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Apostila de Reumatologia 8º Período Nicole C. Vivas 2021.1 Prof. Flávio Roberto Sztajnbok Sumário Drogas na Reumatologia ....................................................................................................2 Diagnóstico Laboratorial das Doenças Autoimunes ........................................................13 Dor em Membros ..............................................................................................................23 Febre Reumática ...............................................................................................................40 Artrite Idiopática Juvenil ..................................................................................................48 Vasculites ..........................................................................................................................63 Lúpus Eritematoso Sistêmico ...........................................................................................76 Dermatomiosite Juvenil ....................................................................................................83 Esclerodermia Juvenil .......................................................................................................85 Doença Mista do Tecido Conjuntivo ................................................................................87 Doenças Autoinflamatórias ..............................................................................................88 1 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 Drogas na Reumatologia CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS Drogas que modificam os sintomas ✦ AINES ✦ Corticoides Terapias modificadoras da doença (DMARDs) Terapias biológicas ➤ Os AINES e AIHs ou Corticoides são drogas que modificam os sintomas, ou seja, que ajudam a melhorar o quadro clínico do paciente. ➤ Temos as Drogas Modificadoras de Doença, conhecidas como DMARDs (Drogas Antirreumáticas Modificadoras de Doença). Espera-se que modifiquem os sintomas e, também, que as doenças entrem em remissão com seu uso — nem sempre isso será possível e não sabemos por quanto tempo isso vai ocorrer. ➤ Nas terapias biológicas, temos como exemplo, as vacinas. AINEs Tradicionais (não-específicos) Inibem a COX-1 e a COX-2 e os mediadores inflamatórios. Possuem efeitos analgésicos, anti-inflamatórios e antipiréticos. Os AINEs tradicionais, geralmente, causam efeitos colaterais. ➤ Os AINES inibem COX-1 e COX-2 e mediadores inflamatórias. Têm efeitos analgésicos, anti- inflamatórios e antipiréticos, dependendo da dose a ser administrada. ➤ Exemplo: Ibuprofeno em dose MENOR é ANTIPIRÉTICO, em dose MAIOR é ANTI-INFLAMATÓRIO. ➤ Lembrando que essas medicações têm muitos efeitos adversos. TOXICIDADE GI Dispepsia Úlcera péptica TOXICIDADE CARDIOVASCULAR ➤ A toxicidade cardiovascular pode ocorrer, principalmente, nos idosos, assim como a toxicidade renal. Inibição da COX-2 inibe prostaciclina mais intensamente do que o tromboxano. ✦ Trombose ✦ Vasoconstrição Aumento da incidência de eventos cardiovasculares em 3 estudos com Rofecoxibe, Colecoxibe e Valdecoxibe. 2 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 EFEITOS ADVERSOS Toxicidade Renal ↳ Mas independente da idade, qualquer paciente que fizer uso prolongado, tem que ter controle regular de urina, creatinina, etc., porque quando o quadro renal se apresenta, já é tarde — paciente já está hipertenso, com anasarca, edema de MMII. Toxicidade hepática Exacerbação da asma ↳ Existe a possibilidade de exarcebação da asma brônquica, uma vez que aumenta a atividade de leucotrienos que são potentes broncoconstritores. Reações alérgicas cutâneas ↳ Podem ter reações alérgicas cutâneas, graves ou menos graves — casos de complicação de MI com vasculite grave. Toxicidade do SNC ↳ Já a toxicidade do SNC e a falha na fecundação não são tão comuns. Por fim, a aplasia de medula óssea pode acontecer também por uso de AI. Falha na fecundação Aplasia de medula ⚕ A indicação de uso de anti-inflamatório é doença inflamatória. Corticoides Inibem a síntese de prostaglandina. Inibem a síntese de ácido araquidônico. Inibem a COX-2. Inibem produção de citocinas inflamatórias (TNF-a, IL-1, IL-2, IL-3, IL-4, IL-5, IL-8 e IFNy), inibindo assim seus efeitos na célula-alvo. BIOEQUIVALÊNCIA Ação curta ✦ Hidrocortisona 20mg Ação intermediária ✦ Prednisona 5mg ✦ Prednisolona 5mg ➤ Existem vários tipos de corticoides e várias formas de apresentação. Pode ser tópico (pomada e creme — pele), pode ser usado no olho (colírio), intra-articular, intramuscular, endovenoso, oral. ↳ Ação Curta: Hidrocortisona — usada em crise de asma, por exemplo; suspende com a melhora. ↳ Ação Intermediária: Prednisona e Prednisolona. Não atravessam a barreira placentária ↳ Ação Prolongada: Betametasona e Dexametasona — por ter ação mais longa, pode ser usada uma vez por dia. Atravessam a barreira placentária e hematoencefálica. 3 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 ⚕ Os medicamentos de ação curta devem ser usados mais vezes ao dia, por terem meia vida mais curta. ➤ Por também atravessar a BHE, a Dexametasona ou Betametasona são indicados na Tuberculose de SNC e pericardites constritivas (por BK), para evitar aderências (faixas de tecidos diferentes, inclusive podendo ser de órgãos distintos). ⚕ Paciente grávida, com DAI, pode usar corticoide? Sim. Corticoide é uma droga segura na gravidez, desde que use Prednisona ou Prednisolona, pois são drogas que não atravessam a barreira placentária. Claro que quanto menos tempo e menor a dose, melhor. ⚕ Quando a Dexametasona ou Betametasona seria indicado na grávida? Em uma ameaça de parto prematuro. Nesse caso, o ideal é que o feto esteja com o pulmão o mais maduro possível. Uma das coisas que acelera o amadurecimento pulmonar do feto é o corticoide e ambos atravessam a barreira placentária. Ou seja, não adianta administrar Prednisona ou Prednisolona. DOSE PREDNISONA Anti-inflamatória: 0,25 – 0,5mg/kg/dia Imunossupressora: 1 – 2mg/kg/dia → mais utilizada na Reumatologia. Pulsoterapia: 30mg – 1g/kg → Metilprednisolona IV → doenças mais graves. ➤ Os corticoides tem ação anti-inflamatória em doses menores, mas geralmente na Reumatologia utiliza- se doses maiores imunossupressoras. ➤ Alguns pacientes mais graves podem precisar fazer venoso (pulsoterapia) uma dose alta, como por exemplo um paciente com quadro de GN Rapidamente Progressiva ou uma vasculite de SNC (LES). ADMINISTRAÇÃO VO, IM, IV ou intra-articular Dose única pela manhã: menos efeitos adversos. Dose dividida: maior efeito anti-inflamatório. Desmame ✦ 10% da dose por semana. ✦ 5 – 10mg/semana entre 60 – 40mg; 5mg/semana entre 40 – 20mg; 2,5mg/semana entre 20 – 10mg; 1 – 2,5mg com dose < 10mg. ➤ O ideal é a dose única matinal quando uso corticoide oral. Mas, eventualmente, no início de um tratamento de uma doença mais grave, pode-se dividir essa dose, administrando mais vezes ao dia, mantendo a concentração sérica constante. Assim, alcança um efeito melhor, porém com mais efeitos adversos. ➤ A retirada do corticoide tem que ser muito parcimoniosa. Até 5 - 7 dias, pode retirar de uma vez. Fora isso, a retirada deve ser gradual, pois o uso prolongado de corticoide leva à inibição da adrenal. 4 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 ↳ Portanto, esse desmame faz com que dê tempo da adrenal se readaptar, porque em qualquer estresse (cirurgia, trauma, infecção) a adrenal tem que estar funcionando. Normalmente, faz-se o desmame com 10% da dose por semana. ↳ Exemplo: Paciente que utiliza 60mg de Prednisona, são retirados 6mg/semana, ou pode diminuir mais um pouco, então retira 10mg; nãotem uma regra exata, vai "sentindo” o paciente. ➤ O importante é não fazer a retirada abrupta do corticoide, pois tem risco de rebote da doença ou de insuficiência de adrenal, que mata. EFEITOS ADVERSOS Hirsutismo, Obesidade centrípeta, Supressão do eixo hipotálamo-hipofisário, Catarata, Miopatia, Hipertensão, Hipocalemia, Retardo do crescimento, Psicose, Hiperglicemia, Hiperlipidemia, Osteoporose, Fáscies cushingóide, Fragilidade capilar, Acne, Imunossupressão, Insônia, Mudança comportamental, Osteonecrose, Glaucoma, Estrias. ➤ Destacando a miopatia e a psicose: O corticoide é indicado para tratar a miopatia e é indicado em acometimentos do SNC do Lúpus, por exemplo. Mas ao mesmo tempo, ele pode ser CAUSA de miopatia e psicose. O Lúpus foi um exemplo, mas a psicose pode ocorrer também em um paciente asmático que usa corticoide por muito tempo em dose alta e acaba fazendo psicose por corticoide. ➤ Com a hipocalemia (baixa de potássio) ocorre o aumento de sódio levando a uma hipernatremia. Com isso, o Na+ puxa água causando hipervolemia — Cuidado com o uso de corticoide no paciente com déficit de função renal, no hipertenso, hipervolêmico. ➤ A supressão do eixo hipotálamo-hipofisário pode ocorrer por retirada abrupta do corticoide de uso prolongado. CUIDADOS NO USO DO CORTICOIDE Usar a menor dose efetiva possível. Associar imunomoduladores. Repor cálcio e vitamina D. Acompanhar PA, glicemia e lipidograma. Atenção em cirurgias. Anti-helmíntico antes de doses altas. Síndrome da retirada. ➤ Usar o corticoide na menor dose efetiva possível. ➤ Deve-se associar outras medicações imunomoduladoras (hoje em dia existem muitas opções) ao corticoide, para diminuí-lo mais rapidamente, pois o ideal é a menor dose possível e pelo menor tempo possível. ⚕ IMPORTANTE! Em doenças que o uso do corticoide é prolongado (ex.: tratar DAI, doença neurológica, doença inflamatório intestinal), ao iniciar o tratamento, deve-se fazer também reposição de cálcio e vitamina D — muitas doenças impedem o paciente de