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1 EXAMES COMPLEMENTARES EM NEFROLOGIA Gizelle Felinto FUNÇÃO RENAL Filtração glomerular com eliminação de escórias nitrogenadas Eritropoiese eritropoetina Regulação do cálcio e fósforo túbulo contornado distal (PTH), promovendo reabsorção de cálcio Regulação da volemia ação do aparelho justaglomerular para mais ou para menos Controle da pressão arterial ação do sistema renina- angiotensina-aldosterona Regulação do balanço de potássio células intercaladas do ducto coletor, que trocam o H+ com o potássio Regulação da tonicidade do meio interno principalmente pela absorção do sódio a nível de ducto coletor (ação da aldosterona) e também pelo ADH, que atua no ducto coletor fazendo com que haja maior ou menor absorção de água Equilíbrio ácido-básico TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR (TFG) FILTRAÇÃO GLOMERULAR Normal 90 – 120mL/min para 1,73m2 de superfície corporal O cálculo da superfície corporal do indivíduo deve ser feito Quando se acha esse valor, deve-se fazer uma regra de 3 para saber qual a taxa de filtração para a superfície corporal do individuo Se for < 90 Insuficiência renal aguda ou crônica Se for > 120 Hiperfiltração renal (a longo prazo pode gerar hipertrofia das células renais e pode gerar esclerose glomerular) EX: pode ocorrer em OBESOS, que tem uma taxa de filtração glomerular que vai cada vez mais aumentando, pois o peso aumenta e há uma demanda alta, causando hiperfiltração cada vez maior, gerando lesão e esclerose renal EX: no DIABÉTICO, no início da doença há uma hiperfiltração renal A maneira que se tem de saber como está a filtração renal é calculando a TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR: Há aplicativos que calculam essa TFG, basta colocar os dados Idade, sexo, raça, peso, valor da creatinina sérica SUBSTÂNCIAS QUE PODEM SER USADAS PARA O CÁLCULO DA TFG: Creatinina (Cr) é a mais usada, pois é barata Clearance de Ureia varia muito, por isso não é tão usada Cistatina C é melhor que a Cr, mas é muito mais cara CREATININA (Cr) A creatinina degradada a partir da musculatura, que degrada formando creatina e creatinina (metabolismo da creatinina é pelo músculo) É muito usada para aplicar na formula de taxa de filtração glomerular Valor normal 0,6 – 1,3 mg/dL VANTAGENS: Detecção bioquímica é simples e barata A produção endógena é constante em um mesmo indivíduo DESVANTAGENS: mesmo com essas falhas, não se descaracteriza a boa aplicabilidade da creatinina no cálculo da taxa de filtração glomerular Variações na produção de creatinina (desnutrição ou perda de massa muscular, envelhecimento) Não apresenta relação linear com a TFG Fontes de erro RELAÇÃO CREATININA x TFG: A creatinina é inversamente proporcional à taxa de filtração glomerular Quanto maior a creatinina, automaticamente a TFG diminui. Assim, quando os níveis de creatinina aumentarem, infere-se que o paciente está PERDENDO FUNÇÃO RENAL Essa inversão não é linearmente proporcional! EX: uma creatinina de 1mg/dl em um paciente, no qual foi feita a TFG e encontrou-se o resultado de 100 ml/min. Essa creatinina aumentou, sendo agora no valor de 2mg/dl, mas não significa, necessariamente, que a TFG baixou para 50ml/min. Isso ocorre porque os néfrons, que estão muitos próximos uns dos outros, percebem que alguns néfrons perderam função e automaticamente, esses néfrons que ainda estão funcionando, aumentam seu trabalho para dar conta daquilo que foi perdido e para que não haja tanto déficit da função renal USOS CLÍNICOS DA MEDIDA DE CLEARANCE (OU TAXA DE FILTRAÇÃO) DETECÇÃO DE DOENÇA