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AGUDA A leucemia linfóide aguda (LLA) caracteriza-se pelo desenvolvimento de células imaturas, chamadas blastos linfóides, que, rápida e progressivamente, substituem a medula óssea (MO), causando uma redução na produção de glóbulos vermelhos e brancos, e plaquetas, que resulta em complicações clínicas, como anemia, infecção e sangramento. Com o tempo, os blastos leucêmicos podem aparecer no sangue periférico e, eventualmente, ocupar os linfonodos, o baço e outros órgãos vitais. Na LLA, o envolvimento de testículos e sistema nervoso central (SNC) deve ser sempre pesquisado. A LLA, se não for tratada, é rapidamente fatal; a maioria dos pacientes morre meses após o diagnóstico. Com o tratamento adequado, a sua história natural pode ser alterada acentuadamente, e muitos pacientes são curados. EPIDEMIOLOGIA Ocorre em 1 a 2 casos por 100 mil habitantes por ano; constitui 11% do total das leucemias. Sua distribuição em faixas etárias aponta para um modelo bimodal, que é muito frequente em crianças e em adultos mais idosos. Na maioria das vezes, a causa da LLA não é evidente. Acredita-se que possa haver alguma relação com exposição à radiação e com determinados vírus. Reconhece-se a associação do HTLV 1 com a leucemia de células T do adulto e o vírus Epstein-Barr (EBV) com o linfoma tipo Burkitt e seu equivalente leucêmico. QUADRO CLÍNICO Clinicamente, a LLA manifesta-se com cansaço, falta de ar, sinais de sangramento, infecções e febre. Além disso, pode ocorrer aumento de gânglios, do baço, inflamação dos testículos, vômitos e dor de cabeça, sugestivos de envolvimento do sistema nervoso. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito pela análise microscópica do sangue e da MO, pela imunofenotipagem e pela citogenética. O envolvimento do sistema nervoso deve ser avaliado pelo estudo do líquor. CLASSIFICAÇÃO Classificação morfológica FAB: as principais são: L1 – LLA, variante da infância; L2 – LLA, variante de adultos e L3 – LLA, tipo Burkitt. A classificação mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu características moleculares e clínicas, além das características morfológicas. Na classificação da OMS das LLA de precursores das células B, incluem-se os subgrupos citogenéticos, como: t(9;22) (a34;q11)BCR/ABL; t(v;11q23) MLL; t(1;19)(q23;p13) E2A/PBX1 e t(12;21)(p12;q22) ETV/CBF-alfa. A maioria (75%) dos casos de LLA expressa antígenos da linhagem B e pode dividir-se em quatro categorias. A LLA pró-B, que expressa apenas CD 19 e não os demais antígenos da linhagem B, é o grupo mais imaturo, representando cerca de 10% dos casos de LLA. Aproximadamente, 50 a 60% dos casos expressam o antígeno comum LLA (Calla ou CD10), que é uma glicoproteína encontrada ocasionalmente nos linfócitos precursores normais e em outros tecidos não-hematopoiéticos. LLA pré-B ocorre em 10% e apresenta imunoglobulina intracitoplasmática. A LLA de células B é determinada pela presença de imunoglobulinas na superfície celular, e corresponde a menos de 5% dos casos de LLA. Em geral, os melhores resultados terapêuticos entre os tipos de LLA de células B são encontrados nos casos de LLA pré-B (Calla positiva). Os 25% dos casos restantes expressam antígenos característicos de linhagem T. Em cerca de 25% dos pacientes com LLA, as células leucêmicas também expressam antígenos mielóides; nesses casos, há possibilidade de se utilizar, no acompanhamento, um marcador de doença residual. Casos mais raros de leucemia aguda não apresentam evidências de comprometimento de linhagem. Esses casos são incluídos em um grupo de pacientes com leucemia aguda indiferenciada. Outros pacientes exibem características de comprometimento tanto mielóide como linfóide. Nesse caso, são chamados bifenotípicos. O prognóstico para os pacientes com leucemia aguda indiferenciada ou bifenotípica é pior. Cerca de 25% dos adultos com LLA apresentam o cromossomo Philadelphia (Ph)[t(9;22)], uma translocação que resulta na fusão do gene bcr do cromossomo 22 ao gene tirosinoquinase ABL do cromossomo 9. Na LLA, a proteína encontrada geralmente possui 190 kD. Na leucemia mielóide crônica (LMC), a proteína é geralmente maior (210 kD), a qual é considerada leucemia de mau prognóstico com a quimioterapia tradicional; estes pacientes melhoram seus resultados com o emprego de inibidores de tirosinoquinase. A t(12;21); é mais encontrada em crianças e é difícil de ser diagnosticada por citogenética convencional. Confere bom prognóstico às crianças que a possuem. Por métodos moleculares, é um achado em 25% das LLA da infância e 4% das LLA nos adultos. Outras anormalidades eventualmente encontradas na LLA de células B incluem t(8;14) e t(8;22), que resultam na translocação do gene MYC no cromossomo 8 e no aumento da resposta do gene das imunoglobulinas nos cromossomos 14 ou 22, bem como anormalidades que envolvem 11q23. A LLA de células T está frequentemente associada com anormalidades nos cromossomos 7 ou 14. Os pacientes portadores de hiperdiploidia (20%) costumam responder melhor à quimioterapia. TRATAMENTO Pacientes com LLA podem ser curados utilizando quimioterapia, quando indicado inibidores de tirosinoquinase e transplantes de MO. Como a leucemia é uma doença rapidamente progressiva, o tratamento antileucêmico específico deve ser iniciado o mais depressa possível. O objetivo da quimioterapia inicial é induzir a restauração da função medular normal pela obtenção de uma remissão. O tratamento inicial para a LLA pode ser fracionado em três fases: indução da remissão, tratamento pós-remissão e profilaxia de lesões no sistema nervoso central (SNC). Indução da remissão O objetivo inicial do tratamento é induzir uma remissão completa, que é geralmente definida como a redução dos blastos leucêmicos para níveis indetectáveis e a restauração da função medular normal. Uma variedade de esquemas quimioterápicos pode ser usada para induzir a remissão; todos incluem a vincristina e a prednisona, e a maioria deles acrescenta a L-asparaginase e/ou daunorrubicina, administradas em um período de 3 a 4 semanas. Com tais esquemas, consegue-se uma remissão completa em 90% das crianças e em 80 a 90% dos adultos. Como a vincristina, a prednisona e a L-asparaginase são pouco tóxicas para os precursores de MO; o paciente frequentemente entra em remissão completa depois de um período relativamente curto de mielossupressão. A incapacidade de atingir uma remissão completa ocorre geralmente devido à resistência das células leucêmicas às drogas usadas e a uma infecção progressiva. Quimioterapia pós-remissão Se não houver uma continuidade no tratamento depois da indução da remissão completa, todos os casos poderão recidivar, a maioria depois de diversos meses. Este fato demonstra a necessidade de prosseguir com a quimioterapia após a remissão completa, que pode ser administrada em diversas associações, doses e esquemas. O termo quimioterapia para consolidação refere-se, em geral, a ciclos curtos de quimioterápicos administrados com doses semelhantes às usadas para a indução inicial. Normalmente, selecionam-se drogas diferentes para a consolidação daquelas usadas para induzir a remissão inicial. No caso da LLA, tais drogas compreendem o metotrexato em altas doses, a ciclofosfamida e a citarabina, entre outras. A manutenção implica a administração de quimioterapia em baixas doses, com uma base diária ou semanal, em ambulatório, por longos períodos. O esquema de manutenção mais frequentemente usado na LLA é o que associa 6-mercaptopurina diária e metotrexato semanal ou 2 vezes por mês. Não se sabe a duração ótima para a quimioterapia de manutenção, mas, em geral, ela é administrada durante 2 a 3 anos. Um exemplo de esquema quimioterápico amplamente utilizado com essa filosofia é o esquema BFM (Berlin-Frankfurt-Munster). Por outro lado, o grupo de MD Anderson, para adultos, advoga o esquema Hyper CVAD, que alterna ciclos ímpares com as drogas de indução, geralmente utilizadas em indução com ciclos pares e altas doses de metotrexato e citarabina, em um total de 8 ciclos. Recentemente, passou-se a discutira adoção de esquemas pediátricos por pacientes adultos, em função dos melhores resultados obtidos nas crianças. No entanto, algumas explicações para essa melhora devem ser lembradas, como maior incidência de alterações citogenéticas de mau prognóstico nos adultos. Por exemplo, 25% dos adultos e menos de 5% das crianças apresentam o cromossomo Ph. Por outro lado, a t (12;21) de bom prognóstico ocorre mais em crianças. Os adultos apresentam menor tolerabilidade aos esquemas intensivos de quimioterapia e menor adesão a protocolos quimioterápicos. Profilaxia e tratamento do SNC A maioria dos agentes quimioterápicos, quando administrados pela via intravenosa (IV) ou por via oral (VO), não penetra bem no SNC. Apenas a quimioterapia sistêmica com altas doses de metotrexato e de citarabina pode atingir níveis terapêuticos das drogas dentro do SNC. As alternativas terapêuticas para uso intratecal são o metotrexato e a citarabina; ambos, com o uso de corticosteróides, constituem o esquema Madit. A radioterapia de crânio com ou sem neuroeixo também é utilizada na maioria dos esquemas. LA tipo Burkitt A LLA tipo Burkitt (também chamada de FAB L3 ou LLA de células B maduras) caracteriza-se pela presença de imunoglobulina monoclonal de superfície, pela alteração citogenética t(8;14) e pela expressão na sua constituição do oncogene MYC. A LLA tipo Burkitt, que corresponde entre 3 e 5% dos casos de LLA em adultos, responde bem aos esquemas que incorporam ciclos curtos e intensivos de metotrexato e citarabina, com ciclofosfamida e associação ao rituximabe. O esquema R-Hyper CVAD pode ser usado também nestes casos, o qual apresenta altas taxas de respostas completas e de cura, correspondendo a cerca de 50% dos pacientes. LLA com cromossomo Philadelphia positivo Aproximadamente 5% dos casos pediátricos e 25% dos casos em adultos com LLA apresentam citogenética com t(9;22), o cromosso-mo Ph. Historicamente, estes pacientes apresentam taxas de remissão completa inferiores e períodos de remissão reduzidos. Conseqüente-mente, o transplante alogênico em primeira remissão é a terapêutica de escolha, propiciando a cura de aproximadamente 40% dos pacien-tes. Mais recentemente, a adição do inibidor da tirosinoquinase, o mesilato de imatinibe, aos esquemas quimioterápicos convencionais aumentou as taxas de respostas completas, que se tornaram próximas das encontradas nos pacientes com LLA Ph-negativo. A duração da remissão é maior, mas recomenda-se que os pacientes sejam enca-minhados a transplante alogênico em primeira remissão. Advoga-se também a manutenção com imatinibe por pelo menos 2 anos. Transplante de medula óssea (TMO) De forma geral, o transplante de medula óssea (TMO) alogênico em primeira remissão está indicado em pacientes com alto risco. Os principais fatores considerados de risco são: - Presença do cromossomo Philadelphia (Ph); � leucocitoses acima de 30.000/mm3 - dade > 35 anos; - LLA pró-B; - Presença da t(4:11) ou outras