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É uma lesão dentro do parênquima da tireoide que tem características radiologicamente distintas do parênquima ao redor. Pode ser palpável ou não, dependendo de seu tamanho e profundidade e da experiência de quem palpa. Quando não é palpável e é descoberto por acaso em uma USG de tireoide, é chamado de incidentaloma, tendo o mesmo risco de malignidade dos nódulos palpáveis de mesmo tamanho. A doença nodular da tireoide, que contempla nódulos solitários e bócio multinodular, é, portanto, um problema clínico corriqueiro, com etiologias diversas e preponderadamente benignas. • Bócio coloide ou adenomatoso • Cistos simples ou secundários a outras lesões da tireoide • Tireoidites (de Hashimoto, linfocítica, granulo- matosa, aguda ou de Riedel) • Doenças granulomatosas • Neoplasias: adenomas, carcinomas, linfomas, tumores raros, lesões metastáticas • Doença tireoidiana policística As causas mais frequentes de NT são cistos coloides e tireoidites (80% dos casos), além de neoplasias foliculares benignas (10 a 15%) e carcinoma (5 a 10%). O mecanismo de formação de NT não é bem compreendido. Entre os fatores causais estudados, estão o hormônio tiroestimulante (TSH), fatores de crescimento e mutações como BRAF e Ras, porém a literatura atual ainda carece de evidências claras sobre o mecanismo fisiopatológico envolvido na formação da doença nodular da tireoide Importância da correta avaliação Excluir um eventual carcinoma diferenciado de tireoide (CDT), que corresponde a 5 a 15% de nódulos. Os CDT (papilíferos e foliculares) compreendem de 90 a 95% de todos os cânceres de tireoide, e sua incidência vem aumentando muito nos últimos anos, principalmente de microcarcinomas e carcinomas com menos de 2cm, provávelmente devido ao uso cada vez mais frequente de USG como rastreio da população geral. Teoricamente, apenas os nódulos com mais de 1cm deveriam ser investigados, pois estes têm chance maior de serem um carcinoma clinicamente significativo. Os nódulos com menos de 1cm podem até se tratar também de carcinomas (microcarcinomas), mas na quase totalida- de das vezes são clinicamente insignificantes, assintomá- ticos e não aumentam a mortalidade. Por isso, a grande maioria dos nódulos com menos de 1cm deve ser apenas seguido com USG, pois caso cresçam ou mudem suas características e se tornem mais suspeitos, então terão indicação de punção. Alguns carcinomas com menos de 1cm raramente podem já causar morbidade e mortalidade, mas como isto é muito raro, não é custo-afetivo investigar esses nódulos. Os nódulos com menos de 1cm são investigados somente se forem de alto risco por características ultrassono- gráficas suspeitas, como presença de microcalcificações, ou história clínica de risco, história pessoal ou familiar de câncer de tireoide, irradiação cervical prévia e síndrome genética de risco para carcinoma de tireoide. Diagnóstico A investigação inclui uma história clínica completa e um exame clínico cuidadoso, além dos testes de função tireoidiana, exames de imagem e, se necessário, punção aspirativa com agulha fina (PAAF). Apesar de a história clínica, na maioria das vezes, não ser sensível ou específica, existem alguns fatores que interferem no risco para malignidade em NT. Alta suspeita • História familiar de carcinoma medular ou neoplasia endócrina múltipla • Prévia radioterapia de cabeça ou pescoço • Crescimento rápido, especialmente durante a terapia supressiva com L-tiroxina • Nódulo muito firme ou endurecido • Fixação do nódulo às estruturas adjacentes • Paralisia das cordas vocais • Linfadenopatia satélite • Metástase a distância Moderada suspeita • Idade < 20 anos ou > 70 anos • Sexo masculino • História de radioterapia de cabeça ou pescoço • Nódulo > 4 cm • Presença de sintomas compressivos Dentre eles se destacam: Sexo: embora nódulos sejam oito vezes mais comuns em mulheres, o risco de malignidade no sexo masculino é duas a três vezes maior Idade: o Ca da tireoide é mais comum em crianças (10 a 26% dos nódulos são malignos) e