Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fonte: Aula + Anotações de Aulas Práticas 1 ARTRITE REUMATÓIDE (AR) Gizelle Felinto INTRODUÇÃO ➢ CARACTERRÍSTICAS GERAIS DA DOENÇA: • DEFINIÇÃO → é uma doença crônica autoimune, sendo uma sinovite simétrica que acomete preferencialmente as pequenas articulações de mãos, pés e punhos • Assim, pela definição, vê-se que a artrite reumatóide acomete aquelas articulações que possuem cartilagem sinovial • É idiopática • É uma doença sistêmica de caráter autoimune, na qual se tem a produção de autoanticorpos, com a quebra de tolerância do sistema imune e instalação dos sinais e sintomas flogísticos na articulação acometida • Ocorre uma inflamação da sinóvia • Paciente apresenta dor e edema na articulação • Rigidez matinal prolongada > 60min • Mais comum de acometer mulheres jovens entre 30 – 60 anos • Dor inflamatória → piora com o repouso e melhora com o movimento • ARTICULAÇÕES: ▪ Ela poupa o esqueleto axial, com exceção da articulação atlantoaxial (C1 – C2), pois ela contém cartilagem sinovial ▪ A doença poupa as articulações interfalangianas distais → isso é o que caracteriza a doença ▪ Articulações Classicamente Acometidas → Pequenas Articulações: ✓ Interfalangianas proximais ✓ Metacarpofalangianas ✓ Punhos ✓ Interfalangianas dos pés ✓ Metatarsofalangianas ▪ Com a evolução da doença ela vai acometendo as grandes articulações sinoviais: ✓ Quadris ✓ Joelhos ✓ Tornozelos ✓ Ombros → articulação glenoumeral (no exame → fica 5cm acima da linha axilar anterior) ✓ Cotovelos ▪ Outras articulações que podem ser acometidas: ✓ Cricoaritenóidea → paciente se queixa de rouquidão ✓ Temporomandibular • Anticorpos da Artrite Reumatóide: ▪ Anti-CCP (Anticorpo Antipeptídeo Citrulinado Cíclico) → é o anticorpo pedido quando se suspeita de Artrite Reumatóide ▪ FAN → positiva em doenças autoimunes como Lúpus e Artrite Reumatóide ▪ Existem pacientes (cerca de 10 – 20%) que não tem esses autoanticorpos da Artrite Reumatóide → assim, o diagnóstico é praticamente clínico • Marcadores de Inflamação positivos → VSH e PCR • A artrite reumatóide é fator de risco para osteoporose ▪ Importante → pacientes com osteoporose devem fazer raio x de coluna todo ano, pois 30% das fraturas de vértebras são assintomáticas • Mecanismo de Toda Doença Autoimune → normalmente, temos um equilíbrio entre fatores anti-inflamatórios e pró- inflamatórios, constituindo um equilíbrio da nossa auto- tolerância. Porém, quando se tem algum fator estressante ao organismo (Ex: Covid). Algumas pessoas tem isso como um fator desencadeante, no qual há um aumento dos fatores pró-inflamatórios e, depois que esse fator estressante se resolve, alguns indivíduos continuam apresentando esse desequilíbrio na auto-tolerância, desencadeando a doença autoimune ▪ Assim, é com esse mecanismo que se desenvolve a artrite reumatóide, que pode ter como fatores externos que podem atuar como desencadeantes a Chykungunya e o COVID, por exemplo • A Anemia da Artrite Reumatóide é a Anemia da Doença Crônica → assim, se o paciente tem uma anemia ferropriva, por exemplo, a causa não é a artrite reumatóide ▪ Anemia ferropriva em pessoas mais velhas → deve-se sempre investigar se há algum sangramento ativo, sendo a endoscopia e a colonoscopia exames essenciais e que devem ser solicitados nesses casos • Raio-x de mãos e punhos (em AP e Oblíquo) → se já tiver alterações significa que é uma artrite reumatóide mais avançada • Raio-x de pé e tornozelo → em AP e perfil • Tratamento: ▪ Evita-se associar Corticoide com anti-inflamatório → pois o corticoide, em determinada dose, tem efeito anti-inflamatório, além dos seus outros efeitos HIDROXICLOROQUINA → é usada também em artrites infecciosas, por exemplo ✓ Geralmente não se usa hidroxicloroquina na Artrite Reumatóide ✓ Antes de fazer o uso dessa medicação deve-se fazer um exame oftalmológico, para avaliar problemas na retina, pois a hidroxicloroquina pode causar problemas oftalmológicos ▪ Antes de fazer uso de um imunossupressor → deve-se fazer um hemograma, ver as transaminases e avaliar função renal METOTREXATO → é o melhor remédio para Artrite Reumatóide ✓ Tem 7% de risco de Pneumotoxicidade → é por isso que não se utiliza quando o paciente tem problemas pulmonares ✓ Sempre fazer um Raio-x de tórax (em PA e Perfil) antes de iniciar a medicação ➢ EPIDEMIOLOGIA: • Incidência → 30:100.000, 30 novos casos para cada 100 mil habitantes por ano (0,5 – 1% da população) Fonte: Aula + Anotações de Aulas Práticas 2 ARTRITE REUMATÓIDE (AR) Gizelle Felinto • Pico de incidência → 35 – 55 anos (assim, atinge indivíduos no auge da idade reprodutiva) • Predomínio no sexo feminino de 3:1 → 3 casos em mulheres para cada 1 caso em homens ➢ Como toda doença de caráter autoimune, há a interação entre fatores genéticos e gatilhos, sejam esses gatilhos do hospedeiro ou agentes do ambiente, para que esse fenótipo de doença se expresse FATORES QUE PARTICIPAM DA FISIOPATOLOGIA DA ARTRITE REUMATÓIDE ➢ FATORES GENÉTICOS: • As primeiras observações que falavam a favor de fatores genéticos foram estudo observacionais que identificaram que irmãos de portadores de Artrite Reumatóide tem um risco de 2 a 4 vezes maior de desenvolver artrite quando comparado à população geral • Nos casos em que a hereditariedade está presente: ▪ 40 – 65% apresenta positividade para o Fator Reumatóide (FR) ▪ 20% tem Fator Reumatóide (FR) negativo • Já foram identificados mais de 100 loci associados ao risco de Artrite Reumatóide → um dos mais importantes é o antígeno leucocitário humano da classe DRB1 (HLA-DRB1): ▪ O HLA-DRB1 é o principal marcador genético dessa suscetibilidade ao desenvolvimento de artrite reumatóide ▪ Além disso, o HLA-DRB1 está associado à produção do anticorpo anti-CCP (anticorpo antipeptídeo citrulinado cíclico), que é um autoanticorpo que pode positivar na artrite reumatóide e que tem relação com o prognóstico da doença ✓ Indivíduos que tem o anti-CCP positivo em altos títulos tendem a ter uma doença mais erosiva e uma doença sistêmica mais exuberante ➢ FATORES DO HOSPEDEIRO: • Podem contribuir para antecipar ou retardar o surgimento da doença • Amamentação → acredita-se que tem um efeito protetor • Uso de Hormônio Exógenos: ▪ Anticoncepcional Hormonal Oral (ACHO) – a pílula combinada → retarda o início da doença ▪ Terapia de Reposição