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TBL 4 – DOENÇA DE CHAGAS DANIELA FRANCO EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA E TRANSMISSÃO EPIDEMIOLOGIA Acomete cerca de 6 a 7 milhões de infectados, principalmente na América Latina. Apenas a doença aguda e a reativação da doença de Chagas são de notificação compulsória. Devido ao elevado número de pacientes na forma crônica cardíaca, causa importante absenteísmo, e morbidade e mortalidade consideráveis. A urbanização e a globalização da doença de Chagas atingiram não só os países endêmicos como vários países não endêmicos, para cujas metrópoles migraram contingentes de pessoas infectadas em zonas rurais. Nos centros urbanos, deve-se atentar para o risco de reintrodução de mecanismos de transmissão, como transfusão de sangue e derivados, transplante de órgãos ou transmissão congênita, e a reativação da tripanossomíase, face à coinfecção com o vírus de imunodeficiência humana (HIV). A doença de Chagas ocorre endemicamente na América – do norte do México até a Argentina, e ao sul do Chile. De 2000 a 2010, 138 surtos foram registrados, envolvendo mais de mil casos agudos, principalmente na Amazônia Brasileira, estando 71% deles associados à ingestão de bebidas e alimentos contaminados e 7% à transmissão vetorial. Dados recentes demonstram que a doença de Chagas se tornou problema de saúde pública em 19 países endêmicos, nas regiões rurais e nas grandes cidades, devido aos grandes movimentos migratórios, atingindo também países antes não endêmicos da Europa (Espanha, França, Itália, Inglaterra), Ásia (Japão), Austrália e América do Norte (EUA, Canadá), nos quais milhares de migrantes passaram a configurar fonte de infecção para transmissão por sangue e hemoderivados, transplante de órgãos e transmissão vertical, além da ocorrência da reativação em pacientes imunodeprimidos com a forma crônica da doença. AGENTE ETIOLÓGICO O T. cruzi é um protozoário hemoflagelado que parasita indivíduos ou animais infectados, na forma de tripomastigota, no sangue periférico e na forma de amastigota, nos tecidos. Utiliza a hematina obtida da hemoglobina sanguínea para respiração aeróbia. É transmitido por insetos (barbeiro) hematófilos do gênero Triatoma (vetores) para um hospedeiro vertebrado. O triatomíneo (barbeiro) injeta o parasito quando se alimenta do sangue do vertebrado. O protozoário se mantém no intestino do inseto do sexto ao 15 o dias seguintes, sob a forma de epimastigotas, que se multiplicam e migram para o intestino grosso ou reto, onde evoluem para a forma de tripomastigotas metacíclicos. Essas formas são eliminadas pelas fezes do inseto, enquanto ele se alimenta de sangue na pele do hospedeiro vertebrado, e penetram na pele com erosão ou com mucosas intactas. TRANSMISSÃO Vetorial Os vetores mais importantes são os triatomíneos dos gêneros Triatoma, contaminação após a picada, com deposição das formas infectantes após o repasto sanguíneo e inoculação destas após o ato de coçar a pele lesada no local da picada. Considerada a via mais comum de transmissão no país – antes do controle de T. infestans no estado de São Paulo, desde a década de 1970, e nacionalmente, desde junho de 2006. Oral Mecanismo de manutenção do ciclo do parasito na natureza, onde ocorre a ingestão de vetores e reservatórios infectados. Tem sido registrada na Amazônia, sob a forma de surtos epidêmicos desencadeados pelo consumo de alimentos acidentalmente contaminados (caldo de cana, açaí, bacaba, sucos) Transfusão de sangue e hemoderivados Uma das mais importantes vias de transmissão após o controle vetorial da doença no Brasil. A transmissão por via transfusional ocorre na ausência de triagem sorológica adequada dos doadores, preconizando-se atualmente no país apenas uma técnica