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SOCIEDADES EM TEMPOS DE PANDEMIA: ANÁLISES DE CONJUNTURAS ECONÔMICAS VERSUS A CRISE NA SAÚDE PÚBLICA, FUNDAMENTAÇÃO NA SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS 
ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE 
DISCIPLINA: SOCIOLOGIA EM SAÚDE 
PROFESSORA SAMIA FEITOSA MIGUEZ 
 
 
 
ATIVIDADE AVALIATIVA 2.1 
 
 
 
 
SOCIEDADES EM TEMPOS DE PANDEMIA: 
ANÁLISES DE CONJUNTURAS ECONÔMICAS VERSUS A CRISE NA 
SAÚDE PÚBLICA, FUNDAMENTAÇÃO NA SOCIOLOGIA 
CONTEMPORÂNEA” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vitória Carolinne Lírio de Mattos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Manaus 
2020 
 
 
A OMS traz como definição oficial da palavra “saúde”, o completo estado de bem-estar 
físico, social e mental. Uma definição utópica, que se constitui em um desafio para os 
serviços públicos de saúde dos Estados. Diante do novo coronavírus, o mundo se viu 
despreparado e colapsado, não só por conta da velocidade pela qual o vírus se disseminou 
como também pelo medo do desconhecido, encontrando impactos sociais, biológicos e 
econômicos. A humanidade que antes discutia acerca de uma descrença sob o processo 
de globalização, hoje percebe o quanto os países estão conectados e o quanto uma ação 
interna destes, pode afetar o restante do mundo. Ademais, vale citar o isolamento 
social/quarentena que por meses fechou empresas e demonstra a centralidade do trabalho 
para o funcionamento do sistema de exploração capitalista, indicando a necessidade de 
uma análise de conjunturas econômica e da crise da saúde pública. 
A priori se faz necessário entender as circunstâncias facilitadoras de disseminação sobre 
a cidade e o país de origem do vírus. O SARSCov2 surgiu na província de WUHAN, na 
China. Wuhan é uma megacidade, com mais de 10 milhões de habitantes e é um tecnopolo 
popular globalmente na produção de veículos, além de ser cortada pelo rio Yang-Tsé, o 
que facilita o escoamento de produções. Além disso a China é o pais mais populoso e o 
maior emissor de turistas do mundo. Sabendo que a França, localizada na Europa, é o 
maior receptor de turistas do mundo, sabendo também que vários países de outros 
continentes exportam produtos da China, fica subentendido que a não disseminação da 
covid-19 era praticamente inevitável. Isso ocorre principalmente por conta da 
globalização, definida pelo sociólogo britânico Anthony Giddens como a intensificação 
das relações sociais em escala mundial e as conexões entre diferentes regiões do planeta, 
a partir destas, os acontecimentos locais sofrem influências dos acontecimentos ocorridos 
a milhas de distância e vice-versa. Giddens também fala sobre a Teoria da Estruturação, 
onde propõe uma dinâmica entre agência e estrutura, considerando os indivíduos de uma 
sociedade como agentes e como seres capazes de executar ações longe de coerções. Sendo 
assim, para Giddens a estrutura só existe na medida que a ação do agente se realiza. Ainda 
seguindo a linha do sociólogo, a ação (que é aquilo que só pode ser feita por um ator) não 
está restrita só ao que um agente pode fazer em um ambiente ou em si mesmo, seja de 
forma intencional ou não, diz respeito também aquilo que esse agente não tem controle e 
não consegue perceber as consequências. Um exemplo disso relacionado a saúde pública 
e pandemia do novo coronavírus, seria o que aconteceu em Manaus, no Amazonas, em 
especial sob a supervisão do governador do estado Wilson Lima, em que o mesmo é 
investigado pelo Superior Tribunal de Justiça por compra superfaturada de respiradores 
mecânicos (usados no tratamento contra a covid-19) no valor de 2,9 milhoes de reais. 
Esse ato corrupto, em que os governantes não pensaram em como suas ações afetariam a 
população, colocou o Amazonas em um cenário de horror, liderando o ranking nacional 
em mortes pelo vírus, com hospitais lotados e pacientes morrendo sem conseguir um leito 
e sem atendimento, com cemitérios abrindo covas coletivas. 
A posteriori vale ressaltar como a quarentena afetou de forma econômica a maior parte 
da população, haja vista que com as medidas de prevenção muitas industrias fecharam 
temporariamente e algumas até faliram. A exemplo da Zona Franca de Manaus que 
emprega mais de 500.000 pessoas e em março precisou dar “férias coletivas” a 85.000 
delas, por conta do fechamento dos portos onde eram recebidos os carregamentos de 
peças eletrônicas, automotivas etc. Por consequência foi possível observar uma 
humanidade extremamente desigual em classes, onde segundo a historiadora Virginia 
Fontes, a saúde globalizada se fez resultado de uma dinâmica capitalista também 
globalizada. Nesse interim existe o individualismo burguês, explicitado principalmente 
nos argumentos das classes mais altas de que “a economia não pode parar”, junto a isso 
alguns líderes de países como Brasil e EUA que trataram o vírus com descaso e viram 
seus sistemas de saúde colapsarem, a “gripezinha” de Jair Bolsonaro e o “vírus chinês” 
de Donald Trump influenciaram milhares de cidadãos a não tomarem as medidas de 
prevenção necessárias. Pierre Bourdie, um dos autores sociólogos mais importantes do 
século 20, explica esse individualismo com o que ele chama de HABITUS, onde explica 
as classes sociais como uma materialização das disposições sociais que estão 
internalizadas no individuo ou em um grupo, influenciando comportamentos e formando 
estilos de vida. Por exemplo o habito alimentar, sair para comer bem para uma família de 
baixa renda seria ir em um restaurante barato e que servisse um prato que talvez a família 
comesse em casa diariamente. Já para uma família e renda alta sair para comer bem seria 
ir em um restaurante caro e comer uma comida mais “rara” de se ter em casa. 
Resumidamente Bourdieu defende que o gosto pessoal e comportamentos são resultados 
daquilo que lhe foi oferecido ao longo da vida. 
Nesse ínterim é importante citar que estamos vivendo a “era da pós verdade”, que é 
quando a crença pessoal se sobrepõe aos fatos científicos. Isso se entrelaça ao que vem 
ganhando forças nos últimos tempos, e se potencializou durante a pandemia que são as 
chamadas Fake News. Hoje, sabe se que mais de 70% das notícias veiculadas sobre a 
covid-19 são falsas e boa parte delas chegam a ser extremamente absurdas, como a de 
que estourar plástico bolha poderia expor as pessoas ao vírus, porque o plástico seria 
produzido por pessoas que o assopravam e que poderiam estar contagiadas ou a 
informação de que secadores de cabelo poderiam ser usados como prevenção ao covid-
19. Isso porque, segundo o médico presente no vídeo da notícia divulgada, o novo 
coronavírus poderia ser destruído ao ser exposto a uma temperatura superior aos 56ºC. 
Ambas as notícias foram desmentidas pela Organização Mundial da Saúde, sendo 
retiradas do ar. 
Em suma, é de extrema importância a existência da analise social, econômica e politica 
na qual o mundo foi inserido a partir da crise do covid-19, destacando seus principais 
pontos e correlacionando de forma interdisciplinar com outras situações, afim de procurar 
entender cada situação isoladamente, buscando não só a promoção da diminuição das 
desigualdades sociais como também modos de resolver os problemas que acentuam a 
crise do coronavirus, que como citado, não é somente biológica.

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