Hormonal (TRH) → se tem poucos estudos sobre o efeito da TRH ✓ Porém, se o estrógeno exógeno retarda o início da doença, pode-se questionar se essa terapia de reposição hormonal seria um fator protetor • Priodontite (mau estado de conservação dos dentes) → é o fator do hospedeiro que tem maior relevância para o surgimento da doença ▪ A doença periodontal e as cáries aumentam o risco de o indivíduo ter artrite reumatóide e pioram o prognóstico da doença, pois a doença periodontal estimula a citrulinização dos peptídeos na orofaringe, e quanto maior a concentração desses peptídeos citrulinados na orofaringe ou no pulmão, por exemplo, que atuam como um antígeno, maiores os estímulos do sistema imune para a produção dos anticorpos anti- CCP, que participam da fisiopatologia da doença ➢ FATORES AMBIENTAIS: • Há a participação de fatores ambientais como gatilho para o desenvolvimento da artrite reumatóide nos indivíduos geneticamente suscetíveis • Tabagismo → é o principal fator ▪ O tabagismo leva a um aumento da citrulinização de peptídeos à nível pulmonar, aumentando-se a quantidade de antígenos no corpo. Esse estímulo antigênico ativa a cascata inflamatória via linfócito T e B e leva à produção de autoanticorpos anti-CCP • Exposição à sílica, poeira de metais pesados e óleos minerais → são fatores desencadeantes • Azeite de olivae óleo de peixe → podem ser fatores protetores, mas isso não está bem estabelecido na literatura médica • Infecções virais*: ▪ Epstein-Barr (vírus da Mononucleose) ▪ Parvovírus B19 → sabe-se que, por exemplo, o Parvovírus pode levar a um quadro de poliartrite simétrica de pequenas articulações e, inclusive, pode induzir a um falso positivo do fator reumatóide, o que constitui um quadro que simula a artrite reumatóide. A diferença é que a artrite do Parvovírus costuma ser mais transitória, durando uma média de 4 – 6 semanas ▪ Citomegalovírus ▪ Retrovírus • Micobactérias (Tuberculosis ou Hansen)* → infecções por Micobactérias como a Tuberculose e a Hanseníase podem levar a um falso-positivo do fator reumatóide. E a Hanseníase, especialmente, pode evoluir com um quadro de poliartrite simétrica ▪ A artrite tuberculosa não costuma ser um quadro de poliartrite simétrica, mas ela pode levar a um falso- positivo do fator reumatóide *Não há evidências consistentes FISIOPATOLOGIA DAS DOENÇAS AUTOIMUNES ➢ Para que a doença autoimune se instale nos indivíduos geneticamente suscetíveis é preciso que haja a perda de tolerância do sistema imune. A tolerância é o mecanismo pelo qual o sistema imune não reconhece as células como antígenos, sendo por meio dessa tolerância que se mantem o equilíbrio entre o sistema imune e as células do corpo. Assim, quando há a quebra dessa tolerância o sistema imune começa a reconhecer as células do próprio organismo como sendo antígenos, iniciando-se essa autoagressão ➢ Período de Pré-Artrite → suscetibilidade genética • São mais de 100 loci e tem-se vários epítopos compartilhados do complexo de histocompatibilidade principal • O HL-DRB1 é o principal, mas existem outros complexos Fonte: Aula + Anotações de Aulas Práticas 3 ARTRITE REUMATÓIDE (AR) Gizelle Felinto ➢ Quando há a interação entre os genes que conferem essa suscetibilidade e fatores ambientais ou do hospedeiro como a Periodontite modificando a microbiota oral, o tabagismo modificando microbiota do trato respiratório ou modificação da microbiota intestinal, associada ainda a alterações epigenéticas dos mesmos genes que conferem suscetibilidade e a modificação pós-translacionais de proteínas (Citrulinização, Acetilação, Carbamilação...). Essa interação entre esses 4 fatores leva à perda de tolerância, com produção de linfócitos T e linfócitos B nos órgãos do sistema reticuloendotelial. Isso é o que explica, por exemplo, a linfadenomegalia e a hepatoesplenomegalia que se pode observar nos pacientes. As células dendríticas servem como células apresentadoras de antígeno aos linfócitos T que, por sua vez, vão estimular os linfócitos B para a formação de autoanticorpos, os ACPA que são principalmente os anti-CCP e o Fator Reumatóide. Dessa forma, haverá um infiltrado celular na sinovite, inicialmente levando a uma sinovite assintomática até que o paciente manifeste o fenótipo de doença com dor, edema, calor, rigidez da articulação e dano articular que pode ser irreversível ACHADOS CLÍNICOS ➢ É uma doença sistêmica, não estando limitada apenas à cartilagem sinovial como a Osteoartrite, por exemplo ➢ MANIFESTAÇÕES ARTICULARES → são as que chamam mais atenção e são o que leva o paciente a procurar o reumatologista • Sinovite simétrica de pequenas articulações: ▪ Sinovite = proliferação da cartilagem sinovial ▪ Clinicamente, essa proliferação se manifesta em forma de dor de caráter inflamatório, edema e calor da articulação ▪ Rubor da articulação não costuma ser visto na artrite reumatóide ▪ Inicialmente há comprometimento das pequenas articulações: ✓ Interfalangianas proximais ✓ Metacarpofalangianas ✓ Punhos ✓ Metatarsofalangianas ✓ Interfalangianas dos pés ✓ Tende a poupar as interfalangianas distais • Acometimento tardio das grandes articulações: ▪ Joelhos, quadris, tornozelos, ombros e cotovelos • Outras articulações que também podem ser acometidas: ▪ Articulação Atlantoaxial (C1 – C2) ▪ Cricoaritenóidea → seu acometimento causa rouquidão/disfonia ▪ Temporomandibular → leva à claudicação de mandíbula • Cistos Sinoviais → a proliferação da sinovial e a formação do pannus, que está contido na fisiopatologia da artrite reumatoide e é formado quando há um infiltrado celular na cartilagem sinovial (de células dendríticas, linfócitos T e linfócitos B). Assim, a capsula articular se dilata pelo aumento da produção do líquido sinovial, formando-se os cistos sinoviais ▪ Esses cistos podem ocorrer em qualquer articulação ▪ Local comum de surgimento de cistos sinoviais → Fossa Poplítea CISTO DE BAKER → Cisto Sinovial na Fossa Poplítea - É formado quando há um aumento na pressão do líquido sinovial no interior da articulação do joelho. Na fossa poplíteo tem-se uma válvula unidirecional que permite que o excesso de líquido sinovial escoe para a fossa poplítea, mas ela não permite o seu retorno para o interior da articulação femorotibial ou femoropatelar. Dessa forma, esse líquido vai se represar na fossa poplítea, na forma de um