de alto desempenho para triagem em bancos de sangue. Vertical Ocorre principalmente por via transplacentária, em qualquer fase da doença: aguda, indeterminada ou crônica. Transplante de órgãos Relevante quando não se realiza triagem adequada dos doadores, por meio de pelo menos duas provas sorológicas de altas sensibilidade e especificidade. Deve-se ressaltar que, sendo o receptor imunodeprimido, a doença aguda primária, caso ocorra, pode ter apresentação grave e disseminada. Acidentes perfurocortantes Transmissão por picada com agulha contaminada com sangue de paciente com elevada parasitemia ou acidentes laboratoriais foram registrados por inoculação em pele sã ou contato de mucosas com formas infectantes do parasito. FISIOPATOLOGIA O protozoário é fagocitado por macrófagos e se multiplica sob a forma de amastigotas no interior da célula até a sua ruptura, com liberação das formas íntegras ou degeneradas de epi, tripo e amastigotas, que se disseminam para o sangue e os tecidos, parasitando quaisquer células do organismo, exceto as hemácias. FORMA AGUDA Ocorre disseminação a partir do local da entrada para os gânglios linfáticos regionais, disseminando via vasos linfáticos e sanguíneos para todos os órgãos do organismo. A parasitemia por tripomastigotas é elevada, com resposta anticórpica em sangue periférico, migrando os parasitos para os tecidos, particularmente miocárdio e plexo mioentéricos. Além dos gânglios linfáticos regionais e generalizados e do miocárdio, a doença pode se disseminar para o tubo digestivo e os sistemas nervosos central e periférico (SNC e SNP), havendo ninhos de amastigota em todos os tecidos. Também pode ocorrer denervação intensa. Há resposta inflamatória devido ao parasito, sugerindo-se que, após a primeira semana, a amplificação da resposta de hipersensibilidade tardia aos antígenos do parasito contribua para a manutenção do infiltrado inflamatório em nível do miocárdio. FORMA CRÔNICA Nesta fase, a parasitemia é baixa e intermitente, estando os parasitos em infiltrados linfomononucleares focais no miocárdio e nos plexos mioentéricos, sob a forma de amastigotas. Epítopos comuns entre o parasito e a fibra cardíaca ou nervosa, e a escassez de parasitos, sugerem que a inflamação, na forma crônica, também se deva à reatividade cruzada entre tais epítopos, além da resposta ao parasito. Tem-se demonstrado a presença do parasito, e mesmo do seu DNA, nos focos inflamatórios no miocárdio, embora, na doença humana, ainda não se tenha estabelecido relação quantitativa entre sua presença, a intensidade do foco inflamatório e a evolução da cardiopatia. A parasitemia é baixa, e a multiplicação de amastigotas na fibra cardíaca deve facilitar a liberação de antígenos, que se incorporarão novamente às células cardíacas, servindo de alvo às células citotóxicas. Em função disso, o tratamento mais eficiente na forma crônica seria aquele que eliminasse as formas amastigotas nos tecidos, não sendo suficiente a supressão temporária da parasitemia. Propõe-se que, na forma crônica, haja predomínio de diferentes perfis, conforme a forma clínica. Na forma indeterminada, predomina a secreção de citocinas do tipo Th2, e na forma cardíaca, as do tipo Th1. Na miocardiopatia chagásica crônica, linfócitos T CD8+ citotóxicos, com poucos macrófagos, expressão de fator de necrose tumoral e moléculas de classe 1 do complexo principal de histocompatibilidade sugerem a participação de mecanismos citotóxicos destruindo a fibra cardíaca. Ocorrem fibrose no miocárdio e intensa denervação neuronal no plexo mioentérico. Também podem ocorrer cardiomegalia, dilatação e hipertrofia das câmaras, aneurismas e tromboses apicais, insuficiência mitral e tricúspide. Na forma digestiva, em consequência da destruição neuronal, ocorre dilatação