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1 CEFALEIAS Gizelle Felinto INTRODUÇÃO ➢ CONCEITO → Cefaleia é todo processo doloroso referido no segmento cefálico, com origem em estruturas faciais ou cranianas ➢ EPIDEMIOLOGIA: • Estima-se que 80% da população apresentará dor de cabeça pelo menos 1 vez no ano e que 50% terá recorrência do episódio no mesmo ano (2 episódios no ano) ➢ ESTRUTURAS SENSÍVEIS À DOR: • Estruturas faciais superficiais e profundas (seios da face, região interna do nariz, orofaringe...) • Couro cabeludo • Periósteo craniano → localizado entre o couro cabeludo e os ossos cranianos (a região interna dos ossos não tem periósteo) • Grandes vasos sanguíneos extracranianos (Artéria carótida interna, Artérias vertebrais, Artéria carótida externa, Artéria carótida comum, vasos da face...) • Artérias do polígono de Willis e porções extracerebrais de seus ramos (cerebral anterior, cerebral média, cerebral posterior, comunicante anterior, comunicante posterior, basilar...) • Grandes seios venosos intracranianos (seio reto, transverso, sigmoide...) e suas veias tributárias • Dura-máter basal → dura-máter na base do crânio • Nervos sensitivos ➢ ESTRUTURAS NÃO SENSÍVEIS À DOR: • Ossos da calota craniana • Leptomeninges (pia-máter e aracnóide) e maior parte da dura-máter (exceto a dura-máter basal) • Parênquima encefálico • Vasos localizados no interior do parênquima CLASSIFICAÇÃO ➢ A Classificação Internacional das Cefaleias encontra-se atualmente na sua 3ª edição (2018). Assim, de acordo com essa classificação, as dores de cabeça são divididas em 3 partes: • Primeira Parte → CEFALEIAS PRIMÁRIAS ▪ Tem-se 4 grupos de cefaleias: ✓ Enxaqueca ou Migrânea ✓ Cefaleia Tensional ✓ Cefaleias Trigêmino-autonômicas ✓ Outras Cefaleias Primárias → necessariamente, precisa-se descartar que a cefaleia é secundária, investigando a presença de processo patológico secundário, para poder classificar ela como sendo primária ▪ Quando se está diante de um paciente com dores de cabeça recorrentes (vários casos de dor de cabeça), há 80% de chance de ser uma ENXAQUECA ou uma CEFALEIA TENSIONAL → isso é diferente de um caso em que uma dor de cabeça se iniciou recentemente em uma pessoa que antes não tinha dor de cabeça e que, ao longo dos dias, tem piorado sua intensidade, por exemplo • Segunda Parte → CEFALEIAS SECUNDÁRIAS ▪ Ocorrem em decorrência de uma outra patologia ▪ Tem-se 8 grupos de cefaleias: ✓ Cefaleias atribuídas a traumatismo craniano e/ou cervical ✓ Cefaleias atribuídas a doença vascular cerebral e/ou cervical ✓ Cefaleias atribuídas a patologia intracraniana não-vascular ✓ Cefaleias atribuídas ao uso ou privação de substância ✓ Cefaleias atribuídas a infecção ✓ Cefaleias atribuídas a perturbação da homeostasia ✓ Cefaleia ou dor facial atribuídas a patologia do crânio, pescoço, olhos, ouvidos, nariz, seios perinasais, dentes, boca ou outra estrutura facial ou cervical ✓ Cefaleias atribuídas a doenças psiquiátricas ▪ São cefaleias raras → assim, não se pode fazer uma investigação de cefaleia secundária em todo paciente. Dessa forma, investiga-se cefaleia secundária quando não se tem dores de cabeça compatíveis com enxaqueca, cefaleia tensional ou cefaleias trigêmino- autonômicas, mas que tenham critérios de gravidade/sinais de alarme, como: ✓ Cefaleias fora da faixa etária, como em idosos ✓ Cefaleia nova em paciente imunossuprimido ✓ Cefaleia que mudou totalmente o seu padrão ✓ Cefaleia que vem gradativamente piorando ✓ Cefaleia com alteração do exame neurológico → rebaixamento do nível de consciência, crise convulsiva, alterações do exame físico... ✓ Presença de febre e/ou emagrecimento junto à dor de cabeça... • Terceira Parte → NEUROPATIAS CRANIANAS DOLOROSAS, OUTRAS DORES FACIAIS E OUTRAS CEFALEIAS ▪ Tem 2 grupos de cefaleias: ✓ Lesões dolorosas dos nervos cranianos e outras dores faciais ✓ Outras cefaleias ➢ Quando investigar um processo patológico secundário → quando se tem dores de cabeça do grupo das cefaleias primárias (exceto as clinicamente compatíveis com enxaqueca, cefaleia tensional ou cefaleias trigêmino-autonômicas) ou quando se tem sinais de alarme ATENÇÃO! A intensidade da dor não é proporcional à gravidade da lesão Ex: paciente sem qualquer lesão cerebral pode ter uma dor de cabeça muito mais intensa do que a dor de cabeça de uma pessoa com um tumor cerebral 2 CEFALEIAS Gizelle Felinto MIGRÂNEA ou ENXAQUECA EPIDEMIOLOGIA ➢ É a segunda cefaleia mais comum no mundo → epidemiologicamente, a cefaleia tensional é a mais comum, mas em consultas médicas, tanto em pronto-socorro quanto em ambulatórios, a mais comum de aparecer é a enxaqueca/migrânea. Assim, a enxaqueca é a cefaleia mais comum nos prontos-socorros/ambulatórios, mas não é a mais comum no mundo, posição ocupada pelas cefaleias tensionais ➢ É a mais comum em consultas médicas (pronto-socorro e ambulatório) ➢ Prevalência: • Mulheres (17%) → sendo quase 3 vezes mais comum nas mulheres do que nos homens • Homens (6%) ➢ 25% dos casos já começam com as primeiras crises antes dos 10 anos de idade ➢ A maioria dos casos (80 – 90%) iniciam-se antes dos 20 anos de idade ➢ Há história familiar positiva em 2/3 dos casos de enxaqueca ➢ A migrânea não engloba apenas dores de cabeça, podendo-se ter outros fatores associados à essa enxaqueca em dias nos quais o paciente pode ou não apresentar a dor de cabeça, por