RENAL: Se essa taxa de filtração está caindo já se pode detectar que há uma doença renal, pode-se não saber a causa, mas já é possível ver que há uma doença renal AVALIAÇÃO DA PROGRESSÃO DAS DOENÇAS RENAIS: Ex: paciente com alguma comorbidade (DM, HAS, Doença Renal Crônica) no ano passado apresentava uma TFG = 70ml/min e agora retornou com uma TFG = 50ml/min, significa que ele está perdendo função renal. Assim, medidas devem ser tomadas, como a mudança da medicação, ajuste de dose, ver se o paciente está fazendo o uso correto da medicação, se está bebendo pouca água (lembrar que o CÁLCULO DA TFG FÓRMULA DE COCKCROFT E GAULT ��� = (140 − �����) � ���� 72 � ���������� �é���� � 0,85 (���ℎ��) Na mulher, multiplica-se por 0,85 Baseado no peso ideal do paciente (massa muscular), no metabolismo muscular (idade e gênero) e na medida da creatinina endógena: Cromógenos plasmáticos e secreção tubular. Hiperestima clearance em obesos e pacientes edemaciados Problemas: Uso da creatinina como marcador de TFG, Peso do paciente 2 EXAMES COMPLEMENTARES EM NEFROLOGIA Gizelle Felinto paciente deve evitar o uso de anti-inflamatórios, pois são nefrotóxicos) AVALIAÇÃO DO INÍCIO DA TERAPÊUTICA (DIÁLISE OU TRANSPLANTE RENAL): Ex: paciente com TFG < 10ml/min, sintomático (nauseado, vomitando...), com ureia alta AVALIAÇÃO PARA AJUSTE DA POSOLOGIA DE MEDICAMENTOS DE EXCREÇÃO RENAL: Correção da dosagem das medicações de acordo com a TFG. Se com o uso do medicamento está havendo a redução dessa taxa, é necessário fazer o ajuste da posologia (cada medicamento tem sua própria posologia!) TFG NO ESTADIAMENTO DA DOENÇA RENAL CRÔNICA (DRC): A DRC apresenta 5 estágios: Estágio 1 TFG > 90ml/min (teoricamente está normal, mas tem-se um marcador de lesão renal alterado) Estágio 2 TFG = 90 – 60ml/min Estágio 3 TFG = 60 – 30ml/min Estágio 4 TFG = 30 – 15ml/min Estágio 5 TFG < 15ml/min Assim, a TFG serve de substrato para que se possa estadiar a doença renal crônica CLEARANCE DE UREIA Valor normal ≤ 50 mg/dl em plasma Não é o ideal usar utilizar ureia para o calculo de TFG, pois a ureia é uma substância muito volátil/variável Ex: se tiver uma dieta rica e proteínas pode alterar e formar muita ureia Ex: se o paciente desidratar (diarreia), o organismo começa a reter ureia para que ela funcione como um elemento osmoticamente ativo e dentro do vaso ela sirva como um agente osmótico, retendo água dentro do vaso Se os níveis de ureia estão muito altos organismo está retendo ureia para que ela sirva como um agente osmoticamente ativo, retendo água dentro do vaso Concentração plasmática variável com Doenças hepáticas, sangramentos intestinais (amônia), drogas, bilirrubinas, ácido úrico e hiperlipidemia Uso clínico: Na redução da TFG renal há acúmulo de substâncias nitrogenadas no plasma Ureia = marcador de retenção nitrogenada Correlaciona-se com a clínica de falência renal (uremia) geralmente com valores acima de 200 mg/dl Ou seja, não se utiliza ureia para o cálculo de TFG A importância desse clearance de ureia é para mostrar que o indivíduo está retendo ureia para reter água OUTROS MÉTODOS PARA A AFERIÇÃO DA TFG A 51 Cr- EDTA, 125I-Iotalamato 99m Tc- DTPA 99mTc-MAG3 O problema dessas substâncias é que são exógenas, devem ser injetadas no vaso, são caras, nem todo laboratório faz, pode desenvolver reações alérgicas no paciente Cistatina C: Proteína livremente filtrada, de produção endógena, que é mais fidedigna que a Creatinina Produzida constantemente (inibidor de cisteína-proteases) Correlação linear com a TFG Não sofre as variações que a creatinina sofre (peso, desnutrição) Não se