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1 EPILEPSIA Gizelle Felinto DEFINIÇÃO ➢ DEFINIÇÃO DE 2005 (conceito mais antigo) → é um conceito pouco claro sobre a definição de epilepsia e que acaba deixando de lado outras situações clínicas que hoje são tidas também como epilepsia • Uma crise epiléptica é a ocorrência transitória de sinais e/ou sintomas decorrentes da atividade anormal excessiva ou síncrona no cérebro • Epilepsia é um distúrbio cerebral caracterizado pela predisposição em gerar crises epilépticas e pelas consequências neurobiológicas, cognitivas e psicossociais desta condição • A definição de epilepsia requer a ocorrência de pelo menos uma crise epiléptica ➢ DEFINIÇÃO DE 2014 → conceito mais objetivo e mais abrangente, envolvendo condições que antes não eram tidas como epilepsia • Por essa nova definição, pode-se ter qualquer uma dessas 3 seguintes condições: 1. Pelo menos 2 crises epilépticas não provocadas (ou reflexas) ocorrendo com um intervalo superior a 24h ✓ Se forem 3 ou 10 crises, por exemplo, dentro do mesmo dia, não se considera como sendo epilepsia 2. Uma crise epiléptica não provocada (ou reflexa) associada a uma probabilidade de ocorrência de outras crises similar ao risco geral de recorrência (de pelo menos 60%) após 2 crises epilépticas não provocadas, ocorrendo nos próximos 10 anos ✓ Risco geral de recorrência → paciente que já teve 2 crises epilépticas (já tendo uma definição de epilepsia) e tem um risco de ter uma 3ª crise, que gira em torno de 60%. Se esse risco já existir da primeira para a segunda crise epiléptica, apenas com uma crise já se define como epilepsia 3. Diagnóstico de uma síndrome epiléptica ✓ Hoje em dia, isoladamente, a síndrome epiléptica já é entendida como epilepsia • Probabilidade de ter outra crise epiléptica → é subjetiva. Não existe uma forma de se calcular e chegar a esse valor. O que se sabe é que algumas situações, como alterações estruturais no cérebro, aumentam as chances de se ter novas crises (Ex: paciente que teve uma crise convulsiva, fez uma tomografia e descobriu um tumor cerebral. Essa situação aumenta as chances desse paciente de ter uma nova crise, caso não seja tratado) • Como se chegou a esse valor de 60% de chance de se ter uma nova crise → foi definido por meio de um estudo publicado em 1998 no New England, no qual vários pacientes foram acompanhados prospectivamente e foi observado o risco de recorrência de convulsões. O que se observou na grande população estudada foi que após 2 crises convulsivas não provocadas o risco de ter uma 3ª crise em 60 meses girou em torno de 73% (com intervalo de 59 – 87% e 95% de intervalo de confiança). Ao se adotar o limite inferior de 59% (aproximadamente 60%) concorda-se que esse é o risco de se ter uma nova crise convulsiva. Assim, essa porcentagem de 60% foi adotado para o novo conceito de epilepsia ➢ Outras Definições Importantes: • Epilepsia x Convulsão: ▪ Convulsão → é o evento, e não a doença ▪ Epilepsia → doença associada a convulsões espontâneas e recorrentes • Percepção x Dispercepção → a convulsão pode ser perceptiva ou disperceptiva ▪ Perceptiva → quando o indivíduo tem consciência, conseguindo descrever com detalhes tudo aquilo que aconteceu com ele no momento ▪ Disperceptiva → quando o paciente não consegue lembrar/descrever o que aconteceu • Convulsão Primária x Secundária: ▪ Convulsão Primária → é a mais comum, ocorrendo em mais de 90% dos casos ✓ Está relacionada a fenômenos elétricos e químicos do cérebro. Assim, não existe alteração estrutural que seja responsável por esses eventos convulsivos ▪ Convulsão Secundária → é provocada por uma alteração estrutural (Ex: tumor, má-formação cerebral, AVC hemorrágico...) ➢ QUESTIONAMENTOS SOBRE A DEFINIÇÃO TRADICIONAL, DE 2005: • Definição tradicional → a epilepsia é uma desordem caracterizada por 2 ou mais convulsões não provocadas que ocorrem em um intervalo de pelo menos 24 horas • Problemas dessa definição: 1. Alguns pacientes são tratados após uma única crise convulsiva: ✓ Situação na qual a probabilidade de ocorrer uma segunda crise é muito alta, havendo necessidade de tratar mesmo uma única crise ✓ Ex: paciente com uma lesão expansiva que abriu o quadro com uma crise convulsiva e também apresenta um eletroencefalograma mostrando alterações correspondentes à área onde a lesão se encontra. Assim, esse indivíduo já apresenta epilepsia, não sendo necessário ele ter uma segunda crise convulsiva para que se inicie o tratamento para epilepsia 2 EPILEPSIA Gizelle Felinto 2. Algumas epilepsias nunca são superadas: ✓ Percebeu-se que o risco de recorrência diminui ao longo dos anos, mas existem algumas epilepsias que não são superadas ✓ Epilepsia pode ser superada? → os estudos mostram que com o passar do tempo o risco de recorrência vem diminuindo, mas existem algumas situações/casos clínicos onde as convulsões nunca são superadas ✓ A partir de determinado momento pode-se começar a