ficar exposto ao sol. 5 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 ➤ Fazer acompanhamento de PA, glicemia e lipidograma. ⚕ ATENÇÃO também em cirurgias, que são situações de estresse, onde aumenta a necessidade de corticoide. Nunca diminui a dose, sempre vai aumentar ou manter. ➤ Sempre que possível, lembrar de rastrear tuberculose (PPD e Raio-X de tórax) e, também, vermifugar o paciente. O principal parasita que devemos tomar cuidado ao fazer uso de corticoide é o Strongyloides stercoralis, um helminto que se dissemina facilmente no paciente em imunossupressão, causando estrongiloidíase sistêmica que pode levar à Síndrome de Löffler (pneumonia eosinofílica caracterizada por infiltrados pulmonares migratórios associados, geralmente, com um aumento do número de eosinófilos no sangue e escarro). Portanto, administrar anti helmínticos antes de doses altas. Imunossupressores IMUNOSSUPRESSORES: CONTROLAM A RESPOSTA IMUNE Antimaláricos → a hidroxicloroquina é mais usada que a cloroquina. Sulfassalazina (sais de ouro e D-penicilina) → poucos usam hoje em dia, porque são drogas mais antigas com muitos efeitos adversos, mas ainda tem indicação. Metotrexato → droga mais utilizada em Reumatologia, serve para praticamente todas as doenças reumáticas. Leflunomide Azatioprina Ciclofosfamida Ciclosporina A Micofenolato Mofetil → muito usado em LES, vasculites. Agentes biológicos Outros tratamentos: Talidomida, Dapsona, Transplantes de MO, Terapia genética. ↳ O transplante de medula óssea e terapia genética são para os casos mais graves, em que não se tem resposta terapêutica. MECANISMO DE AÇÃO Efeito imunomodulador. Redução na secreção de citocinas. Redução na atividade de enzimas do metabolismo do ácido araquidônico. ➤ Existem dois antimaláricos disponíveis no mercado: difosfato de cloroquina e hidroxicloroquina. A hidroxicloroquina é mais cara, mas tem muito menos efeitos adversos, sendo a droga ideal. ➤ Tem efeito imunomodulador, então introduzindo o antimalárico, pode começar a reduzir o corticoide sem ter o efeito rebote. ➤ Também ajuda a reduzir a secreção de citocinas através da redução na atividade das enzimas no metabolismo do ácido araquidônico. 6 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 POR QUE USAR ANTIMALÁRICOS? Drogas muito seguras. Não aumentam o risco de infecções. Tem ação hormonal (diminui estrogênio). Inibem adesão das plaquetas. Reduzem colesterol total e LDL em 15% – 20%. Atuam como poupador de corticosteroide. Podem ser utilizados na gestação. ➤ Os antimaláricos são muito seguros, poucos efeitos adversos. Não aumentam o risco de infecção, diferente dos corticoides. ➤ Auxiliam na diminuição do estrogênio, que é aumentado em algumas doenças reumáticas (ex.: LES). Também inibe a adesão plaquetária, o que é vantajoso nas vasculites. ➤ Como já descrito, atuam como poupador de corticoide, tornando possível a redução desse ao introduzir o antimalárico. ⚕ Podem ser usados na gestação com muita segurança. Exemplo: Grávida que tem LES, continua usando a Hidroxicloroquina. Caso a doença esteja em atividade, provavelmente, vai estar usando também a Prednisona ou Prednisolona. CLOROQUINA: EFICÁCIA Atua no LES nas lesões de pele (discoides, lesões subagudas), artrite/artralgia, fadiga, derrame pleural e, principalmente, na redução do número de reativações. Também trata as lesões cutâneas da dermatomiosite. Sinergismo com Metotrexato (na AR). ➤ A Cloroquina é muito boa para as lesões cutâneas, como a dermatomiosite. ➤ Atua no LES nas lesões de pele, LES cutâneo-articulares, fadiga, derrame pleural e ajuda a diminuir o número de reativações. Por isso, no paciente que usa cloroquina, provavelmente não será suspendida, pois diminui sabidamente a chance de recaídas. ➤ É uma droga que pode atuar junto com o Metotrexato na AR, melhorando mais rapidamente o quadro do paciente. ⚕ “Uma vez Lúpus, sempre Cloroquina!” 7 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 EXAME DOS OLHOS Exame de base obrigatório. Cloroquina: acompanhar com exame oftalmológico seriado (6/6 meses). Hidroxicloroquina: exame anual. ➤ O efeito adverso mais importante é no olho, a droga se deposita na retina, causando alteração, principalmente, de cor — paciente começa a ver cores diferentes. Não se faz em criança pequena, porque ela pode não saber discernir cor. ➤ É necessário fazer exame de controle a cada 3 - 6 meses ou 1 ano: fundoscopia, campimetria e OCT (tomografia de coerência óptica). SULFASSALAZINA É uma droga utilizada mais no grupo das espondiloartrites, como também na doença inflamatória intestinal (“prima” da espondilite anquilosante). Sulfassalazina também é usada na artrite reumatoide. Pode dar alteração gastrointestinal (dispepsia, principalmente), erupção cutânea, leucopenia reversível, azoospermia reversível. SULFASSALAZINA: MECANISMO DE AÇÃO Inibe a produção de substâncias derivadas do ácido araquidônico. Ação imunomoduladora. SULFASSALAZINA: INDICAÇÕES AR (artrite), monoterapia ou associada. Espondiloartrites: artrite periférica e uveíte. SULFASSALAZINA: EFEITOS COLATERAIS Gastrointestinais Erupção cutânea Leucopenia reversível Azoospermia reversível METOTREXATO: MECANISMO DE AÇÃO Inibe a dihidrofolato redutase (metabolismo do ácido fólico), causando inibição da síntese do DNA. ➤ Como já descrito, talvez seja a mais utilizada na Reumatologia, talvez até mais que AINES. É uma droga muito boa, com pouco efeito adverso na dose que é feita nessa especialidade. ➤ É usado para tratar várias neoplasias, mas em dose alta com uma frequência muito maior, às vezes, faz até intratecal. ➤ Atua inibindo a dihidrofolato redutase (metabolismo do ácido fólico),causando inibição da síntese de DNA — pode ter a necessidade de repor ácido fólico. 8 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 METOTREXATO: EFEITOS COLATERAIS TGI: mais comum. ✦ Náuseas, dispesia ✦ Mucosite ✦ Hepatotoxicidade Infecção Hematológicas: citopenias. Toxicidade pulmonar: rara. ➤ Os efeitos adversos do Metotrexato são mais comuns no TGI (náuseas, dispepsia, mucosite, hepatoxicidade). Além disso, por ser um imunossupressor, deixa mais exposto à infecção. ➤ Pode causar citopenias e, raramente, toxicidade pulmonar (se o paciente já tem fibrose pulmonar, evita o uso). METOTREXATO: INDICAÇÕES Artrite Reumatoide Síndrome de Sjögren (artrite) Artrite Psoriásica (artrite e pele) LES (artrite, serosite) Vasculites sistêmicas Miopatias inflamatórias (poupador de corticoide) Esclerodermia localizada → evita o uso na sistêmica por conta do pulmão. METOTREXATO: ADMINISTRAÇÃO VO, SC ou IM ✦ Parenteral atua 10% mais Ácido fólico: evitar fazer no mesmo dia do MTX → reduz os efeitos colaterais. ➤ É um medicamento versátil, pode ser administrado por via oral, subcutânea ou intramuscular. A via subcutânea não causa dor e 100% do medicamento é absorvido. Já a via intramuscular dói e a via oral tem a desvantagem de não saber ao certo a absorção do medicamento, é errática. Por via SC, o paciente usa uma vez por semana. ➤ Da mesma maneira que se inicia a reposição de cálcio e vitamina D junto com o tratamento com corticoide, vai ser utilizado o ácido fólico quando inicia o tratamento com Metotrexato. O uso do ácido fólico reduz os efeitos adversos: reduz náusea, vômito, mucosite, aftas, transaminites — transaminases que aumentam com o MTX. ⚕ Gestantes não podem utilizar Metotrexato, pois é TERATOGÊNICO. Se pensa em engravidar, são 6 meses sem usar MTX. 9 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 LEFLUNOMIDA ➤ É uma outra droga utilizada basicamente em adulto, na AR e no LES. Imunomodulador Mecanismo de ação: inibe de forma reversível a enzima mitocondrial diidrorotato desidrogenase, necessária para a replicação dos linfócitos T. Administração: Leflunomida 20mg/dia. Efeitos Colaterais: diarreia, alopecia, rash cutâneo, hipertensão arterial e elevação das transaminases. Contraindicação: contraindicado em grávidas e deve ser evitado durante amamentação. AZATIOPRINA ➤ Também é uma droga versátil, mas tem mais efeitos adversos. Por outro lado, hoje em dia já é liberada para gestantes. Uma gestante com DAI (ex.: LES, dermatomiosite), pode administrar Azatioprina. Mecanismo de ação ✦ Reduz a síntese de purinas. ✦ Reduz produção de anticorpos. AZATIOPRINA: EFEITOS COLATERAIS Gastrointestinais Hepatoxicidade - rara Toxicidade de MO, podendo levar a anemia, leucopenia e trombocitopenia Risco oncogênico - controverso ➤ Tem alterações gastrointestinais; hepatoxicidade não é muito comum. O que mais se vê na prática é a toxicidade de medula óssea, levando à citopenia (anemia, leucopenia e trombocitopenia). ➤ Paciente com LES em atividade, não se sabe se a citopenia é pela atividade da doença ou pela Azatioprina. AZATIOPRINA: INDICAÇÕES LES (nefrite, poupador de CE, anemia hemolítica) Miopatias inflamatórias Vasculites (tratamento de manutenção) ➤ Tratamento de LES, miopatias inflamatórias e no tratamento de manutenção de algumas vasculites. ➤ Já foi muito indicada na AR, mas hoje em dia é menos por ter outras drogas melhores. 