do esôfago (megaesôfago) e/ou dilatação (megacolo) e alongamento (dolicolo) do colo. QUADRO CLÍNICO O período de incubação desde a infecção até os primeiros sinais e sintomas varia de acordo com a via de transmissão: • Transmissão vetorial: 5 a22 dias, mais 6 a 10 dias • Transmissão transfusional: de 20 a 30 dias • Transmissão vertical: transmitida em qualquer período da gestação, leite é raro • Transmissão oral: de 3 a 22 dias • Transmissão acidental: até 20 dias após exposição. Os indivíduos com infecção por T. cruzi podem apresentar o parasito no sangue, nos tecidos e órgãos por toda a vida, mas a parasitemia é mais elevada na fase aguda ou em fase de reativação da doença. FASE AGUDA A parasitemia dura de 1 a 3 meses e diminui espontaneamente com o aparecimento de anticorpos, independentemente de terapêutica antiparasitária. Na maior parte dos pacientes, a fase aguda pode ser oligossintomática, com desaparecimento dos sintomas após 4 a 12 semanas, mas pode apresentar grave comprometimento miocárdico, meningoencefálico ou sistêmico (hepatoesplenomegalia, comprometimento do tubo digestivo) em neonatos, lactentes e pacientes idosos ou imunodeprimidos. A letalidade é de 5 a 10% em indivíduos sem imunodepressão conhecida; em imunodeprimidos, a letalidade pode atingir 100%, na ausência de tratamento precoce. Os chagomas de inoculação constituem a porta de entrada do parasito e são observados em cerca de 50% dos pacientes que adquiriram a infecção por vetor. O mais conhecido é o sinal de Romaña (edema indolor unilateral nas pálpebras superior e inferior, de cor róseo-violácea, acompanhado de hiperemia e congestão conjuntival), podendo também manifestar-se como lesão infiltrativa em rosto, tronco ou membros superiores e inferiores, acompanhada de aumento de linfonodos satélites. Esse edema tem sido atribuído a reações de hipersensibilidade à saliva do triatomíneo. Na transmissão por via transfusional, não são conhecidos sinais de porta de entrada, e na transmissão VO, hemorragias digestivas têm sido registradas como lesões de porta de entrada dos parasitos. ➢ Síndrome febril com adenomegalia, hepato e esplenomegalia, exantema cutâneo e edema não inflamatório. síndrome similar à mononucleose infecciosa sem faringite, com adenomegalia regional, cervical e generalizada. O exantema pode ser variável, com máculas, pápulas, vesículas, petequial, purpúrico, ou apresentar características de outros exantemas. Após o aparecimento do sinal de Romaña, ocorre edema não inflamatório, inicialmente em face, bipalpebral e bilateral, que pode acometer os membros superiores e inferiores, e comumente é registrado na fase aguda da doença de Chagas, não tendo causa conhecida. ➢ Miocardite. Ocorre sob a forma de taquicardia sinusal, arritmias, com ou sem sopro sistólico mitral, com ou sem cardiomegalia. O exame mais sensível é o eletrocardiograma de repouso (ECG), com alterações primárias na repolarização ventricular, complexos QRS de baixa voltagem, bloqueio atrioventricular de primeiro grau e arritmias atriais ou ventriculares. ➢ Meningoencefalite. Ocorre nas formas graves, com parasitos no liquor e hipercelularidade, com predomínio de células linfomononucleares e hiperproteinorraquia. FASE CRÔNICA parasitemia é baixa e intermitente. Inicialmente, assintomática e sem sinais de comprometimento cardíaco e/ou digestivo. Pode se apresentar: ➢ Forma indeterminada: Representa o início da fase crônica da doença, mas pode permanecer pelo resto da vida, afetando cerca de 40 a 60%, 20 a 30 anos após a contaminação. Paciente assintomático, normal ao exame físico, com ECG de repouso sem alterações e radiografias do coração, esôfago e colo normais. Esse quadro pode perdurar por toda a vida do indivíduo infectado ou evoluir para a forma cardíaca, digestiva