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1 Aula 09 – Dermatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.2 Tricoses Tricoses são as afecções dos pelos. As afecções pilares são classificadas em grupos: − Malformações dos pelos ou displasias pilosas − Alopecias − Hipertricose e hirsutismo CICLO DO FOLÍCULO PILOSO Processo contínuo de regeneração e transformação “Miniórgãos” imunoprivilegiados → Unidades protegidas imunologicamente contra a expressão de proteínas anômalas que possam interferir no seu metabolismo Alterações/interferências no metabolismo e ciclo piloso ⇨Tricoses Lembrar: os pelos também podem sofrer alterações na vigência de doenças destrutivas, como infecções, a exemplo da hanseníase. Os pelos são compostos por queratina Dividido em três fases que possuem duração específica: (1) Anágena (2) Catágena (3) Telógena ATENÇÃO! A maior parte dos pelos e cabelos encontram-se em condições fisiológicas na fase ANÁGENA – crescimento ativo da haste pilosa FASE ANÁGENA: Fase de crescimento Grande atividade mitótica e ceratogênica Duração variável → Entre 3 a 7 anos Durabilidade variável – Geneticamente determinado por herança poligênica, relacionado com a duração da fase anágena. Portanto, se o paciente tem por determinação genética uma fase anágena curta, nenhum medicamento ou medida pode fazer com que aquele pelo saia ou entre da fase anágena. FASE CATÁGENA: Interrupção da atividade mitótica, com: − Regressão da matriz perifolicular − Perda metamitótica da papila − Apoptose dos queratinócitos triquilemais Duração média de 3 semanas FASE TELÓGENA: Fase de repouso Duração de 3 a 6 meses Término representado pela saída do fio telógeno do couro cabeludo Não acontece ao mesmo tempo em todos os fios – é cíclica ao longo da vida DISTRIBUIÇÃO DOS PELOS A pele possui cerca de 5 milhões de folículos pilosos e, em média, 100.000 deles encontram-se no couro cabeludo. Várias alterações da distribuição desses pelos podem ser vistas a depender da idade do indivíduo Sofrem influência de fatores genéticos (distribuição, crescimento, rarefação), epigenéticos (nutrição, uso de substâncias químicas) e hormonais MALFORMAÇÕES DOS PELOS OU DISPLASIAS PILOSAS Alterações morfológicas e/ou estruturais dos pelos, hereditárias ou não, congênitas ou adquiridas. São alterações na haste do cabelo, mão necessariamente no folículo. Terapêutica muitas vezes difícil. TRICOPTILOSE Bifurcação das pontas/pontas duplas Alterações estruturais da haste pilosa por excesso de calor 2 Aula 09 – Dermatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.2 “Cabelo em bolhas” – À microscopia óptica, as hastes pilosas apresentam bolhas largas irregularmente espaçadas, que expandem e afinal o córtex piloso, fragilizando-o TRICHOSTASIA ESPINULOSA Presença de mais de um pelo por óstio folicular Simula comedões abertos – Pontos negros no nariz, barba, couro cabeludo e outras áreas do corpo TRATAMENTO: epilação a laser PILLI RECURVATTI Alteração que promove a curvatura precoce do pelo durante do seu crescimento, que vai se curvando e perfurando a pele adjacente Hastes curvas = ulotríquio Leva à pseudofoliculite → Condição inflamatória crônica em que o ulotríquio, curto e enovelado, penetra na derme de forma extrafolicular (após a extrusão da pele) ou intrafolicular (antes da extrusão – perfuração), que provoca uma reação inflamatória do tipo corpo estranho e aspecto foliculite-símile. Mais comum na barba e raiz das coxas nas mulheres. TRATAMENTO: epilação a laser *Para minimizar o quadro, pode realizar epilação com lâmina no mesmo sentido que o pelo cresce (corte do pelo com menor profundidade; não deixa a sensação de pele lisa). Epilação com cera deve ser desencorajada. ALOPECIAS DEFINIÇÃO: perda de pelos do corpo. CLASSIFICAÇÃO Podem ser difusas ou circunscritas, cicatriciais e não cicatriciais: ALOPECIAS DIFUSAS NÃO CICATRICIAIS Eflúvio telógeno, eflúvio associado a endocrinopatias (hipotireoidismo, hipertireoidismo, hipopituitarismo, hipoparatireoidismo e diabetes descompensado), doenças metabólicas e nutricionais (desnutrição, deficiência de ferro e zinco, homocistinúria), colagenoses (LES, dermatomiosite etc.), medicamentosas (tálio, ácido valproico, antagonistas tireoidianos, anticoagulantes, citostáticos, hipervitaminose A, retinoides, ácido bórico, lítio, betabloqueadores, clofibrato, estatinas etc.), tóxicas, alopecia androgenética, congênitas e outras. ALOPECIAS DIFUSAS CICATRICIAIS Radiações ionizantes (doses elevadas), queimaduras extensas, medicações quimioterápicas (bussulfano, docetaxel, cisplatina/etoposide) e outras. ALOPECIAS CIRCUNSCRITAS NÃO CICATRICIAIS Alopecia areata, traumática, sífilis secundária, lúpus discoide e outras colagenoses sistêmicas, herpes-zóster, foliculites, fármacos, tração, desnutrição e outras. ALOPECIAS CIRCUNSCRITAS CICATRICIAIS Esclerodermia, lúpus discoide tardio, colagenoses localizadas, quérion, tinea por M. audouinii e T. schoenleinii, foliculite decalvante, penfigoide cicatricial, neoplasias, foliculite dissecante e outras. ABORDAGEM DIAGNÓSTICA Avaliação dos pelos de todo o couro cabeludo e todo o corpo do paciente Análise da cor, brilho, textura e comprimento Exame das unhas – Grande associação de onicopatias e alopecias inflamatórias Teste de tração Tricograma Tricoscopia Histopatológico ALOPECIAS DIFUSAS NÃO CICATRICIAIS ALOPECIA ANDROGENÉTICA (AAG) Pode afetar de maneira significativa a vida psicossocial do indivíduo com graus variáveis de comprometimento da qualidade de vida. Alguns autores consideram a alopecia androgenética não como um distúrbio de expressão genética, mas como um traço da característica inerente ao próprio ser humano. EPIDEMIOLOGIA Prevalência não totalmente estabelecida, mas tem relação com idade, sexo e etnia. Homens brancos > Negros e asiáticos A frequência e gravidade aumentam com a idade Estima-se que cerca de 62% dos homens brancos entre 20 e 40 anos apresentam recesso bitemporal e mais de 80% mostram sinais de AAG por volta dos 70 anos de idade. É menos prevalente em negros e asiáticos. 3 Aula 09 – Dermatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.2 Também afeta mulheres, mas é mais frequente nos homens. O padrão também é diferente. Nos homens, tem início em qualquer idade a partir da puberdade – com dois picos de incidência, um entre a 2ª e a 3ª e outro entre a 5ª e 6ª década de vida. FISIOPATOGENIA Interação entre fatores hormonais e genéticos – predisposição genética + androgênios + receptores de androgênio + coativadores dos receptores de androgênio. MECANISMO: maior resposta negativa ao estímulo androgenético nos folículos pilosos do couro cabeludo. O folículo piloso é um tecido-alvo para andrógenos e considerado um órgão periférico capaz de sintetizar quantidades significativas de androgênios, podendo afetar seu próprio crescimento fisiológico, tanto no couro cabeludo, quanto no corpo. A testosterona é produzida em homens e mulheres. Toda a testosterona produzida, ou boa parte dela, a partir da ação da enzima 5α- redutase é convertida no seu metabólito ativo mais potente, a di-hidrotestosterona (DHT). DHT − Forma ativa da testosterona − Responsável pelo crescimento de pelos em terminais da área da barba, pela hiperplasia prostática benigna e desenvolvimento dos recessos frontoparietais. − É o principal hormônio para indução da alopecia androgênica masculina 5α-redutase Tipo 1 − Mais encontrada nas glândulas sebáceas e fígado Tipo 2 − Mais encontrada nos folículos pilosos (todos presentes no corpo; não apenas no couro cabeludo) − PESSOAS GENETICAMENTE DEFICIENTESDESSA ENZIMA SÃO INCAPAZES DE DESENVOLVER AAG Do ponto de vista hormonal, em folículos geneticamente