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2018 InfâncIa e Saúde Prof.a Ariane Regis Prof.a Mônica Maria Barurffi Prof.a Rosane Cristina Coelho Pisa Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Prof.a Ariane Regis Prof.a Mônica Maria Barurffi Prof.a Rosane Cristina Coelho Pisa Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: R337i Regis, Ariane Infância e saúde. / Ariane Regis; Rosane Cristina Coelho Pisa; Mônica Maria Baruffi. – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 186 p.; il. ISBN 978-85-515-0242-6 1.Cuidados primários de saúde. – Brasil. 2.Crianças – Cuidados e tratamento. – Brasil. I. Regis, Ariane. II. Pisa, Rosane Cristina Coelho. III. Baruffi, Mônica Maria. IV. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 362.7 III apreSentação Bem-vindo à disciplina de Infância e Saúde! Na primeira unidade deste livro de estudos, vamos estudar a história e desenvolvimento das políticas sobre a infância e a saúde. Reconheceremos o conceito de saúde dentro da História e sua influência no dia a dia das pessoas. Estaremos apresentando os programas que a União, através do Ministério da Saúde, realiza para a manutenção da saúde da população. São apresentadas as responsabilidades que a União, os Estados e até mesmo, os Municípios possuem junto à saúde pública. A participação da sociedade civil e das entidades como escolas e ONGs são muito importantes nesta caminhada. São um aporte no processo de manutenção da qualidade da saúde física, psicológica e comunitária. Já na Unidade 2 estudaremos o desenvolvimento biológico humano e as respectivas etapas. Na nossa última unidade estudaremos algumas patologias e problemas de saúde comuns na infância. Além disso, compreenderemos situações difíceis que (infelizmente) podem ocorrer no dia a dia escolar. Por fim, no último tópico da Unidade 3, nós trataremos da saúde do educador. Buscamos contribuir com algumas reflexões e orientações. Assim, muito antes de uma doença acometer um de nossos alunos ou de nós mesmos, podemos buscar a Educação na Saúde e a Prevenção continuamente. Bons estudos! IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI VII UNIDADE 1 – RETROSPECTIVA HISTÓRICA DA SAÚDE ....................................................... 1 TÓPICO 1 – RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DA SAÚDE ....................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 O CONCEITO DE SAÚDE NA HISTÓRIA ................................................................................... 3 3 A OMS E O CONCEITO DE SAÚDE .............................................................................................. 10 4 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E A SAÚDE DA POPULAÇÃO ............................................... 13 5 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS .............................................................................................. 15 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 20 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 21 TÓPICO 2 – POLÍTICA DE SAÚDE: UMA POLÍTICA SOCIAL E SEUS PROGRAMAS ...... 23 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 23 2 POLÍTICA DE SAÚDE: UMA POLÍTICA SOCIAL ..................................................................... 23 3 AS PARTICIPAÇÕES DOS ESTADOS E MUNICÍPIOS NAS POLÍTICAS DE SAÚDE ..... 30 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 36 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 37 TÓPICO 3 – COMUNIDADE E ESCOLA NO PROCESSO DE MANUTENÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA .................................................................... 39 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 39 2 A ENGRENAGEM CHAMADA REDE – PARTICIPAÇÃO ........................................................ 39 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 54 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 60 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 62 UNIDADE 2 – O DESENVOLVIMENTO HUMANO INFANTIL ................................................ 63 TÓPICO 1 – O DESENVOLVIMENTO HUMANO INFANTIL .................................................... 65 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 65 2 BREVE HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO INFANTIL ............................. 66 3 DESENVOLVIMENTO HUMANO INTRAUTERINO ................................................................ 69 3.1 FASES DE SEGMENTAÇÃO ......................................................................................................... 70 3.2 FASE EMBRIONÁRIA .................................................................................................................... 73 3.3 FASE FETAL .................................................................................................................................... 75 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................................80 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 82 TÓPICO 2 – CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO INFANTIL .......................................... 83 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 83 2 O NASCIMENTO DO BEBÊ ............................................................................................................. 84 3 O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA ............................................... 87 4 FATORES INTERNOS ........................................................................................................................ 89 4.1 HEREDITARIEDADE ..................................................................................................................... 89 4.2 CRESCIMENTO ORGÂNICO ....................................................................................................... 91 SumárIo VIII 4.3 MATURAÇÃO BIOLÓGICA ......................................................................................................... 92 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 101 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 103 TÓPICO 3 – A VIDA ESCOLAR E A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA ............................................................................................. 105 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 105 2 A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO INFANTIL ................................................................................................................................................. 105 3 A INTERFERÊNCIA DA ESTRUTURA FAMILIAR NA SAÚDE E NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA ......................................................................................................................................... 