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1 TDAH E DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Gizelle Felinto TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO Sempre acontecem no período de desenvolvimento da criança Os primeiros sinais, sintomas e prejuízos funcionais estão presentes antes da fase adulta TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade) geralmente, os sintomas estão presentes antes mesmo dos 12 anos de idade Deve-se fazer diagnóstico e intervenções precoces Tratamento é multidisciplinar e transdisciplinar DSM-5 os transtornos do neurodesenvolvimento têm início no período do desenvolvimento, manifestando-se de forma precoce – em geral antes da criança ingressar na escola. Tem como características déficits no desenvolvimento que afetam o funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional. Esses transtornos variam desde limitações especificas (na aprendizagem ou no controle de funções executivas) até prejuízos globais (em habilidades sociais ou inteligência) Pode ocorrer mais de um transtorno em um mesmo indivíduo: Indivíduo com transtorno do espectro autista frequentemente apresentam deficiência intelectual Crianças com TDAH podem apresentar também um transtorno específico da aprendizagem INTELIGÊNCIA Capacidade de identificar e resolver novos problemas e encontrar as soluções mais satisfatórias possíveis Relaciona-se com o grau de rendimento psíquico Ganho funcional x Esforço empregado é importante na avaliação do TDAH ATENÇÃO! Não se deve considerar conhecimento formal, pois o paciente ter frequentado escola ou faculdade não é indicativo de que ele não pode ter um transtorno do neurodesenvolvimento AVALIAÇÃO DA INTELIGÊNCIA: Diferenças: Criança x anão Erro x mentira Saber x acreditar Semelhanças: Maçã – banana – melancia Mesa – cadeira – armário Interpretação de provérbios (capacidade de subjetividade): “Mais vale um pássaro na mão do que dois voando” “Nunca julgue um livro pela capa” Solução de problemas: “É melhor lavar uma escada de cima para baixo ou de baixo para cima?” O paciente pode se apresentar com: Expressão Mínima Ingênuo, apático e passivo Expressão Máxima paranoide, ansioso e desafiador DEFICIÊNCIA INTELECTUAL DSM-5 Caracteriza-se por déficits em capacidades mentais genéricas (raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e aprendizagem pela experiencia). Os déficits causam prejuízos no funcionamento adaptativo, assim o indivíduo não consegue atingir padrões de independência pessoal e responsabilidade social em um ou mais aspectos da vida diária, incluindo comunicação, participação social, funcionamento acadêmico e profissional e independência pessoal em casa ou na comunidade PREVALÊNCIA Prevalência varia de 1% a 3% em todo o mundo Quase duas vezes maiores em países de baixa e média renda que nos países de alta renda Prevalência de Deficiência Intelectual Grave 6 a cada 1000 CONCEITO AMPLIADO – DSM-5 Dimensão intelectual: Capacidade de raciocínio, solução de problemas, abstração, planejamento Testes de inteligência: Q.I Função adaptativa (necessidade de apoio em pelo menos um): Domínio de conceitos: memória, linguagem, leitura Habilidade social: empatia, comunicação, amizades Ocupações práticas: vida doméstica, finanças, trabalho GRAVIDADE É definida de acordo com um conjunto de critérios diagnósticos: LEVE: Mais comuns Melhor desempenho Mais independência Mais sofrimento psíquico Menos comorbidades neurológicas PROFUNDO: Menos comuns Menor desempenho Menos independência Menos “vivência” psíquica Mais comorbidades neurológicas Deficiências sensoriais ETIOLOGIA PRÉ-NATAL (antes do nascimento): DISTÚRBIOS CROMOSSÔMICOS: Síndrome de Down Síndrome do X frágil Síndrome de Prader Willi Síndrome de Klinefelter DESORDENS DE GENE ÚNICO: 2 TDAH E DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Gizelle Felinto Erros inatos do metabolismo, como galactosemia Fenilcetonúria Mucopolissacaridoses Hipotireoidismo Doença de