se 
dizer que ele é um “fenômeno biológico”. Se pensarmos, por sua vez, no impacto 
do degelo das calotas polares sobre o “estilo de vida” das cidades litorâneas, ele é 
também um “fenômeno sociológico”.
O aquecimento global
Percebeu o potencial de certos fenômenos de colocar em xeque nossa adesão 
estrita a essa divisão entre o “reino natural” e o “mundo social”? Sim, ela nos ajuda 
a organizar um pouco a forma como percebemos o campo científico, mas devemos 
estar sempre prontos a reconhecer as especificidades dos objetos de pesquisa que 
escolhemos e aos quais nos dedicamos para definir a melhor metodologia para 
responder as perguntas que nós colocamos.
Uma segunda “grande divisão” que podemos indicar, além dessa, é a separa-
ção entre o “saber popular” e o “saber científico”. Como já vimos, partindo do 
capítulo 1 • 23
princípio de que as ideias ditas científicas têm vida social e de que essa vida é pas-
sível de ser contada (PEIRANO, 2006, p. 103), falamos sobre a “origem” de nossa 
concepção comum de ciência na ideia (“renascentista”/”iluminista”) de que o saber 
científico representava um marco de separação em relação às formas de explicação 
baseadas no “senso comum”, principalmente naquele “saber popular” inspirado 
por valores “religiosos”. No fazer científico contemporâneo, essa separação não é 
uma “separação de natureza”, de conteúdo, mas de forma.
Segundo Marconi e Lakatos (2013), "o conhecimento vulgar ou popular, às vezes 
denominado senso comum, não se distingue do conhecimento científico nem pela 
veracidade nem pela natureza do objeto conhecido: o que os diferencia é a forma, 
o modo ou o método e os instrumentos do "conhecer". Saber que determinada 
planta necessita de uma quantidade "X" de água e que, se não a receber de forma 
"natural", deve ser irrigada pode ser um conhecimento verdadeiro e comprovável, 
mas, nem por isso, científico. Para que isso ocorra, é necessário ir mais além: 
conhecer a natureza dos vegetais, sua composição, seu ciclo de desenvolvimento e 
as particularidades que distinguem uma espécie de outra"(p.76).
Percebeu a diferença? Ambas as formas de conhecer são plenamente racionais, pois 
são formas críticas de pensamento que buscam a construção de causalidades lógicas e 
coerentes (mesmo que inspiradas por lógicas diferentes),e objetivos, uma vez que to-
mam elementos empíricos que de alguma forma impõem limitações a especulação pura 
e simples. São formas de conhecer o mundo, separadas, entretanto, pelo método de cons-
trução e validação do conhecimento que produzem (MARCONI; LAKATOS, 2013).
Propomos então que você se detenha, por um minuto, a pensar sobre aquilo 
que então outorga a uma determinada forma de conhecimento a alcunha de “cientí-
fico”, formulando esse ponto da perspectiva de Michel Foucault. O que legitima-
ria então as “pretensões de verdade” de uma “forma de discurso” para que possa ser 
dita “científica” (FOUCAULT, 2009)?
Vamos começar, em princípio, com a indicação de Marconi e Lakatos 
(2013), o método!
 
O que é o “método científico”? Segundo Mário 
Bunge, o método científico é a “teoria da 
investigação”.
capítulo 1 • 24
Muito embora, para o autor, exista um “método geral”, uma maneira propria-
mente científica de encarar os problemas e se dedicar à produção de conhecimento 
sobre o mundo que nos cerca, o método não deve ser encarado como um tipo de a 
priori, um universal cuja existência independe da pesquisa a que se aplica.
Pelo contrário! Para Bunge, a ciência possui um método que lhe é comum e que 
a distingue de outras formas de pensamento, mas o que define o método verda-
deiramente é a sua aplicação a problemas específicos e objetos concretos. Somente 
nessa confrontação com os desafios impostos à construção de um objeto de pesquisa 
empírico que o método toma sua forma mais acabada em termos de escolhas meto-
dológicas (BUNGE, 1979).
Cabe destacar também que, além disso, cada campo disciplinar desenvolve 
seu próprio ferramental em termos de procedimentos específicos para lidar com 
esse desafio de construção de um objeto de pesquisa. A consideração de mais essa 
variável compõe uma boa contextualização do campo científico e da variedade 
exponencial de métodos de que um cientista dispõe para realizar sua atividade.
Para Bunge, em relação ao método, as atitudes dos pesquisadores giram em 
torno de dois extremos possíveis: o “determinismo metodológico”, onde o investi-
gador segue cegamente as normas preestabelecidas pela metodologia e por seus fiéis 
guardiões, os “metodólogos”; e o que o autor chama de “anarquismo metodoló-
gico”, em que a investigação não segue qualquer cânone preestabelecido, ficando 
totalmente a cargo da subjetividade do pesquisador (BUNGE 1980a; 1980b).
Vamos lá! “Nem tanto ao mar, nem tanto à terra”, diria a sabedoria popular. É 
certo que não se pode abrir mão da submissão da investigação a alguns princípios 
científicos elementares. Entretanto, é verdade também que o método não deve se 
emancipar da pesquisa, e submeter e restringir suas possibilidades de investiga-
ção e resultados. Sobre esse perigo da “emancipação do método”, Howard Becker 
(1999, p. 17) tem uma frase bastante ilustrativa: “A metodologia é importante 
demais para ser deixada aos metodólogos”.