pessoas idosas, mas a maioria das lesões nodulares nessa faixa etária é benigna. Nódulos em indivíduos com menos de 20 anos e acima de 70 anos de idade apresentam maior risco de serem malignos. Sintomas locais: sintomas como rápido crescimento do nódulo, rouquidão persistente ou mudança da voz e, mais raramente, disfagia e dor podem indicar invasão tissular local por um tumor. Entretanto, pacientes com Ca de tireoide em geral evoluem sem sintomas. Lesões benignas mais vascularizadas podem apresentar rápido crescimento e dor em decorrência de hemorragia intranodular, achado mais frequente em neoplasias benignas, como os adenomas. A disfunção do nervo recorrente laríngeo, em 17 a 50% dos casos, resulta de patologias tireoidianas sem malignidade. Doenças associadas: embora os dados da literatura sejam controversos sobre o tema, existem evidências de maior prevalência de nódulos tireoidianos e Ca de tireoide em pacientes com doença de Graves, em comparação à população geral. Da mesma forma, foi relatado que um nódulo em paciente com tireoidite autoimune teria um risco significativamente maior de ser maligno. Uma possível explicação seria o fato de que TSH e TRAb têm efeitos mitogênicos e antiapoptóticos sobre as células foliculares tireoidianas. Por outro lado, a maioria dos casos do raro linfoma primário da tireoide ocorre em pacientes com TH. Outros fatores: neste item, incluem-se história familiar de Ca de tireoide ou síndromes hereditárias como neoplasia endócrina múltipla (MEN) do tipo 2, síndrome de Cowden, síndrome de Pendred, síndrome de Werner, polipose adenomatosa familiar, bem como radioterapia externa do pescoço durante a infância ou adolescência. Em um estudo foi relatado que, quanto mais elevado o TSH, maior o risco de o nódulo ser maligno. Exame físico A avaliação de um paciente com um ou mais NT deve incluir o exame detalhado do pescoço, com especial ênfase para algumas características do nódulo (tamanho, consistência, mobilidade e sensibilidade) e adenopatia cervical. Nódulo solitário, de consistência endurecida, pouco móvel à deglutição e associado à linfadenomegalia regional representa um achado bastante sugestivo de câncer, embora essas características sejam pouco específicas. Na interpretação do exame físico cervical, algumas considerações são importantes: A consistência do nódulo pode ser enganosa, uma vez que alguns adenomas hemorrágicos ou calcificados têm aparência suspeita à palpação, e carcinomas papilíferos eventualmente se apresentam com consistência cística. A palpação da tireoide tem baixa sensibilidade para identificar nódulos, assim como determinar o número real de nódulos presentes. Na realidade, a US detecta nódulos (um terço dos quais com mais de 2 mm) em pacientes com exame cervical normal. Além disso, não raramente, a palpação pode indicar a existência de nódulos que, posteriormente, não são confirmados pela US, bem como frequentemente subestimar a quantidade de nódulos. De fato, em 20 a 48% dos pacientes com um nódulo palpável, detectam- se nódulos adicionais à US. A tireoidite de Hashimoto (TH) pode parecer aderente às estruturas locais, e a rara tireoidite de Riedel tem consistência pétrea, além de ser localmente invasiva. Doença benigna da tireoide já foi demonstrada em 30% de nódulos endurecidos ou com aparente fixação às estruturas locais. Linfonodos cervicais são encontrados em cerca de 25 a 33% dos pacientes com Ca papilífero, mas já foram relatados em igual percentual de pacientes com doenças benignas. Exames laboratoriais TSH Deve ser solicitado para todo nódulo tireoidiano acima de 1cm que será investigado. Se o hormônio TSH estiver baixo ou no limite inferiorda normalidade, deve-se obter uma cintilografia da tireoide, pois nódulos quentes têm probabilidade muito pequena de malignidade e não precisam ser puncionados. Se TSH estiver alto ou no limite superior da normalidade, a chance de malignidade do nódulo aumenta e reforça que realmente ele precisa ser investigado. O TSH é trófico para os nódulos, por isso, na vigência de um