cisto - Radiografia → mostra o aumento de partes moles, o acumulo de líquido na articulação femoropatelar e a formação de um cisto bem delimitado que vai dissecando a musculatura entre o gastrocnêmio e o sóleo - Esse cisto de Baker não é patognomônico de artrite reumatóide, pois qualquer condição que aumente a produção de líquido sinovial do joelho (Ex: ruptura de menisco, Lipoma Arborescente – tumor benigno da cartilagem sinovial, sinovite vilonodular...) pode levar ao surgimento do cisto de Baker. Até mesmo uma osteoartrite pode levar ao surgimento desse cisto - Esse cisto de Baker pode romper, fazendo com que esse líquido sinovial vá dissecando a musculatura da panturrilha, causando um dor importante com sinais flogísticos exuberantes e simulam um quadro de Trombose Venosa Profunda (TVP). Assim, muitas vezes, o rompimento desse cisto leva o paciente para a emergência com um quadro que simula TVP, com dor, edema, calor e rubor da panturrilha, e quando se faz o doppler vê-se que não tem trombo, mas sim um cisto sinovial roto - Assim, pacientes com acometimento dessa atlantoaxial precisam ser vistos pelo pessoal da neurocirurgia para que a coluna seja estabilizada e fixada - Diagnóstico da Subluxação atlantoaxial → quando a distância do processo odontóide para o corpo da vértebra for maior que 1 cm na radiografia simples em perfil - Nessa radiografia também se observa vários osteófitos, redução do espaço entre os corpos vertebrais e artrose interfacetária Acometimento da Articulação Atlantoaxial - O esqueleto axial é poupado, pois não tem cartilagem sinovial, mas com exceção dessa articulação - Esse acometimento é uma urgência e precisa ser tratado em até 24h, pois pode levar a uma Subluxação dessa articulação. Se ela Subluxação evoluir para uma luxação total, haverá uma transecção da medula à nível alto (C1 – C2) que vai ocasionar uma tetraplegia ou até mesmo o óbito Fonte: Aula + Anotações de Aulas Práticas 4 ARTRITE REUMATÓIDE (AR) Gizelle Felinto • Quando essas deformidades se instalam na artrite reumatóide elas costumam ser irreversíveis, pois a artrite reumatóide é uma artrite erosiva. Assim, ela vai cursar com erosões que, uma vez instaladas, não se consegue reverter. Dessa forma, por exemplo, o paciente que apresenta o dedo em botoeira terá esse dedo assim para sempre. Felizmente, hoje em dia tem-se critérios que permitem um diagnóstico mais precoce e tem-se um amplo arsenal terapêutico que evita que o paciente chegue nesse estágio ➢ MANIFESTAÇÕES EXTRA-ARTICULARES: • No início da doença os pacientes podem se queixar de: ▪ Fadiga ▪ Anorexia → é causada principalmente pela liberação do TNF-α, que é uma das citocinas mais preponderantes nafisiopatologia da artrite reumatóide ▪ Febre baixa ocasional → não ultrapassa os 38° ▪ Isso é explicado pela circulação das citocinas pró- inflamatórias na corrente sanguínea ▪ O TNF-α é conhecido popularmente como Caquexina. Assim, altos níveis de TNF-α circulantes vã levar à inapetência e à anorexia. Além disso, também é o responsável pelos sintomas de fadiga e febre baixa • Nódulos Reumatóides: ▪ São nódulos que tem uma predileção por superfícies extensoras das articulações ▪ Tem caráter benigno ▪ Podem ocasionar dor, pois eles costumam ocorrer em lugares de pressão, como a superfície extensora do cotovelo ▪ Seu aspecto macroscópico é diferente do tofo da gota: ✓ Tofo gotoso → consegue-se observar uma massa brancacenta e vários pontinhos ao redor do nódulo ✓ Nódulo Reumatóide → tem uma consistência fibroelástica e é um pouco mais aderido do que o tofo • Manifestações Hematológicas: ▪ Anemia → pode-se ter 3 tipos, os quais 2 são relacionados à doença e o outro tipo é correlacionado ao principal medicamento para a artrite reumatóide, que é o Metotrexato ✓ Anemia de Doença Crônica (normocítica e normocrômica) ✓ Anemia Carencial (microcítica e hipocrômica) → em decorrência dos episódios de anorexia ✓ Anemia Megaloblástica (VCM > 100) → evento adverso do Metotrexato ❖ Metotrexato → é uma droga antimetabólita que inibe a síntese de DNA de diversas células, incluindo das hemácias, o que pode levar à instalação da anemia megaloblástica ▪ Trombocitose (excesso de plaquetas no sangue) → é um sinal de atividade inflamatória ▪ Linfadenopatias → tem caráter benigno, sendo linfadenomegalias móveis, fibroelásticos e indolores, semelhantes às linfadenopatias reacionais ✓ Essas linfadenopatias podem acontecer em quaisquer cadeias de linfonodos: Acometimento clássico da Artrite Reumatóide (deformidades comummente vistas nos pacientes portadores de uma artrite reumatóide avançada ou mais agressiva) - Aumento volumétrico das articulações metacarpofalangianas e interfalangianas proximais - Poupa-se as interfalangianas proximais - Hipotrofia da musculatura interóssea - Subluxação da 2ª articulação interfalangiana proximal - Se observar-se essa mão em perfil, ela vai dar um aspecto chamado de mão em dorso de Camelo → atrofia da musculatura + aumento volumétrico das metacarpofalangianas, dando uma imagem que se assemelha à corcova do camelo Dedo em Botoeira - Hiperflexão da interfalangiana proximal com a hiperextensão da interfalangiana distal Dedo em Pescoço de Cisne - Hiperextensão da interfalangiana proximal e hiperflexão da interfalangiana distal Subluxação das articulações metacarpofalangianas com consequente desvio ulnar dos dedos Fonte: Aula + Anotações de Aulas Práticas 5 ARTRITE REUMATÓIDE (AR) Gizelle Felinto ❖ Visíveis ao exame físico → como cervicais, axilares, inguinais... ❖ Visíveis apenas nos exames de imagem → linfadenopatias mediastinais e retroperitoneais ✓ O aumento de células efetoras do sistema imune, linfócitos T e B, que são produzidas nos órgãos do sistema reticuloendotelial. Assim, para que haja um aumento na produção dessas células os linfonodos irão hipertrofiar ▪ Síndrome de Felty: ✓ É caracterizada pela tríade → Artrite Reumatóide + Neutropenia + Esplenomegalia • Manifestações Pulmonares: ▪ Tem-se basicamente 3 manifestações pulmonares: ✓ Derrame pleural ✓ Nódulo Reumatóide ✓ Doença Pulmonar Intersticial • Manifestações Cardíacas: ▪ Pode-se ter Nódulo Reumatóide no Miocárdio e, a depender da localização desse nódulo, pode-se ter as mais diversas arritmias cardíacas • Manifestações Oculares: ▪ São manifestações bastante importantes ▪ Ceratoconjuntivite Seca → manifestação