Preocupado com as restrições do método aos efeitos da subjetividade do pesqui-
sador sobre a construção de objetos sociológicos, Becker nos fala de uma concepção da 
“ciência como máquina”. O que isso quer dizer?
No caso da Sociologia – campo disciplinar ao qual Howard Becker dedicou 
toda a sua vida –, isso significa dizer que, com o intuito de eliminar as diversas 
fontes de “vieses” (bias, em inglês), os metodólogos, em seu “ofício proselitista”, 
acabam por restringir ao campo de objetos e procedimentos da disciplina aquilo que 
é possível verificar apenas pelos métodos consagrados como “totalmente objetivos” 
capítulo 1 • 25
(daí a analogia com a “máquina”), afastados da influência “nefasta” da subjetivida-
de do pesquisador, seus valores e preferências pessoais.
Para o autor, essa concepção restritiva dos objetos e procedimentos é altamente 
nociva para a disciplina. Nas palavras de Howard Becker (1999, p. 18-20):
"Embora alguns renomado metodólogos e filósofos da ciência acreditem que 
a metodologia deve se dedicar a explicar e aperfeiçoar a prática sociológica 
contemporânea, a metodologia convencional em geral não faz isso. Ao contrário, 
ela se dedica a dizer aos sociólogos o que deveriam estar fazendo e que tipos de 
método deveriam estar usando, e sugerem que eles ou estudem o que pode ser 
estudado por estes métodos ou se ocupem a imaginar como o que querem estudar 
pode ser transformado no que pode ser estudado por estes métodos (...). Mas, 
como se sabe muito bem, é difícil reduzir a ciência a tais procedimentos estritos e a 
algorítmos plenamente detalhados. Diante desta dificuldade, podemos optar entre 
dois caminhos pelo menos. Ao invés de insistir em procedimentos mecânicos que 
minimizam o julgamento humano, podemos tentar tornar as bases desses julgamentos 
tão explícitas quanto possível, de modo que outros possam chegar as suas próprias 
conclusões. Ou podemos transformar nossos problemas em problemas que possam 
ser resolvidos por procedimentos típicos de uma máquina (BECKER, 1999, p. 18;20)
Não é preciso dizer que, para Becker, a alternativa da “ciência como máquina”, 
da perseguição da absoluta “objetividade científica”, é uma quimera. Mais do que 
isso, implica em uma perda inestimável para a Sociologia, tanto em termos da 
restrição de seu universo de objetos possíveis como em termos da construção de 
métodos e inovações fundamentais ao desenvolvimento do campo científico.
A Sociologia é uma das principais fontes de objetos e procedimentos metodo-
lógicos para as pesquisas em segurança pública – ela e suas disciplinas coirmãs 
“humanas”, pode-se dizer, como a Antropologia, a Ciência Política, a História, 
a Estatística etc. Nesse sentido, as problematizações de Becker sobre o método 
sociológico tornam-se ainda mais pertinentes para nós.
Agora, retomando a pergunta que fizemos anteriormente, sobre o que define 
um conhecimento como científico, cremos que agora podemos respondê-la.
capítulo 1 • 26
ATENÇÃO
Seguindo a análise de Becker, o que define um conhecimento como “científico” é a verifica-
bilidade do método. O que isso quer dizer, concretamente? Significa que, em sua pesquisa, para 
que ela seja “científica”, você precisa explicitar todas as condições e condicionalidades sobre as 
quais foram produzidas as escolhas metodológicas que levaram aos resultados obtidos por sua 
investigação. Isso permitirá, como nos fala Howard Becker, o chamado “controle de pares”, prin-
cipal mecanismo de controle do campo científico, ou seja, permitirá que outros pesquisadores 
possam percorrer as suas escolhas metodológicas e chegar as suas próprias conclusões sobre 
a pertinência e a propriedade do que foi dito em sua pesquisa. Isso é “ser científico”.
Dito isso, podemos seguir nosso caminho pelas “grandes divisões” do pensa-
mento científico, retomando o debate entre as ciências “empíricas” ou “factuais” 
e as ciências “formais”, cujas origens retomam, como vimos na primeira parte de 
nossa aula, os debates científicos dos séculos XVIII–XIX. Estas últimas, de caráter 
“formal”, trabalhariam com modelos abstratos, os quais lançam mão da empiria, 
quando muito, apenas para ilustrar seus postulados, formulados racionalmente, 
por obra do intelecto. As primeiras, ditas “factuais”, também têm por objetivo a 
formulação de “modelos explicativos”. Entretanto, esses modelos são construídos ‘a 
partir de’ e ‘em diálogo’ com a empiria, ou seja, com base na observação.
Segundo Bunge (1985, p. 14), há uma distinção de terminologia, entre os 
procedimentos de “demonstração” e “verificação”, que ilustra essa diferença.
"As ciências formais demonstram ou provam: as ciências factuais verificam (confir-
mar ou desconfirmam) hipóteses que em sua maioria são provisórias. A demonstração 
é completa e final; a verificação é incompleta e por isso temporária. A própria natureza 
do método científico impedea confirmação final das hipóteses factuais" (1985:14).
Essa outra “grande divisão”, entretanto, também caiu em desuso. Muito 
embora existam disciplinas majoritariamente “formais”, como a Matemática e a 
Lógica, esse não é o caso para a maioria dos campos científicos. Intelecto e observa-
ção, no geral, convergem no processo de construção do conhecimento.