alto nível desse hormônio, torna-se mais provável que o nódulo seja maligno. Se o TSH estiver normal, também é preciso investigar. Na prática, não há diferença na conduta dos nódulos com TSH normal e alto. Anti-TPO É coletada apenas se o TSH estiver elevado, para investi- gar doença autoimune tireoidiana. Calcitonina Muito controverso, pois os carcinomas medulares de tireoide (CMT) correspondem a menos de 0,5% dos nódulos de tireoide, representando 5% da totalidade dos cânceres de tireoide. O Consenso Brasileiro sugere pedir calcitonina em pacientes com nódulo tireoidiano e fatores de risco para CMT, como NEM-2 ou história familiar de CMT. Valores de calcitonina acima de 100pg/mL são muito sugestivos de CMT, e abaixo de 10pg/mL são pouco prováveis de se tratar de CMT. É preciso lembrar que os ensaios para dosagem de calcitonina são muito ruins. Exames de Imagem USG (VILAR) A US da tireoide é o melhor exame de imagem para a detecção de nódulos, com sensibilidade de aproximada- mente 95%, superior a outros métodos mais sofisticados, como a tomografia computadorizada (TC) e a resso- nância magnética (RM). Além disso, não raramente, ela modifica a conduta clínica baseada apenas no exame da palpação tireoidiana. A US torna possível a visualização de nódulos não palpáveis, avalia com precisão as características desses nódulos (volume, número) e diferencia cistos simples, que têm baixo risco de malignidade, de nódulos sólidos ou mistos. Além disso, a US pode também servir como guia para procedimentos diagnósticos (p. ex., PAAF) e terapêuticos (p. ex., aspiração de cistos, injeção de etanol e terapia com laser), assim como o monitoramento de crescimento do nódulo. Na tireoidite de Hashimoto, embora a presença de contornos irregulares com padrão ecotextural difusamente grosseiro e noduliforme (pseudonódulos) seja o achado mais característico, formações nodulares verdadeiras, sólidas, hipo e/ou hiperecoicas, também podem ser encontradas. A grande maioria (82 a 91%) dos cânceres de tireoide são sólidos ou com pouco conteúdo cístico. Entre 360 pacientes, 88% eram sólidos ou minimamente (menos de 5%) císticos, 9% eram menos de 50% císticos e somente 3% eram mais de 50% císticos. A presença do artefato “cauda de cometa” (seta) indica benignidade para o nódulo. Figura 1. "Cauda de cometa". Indicativo de coloide espesso, é indício de benignidade para o nódulo. Além de hipoecogenicidade, outras características ultras- sonográficas são associadas a maior risco de maligni- dade. De fato, as especificidades relatadas para prever malignidade foram de 41,4 a 92,2% para marcante hipoecogenicidade; 44,2 a 95% para microcalcificações; 48,3 a 91,8% para margens infiltrativas, irregulares ou microlobuladas; e cerca de 80% para o arranjo caótico ou imagens vasculares intranodulares. Outros achados são fluxo sanguíneo intranodular aumentado ao Doppler colorido, aumento do diâmetro anteroposterior em relação ao transverso e, particularmente, a presença de adenomegalia regional suspeita. Classicamente, nódulos císticos são considerados benignos. Contudo, a presença de vegetação sólida, vascularizada, de localização intracística pode indicar malignidade em cerca de 50% dos casos. Além disso, aproximadamente 25% dos carcinomas papilíferos contêm elementos císticos em seu interior. Na exploração dos linfonodos cervicais, a configuração de sua forma e o seu padrão ecotextural podem auxiliar na identificação de lesões suspeitas de malignidade. Linfonodos com diâmetro > 5 mm que apresentem calcificações finas e/ou degeneração cística em seu interior têm quase sempre uma etiologia maligna. Na ausência dessas características, o achado de forma arredondada, ausência de hilo e contornos irregulares ou espiculados são também fortes indicativos de malignidade. Em contrapartida, a detecção de linfonodos de forma alongada com mediastino ecogênico indica benignidade. A análise do fluxo sanguíneo pelo Doppler ajuda no diagnóstico diferencial, revelando hipervascularização periférica ou mista nos casos malignos. Na presença