alterações do MLL; - Doença residual mínima detectada após o tratamento. Recentemente, Goldstone (2008) publicou um artigo em que demonstra melhores resultados de sobrevida com TMO em primeira remissão em pacientes de baixo risco. Porém, nesses pacientes, a indicação do transplante ocorre na segunda remissão ou em pacientes mais avançados. O transplante autólogo não parece ter efeito adequado em LLA, sendo considerado procedimento de exceção. CRÔNICA A leucemia linfóide crônica (LLC) é uma doença neoplásica incluída no grupo das doenças linfoproliferativas crônicas. Sua característica principal é o aumento progressivo – no sangue, na medula óssea e nos órgãos linfáticos – da quantidade de linfócitos com aspecto morfológico maduro. De acordo com a atual classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS), a LLC é uma neoplasia da linhagem B. A antiga entidade LLC-T foi classificada como leucemia pró-linfocítica de células T. Segundo a OMS, a LLC é considerada idêntica ao linfoma não-Hodgkin linfocítico B, ou seja, trata-se de uma mesma doença em diferentes estágios clínico-biológicos. EPIDEMIOLOGIA Caracteristicamente, a LLC é uma doença ligada ao envelhecimento. A idade mediana dos pacientes é de 55 a 60 anos, e sua incidência anual chega a mais de 20 casos por 100.000 habitantes em pessoas acima de 70 anos. Entretanto, em cerca de 10% dos casos, o diagnóstico é feito em indivíduos abaixo de 40 anos de idade. A LLC é inexistente em crianças. A proporção homem:mulher é de 2:1. ETIOLOGIA A LLC é uma doença adquirida. Não há associação entre exposição à irradiação ionizante, substâncias químicas, drogas alquilantes e infecções virais e o subsequente desenvolvimento de LLC. Nenhuma anormalidade genética específica foi descrita como fator etiológico. Nenhum haplótipo HLA foi consistentemente associado à LLC. A etiologia da LLC é, portanto, desconhecida. FISIOPATOLOGIA Estudos recentes sugerem que as células da LLC derivam de linfócitos B competentes, selecionados para expansão clonal após inúmeros encontros com (auto) antígenos. A LLC é classicamente descrita como uma doença de “acúmulo celular” decorrente de defeitos de apoptose. Entretanto, ela é vista atualmente como uma doença na qual existe um compartimento celular de proliferação normal ou aumentada. Essa taxa proliferativa varia entre os pacientes e até mesmo individualmente dentro dos clones leucêmicos de pacientes. O aumento do compartimento proliferativo é o responsável pela progressão da doença. QUADRO CLÍNICO O quadro clínico da LLC é variável. Os sintomas estão ausentes em cerca de 50% dos pacientes. Nesses casos, o diagnóstico é feito após o achado fortuito de linfocitose num hemograma de rotina. A maioria dos doentes procura atendimento médico por conta de adenomegalia indolor, mais comumente em cadeias cervicais, axilares ou supraclaviculares. Outro achado possível é a hepatoesplenomegalia. Aproximadamente 5 a 15% dos doentes exibem sintomas “B” típicos de linfoma: - Febre acima de 38°C por 2 semanas sem evidência de infecção; - Perda de peso corpóreo acima de 10% nos últimos 6 meses; - Sudorese noturna sem evidência de infecção; - Fadiga extrema. DIAGNÓSTICO Pré-requisitos para o diagnóstico de LLC segundo o International Workshop on Chronic Lymphocytic Leukemia (2005): - Linfócitos pequenos em quantidade ≥ 5.000/mm3, morfologicamente semelhantes a linfócitos maduros; - Fenótipo monoclonal B contendo pelo menos 4 das seguintes características: baixa densidade de imunoglobulina de superfície (SmIg), positividade para CD5, positividade para CD23, negatividade de expressão de FMC7 e expressão fraca de CD22 ou 79b. Adicionalmente, as células da LLC são negativas para ciclina D1 e CD10, e são positivas para outros marcadores de linhagem B, como o CD19 e CD20. Quando há população monoclonal com o fenótipo semelhante ao da LLC, mas com linfocitose < 5.000/mm3 tose monoclonal de significado indeterminado. O estudo da medula óssea não é necessário para firmar diagnóstico, mas é útil para avaliar o padrão de infiltração leucêmica e auxiliar na elucidação de citopenias. O diagnóstico diferencial de uma linfocitose B monoclonal inclui outras doenças linfoproliferativas, como o linfoma da zona do manto, o linfoma linfoplasmocítico, o linfoma folicular, a tricoleucemia, o linfoma da zona marginal e a leucemia pró-linfocítica. MARCADORES PROGNÓSTICOS Estadiamento clínico de Binet Estádio A: presença de 2 ou menos grupos linfáticos aumentados (linfonodos cervicais, axilares, inguinais e baço – cada um desses locais é um grupo; Estádio B: presença de 3 ou mais grupos linfáticos aumentados; Estádio C: Hb < 10 g/dL ou plaquetas < 100.000/mm3, independentemente do número de grupos linfáticos acometidos. A citogenética identifica 2 grupos de risco: Baixo risco: cariótipo normal, deleção 13q isolada; Alto risco: deleção 17p, deleção 11q e trissomia 12: - Beta 2-microglobulina sérica: níveis > 4,9 mg/dL têm impacto prognóstico negativo; - Status da mutação IgVH: as mutações somáticas estão presentes em cerca de 50% doscasos, frequentemente associadas à deleção 13q. Esses pacientes tendem a apresentar uma doença estável ou lentamente progressiva, com comportamento favorável. Por outro lado, o grupo com genes não mutados tem doença rapidamente progressiva e sobrevida mais curta; - ZAP-70 (zeta-associated protein): parece haver boa correlação entre a expressão dessa proteína e o status de mutação IgVH. A maioria dos casos mutados é ZAP-70 negativos, ao passo que as formas não mutadas são