111 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 114 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 120 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 122 UNIDADE 3 – SAÚDE E EDUCAÇÃO .............................................................................................. 123 TÓPICO 1 – PATOLOGIAS E URGÊNCIAS NA INFÂNCIA ....................................................... 125 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 125 2 ACIDENTES, TRAUMATISMOS E QUEIMADURAS NA INFÂNCIA .................................. 126 2.1 SUGESTÕES DE ATIVIDADES EDUCATIVAS .......................................................................... 130 3 FRAGMENTOS DE REPORTAGENS SOBRE ACIDENTES COM CRIANÇAS ................... 132 4 DOENÇAS INFECCIOSAS ............................................................................................................... 133 4.1 SEPSE ................................................................................................................................................ 135 4.2 ATAQUE DE ANIMAIS PEÇONHENTOS ................................................................................. 136 5 DOENÇAS RESPIRATÓRIAS .......................................................................................................... 140 5.1 TABAGISMO PASSIVO ................................................................................................................. 143 6 DOENÇAS METABÓLICAS NA INFÂNCIA ................................................................................ 144 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 148 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 152 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 153 TÓPICO 2 – ÉTICA NA EDUCAÇÃO: CUIDADOS ESSENCIAIS ............................................. 155 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 155 2 MANEJO DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO EM SITUAÇÕES DE RISCO INFANTOJUVENIL ........................................................................................................ 155 2.1 ABUSO SEXUAL ............................................................................................................................. 157 2.2 ABANDONO AFETIVO ................................................................................................................. 158 2.3 ALIENAÇÃO PARENTAL ............................................................................................................ 159 3 DESPATOLOGIZAÇÃO DA VIDA: COMPROMISSO COM A ÉTICA .................................. 161 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 165 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 166 TÓPICO 3 – E A SAÚDE DO EDUCADOR? ..................................................................................... 167 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 167 2 PSICOLOGIA PARA EDUCADORES ............................................................................................. 167 3 CONTROLE DO STRESS .................................................................................................................. 170 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 174 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 175 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 177 1 UNIDADE 1 RETROSPECTIVA HISTÓRICA DA SAÚDE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer a história da saúde e sua linha cronológica de avanços; • reconhecer o conceito de saúde pela OMS; • conhecer a função e objetivos da Organização Mundial da Saúde; • reconhecer a legislação brasileira quanto à saúde da população e a OMS; • conhecer o SUS – Sistema Único de Saúde, quais objetivos e funcionalidade; • conhecer o significado de Política de Saúde como uma Política Social; • identificar os Programas de Saúde desenvolvidos pelo Ministério da Saúde enquanto política pública de saúde; • reconhecer a importância da participação da população na manutenção e prevenção da saúde pública; • perceber a importância dos órgãos sociais na manutenção e preservação da saúde, sendo a escola e família dois dos elementos essenciais nesta caminhada; • reconhecer as ações para a promoção, proteção e recuperação da saúde do ambiente escolar; • identificar como a comunidade escolar e demais setores auxiliam naobtenção da saúde. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DA SAÚDE 2 TÓPICO 2 – POLÍTICA DE SAÚDE: UMA POLÍTICA SOCIAL E SEUS PROGRAMAS TÓPICO 3 – COMUNIDADE E ESCOLA NO PROCESSO DE MANUTENÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DA SAÚDE 1 INTRODUÇÃO Discutir sobre saúde nos remete não só para entendermos os fatores de bem-estar físico, mas também os órgãos sociais na manutenção e prevenção de doenças, os quais precisam ser analisados e estudados. Com isso, é preciso que a União, os Estados, Distrito Federal e Municípios tenham políticas públicas que envolvam todos os aspectos da área da saúde, pois assim, conseguirão manter junto à população qualidade de vida, equidade e melhores condições de manutenção de envolvimento dos cidadãos em todos os segmentos da sociedade. Possuir um povo saudável, eleva o poder econômico, social da sociedade, das famílias, obtendo desta maneira subsídios que façam com que a população se perceba como membro de uma nação saudável e que busca a manutenção da qualidade de vida. Para tanto, buscamos conhecer os setores que se preocupam com a saúde mundial e sua respectiva hierarquização. Em nosso país, possuímos o SUS – Sistema Único de Saúde, o qual será apresentado, buscando conhecer sua estrutura e seus objetivos no que tange à saúde do povo brasileiro em sua totalidade. Buscaremos também um pouco da história da saúde. A saúde tem história e TER SAÚDE é incumbência de todos! Vamos então compreender estes caminhos e qual nossa responsabilidade neste processo? 2 O CONCEITO DE SAÚDE NA HISTÓRIA Vamos levar você a entender o conceito de saúde por meio de uma linha do tempo, na qual apresentaremos suas nuances de acordo com o momento histórico, político, cultural e social por qual as sociedades passaram e passam, pois, de acordo com Scliar (2007, p. 30), [...] saúde não representa a mesma coisa para todas as pessoas. Dependerá da época, do lugar, da classe social. Dependerá de valores individuais, dependerá de concepções científicas, religiosas, filosóficas. O mesmo, aliás, pode ser dito das doenças. Aquilo que é considerado doença varia muito. UNIDADE 1 | RETROSPECTIVA 4 Desta maneira, Scliar (2007) nos apresenta que para cada povo, para cada situação, para cada momento, a saúde e a doença têm seu conceito reformulado. Para tanto, vamos caminhar pelas culturas e verificar como era vista a saúde e a doença. Iniciamos então pelo período bíblico, em que, de acordo com Scliar (2007), a saúde e a doença são elementos que se encontram em constante movimento, pois como as múmias egípcias: [...] apresentavam