de linfonodos “suspeitos” à US, a combinação de citologia por punção aspirativa por agulha fina (PAAF) e dosagem de tireoglobulina (Tg) no aspirado da agulha possibilitam uma definição etiológica com elevada sensibilidade e especificidade de até 100%. (Essencial) Deve ser realizada em qualquer paciente com nódulo palpável ou em qualquer suspeita de nódulo tireoidiano levantada por outros exames de imagem, como tomografia computadorizada (TC), ressonância magnéti- ca (RM) e PET, pois se sabe que a USG é o exame mais sensível dentre todos os outros para a avaliação de nódulos de tireoide. São avaliados: tamanho da glândula, número de nódulos, localização, tamanho dos nódulos, ecogenicidade, heterogeneidade, delimitações, halo, calcificações, vascularização e presença de componente cístico e de linfonodos suspeitos. As características suspeitas de um nódulo à USG são: • Hipoecogenicidade: o que confere ecogenici- dade do nódulo é a quantidade de coloide. Por isso, quando está muito hiperecogênico significa que contém muito coloide e isso favorece a benignidade. Quando é mais hipoecogênico, significa que contém maior quantidade de células e menos coloide, e isso sugere maior risco de malignidade • Bordas irregulares • Profundidade do nódulo maior que a largura: no corte transversal • Presença de microcalcificações: torna o nódulo suspeito de carcinoma papilífero, uma vez que as microcalcificações muitas vezes correspondem aos corpos psamomatosos da histopatologia • Vascularização central (Chammas ≥ 4) • Linfonodopatia suspeita associada: linfonodo sólido hipoecogênico, arredondado, com diâmetro anteroposterior/superoinferior < 1,5, sem hilo hiperecoico, com vascularização periférica, microcalcificações ou áreas císticas de necrose, bordas irregulares • IR > 0,77 (índice de resistência) • A presença de halo hipoecogênico no nódulo tireoidiano é um fator preditivo de benignidade no nódulo, mas sua ausência é um fator neutro. Cintilografia (VILAR) A cintilografia com radioiodo ou tecnécio tem pouco valor para distinguir lesões malignas de benignas. A maior parte dos nódulos mostra-se hipocaptante (frios) ou normocaptante à cintilografia (> 90%), porém não mais do que 15% dos nódulos “frios” são malignos. Em contrapartida, é excepcional o achado de malignidade em nódulos “quentes” ou hipercaptantes (1 a 2%). Devido a sua baixa especificidade, a cintilografia deve ser reservada para algumas situações específicas. A principal indicação seria a patologia nodular associada ao hiper- tireoidismo, para um preciso diagnóstico do adenoma tóxico ou do bócio multinodular tóxico. Em caso de nódulo normo ou hipocaptante, deverá ser seguido o protocolo de investigação com PAAF, mesmo quando detectado em pacientes com a doença de Graves. Nos casos com diagnóstico citológico de neoplasia folicular ou suspeito de neoplasia folicular, a cintilografia com radioiodo ou tecnécio poderá ser realizada na tentativa de se identificar um adenoma hipercaptante autônomo, o que afastaria a malignidade. Deve-se também considerar a utilização da cintilografia para descartar autonomia de nódulo(s) tireoidiano(s) em pacientes com TSH suprimido, bem como diante da suspeita de tecido tireoidiano ectópico ou bócio retroesternal. É preciso estar igualmenteatento à ocorrência de hemiagenesia tireoidiana congênita que pode simular a presença de bócio nodular (devido ao aumento compensatório do lobo único) e que, à cintilografia, pode se manifestar com um nódulo autônomo. A associação de hemiagenesia tireoidiana com doença de Graves, tireoidite de Hashimoto ou Ca de tireoide já foi relatada. (Essencial) É realizada se houver nódulo na presença de TSH baixo ou limite inferior, pois nódulos quentes não precisam ser puncionados. Cerca de 10% dos pacientes com nódulos únicos terão um nódulo quente e, por isso, não precisarão de punção. Além disso, no Consenso Brasileiro de Nódulos e Câncer Diferenciado de Tireoide de junho de 2013, recomenda-se também que a cintilografia de tireoide seja realizada nos casos de nódulos com TSH