retirar as drogas anticonvulsivas e o risco desse paciente ter uma nova crise é muito pequeno. Na prática, esse tempo gira em torno de 4 - 5 anos. Assim, se o indivíduo não tem crises convulsivas após 4 – 5 anos utilizando a medicação já se tem segurança para iniciar o processo de desmame dessas medicações 3. Pode existir uma síndrome epiléptica, mas não epilepsia: ✓ No novo conceito a síndrome epiléptica já foi incluída como definição de epilepsia ✓ Síndromes epilépticas: o São tipos de crises convulsivas específicos + EEG (eletroencefalograma) característico, podendo ser associado ou não a uma alteração de imagem característica o Normalmente, estão relacionadas a uma determinada faixa etária → assim, tem-se uma idade de início e uma de remissão - Normalmente, com a mudança da faixa etária (passando da infância para a adolescência ou da adolescência para a fase adulta, por exemplo) essas síndromes epilépticas são “resolvidas” o Podem apresentar desencadeadores específicos → como forte estimulação ou hiperventilação o Podem ou não estar associadas a comorbidades específicas o Apresenta variação diurna o Prognóstico → varia de uma síndrome epiléptica para outra 4. Aqueles que apresentam convulsões fóticas ou reflexas não são definidos com epilepsia: ✓ Crises convulsivas fóticas → após um grande estímulo luminoso o indivíduo apresenta uma crise convulsiva ✓ Hoje em dia, essas crises convulsivas fóticas são entendidas como sendo epilepsia ✓ Convulsões Fóticas ou Reflexas: o Na classificação anterior não eram consideradas epilepsia, mas hoje em dia são o Apesar de serem convulsões provocadas, são consideradas epilepsias porque se o limiar convulsivo não for alterado elas não ocorrerão o Assim, o limiar convulsivo é alterado por um estímulo luminoso e isso gera uma crise convulsiva fótica ou reflexa provocada ➢ CONSIDERAÇÕES: • Na ausência de informação precisa quanto ao risco de recorrência (aquele valor de 60%), a definição tradicional de epilepsia pode ser considerada ▪ Na prática, muitas vezes, não se tem como realizar alguns exames ou esses exames demoram muito a ser feitos. Assim, não se pode esperar tanto tempo, por isso que se acaba por empregar a classificação tradicional (de 2005) para se adaptar a essa realidade • Se o risco de recorrência (segunda convulsão) for maior ou igual a 60%, considera-se epilepsia CLASSIFICAÇÃO DAS EPILEPSIAS RELEVÂNCIA DESSA CLASSIFICAÇÃO ➢ Essa classificação é importante para: • Domínio clínico da situação e, assim, ser possível tratar os pacientes da forma mais adequada • Pesquisa clínica • Definição das Modalidades terapêuticas mais adequadas para o paciente • Estabelecer Prognóstico • Estabelecer o Risco de morbidades PRIMEIRA ETAPA PARA A CLASSIFICAÇÃODE UMA EPILEPSIA ➢ DETERMINAR SE O EVENTO PAROXÍSTICO É REALMENTE UMA CRISE EPILÉPTICA: • Isso deve ser a primeira coisa a ser feita porque existem diversas situações clínicas que imitam convulsões e que não são de fato convulsões. Assim, é preciso excluir essas situações para chegar à definição da epilepsia • Diagnósticos diferenciais → situações clínicas que imitam crises convulsivas ▪ Síncopes ▪ Parassonias (como Sonambulismo) ▪ Transtornos Extrapiramidais • Situações clínicas que podem imitar crises convulsivas e que devem ser afastadas: ▪ Desordens psiquiátricas → pode-se ter pseudocrises convulsivas (existem maneiras de se diferenciar uma histeria de uma crise convulsiva) ▪ Condições relacionadas ao sono ▪ Distúrbios extrapiramidais ▪ Desordens associadas à migrânea... • Ex: muitas vezes, chega no consultório um paciente com síncopes (desmaios) achando que são crises convulsivas. Porém, não são convulsões. Às vezes pode ser, por exemplo, um problema cardíaco, uma hipotensão ortostática, uma exacerbação do reflexo vagal... ➢ Quando se chega à conclusão de que de fato é uma crise convulsiva, parte-se para a próxima etapa 3 EPILEPSIA Gizelle Felinto SEGUNDA ETAPA – DEFINIÇÃO DO TIPO DE CONVULSÃO ➢ DEFINIÇÃO DO TIPO DE CONVULSÃO: • Convulsão Focal → são crises de segmentos • Convulsão Generalizada → normalmente, são crises disperceptivas, nas quais o indivíduo não tem consciência do que está acontecendo • Convulsão Desconhecida → quando o paciente não consegue trazer informações suficientes para se definir se é focal ou generalizada ➢ Após definir-se qual o tipo de crise convulsiva, deve-se verificar se ela se enquadra na definição de epilepsia: • Se não se enquadrar, a classificação termina apenas na definição do tipo de convulsão • Se consegue-se definir como epilepsia, o próximo passo é definir qual o tipo de epilepsia ➢ DEFINIÇÃO DO TIPO DE EPILEPSIA (apenas se o quadro se encaixar na definição de epilepsia) → para a sua definição são necessários mais dados, como o EEG, por exemplo • Epilepsia Focal → existe 1 ou mais focos isolados no EEG • Epilepsia Generalizada → alteração em todos os canais • Epilepsia Combinada (Generalizada e Focal) → quando existe uma alternância