O que isso quer dizer em termos concretos? Bom, isso quer dizer que, em toda 
pesquisa, os investigadores partem sempre dos modelos explicativos existentes (as teo-
rias) para formular seus temas, problemas e objetivos de pesquisa, mas que, ao serem 
aplicados às observações empíricas, tendem a demonstrar uma série de inadequações.
capítulo 1 • 27
Isso se deve ao fato de uma vez tendo sido elaborados com base em observa-
ções de outros contextos empíricos, quando aplicados em nossos próprios campos 
de pesquisa, é previsível que haja desajustes, digamos assim. Mas isso não quer 
dizer que, para a dinâmica de funcionamento das ciências, esses “desajustes” sejam 
negativos. Pelo contrário!
Eles são previsíveis! Fazem parte da própria 
dinâmica do desenvolvimento científico!
Vejamos como Karl Popper (2004), ilustrando seu “princípio da falseabilida-
de”, pensa esse diálogo entre a “produção de hipóteses” e sua “verifi cação empírica” 
a partir de um esquema mais dialógico entre as dimensões “formais” e “factuais” 
do processo de pesquisa.
Foi possível para você visualizar como essas duas dimensões, “factual” e “formal”, 
podem interagir em uma pesquisa? Primeiro é preciso formular o seu “problema de 
pesquisa”. Em seguida, com o auxílio de autores e estudos acadêmicos, você formula 
um conjunto de “hipóteses”, bem como suas “consequências lógicas”, que é a forma 
capítulo 1 • 28
como o problema, em sua formulação lógica, afetaria uma determinada realidade. 
Até aqui, todas as operações feitas no processo de pesquisa são modelares e teóricas.
Realizadas essas operações lógicas, o pesquisador vai à empiria a fi m de verifi car 
suas hipóteses. É nesse encontro que começamos a produzir nossas pesquisas. Para Karl 
Popper, quando, nesse encontro, essa “teoria” é “falseada”, ou seja, é majoritariamente 
refutada pela experimentação empírica, ela deve ser reformulada. Se o “teste empí-
rico”, entretanto, é corroborativo, no todo ou em parte, a “teoria” que fundamentou 
cientifi camente aquela formulação de hipóteses sobre o problema sai fortalecida. Para o 
“princípio da falseabilidade” de Popper (2004), a força de sua cientifi cidade, entretan-
to, reside no fato de ela ser submetida a repetidos “testes empíricos”.
Falemos agora de outra “grande divisão” entre as ciências “indutivas” e “dedu-
tivas”, ou seja, aquelas que aplicam métodos de generalização de resultados a partir 
de uma amostra empírica observada (“método indutivo”) ou de uma cadeia lógica 
de pensamento (“método dedutivo”).
Para que essa divisão não fi que muito etérea para você, vejamos o exemplo de 
Marconi e Lakatos (2003, p. 91) sobre essa diferenciação em termos de sentenças ilus-
trativas das lógicas que inspiram os dois métodos científi cos, “indutivo” e “dedutivo”:
Dedutivo
Todo mamífero tem um coração.
Ora, todos os cães são mamíferos.
Logo, todos os cães têm um coração.
Indutivo
Todos os cães que foram observados tinham 
um coração.
Logo, todos os cães têm um coração.
(MARCONI & LAKATOS, 2003 :91)
Como você pode perceber, essa “divisão” remonta bastante à anterior, entre 
“ciências empíricas” e “formais”. Nesse caso, entretanto, pode se dizer que ela 
capítulo 1 • 29
encontra-se mais centrada na forma pela qual a ciência produzem generalizações, 
no primeiro caso, a partir da lógica, no segundo, do caso concreto.
Por fim, para fecharmos nosso primeiro capítulo sobre a ciência e o método científi-
co, falemos da diferenciação entre os “quantitativos” e métodos “qualitativos”, também 
conhecida pela distinção entre abordagens “macro” e “micro”. Vejamos por quê.
Tratando essa separação de modo bastante genérico e superficial, ela postula a 
distinção entre, por um lado, métodos de pesquisa que se servem de dados quantifi-
cados ou quantificáveis e, por outro, métodos que tomam por base empírica o com-
portamento de objetos em situações concretas, por meio da observação direta (“da-
dos primários”) ou de relatos, entrevistas etc. (“dados secundários”). No primeiro 
caso, os dados utilizados produzem generalizações indutivas mais abrangentes.
Essa maior capacidade de generalização se dá em razão do tamanho da “popula-
ção” e do volume de casos contemplados na construção de uma “amostra de pesquisa”.
Abrimos um breve parêntese para falar da distinção entre "pesquisa por 
população' e "pesquisa por amostragem". Essa distinção será aprofundada nas 
próximas aulas, mas, já que mencionamos, cabe uma breve explanação.
A "pesquisa por população" implica que um levantamento, seja de tipo qualita-
tivo (entrevistas, estudos de caso etc.) ou quantitativo (aplicação de questionários 
etc.), obtenha dados de todos os indivíduos ou casos de um grupo.
A "pesquisa por amostragem", por sua vez, se debruça sobre uma parcela aleató-
ria (o pesquisador não interfere na seleção dos casos) ou representativa (o pesqui-
sador interfere de modo a fazer com que a amostra represente os vários segmentos 
etários, sexuais, de renda etc.) de uma população.