ou associada ➢ Forma cardíaca: Ocorre em 30 a 40% dos pacientes nas áreas endêmicas do Brasil, sendo mais comum em adultos jovens (geralmente homens, com idade superior aos 25 anos). As síndromes mais comumente observadas são: (a) insuficiência cardíaca congestiva (ICC), (b) arritmias; (c) distúrbios de condução, com bloqueios atrioventriculares (d) acidentes tromboembólicos. O ecocardiograma sugere miocardiopatia com disfunção ventricular (fração de ejeção – FE < 55%), estando associada à insuficiência cardíaca com ou sem sinais de congestão. Classes funcionais da insuficiência cardíaca: Classe funcional I (indivíduo assintomático a limitação para esforços, similarmente aos indivíduos normais); Classe funcional II (sintomas ao exercer atividades cotidianas como tomar banho, lavar louça); Classe funcional III (sintomas causados por atividades menos intensas que as cotidianas ou aos pequenos esforços); Classe funcional IV (sintomas encontrados inclusive ao repouso). Outro fator é o surgimento de áreas discinéticas/acinéticas com a formação de aneurismas na região apical dos ventrículos, que funcionam como focos de arritmia e embolias. O ECG mostra alterações na condução no ritmo e na morfologia. Podendo ter: Bradicardia sinusal (menor de 50 bpm) Taquicardia sinusal, Extrassístoles ventriculares polifocais, Fibrilação e flutter atrial, Alteração de condução, Bloqueio completo de ramo direito, Bloqueio da divisão anterossuperior entre outros. Em geral, a insuficiência cardíaca ocorre com miocardiopatia dilatada com falência do miocárdio, podendo ocorrer pericardite; costuma evoluir insidiosa ou rapidamente para a morte. O estudo radiológico de área cardíaca pode mostrar o seu aumento, o ecocardiograma mostra hipomotilidade de todo o coração ou da região apical e os trombos podem ser vistos na superfície do endocárdio, podendo originar êmbolos no coração e em outros órgãos. ➢ Forma digestiva Megaesôfago O paciente com megaesôfago apresenta dificuldade de deglutição ou disfagia progressiva a sólidos e depois a líquidos, dor retroesternal (causada pela esofagite de refluxo), regurgitação, hipersalivação e hipertrofia da glândula parótida. Desnutrição e caquexia com broncoaspiração são registradas nas formas mais graves, e, como complicação, a broncopneumonia pode levar ao óbito. O megaesôfago pode ser classificado conforme o grau de dilatação, coordenação motora e tempo de trânsito, em quatro grupos: Grupo I: ausência de estase, com tempo de trânsito aumentado da boca ao estômago, embora o diâmetro do esôfago esteja dentro dos limites normais Grupo II: dilatação moderada do esôfago e incoordenação motora Grupo III: dilatação e tempo de trânsito mais pronunciados, e atividade motora diminuída Grupo IV: formas avançadas com grande dilatação e alongamento do esôfago (dolicomegaesôfago). Em geral, grande parte dos casos de megaesôfago se encontra nos grupos II e III. Alongamento de vísceras (dolico) e dilatação do órgão são descritos principalmente no esôfago e no colo. Megacolo há obstipação de grau variável de 6 dias a 6 meses, com fecaloma. Como complicação do colo alongado (dolicocolo), pode ocorrer torção do colo sobre a sua própria raiz, bloqueando a circulação e causando quadro grave conhecido por vólvulo, associado a abdome agudo, que pode causar o óbito do paciente. DOENÇA DE CHAGAS EM IMUNODEPRIMIDOS Em pacientes imunodeprimidos com doença de Chagas crônica e infecção por vírus HIV, doenças linfoproliferativas – sob uso de terapêutica imunossupressora, ou com doença de Chagas crônica, submetidos a transplante de órgãos, há risco de reativação da parasitose (20 a 30% em transplantes e 10% em coinfecção HIV/T. cruzi) por causa da deficiência dos mecanismos de controle de parasitemia, em geral associados à