exemplo. Exemplos disso são: maior dificuldade para raciocinar, humor mais hipotímico, enjoos... ➢ Pessoas que tem enxaqueca tem implicações sociais, familiares e laborais, como: • Escolaridade inferior • Maior associação com ansiedade e/ou depressão • Maior possibilidade de divórcio (principalmente se a mulher é a portadora da migrânea) • Maior absenteísmo/ausência ao trabalho • Intercrises → entre as crises, o paciente pode apresentar-se com: ▪ Letargia ▪ Ansiedade ▪ Depressão ▪ Fadiga ▪ Vertigem postural ▪ Falta de concentração ▪ Visão borrada ▪ Fotofobia ▪ Fonofobia ▪ Náusea ▪ Mãos/pés frios CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS A. Pelo menos 5 episódios preenchendo os critérios B a D • Assim, no primeiro episódio não se pode dar o diagnóstico de enxaqueca, podendo-se chamar de uma provável crise migranosa, mas pode ser que o paciente nunca venha a ter outra crise igual a essa B. Episódios de cefaleia com duração de 4 a 72 horas (para crise não tratada ou tratada sem sucesso) • Se tratar esse paciente desde o início da crise esse tempo de duração irá diminuir, abortando a crise C. A cefaleia tem, pelo menos, 2 das 4 características seguintes: 1. Localização unilateral → frontal, temporal, parietal unilateral... ▪ Na maioria das vezes, inicia-se apenas de um lado. Essa cefaleia é denominada migrânea porque em um momento pode se iniciar do lado direito e em outro momento do lado esquerdo, por exemplo 2. Pulsátil → o paciente relata: como se tivesse um coração batendo, como algo latejando ou como marteladas na cabeça 3. Dor de intensidade moderada ou grave → para saber a gravidade desse quadro álgico deve-se saber o quanto ela impede o paciente de realizar as atividades que ele tinha preparado para aquele dia (essa dor de cabeça impede ou atrapalha de forma demasiada as atividades do dia-a-dia) ▪ Não se utiliza a escala analógica da dor (perguntar ao paciente de 1 a 10 qual a intensidade da dor) para saber se ela é moderada ou grave, pois é algo subjetivo do paciente ▪ Paciente precisa parar as atividades do dia por causa da dor de cabeça? ✓ Sim (não realiza ou faz muito mal feitas e o mais rápido possível) → enxaqueca ✓ Não (consegue fazer mesmo com a dor) → fala mais a favor de uma cefaleia leve, como a cefaleia tensional 4. Piora com atividade física rotineira (andar, subir escadas,lavar louças, assinar algum documento...) D. Durante a cefaleia, pelo menos, 1 dos seguintes: 1. Náuseas e/ou vômitos 2. Fotofobia e fonofobia → é necessária a presença dos dois para que se tenha o diagnóstico de enxaqueca ▪ Ex: Se o paciente não tem náusea, nem vômito e nem fonofobia, apresentando apenas fotofobia, não se pode fechar o diagnóstico de enxaqueca, mesmo que ele preencha todos os outros critérios E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3 (classificação internacional de cefaleias) CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS - ALGUMAS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ➢ Fonofobia → a conversa em tom normal incomoda muito o paciente ➢ Fotofobia → a luz normal de um ambiente incomoda o paciente como se fosse uma luz muito forte (assim, tipicamente, o paciente acaba indo para um quarto escuro) ➢ Osmiofobia → intolerância a odores. Paciente pode sentir um desagrado/incomodo com os cheiros normais do seu dia-a-dia ➢ Considerações: • 80% dos pacientes tem fotofobia • 60% tem náuseas • 30% tem vômitos → tipicamente, o vômito melhora a crise de dor de cabeça 3 CEFALEIAS Gizelle Felinto ▪ Isso ocorre porque o vômito é realizado pelo nervo vago, causando uma descarga adrenérgica que ajuda a melhorar a crise ▪ Após vomitar, o paciente pode ter uma sudorese, tem uma redução gradual da dor e em 30-40min a dor melhora ▪ O paciente tem uma náusea que leva ao vômito → o que difere da hipertensão intracraniana, na qual o paciente tem um tumor, por exemplo, e, sem ter tido náuseas, vomita. Assim, um vômito em jato, e tipicamente pela manhã, fala mais a favor de uma hipertensão intracraniana (Ex: paciente foi dormir com dor de cabeça e pela manhã acordou vomitando do nada sem ter tido qualquer vontade de vomitar/náusea). Além disso, na hipertensão intracraniana, a dor diminui por um período de tempo, mas não melhora, retornando a piorar depois desse tempo • 60% tem início unilateral ▪ 40% dos casos tem início bilateral • Os pacientes também podem apresentar (sintomas parassimpáticos, mas não estarão tão evidentes, pois dores de cabeça tipicamente ocorrendo no território do nervo trigêmeo e com sintomas autonômicos tem outra classificação): ▪ Diarreias ▪ Retenção hídrica ▪ Oligúria ▪ Congestão nasal e/ou conjuntival ▪ Palidez ▪ Sudorese • A dor de cabeça é pulsátil ou latejante na maioria das vezes → o paciente não necessariamente tem dor pulsátil, pois nos critérios diagnósticos não é obrigatório que a dor tenha essa característica • A dor de cabeça piora durante o período menstrual → assim, geralmente, as mulheres reclamam que a dor de cabeça fica mais intensa no período menstrual. Porém, isso é diferente de ocorrer apenas no período menstrual. Assim, quando se tem uma epilepsia ou uma cefaleia que ocorre exclusivamente no período menstrual, chama-se de epilepsia ou cefaleia Catamenial (isso é apenas uma classificação, pois o tratamento é muito semelhante ao das outras dores de cabeça) AURA ➢ O paciente pode ou não ter aura ➢ A aura não