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1 ESQUISTOSSOMOSE Gizelle Felinto INTRODUÇÃO Trata-se de uma doença parasitária, causada pelo Schistossoma mansoni (helminto), tendo a água como veículo de transmissão Formas clínicas: Fase aguda muitas vezes passa despercebida (na maioria dos casos é assintomática) Fase crônica muitas vezes grave (o Schistossoma sai do intestino e se aloja nas veias, fígado e outros locais) ETIOLOGIA AGENTE ETIOLÓGICO Schistosoma mansoni Têm-se o macho e a fêmea e, geralmente, a fêmea se encontra acoplada no macho Trematódeo Canal ginecóforo Aderem-se a parede dos vasos através de ventosas isso é o que dará a patogênese da doença O número de vermes é variável: Avalia a intensidade da infecção Doença com menos de 15 anos de evolução > 500 vermes Doença com mais de 30 anos de evolução < 500 vermes (a quantidade de vermes vai diminuindo) É determinado pela quantidade de antígenos liberados na urina ou soro ou por meio de contagem de ovos expelidos por grama de fezes (saber a quantidade de parasitas existem no paciente): Sem hipertensão portal 16 ovos/g de fezes – 1 casal Com hipertensão portal 5 ovos/g de fezes – 1 casal (fase mais crônica da doença, na qual se tem poucos vermes no organismo) HABITAT DO Schistossoma: Esquistossômulos sistema porta intra-hepático Adultos sistema venoso do intestino A postura do verme é feita a nível de reto e sigmóide - ovos (assim, pode-se solicitar a biópsia de reto, onde se encontram os vermes do Schistossoma) PERÍODO DE INCUBAÇÃO em média 1 - 2 meses após a infecção CICLO REPRODUTIVO: Os ovos são eliminados pelas fezes do homem e, quando não há saneamento básico, esses ovos contaminam as águas, transformando-se em miracídios e contaminando o caramujo. Depois se transformam em cercarias, sendo eliminadas na água, e entram no organismo humano pela pele Não é pela ingestão, mas sim pela pele! RESERVATÓRIO: Hospedeiro definitivo homem Hospedeiro intermediário Caramujo (Biomphalaria glabrata, B. tenagophila e B. straminea) No Brasil, a mais comum é a Biomphalaria glabrata PATOGENIA FORMA DE TRANSMISSÃO: Tem muita relação com o saneamento básico pelas fezes do indivíduo contaminado os ovos escorrem, através da chuva, para a água, eclodindo em miracídios e contaminando o hospedeiro intermediário (Caramujo). No caramujo, esses miracídios se transformam em cercarias, que irão contaminar a água (geralmente água parada e limpa). Assim, o indivíduo entra em contato com essa água contaminada e as cercarias penetram na pele em sua pele. Desse modo, através do sistema venoso, irão para os pulmões, fígado, sistema portamesentérico e depois chegam de novo no intestino, fazendo a postura de seus ovos no reto ELEMENTOS ENVOLVIDOS: Vermes Ovos principal fator patogênico na esquistossomose Fazem uma reação inflamatória local, podendo causar um granuloma, desenvolvendo uma doença extraintestinal ou pseudotumoral, fazendo com que esses ovos possam se apresentar em outros locais diferentes de intestino e fígado Estado imunológico dos pacientes quanto menos defesa o paciente tem, maiores as probabilidades de ele ter uma doença grave DINÂMICA: 2 ESQUISTOSSOMOSE Gizelle Felinto A cercaria é liberada pelo caramujo, contaminando a água. Assim, ela entra através da pele do homem, causando um eritema, edema, pápula ou flictema, levando à formação dos esquistossômulos, que causam uma reação inflamatória que leva a uma dermatite cercariana O ovo leva a uma reação a uma reação inflamatória local, formando o granuloma e, dependendo do número de ovos presentes no vaso, causa uma obstrução vascular e formação de neovasos. Ademais, há a reação imunológica do indivíduo, que pode piorar o quadro, levando à hipertensão portal Há indivíduos que terão essa infecção, mas não irá evoluir, pois o próprio sistema imunológico pode cessar sua evolução Se o paciente for diagnosticado nos primeiros meses depois da infecção, trata-se precocemente e bloqueia-se essa evolução Dentro do sistema porta: Vermes vivos causam sintomas da fase aguda e hepatite esquistossomática na fase aguda e crônica Vermes mortos causam lesões graves e obstrutivas com necrose e inflamação. Ademais, a fibrose causada pela