deficiência de resposta T mediada com deficiência de macrófagos. DIAGNÓSTICO Na forma aguda, o leucograma apresenta linfocitose e atipia; na meningoencefalite, são encontradas formas tripomastigotas, além de pleocitose e hiperproteinorraquia no liquor. Para o manejo do paciente em casos em que ocorra icterícia ou hemorragia digestiva, são necessárias avaliações funcionais hepáticase exames laboratoriais, se esse apresentar hipotensão, choque etc. Para avaliação da função cardíaca, o ECG mostra alterações de ritmo, condução e morfologia, e a eletrocardiografia dinâmica detecta melhor as alterações de ritmo. Embora o estudo radiológico de tórax possa evidenciar cardiomegalia e congestão pulmonar, o ecocardiograma é mais fidedigno para avaliação dos aspectos funcionais das aurículas e ventrículos, e de áreas de hipomotilidade. Para avaliação dos megas, o estudo radiológico contrastado do esôfago e do colo orienta sobre a morfologia e a função dos diversos órgãos, e a endoscopia digestiva alta e colonoscopia/retossigmoidoscopia complementam informações sobre a mucosa digestiva e outras alterações funcionais ou anatômicas. DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO O diagnóstico etiológico da doença de Chagas pode ser feito por meio dos exames parasitológico, sorológico, histológico e molecular. FASE AGUDA Microscopia direta no sangue periférico ou líquidos biológicos. A pesquisa é inicialmente realizada no sangue a fresco. Esses exames podem ser repetidos mediante suspeita clínica ou epidemiológica de doença de Chagas aguda, principalmente nas primeiras 3 a 4 semanas, a partir das quais a positividade diminui. O teste de gota espessa tem sido útil na região amazônica, onde 10% dos casos febris sem a identificação de Plasmodium foram positivos para T. cruzi. Na ausência do parasito em exame direto do sangue periférico, o exame histopatológico da lesão suspeita também pode confirmar o diagnóstico, caso indique ninhos de amastigota em meio a infiltrado inflamatório nos tecidos. Histopatologia Nos casos de reativação, a pesquisa por ninhos de amastigotas em meio a infiltrado inflamatório agudo nos tecidos (achado sugestivo de fase aguda) é mais sensível nos tecidos em que ocorreu a reativação do que no sangue periférico (miocárdio, encefalites). Provas sorológicas A partir do final da terceira semana, ensaio imunoenzimático, reação de imunofluorescência indireta e de hemaglutinação indireta. Anticorpos da classe IgM podem sugerir fase aguda, mas, devido à falta de padrão positivo e à ocorrência de reatividade cruzada em várias infecções, só podem ser investigados com confiabilidade em poucos laboratórios no Brasil. Para se confirmar um caso agudo por IgG são necessárias duas coletas, com intervalo de 21 dias entre elas, com demonstração de soroconversão. Na fase aguda, o diagnóstico por meio da PCR é de uso restrito, sendo útil nos pacientes previamente não imunes (sorologicamente negativos) devido à sua elevada sensibilidade. Essa prova é positiva na fase crônica, mas não diferencia pacientes nesta fase dos de fase aguda, exceto se previamente não infectados. FASE CRÔNICA Provassorológicas ELISA, reação e imunofluorescência indireta e reação de hemaglutinação indireta O padrão-ouro para o diagnóstico é representado pela descoberta de anticorpos IgG anti-T. cruzi por imunoensaio (ELISA), imunofluorescência indireta ou hemaglutinação indireta, com elevada sensibilidade (embora sem a especificidade ideal), ocorrendo reatividade cruzada com outras doenças, conforme referido. Recomenda-se a utilização de duas técnicas distintas ou o imunoensaio com antígenos diferentes. Considera-se que há infecção mediante exame positivo por duas técnicas ou pela mesma técnica em duas amostras diferentes. Não há obrigatoriedade de