é critério diagnóstico para migrânea. Ela apenas classifica a migrânea em migrânea com aura ou migrânea sem aura ➢ Critérios diagnósticos da Aura: A. 1 ou mais dos seguintes sintomas neurológicos (de aura), que são totalmente reversíveis (é autolimitada): ▪ Visual → é o mais comum ▪ Sensitivo ▪ Fala e/ou linguagem → Ex: disartria ou afasia ▪ Motor → Ex: hemiparesia ▪ Tronco cerebral → Ex: disfagia, disartria, diplopia, ataxia, rebaixamento do nível de consciência ▪ Retiniano B. Pelo menos 3 das 6 características seguintes: 1. Pelo menos um sintoma de aura alastra/vai crescendo gradualmente em 5 ou mais minutos 2. Dois ou mais sintomas de aura ocorrem sucessivamente 3. Cada sintoma individual de aura dura 5 a 60 minutos 4. Pelo menos um sintoma de aura é unilateral ✓ Tipicamente, na maioria dos casos, é ipsilateral/homolateral (do mesmo lado) à dor 5. Pelo menos um sintoma de aura é positivo 6. A aura é acompanhada, ou seguida em 60 minutos, por cefaleia → é o que mais ocorre ➢ Exemplo → tem-se um embaçamento/escotoma visual que vai aumentando de tamanho ao longo de 5 ou mais minutos de forma lenta e, com o tempo, começa a estabilizar e se apagar. Dentro de 60 minutos inicia-se a dor latejante/pulsátil, provavelmente do mesmo lado da aura, que vai aumentando de intensidade e se desenvolvendo a crise de enxaqueca ➢ Assim, pacientes que tem migrânea com aura sabem que após o episódio de aura terão dor de cabeça ➢ AURA VISUAL: • É a aura mais comum • Pode ter fenômenos positivos (luzes, cores, cintilantes) ou negativos (escotomas) Espectro de fortificação (com formas geométricas) - Paciente apresenta evolução da aura e no tempo 25 (figura D) apresenta resolução da parte central, apresentando aura apenas nas partes mais periféricas Espectro de fortificação 4 CEFALEIAS Gizelle Felinto • A aura da enxaqueca é mais duradoura que a crise epiléptica visual ➢ AURA MIGRANOSA SEM DOR: • Episódios de aura não seguidos pela dor • Exemplo → paciente que tem diagnóstico de migrânea com aura, e que já teve várias crises ao longo do tempo, que apresenta uma aura que não é seguida de uma dor MIGRÂNEA CRÔNICA ➢ É diferente da migrânea episódica ➢ Não é classificada de acordo com o tempo → não significa dizer que um paciente que tem enxaqueca há mais de 10 anos tem uma migrânea crônica ➢ Caracteriza-se por cefaleia ocorrendo em 15 ou mais dias por mês, durante mais de 3 meses, em que pelo menos em 8 dias por mês tem as características que fecham critérios para enxaqueca, ou seja: • Mais da metade do mês tem dor de cabeça + 1/4 do mês tem crises de enxaqueca COMPLICAÇÕES DAS MIGRÂNEAS ➢ Estado de Mal Enxaquecoso → cefaleia com duração maior que 72 horas • Independente de ter sido tratada ou não ➢ Aura Persistente sem Infarto → aura com duração maior que 1 semana, sem infarto na neuroimagem ➢ Infarto migranoso → aura que persiste por mais de 60 minutos e infarto na neuroimagem • Aura dura mais de 60 min → Tipicamente, quando a aura dura mais de 60 minutos já se deve se preocupar com essa aura e investigar, no exame de imagem (que deve ser a Ressonância, pois tem melhor resolução) para investigar se ela gerou um infarto ➢ Cris Epiléptica Desencadeada por Enxaqueca com Aura → crise epiléptica provocada por um episódio de enxaqueca com aura, ocorrendo até 1 hora após o episódio de aura ➢ Cefaleia por Abuso de Analgésicos → geralmente quando o paciente faz uso de mais de 3 comprimidos de analgésicos por semana • Exemplo: uma menina que teve a primeira menstruação aos 12 anos e logo após começou a ter crises de enxaqueca que ficam piores no período menstrual, mas que também ocorrem fora desse período. Se essa criança não procura um médico e fica apenas se automedicando com analgésicos durante suas crises, aumentando o número de tomadas cada vez mais com o passar dos anos. Quando ela chega a 3 comprimidos analgésicos por semana, ela já começa a viciar o seu corpo em analgésicos. Assim, essa paciente terá, por exemplo, 2 crises de enxaqueca na semana e nos outros 5 dias terá apenas dores de cabeça que representam o corpo sentindo os sintomas de abstinência, para fazer com que a paciente tome analgésico • Assim, o tratamento para enxaqueca não tem como base as medicações abortivas (analgésicos), mas sim as preventivas, que o paciente toma todos os dias para reduzir consideravelmente o número e o risco de crises de enxaqueca SINTOMAS ➢ SINTOMAS PREMONITÓRIOS → horas ou 1 dia antes da crise de enxaqueca • Sintomas que fazem com que o paciente saiba que terá uma crise migranosa • Os sintomas são: ▪ Fadiga ▪ Dificuldade de concentração ▪ Rigidez cervical ▪ Foto e fonofobia → sensibilidade à luz e/ou som ▪ Náuseas▪ Visão embaçada ▪ Bocejo ▪ Palidez ➢ SINTOMAS DE RESOLUÇÃO → até 48 horas após a enxaqueca • Fadiga • Dificuldade de concentração • Rigidez cervical FISIOPATOLOGIA Fosfenas (brilhos) Escotomas - Geralmente é no centro da visão - Para onde o paciente olha a mancha continua no mesmo lugar da visão 5 CEFALEIAS Gizelle Felinto ➢ O paciente que tem enxaqueca tem uma predisposição genética com alterações nos canais de cálcio, promovendo uma hipersensibilidade neuronal no tronco cerebral (assim, os pacientes com enxaqueca atravessam o limiar da dor de forma mais fácil do que as pessoas que não tem), bastando apenas um desencadeante para que esse paciente desenvolva a enxaqueca. Esse desencadeante inicia um