ocular mais comum da artrite reumatóide ✓ Ocorre em pacientes que tem a Síndrome de Sjogren + Artrite Reumatóide ❖ Síndrome de Sjogren → é uma exocrinopatia autoimune, que acomete as gândulas exócrinas. Essa doença culmina com a diminuição das secreções dessas glândulas exócrinas, fazendo com que os pacientes tenham queixas de Xeroftalmia e Xerostomia ✓ Devido a esse olho seco pode-se ter: ❖ Esclerite → inflamação da esclera ❖ Episclerite ❖ A esclerite pode evoluir como uma Escleromalácia Perfurante e perda da visão por perda do globo ocular ❖ Úlcera de Córnea → a baixa lubrificação do globo ocular pode levar à desepitelização da córnea com a formação de úlceras ❖ Amaurose → com necessidade de transplante de córnea - Derrame Pleural (Seta Azul) - Nódulo Reumatóide (Seta Laranja) → é aquele mesmo nódulo reumatóide que surge na superfície extensora, pois ele pode surgir em qualquer parte do corpo (pulmão, coração, rim, fígado...). Na imagem, esse nódulo se encontra cavitado, apresentando diagnóstico diferencial com a tuberculose, que pode levar a um fator reumatóide positivo A A Doença Pulmonar Intersticial - Pode ocorrer em várias doenças autoimunes (Ex: Artrite Reumatóide, Síndrome de Sjogren, Lúpus, Esclerose Múltipla...) Ressonância do Tórax mostrando um Derrame Pericárdico (seta verde) - Há descolamento do pericárdio e do miocárdio, devido ao aumento de líquido (seta amarela) A Esclerite Escleromalácia Perfurante Úlcera de Córnea Amaurose Fonte: Aula + Anotações de Aulas Práticas 6 ARTRITE REUMATÓIDE (AR) Gizelle Felinto • Manifestações Neurológicas: ▪ O acometimento do Sistema Nervoso Central na artrite reumatóide não é comum ▪ Paquimeningite → acometimento das 3 meninges (Pia- máter, Dura-máter e Aracnóide), ocorrendo uma inflamação autoimune dessas meninges ▪ Pode-se ter também o acometimento do Sistema Nervoso Periférico, sob a forma de Neuropatias Periféricas → há uma inflamação dos vasos que nutrem os nervos, vasculite vasa nervorum, e essa hipóxia dos nervos periféricos é a responsável pela instalação da neuropatia periférica • Manifestações Musculares: ▪ Pode-se ter uma Mialgia ou até mesmo uma Miopatia, que é a inflamação da musculatura estriada ▪ Hipotrofia Muscular → em decorrência do não uso da articulação, devido à inflamação articular • Manifestações Renais → não costumam ser comuns ▪ Amiloidose Renal secundária à artrite reumatóide → qualquer condição inflamatória crônica predispõe à Amiloidose, e não apenas a artrite reumatóide • Manifestações Vasculares: ▪ Vasculite Reumatóide → inflamação dos vasos em decorrência da produção de autoanticorpos. Como manifestações da vasculite observa-se: ✓ Gangrena → Isquemia dos dígitos ✓ Úlcera periféricas ✓ É a hipertrofia do endotélio e diminuição do lúmen do vaso que levam à hipóxia, causando essas manifestações acima ACHADOS LABORATORIAIS E DE IMAGEM ➢ Anemia: • Anemia de Doença Crônica (normocítica e normocrômica) • Anemia Carencial (microcítica e hipocrômica) • Anemia Megaloblástica (VCM > 100) → devido ao uso de Metotrexato, principalmente se esses pacientes não estiverem fazendo suplementação com ácido fólico. Assim, sempre se associa o ácido fólico como profilaxia do surgimento dessa anemia megaloblástica ➢ Elevação dos Reagentes de Fase Aguda → VSH e PCR acima dos valores de referência • São exames inespecíficos, mas que podem inferir inflamações ou infecções. Assim, na ausência de doenças infecciosas, a elevação dos reagentes de fase aguda é um dos indícios de que a artrite está em atividade • Valores de referência: ▪ VSH → o ponto de corte é: ✓ ≤ 20 mm → para mulheres e crianças ✓ ≤ 15 mm → para homens ▪ PCR → depende da metodologia e do kit utilizado, podendo ter como ponto de corte 5, 8 ou 0,5, por exemplo ➢ Fator Reumatóide (FR) → pode ser positivo em até 70% dos pacientes com Artrite Reumatóide, mas 30% terão esse fator negativo • Assim, Fator Reumatóide positivonão é igual a artrite reumatóide • A ausência do fator reumatóide não exclui a possibilidade diagnóstica de artrite reumatóide • O fator reumatóide é uma imunoglobulina → existe o FR IgM, que é o mais comum, mas também existem o IgG e o IgA ▪ Geralmente, essas imunoglobulinas se dirigem contra a fração Fc da IgG ▪ Quaisquer condições que aumentem a produção dessas imunoglobulinas (IgM, IgG, IgA) podem dar um falso- positivo para o fator reumatóide • Dessa forma, esse fator reumatóide não é indispensável para o diagnóstico da artrite reumatóide, mas ele ajuda no diagnóstico • Tem relação com o prognóstico da doença → tanto o prognóstico da doença articular quanto o prognóstico extra- articular. Assim, quanto maiores forem os títulos de fator reumatóide, mais agressiva tende a ser a artrite e maior será a probabilidade de que surjam sinais e sintomas de acometimento sistêmico ➢ Anti-CCP (Anticorpo Antipeptídeo Citrulinado Cítrico) → também tem relação com o prognóstico da doença • É mais específico que o fator reumatóide → mas, apesar de o anti-CCP ser mais específico, sua positividade sozinha não dá diagnóstico de artrite reumatóide • Não se pede de rotina devido ao custo do exame, que é mais caro que o do fator reumatóide • Deve ser solicitado naqueles pacientes em que se tem uma alta suspeição de artrite reumatóide, mas não se consegue fechar o diagnóstico, pois, por exemplo, o fator reumatóide é negativo • Geralmente, quem tem o anti-CCP positivo também tem o fator reumatóide positivo, mas nem sempre isso ocorre • Existem vários relatos nas literaturas médicas de que o anti- CCP é positivo na artrite psoriásica ➢ FAN (fator antinuclear) → pessoas com Artrite Reumatóide podem ter o FAN positivo Fonte: Aula + Anotações de Aulas Práticas 7 ARTRITE REUMATÓIDE (AR) Gizelle Felinto • É um exame de triagem para doenças autoimunes • A associação maior do FAN é com o Lúpus, mas não é apenas com essa doença, tendo relação também com esclerose sistêmica, miopatias inflamatórias, Síndrome de Sjogren, Artrite Reumatóide... • Até 30% dos pacientes com artrite reumatóide podem ter o FAN positivo ➢ ANCA (Anticorpo Anti-Citoplasma de Neutrófilos) → até 15% dos portadores de artrite reumatóide podem ter o ANCA positivo • Existe um grupo de vasculites associadas a esse anticorpo, que ocasionam um síndrome pulmão-rim. Porém, esse anticorpo também não é específico das vasculites ➢ Líquido Sinovial