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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA – UEPB CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM Autor: HELLEN ANAÍDH DE OLIVEIRA RESENHA CRÍTICA: Saúde na Comunidade Cigana Europeia e sua relação com o Etnocentrismo SILVA, et al. A Comunidade Cigana e o Etnocentrismo da Instituição Médica de Saúde Comunitária. IV Congresso Português de Sociologia, 2002. A obra analisada foi produzida por: Luísa Ferreira da Silva (Dr. em Saúde Comunitária, Universidade Aberta, Delegação Norte), Fátima Sousa (Mestre Relações Interculturais - Univ. Aberta Universidade Aberta, Delegação Norte), Luísa Oliveira (Lic. Serviço Social) e Olga Magano (Mestre Relações Interculturais - Univ. Aberta Câmara Municipal do Porto). Sua publicação ocorreu no ano de 2002, no IV Congresso Português de Sociologia. O artigo aborda os resultados obtidos por uma pesquisa sobre a questão das comunidades ciganas na Europa, e como estas são impedidas de incluírem- se na sociedade geral graças aos estigmas associados a estas pessoas, que envolve seu modo de viver, suas crenças e o fato de - por negligência governamental e da própria sociedade em geral - viverem muitas vezes em circunstâncias precárias, sem condições sanitárias adequadas e sem acesso a escolaridade e profissionalização. Isto gera um distanciamento da sociedade dominante, que comumente discrimina os ciganos e os fazem sentir esta rejeição. Também discorre sobre como esta situação afeta a relação dos ciganos e a instituição de saúde, tendo em vista que os comportamentos de saúde/doença destes são diferentes dos comumente observados. Em alguns momentos os autores escreveram que não possuíam informações o suficiente para confirmar algumas ideias propostas pelos próprios. Apesar disso, o texto em si demonstra que eles possuem domínio do conteúdo, e que suas pesquisas geraram dados significativos para a compreensão da comunidade cigana e suas relações com a sociedade e a saúde. A obra pode ser recomendada para qualquer leitor, tendo em vista que todos estão inseridos na comunidade e têm papel fundamental nas realidades presentes nela. 2 Contudo, indica-se especialmente para especialistas e estudantes da área da saúde no geral, tendo em vista que lidam/podem vir a lidar com os conceitos abordados, ao tratar ou ter contato com pacientes pertencentes à comunidade cigana. A leitura desta obra proporciona ao leitor bastante conhecimento sobre um tema complexo e que envolve uma série de vertentes. Por exemplo, os autores destacam que a exclusão social dos ciganos persiste em parte graças ao pensamento de autodesvalorização destes, desencadeado ao serem desprezados pela sociedade que, guiada pelo preconceito enraizado, encara-os como insignificantes e seres objetificados. Isso faz com que estas pessoas não reconheçam sua própria importância como parte da comunidade, ainda mais por estarem socialmente isolados. Isto resulta em uma divergência em relação ao conceito de saúde no ponto de vista de cada população. Para a sociedade moderna, saúde está relacionada ao completo bem-estar, enquanto a doença é alusiva a estar acompanhado medicamente. Já as comunidades ciganas consideram saúde como não ter sintomas agudos de mal-estar. Recorrem ao atendimento hospitalar apenas em um último caso. Para eles, a doença é percebida como mágico-religiosa, e para a cura há a necessidade de estar rodeado pela sua família. Os autores indicam que aqueles que fazem parte do sistema de saúde muitas vezes criticam os ciganos e os acusam de não se preocuparem com seu bem-estar, além de os descrever como “rebeldes, insubmissos às determinações médicas, rejeitantes da assistência hospitalar, [ausentes em] comportamentos de prevenção” (pág. 4 do artigo). Todavia, percebe-se que há um questionamento sobre a saúde dos ciganos. Os autores levantam que, a prevalência exagerada de doenças observadas nesta comunidade, na verdade está relacionado com o modo de vida precário o qual estas camadas da população (excluídas e pobres) estão sendo sujeitas. Vivem muitas vezes em ambientes inseguros, impróprios, carentes em infraestrutura, sem instrução ou profissão reconhecida, além da pobreza que leva à falta de alimentação e higiene adequada. Nestas condições, as doenças não vão diminuir a menos que haja melhora nas condições habitacionais, algo que é responsabilidade governamental e que envolve toda a sociedade. 3 Por a pesquisa ainda não ter sido finalizada na data da publicação, os autores não apresentaram uma conclusão definitiva. Contudo, ao fim da leitura e análise do artigo conclui-se que precisa se atentar para as condições da comunidade cigana e aplicar políticas sociais buscando melhorias como: saneamento, moradias adequadas, recursos para alimentação e higiene. Só assim, haverá a melhoria da saúde, pois a epidemiologia deixa claro que há forte associação entre saúde e condições de vida/higiene. Ademais, o etnocentrismo da comunidade médica é grande responsável por excluir os ciganos da instituição de saúde, pois os acusam de descuido enquanto ignoram o fato de que estão lidando com valores diferentes dos seus. Muitos estão alheios às condições de vida destas populações e não respeitam outras percepções, além de exigirem a adequação desta comunidade aos seus padrões, não levando em conta que isto implicaria na perda da tradição e identidade destas pessoas. A obra é de grande contribuição para a comunidade em geral e para aqueles inseridos na instituição da saúde, que podem precisar lidar com situações que abranjam a comunidade cigana e exijam estes conhecimentos. Suas ideias não são discutidas o suficiente em nossa sociedade, por isso é um importante veículo para a informação e conscientização do público sobre o assunto, além de potencializar a luta por melhorias. A linguagem e os recursos explicativos utilizados são simples e objetivos, o que proporciona um bom aproveitamento por todos aqueles que demonstrarem interesse. Não requer conhecimentos específicos prévios para a sua compreensão.
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