determinados: Transformação de folículos terminais → Folículos miniaturizados Na AAG, ocorre redução gradual da duração média da fase anágena em cada ciclo folicular por ação da di- hidrotestosterona (DHT) nas células da papila dérmica por intermédio da ação da 5α-redutase tipo II. Como a duração da fase anágena é a responsável pelo crescimento do cabelo, e ela estará reduzida na AAG, o comprimento anágeno do novo cabelo após queda sempre será mais curto do que o seu antecessor. A duração do cabelo telógeno não é alterada, mas o tempo em que o folículo fica vazio (período de latência ou fase quenógena) torna-se mais logo. Dessa forma, os folículos capilares se tornam progressivamente miniaturizados. Testosterona → 5α-redutase tipo II → Di-hidrotestosterona → Folículos pilosos → ↓ fase anágena e ↑ fase telógena → Miniaturização da haste pilosa → Inviabilização da produção da haste pilosa IMAGEM 1 → Recesso frontoparietal IMAGEM 2 e 3 → Atrofia/perda capilar por miniaturização do vértex e na região frontoparietal Nos homens NÃO se observa aumento dos níveis de andrógenos. As principais áreas andrógeno-dependentes no homem são: (1) Frontoparietal (2) Bitemporal (3) Vértice As principais áreas andrógeno-dependentes na mulher são: (1) Frontoparietal (2) Vértice ALOPECIA ANDROGENÉTICA MASCULINA RAREFAÇÃO DOS FIOS EM GRAUS VARIÁVEIS NAS REGIÕES FRONTOPARIETAL, TEMPORAL E VÉRTICE. Alguns pacientes podem apresentar sintomas locais associados como dor, prurido e alterações da sensibilidade. 4 Aula 09 – Dermatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.2 CLASSIFICAÇÃO HAMILTON-NORWOOD Padrão de evolução da alopecia. ALOPECIA ANDROGENÉTICA FEMININA Mais difusa do que o padrão masculino. Rarefação na região FRONTOPARIETAL e no VÉRTEX com MANUTENÇÃO DA LINHA DE IMPLANTAÇÃO FRONTAL. Há ampliação da risca mediana Pode ter início na puberdade (se forte predisposição genética) até a menopausa, sendo a última mais comum – alterações do metabolismo androgênico Geralmente são mulheres idosas que se queixam de que o cabelo está ficando mais “ralo” – perda da densidade difusa → Miniaturização Se início mais precoce e/ou com outros sinais de hiperandrogenismo (acne, hirsutismo, alterações menstruais), deve-se encaminhar a paciente para investigação endocrinológica → SOP e outras síndromes virilizantes, como hiperplasia suprarrenal congênita Frequentemente há associação de seborreia e hiperidrose (muitos autores usam inadequadamente o termo alopecia seborreica) Classificada em três graus de acordo com a escala de Ludwig. ESCALA DE LUDWIG ALTERAÇÕES LABORATORIAIS Relação LH/FSH Testosterona total e livre Androstenediona 17-hidroxiprogesterona e sulfato de di- hidroepiandrosterona (S-DHEA) ATENÇÃO! A MAIOR PARTE DAS MULHERES TEM EXAMES LABORATORIAIS NORMAIS. Essas alterações ocorrem apenas naquelas com alterações hiperandrogênicas associadas à alopecia. DIAGNÓSTICO: história clínica + exame físico Tricoscopia manual → Verificação da MIANUTIRIZAÇÃO DOS FIOS pela redução do diâmetro, comprimento e pigmentação dos fios Testa da tração positivo apenas em áreas afetadas pela AAG Tricograma → Diferenciação de condições como eflúvio telógeno e alopecia aerata 5 Aula 09 – Dermatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.2 TRATAMENTO Igual para homens e mulheres. Base: MEDICAMENTOS QUE PROLONGAM A FASE ANÁGENA Minoxidil 1 a 5% TÓPICO − 1ª escolha de medicação tópica − Considerado modificador da resposta biológica do folículo pilossebáceo → Menos responsivo aos hormônios androgênicos + vasodilatação periférica, aumentando o aporte sanguíneo da papila e melhorando a nutrição da haste pilosa − Pouca evidência para uso oral – efeitos colaterais; repilavam ou nascia cabelo em locais indesejados Finasterida 1mg/dia − 1ª escolha de medicação sistêmica para HOMENS − Mais direcionado para os