normal e punção aspirativa por agulha fina (PAAF) compatível com classificação Bethesda IV, com vistas a evitar o tratamento cirúrgico de nódulos que aparecerem quentes à cintilografia (mesmo com TSH normal). A cintilografia de tireoide deve ser realizada preferencialmente com I 123 (iodo123) ou I 131 (iodo131), uma vez que 3 a 8% dos nódulos hipercaptantes ao pertecnetato na verdade são frios quando avaliados pela captação de iodo. Isto acaba sendo um problema na prática, pois a maioria dos centros realiza a imagem da cintilografia de tireoide com pertecnetato, devido ao seu menor custo, usando o I 131 em doses bem pequenas apenas para obter o valor da captação de 2h e de 24h, já que a meia vida do tecnécio é de apenas 6h e, portanto, não pode ser utilizado para obter a captação mais tardia do nódulo. Punção Aspirativa com Agulha Fina (PAAF) (VILAR) A PAAF é o melhor método para diferenciação entre lesões benignas e malignas da tireoide, sendo tecnica- mente simples e de fácil execução ambulatorial. Como interpretar? Nos últimos 4 anos, de uma forma mais ampla, passou- se a adotar em nosso país o sistema Bethesda para a classificação dos laudos citopatológicos, o qual propicia maior uniformidade dos mesmos, além de permitir uma estimativa do risco de malignidade (RM). As amostras são classificadas em 6 categorias: • I – Amostra não diagnóstica (RM de 1 a 4%); • II – Benigno (0 a 3%); • III – atipia ou lesão folicular de significado indeterminado (5 a 15%); • IV – Suspeito de neoplasia folicular (15 a 30%); • V – Suspeita para malignidade (70 a 75%); e • VI – Maligno (97 a 99%). Quando indicar? Na indicação para PAAF deve-se levar em conta o tamanho do nódulo e, sobretudo, seu aspecto ultrassonográfico. Nódulos < 1 cm, a princípio, não devem ser puncionados, exceto em indivíduos com padrão ultrassonográfico de alto risco ou se houver adenomegalia cervical de aspecto não reacional. Tal abordagem se baseia nas dificuldades técnicas para a adequada coleta da amostra (maior risco de falso- negativo ou amostra insatisfatória) e, sobretudo, no habitual bom prognóstico do microcarcinoma tireoidiano (< 1 cm). (Essencial) É o exame padrão-ouro para excluir carcinoma nos nódulos tireoidianos suspeitos que tenham indicação de punção. Idealmente deve ser feita guiada por USG. Punciona-se o nódulo mais suspeito. Se houver vários nódulos com as mesmas características, então punciona- se o maior deles. Nódulos quentes à cintilografia não precisam ser puncionados. Os critérios para puncionar nódulos são os seguintes: • Nunca se punciona nenhum nódulo com menos de 5 mm, pois a punção de nódulo desse tamanho se torna um procedimento com dificuldade técnica muito grande, além de doloroso • Não se puncionam cistos simples de tireoide • Não se puncionam nódulos quentes à cintilografia • Nódulos de 5 a 10 mm: apenas se houver características muito suspeitas na anamnese (história pessoal ou familiar de câncer de tireoide, antecedente de irradiação cervical ou presença de síndromes genéticas associadas a maior risco de câncer de tireoide), ao exame físico ou à USG (como microcalcificações, Chammas > 4) • Nódulo > 1 cm: sempre se punciona se for sólido e hipoecogênico. Em nódulos sólidos isoecogênicos ou hiperecogênicos, a American Thyroid Association (ATA) considera que também possa ser puncionado, quando acima de 1 cm, a critério do endocrinologista, mas devendo ser sempre puncionado se superior a 1,5 cm. Já o Consenso Brasileiro recomenda que os nódulos sólidos isoecogênicos ou hiperecogênicos só sejam puncionados quando acima de 1,5 cm • Nódulos > 1,5 cm: sempre se punciona, se o nódulo for sólido isoecogênico ou hiperecogênico. Se for misto, a ATA considera que também pode ser puncionado, quando acima de 1,5 cm, a critério do endocrinologista, mas devendo ser sempre puncionado se > 2 cm. Já o Consenso Brasileiro recomenda que nódulos mistos só sejam puncionados quando acima de 2 cm • Nódulos > 2 cm: sempre são puncionados, mesmo que se trate de um nódulo misto ou espongiforme • Qualquer linfonodo