10 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 CICLOFOSFAMIDA: MECANISMO DE AÇÃO Agente alquilante que bloqueia a síntese de DNA (pela alquilação da guanina) Reduz linfócitos T e B, promovendo ação imunossupressora e anti-inflamatória. ➤ Tem muitos efeitos adversos, tem-se usado menos. É uma droga pra doenças mais graves, quando tenho que atuar de uma forma mais contundente (ex.: LES grave no SNC, GN rapidamente progressiva, vasculite com GN rapidamente progressiva), associada à pulsoterapia com corticoide. ➤ Outra indicação importante para Ciclofosfamida é o acometimento pulmonar na esclerodermia sistêmica. CICLOFOSFAMIDA: EFEITOS COLATERAIS Cistite hemorrágica e neoplasia de bexiga → principalmente, quando é administrada por via oral. Supressão de todas as linhagens medulares, sendo a mais importante a neutropenia. Infecção → suscetibilidade aumenta. Esterilidade por inibição gonadal Amenorreia sustentada Outros: náuseas, alopecia reversível ➤ Se meninas ou meninos forem fazer uso prolongado de CYC, o ideal é oferecer banco de óvulos/ espermatozóides, pois pode causar esterilidade por inibição gonadal. Existem algumas drogas que fazem proteção do ovário, somente. Além da doença poder causar amenorreia secundária sustentada, a própria CYC também pode causar. ➤ Uma das primeiras alterações costuma ser a alopecia, mas é reversível. Pode causar náuseas também. CICLOFOSFAMIDA: INDICAÇÕES LES grave (nefrite, vasculite, anemia hemolítica, acometimento do SNC) Acometimento pulmonar nas doenças do tecido conjuntivo → na esclerodermia sistêmica. Vasculites primárias com lesão de órgão nobre → vasculite com alteração de SNC ou GN rapidamente progressiva, por ex. AGENTES BIOLÓGICOS ➤ São drogas mais novas, tem efeitos adversos mas não são generalizados, pois são medicamentos mais direcionados (agem contra uma citocina, um alvo). ➤ Todas as drogas anti-TNF alfa estão disponíveis no Brasil, tanto pelo governo quanto pelos planos de saúde. São usadas na AR e espondiloartrite. ➤ A anti-IL6 é usada em doenças que tem como principal citocina na sua fisiopatologia a IL6 (ex.: AIJ sistêmica, algumas formas de AR), mas usa muito no tratamento de outras doenças como as vasculites. ➤ O governo e os planos também fornecem a droga — Tociluzumabe. 11 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 ➤ A anti-IL1 é usada no grupo de doenças em que a IL1 é mais importante na sua fisiopatologia (doenças autoinflamatórias). No Brasil, só tem disponível a Canaquinumabe — extremamente caro e o governo não fornece. ➤ O CTLA4-Ig é uma imunoglobulina que bloqueia o 2o sinal da resposta imunológica, agindo nos linfócitos T. A droga é o Abatacepte e tem efeito de imunossupressão, utilizado na AIJ, AR, dermatomiosite, LES. Mas demora a fazer efeito. Anti-TNF alfa ✦ etanercepte ✦ infliximabe ✦ adalimumabe ✦ golimumabe ✦ certolizumabe CTL4-Ig ✦ abatacepte Anti-IL1 ✦ anakira, rilonacepte ✦ canaquinumabe Anti-IL6 ✦ tociluzumabe RITUXIMABE AC anti-CD20 Reduz a contagem de linfócitos B Usado na AR, LES (nefrite, anemia e trombocitopenia) Alto custo ➤ O Rituximabe é uma droga muito utilizada para tratar linfoma. É um anticorpo anti-CD20, ou seja, vai matar as células que tem CD20, que são principalmente os linfócitos. Causa uma linfopenia importante, pode predispor à infecção. ➤ Liberado, no Brasil, pelo governo e pelos planos de saúde, no tratamento da AR. Muito utilizado no tratamento do LES refratário a outras medicações, mas não é liberado. 12 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 Diagnóstico Laboratorial das Doenças Autoimunes EXAMES COMPLEMENTARES Grande nº de métodos laboratoriais Indicações Vantagens x limitações Sensibilidade x especificidade Diagnóstico, diagnóstico diferencial, acompanhamento clínico e monitorização da terapêutica “Os resultados dos exames complementares, avaliados isoladamente, podem levar a frequentes e grandes erros diagnósticos.” — Sempre lembrar que os exames são complementares, não se trata um exame alterado. ➤ Existe um grande número de exames complementares, com diversos métodos laboratoriais. Alguns deles, os valores de referência são universais.↳ Exemplo: Sabe-se que uma Creatinina de 2mg/dL é anormal em qualquer lugar. Por outro lado, uma Proteína C Reativa de 5mg/dL, não se sabe se é normal ou anormal, pelo fato de existirem vários métodos de laboratórios. ↳ Por esse motivo, é muito importante indicar o valor de normalidade. ➤ Outra questão a ser apontada são as indicações nas quais se solicita determinados exames, porque se o paciente está hígido e são solicitados diversos exames, é capaz de serem encontradas anormalidades que nem sempre indicarão alguma patologia e, talvez, nem venham a desenvolver. Então, pedir exame apenas com indicação e não esquecer de escrevê-la no pedido. ➤ Todos os métodos têm suas vantagens e limitações, não existe algum que seja o ideal. Varia muito a sensibilidade e especificidade, o ideal seria 100% de sensibilidade e 100% de especificidade, mas não ocorre. ➤ O laboratório auxilia muito no diagnóstico, mas em Reumatologia talvez auxilie mais no diagnóstico diferencial. Existem muitos critérios diagnósticos em Reumato, não há características patognomônicas, portanto o laboratório ajuda na exclusão de hipóteses. Além disso, possibilita o acompanhamento do paciente (se há melhora clínica ou não) e a monitorização do tratamento (se está respondendo à medicação ou não). EXAMES LABORATORIAIS Hemograma Marcadores de atividade inflamatória » Testes imunológicos Testes bioquímicos Exame do líquido sinovial Avaliação dos diferentes órgãos 13 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 ➤ Em relação aos exames laboratoriais, sempre deve solicitar um hemograma completo, analisar a série branca, vermelha e plaquetas. ➤ Os marcadores de atividade inflamatória são essenciais em Reumatologia, pois muita vezes é necessário distinguir se determinada queixa é mecânica ou inflamatória. A história já me diz muito, mas eventualmente precisa de um exame para constatar se aquele marcador está aumentado ou não, e se ele diminui quando começa o tratamento. ➤ Em algumas situações, são solicitados testes imunológicos, teste bioquímicos e análise do líquido sinovial. ➤ Como a maioria das doenças reumáticas são multissitêmicas, é necessário avaliar vários órgãos com os exames de laboratório. ROTINA MÍNIMA E EXAMES LABORATORIAIS Hemograma completo Proteínas de fase aguda: velocidade de hemossedimentação Elementos anormais e sedimentos urinários Exame parasitológico de fezes ➤ Principalmente em uma primeira consulta, poucos exames são necessários para começar a investigação diagnóstica. ➤ Pedir um hemograma. Pedir uma proteína de fase aguda ou a velocidade de hemossedimentação (VHS — reflete a proteína de fase aguda que é o fibrinogênio, uma vez que é esse que realiza a hemossedimentação); existem muitas proteínas de fase aguda*, mas no dia a dia costuma-se pedir o VHS, proteína C reativa e a alfa-1 glicoproteína ácida. ➤ Como o rim é frequentemente acometido em doenças reumáticas, deve-se solicitar exames de urina para acompanhamento, antes que o paciente chegue em anasarca, hipertenso, edema de MMII. ➤ Por fim, pedimos o exame parasitológico de fezes, porque, muitas vezes, é receitado um corticoide, então tem que desinfestar o paciente. Além disso, alguns vermes podem causar artralgia/mialgia. *Proteínas de fase aguda são proteínas produzidas pelo fígado que aumentam quando ocorre algum processo infeccioso, inflamatório, trauma (cirurgia). ➤ Por que não seria suficiente pedir apenas um VHS? Porque um exame pode estar alterado e os outros não. Por exemplo, o uso precoce de anti-inflamatório negativa o VHS e demora mais a negativar a proteína C reativa, então estaria alterada e o VHS não. VHS (WESTERGREN) Velocidade com que as hemácias sedimentam em um tubo de 2,5mm de diâmetro Traduz inflamação quando elevada - causa infecciosa, imunológica ou neoplásica Pouco específico, porém barato e de fácil realização. ➤ A velocidade de hemossedimentação traduz o aumento do fibrinogênio. Pode estar associada a infecção, doença imunológica, neoplasia. ➤ É um exame barato e fácil de realizar. Apesar de ter boa sensibilidade, é pouco específico — em qualquer inflamação, por exemplo, o exame fica alterado, não me diz o que causa essa alteração. 14 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 PROTEÍNA C REATIVA ➤ A proteína C reativa é outra proteína de fase aguda que é produzida no fígado depois de qualquer tipo de injúria. Aumenta precocemente. Proteína de fase aguda da inflamação Sintetizada no fígado após INJÚRIA TECIDUAL. Níveis plasmáticos aumentam em poucas horas, com pico em 24-72 horas. ELEMENTOS ANORMAIS E SEDIMENTOS URINÁRIOS Urina de 24 horas: clearance de creatinina e proteinúra. Pesquisa de dismorfismo eritrocitário. ➤ Em relação ao EAS, é importante avaliar a presença de hematúra, proteinúria, cilindrúria, nitrito positivo (indicativo de infecção urinária), levedura. ➤ Hoje em dia, a urina de 24h está sendo substituída, quase não é pedida pela dificuldade de realização. O clearance de creatinina é estimado através de fórmulas que contém creatinina, peso, superfície corpórea, etc. ➤ Já para avaliar proteinúria, pede-se o spot urinário, que é a relação proteína/creatinina em uma amostra de urina (mais fácil de realizar que a urina de 24h). ➤ Outro exame importante é a pesquisa do dismorfismo eritrocitário. Uma vez que há presença de hematúria, é preciso distinguir se é originada em vias urinárias inferiores ou superiores. Sabe-se que um alto grau de dismorfismo eritrocitário indica lesão renal. ➤ Se a hematúria não é dismórfica, provavelmente se origina em via urinária baixa, como a bexiga (pode ser infecção urinária. LABORATÓRIO NA FEBRE REUMÁTICA: EVIDÊNCIA DE INFECÇÃO ESTREPTOCÓCICA PRÉVIA Cultura de orofaringe Testes rápidos Dosagem de anticorpos (ASO) ➤ Na aula de febre reumática, estuda-se a importância da cultura de orofaringe, testes rápidos e dosagem de anticorpos anti-estreptococos. ➤ Existem vários anticorpos, o mais utilizado é o Antiestreptolisina O (ASO ou ASLO) e seu aumento não significa febre reumática, mas sim um contato prévio com estreptococos. ➤ A maioria das pessoas não desenvolve febre reumática, só as que já são predispostas. ASLO Infecção estreptocócica prévia Não é patognomônica de FR Considerar curva A ÚNICA INDICAÇÃO É NA SUSPEITA DE FR AGUDA! 