ZAP-70 positivos; - CD38: a expressão em ≥ 20% das células é um fator prognóstico negativo e independente. TRATAMENTO Para os pacientes com doença estável, assintomática, em estádio clínico A ou B e sem fatores de mau prognóstico, recomenda-se observação clínica apenas. Para aqueles em estádio C, ou que desenvolvem sintomas relacionados à doença, que apresentam progressão da linfocitose, aumento de adenomegalias, piora dos parâmetros hematimétricos, fenômenos auto-imunes ou fatores de mau prognóstico, recomen-da-se início de terapia específica. Para aqueles com doença inicial e estável, mas com fatores de mau prognóstico, não se conhece ainda o benefício do tratamento precoce. O tratamento deve levar em conta não só a idade do paciente e sua performance, mas também os fatores prognósticos da doença. O tratamento inicial do paciente com LLC representa a melhor oportunidade de atingir remissão completa. De modo geral, as células da LLC desenvolvem resistência progressiva, e a duração das remissões passa a ser cada vez menor. LEUCEMIA PRÓ-LINFOCÍTICA A transformação para leucemia pró-linfocítica (LPL) pode ocorrer tardiamente em cerca de 10% dos pacientes com LLC. As células adquirem aspecto de grandes células com núcleo convoluto, cromatina de aspecto imaturo e um ou dois nucléolos. Sinais característicos da transformação incluem: leucocitose (> 100.000/mm3), hepatoesplenomegalia, adenomegalia, envolvimento do sistema nervoso central, ascite e derrame pleural. Não existe consenso sobre o melhor tratamento da LPL. Os esquemas terapêuticos são geralmente insatisfatórios. TRICOLEUCEMIA Doença linfoproliferativa crônica da linhagem B, cujas células expressam imunoglobulina de superfície, marcadores pan-B (CD19, CD20 e CD22), CD11c, CD25 e CD103. Esplenomegalia, anemia e trombocitopenia são achados frequentes. O tratamento com dose única de cladribina 0,1 mg/kg/dia em administração intravenosa contínua durante 7 dias é capaz de induzir remissão completa em cerca de 90% dos casos, em sua maioria de longa duração. AGUDA Leucemia mielóide aguda (LMA) é uma doença hematológica maligna monoclonal, caracterizada pela produção anormal de blastos na medula óssea (MO) e pelo consequente prejuízo na produção das células sanguíneas normais, desenvolvendo anemia e plaquetopenia. Ocorre com diversas características morfológicas, cada qual com particularidades clínicas e laboratoriais. ETIOLOGIA E PATOGÊNESE 1. Fatores ambientais: Exposição crônica ao benzeno, herbicida, pesticida, radiação ionizante (bomba atômica, radiação nuclear e radiação médica); Quimioterapia, em 10 a 15% dos casos pós-tratamento; Agentes alquilantes: ciclofosfamida, melfalano, mostarda nitrogenada – geralmente aparecem após 5 a 10 anos, associados a anormalidades no cromossomo 5 e 7; Inibidores da topoisomerase II: etoposide, teniposide e doxorrubicina – geralmente aparecem após 1 a 5 anos, com associação ao cromossomo 11q23, translocação balanceada entre os cromossomos 15 e 17, e 8 e 21, e variante M3-M5; Outras drogas: cloranfenicol, fenilbutazona, cloroquina, metoxipsoraleno; Tabagistas (o tabaco é a fonte mais comum de exposição ao benzeno) apresentam risco 1,2 a 2,3 vezes maior de incidência de LMA, a qual, quando é induzida pelo tabagismo, está relacionada a alterações no cromossomo 5 e 7, associado à trissomia do 8 e à translocação balanceada entre os cromossomos 8 e 21, e morfologia FAB M2. 2. Fatores genéticos: há alterações cromossômicas em muitos pacientes com LMA. Ocorrência familiar tem sido descrita, mas com significado ainda indeterminado. 3. Doenças mieloproliferativas crônicas e síndromes mielodisplásicas podem progredir para LMA. 4. LMA pode se desenvolver em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids), síndrome de Down [risco 20 vezes maior, com proporção de leucemia linfóide aguda (LLA) para LMA (4:1), similar às crianças sem Down], síndrome de Bloom, anemia de Fanconi (risco de 9%), neurofibromatose, síndrome de Kostmann, síndrome de Wiskott-Aldrich, síndrome de ataxia-telangiectasia, Klinefelter (XXY) e Patau (trissomia do cromossomo 13). EPIDEMIOLOGIA A incidência de LMA é de 3,8/100.000, podendo chegar até 17,9/100.000 nas pessoas com idade acima de 65 anos. A LMA aumenta com a idade, sendo responsável por 80% das leucemias agudas em adultos e por 15 a 20% das leucemias em crianças. A idade média de apresentação é 70 anos. A incidência é maior em homens que em mulheres (3:2), bem como em descendentes de europeus. O subtipo M3 é mais comum na população latina ou de origem hispânica. LMA é a leucemia mais freqüente em neonatos; na maioria das vezes, é monocítica, com alta incidência de manifestação extramedular. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS 1. Anemia: palidez, fadiga, fraqueza, palpitações e dispnéia aos esforços. 2. Plaquetopenia: petéquias, equimoses, epistaxe, sangramento gengival, hemorragia conjuntival e sangramento prolongado após pequenos cortes. As manifestações hemorrágicas podem ser encontradas em 50% dos pacientes. 3. Infecções com variável grau de morbidade. 4. Pode ocorrer perda de peso, anorexia e febre (15 a 20%). 5. As células leucêmicas podem infiltrar qualquer órgão do corpo. Esplenomegalia ou hepatomegalia está presente em 1/3 dos pacientes, sendo mais comum nas LLA. Aumento dos linfonodos é incomum, com exceção da variante monocítica. Outros sítios: intestino, mediastino, útero, ovário, sítios epidurais etc. 6. Pode ocorrer, ocasionalmente, acúmulo de grande quantidade de mieloblastos ou monoblastos, formando sarcoma granulocítico (2 a 14%). A infiltração da pele (13%) está associada ao envolvimento de outros sítios extramedulares, como sistema nervoso central (SNC). Infiltrações de pele e gengivas são mais comuns nas LMA monocíticas (FAB M5). A incidência de infiltração no SNC é difícil de determinar. Geralmente, está associada à variante monocítica, à idade menor que 2 anos e à hiperleucocitose. 