utiliza Cistatina C pelo seu CUSTO APLICAÇÃO PRÁTICA DA TFG A Taxa de filtração glomerular dá uma ideia da função global dos rins A TFG pode ser inferida através da dosagem plasmática de creatinina A variação da creatinina no plasma não está relacionada de forma linear com a TFG. Deve-se calcular o clearance teórico para se ter uma ideia mais precisa da função renal de um dado indivíduo: TFG= (140 – idade) x peso/72 x creatinina Na mulher multiplica-se a TFG por 0,85 Melhor uso App com cálculo CKD- EPI 2009 Ureia é um marcador útil para dimensionar o grau de retenção nitrogenada (Ex: em paciente que fez uma Insuficiência Renal Aguda pré-renal) SUMÁRIO DE URINA (EAS) PARA QUE SERVE AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA: Feita com tira reagente que detecta: Densidade urinária: Normal é entre 1015 a 1030 Fala a favor de uma urina diluída ou concentrada Baixa a densidade indicativo de que tem muita água (urina diluída) Ex: se beber muita água, a densidade da urina tende a ser baixa Ex: quando se bebe pouca água, a tendência é que a urina fique bem concentrada, com a densidade alta Glicose: Até 180mg/dL de glicose sérica os rins conseguem fazer a reabsorção de glicose. Se passar disso, geralmente, terá glicosúria Glicose na urina pode falar a favor do indivíduo ser diabético, ter alguma doença no túbulo contornado proximal (Doença de Fanconi) Substancias redutoras pH: 3 EXAMES COMPLEMENTARES EM NEFROLOGIA Gizelle Felinto Geralmente o pH urinário é ácido Paciente com pH urinário muito elevado pode falar a favor de alguma doença tubular renal Presença de Albumina: se há perda de proteínas é porque tem alguma lesão glomerular que está causando essa perda Microabuminúria de 24h o Normal até 30mg/dl o Perda apenas de albumina! o É quando há a perda da seletividade da membrana basal (alteração de poros, de cargas de proteoglicanos) por alguma alteração e, assim, está perdendo albumina o Pode-se ter microalbuminúria aumentada (> 30mg/dl) Proteinúria de 24h o Normal até 150mg/dl o Perda não é seletiva, pode ser perda de todo tipo de proteína (albumina, proteína de baixo peso molecular) Presença de hemácias e hemoglobina: Se detectar há alguma alteração O normal de perda de hemácias é uma média de 4 hemácias por campo Ex: indivíduo com 10 hemácias por campo avaliar se ele tem alguma alteração de glomerulopatia Bilirrubina: Ex: indivíduo hepatopata está perdendo bilirrubina na urina Leucócitos (piócitos): Se o indivíduo tiver alguma infecção de trato urinário, ele pode ter uma leucocitúria Nitrito: Em algumas infecções de trato urinário AVALIAÇÃO MICROSCÓPICA (SEDIMENTOS): Hemácias (forma) Leucócitos (agrupados ou não) Bactérias Cilindros: Cilindros cereos falam mais a favor de doenças glomerulares agudas Cilindros granulosos doença glomerular crônica Cristais cálculos renais ALTERAÇÕES DA COR DA URINA Amarelo Palha: Recente ingestão de líquidos Diabetes (tanto insípidus quanto mellitus) Âmbar: Presença de bilirrubina na amostra Alaranjada: Interferência de medicamentos, como Piridium (analgésico urinário) ou mesmo vitamina A Vermelha: Presença de hemácias e hemoglobina Mioglobina (no caso da Rabdomiólise) Porfirinas Castanha / Preta: Alcaptonúria (presença de ácido homogentísico) Presença de melanina Verde: Interferência de medicamentos (Amitriptilina, metocarbamol, indican e azul-de-metileno) AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA GLICOSE principalmente quando > 180mg/dl Diabetes Doença tubular no túbulo contornado proximal (Doença de Fanconi) PROTEÍNAS: Lesão na membrana basal glomerular, com perda na seletividade