15 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 ➤ Muito comum o encaminhamento de crianças e adolescentes com história de queixa articular (às vezes é só muscular) de longa data (meses), tem uma ASLO aumentada e vem com suspeita de febre reumática. Como veremos, a FR é aguda e autolimitada, ou seja, presença de dor (mesmo que seja articular) há meses e ASLO aumentada não é FR. ➤ O ideal é sempre fazer uma curva, pois assim vou saber se é uma infecção recente ou não. Mais importante que valores de ASO isolados, é seu aumento em sorologias pareadas. A normalização dos valores pode demorar até 6 meses. SISTEMA COMPLEMENTO Deficiência de síntese ✦ Genética ✦ Desnutrição Aumento do consumo ✦ GNDA ✦ LES ✦ AR ✦ Sepse ✦ Hepatite B ✦ Dengue ➤ O complemento também é uma proteína de fase aguda, ou seja, estará aumentado em todas as condições inflamatórias. ➤ O problema é que mesmo estando aumentado, em algumas DAIs, o complemento é consumido muito rapidamente. Então, se dosar o complemento em doenças como GNDA (ou rapidamente progressiva) ou LES, vai estar baixo, porque o consumo excedeu a síntese. ➤ Existe uma deficiência genética do complemento que é chamado de erro inato da imunidade (não se fala mais “imunodeficiência”), que está muito associado a presença de doença autoimune. ↳ Exemplo: Não é raro ver um paciente com LES com deficiência de C4. ELETROFORESE DE PROTEÍNAS ➤ A eletroforese de proteínasnão é um exame muito utilizado. A proteína corre em um gel de imunodifusão e, com isso, sai um gráfico. ➤ Primeiro, o exame indica o valor da proteinemia total (avalia se está com proteína sérica alta ou baixa) — as doenças crônicas mais graves ou doenças perdedoras de proteínas vão causar uma proteinemia baixa. Depois, indica o valor da albumina e de globulinas (alfa 1 e 2, beta 1 e 2, gamma). ➤ Alfa e Beta 1 e 2, são proteínas de fase aguda e indicam se estão aumentadas. Na gamaglobulina (gamma), o que corre é anticorpo, então se existe uma hipergamaglobulinemia, significa que o paciente está com anticorpos circulantes. 16 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 FATOR REUMATOIDE Ig contra Ig, principalmente, IgM Ajuda no diagnóstico de AR Marca pior prognóstico da AR Não prediz atividade da doença Látex, Waaler-Rose, nefelometria AR (70 – 80%) x AIJ (5 – 10%) LES (25 - 40%), Sjögren (70 - 90%) Infecções agudas: IVAS, Hepatite viral Infecções crônicas: BK, hanseníase, endocardite bacteriana, leishmaniose. Hepatite crônica, leucemia, linfoma População geral: 1 - 4% Idosos: 20 - 25% ➤ É uma imunoglobulina contra outra imunoglobulina, um anticorpo anti-anticorpo — é, principalmente, uma IgM anti-IgG. Pode estar presente em pessoas normais, isto é, pode ter fator reumatoide positivo sem estar com doença. ➤ Ajuda no diagnóstico da AR. Mais importante para dar o prognóstico, pois qualquer doença reumatológica com fator reumatoide positivo, provavelmente aquele doente tem pior prognóstico, ou seja, uma doença mais grave, vai responder pior à medicação. ➤ As técnicas clássicas, que eram o Látex e Waaler-Rose, a maioria dos laboratórios não realizam mais, fazem por nefelometria. ➤ Fator reumatoide não significa AR, mas está presente em 70 - 80% das AR. Já na AIJ (como se fosse uma “AR na criança”), só está presente em 5 - 10% do casos. Está positivo no LES e Sjögren em até 40% e 90% dos casos, respectivamente. ➤ Além disso, infecções agudas e crônicas, hepatite crônica, doenças onco-hematológicas, podem apresentar fator reumatoide positivo. Em 1 - 4% da população geral e 20 - 25% dos idosos também pode ter fator reumatoide positivo sem nenhuma doença como causa. FAN Pesquisado por IFI É um teste de “screening” Não traduz atividade de doença Resultados falso positivos 5 - 20% das pessoas sadias tem FAN+ ➤ É o fator antinuclear (anticorpo antinuclear), um exame que é pesquisado imunofluorescência indireta e é um teste de screening, ou seja, se há suspeita de DAI, pede o FAN. Apenas se o FAN vier positivo, então pode pedir outros autoanticorpos. Mas, por exemplo, se o paciente chega com um exantema malar (asa de borboleta), artrite, queda de cabelo, urina espumosa, e há suspeita de LES, então adianta o lado do paciente e pede o FAN junto com os anticorpos específicos. 17 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 ➤ O FAN não traduz atividade de doença, ou seja, um FAN mais alto não significa doença mais grave do que um FAN baixo. ➤ A técnica de IFI é muito sensível, levando à presença de resultados falso positivos. ↳ Exemplo: Paciente com queixas vagas, nada para doenças reumatológicas, pediram um FAN, desnecessariamente, com resultado 1:80 pontilhado fino. Até que se prove o contrário, considera- se um falso positivo. Se vier 1:80, mas com exantema malar, artrite, afta oral, a suspeita é de LES. ➤ Assim como o fator reumatoide, a presença do FAN positivo não indica doença autoimune — 5 - 20% das pessoas sadias tem FAN+. Todavia, costuma ser mais frequentemente positivo quando existe alguém na história familiar com DAI (ex.: LES, esclerodermia, DMI, tireoidite autoimune). CAUSAS DE FAN+ LES (95 - 99%) DMTC (95 - 100%) Esclerose sistêmica (95%) Sd. de Sjögren (75 - 90%) Polimiosite (80%) AR (50 - 75%) Parentes saudáveis de pacientes com LES (15 - 25%), normais (5 - 20%), idosos normais > 70 anos (20 - 40%) Neoplasia, cirrose, hepatite autoimune, endocardite infecciosa, drogas (procainamidade, hidralazina, difenil-hidantoinas, isoniazida, etc). ➤ Hoje em dia, não considera LES se não tiver FAN positivo. ➤ Tuberculose, sífilis e hanseníase mimetizam muito as doenças autoimunes, inclusive com a presença de autoanticorpos. ➤ Sobre LES induzido por drogas... A isoniazida é usada para tratar tuberculose e pode dar uma síndrome lúpus-like, além da própria tuberculose mimetizar LES. AUTOANTICORPOS: DIAGNÓSTICO E ACOMPANHAMENTO Marcadores de doenças Marcadores de atividade de doenças ➤ Os autoanticorpos são vários e podem ser marcadores de doenças ou de atividade de doença. Então, não é todo anticorpo que marca atividade de doença. Exemplo: FAN mais alto, não quer dizer doença mais grave. 18 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 ANTICORPOS ANTINUCLEARES Célula LE Novas técnicas: IFI com Hep 2 » Anti-DNA x nefrite lúpica Anti-P ribossomal x psicose Anti-Sm x especificidade Anti-Ro x lúpus cutâneo subagudo e lúpus neonatal ➤ O exame de célula LE não é mais realizado. É muito sensível (falso positivos), técnica difícil, mas muito específico. Quem tem LES não tem célula LE pois é um fenômeno in vitro, isso é provocado depois da coleta de sangue. Então, não é mais pedido. Pede o FAN e os laboratórios fazem com IFI usando como substrato células HEp2 (de tumor de laringe). ➤ Alguns anticorpos são marcadores de determinados tipos de comprometimento. O anti-DNA dupla hélice ou nativo está associado à nefrite lúpica e marca atividade de doença. Então, enquanto estiver positivo, é necessário prestar atenção no rim, pois deve estar inflamado, sendo o objetivo do tratamento, negativar o anti-DNA. ➤ Da mesma maneira, o anti-P ribossomal está associado a fenômenos neuropsiquiátricos, principalmente, à psicose do LES; enquanto estiver positivo, é sinal que há algum grau de inflamação no SNC. ➤ O anti-Sm é o anticorpo mais específico, não é muito sensível, pois apenas 30% dos pacientes com LES apresentam positividade; não tem nenhuma relação com órgão especial e o título maior ou menor não indicam gravidade. ➤ O anti-Ro está associado ao lúpus cutâneo subagudo e neonatal e à Síndrome de Sjögren. ANTI-DSDNA Sugere atividade do LES Tem papel patogênico Altos títulos são associados à nefrite lúpica (tratar até negativar anti-DNA) ANTI-P RIBOSSOMAL ➤ Manifestações neuropsiquiátricas. Psicose no LES. Marcadores específicos de LES Positivo 15 a 30% Associação com atividade Associação com envolvimento renal - forma membranosa Associação SNC ? 19 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 ANTÍGENOS EXTRAÍVEIS DE NÚCLEO (ENA) Anti-Ro/SSA: síndrome de Sjögren, no lúpus neonatal. Anti-La/SSB: síndrome de Sjögren, no lúpus neonatal. Anti-Sm: LES. Anti-RNP: doença mista do tecido conjuntivo (DMTC). Anti-Jo-1: miopatias inflamatórias Anti-Scl-70: esclerodermia ➤ Grupo de anticorpos denominados anti-ENA: anti-Ro, anti-La, anti-Sm, anti-RNP, anti-Jo-1, anti-Scl-70. ➤ Ao fazer um pedido de exame, não se solicita como “anti-ENA”, tem que especificar o anticorpo. ↳ Exemplo: Se a suspeita é LES, solicita anti-Ro, anti-La, anti-Sm e anti RNP. ANTI-SM É o Ac mais específico para o diagnóstico de LES. Porém… Só está presente em 30% dos pacientes ➤ É o mais específico, mas pouco sensível — nem sempre está presente, mas quando positivo, é LES. ANTI-RO E ANTI-LÁ LE subagudo LE neonatal: ✦ Rash Cutâneo ✦ BAVT e outras cardiopatias ✦ Hemólise, hepatopatia Síndrome de Sjögren ANTI-RNP Doença mista do tecido conjuntivo Anti-U1-RNP (>1:1600 por hemoaglutinação) ANTICORPOS ANTIFOSFOLIPÍDEOS Anticorpo Anticardiolipina (aCL) - IgG e IgM Anticoagulante lúpico Anticorpo anti-beta2-glicoproteínaI (anti-B2-GPI) ✦ IgG e IgM ➤ Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídeo (SAAF): causa aborto espontâneo, toxemia gravídica, Síndrome Hellp, comprometimento renal, manifestação cutânea. 