EXEMPLO
 
Se o seu universo empírico de pesquisa é um grupo de alunos em sala de aula, obter dados 
de toda a população de indivíduos é uma tarefa bem mais fácil e desejável, inclusive. Se es-
tamos falando de toda a população da Universidade, a coisa já fica um pouco mais difícil e 
pode-se recorrer a construção de uma "amostra", aleatória ou representativa.
As abordagens de pesquisa ditas “qualitativas”, como mencionamos, por lan-
çarem mão de entrevistas, relatos, observações diretas e estudos de casos (vere-
mos, posteriormente, todas essas ferramentas de pesquisa), produzem generalizações 
menos abrangentes, porém mais qualificadas em termos de profundidade sobre 
determinado fenômeno.
capítulo 1 • 30
Você já deve ter percebido que, apresentada dessa maneira, a opção entre a aplica-
ção de métodos quantitativos ou qualitativos equivaleria a uma escolha entre “abrangên-
cia” e “profundidade”, “generalidade” e “especificidade”. Um debate entre a alternativa 
de produzir um conhecimento genérico sobre um grande número de casos ou, ao contrário, 
produzir um conhecimento profundo sobre um universo de casos muito menor.
Atualmente, entretanto, a boa técnica de pesquisa recomenda que se aplique o 
que chamamos “triangulação de métodos” ou “pesquisa com métodos mistos”. 
Esse tipo de abordagem não só apregoa a utilização simultânea, em uma mesma 
pesquisa, de métodos ditos “qualitativos” e “quantitativos”, como contempla também 
a aplicação de metodologias e técnicas de pesquisa de várias áreas do conhecimento.
EXEMPLO
Pense numa pesquisa sobre o tema "vitimização policial". Ela pode lançar mão, em princípio, 
de uma série de dados produzidos pelas próprias organizações policiais, reunidos em bases e, 
portanto, altamente passíveis de quantificação. Numa primeira etapa da pesquisa teríamos então 
um panorama abrangente de estatísticas, taxas e índices relacionados ao fenômeno da "vitimiza-
ção policial" (um panorama quantitativo). Esse levantamento pode ser exaustivo, dando conta de 
toda a população de casos para um período de 5 (cinco) anos, por exemplo, mas ele ainda sim 
é genérico. Numa segunda etapa deste nosso investimento de pesquisa hipotético, a equipe de 
pesquisas poderia se dedicar a realizar entrevistas com policiais vitimados e visitar suas unidades 
para a realização de observações in loco. Esse tipo de abordagem qualitativa da realidade permite 
uma maior profundidade acerca das dinâmicas cotidianas do funcionamento desuas unidades 
e das características do local em que se situa, por exemplo, bem como das vivências individuais 
dos sujeitos vitimados. Poderemos, com isso, agregar um detalhamento mais vívido ao panorama 
estatístico inicial e corrigir eventuais distorções causadas pelo registro e tratamento dos dados 
quantitativos. Por sua vez, a pesquisa pode agregar também dados da área de Psicologia das cor-
porações, de modo a enriquecer suas análises sobre o impacto da violência sobre os sujeitos, ou 
mesmo dados históricos para pensar sobre a forma como a missão e o mandato das instituições 
de segurança se modificou com o tempo e o seu papel na sociedade atual.
Bom, é isso. Esperamos que você tenha tido uma boa compreensão do 
conteúdo desse nosso primeiro encontro. Até a próxima aula!
O problema 
científico
2
capítulo 2 • 32
O problema científico
OBJETIVOS
 
• Conceituar a ideia do problema científico e reforçar o entendimento de metodologia científica. 
• Entender a importância da escolha e da delimitação do tema da pesquisa científica como 
fator primordial para sua realização.
• Entender o que são as fontes de pesquisa primárias e secundárias, bem como facilitar 
sua busca.
• Apresentar os pontos essenciais de um projeto de pesquisa, entendendo seus elemen-
tos estruturais.
Conceituando
Podemos conceituar o problema científico como sendo aquele que é proposto, 
dentro de determinada área de conhecimento, para sanar um questionamento 
existente. O problema científico, para que, sua resposta ou solução seja, válida, 
deve ser investigado a partir de técnicas e métodos inerentes à certificação do co-
nhecimento científico, denominados metodologia científica.
A metodologia científica deverá ser aplicada durante a investigação do proble-
ma pesquisado, tendo como premissa a pergunta de como o investigador deverá 
proceder para encontrar as respostas.
Os métodos são as maneiras utilizadas para se chegar a determinado objetivo 
almejado. Dentre os tipos de métodos existentes, podemos destacar o dedutivo, o 
indutivo e o dialético.
Podemos resumir o método dedutivo como aquele 
que parte da premissa geral, para uma conclusão 
individual lógica e definitiva.
No método indutivo ocorre o contrário. A premissa é a particularidade 
individual, pressupondo, assim, que ela irá se repetir no caso geral. Porém, esse 
pressuposto pode não ser verdadeiro.
capítulo 2 • 33
Já o método dialético é proveniente dos antigos gregos. Ele consiste numa 
troca de argumentações racionais, permanentes e contraditórias, através de 
perguntas, respostas e conclusões. 
Não existe uma conclusão definitiva no método dialético, pois como a realida-
de está em constante transformação as respostas são transitórias. 