sinais de doença (exemplo: a varíola do faraó Ramsés V). Não é de admirar que desde muito cedo a Humanidade se tenha empenhado em enfrentar essa ameaça, e de várias formas, baseadas em diferentes conceitos do que vem a ser a doença (e a saúde). Assim, a concepção mágico-religiosa partia, e parte, do princípio de que a doença resulta da ação de forças alheias ao organismo que neste se introduzem por causa do pecado ou de maldição. Para os antigos hebreus, a doença não era necessariamente devida à ação de demônios, ou de maus espíritos, mas representava, de qualquer modo, um sinal da cólera divina, diante dos pecados humanos (SCLIAR, 2007, p. 30). Outro exemplo a ser analisado é a lepra, que para muitos tinha uma conotação de pecado, mas que era uma doença contagiosa e estas pessoas eram levadas a ser consideradas mortas-vivas e foram separadas por completo da família em espaços como os leprosários. Scliar (2007, p. 31) afirma: O doente era isolado até a cura, um procedimento que o cristianismo manterá e ampliará: o leproso era considerado morto e rezado a missa de corpo presente, após o que ele era proibido de ter contato com outras pessoas ou enviado para um leprosário. Esse tipo de estabelecimento era muito comum na Idade Média, em parte porque o rótulo de lepra era frequente, sem dúvida abrangendo numerosas outras doenças. Frente a isso, cabe salientar que este tipo de ação, para aquele momento e época, acabou auxiliando na não proliferação de doenças contagiosas e na prevenção delas. Fica a dica de um filme intitulado: BEN-HUR. 1959. História ambientada no início da Era Cristã, que conta com as lutas de Ben- Hur para libertar Jerusalém do domínio romano e traz a doença “lepra” e como era vista pela população na época, conforme Scliar nos apresenta em suas citações. 211 min. Você poderá encontrar este filme e muitos outros no YouTube. DICAS TÓPICO 1 | RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DA SAÚDE 5 Na cultura indígena, encontramos o Xamã, que tinha como função expulsar dos corpos os maus espíritos, através de rituais, que possuíam como objetivo reintegrar o doente ao universo total, do qual ele é parte. Esse universo total não é algo inerte: ele “vive” e “fala”; é um macrocorpo, do qual o Sol e a Lua são os olhos, os ventos, a respiração, as pedras, os ossos (homologação antropocósmica). A união do microcosmo que é o corpo com o macrocosmo faz-se por meio do ritual (SCLIAR, 2007, p. 31). De acordo ainda com Scliar (2007), o Xamã possui a tarefa de chamar os espíritos capazes de extirpar o mal, mas para tanto, o Xamã precisa passar por um período de treinamento que vai desde a abstenção sexual e alimentar, tendo nesse período a possibilidade de aprender as canções xamanísticas e aprender a utilizar as plantas com substâncias alucinógenas que são “chamarizes para os espíritos capazes de combater a doença” (SCLIAR, p. 32). Na História da Saúde, encontramos também a medicina grega, que possuía seus deuses e deusas também relacionados à saúde. Dentre elas, temos Higieia, a Saúde e Panacea, a Cura. Essas duas irmãs e deusas, diziam os gregos, possuíam o dom da cura e da manutenção da saúde. Cabe salientar que os gregos eram fervorosos pelos mitos criados por eles. Vejamos o que cada uma possuía como dom, perante os gregos. FIGURA 1 – DEUSA HIGIEIA FONTE: <https://www.google.com.br/search?q=hYGIEIA&rlz=1C1VASI_enB R518BR524&sourc>. Acesso em: 16 jul. 2018. Ressalta-se que a deusa Higieia possui em suas mãos uma taça com uma serpente, buscando beber o líquido da cura. Este símbolo é tradicional na profissão UNIDADE 1 | RETROSPECTIVA 6 de farmacêutica. Na mitologia grega Higieia era a deusa da saúde, limpeza e a sanitariedade. Desta maneira, nós podemos determinar que a palavra higiene venha desta raiz. De acordo com Professor Paludetti (2008, p. 1), “Para as sociedades ocidentais e do oriente médio, a serpente simboliza a sabedoria, a imortalidade e a cura”. E a taça “é uma variante do símbolo da serpente, significando a cura por meio daquilo que se ingere, ou seja, pelos medicamentos”. Como vimos anteriormente, temos também a deusa Panacea, que possui o seguinte significado: FIGURA 2 – DEUSA PANACEA FONTE: <https://www.google.com.br/search?rlz=1C1VASI_ enBR518BR524&biw=1600&bih>. Acesso em: 23 jul. 2018. Panacea era irmã de Higieia. Possuía, como a irmã, o dom de curar todos os males. Se pesquisarmos no dicionário da Língua Portuguesa, (2009, p. 243), encontraremos o seguinte significado: Panaceia: “s.f.1. remédio para todos os males, físicos e morais. 2. Aquilo que se crê que é a solução quase milagrosa para todos os problemas, que resolve tudo. 3. Planta que se pensava ser eficaz para curar todas as doenças”. No cálice que ela segura está caracterizado o líquido que curaria todos os males do corpo, pois de acordo com Scliar (2007, p. 32) “deve-se notar que a cura, para os gregos, era obtida pelo uso de plantas e de métodos naturais, e não apenas por procedimentos ritualísticos”. TÓPICO 1 | RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DA SAÚDE 7 Com isso, Hipócrates em sua teoria, de acordo com Scliar (2007, p. 32),afirmava que existiam “quatro fluidos (humores) principais no corpo: bile amarela, bile negra, fleuma e sangue. Desta forma a saúde era baseada no equilíbrio desses elementos. Ele via o homem como uma unidade organizada e entendia a doença como uma desorganização desse estado”. É importante verificar que Hipócrates, segundo Scliar (2007, p. 32-33) via que “a obra hipocrática se caracteriza pela valorização da observação empírica, como o demonstram os casos clínicos nela registrados, reveladores de uma visão epidemiológica do problema de saúde-enfermidade”. Cabe salientar que Hipócrates via o ser humano além de seu corpo, discutia também “fatores ligados à doença, defendendo um conceito ecológico de saúde-enfermidade” (SCLIAR, 2007, p. 33). Deixamos para você, acadêmico, um recorte da história, que foi delineada para nós de acordo com Scliar, em seu artigo: “O conceito de história da saúde”. Segue o texto que pode ser encontrado em sua íntegra em: <http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312007000100003&lng=en&nrm=iso& tlng=pt>. Acesso em: 23 jul. 2018. Galeno (129-199) revisitou a teoria humoral e ressaltou a importância dos quatro temperamentos no estado de saúde. Via a causa da doença como endógena, ou seja, estaria dentro do próprio homem, em sua constituição física ou em hábitos de vida que levassem ao desequilíbrio. No Oriente, a concepção de saúde e de doença seguia, e segue, um rumo diferente, mas de certa forma análogo ao da concepção hipocrática. Fala-se de forças vitais que existem no corpo: quando funcionam de forma harmoniosa, há saúde; caso contrário, sobrevêm a doença. As medidas terapêuticas (acupuntura, ioga) têm por objetivo restaurar o normal fluxo de energia (“chi”, na China; “prana”, na Índia) no corpo. Na