processo denominado depressão alastrante, que é um fenômeno cortical e não vascular, como acreditava-se antigamente, pois esse fenômeno não respeita territórios vasculares e a depressão alastrante tem velocidade semelhante à da aura (3mm/min), demonstrando-se que a migrânea é um mecanismo de inflamação neuronal cortical, e não vascular. Essa depressão alastrante também ativa o núcleo do nervo trigêmeo (através do gene C-fos), havendo ativação do sistema trigeminovascular da dor ➢ Em outras palavras → tem-se o Sistema Nervoso Central (SNC) com predisposição genética, causando uma hiperexcitabilidade maior que o normal. Assim, quando ocorre a exposição a determinados desencadeantes, que fazem com que essa hiperexcitabilidade ultrapasse o limiar da dor, inicia-se a depressão alastrante, que vai, centralmente, ativar o núcleo do trigêmeo (sistema trigemino-vascular), onde está localizada a dor. Perifericamente, também haverá a ativação do sistema trigemino-vascular com fibras simpáticas, parassimpáticas e substâncias locais, agindo nos vasos. Tanto as alterações centrais quanto as periféricas levam à liberação de substâncias vasodilatadoras ou vasoconstritoras. Essas substâncias liberadas nos vasos irão voltar na fibra sensitiva, da periferia para o SNC, para a ativação, novamente, do sistema trigemino- vascular da dor. Ainda, no sentido das fibras simpáticas e parassimpáticas, do centro para a periferia, haverá a liberação de substâncias também vasoativas ➢ Depressão alastrante: • Vai se alastrando corticalmente, sem respeitar territórios vasculares • Todos os indivíduos com enxaqueca têm essa depressão alastrante, mas ela pode ou não se expressar clinicamente • A vasoconstrição cortical reativa que ocorre inicialmente pode dar sintomas neurológicos, que são, em alguns indivíduos, a aura • Assim, a expressão clínica da depressão alastrante é a aura • No SNC → ativa o núcleo do trigêmeo, causando dor ▪ Substâncias vasoativas que seguem o caminho das fibras simpáticas e parassimpáticas: ✓ Fibras parassimpáticas: o Peptídeo vasoativo intestinal (VIP) o Acetilcolina (ACh) o Óxido nítrico (NO) ✓ Fibras simpáticas: o Noradrenalina (NA) o Peptídeo Y (NPY) • Na periferia (SNC) → age sobre os vasos (as substâncias retornam para o SNC, ativando novamente o sistema trigemino-vascular da dor) ▪ Os vasos liberam: ✓ Substância P (SP) ✓ CGRP → proteína relacionada ao gene da calcitonina ✓ Neuroquinina A (NKA) ✓ Endotelina (ET) ✓ Óxido Nítrico (NO) ➢ Substâncias Vasodilatadoras: • A vasodilatação é a segunda etapa • Agem principalmente no momento em que o paciente está com dor • A dor, na maioria dos casos, é pulsátil justamente por causa dessa vasodilatação após a vasoconstrição. Assim, cada etapa de vasodilatação das artérias vai gerar a dor • Liberadas pelo sistema nervoso parassimpático: ▪ Acetilcolina (ACh) ▪ Peptídeo vasoativo intestinal (VIP) ▪ Óxido nítrico (NO) • Liberadas pelo endotélio: ▪ Substância P (SP) ▪ CGRP ➢ Substâncias Vasoconstritoras: • A vasoconstrição é a primeira etapa • São mais responsáveis pelos mecanismos de aura • Liberadas pelo sistema nervoso simpático: ▪ Noradrenalina (NA) ▪ Peptídeo Y (NPY) • Liberadas pelo endotélio: ▪ Endotelina ➢ NO, CGRP, Endotelina e 5-HT → são os principais marcadores da enxaqueca 6 CEFALEIAS Gizelle Felinto • CGRP: ▪ É um dos mais potentes, causando intensa e prolongada vasodilatação, agindo no mecanismo da dor ▪ Tem abundância na divisão oftálmica do nervo trigêmeo ▪ É um neuromodulador, pois facilita a ação da substância P ▪ Tem um tratamento recente que tem como alvo esse CGRP ➢ SEROTONINA (5-HT) → é um dos principais marcadores da enxaqueca • Níveis aumentados de metabólito da 5-HT na urina de pacientes com enxaqueca • Tem receptores diversos espalhados em diversas áreas do SNC → retina, núcleo do trato solitário, núcleo do trigêmeo, córtex visual... • Está muito relacionada aos sintomas na migrânea • A ativação do Receptor 5-HT1B provoca vasoconstrição SUMATRIPTANO → faz parte de um grupo de remédios abortivos, o Triptanos, que agem nos receptores 5- HT1B, causando vasoconstrição, pois são os vasodilatadores que tem relação com a dor QUANDO SE TEM UM PACIENTE COM ENXAQUECA DEVE-SE REALIZAR A SEGUINTE ORDEM 1. Anamnese e Exame físico: • Dor de cabeça que começou em uma faixa etária equivalente → entre 10 e 20 anos de idade (é muito difícil de ocorrer a primeira crise após os 20 anos, mas pode ocorrer entre os 20 a 30 anos. Porém, depois dos 30 é praticamente impossível) • Exame físico e neurológico são normais 2. Identificação de fatores desencadeantes: • Fatores desencadeantes: ▪ Alimentares ▪ Bebidas alcoólicas fermentadas (vinho e cerveja) ▪ Sono irregular ▪ Jejum prolongado ▪ Anticoncepcional com doses de estrógeno moderadas a altas → assim, só se deve usar anticoncepcional com estrógeno em doses muito baixas • Fatores contribuintes: ▪ Sedentarismo ▪ Abuso de analgésicos → também é uma complicação 3. Tratamento das crises → medicamentos abortivos 4. Tratamento profilático → para prevenir as crises 5. Reavaliações periódicas → a cada 2 a 3 meses, por exemplo, de acordo com a gravidade do paciente ORIENTAÇÕES HIGIENO-DIATÉTICAS PARA ENXAQUECA/MIGRÂNEA ➢ Deve-se EVITAR: • Café, chá verde, chá mate, refrigerantes, suco de caixinha, chocolate • Bebidas alcoólicas (vinho, cerveja) • Adoçantes tipo aspartame e ciclamato → deve-se