homens (*droga teratogênica – indicada com cautela para mulheres associado a uma contracepção rigorosa) − Inibe parcialmente a ação da 5α-redutase − Precisa ser tomada para o resto da vida porque, ao interromper o medicamento, o processo retrocede → Pode tentar fazer pausas terapêuticas (6 meses de uso e 3 meses de pausa) − Efeito colateral: redução da libido ATENÇÃO! O USO CRÔNICO da FINASTERIDA ALTERA O PSA. É preciso realizar a correção laboratorial desse marcador para não correr o risco de mascarar alterações prostáticas, como CaP. Contraceptivos ou drogas anti-androgênicas para MULHERES − ALGUMAS podem ter benefício − Espironolactona − Flutamida (*muito restrita para essa finalidade) − Cuidado com os efeitos secundários – dosar risco x benefício − Espironolactona – Diurético poupador de potássio − Contraceptivo hormonal – Avaliar risco de CA de mama EFLÚVIO TELÓGENO Caracterizado pelo aumento da queda de cabelos, como consequência da reentrada em uma nova fase anágena, de grande número de folículos precipitados antecipadamente em telógeno provocado por estresse físico ou psíquico prolongado. A queda de fios telógenos pode aumentar de 120 para 400 fios por dia. Existem cinco mecanismos descritos para justificar o eflúvio telógeno: Liberação anágena imediata − Evento agudo − Conversão prematura do anágeno em telógeno − Queda observada 2 a 3 meses após o evento → Corresponde à duração da fase telógena − Ocorre após doença consumptiva, doenças tireoidianas, febre alta dietas radicais para emagrecer (principalmente hipoproteica), cirurgias, hemorragias, anemias, deficiência de ferro, zinco ou vitamina A e retinoides, em especial acicretina, colchicina, betabloqueadores e outros Liberação anágena tardia − Mecanismo de eflúvio pós-parto − Durante a gestação, há prolongamento da fase anágena e, se muitos fios são envolvidos, a conversão para fase telógena será seguida de aumento da queda 2 a 3 meses após o parto Síndrome do anágeno curto − Encurtamento idiopático da fase anágena − Pode causar persistente em alguns Liberação telógena imediata − Encurtamento da fase telógena, com consequente expulsão desses fios e conversão para anágena − Observado no início do tratamento com Minoxidil Liberação telógena tardia − Prolongamento e sincronização de muitos fios na fase telógena e queda na transição para a fase anágena − Fenômeno provavelmente responsável pela queda sazonal experimentada por alguns pacientes ATENÇÃO! Existem formas crônicas que podem ser primárias ou secundários – persiste por mais de 6 meses, de forma contínua ou em ciclos. Alguns pacientes referem como gatilho o estresse emocional. DIAGNÓSTICO Observação da acentuação dos recessos bitemporais, associados a: 6 Aula 09 – Dermatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.2 Teste de tração leve com prova positiva se > 5 fios destacados ou > 10% do total de fios tracionados Prova de tração forçada + Tricograma com > 25% de pelos telógenos – uso de pinça hemostática para retirar alguns fios forçadamente + análise microscópica para avaliação do equilíbrio das fases das hastes pilosas Se dúvidas sobre o eflúvio telógeno patológico, pode-se solicitar que o paciente faça a contagem de fios perdidos → Com a escova limpa, escovar os cabelos por 60 segundos e contar quantos foram perdidos. A perda de até 100 fios é considerada fisiológica. EFLÚVIO ANÁGENO: ocorre nas quimioterapias antineoplásicas – citostáticos e antimetabólitos e alquilantes agem inibindo a fase anágena. Início da queda após poucas semanas do uso da medicação. SÍNDROME DO ANÁGENO FROUXO: distúrbio de ancoragem de pelos anágeno entrea cutícula e a bainha interna, que leva a uma adesão defeituosa dos pelos no folículo. Pode ser familial ou adquirida. Mais comum em meninas, na infância. A maioria dos casos tem melhora espontânea para a idade. O