Ou seja, a cada nova descoberta ou inovação, ocorre uma síntese entre a tese 
antiga e a nova, gerando uma nova conclusão. Isso ocasiona o enriquecimento do 
conhecimento e o avanço científico permanente.
EXEMPLO
Método dedutivo: 
Todo réptil tem sangue frio. 
O lagarto é um réptil.
Então o lagarto tem sangue frio.
Método indutivo:
A cobra coloca ovo. A cobra é um réptil.
O lagarto coloca ovo. O lagarto é um réptil.
O jacaré coloca ovo. O jacaré é um réptil
Logo, todos os répteis colocam ovos. 
A escolha do tema e a importância de sua delimitação
A escolha do tema é um dos momentos mais importantes do Trabalho de 
Conclusão de Curso. Isso porque é com ele que o aluno irá “namorar” nos próxi-
mos meses ou até anos de sua vida. Com ele, muitos finais de semanas, feriados 
e até mesmo algumas madrugadas serão passados.
Por isso então, é primordial, que você escolha um tema de que realmente 
goste, e sobre o qual tenha interesse e vontade de conhecer mais. Muitas vezes 
você ficará desmotivado em escrever ou pensar sobre o tema de sua pesquisa. 
E se escrever sobre algo de que se gosta já é uma prática extenuante, imagine 
escrever sobre algo sobre o qual não se tem o menor interesse ou proximidade.
capítulo 2 • 34
O planeta Terra
Há uma infi nidade de assuntos que podem ser pesquisados em nosso grande 
planeta azul. Porém, para o pesquisador iniciante, as barreiras devem ser transpos-
tas uma a uma.
 Para que esse processo de escolha seja mais simples, existem algumas técnicas 
que facilitarão sua vida para uma correta comunhão com o seu tema.
Inicialmente, é mais fácil optar por um assunto com o qual você tenha proxi-
midade, podendo se relacionar com as suas experiências profi ssionais ou pessoais; 
com assuntos sobre os quais você já tenha estudado e sentido um maior interesse; 
com situações que propiciem um status de observador privilegiado; com deba-
tes, seminários ou fóruns de que tenha participado como aluno e cujos assuntos 
comentados tenham lhe causando inquietações; e suposições ou mesmo temas 
contemporâneos e controversos que lhe tenham despertado curiosidade.
A partir desse primeiro momento, que é a conjugação do interesse entre você, 
pesquisador, e o seu tema, os fatores paralelos que podem impactar tanto na con-
fecção do seu trabalho como na avaliação da banca e do professor que farão sua 
análise devem ser observados. 
Ampulheta
capítulo 2 • 35
O tempo disponível para pesquisar sobre o tema delimitado é um desses fa-
tores. Digamos que você tenha escolhido um assunto que envolva uma longa pes-
quisa de campo em unidades policiais ou fóruns, somado a centenas de entrevistas 
estruturadas, feitas através de questionários. Você terá tempo para efetivamente 
exercitar toda essa dinâmica e, ainda, computar corretamente os dados obtidos?
Outro fator é a relevância do tema, bem como a sua atualidade. O tema deve 
ser relevante para o seu curso e de alguma forma atual, caso contrário seu trabalho 
não será interessante. Uma pesquisa sobre o uso correto de uma insígnia na farda 
de um policial militar, apesar de até poder ser relevante para o pesquisador e mais 
meia dúzia de pessoas, não terá uma efetividade em conquistar o fascínio da maio-
ria, provavelmente nem dos membros de sua banca examinadora.
É importante saber se existe material bibliográfico sobre seu tema, ou se, mes-
mo se esse material existir, você conseguirá ter acesso a ele. É possível que haja 
interesse em escrever sobre determinado tema cuja bibliografia existente – dada a 
extrema novidade do assunto – esteja em uma língua estrangeira. Nesse caso, além 
da dificuldade de obter o material para a pesquisa, há a barreira da língua, que 
deverá ser previamente pensada.
Biblioteca
Além disso, atrelado ao último exemplo, outro fator é relevante para a 
escolha. Deve-se pensar na possibilidade de não existir um orientador habi-
litado sobre o tema escolhido pelo pesquisador – mesmo que não exista um 
capítulo 2 • 36
orientador interessado em orientar aquele tema, por achar que está ultrapassa-
do ou que não há relevância.
Finalmente, o pesquisador deve se perguntar sobre o que tem a escrever sobre 
aquele tema; quais suas inquietações e questionamentos; e o que poderá transmitir 
de relevante sobre o assunto escolhido.
Passada essa primeira fase, surge imediatamente a segunda, que é a deli-
mitação do tema.
É extremamente comum que o pesquisador, principalmente o iniciante, 
tenha como tema um assunto extremamente complexo, envolvendo diversos 
outros temas.
Na ansiedade de querer respostas as suas inquietações, o pesquisador não 
consegue delimitar um objeto de pesquisa, idealizando um tema que estará 
abrangendo diversos objetos. Por exemplo: pesquisar sobre os homicídios co-
metidos por policiais. Aqui o pesquisador não conseguiu especificar seu ob-
jeto, dando uma abrangência extrema na possibilidade de sua investigação. 
Afinal, para quais homicídios estaria voltada a pesquisa? Sobre homicídios 
realizados por policiais de folga, de serviço, de suas esposas, de crianças,de ne-
gros, de pobres, de ricos, de brancos? A investigação versa sobre a prática dos 
homicídios ou a punição deles? Essa punição se refere ao início da persecução 
penal, procurando demonstrar um suposto corporativismo na investigação, ou 
se refere ao julgamento e à existência de impunidade?