notificação compulsória dos pacientes na fase crônica da doença de Chagas. Diante de pacientes que apresentam provas sorológicas inconclusivas (uma positiva e uma negativa ou duvidosa, ou duas duvidosas) ou resultados contraditórios em diferentes amostras (uma positiva e outra negativa ou duvidosa). DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O diagnóstico diferencial, na fase aguda, deve considerar o sinal de Romaña, devidamente diferenciado das picadas do inseto. Doenças que evoluem como síndrome similar à mononucleose infecciosas (toxoplasmose, mononucleose infecciosas por vírus Epstein-Barr [EBV] e por CMV), que evoluem com hepatoesplenomegalia (leishmaniose visceral, malária, febre tifoide, sepse e doenças autoimunes), doenças febris com exantema e/ou icterícia, hemorragia (leptospirose, dengue, febre amarela e outras arboviroses, meningococcemia, sepse, hepatites virais, febre purpúrica brasileira, hantaviroses e riquetsioses), e outras causas de miocardite (vírus Coxsackie) e meningoencefalite também devem ser consideradas, sendo excluídas, porém, na ausência de porta de entrada. Em pacientes com AIDS, devem ser consideradas outras causas de encefalite (neurotoxoplasmose, linfoma, tuberculose e micoses do SNC). O diagnóstico diferencial de cardiomiopatia crônica deve incluir doenças isquêmicas e hipertensivas, outras cardiomiopatias e derrame pericárdico. Na forma digestiva, o diagnóstico diferencial deve considerar também outras formas de megas (congênito) e carcinoma associado aos megacolo, causando quadros obstrutivos. TRATAMENTO Tratamento antiparasitário O medicamento disponível no país é um benzimidazólico (benznidazol). Na fase aguda e nas formas de reativação, o tratamento deve ser indicado em todos os casos, e o mais rápido possível após a confirmação diagnóstica. O tratamento antiparasitário é seguido de resposta terapêutica sugestiva de cura (soroconversão negativa) na maioria dos casos agudos (> 60%) e congênitos (> 95%), apresentando ainda boa eficácia em 50 a 60% em casos crônicos recentes (com até 5 anos de infecção). Em virtude da toxicidade dos fármacos disponíveis, não é recomendado o tratamento durante a gestação, a menos que se trate de caso agudo e grave. Na forma indeterminada e cardiopatia não grave por longo período e observação de controle da evolução de alterações cardíacas, tem-se proposto o tratamento de todas as formas crônicas, exceto as graves e descompensadas, e em pacientes idosos com mais de 50 anos de idade. Tratamento de suporte A internação hospitalar é indicada em casos de maior comprometimento geral, cardiopatia de moderada a grave, quadros hemorrágicos e formas agudas graves, e reativação da doença de Chagas. O tratamento sintomático da insuficiência cardíaca deve ser realizado com dieta com restrição hídrica e sódica, sintomáticos e diuréticos, sendo por vezes indicados os cardiotônicos em doses baixas. Pode-se utilizar amiodarona e outros antiarrítmicos. Refluxo esofágico deve ser tratado com orientação sobre postura e dieta. Educação intestinal, dieta e supositórios podem ajudar o paciente com obstipação, estando indicado esvaziamento de fecaloma mediante orientação específica, com esvaziamento mecânico quando localizado no reto, ou lavagem intestinal (clister) em outras localizações. Tratamento cirúrgico Técnicas não invasivas (dilatação do segmento inferior) ou ressecção cirúrgica são indicadas para a correção do megaesôfago, particularmente em graus avançados. O tratamento cirúrgico do megacolo é indicado para as formas mais graves (casos avançados) e quando há vólvulo. REFERÊNCIA 1- Salomão, Reinaldo. Infectologia: bases clinicas e tratamento – 1. Ed – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
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