entre os padrões de focal e de generalizada • Epilepsia Desconhecida → quando não se consegue definir ➢ O último passo é definir se a epilepsia se enquadra na definição de síndrome epiléptica: • Se não se enquadrar, termina apenas na definição do tipo de epilepsia • Se ela se enquadra, deve-se definir qual o tipo de síndrome epiléptica ➢ DEFINIÇÃO DE SÍNDROME EPILÉPTICA ➢ Desde o primeiro passo e a todo o momento dessa classificação deve-se tentar definir qual a etiologia/causa dessa convulsão, se é: • Estrutural • Genética • Infecciosa • Metabólica • Imune • Desconhecida • Nem sempre se consegue definir qual a causa dessa epilepsia TIPOS DE CRISE CONVULSIVA ➢ ESQUEMA EXPANDIDO: • Vai auxiliar a definir quais os tipos de crises convulsivas • O primeiro passo é definir se ela é de início focal, generalizado ou desconhecido ▪ De início focal → a maioria são perceptivas ✓ Podem ser perceptivas ou disperceptivas ✓ Podem ser divididas em início: o Motor: - Automatismos → disperceptivas - Atônicas → perda súbita do tônus - Clônicas - Espasmos Epilépticos - Hipercinéticas - Mioclônicas - Tônicas → aumento do tônus o Não-motor (algumas são difíceis de serem diagnosticadas na prática. São muito raras): - Autonômicas - Parada comportamental → é uma crise não motora que pode ser de início focal ou de início desconhecido e é muito confundida com as crises de ausência. Na prática é muito difícil de diferencias. Mas o que vai definir é o padrão do eletroencefalograma, que na crise de ausência tem um padrão generalizado e na crise de parada comportamental ele tem um padrão focal. Porém, nas duas crises o paciente fica fora de si, como se ficasse parado por alguns segundos olhando para o nada ou fazendo algum movimento na boca ou nas mãos, por exemplo - Cognitivas - Emocionais - Sensoriais 4 EPILEPSIA Gizelle Felinto ✓ Pode-se ter uma crise focal para tônico-clônica bilateral (antigamente chamada de focal com generalização secundária) ▪ De início generalizado → a grande maioria são disperceptiva, mas tem-se uma exceção, que são as crises Mioclônicas ✓ Motoras: o Tônico-clônicas o Clônico o Tônicas → podem ser de início focal ou generalizado, o que vai diferenciar é o padrão de apresentação da crise o Mioclônicas → podem ser de início generalizado e perceptivas o Mioclono-tônico-clônicas o Mioclono-atônicas o Atônicas o Espasmos epilépticos ✓ Não-motoras (crises de ausência): o Típicas o Atípicas o Mioclônicas o Mioclônias palpebrais ▪ De início desconhecido → paciente não traz informações suficientes para que se possa definir se é de início focal ou generalizado ✓ Motoras: o Tônico-clônicas o Espasmos epilépticos ✓ Não-motoras: o Parada comportamental PADRÕES DE CRISES CONVULSIVAS ➢ CRISE DE INÍCIO GENERALIZADO MOTOR - TÔNICO-CLÔNICO: • Movimentos clônicos → paciente contrai e contorce as extremidades do corpo • Parte tônica → rigidez • É a crise convulsiva mais comum e mais encontrada na prática clínica • Diferentemente de outras crises, nessas crises, geralmente, o pronto-socorro é acionado para tratar essa crise ➢ CRISE DE INÍCIO GENERALIZADO MOTOR - ATÔNICA: • O paciente, durante a crise, perde o tônus (é como se o paciente desmaiasse, ficasse “mole”) ➢ CRISE DE INÍCIO GENERALIZADO MOTOR - MIOCLÔNICA: • O arco de movimento costuma ser maior e o número/frequência de movimentos é menor • É como se fosse um abalo muscular • Ex: no exame foi pedido para que a paciente realizasse uma contagem numérica e no meio da conversa ela, que se apresenta deitada e com os dedos das mãos entrelaçados, apresenta abalos musculares das mãos (do nada ela levanta as mãos) • Apesar de ser uma crise de início generalizada, ela é uma crise perceptiva, ou seja, o paciente está consciente do que está acontecendo ➢ CRISE DE INÍCIO GENERALIZADO MOTOR - MIOCLÔNICA- ATÔNICA: • Tem-se um misto de crises → uma crise mioclônica, na qual se tem um abalo muscular, e uma atonia, que é a perda do tônus • É disperceptiva ➢ CRISE DE INÍCIO GENERALIZADO MOTOR - ESPASMO EPILÉPTICO: • É comum nos neonatais/lactentes • O espasmo epiléptico tem um padrão muito característico, que pode ser em flexão (como se o bebê tentasse agarrar algo) ou em extensão • É muito comum na Síndrome de West → é uma síndrome epiléptica ➢ CRISE DE INÍCIO GENERALIZADO NÃO MOTOR - AUSÊNCIA TÍPICA: • A crise de ausência (ou Crise de Mal) tem uma classificação interna, podendo ser típica, atípica, mioclonias palpebrais... • É quando o indivíduo, geralmente a criança, “saísse de si” • Existe um padrão muito característico da crise de ausência que é a indução por hiperventilação • É uma crise disperceptiva → o paciente tem a crise e logo depois volta ao normal. Quando se pergunta a ele o que aconteceu ele não sabe responder ➢ CRISE DE INÍCIO GENERALIZADO NÃO MOTOR - AUSÊNCIA ATÍPICA • Ex: Paciente tem uma crise de ausência, não tão evidente quanto a típica, e quando ela volta da crise ela começa a chorar • É mais difícil de ser identificada • É disperceptiva ➢ CRISE DE INÍCIO GENERALIZADO NÃO MOTOR – AUSÊNCIA MIOCLÔNICA: • É raro • Normalmente a criança apresenta mioclonias e depois uma crise de ausência • Começa com mioclonias, que são movimentos com um arco maior e com abalos musculares, depois tem-se uma crise de ausência e por fim o paciente retorna • Tem-se um momento em que ela é perceptiva (mioclonias) e disperceptiva (ausência) ➢ CRISEDE INÍCIO FOCAL MOTOR – AUTOMATISMO: • É uma exceção, sendo uma crise focal, mas disperceptiva • Ex: Paciente tem um automatismo (Ex: automatismo de marcha) e ele termina com uma crise tônica • Nessas crises de automatismo é muito comum se ter relatos de que os pacientes saíram andando e não sabem o que aconteceu ➢ CRISE DE INÍCIO FOCAL MOTOR – CLÔNICO: • É um tipo de crise muito comum • É perceptiva 5 EPILEPSIA Gizelle Felinto • Alguma parte do corpo (perna, braço ou boca, por exemplo) fica tremendo ➢ Vídeo eletroencefalograma → é o exame mais preciso para o diagnóstico do tipo das crises convulsivas, pois ele permite avaliar o momento em que a crise acontece e correlacionar ao traçado eletroencefalográfico TIPOS DE EPILEPSIA ➢ Deve-se verificar primeiramente se o paciente satisfaz a definição de epilepsia. Se ele se encaixar nesse conceito, tenta- se identificar o tipo de epilepsia ➢ Para a definição do tipo de epilepsia → Diagnóstico de epilepsia baseado na definição (de 2014) + Padrão de EEG • Padrão de Eletroencefalograma (EEG) → pode classificar como: ▪ Epilepsia Generalizada ▪ Epilepsia Focal → pode ser focal ou multifocal ▪ Epilepsia Combinada (Focal e Generalizada) ▪ Epilepsia Desconhecida → quando se define que é uma epilepsia, mas não se consegue classificar qual o tipo de epilepsia EPILEPSIA GENERALIZADA ➢ Começa-se com dados clínicos que sugerem se tratar de uma epilepsia generalizada ➢ Pode apresentar um conjunto de diferentes tipos de crises ➢ EEG Interictal (interictal = entre as crises) → mostra Complexos de Espícula-onda Generalizados • EEG ictal → é feito durante a crise • EEG interictal → é o mais comum ➢ Crises Tônico-Clônico Generalizadas com EEG normal → deve-se considerar outros dados/informações para solidificar esse conceito, como abalos mioclônicos e história familiar. Porém, se o EEG for normal, não se pode classificar a epilepsia como generalizada EPILEPSIA FOCAL ➢ Pode ser unifocal ou multifocal → as multifocais não são generalizadas, sendo focos distintos, mas não generalizados ➢ Pode apresentar um conjunto de diferentes tipos de crises ➢ EEG Interictal → mostra Descargas Epileptiformes Focais (unifocais ou multifocais) EPILEPSIA COM CRISES FOCAIS E GENERALIZADAS COMBINADAS ➢ Dados clínicos + EEG ➢ EEG Interictal → mostra um padrão com espícula-onde generalizado ou descargas epileptiformes focais ➢ Essa é a única situação na qual a atividade epileptiforme não é exigida para o diagnóstico → assim, se o indivíduo tem uma combinação de crises focais e generalizadas e tem a definição de epilepsia ele já é entendido como epilepsia com crises focais e generalizadas combinadas, não sendo necessário o EEG EPILEPSIA DESCONHECIDA ➢ Caso em que se define epilepsia, porém não há informações suficientes disponíveis para determinar se a epilepsia é focal ou generalizada ➢ Por não se ter acesso ao EEG ou quando o EEG é normal ➢ Se a crise é desconhecida, a epilepsia também é desconhecida SÍNDROMES EPILÉPTICAS ➢ Tipos de crises específicos + EEG característico com ou sem Imagem característica ➢ Tem idade de início e remissão (faixas etárias específicas) ➢ Pode apresentar desencadeadores ➢ Pode ter comorbidades associadas ➢ Tem variação diurna ➢ Prognóstico → varia de uma síndrome epiléptica para outra ➢ Observação importante → não apresentam correlação etiológica específica, ou seja, uma mesma síndrome epiléptica pode ter etiologias diferentes (Ex: a Síndrome de West pode ser provocada por alterações estruturais, por um AVC hemorrágico, por alterações metabólicas...) SÍNDROMES EPILÉPTICAS – Separadas por faixa etária ➢ NEONATAIS OU EM LACTENTES: • Síndrome de Ohtahara: ▪ Também é conhecida como Encefalopatia Epiléptica Infantil Precoce ▪ Ocorre do 1° ao 3° mês de vida ▪ Limita o desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) e a expectativa de vida ▪ É caracterizada por um padrão de Crises Tônicas ▪ Padrão do EEG → Padrão supressão-explosão ▪ Sempre se deve descartar etiologia metabólica tratável (Ex: Hipotireoidismo) ▪ Tratamento → pode minorar/diminuir o atraso do DNPM ✓ A criança já nasce com uma alteração estrutural, havendo uma limitação do DNPM, mas isso não significa que não se pode melhorar a vida dessa criança tratando a epilepsia. Pois se essa criança continuar tendo crises epilépticas o DNPM dela será ainda pior, por isso que é importante tratar e deixar a criança livre de crises convulsivas, para que ela tenha uma melhor expectativa de DNPM ▪ Etiologias: ✓ Estruturais ✓ Genéticas ✓ Metabólicas • Síndrome de West: ▪ Ocorre do 3° ao 12° mês de vida ▪ Tríade clássica → Espasmos Epilépticos + Atraso do DNPM + Hipsarritmia (um padrão de EEG interictal) (cai muito em provas de residência!) ▪ Etiologias: ✓ Genéticas 6 EPILEPSIA Gizelle Felinto ✓ Estruturais → são as mais comuns, pois em mais de 80% dos casos a síndrome de West é provocada por uma alteração estrutural ✓ Metabólicas ✓ Cromossomais ✓ Metabólicas • Síndrome de Dravet: ▪ Acontece no 1° ano de vida ▪ Caracteriza-se por Crises Tônico-Clônico Generalizadas e Focais (Hemiclônicas) prolongadas ▪ Normalmente, é uma epilepsia refratária, que não é tratada com medicações e que leva a um comprometimento cognitivo e comportamental que começam a ser percebidos a partir do segundo ano de vida ▪ É causada por uma alteração genética → mutação do gene SCN1A (um dos genes responsáveis pela síntese do canal do sódio) ✓ Isso ocorre em 75% dos pacientes e a história familiar é encontrada em 30 – 50% desses casos ▪ Importância prática desse conhecimento genético → precisa-se ter cuidado com anticonvulsivantes que bloqueiam o canal de sódio! ✓ Alguns anticonvulsivos agem diretamente bloqueando o canal de sódio (Ex: Carbamazepina, Lamotrigina, Fenitoína...) ✓ Se fizer uso dessa medicação piora-se ainda mais a clinica convulsiva e outras alterações clínicas ▪ A primeira convulsão é febril em 60% dos casos ▪ Padrão do EEG → espícula-onda generalizada ou multifocal ➢ INFÂNCIA: • Síndrome de Lennox-Gastaut: ▪ Início entre 3 – 5 anos de idade ▪ É caracterizada por crises epilépticas refratárias de múltiplos tipos (tônicas durante o sono - principalmente, ausências atípicas e atônicas, etc.) ▪ Padrão do EEG (é muito característico, praticamente patognomônico da síndrome de Lennox) → espícula- onda < 2,5 Hz e atividade paroxística rápida (> 10Hz) ▪ Desencadeante → hiperventilação ▪ Etiologias: ✓ Estruturais (em 70% dos casos) ✓ Genéticas • Epilepsia Tipo Ausência da Infância: ▪ Ocorre dos 2 aos 12 anos de idade ▪ São crises generalizadas do tipo ausência ▪ Normalmente, não leva a comprometimento cognitivo, por isso que são conhecidas como “crises de pequeno mal”, mas isso não significa que essas crises não sejam danosas para o paciente ▪ Padrão do EEG ictal → espículas-onda de 3Hz ▪ O EEG interictal pode ser normal ▪ Desencadeada por hiperventilação → isso é muito característico da epilepsia do tipo ausência ▪ Geralmente, melhoram espontaneamente na adolescência • Epilepsia da Infância com Espículas Centro-Temporais (rolândica): ▪ É muito comum ▪ Ocorre dos 3 aos 14 anos de idade ▪ Em geral, é autolimitada → quando a criança alcança a adolescência ela é resolvida ▪ São convulsões hemifaciais que podem generalizar ▪ O DNPM é preservado e o exame neurológico é normal ▪ Geralmente as crianças apresentam sintomas operculares e perisilvianos → tem, por exemplo, prejuízos da linguagem, como da fala ▪ Se o paciente apresentar crise tônico-clônico generalizada em vigília exclui-se a epilepsia do tipo Rolândica ▪ Padrão de EEG interictal → espículas centro- temporais (durante o sono) • Síndrome de Landau Kleffner:▪ Ocorre dos 2 aos 8 anos de idade ▪ Também é conhecida como afasia subaguda progressiva (nesse caso a alteração da linguagem não é por lesão da área da linguagem, mas sim por agnosia auditiva) ▪ Para o desenvolvimento da linguagem é essencial que se tenha um estímulo auditivo. Nessa síndrome o problema é que se tem uma alteração da percepção do estímulo auditivo. Assim, a criança não consegue captar e interpretar o estímulo auditivo, o que acaba levando a um prejuízo da linguagem ▪ Desenvolvimento cognitivo é normal ▪ Essas crianças podem apresentar alterações comportamentais ▪ Podem ser crises focais, ausências, atônicas, normalmente autolimitadas ▪ A Crise Tônico-Clônico Generalizada exclui a Síndrome de Landau ▪ Normalmente, essas crianças ficam com um comprometimento residual da linguagem → assim, mesmo após chegar na adolescência esses pacientes apresentam alguma alteração da linguagem ▪ Essa síndrome é muito confundida com o autismo → no autismo, caracteristicamente, o indivíduo apresenta um grave comprometimento da linguagem, sendo muito parecido com a síndrome de Landau. A diferença é que o autismo se apresenta mais precocemente ▪ Padrão do EEG interictal → espículas temporo- parietais (não é específico dessa síndrome de Landau) ➢ ADOLESCÊNCIA E IDADE ADULTA: • Epilepsia Mioclônica Juvenil: ▪ É uma das mais frequentes síndromes epilépticas da adolescência ▪ Ocorre dos 8 aos 25 anos de idade ▪ É uma das principais causas de epilepsia generalizada ▪ São crises Mioclônicas e tônico-clônicas (as ausências são muito raras) 7 EPILEPSIA Gizelle Felinto ▪ Desencadeante característico → Fotoestimulação (estímulo luminosso excessivo, com muito brilho) ▪ Padrão do EEG interictal → espícula e poliespícula- onda 3,5 – 6 Hz ▪ Tem uma grande influência genética e a história familiar é geralmente positiva → é importante que isso seja