cicatrização forma a fibrose de Symmers EPIDEMIOLOGIA Relação socioeconômica A esquistossomose é bastante comum na zona rural, onde tem-se pouco saneamento básico e, principalmente em crianças, muitos casos de desnutrição (imunodeficientes) Hoje em dia, devido à melhoria do saneamento básico, não se têm tantos casos como antes Distribuição geográfica: Muito comum em Rio grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Paraíba Se expandiu para norte, sul, sudeste e centro-oeste Principal forma de adquirir a doença Banho em água limpa e parada (principalmente lagoas de água doce) Zona endêmica QUADRO CLÍNICO FASE AGUDA ou INICIAL: Pode ser assintomática Sinais e sintomas (nem todos os pacientes terão): Dermatite urticariforme associada a eritema, erupção papular, edema e prurido De 3 a 7 semanas o paciente pode ter febre de Katayama febre, dor abdominal, anorexia, cefaleia e hepatomegalia Pode ocorrer diarreia, vômitos ou tosse seca pois o verme também faz um ciclo pulmonar Dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais em pacientes com esquistossomose aguda grave: O quadro agudo grave não é comum, a maioria dos pacientes evolui de forma assintomática Epidemiologia: História de contato com águas de região endêmica nos últimos 60 dias (período de incubação) Outras pessoas podem apresentar quadro clínico semelhante, porque o banho em coleções hídricas é, em geral, um comportamento grupal Quadro clínico: Febre Diarreia mucossanguinolenta Dor abdominal Hepato e/ou esplenomegalia Tosse seca Urticária Edema facial Dados laboratoriais: Discreta leucocitose Eosinofilia (é o que chama mais atenção no hemograma) Elevação das enzimas hepáticas (TGO, TGP, fosfatase alcalina, GGT, transaminases) pois o verme tem predileção pelo fígado, levando à fibrose de Symmers (fibrose hepática) Exames: LEMBRETE! Há eosinofilia em duas situações: Parasitose intestinal principalmente se for por helmintos Alergias 3 ESQUISTOSSOMOSE Gizelle Felinto Ultrassonografia do abdômen hepatoesplenomegalia e linfonodos portais característicos Fezes ovos viáveis de S. mansoni Biópsia hepática granuloma na fase necrótico-exsudativa Sorologia sugestiva: o ELISA com KLH o IgA anti-SEA fase aguda FASE CRÔNICA: Assintomática Ausência de sintomas + exame parasitológico de fezes positivo (trata-se de um diagnóstico de fase crônica – número de vermes, mas o paciente não apresenta nenhum sintoma) Formas de apresentação clínica: Forma intestinal: Cólicas e diarreias periódicas alternadas ou não com constipação Forma hepatointestinal: Quadro anterior (cólica, diarreia) associado a leve hepatomegalia (aumento do lobo esquerdo) Com ou sem fibrose periportal (fibrose de Symmers) pode ter um fígado endurecido Sem hipertensão portal Forma hepatoesplênica é uma evolução da hepatointestinal Hepatomegalia (lobo esquerdo) com fibrose periportal aumento mais pronunciado do fígado Esplenomegalia A palpação pode passar até mais de 10cm Hipertensão portal Paciente com “barriga d’água” é geralmente um paciente desnutrido que terá um fígado grande, principalmente em lobo esquerdo, e o baço também estará crescido Forma cardiopulmonar, Hipertensiva, Cianótica: Ocorre em cerca de 15% dos pacientes com forma hepatoesplênica com hipertenção arterial pulmonar com cianose (mais rara) Forma pseudotumoral: Massaslocalizadas em vários tecidos, principalmente no intestino, causadas por acúmulo de ovos ou excesso de reação fibrosa Nefropatia por S. mansoni: Lesões glomerulares provocadas pela deposição de complexos imunes antígeno/anticorpo/complemento Formas ectópicas: Lesões granulomatosas em locais fora do sistema porta, como pele, sistema nervoso central (principalmente em região medular), aparelho genital DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL É o parasitológico de fezes que dará o diagnóstico FASE AGUDA: Quando há hepatoesplenomegalia (nessa fase é discreta) na fase aguda, pode-se confundir com: Febre Tifóide Brucelose Ancilostomose aguda Mononucleose infecciosa FASE CRÔNICA: Parasitoses Calazar geralmente têm-se febre (geralmente, na fase crônica da esquistossomose não se vê febre), desnutrição, o baço é bem maior que o fígado (o fígado cresce em todos