7. 4% dos pacientes podem apresentar artralgia, poliartrite simétrica ou migratória e dor óssea. 8. Sintomas de hiperleucocitose (5% casos): mais comum nos subtipos FAB M4 e M5; geralmente, ocorrem com contagens acima de 100.000 cel/mm3. Apresenta principalmente sintomas neurológicos e pulmonares por hemorragia intracraniana e hipóxia. Pode se manifestar por dispnéia, dor torácica, cefaléia, turvação visual, zumbido, alteração mental, paralisia de nervos cranianos ou priapismo. ABORDAGEM DIAGNÓSTICA 1. Anamnese e exame físico completo. 2. Solicitar hemograma completo, função renal e hepática, coagulograma completo, bioquímica completa, desidrogenase lática (DHL), ácido úrico, sorologias (hepatites A, B e C, HIV, HTLV, citomegalovírus CMV, Chagas, varicela e toxoplasmose). 3. Mielograma: se aspirado seco, considerar biópsia de medula, provável hipercelularidade ou fibrose de medula. 4. Citogenética e imunofenotipagem de MO. 5. Hibridização por fluorescência in situ (Fish) e pesquisa molecular para as alterações citogenéticas específicas (PMR/RAR-alfa), conforme suspeita clínica. 6. Considerar avaliação para mutações no c-KIT, FLT3, e NPM1. Caso não seja realizado no centro, sugere-se guardar o material congelado para análise futura após resultado da citogenética. 7. Radiografia de tórax (frente e perfil), ultra-sonografia (US) abdominal, eletrocardiograma (ECG) e ecocardiograma; em determinados casos, considerar tomografia computadorizada (TC). 8. Exame de líquor: realizar em pacientes com alteração do SNC ao diagnóstico. Antes da punção, realizar exame de imagem para detectar doença meníngea, cloromasou sangramento no SNC; a punção é realizada se não tiver presença de massas ou lesões no exame de imagem. Realizar punção lombar na primeira remissão em pacientes com contagem leucocitária alta (> 100.000/mcL), LMA com componente mielomonocítico (M5 ou M4) ou envolvimento de outros sítios extramedulares. 9. Considerar tipagem HLA do paciente e irmãos, bem como busca não-aparentada, se o paciente tiver LMA relacionado a terapia prévia, antecedente de doença hematológica, ou estiver no grupo de risco pela citogenética e avaliação da mutação molecular. 10. Screening para CMV nos pacientes candidatos a transplante de células progenitoras hematopoiéticas. CARACTERÍSTICAS LABORATORIAIS A contagem sanguínea varia amplamente em pacientes com LMA; anemia e plaquetopenia estão quase sempre presentes. A leucometria pode estar normal, aumentada ou diminuída, e, em todas as situações, pode haver neutropenia e blastos. O aumento de leucócitos é encontrado na metade dos pacientes, mas contagens acima de 100.000 cel/mm3 ocorrem em menos de 20% dos casos. A síndrome de lise tumoral é caracterizada por hiperuricemia, insuficiência renal, acidose, hipocalcemia e hiperfosfatemia. Precursores eritróides da medula são, na maioria das vezes, megaloblásticos, em particular, na eritroleucemia e na LMA pós-mielodisplasia. Células blásticas da MO podem ser identificadas pela morfologia (a presença de bastonetes de Auer é considerada patognomônico da LMA) e citoquímica (Sudan Black, peroxidase e esterase inespecífica). O diagnóstico de LMA é feito pela identificação de mais de 30% de blastos com características mielóides pela classificação Francesa-Americana-Britânica (FAB). A Organização Mundial da Saúde (OMS) modificou para mais de 20% de blastos. A peroxidase é específica para a diferenciação mielóde e é positiva nos grânulos dos mieloblastos. Os monoblastos são negativos ou positivos em finos grânulos. Sudan Black também é positivo nos mieloblastos e a alfa-naftil acetato esterase apresenta positividade di-fusa em monoblastos. A imunofenotipagem de sangue periférico ou MO (preferencialmente) marca com características mielóides (CD33 e CD13). Anormalidades citogenéticas estão presentes em aproximadamente 50% dos pacientes. Ácido úrico e DHL estão, na maioria das vezes, elevados.Anormalidades eletrolíticas são frequentes. Pseudo-hipercalemia, hipoglicemia e hipóxia podem ser encontradas em pacientes com contagem leucocitária elevada. A plaquetopenia pode estar associada à coagulação intravascular disseminada, principalmente na variante pró-mielocítica. Testes de coagulação são necessários: TP, TTPA, fibrinogênio e produtos de degradação da fibrina. FORMAS DE APRESENTAÇÃO NÃO USUAIS DE LMA Leucemia hipoplásica: pancitopenia e MO hipoplásica; Sarcoma granulocítico (cloroma); Crise blástica mielóide de leucemia mielóide crônica (LMC). CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA Critérios de FAB M0: LMA minimamente diferenciada: Blastos grandes, agranulares, indiferenciados < 3% de positividade para Perox e SB. Fenotipagem (CD): 13,33,34. M1: LMA sem maturação: Blastos agranulares e granulares > 90% das células não-eritróides. > 3% + Perox e SB. Bastonetes de Auer em 50% dos casos. Fenotipagem (CD): 13,33. M2: LMA com maturação: Blastos – 30 a 89% das células não-eritróides. Células monocíticas < 20%. Bastonetes de Auer em 70% dos casos. Fenotipagem (CD): 13,33. t(8;21) – 40% dos casos. M3: Leucemia aguda pró-mielocítica: > 20% de pró-mielócitos hipergranulares