identificada, pois os cuidados já podem ser tomados na faixa etária infantil, antes da criança chegar à adolescência e antes que ela possa desenvolver a epilepsia mioclônica juvenil • Epilepsia apenas com Crise Tônico-Clônico generalizada: ▪ É a mais comum de todas as síndromes epilépticas ▪ Faixa etária variada → pode ocorrer dos 5 aos 40 anos de idade ▪ Desencadeantes: ✓ Privação do sono ✓ Álcool ✓ Fadiga ▪ Sempre que se trata esses doentes é necessário orientar sobre questões de mudança no estilo de vida, devido a esses fatores desencadeantes, para o sucesso desses pacientes • ESCLEROSE MESIAL TEMPORAL:ESCLEROSE MESITEMPORAL ▪ É uma síndrome epiléptica muito comum ▪ É uma das principais causas de Epilepsia Focal em adultos → assim, em um adulto saudável e sem comorbidades que apresentou uma crise epiléptica do tipo focal é necessário pensar na possibilidade de esclerose mesial temporal ▪ Ocorre por uma perda de neurônios piramidais, dispersão de células granulócitas e, principalmente, por gliose/atrofia do hipocampo, localizado no lobo temporal mesial (é essa gliose do hipocampo quem define a esclerose mesial temporal) ✓ Para essa gliose do hipocampo acredita-se que estão envolvidos fatores genéticos e que se tenha história familiar positiva ✓ Acredita-se que esses pacientes já nascem com essa alteração, mas só tem manifestações clínicas na idade adulta, normalmente entre a 4ª a 5ª década de vida ▪ São crises refratárias do lobo temporal ▪ Normalmente, esses indivíduos apresentam déficit cognitivo adquirido (principalmente memória verbal e visual) ✓ O indivíduo vai começando a esquecer os lugares, os caminhos que ele fazia frequentemente, vai perdendo a memória verbal... ✓ É parecido com um quadro de demência, podendo ser confundido com uma demência → o que diferencia é que a apresentação dessa esclerose é mais precoce do que o Alzheimer e na investigação, já que a demência é um diagnóstico de exclusão, observa-se a presença dessa gliose do hipocampo ▪ É associada a um passado de convulsão febril em 25% dos casos ▪ São crises focais disperceptivas ou focais levando a tônico-clônico generalizadas → assim, em adultos com epilepsia focal é necessário pensar na possibilidade de esclerose mesial temporal ▪ Normalmente, é uma epilepsia refratária que pode precisar de cirurgia ▪ Padrão do EEG interictal e ictal → crises temporais ou bitemporais ▪ Exames de imagem → Ressonância apresentando esclerose do hipocampo: ✓ Imagem da esquerda → alargamento do corno temporal, que ocorre devido à atrofia do hipocampo que se encontra em volta. Assim, como o hipocampo diminui, ocorre o alargamento do corno temporal do ventrículo lateral ✓ Imagem da direita → hipersinal no entorno do corno temporal ETIOLOGIAS ➢ São diversas, podendo ser: • Genéticas • Estruturais • Metabólicas • Autoimunes • Infecciosas • Desconhecidas ➢ Nem sempre se consegue determinar a etiologia ➢ É importante determinar a etiologia, principalmente as de ordem genética (para um aconselhamento genético) e as de ordem metabólica e infecciosa (pois podem ser tratadas) DIAGNÓSTICO DAS EPILEPSIAS DIAGNÓSTICO ➢ AVALIAR O PERFIL DAS CRISES E CLASSIFICAR A EPILEPSIA: • Informações importantes na anamnese: ▪ Quando foi a primeira e a última crise ▪ Frequência das crises (Ex: quinzenal, mensal, diária...) ▪ Número de crises ▪ Duração das crises ➢ ELETROENCEFALOGRAMA (EEG) INTERICTAL OU ICTAL: • Interictal → entre as crises (é o mais utilizado) 8 EPILEPSIA Gizelle Felinto • Ictal → durante a crise (é o mais indicado a ser feito, mas é difícil de conseguir) • Para conseguir um EEG ictal é necessário estressar o cérebro do paciente, com a finalidade de causar uma crise. São os seguintes estímulos: ▪ Fotoestimulação ▪ Sono e vigília / Privação do sono ▪ Sem drogas epilépticas ▪ Hiperventilação (Ex: soprar um cata-vento) ➢ VÍDEO ELETROENCEFALOGRAMA: • É o exame mais indicado, para que se possa ver tanto o vídeo quanto o EEG ao mesmo tempo ➢ EXAME DE IMAGEM → Tomografia ou Ressonância Magnética de alta resolução • Preferencialmente a ressonância magnética, pois consegue mostrar o detalhe anatômico • Lembrete → a grande maioria das epilepsias é primária (90%), assim os exames de imagem estarão normais. Porém, sempre deve-se solicitar esses exames TRATAMENTO DAS EPILEPSIAS PRINCÍPIOS GERAIS – para escolher o tratamento mais adequado ➢ Monoterapia sempre que possível → assim, sempre se inicia o tratamento com uma única droga ➢ Se for insuficiente, deve-se otimizar a monoterapia → aumentar o número de tomadas ou aumentar a dose da medicação ➢ Insucesso da monoterapia → pode-se substituir a Droga Antiepiléptica (DAE) ou iniciar uma segunda DAE • É preferível iniciar uma segunda DAE, pois no processo de retirada da medicação para substituir a DAE por outra o indivíduo pode ter outras crises • Observação → se realizar a substituição de uma droga por outra, deve-se estabelecer sempre uma transição entre as drogas, pois existe um risco