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Incidência e prevalência 50% das pessoas tiveram no último ano >90% terá ao longo da vida Cerca de 18% da população possui enxaqueca: 2/3x maior em mulheres 52% possuem crises esporádicas de cefaleia tensional (mulheres = homens) 3% da população possui cefaleia crônica (>15 dias por mês) 3ª queixa mais frequente em ambulatórios de clínica médica geral 10,3% dos atendimentos Ambulatório de neurologia motivo mais frequente de consulta Unidades de emergência 4,5% dos atendimentos, 4º motivo mais frequente de consulta CEFALEIAS PRIMÁRIAS 1. Cefaleia Tensional Causa mais comum de cefaleia primária (40-70%, mais comum no sexo feminino). Mecanismo de dor: tensão da musculatura fácil, cervical e craniana em situações de estresse e ansiedade. Contextos que envolvem privação de sono também influenciam no grau de tensão, pois não há relaxamento, assim como sedentarismo, defeito visual sem correção e má postura. Cronificação: muito comum devido ao abuso de analgésicos. Dor crônica piora do sono, humor, qualidade de vida menos exercícios físicos analgésico mais dor crônica. Características: caráter opressivo, fronto-occipital ou temporo-occipital bilateral, intensidade leve a moderada (não acorda o paciente, o paciente não precisa parar seus afazeres), duração prolongada (horas, dias), e geralmente se inicia no período vespertino ou noturno, após um dia estressante ou um tipo de aborrecimento. Diagnóstico: pelo menos 10 crises de duração de 30min-7 dias + critérios abaixo: Pelo menos 2 dos seguintes dor bilateral, pressão ou aperto (não pulsátil), dor leve a moderada, não piora com atividade física Ambos os seguintes ausência de náusea e/ou vomito, fotofobia e/ou fonofobia, não atribuível a outras causas. Tratamento abortivo: analgésicos (paracetamol, dipirona, AINE) e/ou relaxantes musculares (tizanidina); técnicas de relaxamento >> associação com cafeína aumenta eficácia analgésica. Paracetamol 750mg-1000mg QID Dipirona 500-1000mg QID Ibuprofeno 400-800mg QID Diclofenato 50mg TID Cetoprofeno 50mg TID Naproxeno sódico 500mg inicial e até 250mg QID Tratamento profilático: antidepressivos tricíclicos (amitriptilina ou nortriptilina) 2. Enxaqueca (migrânea) Segunda causa mais comum de cefaleia primária (15%, mais comum no sexo feminino). Mecanismo de dor: neuralgia, componente vascular/neurovascular e componente muscular >> ocorre descarga elétrica por via trigeminal (usualmente por predisposição do paciente) que gera estímulo inadequado de vasoconstrição associado a um processo inflamatório perivascular (vasodilatação) reação de dor e alterações vasculares causadoras da aura. Gatilhos para descarga elétrica gatilhos universais (privação de sono, jejum prolongado, estados de tensão e ansiedade), gatilhos hormonais (TPM), gatilhos específicos (individuais de cada paciente, como chocolate). Cronificação: contexto de diversos gatilhos, contexto tensional ou psíquico do paciente >> tratamento profilático, pois o uso abundante de analgésicos muitas vezes ao mês pode causar cefaleia por abuso de analgésicos. Características: caráter pulsátil, geralmente unilateral, intensidade moderada a severa (pode acordar o paciente, o paciente pode ter que parar seus afazeres), duração variável (4 a 72 horas), associada a náuseas e vômitos, fotofobia e fonofobia, desencadeada pelo consumo de vinho, período menstrual, etc. Pródromo: alteração de humor (irritabilidade), raciocínio e memorização mais lentos, desânimo, avidez por alguns tipos de medicamentos e mal-estar nas 24-48 horas precedentes. Diagnóstico: pelo menos 5 crises e duração de 4-72h + critérios abaixo: Pelo menos 2 dos seguintes dor unilateral, pulsátil, moderada ou intensa, piora com atividade física Pelo menos 1 dos seguintes náusea e/ou vomito, fotofobia e fonofobia, não atribuída a outra causa. Enxaqueca sem aura: enxaqueca mais comum Enxaqueca com aura: sinais e sintomas neurológicos precedem, acompanham ou surgem após a crise. A aura pode ser representada por: escotomas cintilantes, parestesias periorais ou dimidiadas, hipoestesias ou paresias diminuídas, vertigem + diplopia (enxaqueca basilar), hemiplegia (enxaqueca hemiplégica familiar). A aura tem desenvolvimento gradual ao longo de 5 minutos, e duração de até 60 minutos. Tratamento abortivo ambulatorial: AINH, derivados da ergotamina, isometepteno (Neosaldina), agonistas serotoninérgicos (sumatriptan, naratriptan). >> AINES e Triptanas: AINES cessa a reação inflamatória, e as triptanas servem como analgésicos seletivos, que estimulam o receptor serotoninérgico 5HT promovendo vasoconstrição cerebral. Tratamento profilático: 1ª linha betabloqueadores: propranolol, atenolol // antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, nortriptilina). 