utilizar sucralose • Carnes curadas, embutidos, salsicha, linguiça, presunto, mortadela, salame • Queijos “amarelos” (mussarela, parmesão, roquefort, camembert, gorgonzola, suíço) • Pimenta, pimentão, pepino • Melão, melancia, frutas cítricas, pitanga • Amendoim, castanha • Glutamato monossódico → presente em temperos (sazon, alhos prontos, molho de tomate) e alimentos industrializados (chips, salgadinhos, tempero de miojo) ➢ É PROIBIDO: • Abuso de analgésicos, como: ▪ Neosadina ▪ Cefalive ▪ Dorflex ▪ Enxaque ▪ Dipirona ▪ Paracetamol ▪ Doril ▪ Anador ▪ Lisador ▪ Advil • Uso de triptanos em enxaqueca com aura, como: ▪ Sumax ▪ Maxalt ▪ Naramig ▪ Porém, hoje em dia pode-se fazer uso desses medicamentos • Uso de anticoncepcionais orais com estrógeno em doses moderadas a altas → é preferível o de progesterona ou o DIU ➢ Deve-se MANTER: • Sono regular → dormir e acordar no mesmo horário, evitar privação de sono, evitar cochilos durante o dia, não dormir em excesso • Alimentação de 3 em 3 horas, evitando jejum prolongado • Atividade física regular • Uso correto da medicação profilática • Consulta em pronto-socorro caso tenha crise intensa ou prolongada TRATAMENTO DAS CRISES➢ Quando o paciente se encontra em crise enxaquecosa, pode-se fazer uso de medicações específicas ou não para o tratamento dessa crise ➢ MEDICAÇÕES QUE PODEM SER UTILIZADAS: • Analgésicos Comuns: DIPIRONA PARACETAMOL ÁCIDO ACETILSALICÍLICO (AAS) • Anti-inflamatórios não esteroidais (AINES): NAPROXENO CETOPROFENO DICLOFENACO ÁCIDO MEFENÂMICO 7 CEFALEIAS Gizelle Felinto NIMESULIDA • Vasoconstritores → são o tratamento específico da crise de enxaqueca ERGOTAMINA DIHIDROERGOTAMINA ISOMEPTENO TRIPTANOS ▪ Deve ser usado apenas no momento da dor, evitando- se nos momentos de auras ▪ Atenção → esses vasoconstritores são utilizados para tratar a dor porque é a vasodilatação que gera a dor pulsátil. Porém, sabe-se que a vasoconstrição é a responsável pela aura, assim deve-se evitar o uso de vasoconstritores nos momentos em que o paciente está com aura • Cafeína → geralmente vem associada aos vasoconstritores • Antieméticos: METOCLOPRAMINA BROMOPRIDA DIMENIDRINATO ▪ Podem ser usados, pois a náusea e a êmese são sintomas da crise de enxaqueca ▪ Ajuda tanto no abortamento da crise quanto na sintomatologia ▪ Pode-se fazer uso apenas de um antiemético para tratar a crise, pois eles têm eficácia • Ansiolíticos e tranquilizantes → não é rotineiro, mas podem ser utilizados ▪ Podem abortar uma crise ▪ Em pacientes que estão em uma crise muito prolongada pode-se utilizar um ansiolítico ou um tranquilizante, por exemplo • Geralmente, utiliza-se as seguintes combinações: ▪ Analgésico comum + AINE + Antiemético ▪ Vasoconstritor + Antiemético ➢ ESTADO DE MAL ENXAQUECOSO: • No tratamento dessas crises pode-se utilizar medicamentos mais específicos, como: HALOPERIDOL → bloqueador dopaminérgico CLORPROMAZINA → bloqueador dopaminérgico PULSOTERAPIA COM CORTICOIDE → via oral ou endovenosa, principalmente naqueles pacientes que tem crises de enxaqueca que duram vários dias seguidos BLOQUEIO ANESTÉSICO (Lidocaína 2%) DO GÂNGLIO ESFENOPALATINO • Bloqueio do gânglio esfenopalatino: ▪ Gânglio esfenopalatino: ✓ Localização → abaixo da mucosa da cavidade nasal, na região posterior do teto da cavidade nasal ✓ Esse gânglio está relacionado ao sistema nervoso parassimpático e que tem muita relação com o mecanismo da dor. Assim, quando o paciente está com dor, o gânglio do sistema nervoso parassimpático que está ativo é o esfenopalatino ✓ É um gânglio muito fácil de se acessar ▪ Procedimento: ✓ Coloca-se 0,5 mL de LIDOCAÍNA 4% (no Brasil não tem a 4%, então utiliza-se a 2%) na região intranasal e com o paciente deitado na posição correta. Não precisa de agulha para a realização do procedimento, necessita-se apenas do direcionamento correto da seringa ▪ Efeitos colaterais raros e graves: ✓ Epistaxe ✓ Diplopia ▪ Efeitos colaterais mais leves/esperados (efeitos da medicação): ✓ Sabor amargo na boca → a lidocaína tem um sabor amargo, fazendo com que o paciente sinta um sabor amargo durante a aplicação ✓ Anestesia da garganta → normalmente, parte da medicação cai na garganta, anestesiando-a • Tratamento com Toxina Botulínica → 25 – 50 unidades de toxina onabotulínica A na fossa pterigopalatina TRATAMENTO PROFILÁTICO ➢ É individualizado, devendo-se sempre pensar nos seguintes pontos: • Eficácia, tolerabilidade e segurança • Doenças associadas (outras doenças que o paciente apresenta) → Ex: Glaucoma, Hipertensão... • Interações medicamentosas e farmacológicas → com os medicamentos que ele já faz uso, principalmente quando ele tem outra doença associada ATENÇÃO! O uso de Triptanos, Corticoides e Opioides tem risco aumentado de CEFALEIA DE REBOTE - Cefaleia Rebote → paciente toma uma dessas medicações, há melhora da dor, mas algumas horas depois essa dor de cabeça retorna de forma muito mais intensa - Assim, deve-se evitar fazer uso de Corticoides e Opioides em crises de enxaqueca mais simples - O corticoide pode ser utilizado no mal enxaquecoso 8 CEFALEIAS Gizelle Felinto • Relação custo-benefício → deve-se sempre pensar nas condições financeiras do paciente • Preferências do paciente • Particularidades do paciente → Ex: obesidade, paciente muito magro, se as crises só ocorrem no período menstrual ou ocorrem de maneira mais intensa nesse período... • Frequência