uso de Minoxidil parece ser a 1ª linha de tratamento. ALOPECIAS CIRCUNSCRITAS NÃO CICATRICIAIS ALOPECIA AREATA (AA) Perda rápida e completa de pelos em uma ou mais áreas do couro cabeludo, envolvido em 90% dos casos, e, ocasionalmente, de outras regiões pilosas (barba, supercílio, púbis etc.). Essa perda não é associada a nenhuma alteração inflamatória perceptível, exceto do ponto de vista etiopatogênico. Afeta igualmente homens, mulheres, crianças e idosos. Via de regra, são pessoas que têm algum tipo de desequilíbrio imunológico. Logo, podem ter doenças autoimunes associadas e/ou comorbidades, como DM, e precisam de investigação adequada. Trata-se de uma ALOPECIA NÃO-CICATRICIAL AUTOIMUNE, ÓRGÃO-ESPECÍFICA (folículo piloso), envolvendo CÉLULAS T Há envolvimento de fatores genéticos e ambientes ETIOPATOGENIA Causa exata desconhecida. A teoria mais aceita na literatura é a autoimune. Fatores genéticos + ambientais + epigenéticos → Expressão de receptores de membranas (HLA – tipo A, B, C, DR) pelas células do folículo pilossebáceo → Linfócitos TCD8+ → Parada temporária na produção da haste pilosa, até que a condição normal seja reestabelecida Base teórica: presença de células inflamatórias lesionais, autoanticorpo folículo-específico no sangue dos pacientes, resposta aos tratamento com imunossupressores e associação com doenças autoimunes. Presença de infiltrado inflamatório peri e intrabulbar composto predominantemente por linfócitos TCD4+ e TCD8+ - perda do privilégio imunológico folicular A inflamação mantém os folículos pilosos em estado anágeno distrófico, forçando-o a passar precocemente à fase telógena ou, em casos crônicos, perpetuados em fase telógena. Na maioria dos casos há repilação espontânea em alguns meses. Entretanto, pode se tornar uma condição crônica, na qual o paciente passa períodos de remissão e fases de reativação, quando ocorre novamente a expressão anômala dos receptores nos folículos pilossebáceos. Quando as placas se repilam, o cabelo formado é branco, sem pigmento, tornando-se pigmentado posteriormente. A partir disso, foi descoberta a relação da placa alopécica areata com expressão desordenada de melanócitos nos folículos pilossebáceos acometidos – que se regularizam após a normalização do folículo. QUADRO CLÍNICO Diferentes expressões clínicas. Perda circunscrita de pelos não restrita ao couro cabeludo, podendo ocorrer em sobrancelhas, barbas, pelos pubianos etc. Prurido e tricodinia (hipersensibilidade do couro cabeludo) podem acompanhar o quadro. Clinicamente, placas alopécicas, sem sinais inflamatórios, geralmente circulares, são observadas com a pele lisa e desnuda ou pelos velus – fios finos e pouco pigmentados. 7 Aula 09 – Dermatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.2 Raramente há eritema, coloração amarelada, ou leve descamação da área alopécica Na periferia das placas, pelos aparentemente normais são facilmente destacáveis ao teste de tração Pelos “em ponto de exclamação” – Característicos; extremidade distal mais espessa que a proximal; mais bem visualizados por tricoscopia Repilação com pelos despigmentados → POLIOSE Alterações ungueais em 7 a 66% dos casos − Pittings ungueais – mais comumente encontradas − Também podem ser encontradas traquioníquia, linhas de Beau, onicorrexe, coiloníquia, espessamento ou afinamento das unhas, onicomadese, leuconiquia puntata ou transversa e pontos vermelhos na lúnula Achados oftalmológicos − Opacidade assintomática do cristalino em 51% − Alterações no fundo de olho em 41% O processo pode progredir com o surgimento de novas lesões que, por confluência, podem atingir todo o couro cabeludo (alopecia total) ou todo o corpo (alopecia universal). VARIANTES CLÍNICAS MENOS FREQUENTES Ofiásica − Se inicia na região occipital (nuca) e avança bilateralmente para as parietais − Mais grave; pode