2ª linha antiepilépticos (valproato e topiramato), antagonistas da serotonina (ergotamina, diidroergotamina, metisergida, pizotifeno e ciproeptadina), AINES (AAS, derivados da indometacina, nimesulida, naproxeno) >> tratamento preventivo de curto prazo, como por exemplo na enxaqueca menstrual. Complicações Estado migranoso cefaleia intensa, duração maior que 72h com intervalos livres inferiores a 12h. náuseas e vômitos por horas desidratação e necessidade de internação >> ocorre quando a cascata de inflamação não é interrompida pelo tratamento abortivo ambulatorial >> terapia profilática. Infarto migranoso ataque idêntico aos outros episódios, mas os sintomas de aura persistem por mais de 60 minutos e são associados a um infarto demonstrado por exame de imagem >> enxaqueca com aura é fator de risco para infarto -> contraindicação aos ACOCs. Migrânea crônica aumento da frequência das crises até tornarem-se diárias ou quase diárias (> 15 dias/mês por mais de 3 meses). Os fatores de risco são emocionais, de estresse, psiquiátricos e abuso de analgésicos (cronificação da dor – relação de dependência e tolerância maior). 3. Cefaleia em salvas (cluster headaches) Causa incomum de cefaleia, mais comum em homens de meia idade. Mecanismo de dor: vasodilatação periorbitária significativa, geralmente associada a sintomas disautonômicos congestivos, como lacrimejamento e rinorreia. Características: ocorre diariamente por período curto (semanas), seguindo-se de longo período assintomático. Vários episódios sucessivos, geralmente noturnos, de cefaleia fronto-orbitária unilateral, muito intensa (acorda o paciente), duração curta (15-180 minutos) e associados a lacrimejamento, congestão nasal e conjuntival e edema periorbitário ipsilateral. Diagnóstico: pelo menos 5 crises com dor MUITO forte, unilateral, supraorbitária e/ou temporal, com duração de 15 a 180 minutos se não tratada. Costuma ter característica intermitente, com episódios de dor muito fortes que somem de repente. Pelo menos 1 dos seguintes: injeção conjuntival ipsilateral e/ou lacrimejamento, congestão nasal e/ou rinorreia, edema palpebral ipsilateral, miose e/ou ptose palpebral, sudorese frontal e facial ipsilateral, sensação de inquietude ou agitação, frequência de 1 crise a cada 2 dias e 8 crises por dia >> não atribuído a outras causas. Tratamento abortivo: oxigenoterapia (máscara facial com 10-12 L/min de O2 por 15-20 min), ou sumatriptano, 6mg, subcutâneo, máximo de 3 injeções por dia >> paciente sentado, levemente debruçado para cima. Tratamento profilático: verapamil, carbonato de lítio, ergotamina. Tratamento profilático das cefaleias primárias Indicações de profilaxia: Crises frequentes ou de longa duração Crises com grande comprometimento funcional e perda de qualidade de vida, a despeito do tratamento abortivo. Contraindicação do tratamento abortivo das cefaleias – paciente não pode usar AINES devido a problemas gástricos ou renais, HA descompensada, pacientescardiopatas que não podem usar Triptanos. Falha nos tratamentos abortivos Risco de abuso de analgésicos diário da dor: anotar quando sentir dor e tomar analgésico Enxaqueca menstrual TRATAMENTO PROFILÁTICO DE ENXAQUECA O tempo é variável e a literatura recomenda no mínimo 6 meses Profilaxia por segurança Enxaqueca hemiplégica uma crise é suficiente para iniciar a profilaxia para que não haja evolução para infarto migranoso Enxaqueca com aura do tronco encefálico (enxaqueca basilar) pacientes tem sintomas de circulação posterior, como dismetria, ataxia, desequilíbrio e vertigem. Aura persistente sem infarto aura com duração de mais de 60 minutos Infarto migranoso Processo de dor Informação cerebral inadequada vinda de neurônios sinapse pela via trigeminal através de neurotransmissores, como adrenalina ligação da adrenalina aos receptores beta adrenérgicos nos vasos propagação do sinal para o vaso vasoconstrição Medicamentos 1. Principal linha de tratamento profilático Anticonvulsivantes valproato e topiramato Antidepressivos tricíclicos amitriptilina, nortriptilina, venlafaxina Beta-block propranolol, atenolol e metoprolol A escolha do medicamento depende do contexto do paciente e nos gatilhos para a enxaqueca paciente com transtorno de ansiedade como gatilho (estado adrenérgico) usar Venlafaxina, paciente hipertenso com indicação usar beta bloqueador. Os ADT possuem ligantes que agem tanto nos receptores dos neurônios, inibindo a recaptação desses neurotransmissores, quanto nos receptores histamínicos, bloqueando-os de modo a produzir sonolência e vasodilatação. Também possuem ligantes que bloqueiam os receptores alfa adrenérgicos nos vasos, provocando vasodilatação/hipotensão e ligantes que bloqueiam M1 (boca seca e constipação). 2. Linha secundária Inibidores do canal de cálcio Flunazarina, Verapamil (usar flunazarina com critério em idosos pois o uso persistente está relacionado ao parkinsonismo) Toxina botulínica casos refratários, age na via trigeminal Antagonistas CGRP anticorpo monoclonal que combate ao CGRP diminuindo seus níveis de enxaqueca por um mecanismo de vasodilatação. TRATAMENTO PROFILÁTICO DE CEFALEIA TENSIONAL 1. Primeira linha Antidepressivos tricíclicos Amitriptilina e Nortriptilina Antidepressivos duais Venlafaxina e Mirtazapina Anticonvulsivantes Gabapetina e Topiramato Modulação adrenérgica que regula o tônus final e modulação do substrato que está presente na maioria dos pacientes transtorno de humor e ansiedade associado 2. Segunda linha Toxina botulínica TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO PROFILATICO Chave para o sucesso do tratamento profilático. Necessidade do envolvimento do médico na compreensão do contexto individual de cada paciente. Encarar a dor como mecanismo de alerta. Estimular a gestão da mente, exercícios físicos, alimentação adequada, sono e qualidade de vida