Idade Média europeia, a influência da religião cristã manteve a concepção da doença como resultado do pecado e a cura como questão de fé; o cuidado de doentes estava, em boa parte, entregue a ordens religiosas, que administravam inclusive o hospital, instituição que o cristianismo desenvolveu muito, não como um lugar de cura, mas de abrigo e de conforto para os doentes. Mas, ao mesmo tempo, as ideias hipocráticas se mantinham, através da temperança no comer e no beber, na contenção sexual e no controle das paixões. Procurava-se evitar o contra naturam vivere, viver contra a natureza. O advento da modernidade mudará essa concepção religiosa. O suíço Paracelsus (1493-1541) afirmava que as doenças eram provocadas por agentes externos ao organismo. Naquela época, e no rastro da alquimia, a química começava a se desenvolver e influenciava a medicina. UNIDADE 1 | RETROSPECTIVA 8 Dizia Paracelsus que, se os processos que ocorrem no corpo humano são químicos, os melhores remédios para expulsar a doença seriam também químicos, e passou então a administrar aos doentes pequenas doses de minerais e metais, notadamente o mercúrio, empregado no tratamento da sífilis, doença que, em função da liberalização sexual, se tinha tornado epidêmica na Europa. Já o desenvolvimento da mecânica influenciou as ideias de René Descartes, no século XVII. Ele postulava um dualismo mente-corpo, o corpo funcionando como uma máquina. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento da anatomia, também consequência da modernidade, afastou a concepção humoral da doença, que passou a ser localizada nos órgãos. No famoso conceito de François Xavier Bichat (1771-1802), saúde seria o “silêncio dos órgãos”. Mas isto não implicou grandes progressos na luta contra as doenças, que eram aceitas com resignação: Pascal dizia que a enfermidade é um caminho para o entendimento do que é a vida, para a aceitação da morte, principalmente de Deus. Mais tarde, os românticos não apenas aceitariam a doença, como a desejariam: morrer cedo (de tuberculose, sobretudo) era o destino habitual de poetas e músicos como Castro Alves e Chopin. Para o poeta romântico alemão, a doença refinaria a arte de viver e a arte propriamente dita. Saúde, nestas circunstâncias, era até dispensável [...]. Frente a essa breve exposição histórica, observamos que a ciência buscava cada vez mais seu desenvolvimento junto à descoberta de novas causas de novas doenças, que vinham surgindo e até hoje observamos. Nesta perspectiva, nos deparamos também no final do século XIX com a utilização do microscópio (descoberto no século XVII), sendo que Louis Pasteur muito se utilizou dele e assim conseguiu descobrir a existência de “microrganismos causadores de doenças e possibilitando a introdução de soros e vacinas”. Com isso, ocorreu a possibilidade de prevenir e curar doenças. Os anos se passaram e a medicina foi cada vez mais evidenciada, e de acordo com Scliar, (2007), passou-se a contabilizar a doença, que teve seu início com o médico inglês John Snow (1813-1858). Ainda conforme Scliar (2007, p. 35): Se a saúde do corpo individual podia ser expressa por números – os sinais vitais –, o mesmo deveria acontecer com a saúde do corpo social: ela teria seus indicadores, resultado desse olhar contábil sobre a população e expresso em uma ciência que então começava a emergir, a estatística. Com isso, os métodos numéricos passaram a ser vistos com muito apresso, pois auxiliava na “denominada “anatomia política”, que foi introduzida por Willian Petty (1623-1687), que coletava dados sobre a população, educação, produção e também doenças” (SCLIAR, 2007, p. 35). TÓPICO 1 | RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DA SAÚDE 9 É interessante também observar que além desse médico, William Petty, um comerciante de profissão, John Graunt (1620-1674), “membro da Royal Society, havia conduzindo, com base nos dados obituários, os primeiros estudos analíticos de estatística vital” (SCLIAR, 2007, p. 35). Com esses dados, John Graunt identificava as diferentes formas de mortalidade, nos mais variados grupos da população, além de verificar dados relacionados com o sexo, lugar onde residia. Estas pesquisas foram de relevância, pois, assim, construiu-se a possibilidade de verificar quais pessoas, seus níveis de renda familiar, os espaços insalubres e a necessidade de se buscar meios para a busca da saúde, a urbanização e melhores condições de vida à população. Vários estudos foram realizados e todos buscavam encontrar respostas que auxiliassem na manutenção da saúde, e foi verificado na Inglaterra, através do médico Wiliam Faar (1807-1883), que os números relacionados com a mortalidade “se combinavam com vívidos relatos”, chamando assim a atenção junto às desigualdades “entre os distritos “sadios” e os “não sadios” do país”. (SCLIAR, 2007, p. 35). Caro acadêmico! Não nos parece familiar que as diferenças sociais ainda persistam junto ao nosso cotidiano? Vamos agora verificar que nesta linha histórica da construção e manutenção da saúde no mundo teve seu caminhar, sendo que nos Estados Unidos, em meados de 1850, verificando-se a falta de sanitariedade, em Massachusetts, reuniram-se médicos e leigos para verificar os relatos feitos por Lemuel Shattuck, que relatou em seus escritos a falta de higiene nesta cidade (SCLIAR, 2007). Com isso, verificou-se nessa continuidade histórica, que a população e os operários sofriam de muitas doenças, devido à falta de condições humanas para sua vivência, em suas casas, e desta maneira Karl Marx (1850) apresentava em suas falas e escritos os males do capitalismo e dando margem a enormes mudanças na sociedade. As palavras de Marx (1850) não foram ouvidas e somente com o parecer de um capitalista, os demais empresários perceberam que se não dessem condições de saúde para seus operários os mesmos empresários estariam perdendo sua mão de obra, os operários. Dessa maneira, “[...] Otto von Bismarck, o Chanceler de Ferro, criou em 1883, um sistema de seguridade social e de saúde que, por vários aspectos, foi pioneiro” (SCLIAR, 2007, p. 36). Este sistema de seguridade social e de saúde foi utilizado por vários países como Alemanha, França,Grã-Bretanha, entre outros, cada um a seu modo, adequando-o para melhor auxiliar a população, pois com o fim da Primeira Guerra Mundial e percebendo a fragilidade em que se encontrava o povo, foi UNIDADE 1 | RETROSPECTIVA 10 necessário os governos organizarem-se para diminuir as agruras que a população havia passado e que agora enfrentava. Cabe salientar que mesmo perante a busca de melhor qualidade de vida para a população dos diversos países aqui apresentados e dentro outros não nomeados, o conceito universal de Saúde só foi elaborado a partir do final da Segunda Guerra Mundial, com a criação da ONU – Organização das Nações Unidas, além da OMS – Organização Mundial da Saúde. 