de precipitação de crises durante a retirada da primeira droga ➢ Se necessário, realizar Politerapia (com 3 ou mais DAE) ➢ Sempre considerar os efeitos colaterais e as interações medicamentosas na terapia combinada ➢ Insucesso de 2 esquemas de politerapia → encaminhar o paciente para o neurocirurgião, pois pode ser que essa epilepsia necessite de procedimento cirúrgico (são poucos os casos que necessitam de cirurgia) ➢ A depender do caso, principalmente adolescentes, tem-se uma má adesão ao tratamento ➢ A má adesão ao tratamento é a principal causa de escapes de crises convulsivas, de insucessos do tratamento ➢ Objetivo a ser alcançado → deixar o paciente livre das crises convulsivas • As crises convulsivas não causam dano estrutural no cérebro, mas sim déficits cognitivos, comportamentais,de execução... COMO ESCOLHER A MEDICAÇÃO ADEQUADA PARA O PACIENTE ➢ Não existe um padrão característico de uma epilepsia para um tipo de droga, o que existem são várias opções de tratamento para cada tipo de epilepsia ➢ Duas situações nas quais existem uma certa relação de uma medicação com um tipo de epilepsia: • Epilepsia do tipo Ausência na infância → droga de escolha: ETHOSUXIMIDE • Espasmos Infantis (Síndrome de West) → drogas de escolha podem ser: CORTICÓIDES (Predinisolona oral ou injeção de ACTH) VIGABATRINA ▪ Às vezes, na situação do SUS, não se consegue disponibilizar essas drogas com rapidez. Assim, inicia- se outras drogas, como o TOPIRAMATO ou a LAMOTRIGINA, mas normalmente essas crianças não respondem bem a essas drogas. Dessa forma, entra-se com um processo judicial para que seja disponibilizada a Vigabatrina, por exemplo DROGAS QUE NÃO PODEM SER UTILIZADAS PARA DETERMINADAS CRISES ➢ Crise de Ausência → evitar: CARBAMAZEPINA OXICARBAZEPINA FENITOÍNA GABAPENTINA ➢ Epilepsia Mioclônica Juvenil ou Convulsões Mioclônicas → evitar: CARBAMAZEPINA OXICARBAZEPINA FENITOÍNA • Pois são drogas que bloqueiam os canais de sódio ➢ Crianças menores de 1 ano → evitar: ÁCIDO VALPRÓICO → hoje em dia sabe-se que ele pode, de certa forma, prejudicar o desenvolvimento desses lactentes ➢ Crianças de 1 a 2 anos → deve ser utilizado com cautela: ÁCIDO VALPRÓICO → usar com cautela devido a hepatotoxicidade • A partir dos 2 anos o ácido valpróico é uma droga muito boa para qualquer tipo de crise ➢ Mulheres em idade fértil → evitar: ÁCIDO VALPRÓICO → devido ao risco de teratogenicidade CONVULSÃO FEBRIL CARACTERÍSTICAS ➢ É um tópico à parte, mas cai muito em provas de residência ➢ Não é uma epilepsia, mas normalmente não aumenta o risco de epilepsia → isso é algo muito importante que se pode passar para as mães, por exemplo, explicando que não significa que a criança terá uma epilepsia no futuro ➢ Tem história familiar positiva 9 EPILEPSIA Gizelle Felinto ➢ Ocorrem especificamente na faixa etária dos 3 meses aos 5 anos (se ocorrer antes ou depois dessa faixa etária é preciso pensar em outra etiologia) ➢ Quanto mais jovem maior a chance de recorrência (> 65% em menores de 1 ano) ➢ O EEG interictal é normal ➢ É mais importante a velocidade de variação da temperatura do que o valor absoluto da temperatura → assim, por exemplo, às vezes uma criança com uma temperatura de 38°C tem uma convulsão febril, pois ela rapidamente variou a temperatura de 36°C para 38°C, por exemplo. E às vezes uma criança com 39°C de febre não tem uma convulsão febril • Quanto mais rápida a velocidade de variação da temperatura, maior a chance de ter convulsão ➢ Se a criança estiver convulsionando → tratar primeiro a convulsão (Diazepam - DZP) e depois tratar a febre • Essa criança não vai precisar fazer uso de uma droga antiepiléptica. Normalmente, ela tem essa crise, trata com o Diazepam, e depois trata-se a causa da febre • Não se faz tratamento de manutenção para a convulsão febril ➢ Se a criança não estiver convulsionando → tratar primeiro a febre e depois vai atrás da causa dessa febre para trata-la (normalmente é uma Faringoamigdalite ou uma infecção intestinal) CIRURGIA PARA EPILEPSIA EPILEPSIA REFRATÁRIA ➢ Deve-se pensar na possibilidade de uma cirurgia quando o indivíduo está utilizando: • Droga mais adequada para a crise + • Duas monoterapias com doses otimizadas ou • Politerapia (2 drogas de segunda linha + 1 droga de primeira linha) • E mesmo com tudo isso o indivíduo continua tendo crises convulsivas AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA ➢ Pensando-se na possibilidade de cirurgia, precisa-se de alguns exames e testes específicos, como: • Vídeo Eletroencefalograma → para melhor caracterizar a crise • Ressonância Magnética de alta resolução → para verificar se existe alguma alteração anatômica que passou na ressonância convencional • Exames Funcionais: ▪ PET → é baseado no metabolismo do oxigênio ✓ Hipometabolismo interictal / Hipermetabolismo ictal ▪ SPECT → é baseado na perfusão sanguínea do cérebro ✓ Hipoperfusão interictal / hiperperfusão ictal • Campimetria Visual → é importante