Inflamatório: • Se for realizada uma artrocentese de alívio nesses pacientes com artrite reumatóide e for feito o estudo do líquido sinovial, observa-se características de um líquido sinovial inflamatório. Ou seja, haverá: ▪ Aumento de proteína ▪ Aumento da celularidade → com predomínio de linfócitos, e não de polimorfonuclear. Porém não é uma celularidade tão importante quanto a da artrite séptica, por exemplo, que ultrapassa 100.000 células. Na Artrite reumatóide fica entre 10.000 e 100.000 células por mL de líquido sinovial analisado ▪ Glicose estará normal ▪ Não se consegue corar pelo método gram ▪ Cultura será negativa DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DO FATOR REUMATÓIDE POSITIVO ➢ Nem todo fator reumatóide positivo significa artrite reumatóide, pois ele pode ser positivo em qualquer condição que aumente a produção de imunoglobulinas ➢ Doenças Reumáticas: • Síndrome de Sjogren • Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) • Crioglobulinemia • Doença Mista do Tecido Conjuntivo (DMTC) • Miopatias Inflamatórias ➢ Infecções: • Virais → Hepatite B e C, Vírus Epstein-Barr (EBV), Parvovírus, Influenza, Chikungunya, outras • Bacterianas → Endocardite, Osteomielite, outras • Indolentes → Hanseníase, Tuberculose, Leishmaniose Visceral, Esquistossomose, outras ➢ Condições Inflamatórias Crônicas (Ex: Sarcoidose) ➢ Doença Hepática, Doença Inflamatória Intestinal e outras ➢ Envelhecimento → existem alguns estudos de base de dados populacional que mostram que até 40% dos indivíduos com idade ≥ 60 anos terão o fator reumatóide positivo. Assim, em indivíduos com essa idade pode-se estar diante de uma osteoartrite erosiva de mãos com o indivíduo apresentando fator reumatóide positivo, por exemplo. Dessa forma, qualquer exame só deve ser solicitado se houver uma alta suspeição diagnóstica, caso contrário, o exame pode confundir mais do que ajudar, pois nesse caso citado, com o fator reumatóide positivo pode-se acabar se confundindo e tratando uma osteoartrite de mãos como sendo uma artrite reumatóide, sendo esse aumento do fator reumatóide relacionado ao envelhecimento do indivíduo, e não a uma artrite reumatóide • Osteoartrite ≠ Artrite Reumatóide: ▪ Artrite Reumatóide → poupa as articulações interfalangianas distais ▪ Osteoartrite → acomete as articulações interfalangianas distais e proximais e poupa o punho Raio-x de paciente com Artrite Reumatóide - Paciente já em um estado mais avançado da doença, bastante erosivo - Osteopenia Justarticular (seta amarela) → diminuição da densidade mineral óssea nas margens das articulações, com uma certa preservação da densidade mineral óssea na diáfise do osso (seta verde). O que justifica essa osteopenia é que a artrite reumatóide é uma doença que ativa osteoclastos - Diminuição dos Espaços Articulares Interfalangianos Proximais (seta laranja) e Metacarpofalangianos (seta azul) - Anquilose do punho (seta roxa) → indefinição completa dos ossos do punho. Se for examinar esse paciente, ele não consegue fletir a 90° os punhos - Múltiplas Erosões na Cabeça dos Metacarpos (seta rosa) → a configuração da cabeça do metacarpo é perdida, não se vendo a configuração arredondada normal da articulação. Essas múltiplas erosões levaram à instalação de uma Subluxação das articulações metacarpofalangianas com o desvio ulnar dos dedos - Cistos Subcondrais (seta cinza) → são cistos dentro do osso, que se formam abaixo da margem articular Raio-x de paciente com Artrite Reumatóide - Cistos Subcondrais (seta cinza) - Erosão (seta rosa) → a cabeça d metatarso perdeu sua conformação - Osteopenia nas margens articulares (seta amarela) - Imprecisão em relação aos limites dos ossos do tarso (seta verde) - Diminuição dos espaços articulares Fonte: Aula + Anotações de Aulas Práticas 8 ARTRITE REUMATÓIDE (AR) Gizelle Felinto CRITÉRIOS PARA A CLASSIFICAÇÃO DA ARTRITE REUMATÓIDE (ACR 1987) ➢ Dos 7 seguintes critérios é necessário preencher pelo menos 4 para ser classificado como artrite reumatóide: 1. Rigidez Matinal → prolongada > 60min ▪ Dificuldade de abrir e fechar as mãos ao acordar 2. Artrite de três articulações → evidenciando acometimento poliarticular 3. Artrite das articulações das mãos → evidenciando o acometimento de pequenas articulações 4. Artrite simétrica 5. Nódulos reumatóides 6. Fator reumatóide positivo 7. Alterações radiográficas características → como: ▪ Osteopenia justarticular ▪ Cistos subcondrais ▪ Erosões... ➢ Existem critérios mais recentes, de 2010, mas com esses critérios mais novos, às vezes, não se consegue diagnosticar um paciente que já esteja em uma fase mais avançada, pois o critério de 2010 não leva em consideração, por exemplo, alterações radiográficas. Assim, quando se pega um paciente com uma radiografia bastante característica pode-se não conseguir dar o diagnóstico pelo critério de 2010 ➢ O problema dos critérios de 1987 é que eles levam em consideração alterações que acontecem em fases mais avançadas da doença, como a presença dos nódulos reumatóides e as alterações radiográficas. Assim, demorava-se muito tempo para se conseguir fechar o diagnóstico, perdendo-se tempo de tratamento e aumentando-se o risco de progressão radiográfica, na qual as alterações radiográficas, uma vez instaladas, são irreversíveis ➢ Precisa-se dar o diagnóstico de formaprecoce para que se trate o mais rápido possível e se impeça o dano articular, mantendo o paciente com a sua função preservada CRITÉRIOS CLASSIFICATÓRIOS PARA ARTRITE REUMATÓIDE (ACR/EULAR 2010) ➢ Esses critérios foram criados com o objetivo de dar o diagnóstico de uma forma mais precoce ➢ Antes de aplicar o seguinte questionário do paciente, é necessário responder a seguinte pergunta: Existe uma outra doença que melhor justifique os sinais e sintomas do paciente? • Se sim → não se deve aplicar os critérios, pois pacientes com outras doenças, como a artrite psoriásica, podem preencher esses critérios mesmo sem ter a artrite reumatóide ➢ Lembrando → esses critérios são classificatórios, e não diagnósticos. O critério classificatório é aquele que seleciona o paciente para os ensaios clínicos. A maioria dos pacientes se encaixam nesses critérios de 2010, mas pode-se se deparar com pacientes que não preenchem esses critérios do ACR/EULAR 2010 e dá-se o diagnóstico pelos do ACR 1987 ➢ Esses critérios trazem 4 