Tay-Sachs Síndromes neuro-cutâneas, como esclerose tuberosa e a neurofibromatose Malformações cerebrais como microcefalia genética, hidrocefalia e mielomeningocele Outras síndromes dismórficas, como síndrome de Laurence-Moon-Biedl OUTRAS CONDIÇÕES DE ORIGEM GENÉTICA: Síndrome de Rubimstein-Taybi Síndrome de Cornélia de Lange INFLUÊNCIAS AMBIENTAIS ADVERSAS: Deficiências, tais como de iodo e deficiência de ácido fólico Desnutrição grave na gravidez Uso de substâncias como álcool (síndrome alcoólica fetal), nicotina e cocaína durante o início da gravidez Exposição a outros produtos químicos prejudiciais, tais como poluentes, metais pesados, abortivos e medicamentos prejudiciais, tais como a talidomida, fenitoína e varfarina no início da gravidez Infecções maternas, como rubéola, sífilis, toxoplasmose, citomegalovírus e HIV Outros, como a exposição excessiva à radiação e incompatibilidade Rh PERINATAL (em torno da época de nascimento): TERCEIRO TRIMESTRE (final da gravidez): Complicações da gravidez Doenças na mãe, tais como doenças cardíacas e renais, diabetes Disfunção placentária TRABALHO DE PARTO (durante o parto): Prematuridade severa, muito baixo peso ao nascer, asfixia ao nascer Parto difícil ou complicado Trauma de nascimento NEONATAL (quatro primeiras semanas de vida): Septicemia, icterícia grave, hipoglicemia PÓS-NATAL (na infância e adolescência) estudos mostram que a prevalência de parasitas está relacionada com a distribuição de declínio cognitivo em crianças DIAGNÓSTICO ANAMNESE E EXAME FÍSICO: História familiar Condições de nascimento Sinais sindrômicos CONSIDERAR CONTEXTO Ex: “ele é o único dos irmãos que não sabe ler” FOCO NA CAPACIDADE DE SE ADAPTAR NAS EXIGÊNCIAS DA VIDA: “Nunca soube andar na cidade” “Não sabe pedir o troco” DSM-5 PARA O DIAGNÓSTICO DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL DEVEM SER PREENCHIDOS OS 3 SEGUINTES CRITÉRIOS: 1. Déficits em funções intelectuais (raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e aprendizagem pela experiência) devem ser confirmados tanto pela AVALIAÇÃO CLÍNICA quanto por TESTES DE INTELIGÊNCIA PADRONIZADOS E INDIVIDUALIZADOS 2. Déficits em funções adaptativas que resultam em fracasso para atingir padrões de desenvolvimento e socioculturais em relação a independência pessoal e responsabilidade social. Sem apoio continuado, os déficits de adaptação limitam o funcionamento em uma ou mais atividades diárias, como comunicação, participação social e vida independente, e em múltiplos ambientes, como em casa, na escola, no local de trabalho e na comunidade 3. Inicio dos déficits intelectuais e adaptativos durante o período de desenvolvimento QUADRO CLÍNICO Fala linguagem limitada, vocabulário pobre Percepção dificuldade de perceber detalhes Cognição dificuldade cognitiva Concentração e memória a concentração é estreita, ele foca em determinado objeto e tem muita facilidade de se distrair Emoção dificuldade de elaborar e processar emoções Movimentos e comportamento agitação psicomotora, agressividade, movimentos estereotipados Dificuldade de lidar com frustrações CONDUTA INTERDISCIPLINAR: Treinamento de habilidades sociais, vocacionais Desenvolver comunicação e experiencia de grupo Fonoaudiólogo: linguagem e dificuldades de leitura e escrita Escolarização: salas de recursos multifuncionais, individualização Possibilidades de adaptação ao ambiente Desenvolver AUTONOMIA! PSIQUIÁTRICA: Excluir possível etiologia médica geral (excluir a possibilidade de ser uma etiologia reversível, pois em geral o déficit intelectualvai ser irreversível) se for necessário deve-se solicitar exames complementares Indicar psicoterapia nos casos possíveis retardo mental leve Usar PSICOFÁRMACOS somente em situações pontuais: Agressividade Impulsividade Desatenção Pode-se medicar com ANTIDEPRESSIVOS, pois os pacientes com retardo mental, geralmente, são pessoas muito ansiosas 3 TDAH E DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Gizelle Felinto Cuidado