evoluir para a forma UNIVERSAL − Única condição em que de fato pode-se ter mulheres completamente carecas − Tratamento: aplicação de nitrogênio líquido Ofiásica inversa ou “sisaihpo” − Muito raro − Acometimento da área frontoparietotemporal Difusa − Não há formação da placa alopécica − Caracterizada por pelos em exclamação entre os cabelos normais FORMA OFIÁSICA - Criança que conseguiu repilação a partir da técnica de aplicação de nitrogênio líquido; última imagem demonstrando o a técnica de aplicação "em xadrez" TRATAMENTO DROGAS RUBEFACIENTES TÓPICAS Promovem vasodilatação, ruborização, pequena e controlável alteração inflamatória → Objetiva modificar a resposta imune da região 8 Aula 09 – Dermatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.2 CORTICOTERAPIA TÓPICA Imunossupressão *Também pode empregar corticoterapia sistêmica a depender da gravidade do caso (*ciclosporina) TRATAMENTOS COADJUVANTES Microagulhamento Infiltração intralesional Laser de baixa potência Minoxidil → MANTENEDOR; NÃO é a droga de 1ª escolha ATENÇÃO! Finasterida NÃO tem indicação. OUTRAS FORMAS DE ALOPECIA ALOPECIA DE TRAÇÃO Mais frequente, sobretudo, em afrodescendentes (maior hábito de prender os cabelos e uso de extensão capilares) Cabelos quimicamente tratados com alisantes ou permanentes têm maior risco de desenvolvimento por causa da fragilidade do fio Tração contínua e permanente → Perda de cabelo Pode ser reversível É possível observar fios mais curtos (“franja”) na margem do couro cabeludo. Nas fases iniciais, pode haver desconforto, vermelhidão, escamas e pontos de pus – ainda é reversível. Com a evolução, ocorre redução do volume e tamanho dos cabelos na área acometida – e em algumas áreas o cabelo não volta a crescer. TRATAMENTO: recomendar evitar prender os cabelos + drogas que promovem manutenção da fase anágena - recuperação das hastes pilosas. *Com o tempo, a alopecia de tração promove um remodelamento cicatricial. Se a paciente procurar tratamento já em estágio cicatricial, não haverá mais folículos pilosos viáveis para obter uma terapêutica adequada. ALOPECIA FRONTAL FIBROSANTE Forma de alopecia CICATRICIAL progressiva Recesso simétrico das margens frontal e temporal de implantação dos cabelos; pele afetada pálida e atrófica, com ausência de orifícios foliculares Frequentemente irreversível Mais descrita em mulheres caucasianas Considerada uma variante clínica localizada do LÍQUEN PLANO PILAR Também imunomediada Histopatologia semelhante à do líquen plano → Alteração no infiltrado do folículo pilossebáceo → Infiltrado linfocítico ao redor dos folículos, com reação liquenoide e marcada redução do número de folículos e fibrose ALOPECIA FRONTAL FIBROSANTE: RELATO DE CASO TRATAMENTO: pouca resposta. Tenta microagulhamento, laser etc. HIPERTRICOSE E HIRSUTISMO Hipertricose é o crescimento desproporcional de pelos em qualquer local do corpo, fugindo dos padrões de idade, raça e sexo. Pode ser congênita ou adquirida, localizada ou generalizada. O hirsutismo é um aumento de pelos na mulher em áreas que, fenotipicamente, são características do homem. Diretamente relacionando com alterações endocrinológicas com aumento de andrógenos circulantes, como poliendocrinopatias, excesso de ACTH, adenoma hipofisário, hiperprolactinemia e hiperandrogenismo. Por isso, o tratamento deve ser guiado por um endocrinologista. Ao dermatologista cabe realizar o diagnóstico e remover os pelos indesejados. https://www.scielo.br/j/abd/a/dKcczx5CJDHZSr7YyFncw3K/?lang=pt9 Aula 09 – Dermatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.2 TRATAMENTO: remoção dos pelos + correção do distúrbio de base Laser Luz pulsátil − Melhor para remoção de pelos finos Finasterida tópica 0,5% − Terapia coadjuvante − Teratogênica – Contracepção rigorosa
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