20 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 ➤ Solicita os anticorpos: anticardiolipina (IgG, IgM e, se puder, IgA - é cara), anti-B2-GPI (IgG, IgM, IgA) e o anticoagulante lúpico. ⚕ IMPORTANTE! Pode ter reação cruzada com o VDRL. Quando a grávida não tem história para sífilis e quando há presença do anticorpo antifosfolipídeos, o VDRL pode dar falso positivo. Por ser um teste não treponêmico, deve realizar o treponêmico (FTA - abs), e provavelmente, vai vir negativo. ANTICORPO ESPECÍFICOS NAS MIOPATIAS INFLAMATÓRIAS Anti-sintetase: anti-Jo1 Anti-SRP Anti-Mi-2 MIOPATIA X ENZIMAS MUSCULARES Quando ocorre uma miopatia inflamatória e peço as enzimas: TGO e TGP (transaminases: aumentada na doença hepática e doença muscular), CK total (creatinafosfoquinase), LDH (desidrogenase lática), aldolase, mioglobina, existem várias. Na prática, pede transaminases, CK, LHD e aldolase, pois são mais fáceis de realizar. ANTI-CENTRÔMERO Marcador para a síndrome CREST (esclerose limitada) ➤ Anticorpo importante para a esclerodermia sistêmica limitada. Antigamente, era conhecida como Síndrome CREST — Calcinose, Reynaud, Dismotilidade Esofagiana, Esclerodactilia e Telangiectasias. ANTICORPOS ANTI-CITOPLASMA DE NEUTRÓFILOS (ANCA) Antígenos: ✦ C-ANCA: Está geralmente associado a presença de anticorpos antiproteinase 3 (anti-PR3). Esses anticorpos são considerados marcadores diagnósticos da granulomatose de Wegener - 80 a 90%. ✦ P-ANCA: Associado a anticorpos anti-mieloperoxidase (MPO). São encontrados em poliangeítes microscópicas e glomerulonefrite. ➤ Muito pedido pelo reumatologista por conta das vasculites, mas também pelo pneumologista, por conta da poliangeíte microscópica que é uma vasculite que acomete o pulmão (pode ter ANCA+); doença inflamatória intestinal também está associado à presença do ANCA. ➤ Ao fazer o pedido, pede-se como “ANCA” e o resultado vai vir com padrão: C-ANCA é o padrão citoplasmático e P- ANCA é perinuclear. ➤ O C-ANCA, citoplasmático, se associa à presença de anticorpos antiproteinase 3 (anti-PR3), como se fosse uma triagem, indica presença de anticorpos contra a enzima proteinase 3. Se eu ainda suspeito de uma doença associada ao C-ANCA, mas o ANCA veio negativo, pode pedir a anti-PR3. Associados à granulomatose de Wegener que, agora, chama-se de poliangeíte granulomatosa. ➤ O P-ANCA, perinuclear, já se associa a anticorpos antimieloperoxidase (anti-MPO). Da mesma forma, ao suspeitar de uma doença como poliangeíte microscópica, GN rapidamente progressiva, poliangeíte eosinofílica granulomatosa (vasculite), e o ANCA veio negativo, pode pedir a anti-MPO. 21 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Laboratório e Terapêutica em Reumatologia Nicole C Vivas - 2021.1 ESPONDILITE ANQUILOSANTE (EXAME GENÉTICO) 90% são HLA B27+ 8% das pessoas sadias são HLA B27+ Prevalência baixa: não rastrear. ➤ Não é um anticorpo, é um antígeno de histocompatibilidade, ou seja, é genético. O HLA B27 é muito importante pois se associa à Espondilite Anquilosante. ➤ Tem espondilite anquilosante sem HLA B27 positivo e tem pessoas HLA B27 positivo que não tem espondilite anquilosante, mas é uma pessoa que aumenta o risco de ter espondilite anquilosante em certas situações — risco de 9-10x maior do que quem é HLA B27 negativo. ↳ Exemplo de situações em que a pessoa pode contrair Espondilite Anquilosante: a diarreia por salmonella, shigella, campylobacter, expõe essa pessoa a alguns antígenos que cruzam com HLA B27 e isso pode ser um gatilho para desenvolver EA. INDICANDO EXAMES Seguir suspeita diagnóstica: anamnese + exame físico Exames complementares sozinhos não fazem diagnóstico! ➤ Tem que ter uma boa anamnese e exame físico, caso contrário, não adianta pedir exames, por que vai pedir exames desnecessários e, às vezes, vão vir alterados sem que tenha qualquer importância no contexto daquela doença. ➤ Depois da anamnese e exame físico, faço minhas suspeitas diagnósticas e solicito os exames complementares necessários. ➤ Os exames complementares sozinhos não fazem diagnóstico! Nos ajudam a chegar no diagnóstico, a afastar outros diagnósticos, ajuda também no acompanhamento terapêutico daquele paciente. 22 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztanjnbok Dor em Membros Nicole C Vivas - 2021.1 Dor em Membros ➤ Pode ocorrer por distúrbios mecânicos e degenerativos, doenças inflamatórias, doenças neoplásicas e hemorrágicas, doenças metabólicas e endócrinas, síndromes dolorosas idiopáticas. Cerca de 10 - 20% dos pacientes de um ambulatório de pediatria geral tem dor em membros. Quando essas crianças são encaminhadas para Reumatologia, 50% apresentam doenças reumáticas e 50% apresentam outras alterações. Em reumatologia, não só as articulações são acometidas. Podem ter doenças no osso, nos músculos (doenças musculares inflamatórias), partes moles, ligamentos, tendões, entese. ⚕ Tendão: parte final do músculo (inflamação = tendinite). ⚕ Entese: parte final do tendão (inflamação = entesite). CONCEITOS BÁSICOS Artralgia x Artrite ✦ Artralgia: dor na articulação. ✦ Artrite: dor acompanhada de outros sinais inflamatórios (aumento de volume, hiperemia, calor, limitação de movimentos). ⚕ Aumento de volume não necessariamente é um edema. Pode ser edema, derrame articular, crescimento exagerado do osso. Aguda x Crônica ✦ Aguda: até 6 semanas. ✦ Crônica: artrite que ultrapassa 6 semanas. ⚕ Febre reumática é uma poliartrite migratória aguda. Um paciente com 6 meses de artrite, mesmo com ASO aumentada, não pode ser febre reumática, pois tem mais de 6 semanas, sendo caracterizada como crônica. Oligo x Poliartrite ✦ Oligoartrite: até 4 articulações acometidas. ✦ Poliartrite: 5 ou mais articulações acometidas. ⚕ Febre reumática é uma poliartrite migratória aguda. Espera-se acometimento de 5 ou mais articulações. Se a criança tem acometimento de 4 articulações, mesmo que de forma aguda, não pode ser febre reumática. 23 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztanjnbok Dor em Membros Nicole C Vivas - 2021.1 Aditiva x Migratória ✦ Aditiva: surgem novos processos inflamatórios que se somam a outros. ↳ Ex.: Paciente com artrite no joelho também passa a apresentar artrite no cotovelo. ✦ Migratória: dor pula de uma articulação para outra. ↳ Ex.: Dor começou no joelho, parou, foi para o cotovelo, assim vai. Mecânica x Inflamatória ✦ Dor Mecânica: piora com o movimento, melhora com repouso. ✦ Dor Inflamatória: piora com repouso, melhora com movimento. ↳ Um exemplo clássico é a rigidez matinal, onde o paciente tem que “aquecer” as articulações para voltar a se movimentar pela manhã. ⚕ Paciente com artrose (osteoartrite) tem os dois componentes. Apesar de o componente mecânico ser mais expressivo, existe um certo grau de inflamação. Porém, é uma doença de pacientes mais idosos, não é comum em crianças. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DAS DORES EM MEMBROS NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA Causas ortopédicas: osteocondroses, traumas, hipermobilidade articular Causas infecciosas: bacterianas, virais, BK Causas hematológicas: doença falciforme, hemofilia Causas neoplásicas: leucemia, linfoma, tumores ósseos Causas endócrinas, causas nutricionais Causas reumatológicas: FR, LES, AIJ ROTINA MÍNIMA DE EXAMES LABORATORIAIS ➤ É necessário afastar outros diagnósticos. HEMOGRAMA COMPLETO ↳ Por exemplo, criança chega à emergência com púrpura e artrite em joelho esquerdo. A primeira hipótese diagnóstica no Brasil se chegar alguém com púrpura é dengue. No hemograma, observa-se um padrão viral, com leucopenia, linfocitose, plaquetopenia. Com essas informações já dá para diferenciar de outras doenças que cursam com púrpura mas não apresentam, por exemplo, baixa de plaquetas.↳ A Púrpura Trombocitopênica Idiopática também pode cursar com púrpura, mas não altera a série vermelha ou branca. ↳ Leucemia cursa com púrpura e artrite, muitas vezes. O hemograma apresenta leucopenia com linfocitose exagerada, anemia, plaquetopenia. ↳ Artrite Idiopática Juvenil cursa com trombocitose. 24 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztanjnbok Dor em Membros Nicole C Vivas - 2021.1 PROTEÍNAS DE FASE AGUDA: marcadores inflamatórios ✦ Velocidade de Hemossedimentação (VHS) — fibrinogênio ↳ Valor de normalidade: 20mm/hora. Avalia o fibrinogênio, que aumenta em processos inflamatórios e está ligado à velocidade de sedimentação das hemácias. Se aumentado, indica aumento de fibrinogênio, que dificulta e atrasa a sedimentação. ✦ Proteína C Reativa (PCR) ↳ Valor normal: 3mg/L ou 0,3 mg/dL. Se um paciente chega claudicando, mas tem PCR normal, provavelmente não é inflamatório, mas sim mecânico. ➤ Às vezes, a queixa do paciente indica dor mecânica, mas seu VHS está 100 ou seu PCR está elevado. Algo está errado! ELEMENTOS ANORMAIS E SEDIMENTOS URINÁRIOS (EAS) ➤ Doenças reumáticas são sistêmicas e o rim é frequentemente acometido. Quando a clínica de lesão renal aparece, já é tarde. Portanto, devemos analisar proteinúria, hematúria. EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES ➤ Caso o paciente precise ser imunossuprimido, tem que ter certeza de que não há parasitas. Mas tem um que devemos nos preocupar mais que é o helminto estrongiloide, que se dissemina causando uma estrongiloidíase sistêmica, com acometimento pulmonar. Pode levar ao óbito. O uso de corticoide vai favorecer essa infestação, por conta da imunossupressão. Antes de iniciar a corticoterapia, devemos afastar o risco desse helminto. ➤ Além disso, alguns parasitas podem cursar com artralgia, mialgia. Então, devemos afastar esse diagnóstico também. 