domínios (articular, sorológico, duração dos sintomas e provas de atividade inflamatória) e o peso de cada um dos acometimentos ➢ Artrite Reumatóide = total de 6 pontos ➢ Grandes articulações → ombro, cotovelo, quadril, joelho e tornozelo ➢ Pequenas articulações → interfalangianas, metacarpofalangianas, punho, interfalangianas dos pés e metatarsofalangianas ➢ ACOMETIMENTO ARTICULAR → vê-se quantas articulações tem dor, edema e calor ao exame físico • Essa contagem pode ser feita também com a propedêutica armada, ou seja, ultrassom com doppler ou ressonância nuclear magnética da articulação → faz-se quando se tem dúvida no exame físico • Essas articulações não precisam estar todas inflamadas no momento da avaliação. Assim, por exemplo, o paciente pode chegar na primeira consulta com 3 articulações inflamadas e na consulta de retorno apresentar 10 articulações acometidas, podendo-se somar, caso sejam em locais diferentes ➢ SOROLOGIA: • Autoanticorpos negativos → 0 • ACPA (anti-CCP) • Baixos títulos → até 3 vezes o limite superior normal • Altos títulos → acima de 3 vezes o limite superior normal ➢ DURAÇÃO DOS SINTOMAS → a presença por mais de 6 meses nos mostra o caráter crônico da doença ➢ PROVAS DE ATIVIDADE INFLAMATÓRIA: • PCR ou VHS anormal → acima do limite superior de referência • Assim, por exemplo, tanto faz tem um VHS de 20 ou de 100, a pontuação será a mesma DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ➢ É amplo e se faz com doenças dentro e fora da reumatologia ➢ Espondiloartrites: • Artrites Reativas • Espondilite Anquilosante (EA) • Artrite Psoriásica (APSO) Fonte: Aula + Anotações de Aulas Práticas 9 ARTRITE REUMATÓIDE (AR) Gizelle Felinto • Artrites Enteropáticas ➢ Infecções: • Virais → Dengue, HIV, Hepatite C, Vírus Epstein-Barr (EBV), Parvovírus, Influenza • Micobacterianas → Hanseníase, Tuberculose • Fúngicas ➢ Doenças Reumáticas Sistêmicas: • Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) • Miopatias Inflamatórias • Esclerose Sistêmica • Síndrome de Sjögren • Doença de Behçet • Polimialgia Reumática • Vasculites Sistêmicas ➢ Doenças Endócrinas: • Hipotireoidismo • Hipertireoidismo ➢ Doenças Neoplásicas: • Neoplasia Metastática • Linfoma → pode dar um falso-positivo para fator reumatóide • Síndromes Paraneoplásicas ➢ Outras: • Osteoartrite • Hemocromatose • Amiloidose • Sarcoidose TRATAMENTO DA ARTRITE REUMATÓIDE ➢ Medicações que podem ser usadas durante o tratamento: • Em todas as fases do tratamento, seja na primeira, segunda ou terceira linha, pode-se utilizar PREDNISONA em dose anti- inflamatória (até 0,3 – 0,5 mg/Kg/dia) ou alguma medicação na posologia equivalente, na menor dose possível e pelo menor período de tempo possível ▪ Na artrite reumatóide, geralmente, não se ultrapassa 15mg por dia de Prednisona ▪ Pode-se fracionar em 2 tomadas diárias, pois quando se fraciona e dá-se uma tomada à noite, desobedecendo um pouco o ciclo circadiano do cortisol, geralmente o paciente acorda com menos rigidez matinal ▪ O corticoide atua como uma ponte até que o paciente atinja o alvo terapêutico com o Metotrexato • INFILTRAÇÃO INTRA-ARTICULAR DE CORTICOIDE → pode ser feita a qualquer momento ▪ Ex: paciente está indo bem, com o Metotrexato funcionando e sem fazer uso de corticoide oral. Porém, de repente, esse paciente apresenta uma artrite do punho direito. Assim, para que não seja necessário usar corticoide oral ou até mesmo aumentar o metotrexato, pode-se fazer uma infiltração intra-articular com corticoide • ANALGÉSICOS E ANTI-INFLAMATÓRIOS → podem ser utilizados como medicações de resgate, para tirar o paciente da crise ➢ PRIMEIRA LINHA: • Na primeira fase do tratamento observa-se o paciente por um período de no máximo 6 meses METOTREXATO (MTX) → é uma droga antimetabólita ▪ É a droga escolhida para o início do tratamento ▪ É padrão-ouro, pois de cada 10 pacientes portadores de artrite reumatóide, 6 conseguem manter sua doença sob controle com o uso do Metotrexato ▪ Tem baixo custo ▪ Boa comodidade posológica → tem tomada semanal ▪ É uma droga de ação lenta que começa a ter ação depois de 3 – 4 semanas após o início do uso. É por isso que, geralmente, no início do tratamento faz-se a associação da prednisona com o Metotrexato ▪ Efeitos colaterais → na grande maioria dos casos, costumam ser contornáveis ✓ Anemia Megaloblástica → sempre se associa o ácido fólico para a prevenção dessa anemia ✓ Náuseas e vômitos ✓ Leucopenia → realizar hemograma periodicamente ✓ Hepatoxicidade → necessidade de ficar monitorando as transaminases ✓ Abortivo e Teratogênico → assim, é preciso alertar às mulheres em idade fértil sobre a contracepção ▪ Doses: ✓ Início → 15mg por semana ✓ Pode-se titular (aumentar a dose) depois de 4 semanas ✓ Dose máxima em adultos → 25 – 30mg por semana LEFLUNOMIDA → é a segunda droga modificadora do curso da doença sintética mais utilizada COMBINAÇÃO DE DMARDS SINTÉTICOS → Se não primeira avaliação o paciente já tem sinais de mau prognóstico (Ex: raio-x mostrando erosão, manifestações extra-articulares, fator reumatóide positivo em altos títulos...) já se pode iniciar o tratamento com uma combinação de DMARDS sintéticos Fonte: Aula + Anotações de Aulas Práticas 10 ARTRITE REUMATÓIDE (AR) Gizelle Felinto ▪ DMARDS (Droga Modificadora do Curso de Doença) → essas medicações modificam a evolução da doença, impedindo a instalação da erosão óssea ▪ Principal combinação → Metotrexato + Leflunomida ▪ É necessário ficar monitorando a toxicidade da droga. Assim, no início do tratamento é necessário que o paciente seja acompanhado mensalmente para que se avalie a eficácia e a tolerabilidade do medicamento ▪ Caso não atinja o alvo em 4 semanas → pode-se ir aumentando o Metotrexato até chegar à dose máxima (25 – 30mg/semana, mas geralmente não se ultrapassa 25mg/semana) • TROCAR O ESQUEMA TERAPÊUTICO: ▪ Nos seguintes casos: ✓ Quando se aumenta a dose do Metotrexato e o paciente não respondeu ✓ Se aumenta a dose e o paciente é intolerante ao Metotrexato (paciente pode não tolerar muito bem as náuseas, por exemplo) ▪ Possiveis trocas: ✓ Trocar o METOTREXATO por, preferencialmente, a LEFLUNOMIDA ou ✓ Quando se estava fazendo uso apenas do Metotrexato isolado → associar METOTREXATO + LEFLUNOMIDA • Outras drogas modificadoras de curso de doença: ▪ SULFASALAZINA → pode ser utilizada em associação