das crises • Grau de incapacidade • Falência das medicações prévias → não conseguiu controle da enxaqueca com outras medicações já utilizadas. Assim, não se deve utilizar essas mesmas medicações novamente nesses pacientes • Subtipos especiais de migrânea → o tratamento se diferencia • Ineficácia da profilaxia não farmacológica ➢ TRATAMENTO PROFILÁTICO NÃO FARMACOLÓGICO: • Tem baixa evidência • Evidência classe I: ▪ Homeopatia • Evidência classe II: ▪ Biofeedback e técnicas de relaxamento ▪ Terapia cognitiva comportamental (TCC) ▪ Dieta ▪ Acupuntura • Evidência classe III: ▪ Psicoterapia ▪ Fisioterapia • Outros métodos terapêuticos (sem informação científica) ➢ TRATAMENTO PROFILÁTICO FARMACOLÓGICO: • Betabloqueadores: PROPANOLOL → é o principal ✓ 40 – 240mg (2 a 3 tomadas por dia) ATENOLOL ✓ 25 – 150mg (1 a 2 tomadas por dia) NADOLOL ✓ 40 – 120mg (1 a 2 tomadas por dia) METOPROLOL ✓ 100 – 200mg (1 a 2 tomadas por dia) ▪ São doses mais altas do que as que se utiliza para o tratamento de hipertensão ▪ Efeitos colaterais: ✓ Hipotensão arterial ✓ Bradicardia ✓ Sonhos vívidos ✓ Pavor noturno ✓ Insônia ✓ Astenia ✓ Impotência sexual ✓ Broncoespasmo ✓ Depressão • Antidepressivos, principalmente os Tricíclicos: AMITRIPTILINA ✓ 12,5 – 75mg (1 a 3 tomadas por dia) NORTRIPTILINA ✓ 10 – 75mg (1 a 3 tomadas por dia) ▪ Efeitos adversos: ✓ Sonolência ✓ Ganho de peso ✓ Constipação intestinal ✓ Taquicardia ✓ Secura de mucosas (em particular Xerostomia) ✓ Hipotensão postural ✓ Aumento da perspiração ✓ Alteração da libido ✓ Retenção urinária • Bloqueadores dos Canais de Cálcio (BCC): FLUNARIZINA ✓ 5 – 10mg (1 tomada por dia) CINARIZINA NIMODIPINO ▪ Efeitos colaterais: ✓ Sonolência ✓ Ganho de peso ✓ Depressão ✓ Síndromes extrapiramidais ✓ Astenia ✓ Dores musculares ✓ Parestesias • Antagonistas da Serotonina: METISERGIDA e PIZOTIFENO → eram os representantes dessa classe, mas foram retirados do mercado • Antiepilépticos: ÁCIDO VALPROICO ou DIVALPROATO DE SÓDIO → é uma das melhores medicações na neurologia ✓ Ácido valproico → 500 – 1500mg (2 a 3 tomadas por dia) ✓ Divalproato de sódio → 500 – 1500mg (1 – 2 tomadas por dia) ✓ Efeitos colaterais → sonolência, ganho de peso, tremor, alopecia, ataxia, epigastralgia, náuseas, Hepatopatia. O Divalproato tem efeitos adversos gastrointestinais de menor frequência e intensidade ✓ Jamais pode-se falar que o paciente tem crises refratárias ao tratamento sem ele nunca ter feito uso de Ácido Valproico ou Valproato de Sódio CARBAMAZEPINA GABAPENTINA ✓ 300 – 2400mg (1 a 3 tomadas por dia) ✓ Efeitos colaterais → sonolência TOPIRAMATO ✓ 25 – 200mg (1 a 3 tomadas por dia) ✓ Efeitos colaterais → sonolência, parestesias, perda de peso, alterações cognitivas, alterações do paladar, anorexia, diarreia, predisposição a nefrocalcinose • Miscelânea → não é uma classe medicamentosa, mas sim várias outras medicamentosas, constituindo as medicações mais recentes TOXINA BOTULÍNICA 9 CEFALEIAS Gizelle Felinto ✓ Classe I de evidência para tratamento da migrânea crônica ✓ ANVISA → existe a aprovação de uma única toxina botulínica, a do tipo A ✓ Estudo PREEMPT → estudo que foi desenvolvido em relação à toxina botulínica, apresentando as seguintes localizações do seu estudo: ✓ Ainda não é disponível no SUS ✓ É disponível em alguns planosde saúde particulares ERENUMABE ✓ Pasurta® - Novartis ✓ Anticorpo monoclonal que bloqueia os receptores do peptídeo relacionado com os genes de Calcitonina (CGPR) → pois sabe-se que o CGRP está fortemente relacionado ao mecanismo da dor na enxaqueca ✓ Administração → 1 vez por mês, subcutânea, 70 ou 140mg ✓ Alto Custo → 575 dólares uma única dose mensal ou 6.900 dólares por ano CEFALEIA TENSIONAL GENERALIDADES ➢ EPIDEMIOLOGIA: • É a cefaleia mais comum na população • 40% de prevalência • Acomete igualmente ambos os sexos • Tem incidência maior na 3ª década de vida ➢ FATORES DESENCADEANTES: • Emocionais → estresse, ansiedade, depressão • Assim, devido a esses fatores desencadeantes, há grande indicação de psicoterapia nesses casos ➢ Apesar do nome, o mecanismo primário não é a contração muscular → seu nome “tensional” tem relação com estresse, que é um fator desencadeante ➢ Tem associação frequente com a Migrânea → assim, em algumas crises o paciente pode ter critérios para migrânea e em outras pode ter critérios para cefaleia tensional. Assim, dá-se os dois diagnósticos para esse paciente CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS A. Pelo menos 10 episódios de cefaleias e preenchendo os critérios de B a D B. A cefaleia dura desde 30 minutos a 7 dias C. A cefaleia tem pelo menos 2 das 4 seguintes características: 1. Localização bilateral 2. Tipo em pressão ou aperto (não pulsátil) 3. Intensidade leve ou moderada → paciente consegue realizar suas atividades do dia-a-dia 4. Não é agravada por atividade física de rotina → a realização de atividades rotineiras não torna a dor mais intensa D. Ambos os seguintes critérios: 1. Sem náuseas e/ou vômitos 2. Apenas um dos dois: fotofobia ou fonofobia E. Não é melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3 CLASSIFICAÇÃO ➢ Episódica: • Pouco frequente → quando se tem menos de 1 crise por mês (Ex: uma crise a cada 2 meses) • Frequente → quando se tem mais de uma crise, mas por menos de 14 dias por mês, por mais de 3 meses ➢ Crônica → quando se tem a crise por mais de 14 dias por mês, por