das células não-eritróides. A contagem de blastos pode ser < 30%. Perox e SS fortemente positivos. Bastonetes de Auer virtualmente em todos os casos. Fenotipagem (CD): 13,33. LMA M3v – variante microgranular t(15;17) – PML-RARA M4: Leucemia aguda mielomonocítica: > 30% de blastos na MO. Componente granulocítico (mieloblastos e pró-mielócitos inclusive) > 20% das células não-eritróides. Componente monocítico > 20% e < 80% em MO e > 5.000 no sangue periférico. Fenotipagem (CD): 13,14,11b,15. LMA M4Eo – M4 eosinofílica (presença de eosinófilos em excesso ou anormais) – associado a t(16;16) ou inv (16)(p13 q22). Lisozima sérica elevada mais que 3 vezes o valor normal. M5: Leucemia aguda monocítica: > 30% de blastos na MO. Componente monocítico > 80% das células não-eritróides. LMA M5a – monoblastos > 80%. LMA M5b – monoblastos < 80%. Fenotipagem (CD): 14,11b,15. Perox normalmente negativa, esterase inespecífica positiva Lisozima sérica elevada. M6: Eritroleucemia: Componente eritroblástico > 50% da MO. Componente granulocítico, com ou sem bastonetes. Fenotipagem: Glicoforina A. Presença de micromegacariócitos. Podem ser encontrados bastonetes de Auer. Reação PAS pode ser positiva em coroa. Caso tenha > 50% de células eritróides, mas com < 30% blastos – síndrome mielodisplásica. M7: Leucemia aguda megaloblástica: Pelo menos 30% das células nucleares são blastos – megacarioblastos. Fenotipagem: 41. Blastos podem expressar 1 ou mais antígenos específicos de plaquetas. Perox e SS negativos. PAS positivo. Fibrose de medula óssea e esfregaço periférico leucoeritroblástico, sem esplenomegalia – “mielofibrose aguda”. CLASSIFICAÇÃO E VARIAÇÃO MORFOLÓGICA As LMA podem ser classificadas de acordo com os critérios da Organização Mundial da Saúde (2008) ou da FAB. O Quadro 23.1 e a Tabela 23.1 descrevem essas classificações histológicas. A Tabela 23.2 traz uma avaliação do risco baseada em citogenética e mutação molecular. Classificação histológica das leucemias mielóides agudas (lma) e das neoplasias mielóides relacio-nadas de acordo com o critério da oms (2008): ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO Fatores prognósticos: citogenética, idade, performance status, co-morbidades; � fatores associados com mortalidade precoce: idade avançada, dis-função orgânica, perfomance status pobre (3 a 4); � fatores associados à resistência à quimioterapia: alteração citoge-nética. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Pseudoleucemia: proliferação aumentada de promielócitos após recuperação de agranulocitose; Medula hipoplásica: anemia aplásica, mielodisplásia e leucemia aguda – avaliação citológica cuidadosa da MO; Reação leucemóide e pancitopenias não-leucêmicas: ausência de blastos na MO; Leucemia bifenotípica. TRATAMENTO É necessário considerar, sempre que possível, introduzir pacientes refratários/recidivados em estudos clínicos, já que a chance de cura com quimioterapia convencional nesses pacientes é muito pequena. CRÔNICA A incidência da leucemia mielóide crônica (LMC) nos Estados Unidos é de 1 a 2 casos por 100.000 habitantes/ano, correspondendo a 15% das leucemias em adultos. A faixa etária preferencial situa-se entre 45 e 55 anos de idade, porém pode ocorrer, mais raramente, em idosos, crianças e adolescentes. Classicamente, a LMC manifesta-se em três fases consecutivas: a fase crônica, na qual o paciente se mantém clínica e laboratorialmente estável por 3 a 5 anos; a fase acelerada, caracterizada, geralmente, por um ou mais dos seguintes achados: aumento significativo do baço, presença de mais de 15% de blastos, mais de 20% de basófilos e plaquetopenia; e, finalmente, a chamada crise blástica, uma agudização da leucemia que, normalmente, é fatal e de difícil controle ao tratamento. Essa fase caracteriza-se pela presença de 30% de blastos ou infiltração leucêmica extramedular. Dependendo da natureza das células blásticas, a agudização pode ser linfóide (30% dos casos) ou mielóide (70% dos casos). A LMC é uma doença que envolve uma alteração cromossômica específica, com influências ambientais, como exposição à radiação e a agentes químicos. O evento genético responsável pela LMC consiste em uma translocação recíproca t(9;22) (q34;q1.1) nas células-tronco hematopoiéticas. Cerca de 95% dos casos de LMC têm a translocação entre os cromossomos 9 e 22, o que resulta no cromossomo Philadelphia (Ph). A detecção citogenética dessa translocação identifica a LMC típica. A LMC foi a primeira neoplasia relacionada, consistentemente, com uma anomalia genética adquirida, a qual é muito bem estudada no seu aspecto molecular. Esses estudosdemonstraram que a trans-locação cromossômica produz um gene quimérico, formado pela fusão de dois genes: o gene breakpoint cluster region (BCR), localizado no cromossomo 22, e o gene abelson oncogene (ABL), localizado no cromossomo 9, produzindo um transcrito ativo BCR-ABL no cro-mossomo rearranjado Philadelphia (Ph). Na LMC, os transcritos BCR-ABL podem ter tamanhos dife-rentes, pois as quebras cromossômicas ocorrem em diferentes locais do gene BCR, resultando em duas isoformas de ácido ribonucléico (RNA) mensageiro (b3a2 e b2a2), as quais são, geralmente, traduzidas em uma proteína de, aproximadamente, 210 kDa com função de tirosinoquinase. Alguns pacientes com LMC podem ter um ponto de quebra alternativo no cromossomo 22, resultando em proteína de 190 kDa. Aproximadamente 50% dos pacientes são totalmente assinto-máticos, e o diagnóstico é feito com um hemograma, realizado por uma situação clínica qualquer, um