Portanto, é necessário que o pesquisador consiga delimitar seu tema, pois 
seu objeto de pesquisa deve lhe possibilitar ter consciência do que irá pes-
quisar, bem como deve fazer o leitor entender qual é o assunto de que trata 
aquele trabalho.
Uma dica importante é que não existe excesso para se delimitar um tema. Quanto 
mais você conseguir delimitar o seu tema, mais facilidade terá para realizar a 
pesquisa de forma satisfatória e maiores serão as chances de que seu trabalho 
seja bem-sucedido. Portanto, não fique chateado se o seu orientador transformar 
o seu trabalho final em apenas um dos capítulos do que você pretendia pesquisar.
capítulo 2 • 37
Não se preocupe que a delimitação excessiva do tema possa deixar seu trabalho 
superficial. Muito pelo contrário! Quanto mais localizado e pontuado seu trabalho 
estiver, mais profundo ele terá a chance de ser. 
Ao pesquisar um ambiente complexo, onde diversos fatores atuam entre si, as 
suas definições tenderão a ser mais superficiais, tendo em vista a quantidade enor-
me de elementos existentes e a dificuldade em se esmiuçar cada um deles. 
Quando o pesquisador se debruça apenas sobre um dos fatores, seus elemen-
tos são restritos tão somente aos elementos existentes nele, não ao conjunto, pro-
piciando uma análise muito mais detalhada.
Tomemos como exemplo um carro. Se um pesquisador se dedicar a descrever 
tudo sobre um carro, certamente detalhará suas rodas. Provavelmente, esse pesqui-
sador dirá que as rodas de um carro são feitas de metal, encobertas por uma cama-
da de borracha destacável, chamada pneu, que entra em contato com o solo. Daí 
partirá logo para outras características em tese mais importantes daquele veículo.
Quando analisamos sistemas complexos, a tendência a relevar suas minúcias 
se torna uma necessidade, tendo em vista a quantidade de dados que poderão ser 
considerados mais relevantes.
Agora, imaginemos um pesquisador que se proponha a pesquisar não o carro, 
mas tão somente as rodas do veículo. Certamente ele iria descrevê-las de forma 
muito diferente. Falaria sobre a relação entre os diâmetros das rodas e a dirigibi-
lidade, faria uma longa exposição sobre os diversos tipos de metais que podem 
ser usados na sua fabricação, os quais influenciam tanto na durabilidade como na 
segurança, descreveria os pneus e seus diversos modelos, passando pelo material de 
que são feitos, o processo de fabricação etc.
Ou seja, não se preocupe: quanto maior a delimitação do tema, mais profunda 
se torna a pesquisa sobre o objeto escolhido.
E como delimitar o meu tema? 
Procure chegar a essa delimitação através de suas próprias inquietações. Ou 
seja, pense no que levou você a se interessar por aquele tema. 
Se você se interessa em estudar a morte de policiais, talvez a sua inquietação 
seja sobre a falta de segurança a que esses profissionais estão expostos durante o 
serviço. Também pode ser sobre o risco que a profissão lhes oferece ao estarem de 
capítulo 2 • 38
folga. Ou que o envolvimento de policiais com o crime perfaz um caminho que 
culmina com a morte acentuada desses agentes públicos.
Somente nessas três possibilidades descritas é possível delimitar três objetos 
de pesquisa diferentes, com todos versando sobre o tema da morte de policiais, 
no entanto.
É claro que não se pode deixar de observar a existência de bibliografias que 
possam lhe dar subsídios para que seu trabalho tenha continuidade. As bibliogra-
fias são fontes secundárias de pesquisa que versam sobre as fontes primárias, quais 
sejam, a análise de dados previamente apurados e computados.
Caso não exista bibliografia secundária para seu objeto de pesquisa – ou até 
exista, mas se for escassa ou não versar diretamente sobre o seu tema –, será neces-
sário empreender uma busca de fontes primárias. Ou seja, o pesquisador deverá ir 
a campo a fim de angariar e computar os dados de que precisa.
Não que isso seja um impedimento para o desenvolvimento da pesquisa, po-
rém será necessário avaliar, nesse caso, se o pesquisador terá tempo suficiente para 
recolher os dados necessários. Além disso, é importante observar o fator tempo, 
bem como a dimensão dos dados levantados.
Uma pesquisa que buscasse identificar a quantidade de mortes ocorridas por 
meio de linchamentos ocorridos na cidade do Rio de Janeiro estaria seriamente 
comprometida se esses dados se restringirem ao período de um ou dois meses em 
apenas três ou quatro bairros, por exemplo, pois não teria a dimensão temporal ou 
espacial de retratar a realidade existente.
Finalmente, o interesse do pesquisador é fundamental para o sucesso da pesquisa. 
Uma pesquisa sobre um tema que lhe seja desinteressante ou sobre o qual você 
não tem o menor conhecimento prévio irá dificultar muito o seu desenvolvimento. 
Portanto, a proximidade com o tema escolhido e o objeto delimitado é fundamental 
para que a pesquisa seja realizada de forma mais tranquila. 
Imagine-se, estudante de segurança pública, pesquisando sobre legislações 
e processos civis. Não que seja impossível, porém o grau de dificuldade dessa 
pesquisa seria muito superior devido à necessidade de uma iniciação completa 
sobre o tema.