mais de 3 meses ➢ Pode-se ter uma cefaleia tensional crônica associada a uma migrânea crônica TRATAMENTO ➢ Retirada de fatores estressantes ➢ Analgésicos → são pouco eficazes, não resolvendo a dor. Assim, seu uso leva a um maior abuso de analgésicos ➢ Antidepressivos → Tricíclicos e Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS) • Tricíclicos: IMIPRAMINA CLOMIPRAMINA AMITRIPTILINA NORTRIPTILINA... • ISRS: FLUOXETINA PAROXETINA CITALOPRAM ESCITALOPRAM SERTRALINA... ➢ Psicoterapia ➢ Acupuntura ➢ Biofeedback CEFALEIAS TRIGÊMINO-AUTONÔMICAS INTRODUÇÃO ➢ TEM 4 CEFALEIAS NESSE GRUPO (todas ocorrem no território do nervo trigêmeo e com sintomas autonômicos): 1. Cefaleia em Salvas → é a mais importante 10 CEFALEIAS Gizelle Felinto 2. Hemicrania Paroxística 3. Cefaleia de Curta Duração (short lasting), unilateral, neuralgiforme (doem no território do nervo trigêmeo): ▪ Com hiperemia conjuntival e lacrimejamento (SUNCT) ▪ Com sintomas autonômicos cranianos (SUNA) 4. Hemicrania Contínua CEFALEIA EM SALVAS ➢ É uma cefaleia rara, mas que é muito importante, devendo-se diagnosticar o paciente rapidamente, pois o tratamento é totalmente diferente do das demais dores de cabeça ➢ É uma doença neurológica que pode levar o paciente a cometer suicídio, pois a dor é muito severa ➢ Paciente pode ter um período em que apresenta as crises de cefaleia em salvas, que pode durar dias, semanas ou até mesmo meses, podendo ter as dores de cabeça 1 a 8 vezes por dia. Depois desse período, essa dor desaparece sozinha e, após um grande período intercrítico sem dores, ela volta a acontecer durante alguns dias/semanas até desaparecer novamente • Exemplo → paciente passa 3 semanas tendo dores de cabeça todos os dias, depois passa 5 meses sem dor e, depois, começa a apresentar novamente as dores de cabeça, reiniciando esse ciclo. É devido a essas características que o nome é “em Salvas” ➢ EPIDEMIOLOGIA: • Maior prevalência no sexo masculino → os homens tem 6 vezes mais do que as mulheres • A maioria tem início entre 20 e 30 anos ➢ CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS: A. Pelo menos 5 crises preenchendo os critérios de B a D B. Dor severa ou muito severa, unilateral, supraorbitária e/ou temporal com duração de 15 a 180 minutos (quando não tratada) C. Um dos dois ou ambos os seguintes: 1. Pelo menos 1 dos seguintes sintomas ou sinais ipsilaterais/homolaterais à cefaleia (sintomas parassimpáticos): a) Hiperemia da conjuntiva e/ou lacrimejamento b) Congestão nasal e/ou rinorreia c) Edema da pálpebra d) Sudorese da face e da região frontal (apenas do lado da dor) e) Miose e/ou ptose 2. Sensação de inquietude ou agitação ✓ Ex: paciente chega desesperado no consultório médico, reclamando que fortes dores no olho, agitado e pedindo para o médico resolver logo o seu problema D. As crises tem uma frequência de 1 a 8 vezes por dia E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3 ➢ CLASSIFICAÇÃO: • Episódica: ▪ Crises em períodos de sete dias a um ano com períodos livres de dor com, pelo menos, 3 meses ou mais (ou seja, dura menos de 1 ano e tem período sem dor durando 3 meses ou mais) • Crônica: ▪ Crises em períodos maiores que um ano ou períodos livres de dor inferior a 3 meses ➢ TRATAMENTO: • Das crises: ▪ Oxigênio 100% ou 7L/min por 15 minutos → a maioria dos pacientes sai da crise apenas com o Oxigênio. Quando ele não sai da crise apenas com essa medida, pode-se utilizar alguma das medidas listadas abaixo TRIPTANOS OCTREOTIDE 100mcg subcutâneo ▪ Boqueio anestésico do gânglio esfenopalatino • Transição (após tratar a crise, deve-se fazer esse tratamento de transição, pois tratou-se apenas aquela crise que, se nada mais for feito, pode voltar a ocorrer no mesmo dia ou no dia seguinte): Pulsoterapia com CORTICOIDE → é o mais utilizado ▪ Anestesia dos Nervos Occipitais • Profilaxia: VERAPAMIL (240 – 480mg por dia, divididos em 3 doses) → os neurologistas preferem o uso do Verapamil LÍTIO → os psiquiatras preferem o uso do lítio ▪ Outras medicações com menor evidência → quando não se consegue o controle com o Verapamil ou com o Lítio, podendo-se tentar outras medicações como: CARBAMAZEPINA ÁCIDO VALPROICO TOPIRAMATO PREGABALINA GABAPENTINA... • No tratamento profilático, caso necessário, pode-se fazer uso de mais de um medicamento para o controle da doença OUTRAS CEFALEIAS CEFALEIAS ➢ Essas cefaleias não se encaixam nos critérios das demais cefaleias citadas acima ➢ É necessário primeiramente descartar uma patologia primária que leve a uma cefaleia secundária para poder dar o diagnóstico de alguma dessas outras cefaleias Cefaleia em Salvas - Paciente com edema de pálpebra do lado direito, hiperemia, lacrimejamento, rinorreia, edema na face, sudorese na fronte e miose (tudo do mesmo lado da dor) 11 CEFALEIAS Gizelle Felinto ➢ CEFALEIAS ASSOCIADAS AO ESFORÇO FÍSICO: • Cefaleia primária da tosse → relacionada apenas à tosse • Cefaleia primária do exercício → relacionada apenas ao exercício • Cefaleia primária associada à atividade sexual → pré- orgasmica ou orgasmica • Cefaleia explosiva primária → como se explodisse algo dentro da cabeça (pode ocorrer ao abaixar a cabeça, nas manobras de valsalva...) ➢ CEFALEIAS ATRIBUÍDAS DIRETAMENTE A UM ESTÍMULO FÍSICO: • Cefaleia por estímulo frio → Ex: “Congelamento” do cérebro quando toma um sorvete • Cefaleia por pressão externa → Ex: paciente usando