NITRITO: Infecção urinária bactérias produtoras de nitrito HEMÁCIAS: Doenças glomerulares (glomerulonefrites) LEUCÓCITOS: Infecção de trato urinário Piúria/leucocitúria estéril (com cultura de urina negativa) paciente com TB renal, pode-se fazer o sumário de urina, sempre está detectando piúria, com isso pede-se a cultura de urina e não dá a presença de bactérias. Isso fala muito a favor de Tuberculose renal pH (normal é aproximadamente 4,5 - 5): Geralmente é ácido Ex: se o paciente tem uma dieta rica em proteínas, pode ter um pH mais ácido ainda Densidade urinária: Muda de acordo com a quantidade de água ingerida Densidade baixa (1010 - 1005) urina diluída (bastante transparente) Densidade alta (> 1035) urina concentrada (mais amarelada) Pode indicar alguma deficiência tubular mecanismo de contra corrente não está dando de conta 4 EXAMES COMPLEMENTARES EM NEFROLOGIA Gizelle Felinto Se o paciente tiver proteinúria ou glicosúria, não tem como ter a densidade como parâmetro (ela vai estar alterada, mas não em valores confiáveis) ANÁLISE DO SEDIMENTO URINÁRIO O NORMAL É: Hemácias 2 - 4 por campo Leucócitos < 10 por campos, sem agrupamentos Quando passa desses valores pode-se ter alguma alteração (infecção urinária, glomerulopatia) CILINDROS: Geralmente não se vê cilindros em sumário de urina CILINDROS HIALINOS glomerulopatia aguda CILINDROS GRANULOSOS glomerulopatia crônica CRISTAIS: Não é comum de se ver Pacientes com probabilidade de formar cálculos renais DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL NA HEMATÚRIA Quadro paciente que fez o sumário de urina, acusando mais de 4 hemácias por campo e se quer saber se essas hemácias estão vindo do glomérulo ou não Faz-se através do dismorfismo eritrocitário exame que tem ótima acurácia (alta sensibilidade e especificidade). Avalia a morfologia das hemácias (se são dismórficas ou não) Faz-se esse exame quando há mais de 4 hemácias por campo no sumário de urina Positivo (hemácias dismórficas) lesão à nível de glomérulo (glomerulopatia) Negativo geralmente o sangue não é de ordem glomerular, é de algum outro sítio (ex: tumores) Nem sempre que há hematúria na urina significa dizer que o sangue veio dos rins. Esse sangue pode ser proveniente de outras patologias (tumor de próstata, tumor de bexiga, tumor uterino...) RESUMINDO – EXAME DE URINA Exame barato e de simples execução (fita custa cerca de R$ 0,50!) Fornece pistas importantes em doenças glomerulares, infecções do trato urinário, litíase, neoplasia de bexiga, mieloma múltiplo e outras doenças renais Lembre-se: Muitas doenças renais são assintomáticas e o sumário de urina pode fornecer sinal de alerta SENSIBILIDADE DA UROANÁLISE Se estiver em um local que não disponha do EAS, pode-se fazer o Dipstick, que são fitinhas com as quais pode-se detectar se há sangue, proteína na urina... Não tem sensibilidade muito boa para microalbuminúria O dipstick é muito utilizado por nefrologistas pediátricos PROTEINÚRIA E MICROALBUMINÚRIA Pode-se fazer pela: Coleta de urina 24h: O normal é: Proteinúria até 150mg/dl Microalbuminúria até 30mg/dl Amostra isolada de urina tem a mesma eficácia/validade da coleta de urina Quanto mais aumenta microalbuminúria, mais esses pacientes tem tendência a: Doenças cardiovasculares Evolução para doença renal crônica CONCLUSÃO A medida da TFG permite avaliar quantitativamente a função renal A análise da urina, através do sumário de urina, permite avaliar parcialmente alguns aspectos qualitativos e detectar proteinúria, hematúria e capacidade de concentração urinária
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