25 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztanjnbok Dor em Membros Nicole C Vivas - 2021.1 Síndrome da Hipermobilidade Articular Assim como a dor de crescimento, a hipermobilidade não é uma doença! É um distúrbio funcional que apresenta sinais e sintomas. Normalmente, quem tem hipermobilidade tem algum parente com a mesma característica (genético). As crianças nos primeiros anos de vida, geralmente, apresentam maior mobilidade nas articulações que os adultos, por conta da frouxidão ligamentar. Aos 5 - 8 anos de idade, a maioria das crianças perdem essa hipermobilidade, mas pode permanecer em alguns indivíduos. Por um lado, existe a vantagem de fazer balé, ginástica etc. Por outro, vai haver um ”overuse” daquela articulação. Pode ocorrer deslocamento das articulações devido à frouxidão dos ligamentos, a articulação é desgastada mais precocemente. Essa destruição da articulação, pode levar a pacientes jovens a apresentarem doenças como artrose de forma precoce (esse risco é maior para quem pratica esportes). QUADRO CLÍNICO Causa mais comum de dor nos membros em crianças. Sintoma: Dor mecânica articular quando há um uso excessivo daquela articulação. ↳ Manifesta-se como uma dor do tipo mecânica; a dor começa ao fazer exercícios, ou até ao sentar de maneira incorreta. A presença pura e simples de hipermobilidade não é suficiente para diagnóstico dessa síndrome. Deve proceder com investigação cuidadosa para excluir outras causas de dor em membros antes que se aceite esse diagnóstico como definitivo. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito quando existem queixas dolorosas associadas a uma grande amplitude de movimentos articulares. Para isso, temos alguns critérios. → Dor nos Membros + Hipermobilidade Os critérios a seguir somam 9 pontos. Para diagnosticar, tem que somar pelo menos 4 pontos e apresentar dor mecânica como sintoma: ✦ Hiperextensão do cotovelo (2 membros = 2 pontos) ✦ Colocar polegar na face anterior do antebraço (2 pontos) ✦ Paralelismo dos dedos em relação à face posterior do antebraço (2 pontos) ✦ Hiperextensão dos joelhos ou geno recurvatum (2 pontos) ✦ Encostar mãos no chão sem dobrar os joelhos (1 ponto) TRATAMENTO O principal tratamento é a realização de um reforço muscular. A natação é uma ótima opção, pois utiliza todos os músculos. Com isso, reforça a musculatura periarticular e, mesmo que haja frouxidão ligamentar, haverá uma maior sustentação por parte dos músculos. ⚕ Síndrome de Herlen Danlos: síndrome genética que se manifesta com hiperelasticidade da pele e hipermobilidade articular. 26 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztanjnbok Dor em Membros Nicole C Vivas - 2021.1 Osteocondroses (ou Osteocondrite) Osteocondrose é a necrose avascular do osso. De alguma maneira, o osso passa a ser menos irrigado. O vaso faz um espasmo, fecha, para de irrigar o osso e esse osso “morre” temporariamente. Na criança, o vaso reabre e revasculariza, voltando ao normal. Pode causar sequelas. ↳ Dependendo do grau da lesão e da idade do paciente, pode não ser possível a recuperação total da articulação, sobretudo, quando está destruída e achatada. Alterações degenerativas nos centros de ossificação epifisários que acomete a faixa etária infanto- juvenil (preferencialmente) e principalmente MMII, autolimitadas (2 - 3 anos), podendo acometer preferencialmente epífises, apófises e ossos curtos. Diagnóstico é clínico e radiológico, uma vez que variantes anatômicas são muito comuns nesta faixa etária. Por isso, pedir raio x de ambos os lados para comparação. ⚕ Anemia falciforme é uma causa de necrose avascular do osso através de fenômeno tromboembólico, por obstrução. Esse é um exemplo de osteocondrose não idiopática. Não é temporária, não é autolimitada. Assim como no LES, arteriosclerose, hipercolesterolemia e uso de anticoncepcionais. Porém, na criança é IDIOPÁTICA. DOENÇA DE LEGG-CALVÉ-PERTHES É a Necrose Avascular da Epífise Femoral Proximal (cabeça do fêmur) Osteocondrose mais frequente Maior incidência: 3 - 12 anos (4 a 8 anos) Masculino > feminino (4x) Bilateral em cerca de 10 - 20 % dos casos QUADRO CLÍNICO — DOENÇA DE LEGG-CALVÉ-PERTHES Início insidioso, curso arrastado Claudicação Dor característica mecânica na região inguinal, face interna da coxa e/ou face ântero-interna do joelho ↳ Dor no quadril e/ou joelho Espasmo muscular com limitação de abdução e rotação interna do quadril Hipotrofia do membro afetado e região ⚕ Qualquer problema no quadril na criança e adolescente, pode dar dor no quadril, mas pode frequentemente dar dor referida ou irradiada no joelho. Pode ter dor no quadril, no joelho e só no quadril ou só no joelho. 27 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztanjnbok Dor em Membros Nicole C Vivas - 2021.1 RAIO-X — DOENÇA DE LEGG-CALVÉ-PERTHES Alargamento do espaço articular Aumento da densidade óssea de parte ou toda a epífise ↳ Essa área mais branca inicial mostra calcificação pela falta de irrigação. Fragmentação do núcleo epifisário (fase mais avançada) ➤ Observa-se 3 fases radiológicas: 1. Aumento da densidade do osso (esclerose). 2. Fragmentação, correspondente à revascularização. 3. Remodelação do osso, geralmente com alteração de forma e volume do segmento acometido. ⚕ RM e TC fazem um diagnóstico mais precoce. TRATAMENTO — DOENÇA DE LEGG-CALVÉ-PERTHES Sempre encaminhar para o ortopedista. Prevenção de deformidades e manutenção da epífise na cavidade acetabular. ✦ Conduta expectante ✦ Órtese ✦ Cirurgia EPIFISIÓLISE X DOENÇA DE LEGG-CALVÉ-PERTHES ➤ Doença muito parecida com a Doença de Legg-Calvé-Perthes. ➤ Tem a mesma história: dor mecânica no quadril e/ou no joelho. ➤ Normalmente, é bilateral. ➤ Só consegue fazer o diagnóstico diferencial através da imagem: ↳ Na Legg-Perthes vai ter uma área de fragmentação e na Epifisiólise observa-se que a cabeça do fêmur “escorrega”, sai do lugar. ➤ Tratamento é cirúrgico. 28 Neste caso, o parafuso à direita foi colocado como uma forma de prevenção, já que normalmente, o acometimento é bilateral. Reumatologia – Prof. Flávio R Sztanjnbok Dor em Membros Nicole C Vivas- 2021.1 DOENÇA DE OSGOOD SHLATTER Necrose Avascular da Tuberosidade Anterior da Tíbia Muito comum em adolescentes, ocorrendo em 20% dos que praticam esporte Masculino > feminino Bilateral em 25 - 50% ➤ O músculo quadríceps passa pela patela. Entre a patela e a tuberosidade anterior da tíbia, fica o tendão patelar. Adolescente praticante de esportes, pode fazer muita contração nessa área (aumenta tensão local), levando a um rompimento e fragmentação da tuberosidade anterior da tíbia, pois a musculatura “puxa” essa tuberosidade. ➤ Essa tração que o tendão realiza na tíbia, induz ao espasmo e diminuição de vascularização. ➤ A tuberosidade anterior da tíbia é um local de entesite também, uma vez que é onde o tendão patelar se liga. ➤ Paciente reclama de dor no joelho, mas ao examiná-lo não são observadas alterações, pois a tuberosidade fica abaixo. Então, paciente faz o Sinal do Dedo (localiza a dor com o dedo). ➤ O diagnóstico é clínico e radiológico onde podemos observar a lesão do tubérculo. TRATAMENTO — DOENÇA DE OSGOOD SHLATTER Analgesia física (gelo) ou medicamentosa Alongamento do quadríceps (fisioterapia) Repouso Contensor infrapatelar; é colocado abaixo da tuberosidade anterior da tíbia e permite que o paciente execute atividades por mais tempo sem sentir dor. 29 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztanjnbok Dor em Membros Nicole C Vivas - 2021.1 DOENÇA DE SEVER É a Necrose Avascular (ou Osteocondrose) da Apófise do Calcâneo Meninos de 5 - 10 anos Claudicação Dor no retropé de característica mecânica espontânea e à DP, edema local, 60% bilateral Para evitar a dor, a criança pode começar a andar na ponta do pé. TRATAMENTO — DOENÇA DE SEVER Palmilha Gelo Repouso Alongamento do complexo gastrocnêmio DOENÇA DE KÖHLER Osteocondrose do Navicular do Tarso Meninos de 4 - 8 anos Edema do tarso, dor no dorso do pé espontânea e à DP Claudicação ↳ Pode caminhar com a face lateral do pé, protegendo o navicular do tarso. Calçado com suporte É um processo benigno que cessa após 2 - 3 anos. O uso de um calçado com suporte para o navicular ou bota gessada, ajuda a diminuir a dor e a prevenir deformidades ósseas. 30 A seta aponta para o osso navicular que, no caso, está diminuído. Reumatologia – Prof. Flávio R Sztanjnbok Dor em Membros Nicole C Vivas - 2021.1 DOENÇA DE FREIBERG Osteocondrose das Cabeças dos Metatarsianos (2 e 3) Meninas, 10-16 anos Edema, dor no dedo espontânea, dor à DP, dor à mobilização das MTFs Claudicação Palmilha com apoio retrocapital 31 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztanjnbok Dor em Membros Nicole C Vivas - 2021.1 Doenças Onco-Hematológicas LEUCEMIA Vários tipos de manifestações músculo-esqueléticas (em até 1/3 dos casos) Cerca de 10 - 15% iniciam com manifestações articulares São muitas dores (esterno, tíbia, crista ilíaca), sem muitos sinais flogísticos. Desproporção entre sinais e sintomas articulares. Criança pode gritar de dor mas os sinais articulares podem não estar presentes. Diagnóstico é feito a partir de um mielograma (biópsia de MO). Diante de um quadro de artrite com poucas semanas de manifestação, devemos pensar nessa hipótese, sobretudo se a criança apresentar hepatomegalia, esplenomegalia, adenomegalias e dor à compressão do esterno ou das tíbias. A artrite pode ser crônica e recidivante (desaparece e reaparece). Hemograma: linfocitose, anemia, plaquetopenia. VHS elevado na maioria das vezes. ↳ Quadros que iniciam com artrite, as alterações hematológicas podem não estar presentes. Raio-X: presença de elevação do periósteo, lesões líticas, tarja leucêmica (faixa hipertransparente localizada na metáfise) e osteoporose. Lesão lítica e insulflante deixa o osso em forma de balão. ➤ A leucemia mimetiza várias doenças reumáticas. ➤ Leucemia Linfoide Aguda (LLA) é a leucemia mais frequente na faixa etária pediátrica com o melhor prognóstico desde que seja tratada de forma precoce e correta. Se começar com corticoide precocemente de forma incorreta, vai mascarar o quadro de leucemia e o prognóstico da criança muda. OSTEOMA OSTEOIDE Tumor benigno Prevalência em faixa pediátrica Acomete ossos longos e coluna Queixa: dor na perna 32 Osteoma