Um pesquisador que conheça minimamente, de forma prévia, o que vai ser 
pesquisado, fará com que o desenvolvimento de seu trabalho seja facilitado. Além 
capítulo 2 • 39
disso, temos, em alguns casos, a posição privilegiada de observação, que poderá 
proporcionar, tomados os devidos cuidados metodológicos, a inserção de dados 
a que outras pesquisas anteriores não conseguiram chegar devido a um possível 
maior distanciamento do pesquisador com o objeto.
Nesse caso, aproveite a oportunidade e faça com que seu trabalho se destaque 
no aspecto de inovação e relevância acadêmica.
EXEMPLO
 
Diversos alunos que iniciam suas pesquisas sobre segurança pública pensam em pes-
quisar dentro de comunidades dominadas por traficantes de drogas. Ou seja, tal pesquisa, 
apesar de interessante, acabaria por comprometer a segurança do pesquisador, tornando-se, 
muitas vezes, inviável.
Cabe, em casos assim, avaliar os riscos a que o pesquisador estaria se submetendo.
Realização da pesquisa bibliográfica e sua discussão
Passada a fase de escolha e delimitação do tema da pesquisa, já comentada 
detalhadamente no tópico anterior, é chegada a hora de, enfim, iniciar o aprofun-
damento dos estudos.
A pesquisa bibliográfica é também chamada por diversos outros nomes, como 
fundamentação bibliográfica, revisão de literatura, estado da arte, revisão teórica e 
outros. Porém, não se assuste: qualquer um dos nomes que ela receber irá se referir 
às regras de que falaremos mais adiante.
Vergara (2000) divide os tipos de pesquisa em seis:
TIPOS DE PESQUISA
EXPLORATÓRIA
Ocorre quando o pesquisador não conse-
gue identificar elementos ou dados exis-
tentes suficientes. Portanto, ele deverá 
explorar o tema e o objeto a fim de le-
vantar seus próprios dados e, até mesmo, 
formular sua hipótese no decorrer desse 
processo.
capítulo 2 • 40
DESCRITIVA
Também conhecida como etnográfica, 
objetivando a descrição, através da ob-
servação, das características da popula-
ção ou do fenômeno pesquisado.
EXPLICATIVA Explica prováveis relações entre duas va-riáveis comparadas.
METODOLÓGICA Objetiva a construção de instrumentos avaliativos.
APLICADA
Tipo de pesquisa que utiliza o conheci-
mento oriundo de outras pesquisas a fim 
de uma aplicação concreta em uma finali-
dade específica, imediata ou não.
INTERVENCIONISTA
Procura não somenteexplicações sobre 
o objeto investigado, mas também inter-
ferir na sua realidade a fim de que se ob-
tenha finalidades práticas.
Uma descoberta científica dificilmente irá surgir do nada, como já falamos. 
Até mesmo sir Isaac Newton, o cientista responsável pela formulação da Teoria da 
Gravidade, ao ter uma maçã se espatifando sobre sua cabeça (como reza a lenda), 
precisou pesquisar profundamente os motivos científicos que levavam os objetos a 
serem projetados em direção ao solo quando soltos no ar. 
Você e sua pesquisa não serão diferentes. Portanto, o levantamento bibliográ-
fico, ou seja, a leitura do que outros pesquisadores já estudaram e descobriram a 
respeito do tema sobre o qual você agora se debruça será fundamental.
Pois é. Por mais que você acredite que o seu trabalho é inovador e vai revolu-
cionar o mundo moderno, fazendo com que saia da graduação com seu primeiro 
Prêmio Nobel, não é bem assim que as coisas acontecem.
Muito provavelmente dezenas de pesquisadores antes de você já pensaram so-
bre esse tema, gerando, em consequência, diversos materiais bibliográficos, como 
livros, artigos científicos, dissertações, teses e monografias.
Mas não fique chateado com isso, pois esse material será imprescindível para 
auxiliá-lo na sua pesquisa, clareando suas ideias a partir das reflexões e debates 
com os textos oriundos desses autores. 
capítulo 2 • 41
A pesquisa bibliográfica será a base de sustentação para seu trabalho científico 
e deverá responder a três questionamentos: quem já escreveu sobre o tema; 
o que já foi escrito sobre o assunto; e quais foram as lacunas deixadas pelos 
pesquisadores anteriores.
Obviamente, apesar de a dica parecer um pouco datada, tendo em vista es-
tarmos em plena era tecnológica, um porto seguro para achar farto material de 
pesquisa são as bibliotecas.
Em sua universidade certamente existe uma biblioteca que poderá ajudá-lo 
com uma enorme variedade de livros. É necessário, entretanto, tendo em vista as 
inovações cientificas e a atualização constante de diversos materiais, a avaliação 
sobre a idade e a validade sobre aquilo que se está lendo.
Imagine pesquisarmos em um maravilhoso livro de Direito, de um autor 
outrora consagrado, da década de 1960, que fale sobre as inovações inseridas 
na “novíssima” Constituição da República daquele ano, redigida sobre o pe-
ríodo militar.
É claro que, se estivermos fazendo uma pesquisa histórica, esse relato poderá 
ser de grande valia, através de uma análise comparativa com a Constituição da 
República de 1988. Porém, se estivermos pesquisando sobre as normas constitu-
cionais brasileiras atuais, tal livro de pouco serviria, podendo, inclusive, confundir 
o pesquisador iniciante.