ao Metotrexato ou à Leflunomida, mas não é uma associação rotineira devido aos eventos adversos e à comodidade posológica, pois as Sulfalazinas são 4 comprimidos diários ▪ AZATIOPRINA → é um imunossupressor que não tem uma boa resposta para a doença articular. Assim, ela é mais utilizada,por exemplo, quando o paciente tem uma Doença Pulmonar Intersticial ou uma Vasculite Reumatóide ✓ Usa-se muito mais para tratar as manifestações sistêmicas do que para tratar a doença articular • Esses pacientes devem ser observados e, ao final de 6 meses, deve-se decidir se ele vai continuar na primeira linha ou se ele vai para a segunda linha de tratamento. Assim, se o paciente não atingir o alvo terapêutico nesse período, recorre-se às medicações de segunda linha ➢ SEGUNDA LINHA: • Se ao final do 6º mês o paciente não atingiu a remissão ou a baixa atividade de doença com as drogas sintéticas da primeira linha, muda-se para a segunda linha do tratamento • Usa-se, preferencialmente, as Drogas Modificadoras do Curso de Doença Biológicas (bDMARD) ou, alternativamente, as Drogas Modificadoras do Curso de Doença Alvo- Específicas (tsDMARD) • Preferencialmente → DROGAS MODIFICADORAS DO CURSO DE DOENÇA BIOLÓGICAS (bDMARD): ▪ Os imunobiológicos são proteínas que vão se dirigir contra diversos fatores participantes da cascata inflamatória, bloqueando essa via inflamatória ▪ Imunobiológicos ANTI-TNF-α → das drogas de 2ª linha eles são os preferíveis, pois foram os primeiros a surgir e tem-se um melhor manejo dos eventos adversos e já se conhece a eficácia e a segurança INFLIXIMABE → foi o primeiro. É semestral ADALIMUMABE → é quinzenal CERTOLIZUMABE PEGOL → mensal ETANERCEPTE → semanal GOLIMUMAB → mensal ✓ Todos os anti-TNF tem praticamente a mesma eficácia e segurança, existindo apenas algumas particularidades de cada um. A via de administração é diferente, sendo 4 subcutâneos e 1 endovenoso ✓ Devem ser associados a uma droga sintética → preferencialmente o Metotrexato ✓ Essas medicações aumentam a suscetibilidade para contrair doenças infecciosas → assim, se chega o dia de tomar a medicação e o paciente está infectado (Ex: dengue, infecção urinária, pneumonia) ele não vai tomar a medicação, devendo-se esperar até a melhora do paciente para administrar o anti-TNF ✓ Esses pacientes não podem tomar vacinas de vírus vivo atenuado (Vacina do Sarampo, da Varicela, da febre amarela) ✓ Bloqueio do TNF-α → sabe-se que o TNF-α ajuda o sistema imune no combate de determinados patógenos ❖ Ex: Exposição ao Micobacterium tuberculosis → ocorre a formação do granuloma calcificado no ápice pulmonar, o nódulo de Gohn. Num indivíduo imunocompetente, essa primo infecção vai fazer com que o micobacterium fique contido no granuloma e não se instale a tuberculose. Uma das proteínas que mantém a estabilidade desse granuloma é o TNF-α. Assim, quando se faz uso de uma droga anti-TNF-α, desestabiliza- se esse granuloma e o micobacterium contido nele pode cair na corrente sanguínea, levando a formar graves de tuberculose, como a tuberculose miliar, pleural, peritoneal, renal e ganglionar Fonte: Aula + Anotações de Aulas Práticas 11 ARTRITE REUMATÓIDE (AR) Gizelle Felinto ✓ Todo paciente que será submetido ao tratamento com um imunobiológico deve fazer exames de rastreio para infecções indolentes: ❖ Raio-x de tórax → para avaliar se tem granuloma calcificado no ápice pulmonar, que é sugestivo de primo-infecção pelo Micobacterium tuberculosis ❖ PPD (Intradermorreação de Mantoux) → ≥ 5 ❖ Quando se tem os dois ou um dos dois citados acima (granuloma calcificado e/ou PPD ≥ 5) deve-se tratar essa tuberculose latente antes de medicar o paciente com uma medicação imunobiológica. Assim, esse paciente vai fazer uso de: - Isoniazida (300mg/dia) → por um período mínimo de 6 meses e, ao final do 1º mês do esquema com Isoniazida ele já pode tomar a primeira dose do imunobiológico ✓ O rastreio consiste também em pesquisar Hepatite B e C e HIV ✓ Contraindicações para o uso dos anti-TNF: ❖ Presença de doença desmielinizante ❖ Insuficiência Cardíaca Congestiva classe III ou IV ❖ Neoplasia sólida nos últimos 5 anos (Ex: câncer de mama, câncer de intestino...) ▪ Outras drogas imunobiológicas → são as drogas de segunda linha ✓ Inibidor da Co-estimulação do Linfócito T ou B → ABATACEPTE ✓ Bloqueador do Receptor da Interleucina-6 (IL-6) → TOCILIZUMABE • Alternativamente → DROGAS MODIFICADORAS DO CURSO DE DOENÇA ALVO-ESPECÍFICAS (tsDMARD): TOFACITINIBE BARACITINIBE UPADACITINIBE ▪ São medicações que foram aprovadas pela ANVISA após a publicação dos Guidelines que trazem essas medicações como drogas alternativas ▪ Elas vão bloquear uma enzima chamada JAK, que participa da transcrição intracelular das citocinas pró- inflamatórias • O paciente passa 6 meses nessa fase dois e se ao final dessa fase ele não atingir o alvo terapêutico deve-se ir para a fase três ➢ TERCEIRA LINHA: • É parecida com a segunda fase, a diferença é que na fase três entra como opção o anticorpo ANTI-CD 20, que é o Rituximabe • ANTICORPO ANTI-CD 20: RITUXIMABE ▪ Depleta/reduz a população de linfócito B CD-20 positivos. Dessa forma, não se consegue produzir anticorpos e imunoglobulinas ▪ Assim, o cuidado que se tem que ter com o paciente é dosar as imunoglobulinas. Se ele estiver com IgG baixo e for usado o Rituximabe ele corre o risco de contrair infecções, inclusive infecções para as quais o paciente já havia sido imunizado previamente • Exemplo → paciente que na segunda linha fez uso do Adalimumabe e, ao final de 6 meses, não melhorou. Assim, ele vai para a terceira linha de tratamento, podendo-se trocar o Adalimumabe por outro anti-TNF ou por uma outra droga das demais classes dessa terceira linha: ▪ Anti-TNF ▪ Inibidor da Co-estimulação do Linfócito T ou B → ABATACEPTE ▪ Bloqueador do Receptor da Interleucina-6 (IL-6) → TOCILIZUMABE ▪ Anticorpo ANTI-CD 20... OBJETIVOS DO TRATAMENTO ➢ O objetivo do tratamento é a remissão (paciente com a doença totalmente controlada) ➢ Existem vários critérios para dizer que o paciente está em remissão → existe a remissão clínica, laboratorial e radiográfica ➢ É aceitável que o paciente permaneça em baixa atividade de doença ➢ O alvo principal será sempre a remissão, mas existe a alternativa de manter o paciente em baixa atividade de doença ➢ Para saber se o paciente está em remissão