Osteoide Lesão lítica com área de esclerose = neoplasia ou infecção (osteomielite) Reumatologia – Prof. Flávio R Sztanjnbok Dor em Membros Nicole C Vivas - 2021.1 Doenças Infecciosas Podem surgir devido a uma infecção ou como consequência de mecanismos imunoinflamatórios. As lesões bacterianas são emergenciais, já que o diagnóstico e tratamento precoce podem modificar muito o prognóstico. As principais condições observadas em crianças são: artrite séptica, artrite tuberculosa, artrites reativas, artrites virais, osteomielite, sífilis, discite, miopatias infecciosas, artrites crônicas da infância, doenças difusas do tecido conjuntivo, AIDS. ARTRITE SÉPTICA OU INFECCIOSA Agente infeccioso presente dentro da articulação Monoartrite aguda: apenas uma articulação acometida 1/3 das artrites sépticas ocorrem em crianças 40% das artrites sépticas nas crianças, ocorrem naquelas < 2 anos de idade A infecção pode ocorrer por: ✦ Disseminação hematogênica ✦ Inoculação direta (traumatismo) ✦ Complicação de procedimentos terapêuticos Principal causa: estafilococos aureus (S. Aureus) Cursa com história de infecção de pele (piodermite, furúnculo…) QUADRO CLÍNICO — ARTRITE SÉPTICA Febre, prostração, queda do estado geral ↑volume, calor, rubor e dor (>75% dos casos são grandes articulações de MMII) Espasmo muscular, posição antálgica Limitação de movimento Evolução pode ocorrer em questão de 12 a 24 horas, com piora progressiva. DIAGNÓSTICO Toda monoartrite aguda, até que se prove o contrário, é uma artrite séptica aguda. O agente etiológico é pesquisado por punção (principal exame complementar) Doença grave que evolui rapidamente e pode matar, quando não deixa sequelas importantes. O agente mais comum é o S. aureus, mas pode haver outros dependendo da idade: ✦ RN: SBHGB (estreptococos beta hemolítico do grupo b) e S. aureus. ✦ 6 meses a 2 anos: H. Influenzae e S. aureus. → O H. Influenzae não é o mais comum por conta da vacina. ✦ > 2 anos: S. aureus. TRATAMENTO Internação e antibioticoterapia endovenosa por 2 - 3 semanas e, posteriormente, por VO até que o VHS normalize e não existam mais sinais clínicos. 33 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztanjnbok Dor em Membros Nicole C Vivas - 2021.1 SINOVITE TRANSITÓRIA DO QUADRIL É uma artrite reativa Ocorre após infecção (IVAS ou diarreia viral) Monoartrite Aguda do quadril Só existe na criança: 2 - 12 anos, M > F Transitória = melhora rapidamente ✦ Melhora em um mês sem tratamento; com tratamento melhora mais rápido. Diagnóstico Diferencial: Artrite Séptica do quadril ↳ Na dúvida, interna e faz antibiótico venoso. QUADRO CLÍNICO — SINOVITE TRANSITÓRIA DO QUADRIL Febre baixa Bom estado geral Claudicação Dor no quadril e/ou joelho Limitação de abdução e rotação interna História prévia de IVAS ou diarreia Autolimitada, benigna LABORATÓRIO — SINOVITE TRANSITÓRIA DO QUADRIL Hemograma normal Proteínas de fase aguda normais Rx bacia e joelho: normais Ultrassom: derrame sem debris Cintigrafia óssea: hipercaptação TRATAMENTO — SINOVITE TRANSITÓRIA DO QUADRIL Punção articular ↳ Punção mostra líquido estéril AINH ⚕ Discite Inflamação ou infecção do disco intervertebral, que pode levar à osteomielite nas vértebras adjacentes. Pode ser por diversas etiologias, depende da idade do paciente. Mais comum na faixa etária até os 2 anos. Paciente chega com febre alta, toxemia. Pode queixar-se de dor na coluna, podendo irradiar para o quadril. Faz diagnóstico diferencial com neoplasias, mas essas acometem uma vértebra, enquanto a discite acomete mais de uma, pois a infecção passa de uma para outra. 34 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztanjnbok Dor em Membros Nicole C Vivas - 2021.1Outro diagnóstico diferencial é tuberculose óssea. Quadro radiológico: Lesão lítica com área de esclerose. Pode ser uma neoplasia ou infecção (osteomielite ou discite). ➤ Crianças pequenas: ✦ Dor na coluna lombar ✦ Principal agente etiológico: S. Aureus (estafilococos aureus) ✦ Discite estafilocócica causa protuberância em região lombar. ➤ Crianças maiores e adultos: ✦ Dor na coluna torácica (Mal de Pott: infecção da coluna vertebral pelo Mycobacterium tuberculosis). ✦ Principal agente etiológico: BK (bacilo de Koch) ou, também chamado de Mycobacterium tuberculosis. ✦ A destruição da parte anterior das vértebras por tuberculose, leva a uma protuberância em região torácica. ⚕ RN que não movimentam um membro, pensar em: traumatismo no parto (tocotraumatismo), displasia de quadril, luxação de quadril, infecção congênita (ex.: sífilis, rubéola, toxoplasmose). ⚕ Sífilis congênita: causa pênfigo palmo-plantar em RN e causa pseudoparalisia de Parrot (não movimentação de um membro quando o bebê nasce). ⚕ Eritema nodoso: pode ser por hanseníase, infecção estrepcócica, tuberculose, micoses profundas, uso de anticoncepcional. 35 SINOVITE TRANSITÓRIA DO QUADRIL ARTRITE SÉPTICA DO QUADRIL Febre baixa Febre alta Bom estado geral Queda do estado geral Claudicação Claudicação Dor no quadril e/ou joelho Dor no quadril e/ou joelho Limitação de movimento Limitação de movimento História prévia de IVAS ou diarreia História prévia de infecção cutânea (piodermite) Autolimitada, benigna Se não tratada, pode levar à sepse, morte. Pode deixar muitas sequelas. Hemograma e proteínas de fase aguda normal ou pouco alteradas Proteínas de fase aguda (VHS e PCR) altas. Leucocitose com desvio à esquerda, anemia. Tratamento com AINE, pois é uma doença inflamatória Internação e antibiótico venoso Reumatologia – Prof. Flávio R Sztanjnbok Dor em Membros Nicole C Vivas - 2021.1 Hemoglobinopatias Crises vaso-oclusivas: dores recorrente em músculos e ossos Necrose asséptica Infarto ósseo Osteomielite Artralgia, artrite ANEMIA FALCIFORME Anemia falciforme pode causar infarto, osteomielite, artralgia e artrite. Em lactentes, as primeiras manifestações de anemia falciforme podem surgir sob a forma de síndrome de mão-pé, caracterizada pela presença de edema nodoso das mãos e pés. A presença de esplenomegalia associada à anemia, deve levantar suspeita de anemia falciforme. Crianças menores (lactentes até 5 anos): síndrome mão-pé (dactilite: artrite das articulações pequenas das mãos e dos pés) ↳ Dedos ficam inchados e doloridos. Crianças maiores/adolescentes: extremidades de ossos longos e coluna com dor intensa ⚕ No hipotireoidismo, a droga chamada propiltiouracil, pode causar LES, o qual se manifesta com dores articulares, entre outros. Quando ocorre a retirada da droga, o lúpus pode melhorar. ↳ No hipotireoidismo, há dor difusa compatível com fibromialgia ou presença de artralgia sem dor à digitopressão das articulações. 36 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztanjnbok Dor em Membros Nicole C Vivas - 2021.1 Síndromes de Amplificação da Dor Grupo de entidades onde: ✦ Existe dissociação entre a intensidade da dor e a base anatomopatológica e entre os sinais e sintomas ✦ O paciente apresenta bom estado geral ✦ Investigação diagnóstica não confirma uma doença orgânica ✦ Intervenção terapêutica medicamentosa mostra resultados insatisfatórios Etiologia desconhecida Associação com traumatismos, fatores psicossociais, baixa autoestima, problemas familiares e na escola, distúrbios do sono e fadiga Não há evidência de processo inflamatório Convivência com adultos “dolorosos” Ganhos secundários por parte da criança Dor de crescimento Distrofia simpático-reflexa Fibromialgia Dores de origem psicossomática DOR DE CRESCIMENTO Denominação incorreta (melhor seria “Dor Músculo-Esquelética Idiopática da Infância) Não é ARTICULAR! 10 - 20% das crianças Idade mais frequente: 4 - 12 anos — Não dá em adolescente! Quadro clínico ✦ Dor profunda, bilateral (alternante) ✦ Localização vaga, geralmente em MMII (coxas, panturrilhas, oco poplíteo, região inguinal) ✦ Raramente articular ✦ Intensa a ponto de interromper brincadeiras ou acordar paciente à noite ✦ Dor surge no final da tarde ou à noite, criança acorda bem ✦ Cede com massagem ✦ Recorrente Exame físico, laboratorial e radiológico normais Prognóstico: excelente Tratamento: tranquilizar família, vida normal, esportes, calor, massagem, analgésicos, psicólogo Diagnóstico diferencial: Osteoma Osteoide ↳ A diferença é que a dor do tumor é mais bem localizada e não desaparece, além de apresentar alterações nos exames laboratoriais. 