uma tiara começa a desenvolver uma dor nessa região ➢ CEFALEIAS EPICRANIANAS (dor no couro cabeludo): • Cefaleia primária tipo guinada → em facada oupicador de gelo ▪ É recorrente e imprevisível, com poucos fatores desencadeantes associados ▪ Podem ser orbiculares, temporais ou parietais ▪ São irregulares e sem sintomas associados • Cefaleia numular → cefaleia localizada com formato de uma moeda ➢ MISCELÂNEA: • Cefaleia hípnica → é típica de idosos, ocorre ao acordar e vai melhorando ao longo do dia • Cefaleia persistente diária desde o início PONTOS IMPORTANTES ➢ São muito raras ➢ A fisiopatologia dessas cefaleias anda não está bem definida ➢ O tratamento é apenas sugerido na base de relatos isolados ou ensaios clínicos não controlados, pois, como são raras, não se consegue juntar quantidade de casos suficiente para gerar uma evidência científica consistente ➢ Nesses casos, é obrigatório realizar uma investigação apropriada e completa (particularmente com neuroimagem - Ressonância) → pois deve-se primeiramente excluir patologias que causam uma cefaleia secundária CEFALEIAS INDOMETACINA-RESPONSIVAS INDOMETACINA 25 – 250 mg por dia: • É um anti-inflamatório ➢ São as cefaleias que respondem a esse anti-inflamatório ➢ Cefaleias Trigêmino-Autonômicas: • Hemicrania Contínua • Hemicrania Paroxística • Cefaleia em Salvas → pode responder ➢ Outras cefaleias: • Cefaleia Primária Tipo Guinada • Cefaleia da Tosse • Cefaleia Primária do Exercício • Cefaleia Primária associada à atividade sexual CEFALEIAS SECUNDÁRIAS CEFALEIAS ➢ Cefaleia atribuída a lesão ou traumatismo cranioencefálico e/ou cervical ➢ Cefaleia atribuída a doença vascular craniana ou cervical ➢ Cefaleia atribuída a patologia intracraniana não vascular ➢ Cefaleia atribuída a uma substância ou sua privação: • Cefaleia por abuso de analgésicos (Complicação da Tensional e da Migrânea) → é uma cefaleia secundária devido ao abuso de analgésicos ➢ Cefaleia atribuída a infeção ➢ Cefaleia atribuída a uma perturbação da homeostasia ➢ Cefaleia ou dor facial atribuída a uma patologia do crânio, pescoço, olhos, ouvidos, nariz, seios perinasais, dentes, boca ou outra estrutura do crânio ou da face ➢ Cefaleia atribuída a doença psiquiátrica PONTOS IMPORTANTES ➢ É uma cefaleia nova (de novo), ocorrendo com outra patologia reconhecida como capaz de a causar, sendo sempre diagnosticada como secundária ➢ Paciente que, previamente, apresenta um tipo de cefaleia primária que agrava em estreita relação temporal com a ocorrência de outra perturbação/patologia → recebe ambos os diagnósticos, primário e secundário ➢ Ou seja, será uma cefaleia secundária quando ela é uma cefaleia nova associada a uma patologia, piora com o surgimento dessa patologia ou melhora com o tratamento da patologia CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C B. Foi diagnosticada outra patologia cientificamente documentada como podendo causar cefaleias C. Evidências de causalidade demonstrada por, pelo menos, 2 dos seguintes: 1. A cefaleia desenvolveu-se em relação temporal com o início da presumida patologia causal 2. Um dos dois seguintes: a) A cefaleia piorou significativamente em paralelo com o agravamento da presumida patologia causal b) A cefaleia melhorou significativamente em paralelo com a melhoria da presumida patologia causal 3. A cefaleia tem as características típicas da patologia causal 4. Existe outra evidência de causalidade D. Não é melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3 NEURALGIA DO TRIGÊMEO GENERALIDADES ➢ É uma das dores mais graves na medicina, também podendo ser causa de suicídio 12 CEFALEIAS Gizelle Felinto ➢ Ocorrem em 1 ou mais território do nervo trigêmeo → ao contrário das trigêmino-autonômica, elas não têm sintomas autonômicos importantes (sintomas autonômicos podem ocorrer, mas não tão sugnificativos quanto nas trigêmino-autonômicas) ➢ É evocada por estímulos → como toque, vento, escovação, comer, falar, sorrir... ➢ É paroxística ➢ É semelhante a um choque ➢ São rápidas e ocorrem diversas vezes ao dia ➢ Fatores desencadeantes: • Falar (5,1%) • Brisa ou vento (12,8%) • Mastigar (17,9%) • Contato cutâneo (64,1%) ... ➢ Devido a esses choques intensos que o paciente sofre, o lado do rosto em que ele sente as dores é mais mal cuidado (Ex: barba mal feita de um lado do rosto) ➢ 50% dos pacientes tem uma alteração estrutural → CONTATO DE UMA ARTÉRIA COM O NERVO TRIGÊMEO na saída do nervo do tronco encefálico DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ➢ Cefaleias Trigêmino-Autonômicas → os sintomas autonômicos são mais evidentes ➢ Cefaleias Pós-Traumáticas → o paciente tem a história de algum traumatismo facial pré-existente, e tipicamente dentro de 1 ano inicia-se a dor ➢ Cefaleia Pós-Herpética → paciente tem um quadro de Herpes Zoster e, como sequela, fica com uma dor TRATAMENTO ➢ Anticonvulsivantes: CARBAMAZEPINA TEGRETOL VALPROATO DE SÓDIO OXCARBAZEPINA TOPIRAMATO... ➢ Antidepressivos: DULOXETINA → antidepressivo dual AMITRIPTILINA NORTRIPTILINA FLUOXETINA... ➢ Cirurgias → não é muito indicada, pois a taxa de recidiva é muito alta, mais de 50% dos pacientes tem recorrência da dor ➢ Toxina botulínica → tem um ótimo resultado CURIOSIDADE 3 doenças neurológicas que são causas de suicídio: - Cefaleia em Salvas - Neuralgia do Trigêmeo - Doença de Huntington
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