3 A OMS E O CONCEITO DE SAÚDE A Organização Mundial da Saúde – (OMS) conseguiu conceituar saúde, através de uma carta de princípios, em 7 de abril de 1948, também conhecida como Constituição da Organização Mundial da Saúde, sendo dado o reconhecimento do direito à saúde a toda população e a obrigação do Estado na promoção da ação, que se conceitua desta maneira: “Saúde é o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de afecções e enfermidade” (OMS, 1946). É importante salientar que a partir desta conceptualização, a saúde passa a ser vista como princípio basilar para a felicidade do povo e a manutenção harmoniosa com as demais nações. Esta manutenção de paz e segurança entre as nações nos remete aos direitos que toda e qualquer pessoa possui como direito à saúde, não criando situações de abandono de seus países em busca de melhores condições de vida em outros países. Caro acadêmico! Temos exemplos bem claros em nossos telejornais sobre a imigração de diversas pessoas de outros países em busca destas condições de saúde, habitação, segurança e educação. De acordo com a Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS/ WHO) de 1946, disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/ OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/constituicao-da- organizacao-mundial-da-saude-omswho.html>. Acesso em: 23 jul. 2018, diz que cada membro da população mundial deve: Gozar do melhor estado de saúde que é possível atingir constitui um dos direitos fundamentais de todo o ser humano, sem distinção de raça, de religião, de credo político, de condição econômica ou social. A saúde de todos os povos é essencial para conseguir a paz e a segurança e depende da mais estreita cooperação dos indivíduos e dos Estados. Os resultados conseguidos por cada Estado na promoção e proteção da saúde são de valor para todos. O desigual desenvolvimento em diferentes países no que respeita à promoção de saúde e combate às doenças, especialmente contagiosas, constitui um perigo comum. O desenvolvimento saudável da criança é de importância basilar; a aptidão para viver harmoniosamente num meio variável é essencial a tal desenvolvimento. A extensão a todos os povos dos benefícios dos conhecimentos médicos, psicológicos e afins é essencial para atingir o mais elevado TÓPICO 1 | RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DA SAÚDE 11 grau de saúde. Uma opinião pública esclarecida e uma cooperação ativa da parte do público são de uma importância capital para o melhoramento da saúde dos povos. Os Governos têm responsabilidade pela saúde dos seus povos, a qual só pode ser assumida pelo estabelecimento de medidas sanitárias e sociais adequadas. Aceitando estes princípios com o fim de cooperar entre si e com os outros para promover e proteger a saúde de todos os povos, as partes contratantes concordam com a presente Constituição e estabelecem a Organização Mundial da Saúde como um organismo especializado, nos termos do artigo 57 da Carta das Nações Unidas. Perante o que nos foi apresentado na citação anterior, nós observamos que o conceito de saúde abarca os seguintes campos: • a biologia humana, que compreende a herança genética e os processos biológicos inerentes à vida, incluindo os fatores de envelhecimento; • o meio ambiente, que inclui o solo, a água, o ar, a moradia, o local de trabalho; • o estilo de vida, do qual resultam decisões que afetam a saúde: fumar ou deixar de fumar, beber ou não, praticar ou não exercícios; • a organização da assistência à saúde. A assistência médica, os serviços ambulatoriais e hospitalares e os medicamentos são as primeiras coisas em que muitas pessoas pensam quando se fala em saúde. No entanto, esse é apenas um componente do campo da saúde, e não necessariamente o mais importante; às vezes, é mais benéfico para a saúde ter água potável e alimentos saudáveis do que dispor de medicamentos. É melhor evitar o fumo do que submeter-se a radiografias de pulmão todos os anos. É claro que essas coisas não são excludentes, mas a escassez de recursos na área da saúde obriga, muitas vezes, a selecionar prioridades. Frente ao exposto, observa-se que a OMS – Organização Mundial da Saúde – tem como base a manutenção da saúde, sendo que os países junto a seus governos devem trabalhar para que a saúde seja um valor universal, dado a todos sem nenhuma distinção. Para tanto, os governos devem elaborar seus programas de saúde, que detenham como objetivo a qualidade de vida da população e que devem estar apresentados em suas Constituições Federais. Mas, o que esta organização tem de importância junto aos governos dos países membros? UNIDADE 1 | RETROSPECTIVA 12 FIGURA 3 – SÍMBOLO ORGANIZAÇAO MUNIDAL DA SAÚDE – OMS FONTE: <https://www.infoescola.com/saude/organizacao-mundial-de-saude-oms/>. Acesso em: 25 jul. 2018. Esta Organização Mundial da Saúde (OMS) é vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), que foi criada logo depois da Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de atuar nas diversas áreas da sociedade, incluindo a saúde, pois após a Segunda Guerra Mundial, as populações eram vistas em frágil estado de saúde e demais necessidades básicas. A OMS, de acordo com Antônio Gasparetto Júnior (2017, p. 1), nos coloca algumas informações sobre esta organização que será deixada na íntegra para sua apreciação, caro acadêmico. [...] A Organização Mundial de Saúde (OMS) [...] Em sua constituição, a saúde é definida como bem-estar físico, mental e social, ou seja, não necessariamente apenas a ausência de uma enfermidade. Atualmente, a OMS é composta por 193 Estados-membros que incluem territórios que não necessariamente são membros da Organização das Nações Unidas também. Há ainda espaço reservado para os membros associados e os membros observadores. Mas são os Estados-membros que decidem pela adesão de outros países através de assembleias, que são realizadas anualmente no mês de maio. A organização é dirigida por um Diretor Geral com mandato de cinco anos que é assessorado por uma Direção Executiva composta de 34 membros. O financiamento da OMS também é proveniente dos Estados-membros e de doadores e parceiros variados, que, por sua vez, colaboram com mais investimentos do que os Estados-membros. A Organização Mundial de Saúde se encarrega de liderar questões e parcerias para o desenvolvimento da saúde, de estimular a pesquisa científica, de estabelecer normas na área, de prestar apoio técnico e de monitorar a TÓPICO 1 | RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DA SAÚDE 13 situação da saúde no mundo. Além disso, patrocina programas para prevenir e tratar a malária e a tuberculose, supervisiona a implementação do Regulamento Sanitário Internacional, realiza campanhas de saúde, promove pesquisas sobre doenças de variadas categorias em diversos países e publica periódicos para o desenvolvimento da área. A Organização Mundial de Saúde tem sede em Genebra, na Suíça. O Brasil é um dos membros da OMS e tem participação representativa, pois foram seus delegados, inclusive, que propuseram a criação de uma organização dedicada a promover a saúde pública mundial. Até hoje, há intensa cooperação entre Brasil e OMS. FONTE: <https://www.infoescola.com/saude/organizacao-mundial-de-saude-oms/>. Acesso em: 25 jul. 2018. De acordocom o recorte do texto de A. Gasparetto Júnior (2017), podemos perceber que o Brasil se faz presente neste movimento de manutenção da saúde para a população perante a Organização Mundial da Saúde. Mas, como ela se faz presente dentro das políticas públicas de saúde? Veremos a seguir... 