Além dos livros, outros acervos podem e devem ser consultados, como 
já mencionado. Na própria biblioteca da sua universidade existem diversos 
trabalhos arquivados, os quais podem, senão integralmente, parcialmente au-
xiliá-lo. Provavelmente outros alunos já dissertaram sobre seu tema ou sobre 
questões que o envolvam, podendo, com isso, além de facilitar o seu enten-
dimento, lhe proporcionar, através das referências bibliográficas, novas fontes 
de consulta.
A internet, hoje a ferramenta mais utilizada (ou subutilizada) do mundo, 
também pode ser uma valiosa fonte. Diversos trabalhos científicos são pos-
tados por seus autores em sites especializados sobre aquele assunto, sites de 
universidades, revistas científicas eletrônicas ou revistas científicas impressas e 
digitalizadas por alguém.
capítulo 2 • 42
ATENÇÃO
É necessário, porém, o devido cuidado com as pesquisas na internet. É preciso checar a 
confiabilidade do site que se está pesquisando, a fim de que você não insira informações não 
verídicas acreditando que são reais.
Sites como a Wikipédia, onde os textos são inseridos por colaboradores, 
sem nenhuma forma mais robusta de verificação das informações, não devem 
ser utilizados.
Até mesmo jornais e revistas, quando não indexados, devem ser utilizados 
de forma moderada na sua pesquisa, pois grande parte daquelas informações são 
eivadas de opiniões de acordo com a linha editorial daquele periódico. Não que 
artigos em jornais e revistas não devam ser utilizados como fonte de consulta, 
porém deve-se ter atenção na informação que utilizar. 
Além de todas as facilidades já mencionadas, existe mais uma proporcionada 
pela grande rede: a possibilidade de adquirir uma infinidade de e-books (livros 
em formato eletrônico). Esses livros podem ser encontrados em sites próprios de 
venda on-line, tanto na nossa língua pátria como em outras línguas, o que o fará 
aumentar o seu leque de opções, caso tenha domínio de outros idiomas.
CURIOSIDADE
A indexação refere-se a um “selo de qualidade” dado por determinados órgãos volta-
dos à pesquisa científica, como Lilacs, SciELO, ISI e Qualis. As publicações científicas são 
agrupadas em um sistema de acordo com seu grau de relevância, servindo para avaliar a 
produção científica dos programas de pós-graduação.
A classificação é: A1 (mais elevado); A2; B1; B2; B3; B4; B5; C (peso zero).
Fonte: http://www.capes.gov.br/avaliacao/instrumentos-de-apoio/classificacao-da-pro-
ducao-intelectual. 
Acesso em: 10 jun. 2016.
A facilidade de localizar e rapidamente adquirir os e-books torna o processo 
de pesquisa incrivelmente mais fácil, pois com apenas meia hora de busca e alguns 
capítulo 2 • 43
cliques você terá em suas mãos a possibilidade de adquirir diversos livros, nacio-
nais e internacionais, sobre o tema de seu interesse.
O aprofundamento do pesquisador na bibliografia fará com que consiga o 
necessário conhecimento para que possa, com segurança, entender e escrever so-
bre o seu tema. Além disso, a conclusão dos autores consultados não será, neces-
sariamente, a mesma. Assim, o pesquisador pode, a partir da divergência ou do 
consenso entre esses trabalhos já realizados, se posicionar sobre seu tema. E, como 
exemplo dessa divergência, podemos citar os pesquisadores da área de economia, 
que se aprofundam, por exemplo, na questão dos modos de produção. Muitos, a 
propósito, se dividem no abismo entre a teoria marxista e a teoria capitalista. Cabe 
ao pesquisador iniciante, que queira debater a respeito, entender as duas teorias a 
fim de poder, a partir desse debate entre os autores, chegar a sua própria conclusão.
Lembre-se que a bibliografia utilizada na sua pesquisa nunca será demais, pois 
ela robustecerá o seu conhecimento e, em consequência, o seu trabalho. 
O seu orientador será de grande ajuda para lhe indicar muitas das bibliografias 
que você poderá consultar, facilitando ainda mais a sua busca pelo conhecimento.
Resumindo, um levantamento bibliográfico poderá ser avaliado como bem 
feito quanto maior for a extensão da localização de tudo o que já foi feito na área 
e o correto entendimento de suas respectivas conclusões.
A introdução
Tanto em um projeto de pesquisa como na pesquisa realizada, a introdução é 
um importante elemento do seu trabalho, pois servirá para que você apresente ao 
seu leitor ou a um avaliador o que pretende fazer ou o que já foi feito.
Para elaborar uma boa introdução, é importante que sua apresentação seja 
clara e concisa, explicando qual seu tema, seu problema de pesquisa, a proposta 
e o tipo de pesquisa que realizará, bem como sua consubstanciação teórica e seus 
objetivos, conduzindo o leitor/avaliador pelo seu trabalho.
É importante destacar que na introdução o interesse que se procura instigar 
no leitor/avaliador é um interesse técnico, pragmático, demonstrando que o seu 
projeto apresenta os elementos formais suficientes e concretos a fim de que sua 
pesquisa demonstre que pode ser aprovada e, assim sendo, consiga ser finalizada 
com sucesso. 
Essa é a maior diferença entre a introdução e o resumo, pois enquanto este 
último

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