pré-operatório ou mesmo em um check-up. Sintomas sistêmicos podem ocorrer, como fadiga, cansaço, sudorese ou emagrecimento. Devido ao aumento do baço, pode ha-ver distensão ou aumento do volume abdominal, dor ou sensação de saciedade. É comum haver elevação do ácido úrico ou sinais de artrite gotosa. A esplenomegalia ocorre em 50 a 80% dos casos; anemia, em cer-ca de 50%; e grandes leucocitoses (> 100.000/mm3 pacientes. Um achado possível é plaquetose (> 600.000/mm3), em 50 a 70% dos). Cabe sempre a realização de uma investigação para LMC em pacientes suspeitos de trombocitemia essencial. A contagem diferencial de leucócitos mostra escalonamento com desvio à esquerda, desde neutrófilos maduros até mieloblastos. Basofilia e eosinofilia são achados comuns. A fosfatase alcalina leuco-citária é geralmente baixa. O estudo da medula óssea (MO) pelo mielograma ou da biópsia mostra hiperplasia granulocítica. Outros achados inespecíficos da biópsia são fibrose reticulínica e vascularização. O diagnóstico final é feito pela pesquisa do cromossomo Ph, com a análise do cariótipo, preferencialmente em amostra de MO, por meio de coloração por banda G. Em uma situação de premência do resultado, pode-se fazer a pesquisa do rearranjo BCR/ABL por hibridização por fluorescência in situ (Fish), técnica rápida e específi-ca, na qual se utilizam sondas moleculares para identificar anomalias cromossômicas. A técnica de reação de polimerase em cadeia (PCR) também pode ser empregada para detecção de rearranjos BCR-ABL. Menos de 5% dos casos de LMC podem ter o cromossomo Ph variante, ou seja, translocação envolvendo algum outro cromossomo diferente do 9 ou envolvendo outros cromossomos, além do 9 e do 22. A análise prognóstica pode ser feita por meio de vários índices, dos quais o escore prognóstico de Sokal é o mais comum, levando em conta quatro variáveis: tamanho do baço; porcentagem de blastos; idade e contagem de plaquetas > 700.000/mm3 .Hoje, na era imatinibe, esta análise é menos importante, mas demonstra algum impacto. TRATAMENTO Historicamente, até 1950, o principal recurso terapêutico para tratamento da LMC era a radioterapia. Em 1953, Galton introduziu com sucesso o bussulfan oral e, em 1972, a hidroxiuréia passou a ser a principal droga utilizada no manuseio da LMC, produzindo controle hematológico com poucos efeitos colaterais. No entanto, essas medidas terapêuticas, apesar de produzirem controle clínico e hematológico dos pacientes, não alteram a história natural da doença representada pela evolução para as fases acelerada e blástica, com conseqüente óbito. O transplante de medula óssea (TMO), o uso do interferon-alfa e, recentemente, os inibidores de tirosinoquinase estão rela-cionados não só a mudanças da história natural, mas a remissões citogenéticas completas e duráveis. Trabalhos com o uso de interferon-alfa demonstram que mais de 50% dos pacientes têm algum tipo de resposta com remissão ci-togenética. Cerca de 30% têm respostas citogenéticas maiores, cuja freqüência do cromossomo Ph está abaixo de 35%. Respostas com-pletas, com desaparecimento do cromossomo Ph, ocorrem em 15 a 25% dos pacientes após 1 ano de tratamento. Estudos randomizados comparativos entre bussulfan e hidro-xiuréia mostram superioridade significativa na sobrevida dos pacien-tes tratados com interferon-alfa. A dose utilizada é de 5 milhões de unidades/m2/dia, e o fator limitante principal é a tolerância do paciente ao medicamento. A associação com doses baixas de aracitin potencializa o efeito do interferon, produzindo respostas citogenéti-cas maiores em 35 a 40% dos pacientes. Os primeiros resultados favoráveis com o TMO datam dos anos de 1970. A literatura mostra que a curva de sobrevida atinge um platô com 3 a 7 anos, e a taxa de sobrevida encontra-se entre 40 e 77%. Pacientes jovens com doador HLA idêntico, com transplante realizado no primeiro ano do diagnóstico, apresentavam maior chan-ce de cura. Sabe-se também que, dependendo da fase da doença em que o paciente se encontrava, os resultados são piores. Pacientes em fase crônica têm melhores resultados que aqueles em fase acelerada e com crise blástica. O grande impedimento dos TMO são suas complicações e a alta taxa de mortalidade (20%) relacionada ao procedimento. As principais complicações são, além da toxicidade não-hema-tológica do condicionamento quimio e radioterápico, a doença do enxerto contra o hospedeiro, as infecções e a doença veno-oclusiva hepática. Desde a aprovação em 2000 do primeiro inibidor de tirosino-quinase, o imatinibe, esta droga passou a ser o tratamento de escolha de primeira linha na LMC de adultos e, hoje, já se discute sua aplicação em crianças. Estes medicamentos representam um dos maiores avanços terapêuticos no manejo da LMC. A experiência adquirida com este produto, que age na esfera molecular, mostrou como o conhecimento da biologia molecular e da fisiopatologia de uma do-ença pode ser útil no desenvolvimento de uma ação terapêutica. A translocação cromossômica que ocorre na LMC, produzindo o gene BCR-ABL, faz a fosforilação da adenosina trifosfato (ATP) pela en-zima tirosinoquinase, existente na fração ABL do transcrito, ativa a formação de um clone leucêmico, caracterizando ações de prolifera-ção, aderência e apoptose. O imatinibe atua competindo com o ATP pelo sítio de ligação da tirosinoquinase, bloqueando este fenômeno. O estudo Íris, que comparou de forma randomizada interferon-alfa versus imatinibe, mostrou maiores taxas e duração de resposta hematológica e citogenética