com comorbidades associadas! essas medicações podem causar muita perda de peso COMORBIDADES PSIQUIÁTRICAS Algumas até 3x mais frequentes que a população geral Quase 40% dos deficientes sofrem de alguma comorbidade: Autismo Transtorno bipolar Depressão (é frequente) Transtornos de ansiedade fobia social, ansiedade generalizada TDAH Cuidado com SUBDIAGNÓSTICO! TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH) EPIDEMIOLOGIA Alta taxa de prevalência para amostra global 5% Variações culturais Tende a aparecer mais nas culturas que valorizam mais o desempenho, as performances Maior ocorrência em familiares (há característica genética): 2x maior que na população geral É subdiagnosticado nos adultos: Metade dos pacientes persistem (2,5% da população) Há alguns transtornos em que se não tratar o TDAH não se consegue continuar a terapia da outra comorbidade (como ansiedade) Cuidados: Bombardeio de informações (celular, TV, tablet) viés ambiental Confusão com a falta de limites na criação Confundir com as atividades normais de uma criança (correr, brincar, desafiar, descobrir coisas novas) TRANSTORNOS DISPERSIVOS DE APRENDIZADO: DISLEXIA incapacidade de compreender e interpretar símbolos. O paciente começa a perdes a capacidade de prestar atenção O ambiente é determinante para as características e a intensidade dos sintomas do TDAH Metade dos pacientes que tem TDAH na infância, vão persistir na idade adulta Causas (hipóteses presentes em estudos): prematuridade, cesariana não indicada, exposição ao tabaco. Adesão a um estilo de vida mais saudável tende a diminuir a prevalência ATENÇÃO! TDAH NÃO É SINÔNIMO DE BAIXO DESEMPENHO, POIS O PACIENTE PODE APRESENTAR TDAH E TER UM QI ELEVADO DESATENÇÃO CRITÉRIOS Antes dos 12 anos, 6 ou mais sintomas, em dois ou mais ambientes, por no mínimo 6 meses: Não prestar atenção a detalhes, cometer erros em atividades Dificuldade em manter atenção em tarefas ou atividades lúdicas Parece não ouvir quando chamado Não segue instruções, não termina seus deveres Dificuldade de se organizar Evita se envolver em tarefas que exijam esforço mental constante Perde objetos necessários para realização das tarefas É facilmente distraído por estímulos externos Apresenta esquecimento para atividades cotidianas Há estudos mostrando que há um atraso da maturidade cortical de acordo com a gravidade do transtorno APRESENTAÇÃO: ANOS PRÉ-ESCOLARES: Jogos em sequências curtas (< 3min) Deixam atividades incompletas Não “escutam” Na idade pré-escolar é menos diagnosticado, pois a cobrança nessa fase é menor ANOS DA ESCOLA PRIMÁRIA: Atividades breves (< 10min) Mudanças prematuras de atividades São esquecidos, desorganizados, distraídos ADOLESCÊNCIA: Menor persistência que os colegas (< 30min) Falta de foco nos detalhes de uma tarefa Planejamento prévio pobre FASE ADULTA: Detalhes não são concluídos Esquecimento de compromissos Falta de prospectiva Essas alterações devem ser uma coisa mantida, constante, um padrão de comportamento HIPERATIVIDADE/IMPULSIVIDADE CRITÉRIOS Antes dos 12 anos, 6 ou mais sintomas, em dois ou mais ambientes, por no mínimo 6 meses: Agita as mão ou pés na carteira, se remexe Dificuldade em permanecer sentado Corre ou escala em excesso em situações impróprias (em adultos há um sentimento subjetivo de inquietação) Dificuldade para brincar ou realizar atividade de lazer em silêncio Frequentemente está “a mil” ou “a todo vapor” Fala em demasia Responde perguntas antes de serem formuladas Dificuldade de esperar sua vez Interrompe conversas e se intromete 4 TDAH E DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Gizelle Felinto APRESENTAÇÃO: HIPERATIVIDADE ANOS PRÉ-ESCOLARES: São inquietos ANOS DA ESCOLA PRIMÁRIA: Agitação, quando é esperado que estejam calmos ADOLESCÊNCIA: Impaciência FASE ADULTA: Sentimentos subjetivos de inquietação APRESENTAÇÃO: IMPULSIVIDADE ANOS PRÉ-ESCOLARES: Não obedecem Ausência de senso de perigo ANOS DA ESCOLA PRIMÁRIA: Ações fora de hora interrompem outras