4 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E A SAÚDE DA POPULAÇÃO O Brasil é um país, como já vimos, que faz parte da OMS e possui participação representativa neste órgão. Assim, buscou-se através de leis produzir ações para a manutenção e obtenção da saúde. Para tanto, os governantes criaram com a promulgação da Constituição Federal, em 1988, na Seção II – Da Saúde, em seu artigo 196, a seguinte afirmação: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988). Frente a esta afirmação, podemos compreender que o Brasil se encontra conectado com o objetivo da OMS, dando assim a ideia de priorizar a saúde pública de qualidade para toda a população, tendo com isso a responsabilidade de ver a saúde como “direito subjetivo público, exigível do Estado, o qual deve atuar tanto de forma preventiva como reparativa ou curativa, sendo que a atuação preventiva foi privilegiada” (MACHADO, 2016, p. 1035). Desta maneira, a Constituição Federal (1988) traz também em suas linhas e artigos 196 a 200, uma estrutura mais didática, que conforme Machado (2016, p. 1035): [...] no artigo 196, apresenta o conceito de saúde como direito social e das ações e serviços de saúde como de relevância pública (art. 197), passando pela descrição do funcionamento, das diretrizes e UNIDADE 1 | RETROSPECTIVA 14 financiamento das ações e serviços públicos de saúde, consubstanciadas em um sistema único (art. 198) e chegando a delimitação da atuação da iniciativa privada na assistência à saúde. (art. 199); e as competências e outras atribuições nos termos da lei junto ao Sistema único de saúde (art. 200). Referente a estes artigos vamos tratar de cada um, dando, assim, uma ideia de como a saúde é vista pela lei junto à população. Já vimos que no artigo 196, o Estado é responsabilizado pela garantia da saúde através de políticas sociais e econômicas que venham a reduzir os riscos de doenças junto à população. Já o artigo 197 assim se apresenta: Art. 197 São de relevância pública as ações e serviços de saúde. Cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado (BRASIL, 1988). Com este artigo observamos que o Estado deve desenvolver ações e serviços de saúde, mas que, de acordo com Costa Machado (2016, p. 1036): “o presente dispositivo faculta, contudo, que a execução dessas atividades seja levada a cabo por terceiros em nome do Estado, bem como pessoas físicas ou jurídicas de direito privado”. Frente a isso, o Estado, mesmo dando a possibilidade de ações à iniciativa privada, deve ser regulamenta e fiscalizada pelo Poder Público, sendo esta também de relevância pública. Referente ao Artigo 198, da CF/88, encontramos a seguinte escrita: “As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes”: I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo: com esta primeira diretriz, de acordo com Costa Machado (2016, p. 1037), “a descentralização não é característica essencial da técnica da seguridade social em nenhum de seus vértices e nem particularmente da saúde”. Esta ação foi apresentada e recomendada pela OMS e pela Organização Pan-americana da Saúde (OPS), pois “a direção única em cada esfera de governo, ao mesmo tempo que respeita a autonomia dos entes federados, pressupõe a definição de um órgão gestor em cada uma dessas esferas, responsável pela regionalização e hierarquização[...]” (MACHADO, 2016, p. 1037). II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais: nesta diretriz encontramos sua base no princípio da universalidade de cobertura e atendimento e que busca mais uma vez as políticas sociais e econômicas que tragam a redução dos riscos de doença, pois conforme Costa Machado (2016, p. 1037-1038), “Claro está que nem sempre o atendimento poderá ser integral, razão pela qual já se estipulou que a prioridade TÓPICO 1 | RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DA SAÚDE 15 deve ser dada às atividades preventivas, mais abrangentes e, portanto, mais coerentes com a universalidade de cobertura”. III - participação da comunidade: em se tratando da participação da comunidade, Costa Machado (2016, p. 1038) nos afirma que: Já que a comunidade em geral, por força da universalidade, é destinatária das ações do SUS, é essencial que lhe seja assegurada participação na gestão desse sistema, sobretudo no tocante à regionalização e à adaptação das ações prioritárias às especificidades regionais e locais. Trata-se aqui de uma projeção do princípio do caráter democrático e descentralizado da administração da seguridade social (art. 194, parágrafo único, VII). Com estas diretrizes podemos observar que o artigo 198 nos remete à elaboração de um sistema que em forma de rede regionalizada e hierarquizada possa determinar a “racionalidade às ações e serviços públicos de saúde” (MACHADO, 2016, p. 1037), constituídos sob esta forma. Compreendemos, desta maneira, que as três diretrizes apresentadas anteriormente nos remetem a uma distribuição espacial regionalizada dos serviços de saúde e a sua estruturação com o objetivo de “[...] evitar a duplicidade de meios para fins idênticos e possibilitar a organização do sistema em prol do melhor e mais abrangente atendimento à população [...]”, isso de acordo com Costa Machado (2016, p. 1037). Na diretriz III, da participação da comunidade, encontramos um sistema assim denominado – Sistema Único de Saúde – este sistema, possui um alcance nacional e é visto como um programa de grande qualidade junto à OMS e demais organizações mundiais. Para tanto, vamos conhecer um pouco deste sistema. 