com muito menor toxicidade.Trouxe à tona o termo cura funcional aos pacientes, uma vez que, após mais de 6 anos de acompanhamento, as taxas de progressão são cada vez menores. Os principais efeitos colaterais são edema, náuseas, vômitos, dores ósseas, elevação das transaminases, anemia, leucopenia e pla-quetopenia. Menos de 15% dos pacientes necessitam interromper o tratamento por níveis maiores de toxicidade. Nas fases avançadas da LMC, o imatinibe e os medicamentos de segunda geração geralmente são utilizados para a obtenção de uma segunda fase crônica, propiciando levar esses pacientes a um TMO com melhores resultados. ANÁLISE DE RESPOSTA Após o diagnóstico, o paciente deve ser monitorizado sema-nalmente, com hemograma e bioquímica, para avaliação de resposta hematológica e segurança (principalmente enzimas hepáticas). Após estabilidade, esses controles podem ser mensais e, depois, trimestrais. A citogenética deve ser realizada a cada 6 meses até a resposta com-pleta; posteriormente, pode ser realizada a cada 1 a 2 anos, enquanto a monitoração molecular deverá ser realizada trimestralmente. Resposta hematológica: é monitorada pelo hemograma por meio da contagem e do diferencial dos leucócitos e das plaquetas. 2. Resposta citogenética: analisada pelo cariótipo e, excepcional-mente, por Fish na MO. 3. Resposta molecular: avaliada por PCR quantitativa no sangue periférico. 4. Resposta hematológica completa: leucócitos < 10.000/mm3 granulócitos imaturos, basófilos < 5%, plaquetas < 450.000/mm3 baço não-palpável. , sem e 5. Resposta citogenética completa:cromossomos Ph não-detectá-veis na MO. 6. Resposta citogenética maior: 0 a 35% de cromossomos Ph detec-táveis. 7. Resposta citogenética menor: 36 a 95% de cromossomos Ph de-tectáveis. 8. Resposta molecular completa: transcritos bcr/abl não-detectá-veis. 9. Resposta molecular maior: pelo menos 3 logs de redução dos transcritos. A falha de tratamento é considerada quando não se atinge uma das seguintes condições: � qualquer resposta hematológica em 3 meses; � resposta hematológica completa em 6 meses; � resposta citogenética parcial em 12 meses; � resposta citogenética completa em 18 meses. Há o conceito de resposta subótima, muitas vezes, requerendo intervenção terapêutica. É definida quando há menos que: � resposta hematológica completa aos 3 meses; � resposta citogenética menor aos 6 meses; � resposta citogenética completa aos 12 meses; � resposta molecular maior aos 18 meses. Quando existe falha de resposta ou evolução laboratorial, é obrigatória a investigação com nova avaliação do cariótipo e a aná-lise mutacional. Muitas mutações foram descritas. No entanto, a mu-tação T315I é a mais importante, pois não responde aos inibidores de tirosinoquinase de segunda geração (nilotinibe e dasatinibe). A mutação Y253H é sensível ao dasatinibe e resistente ao nilotinibe e a mutação F317L é mais sensível ao nilotinibe que aos demais. Pacientes com intolerância ou resistência ao imatinibe devem ter sua dose aumentada ou seu tratamento trocado para o dasatinibe ou nilotinibe. Combinações do imatinibe com outras medicações, como inibidores da farnesil transferase, citarabina e interferon, têm sido estudadas. O TMO também pode ser aventado, principalmente quando a mutação encontrada for a T315I. RELAÇÃO DE ALTERAÇÕES NA COAGULAÇÃO COM QUADROS LEUCÊMICOS MIELOGRAMA 1. Indicações de mielograma e tipos (aspirado e biópsia de medula): EXAMES DE IMAGEM EM LEUCEMIAS Em pacientes com leucemia, os exames de imagem são, geralmente, realizados para diagnosticar infecções ou outros problemas, e não a leucemia em si. Em alguns casos, podem ser realizados para determinar a extensão da doença, o estadiamento da leucemia ou a resposta da doença ao tratamento. Radiografia de tórax: realizada quando o médico suspeita de infecção pulmonar, ou para avaliar a presença de gânglios linfáticos na região do tórax. Tomografia computadorizada: geralmente é realizada para diagnosticar se os gânglios linfáticos ou outros órgãos estão aumentados, ou ainda se células leucêmicas estão em crescimento em outros órgãos, como o baço. Biópsia guiada por agulha. Em alguns casos, a tomografia é utilizada para guiar com precisão o posicionamento de uma agulha de biópsia em uma área suspeita de ter uma lesão cancerígena. PET-CT ou PET-Scan: medem variações nos processos bioquímicos, quando alterados por uma doença, e que ocorrem antes que os sinais visíveis da mesma estejam presentes em imagens de tomografia computadorizada ou ressonância magnética. Como as células cancerígenas se reproduzem muito rapidamente, e consomem muita energia para se reproduzirem e se manterem em atividade, o exame aproveita essa propriedade. Moléculas de glicose, são marcadas por um radioisótopo e injetadas nos pacientes. Como as células de tumores são ávidas pela energia proveniente da glicose, esta vai concentrar-se nas células cancerígenas, onde o metabolismo celular é mais intenso. Alguns minutos depois da ingestão da glicose é possível fazer um mapeamento do organismo, produzindo imagens do interior do corpo. O PET permite diagnosticar se a doença se disseminou para os linfonodos ou outras estruturas e órgãos do corpo com uma aparência mais detalhada da área que na tomografia computadorizada. Ressonância magnética: utilizado para diagnosticar se a doença disseminou para a medula ou encéfalo. Ultrassonografia: pode ajudar a avaliar os linfonodos próximos à superfície do corpo, os gânglios linfáticos aumentados no abdome, ou órgãos como o fígado, rins e baço.