suspeito > 5 mm. Interpretação da PAAF (classificação de Bethesda – 2007) Bethesda I – Material insatisfatório Corresponde a 10 a 30% das PAAF e traz 1 a 4% de risco de malignidade. É quando o material obtido pela PAAF é insuficiente (menos de seis grupos foliculares compostos por pelo menos 10 células foliculares bem visualizadas e com aparência benigna em cada uma), com muita hemorragia e pouca célula para avaliação, ou quando a amostra está preparada de forma inadequada, com muito sangue, bolhas de ar e esfregaço espesso, não permitindo uma adequada avaliação. Constituem exceção a essa classificação, os casos em que haja grande quantidade de células inflamatórias ou muita quantidade de coloide, pois podem ser classificados como benignos, Bethesda II, ou quando em presença de atipias, pois esses casos devem ser classificados como Bethesda III, no mínimo. Conduta. O nódulo precisa ser repuncionado após 3 a 6 meses. Após repuncionado, 7% pode continuar na classificação Bethesda I, e nesses casos pode-se optar por seguir de perto com USG seriada ou operar. Os casos com riscos clínico e ultrassonográfico mais baixos podem ser seguidos com USG seriadas, enquanto os casos com risco clínico ou ultrassonográficos maiores devem ser operados. O Consenso Brasileiro recomenda que, nessa situação, os nódulos com mais de 2 cm com PAAF repetidamente inconclusivas sejam encaminhados para a cirurgia. Essa recomendação não está presente no Consenso Americano da ATA. Bethesda II – Material benigno Corresponde a 70% das PAAF, com 5% de falso negativos, principalmente em nódulos com mais de 4 cm. Excluindo-se os nódulos com mais de 4 cm, o risco de malignidade dessa classe é de apenas 0 a 3%. Por este motivo, o Consenso de ATA recomenda que os nódulos com mais de 4 cm sejam sempre operados, mesmo quando a PAAF é benigna. Já o Consenso Brasileiro não traz essa recomendação. São nódulos caracterizados pela presença de grande quantidade de material coloide, macrofolículos, poucas células foliculares e ausência de atipias. Pode haver muitos linfócitos, se for tireoidite. Pode se tratar de bócio coloide, nódulo folicular benigno, tireoidite crônica linfocítica (Hashimoto), tireoidite subaguda ou apenas tireoide normal. Conduta. Continua-se o seguimento clínico com USG em 6 meses e depois anualmente. Só é preciso repuncionar se a parte sólida do nódulo crescer > 20% e 2 mm em duas dimensões ou aumentar > 50% no seu volume, que pode ser calculado multiplicando-se as três dimensões por 0,52, ou se suas características se modificarem. Nódulos benignos que causarem incômodo pelo seu tamanho ou sintomatologia compressiva podem ser operados ou, se forem císticos, podem ser esvaziados ou tratados com injeção percutânea de etanol (esvazia-se a parte líquida e injeta-se 25% do volume retirado de etanol). Se for um nódulo sólido com sintomascompressivos e contraindicação cirúrgica, pode ser tratado com termoablação ou radioiodo – RAI (calcula-se 0,1 mCi/g de tecido tireoidiano para captação de 100% em 24 h). O tratamento de bócio multinodular atóxico com RAI pode ser otimizado pela administração prévia de Thyrogen. Não se indica terapia supressiva com levotiroxina (LT4) para reduzir o tamanho dos nódulos, devido aos riscos inerentes a esse tipo de terapia, como osteoporose e arritmias. Bethesda III – Atipia de significado indeterminado Corresponde a 5 a 15% de risco de malignidade. Na grande maioria das vezes, os achados citológicos são benignos, mas há alguma alteração que deixou o patologista inseguro em dar certeza de benignidade, como alguma célula atípica, alterações focais e leves sugestivas de carcinoma papilífero em uma parte muito pequena da amostra, ou algumas células formando microfolículos, muitas células de Hürthle, infiltrado linfocitário atípico, artefatos de preparação ou escassez de material coloide, por exemplo. Conduta. Repete-se PAAF em 3 a 6 meses. Se o paciente continuar na classificação Bethesda III, poderá ser operado ou se mantém o seguimento clínico ultrassonográfico, conforme o grau