os lobos, diferentemente da esquistossomose, que só crescer o lobo esquerdo) Salmonelose prolongada Leucemia principalmente as que apresentam hepatoesplenomegalia Linfoma Esplenomegalia tropical Cirrose pós necrótica DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Depende da fase da doença MÉTODOS DIRETOS/ESPECÍFICOS o melhor é fazer o diagnóstico pelo método direto ATENÇÃO IgA: Fase aguda IgG: Fase crônica - As áreas brancas são locais fibrosados, constituindo locais não mais funcionantes - Paciente com esquistossomose hepatoesplênica e hipertensão portal - Ascite obstrução do sistema porta, levando à piora da hepatoesplenomegalia 4 ESQUISTOSSOMOSE Gizelle Felinto Parasitológico de Fezes: Visualiza-se principalmente nos primeiros anos da doença pois é no início que se consegue ver os ovos nas fezes Pede-se no método de Lutz ou Kato-Katz visualizam ovos viáveis ou miracídeos móveis Biópsia retal: Quando se está em uma fase muito crônica e não se consegue identificar ovos nas fezes Indolor Visualização direta da peça em lâmina sem corar Visualiza-se os ovos (oograma) ovos viáveis e ovos inviáveis (granuloma – reação inflamatória local) Deve-se ter cuidado em pacientes com hipertensão portal grave, pois ele também terá dilatação das veias retais, levando a sangramentos Biópsia hepática pela agulha de Vim Silverman Ter cuidado em pacientes muito crônicos, com hipertensão porta grave, devido ao risco de sangramento MÉTODOS INDIRETOS/INESPECÍFICOS: Intradermorreação: Solução que se coloca no antebraço e espera-se a reação 15min (até 48h) Positivo > 10mm Sorologia: É ideal em locais de baixa prevalência e pouca intensidade de doença Não é muito fidedigna, pois todas as pessoas tratadas e as que tiveram a infecção e o próprio organismo eliminou o verme irão dar positivos Não negativa após tratamento ELISA IgA fase aguda (sempre deve-se tratar, pois é fase aguda) IgG fase crônica DIAGNÓSTICO POR IMAGEM ULTRASSONOGRAFIA DE ABDOMEN Fibrose de Symmers Fibrose periportal: TRATAMENTO O tratamento depende da: Atividade parasitária se ainda há ovos e parasitas, deve- se fazer um antiparasitário. Já se não tiver mais a atividade parasitária, trata-se apenas os sintomas do paciente Forma clínica da doença Contraindicações do tratamento: Crianças com menos de 2 anos Gestantes espera-se ela ter o bebê para depois tratar a doença Pacientes em fase grave (Insuficiência Cardíaca, Insuficiência Renal, Icterícia...) MEDICAÇÕES: OXAMNIQUINE Via oral Dose única: Adultos 15 mg/kg, cápsulas de 250mg do sal Crianças 20mg/kg, Xarope de 50mg/mL PRAZIQUANTEL tratamento alternativo que, cada vez mais, vem sendo escolhido como primeira escolha devido a menor quantidade de efeitos colaterais Via oral Ativo também contra tênias Uso após a refeição Dose única mas também pode ser dividido em 2x com intervalo de 4h (se a dose for mais de 6 comprimidos, por exemplo) Adultos 50 – 60mg/kg, comprimido de 600mg Crianças 70mg/kg Na fase aguda, em pacientes muito sintomáticos (deve-se internar o paciente), pode-se associar PREDNISONA (1mg/kg) por 1 semana ao antiparasitário, reduzindo-se, em seguida, por mais duas semanas Fase crônica: Se ainda houver vermes Praziquantel ou oxamniquine Se não houver vermes tratamento conservador para melhorar a hipertensão portal (Ligadura de varizes ou Esplenectomia) CONTROLE DA CURA Pede-se: 6 exames parasitológicos de fezes (EPF 06 amostras) em dias consecutivos devem ser 6 porque, quando mais amostras pedidas maior será a sensibilidade do exame, sendo mais fácil de se encontrar ovos na amostra de fezes Para a confirmação da cura, todos os 6 exames devem ser negativos OU Biópsia retal confirmação da cura é quando não se visualiza ovos ou granulomas Se ainda vier com ovos viáveis deve-se repetir o tratamento Deve-se realizar um desses exames 30 dias após o início do tratamento PROFILAXIA Tratamento específico tratar todos os casos sintomáticos Deposição das fezes construção de fossas sépticas, melhorar o saneamento básico Prevenção do contato com água não usar águas que contenham caramujos Controle dos caramujos pela vigilância sanitária e pela vigilância ambiental
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