porque a área na qual se mexe na cirurgia faz parte da via óptica, envolvendo as radiações ópticas. Assim, o indivíduo pode sair com uma sequela visual. Por isso que, por meio da campimetria visual, deve-se avaliar se já existe um comprometimento visual ou se o indivíduo não tem uma alteração visual • Teste de Wada: ▪ Serve para determinar: ✓ Dominância da linguagem → qual o hemisfério cerebral responsável pela linguagem, normalmente é o esquerdo ✓ Memória verbal ✓ Avaliar grau de possível piora no pós-operatório ▪ O teste de Wada é uma angiografia → punciona-se a artéria femoral, subindo com o cateter, jogando o contraste e fazendo o raio-x. A diferença é que no teste da Wada infunde-se uma droga chamada de Amital Sódico, infundindo-se primeiro de um lado e depois do outro. Esse Amital sódico leva a uma paralisia do hemisfério cerebral. Assim, primeiro punciona e joga o Amital do lado esquerdo e pede-se para o doente conversar. Se no momento em que se joga o amital o indivíduo para de falar ou tem a linguagem cortada, significa que a dominância da linguagem dele é do lado esquerdo. Porém, se a sua linguagem continuou normal, joga-se o Amital do lado direito e quando o paciente conversar a sua fala vai ficar ausente ou cortada, o que mostra que a dominância da linguagem dele é do lado direito ▪ A importância é de saber se o lado que será mexido na cirurgia pode levar ao comprometimento da linguagem → se houver risco de comprometimento, tudo isso deve ser dito ao paciente antes da cirurgia PET - Quando o paciente está em crise, o PET mostra uma área de hipermetabolismo. Essa área é topografada no PET, sabendo-se onde é a origem da convulsão Em crise Normal Topografia SPECT - Ictal → mostra uma área de hiperperfusão 10 EPILEPSIA Gizelle Felinto • Mapeamento Cortical → é feito com “grades”, durante a cirurgia, que vão estimular as áreas específicas para o cirurgião saber qual a área motora e qual a área da linguagem • Avaliação neuropsicológica → é muito importante para qualquer doente que faça esse tipo de cirurgia, pois é necessário identificar se o paciente apresenta algum comprometimento cognitivo que seja mais tênue e difícil de ser avaliado na anamnese convencional. Assim, essa avaliação neuropsicológica é bastante específica e consegue determinar pequenas alterações cognitivas CIRURGIAS PARA EPILEPSIA ➢ CIRURGIAS RESSECTIVAS (são as principais) → retira-se uma porção do cérebro que é responsável pelas crises convulsivas (área epileptogênica) • Lesionectomia → retirada de uma lesão (Ex: tumor cerebral) • Lobectomia Temporal → retirada do lobo temporal funcional • Amigdalohipocampectomia → retirada da amigdala e do hipocampo do lado afetado, que é a zona epileptogênica • Corticectomias* • Ressecção Multilobar* *Praticamente não são mais realizadas hoje em dia ➢ CIRURGIAS DESCONECTIVAS (são menos comuns) → interrompem a comunicação de uma determinada área do cérebro com outra • Hemisferectomias • Calosotomias → pois o corpo caloso é a principal fibra de comunicação de um hemisfério com outro • Transecções Subpiais • Estimulador Vagal ➢ Na prática, as cirurgias mais realizadas são: • Lobectomia Temporal • Amigdalohipocampectomia LOBECTOMIA TEMPORAL ➢ É feita uma marcação para uma incisão frontotemporal, vira-se o flap cutâneo e muscular, em seguida é feita a craniectomia e abre-se a dura-máter ➢ Ao fim da cirurgia, após a retirada do lobo temporal → é preservado o giro temporal superior, para evitarlesão de vias ópticas ➢ Existem limites anatômicos. Assim, é uma lobectomia funcional, e não anatômica, pois anatômica seria se fosse retirado todo o lobo temporal, mas não é isso que acontece. Retira-se a parte funcional do lobo temporal ➢ Se a cirurgia for realizada em um: • Lado dominante → o limite posterior vai no máximo de 3 a 4,5cm • Lado não-dominante → 4,5 a 6cm ➢ Pode ser feita, por exemplo, na Esclerose Mesial Temporal, quando indicado ➢ O limite da profundidade na realização da cirurgia é o corno temporal do ventrículo lateral (quando se começa a ver líquor saindo) → deve-se ter muito cuidado nessa parte final, pois está muito próximo ao tronco cerebral e não se pode lesar o tronco cerebral ➢ O limite inferior é a base do crânio ➢ O limite superior é o sulco temporal superior (para preservar o giro temporal superior) ➢ É uma cirurgia muito resolutiva para as epilepsias refratárias cujo foco convulsivo é temporal AMIGDALOHIPOCAMPECTOMIA SELETIVA ➢ É uma cirurgia menos invasiva, com menor risco de comprometimento cognitivo ➢ Nessa cirurgia retira-se apenas a amigdala e o hipocampo ➢ É guiada por neuronavegação, que permite que o cirurgião veja o local onde está ressecando, direcionando a estratégia cirúrgica ➢ É feita uma incisão e uma craniectomia pequena até se chegar ao local exato do hipocampo sem precisar retirar o lobo temporal, realizando-se a ressecção microscópica do hipocampo e da amigdala
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