de suspeita. Pacientes com risco clínico ou ultrassonográfico maior de malignidade devem ser operados. O Consenso Brasileiro recomenda, ainda, que em casos de nódulos com mais de 2 cm nessa situação de Bethesda III em duas PAAF seguidas, a cirurgia deve ser realizada. Esta última recomendação baseada no tamanho > 2 cm não está presente no Consenso da ATA, apenas no Consenso Brasileiro. Bethesda IV – Suspeita de neoplasias folicular ou de células de Hürthle Corresponde de 10 a 20% das PAAF e traz risco de malignidade de 20 a 30%. Trata-se de um crescimento folicular, com algumas atipias arquiteturais, ou seja, características arquiteturais que sugerem não se tratar apenas de bócio, mas de uma neoplasia, como a presença de microfolículos, coloide escasso, grande quantidade de material celular, grupos densos de células foliculares e alterações estruturais. É impossível saber se é uma neoplasia benigna (adenoma folicular, que é a hipótese diagnóstica mais provável nesses casos) ou maligna (carcinoma papilífero variante folicular, ou carcinoma folicular – muito raro no Brasil, pois somos suficientes em iodo), uma vez que a única maneira de se fazer esse diagnóstico diferencial é pela identificação da invasão da cápsula, que só pode ser vista na avaliação anatomopatológica de toda a cápsula daquele nódulo. A presença de células de Hürthle na tireoide é normal. São células grandes, de citoplasma abundante, e sua presença não aumenta o risco de malignidade da amostra. No entanto, caso estejam presentes em quase toda a amostra (> 75 a 95% da amostra composta por células de Hürthle), então essa já passa a ser suspeita de neoplasia de células de Hürthle (atualmente chamada de neoplasia folicular variante oncocítica), que é um subtipo bastante agressivo de neoplasia. Conduta. Cintilografia, mesmo se o TSH estiver normal. Se o nódulo for frio, faz-se lobectomia com istmectomia. A totalização da tireoidectomia é feita apenas se a avaliação anatomopatológica confirmar malignidade. Nódulos quentes não precisam ser operados. Nos casos de classificação de Bethesda IV com nódulo maior que 4 cm, ou havendo história familiar de câncer de tireoide, ou se realizada irradiação cervical prévia, se houver nódulos tireoidianos bilaterais ou se por vontade do paciente, deve-se optar por tireoidectomia total, em vez de lobectomia associada a istmectomia. Ainda, se houver alta suspeita clínica de malignidade por algum outro achado (p.ex., presença de marcadores moleculares positivos ou PET-FDG mostrando captação de fluorodesoxiglicose pelo nódulo tireoidiano), deve-se também considerar a realização de tireoidectomia total. Bethesda V Nódulo suspeito para carcinoma papilífero, medular, linfoma ou metástase, qualquer outro tipo de neoplasia maligna que não a folicular. Corresponde de 3 a 8% das PAAF e traz um risco de 60 a 75% de malignidade. Encontram-se alterações muito típicas de carcinoma papilífero na avaliação citológica, como núcleo bipartido em semente de café, corpos psamomatosos e núcleo despolido. Conduta. Fazer tireoidectomia total. Bethesda VI – Maligno Corresponde a 3 a 7% das PAAF e traz 97 a 99% de chance de malignidade. Esse diagnóstico é determinado quando se detecta alguma característica patognomônica de um tumor maligno, que pode ser um carcinoma papilífero (com pseudoinclusões nucleares, núcleo pálido, cromatina mais condensada, corpos psamomatosos), um carcinoma medular (células parecidas com plasmócitos, com o núcleo desviado para o canto da célula), um carcinoma anaplásico, um linfoma, ou até mesmo metástases para a tireoide de outros cânceres à distância. Conduta. Fazer tireoidectomia total. Atenção. A PAAF de um nódulo cervical não consegue diferenciar um nódulo de tireoide de um nódulo de paratireoide, quando o padrão é folicular e sem coloide (Bethesda IV). Nesses casos, o patologista diz que, se for nódulo de tireoide, é um Bethesda IV e, se de paratireoide, é uma hiperplasia de células de paratireoide (adenoma ou carcinoma).
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