37 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztanjnbok Dor em Membros Nicole C Vivas - 2021.1 SÍNDROME DA DOR REGIONAL COMPLEXA Síndrome dolorosa que acomete extremidades, com dor constante que piora com movimento, levando ao medo de mobilizar um membro e gerando incapacidade física. Geralmente se associa a trauma físico ou emocional previamente. Dor pode ser em queimação, facada, choque. Acompanha-se de distúrbios autonômicos por disfunção do SNA, como edema, alterações de temperatura e cor da pele, sudorese, pele moteada. Há diminuição dos movimentos e podem surgir contraturas fixas. Pacientes podem chegar de cadeira de rodas ou bengalas. Tipo 1: Distrofia Simpático-Reflexa ✦ Secundária a injúria como pequenos traumas, procedimento cirúrgico e imobilização prolongada, sem lesões anatômicas dos nervos Tipo 2: Causalgia ✦ Ocorre por dano anatômico a alguma estrutura nervosa. Posições bizarras, geralmente em flexão, com dor contínua, rigidez e incapacidade progressivas na parte distal das extremidades, pioram com atividades e toques. Alterações de cor e temperatura Edema, sudorese Cianose Alodinia e hiperalgesia Pode haver a presença de distúrbios motores: distonias, tremores, espasmos e fraqueza. EXAMES — SÍNDROME DA DOR REGIONAL COMPLEXA Laboratório normal RX normal ou leve osteopenia Cintilografia óssea: hipo ou hipercaptação DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Fibromialgia Hipermobilidade Dor miofascial Leucemia Tumores CRMO Doença de Fabry Eritromelalgia Doenças tireoidianas 38 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztanjnbok Dor em Membros Nicole C Vivas - 2021.1 TRATAMENTO Terapia física Analgésicos e anti-inflamatórios não hormonais Amitriptilina, fenitoína, gabapentina Acupuntura, bloqueio simpático Acompanhamento psicológico Retorno à vida normal PROGNÓSTICO Melhor que em adultos Muitas crianças apresentam remissão espontânea Terapias física e psicológica levam à remissão na maioria dos casos Recaídas são frequentes Prognóstico melhor nos meninos 39 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Febre Reumática Nicole C Vivas - 2021.1 Febre Reumática CONCEITO Doença inflamatória, não supurativa, que pode ocorrer em indivíduos geneticamente predispostos após IVAS pelo estreptococo beta hemolítico do grupo A. ➤ Não basta ter infecção, é preciso ter predisposição genética. ➤ Ocorre após 2 – 4 semanas após IVAS pelo estreptococo beta hemolítico do grupo A (s. Pyogenes). ➤ Existem outras complicações não supurativas com a Glomerulonefrite Difusa Aguda (GNDA). ➤ Algumas cepas são mais nefritogênicas, outras mais reumatogênicas. EPIDEMIOLOGIA Incidência: 5 – 15 anos. Rara < 3 anos. ↳ Incide mais no escolar e no adolescente. ↳ Dificilmente vai ter um pré-escolar ou pessoa idosa com FR. Baixas condições socioeconômicas 1 – 3% pós amigdalite pelo EBGA ↳ Maioria das amigdalites são virais. ↳ Menos de 10% são bacterianas. ↳ Desses 10%, a maioria é pelo EBGA DIAGNÓSTICO CLÍNICO Febre alta e toxemia Adenomegalia cervical (geralmente, dolorosa) Petéquias no palato/exsudato Cefaleia e dor abdominal Ausência de coriza, conjuntivite, rouquidão, diarreia IMPORTÂNCIA DA FEBRE REUMÁTICA 1% das crianças do mundo 15,6 milhões de pessoas com CRC 300.000casos novos/ano Países em Desenvolvimento: ✦ Incidência: 50 a 100/100.000 crianças ao ano ✦ Prevalência de CRC de 10 a 18/1.000 crianças ✦ 25 – 45% das doenças cardiovasculares 40 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Febre Reumática Nicole C Vivas - 2021.1 Brasil: ✦ Enfermidade reumática mais comum na criança ✦ Principal causa de cardiopatia crônica em < 20 anos ETIOPATOGENIA É uma artrite reativa, ou seja, faz anticorpo contra uma infecção que não existe mais quando a FR surge. ↳ Também chamada de reação cruzada ou mimetismo molecular. 2 – 4 semanas depois da infecção de orofaringe, aparecem as manifestações de febre reumática. ↳ Enquanto isso, houve produção de anticorpos contra estreptococos. ↳ Os anticorpos reagem, não apenas erradicando estreptococos, mas também atacando alguns tecidos do organismo (coração, articulação, SNC, pele), desde que haja predisposição genética. GUIA DIAGNÓSTICO PARA 1º SURTO DE FR (CRITÉRIO DE JONES, ATUALIZADO EM 1992) A ocorrência de 2 critérios > ou 1 > e 2 <, ambos acompanhados de evidência prévia de infecção estreptocócica, torna o diagnóstico de FR bastante provável. ➤ Provavelmente, a cultura de orofaringe vai estar negativa quando o paciente chegar com suspeita de FR, porque a doença já teria sido erradicada ou por medicamentos administrados ou pelos anticorpos. ➤ Menos de 25% dos pacientes com febre reumática vão apresentar testes positivos para estreptococos. ➤ Existem outros anticorpos como a Anti-DNAse B. 41 Manifestações Maiores Manifestações Menores Evidência de Infecção Estreptocócica Prévia Poliartrite Artralgia Cultura de Orofaringe Cardite Febre Positiva Coreia Alteração das Proteínas de Fase Aguda Eritema Marginatum Títulos aumentados de anticorpos Nódulos Subcutâneos Intervalo PR (ECG) antiestreptocócicos (ASO ou ASLO) Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Febre Reumática Nicole C Vivas - 2021.1 CRITÉRIOS MAIORES (CRITÉRIOS DE JONES, REVISADO 2015) População de baixo risco: ✦ Cardite clínica e/ou subclínica ✦ Poliartrite ✦ Coreia ✦ Eritema marginado ✦ Nódulos subcutâneos População de médio e alto risco: ✦ Cardite clínica e/ou subclínica ✦ Poliartrite, monoartrite ou poliartralgia ✦ Coreia ✦ Eritema marginado ✦ Nódulos subcutâneos CRITÉRIOS MENORES (CRITÉRIOS DE JONES, REVISADO 2015) População de baixo risco: ✦ Poliartralgia ✦ Febre 38,5 ºC ✦ VHS 60 ou PCR 3mg/dL ✦ Aumento intervalo PR para idade, se não houver cardite População de médio e alto risco: ✦ Monoartralgia ✦ Febre 38 ºC ✦ VHS 30 ou PCR 3mg/dL ✦ Aumento de intervalo PR para idade, se não houver cardite 1º surto de FR: 2m ou 1m e 2m. FR recorrente: 2m ou 1m e 2m ou 3m. 42 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Febre Reumática Nicole C Vivas - 2021.1 POLIARTRITE Muito frequente (35% – 90%) Migratória: pula de uma articulação para outra, migrando. Grandes articulações Muito dolorosa Autolimitada → 3 – 4 semanas a poliartrite desaparece tratando ou não. Ótima resposta AINE Sem sequelas Formas atípicas: ✦ Pequenas articulações, quadril e coluna cervical ✦ Oligoartrite ✦ Simetria ✦ Aditividade ✦ Entesite CARDITE (50 – 70%) Na maioria das vezes é uma pancardite. ↳ Acomete as três camadas: miocárdio, endocárdio e pericárdio. ↳ Miocárdio e endocárdio são mais frequentes do que o acometimento pericárdico. ⚕ Acometimento isolado do pericárdio, não deve ser febre reumática! Miocardite: taquicardia de repouso, sem febre. Endocardite: sopro cardíaco; acometimento valvular. ✦ Mitral isolada: 65 – 70% → Lesão cardíaca mais frequente na FR é insuficiência mitral (válvula mitral). ⚕ Sopro de insuficiência mitral é SISTÓLICO. ✦ Mitral + Aórtica: 25% ✦ Aórtica isolada: 7 – 15% ✦ Tricúspide e Pulmonar: raras Pericardite: hipofonese de bulhas, atrito pericárdico, dor ou desconforto precordial. ✦ Aumento de área cardíaca (50%) ✦ Insuficiência cardíaca (5 – 10%) ✦ Cardite subclínica ou silenciosa (até 53%): ausculta normal, ecocardiograma com alterações patológicas, cerca de 50% evoluem com persistência ou piora da cardite. Faz eco em TODOS os paciente com FR suspeita ou confirmada! ⚕ Sopro de Carey-Coombs é um sopro diastólico e é patognomônico da fase aguda da Febre Reumática. Na fase aguda, forma-se um edema do anel da válvula mitral, causando uma estenose mitral funcional. 43 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Febre Reumática Nicole C Vivas - 2021.1 COREIA DE SYDENHAM (10 – 30%) Pode manifestar-se mais tardiamente, até 6 meses. Movimentos involuntários, incoordenados de face e extremidades, uni ou bilaterais. Desaparece com o sono Labilidade emocional → começa a chorar ou rir, alteração de comportamento… Transtornos obsessivo compulsivos → coreia pode evoluir para TOC NÓDULOS SUBCUTÂNEOS E ERITEMA MARGINADO ➤ Ocorre em 5 – 10% das crianças com FR. ➤ São importantes pela associação frequente com a cardite. ➤ Nódulos indolores se localizam, principalmente, em proeminências ósseas e trajeto de tendão nas mãos. ➤ Eritema marginado são lesões serpiginosas, rosadas com centro mais claro, normalmente não são pruriginosas. ➤ Essas lesões não causam nada, mas a presença de uma e/ou outra, sugere que a criança tem cardite. Se não tiver, vai desenvolver. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Artrites: Infecciosas (virais e bacterianas; EI), Reativas, Doenças hematológicas (leucemia, anemia falciforme), Neoplasia, Doenças Reumáticas, Vasculite por IgA, Neoplasias, Artrite Séptica. Cardite: Infecções Virais, Doenças Reumáticas, Endocardite, PVM (prolapso de válvula mitral), Aorta Bicúspide, Regurgitação Fisiológica, Kawasaki, Cardiomiopatia, Sopros Funcionais. Coreia: Intoxicação exógena, Encefalites, LES, Tiques nervosos, Coreia Familiar, SAF (síndrome do anticorpo fosfolipídio), Doença de Wilson, Tumores de SNC, Hipertireoidismo. Nódulos Subcutâneos: Doenças reumáticas (LES, AIJ), Nódulos Benignos. Eritema Marginado: Farmacodermia, Infecções, Idiopático. 44 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Febre Reumática Nicole C Vivas - 2021.1 LABORATÓRIO NA FEBRE REUMÁTICA Evidência de infecção estreptocócica prévia. Cultura de orofaringe Testes rápidos Dosagem de anticorpos (ASO) ✦ Curva de ASO: mais importante que seus valores isolados, é seu aumento em sorologias pareadas. A normalização dos valores pode demorar até 6 meses. ✦ Aplicações mais frequentes de penicilina benzatina não farão os valores normalizarem mais rapidamente. PROFILAXIA PRIMÁRIA Penicilina benzatina ✦ 600.000 U (< 20 Kg); 1.200.000 U (> 20 Kg) ✦ IM ✦ Dose única → uma dose de Benzetacil é suficiente para erradicar o estreptococos. Antibióticos orais ✦ Utilizados por 10 dias ✦ Azitromicina por 5 dias Alergia à penicilina, usar: ✦ Eritromicina ✦ Clindamicina ✦ Azitromicina. Não são eficazes na erradicação do estreptococo: ✦ Sulfa ✦ Cloranfenicol ✦ Tetraciclina. 45 Reumatologia – Prof. Flávio R Sztajnbok Febre Reumática Nicole C Vivas - 2021.1 TRATAMENTO SINTOMÁTICO Hospitalização ✦ Cardite moderada a grave ✦ Artrite incapacitante ✦ Coreia grave ✦ Abreviar diagnóstico ✦ Início do tratamento Repouso ✦ Não há evidências que reduza duração e intensidade da cardite ou do surto aguda ✦ Repouso relativo por 2 semanas, chegando a 4 semanas nas cardites moderadas e graves. Artrite ✦ AINE por 4 – 6 semanas, VO ✦ Ácido acetilsalicílico 80 – 100 mg/Kg/dia, 3 – 4x ✦ Naproxeno 10 – 20 mg/Kg/dia, 2x/dia ✦ Hoje em dia, ibuprofeno é muito utilizado. Cardite ✦ Controle da inflamação ✦ Prednisona 1 – 2 mg/Kg/dia, VO, inicialmente pode ser dividido em até 4 doses diárias, total de 8 – 12 semanas. ✦ Controle da ICC ✦ Diuréticos, restrição hídrica, IECA, digoxina ✦ Controle das arritmias ⚕ Como tratar um paciente com artrite e cardite? Apenas com corticoide, pois já é muito potente. Não precisa associar a AINE pois aumenta o risco de efeitos colaterais. Coreia ✦ Repouso
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