ou em baixa atividade de doença existem índices, que são os ICAD’s (Índices Compostos de Atividade de Doença), que foram desenvolvidos para que se tivesse um parâmetro objetivo para mensurar se o tratamento vai bem ou não. Deve-se pesquisar esses ICAD’s em todas as consultas. São vários ICAD’s, sendo 3 os mais utilizados, mas só se deve escolher 1 e em toda consulta deve-se aplicar o mesmo ICAD, para que se possa ter esse parâmetro comparativo ➢ Os ICAD’s quantificam a atividade da doença da seguinte forma → conta-se o número de articulações que foram acometidas tanto em relação à dor quanto ao edema. Além disso, existem alguns ICAD’s que são cálculos mais complexos e avaliam a função logarítmica do VHS e do PCR. Assim, esses ICAD’s que também Fonte: Aula + Anotações de Aulas Práticas 12 ARTRITE REUMATÓIDE (AR) Gizelle Felinto avaliam exames laboratoriais, como o DAS 28, necessitam que esse PCR ou o VHS sejam feitos na semana da consulta, e é por isso que não se utiliza o DAS 28 no SUS ➢ O DAS 28 é parecido com o CDAI, a diferença é que necessita de exames laboratoriais (VHS ou PCR) e faz uso de um aplicativo para calcular ➢ COMPOSITE DISEASE ACTIVITY INDEX (CDAI) → na prática clínica, principalmente na realidade do SUS, é um índice bastante utilizado • É um índice que avalia 28 articulações: ▪ Ombros ▪ Cotovelos ▪ Punhos ▪ Metacarpofalangianas ▪ Interfalangianas proximais ▪ Joelhos • Esse índice não é 100% confiável, pois não avalia todas as articulações acometidas pela artrite reumatóide • Assim, no exame físico, conta-se quantasdessas 28 articulações estão doloridas e edemaciadas. O paciente vai dar uma nota de 0 a 10, em uma escala analógica, para a doença dele como um todo, no qual 0 é o estado de melhor bem-estar e o paciente não tem dor e 10 é a pior dor ou limitação por conta da artrite. Além disso, o médico avaliador também vai dar uma nota de 0 a 10 para a doença do paciente • Assim, anota-se: ▪ Quantas das 28 articulações foram acometidas por dor ▪ Quantas das 28 articulações foram acometidas por edema ▪ A nota que o paciente dá para a sua doença ▪ A nota que o médico dá para a doença do paciente • No fim, faz-se uma soma simples desses 4 itens: ▪ CDAI < 2,8 → doença em remissão ▪ 2,8 < CDAI ≤ 10 → baixa atividade de doença ▪ 10 > CDAI ≤ 22 → atividade moderada de doença ▪ CDAI > 22 → doença em atividade severa • Assim, na realidade do SUS, em todas as consultas pesquisa- se o CDAI ➢ Nos pacientes em que a doença está ativa → realizar essa avaliação a cada mês ➢ Nos pacientes em que a doença está inativa → vai-se aumentando os intervalos entre as consultas e quando ele atinge a remissão tem-se consultas a cada 6 meses COMORBIDADES ➢ É necessário rastrear e manejar essas comorbidades para diminuir a morbimortalidade da doença ➢ Doença Cardiovascular → a artrite reumatóide é um fator independente para doença cardiovascular, assim como são a Hipertensão e o Diabetes • Como a inflamação é sistêmica, altera VHS e PCR, altera a reatividade da célula endotelial e facilita a formação de aterosclerose • A principal causa de óbito do paciente portador de artrite reumatóide é a doença cardiovascular ➢ Osteoporose → pois a artrite reumatóide é uma doença que ativa osteoclasto e causa osteopenia justarticular. Além disso, a AR também é uma doença que, às vezes, necessita de doses de corticoide, que também predispõe à osteoporose ➢ Artrite Séptica → tanto pelo dano articular já existente e em uma infiltração de corticoide, mesmo com todo o cuidado de antissepsia, pode-se inocular um patógeno. Além disso, o uso de imunobiológico predispõe ao surgimento de infecções ➢ Doenças Infecciosas → o uso de imunobiológico predispõe ao surgimento de infecções ➢ A AR também aumenta o risco para malignidades hematológicas, pois tem-se um aumento da produção das células efetoras do sistema imune, linfócitos T e B. Assim, essas células vão se replicar nos órgãos do sistema reticuloendotelial e, em uma dessas etapas de replicação mais intensa, uma dessas células pode sofrer mutação e pode-se instalar uma malignidade hematológica. É comum que pacientes com AR tenham linfadenomegalias de caráter benigno, mas é preciso orientar o paciente a saber identificar um linfonodo suspeito (linfonodo doloroso ao toque, endurecido e aderido aos planos profundos). As malignidades hematológicas são: • Leucemia • Linfoma não Hodgkin PROGNÓSTICO ➢ É dependente do fato de se conseguir manter o paciente em remissão ou em baixa atividade de doença. Por isso que é necessário monitorar esses índices de atividade de doença em todas as consultas ➢ HAQ (Health Assessment Questionnaire) → é um questionário que avalia a qualidade de vida dos pacientes • Avalia, por exemplo, com que dificuldade o paciente costuma fazer atividades cotidianas, como abrir e fechar uma torneira, pois essa doença pode impactar na realização de atividades simples do dia-a-dia ➢ Sharp → é um índice de atividade radiográfica • Conta o número de erosões, cistos subcondrais... ➢ Pacientes que tem índices de atividade de doença persistentemente elevados têm um pior prognóstico do ponto de vista de erosão e de função ➢ Reagentes de fase aguda → pacientes que tem VHS e PCR sempre elevados também tendem a ter um pior prognóstico ➢ Marcadores Sorológicos (Fator Reumatóide e anti-CCP) → quanto mais altos os títulos, pior o prognóstico em todos os sentidos (no sentido da doença articular erosiva e no sentido das manifestações extra-articulares) ➢ HLA-DRB1 → confere pior prognóstico, pois está associado ao marcador sorológico anti-CCP ➢ Envolvimento extra-articular → pois também tem associação com marcadores sorológicos Fonte: Aula + Anotações de Aulas Práticas 13 ARTRITE REUMATÓIDE (AR) Gizelle Felinto ➢ TAXA DE SOBREVIDA DE TODOS OS PACIENTES PORTADORES DE ARTRITE REUMATÓIDE: • Verde → sobrevida da população geral • Laranja → pacientes com artrite reumatóide sem manifestações extra-articulares ▪ Esses pacientes tem uma sobrevida semelhante à da população geral • Roxo → todos os pacientes com artrite reumatóide • Azul → pacientes com artrite reumatóide e com manifestações extra-articulares ▪ Esses pacientes tem um pior prognóstico e uma maior morbimortalidade, principalmente por doença cardiovascular. Além disso, eles também têm uma predisposição maior para o surgimento de linfoma
Compartilhar