crianças, deixando escapar respostas Quebram regras Intrusão entre colegas acidentes ADOLESCÊNCIA: Autocontrole pobre Assumem riscos de forma imprudente FASE ADULTA: Acidentes automobilísticos e outros acidentes risco 5x maior do que a população geral Tomada prematura e insensata de decisões Impaciência EVOLUÇÃO DOS SINTOMAS AO LONGO DO TEMPO As comorbidades relacionadas ao TDAH tendem a ser reconhecidas a partir da adolescência SINTOMAS E CIRCUITOS TDAH como transtorno do córtex pré-frontal (área que fornece o controle do impulso): Atenção seletiva Manutenção da atenção e resolução de problemas associado ao córtex pré-frontal dorsolateral Sintomas de hiperatividade associado ao córtex motor Sintomas de impulsividade associados ao córtex orbitofrontal Além dos circuitos e da diminuição da maturação cortical, existe uma disfunção noradrenérgica e dopaminérgica. São esses dois neurotransmissores que são responsáveis pelos sintomas de TDAH NEUROTRANSMISSORES: Noradrenalina hiperatividade Existem pacientes que fumam para se concentrar ou até mesmo que colocam o dedo na tomada para levar choque, pois gostam da sensação Dopamina repetição de tarefas e atenção 5 TDAH E DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Gizelle Felinto INTERVENÇÕES INTERVENÇÕES COM BAIXO NÍVEL DE EVIDÊNCIA: Acupuntura Meditação Homeopatia Exercício físico Erva de São João Musicoterapia Florias de Bach Dietas purgantes O QUE FUNCIONA? Tratamento baseado em evidência melhor evidencia para estimulantes Terapia comportamental também efetiva em casos leves ou moderados Psicoeducação para pais e escola muito importante, pois são eles que estão diariamente com o paciente Em crianças menores de 6 anos deve-se ao máximo evitar medicação. Medicação sempre como ultima alternativa, quando não tem mais jeito. TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO Psicoeducação Medidas ambientais (para pais e professores): Atenção acadêmica especial, tarefas curtas e bem explicadas Diminuir o estímulo, pedir ao paciente para sentar na fila da frente e participar de uma sala com poucos estudantes Terapia cognitivo-comportamental: Correção do aprendizado disfuncional, reforço do comportamento planejado Mais útil nos casos com comorbidades, duvidosos ou na resistência familiar TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Medida padronizada e exata para liberação de dopamina. O neurônio pré-sináptico vai liberar dopamina, que se encaixa nos neurônios pós-sinápticos. Logo a dopamina livre será recaptada. Os fármacos vão servir para diminuir a recaptação, na hora em que diminuir vai ficar sempre sobrando dopamina e noradrenalina na fenda sináptica Os fármacos atuam em receptores D1 (Dopaminérgicos) e receptores Noradrenérgicos, impedindo a recaptação de Dopa e de Nora, permitindo sua presença por mais tempo na fenda sináptica Duração enquanto houver sintomas, possibilidade de interromper em finais de semana pois geralmente a demanda é mais educacional. As vezes se suspende durante as férias, ou diminui, para depois reavaliar o paciente e a necessidade domedicamento ESTIMULANTES: METILFENIDATO (Ritalina): Início após os 6 anos de idade Resposta em 75% dos casos Inibe recaptação de dopamina e noradrenalina Melhora o foco e a atenção, mas a memorização diminui Formulações que aumentam meia-vida o normal são 4h de duração Efeitos adversos: Ansiedade Insônia Piora de tiques Interrupção do crescimento (porém, o impacto é baixo) Taquicardia e hipertensão arterial NÃO ESTIMULANTES: Eficácia inferior Mecanismos de ação indiretos Aumento de noradrenalina, agonismo dopaminérgico indireto Possíveis indicações: Intolerância aos estimulantes Tiques História de abuso de substâncias Comorbidade com ansiedade/depressão IMIPRIMINA antidepressivo tricíclico BUPROPIONA tratamento do tabagismo, pois diminui a necessidade do reforço dopaminérgico CLONIDINA anti-hipertensivo (é o “Coringa” da Psiquiatria)
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