5 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS O Sistema Único de Saúde, conhecido como SUS, busca proporcionar a universalização da saúde a todos sem discriminação. Este sistema tem como um de seus objetivos a “[...] atenção integral à saúde, e não somente os cuidados assistenciais, passou a ser um direito de todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a vida, com foco na saúde com qualidade de vida” (MINISÉRIO DA SAÚDE, 2018, s.p.). UNIDADE 1 | RETROSPECTIVA 16 FIGURA 4 – SÍMBOLO DO SUS FONTE: <https://www.google.com.br/search?q=emblema+do+SUS>. Acesso em: 25 jul. 2018. Este sistema de saúde “é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, que abrange desde o simples atendimento para avaliação da pressão arterial até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018, s.p.). Cabe salientar ainda que, conforme o site do Ministério da Saúde, quanto ao SUS e ao conceito de saúde, diz que: A CF-88 e posteriormente, a Lei Orgânica da Saúde, de nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, intensificam debates já existes acerca do conceito. Nesse contexto, entende-se que saúde não se limita apenas a ausência de doença, considerando, sobretudo, como qualidade de vida, decorrente de outras políticas públicas que promovam a redução de desigualdades regionais e promovam desenvolvimentos econômico e social. Dessa maneira, o SUS, em conjunto com as demais políticas, deve atuar na promoção da saúde, prevenção de ocorrência de agravos e recuperação dos doentes. A gestão das ações e dos serviços de saúde deve ser solidária e participativaentre os três entes da Federação: a União, os Estados e os municípios. A rede que compõem o SUS é ampla e abrange tanto ações, como serviços de saúde. Ela engloba a atenção básica, média e alta complexidades, os serviços urgência e emergência, a atenção hospitalar, as ações e serviços das vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental e assistência farmacêutica (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018 s.p.). Com esta explanação compreendemos que o Sistema Único de Saúde possui uma grande representatividade junto à população brasileira e que nos remete a compreender que este sistema possui uma estrutura que está assim delineada, de acordo com o Ministério da Saúde e sua estrutura: Ministério da Saúde: Gestor nacional do SUS, formula, normatiza, fiscaliza, monitora e avalia políticas e ações, em articulação com o Conselho Nacional de Saúde. Atua no âmbito da Comissão Intergestores Tripartite (CIT) para pactuar o Plano Nacional de Saúde. Integram sua estrutura: Fiocruz, Funasa, Anvisa, ANS, Hemobras, Inca, Into e oito hospitais federais. TÓPICO 1 | RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DA SAÚDE 17 Secretaria Estadual de Saúde (SES): participa da formulação das políticas e ações de saúde, presta apoio aos municípios em articulação com o conselho estadual e participa da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) para aprovar e implementar o plano estadual de saúde. Secretaria Municipal de Saúde (SMS): planeja, organiza, controla, avalia e executa as ações e serviços de saúde em articulação com o conselho municipal e a esfera estadual para aprovar e implantar o plano municipal de saúde. Conselhos de Saúde: O Conselho de Saúde, no âmbito de atuação (Nacional, Estadual ou Municipal), em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo. Cabe a cada Conselho de Saúde definir o número de membros, que obedecerá a seguinte composição: 50% de entidades e movimentos representativos de usuários; 25% de entidades representativas dos trabalhadores da área de saúde e 25% de representação de governo e prestadores de serviços privados conveniados, ou sem fins lucrativos. Comissão Intergestores Tripartite (CIB): foro de negociação e pactuação entre gestores federal, estadual e municipal, quanto aos aspectos operacionais do SUS. Comissão Intergestores Bipartite (CIB): foro de negociação e pactuação entre gestores estadual e municipais, quanto aos aspectos operacionais do SUS. Conselho Nacional de Secretário da Saúde (Conass): entidade representativa dos entes estaduais e do Distrito Federal na CIT para tratar de matérias referentes à saúde Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems): entidade representativa dos entes municipais na CIT para tratar de matérias referentes à saúde. Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems): são reconhecidos como entidades que representam os entes municipais, no âmbito estadual, para tratar de matérias referentes à saúde, desde que vinculados institucionalmente ao Conasems, na forma que dispuserem seus estatutos (2018, p. 1). Observamos que esta estrutura possui uma hierarquização, a qual já mencionamos anteriormente, e que determina as engrenagens que fazem este sistema funcionar. Cabe salientar que a cada segmento desta estrutura compete organizar e manter o processo de gestão e funcionamento do sistema, repassando aos órgãos competentes planilhas, que auxiliem na organização e na dinamicidade dos programas desenvolvidos pelo Ministério da Saúde, que serão, alguns deles UNIDADE 1 | RETROSPECTIVA 18 mencionados neste capítulo no que tange à saúde das crianças de 0 a 10 anos de idade. Fica claro também para todos que para esta estrutura funcionar necessita de princípios norteadores, os quais estão interligados com a Organização Mundial da Saúde, que são: Universalização: a saúde é um direito de cidadania de todas as pessoas e cabe ao Estado assegurar este direito, sendo que o acesso às ações e serviços deve ser garantido a todas as pessoas, independentemente de sexo, raça, ocupação, ou outras características sociais ou pessoais. Equidade: o objetivo desse princípio é diminuir desigualdades. Apesar de todas as pessoas possuírem direito aos serviços, as pessoas não são iguais e, por isso, têm necessidades distintas. Em outras palavras, equidade significa tratar desigualmente os desiguais, investindo mais onde a carência é maior. Integralidade: este princípio considera as pessoas como um todo, atendendo a todas as suas necessidades. Para isso, é importante a integração de ações, incluindo a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o tratamento e a reabilitação. Juntamente, o princípio de integralidade pressupõe a articulação da saúde com outras políticas públicas, para assegurar uma atuação intersetorial entre as diferentes áreas que tenham repercussão na saúde e qualidade de vida dos indivíduos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018, p. 1). Com isso, para finalizar este tópico, apresentamos para você, acadêmico, um recorte da Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde, a qual se encontra na íntegra no site: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartas_direitos_ usuarios_saude_3ed.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2018. A carta que está em suas mãos é fruto de um trabalho cuidadoso, que visa garantir o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde. A Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde foi aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) em sua 198ª Reunião Ordinária, realizada no dia 17 de junho de 2009. E talvez seja uma das mais importantes ferramentas para que você, cidadão(ã) brasileiro(a), conheça seus direitos e possa ajudar o Brasil a ter um sistema de saúde com muito mais qualidade. O documento, que tem como base seis princípios básicos de cidadania, caracteriza-se como uma importante ferramenta para que o cidadão conheça seus direitos e deveres no momento de procurar atendimento de saúde, tanto público como privado. O presente documento foi elaborado de acordo com seis princípios basilares que, juntos, asseguram ao cidadão o direito básico ao ingresso digno nos sistemas de saúde, sejam eles públicos ou privados. 1. Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde. 2. Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo para seu problema. TÓPICO 1 | RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DA SAÚDE 19 3. Todo cidadão tem direito ao atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação. 4. Todo cidadão tem direito a atendimento que respeite a sua pessoa, seus valores e seus direitos. 5. Todo cidadão também tem responsabilidades para que seu tratamento aconteça da forma adequada. 6. Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores da saúde para que os princípios anteriores sejam cumpridos. Para o Conselho Nacional de Saúde é importante que todos se apossem do conteúdo da Carta, elaborada com uma linguagem acessível e, assim, permitir o debate e apropriação dos direitos e deveres nela contidos por parte dos gestores, trabalhadores e usuários do SUS. Veja, a seguir, a Portaria nº 1.820, de 13 de agosto de 2009, publicada no Diário Oficial da União nº 155, de 14 de agosto de 2009, que dispõe sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde. Conselho Nacional de Saúde Não esquecendo que, além dos direitos, a população possui também seus deveres frente à utilização deste sistema de saúde. Assim, deixamos para você, acadêmico, um pouco de como a saúde e o sistema de saúde é organizado junto a um país, como o Brasil. No Tópico 2, estaremos tratando da política de saúde como uma política social e da participaçãoda população neste movimento de manutenção da saúde individual e coletiva. 20 Neste tópico você estudou que: • A saúde possui sua representação em cada época, dependo do lugar e da classe social. • Para as mais variadas culturas existem conceitos de saúde, como ocorre na cultura indígena, na qual o Xamã, possuía a função de expulsar dos corpos os maus espíritos. • Na medicina grega, a saúde possuía suas deusas, entre elas estão Higieia (deusa da saúde) e Panacea (deusa da cura). • Na teoria de Hipócrates existiam quatro fluídos (humores) relacionados ao corpo que são bile amarela, bile negra, fleuma e sangue que precisam estar em equilíbrio. • A Organização Mundial da Saúde – (OMS), conseguiu conceituar saúde, através de uma carta de princípios em 7 de abril de 1948, também conhecida como Constituição da Organização Mundial da Saúde. • Em nossa Constituição Federal, de 1988, na Seção II - Da Saúde, em seu artigo 196, é garantida a saúde como um direito de todos e dever do Estado. • O SUS - Sistema Único de Saúde proporciona a população saúde a todos sem discriminação, tendo como objetivo atenção integral à saúde com foco na qualidade de vida. RESUMO DO TÓPICO 1 21 1 No que diz respeito à história da saúde, observamos que existe uma crescente busca pela saúde, de maneira a construir sociedades mais saudáveis e produtivas. Com isso, como você percebe na atualidade o oferecimento da saúde para a população? Ela pode ser caracterizada de que maneira frente ao que estudamos até o momento? 2 A população brasileira, através da Constituição Federal de 1988, possui o Sistema Único de Saúde – SUS. Este sistema é mantido pelo Governo Federal e é considerado um dos programas mais bem elaborados no que se refere à saúde pública. Para tanto, qual é o principal objetivo deste programa de saúde? AUTOATIVIDADE 22 23 TÓPICO 2 POLÍTICA DE SAÚDE: UMA POLÍTICA SOCIAL E SEUS PROGRAMAS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO No Tópico 2, nós vamos dar continuidade ao que falamos no tópico anterior, ressaltando que a saúde em sua plenitude necessita ser acompanhada por ações que estejam adequadas à população independentemente de classe social. Isso necessita ser visto pelos governantes, os quais são escolhidos pela população no desejo de encontrar para si e para os outros melhor qualidade de vida em todos os âmbitos, seja educacional, econômico e segurança e saúde. Assim, a saúde é nosso foco de trabalho neste momento. Com isso, acredita-se que para obtermos este objetivo de qualidade de vida, faz-se necessária a presença de políticas públicas de saúde, as quais se tornam políticas sociais. Para tanto, estaremos retratando também o que a União desenvolve junto à população e como os Estados e Municípios ampliam estes programas voltados à saúde pública. Isto e muito mais vamos tratar neste tópico. Preparado, caro acadêmico? Então vamos a ele! 2 POLÍTICA DE SAÚDE: UMA POLÍTICA SOCIAL De acordo com o Artigo 196 da Constituição Federal, Seção II, que trata da saúde, saúde é “um direito de todos e dever do Estado, garantindo, mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças [...]” (grifo nosso) (CF, 1988, s.p.). Este artigo nos faz pensar no que diz respeito às palavras deixadas em negrito por mim, “políticas sociais e econômicas”. Mas o que são políticas sociais? O que a questão econômica envolve neste movimento? A política social é difícil de conceituar, pois ela pode ser vista de vários ângulos, tanto pela classe trabalhadora como pelo sistema econômico. Aqui, não buscaremos permanecer em nenhum dos lados, mas sim, buscaremos tratar a política social de maneira universal, sendo como de direito a todos, conforme apregoa a Constituição Federal/88. Frente a isso, necessitamos conceituar política, social e economia, para assim construirmos nosso entendimento desta engrenagem que movimenta os programas de saúde em nosso país e mundo. UNIDADE 1 | RETROSPECTIVA 24 Por Políticas Públicas podemos entender, de acordo com Santos (2014, p. 5), que: “são ações geradas na esfera do Estado e que têm como objetivo atingir a sociedade como um todo ou partes dela”. A Política é um movimento que nasceu na Grécia Antiga, e que enquanto sistema político, é uma forma de governo na qual engloba instituições políticas para governar uma nação. De acordo ainda com Santos (2012, p. 2), a política: “[...] sempre está ligada ao exercício do poder em sociedade, seja em nível individual, quando se trata das ações de comando, seja em nível coletivo, quando um grupo (ou toda sociedade) exerce o controle das relações de poder em uma sociedade”. Com isso, podemos compreender que a política enfoca em suas entrelinhas um movimento que para muitos está velado, oculto. Estamos falando do “Poder”. Isso mesmo, o poder! Mas como ele pode estar envolto com a palavra política? Santos (2012, p. 2) nos explica da seguinte maneira: [...] é importante ressaltar que o poder (em suas mais variadas manifestações) pode ser exercido mediante o uso da coação e/ou da persuasão. Em matéria de política, ambas as opções são tidas como válidas tudo depende de quem exerce o poder e de como opta por exercê-lo. Assim, nós podemos observar que o poder, em detrimento de valores individuais, acaba deixando de lado uma população, criando fragilidades no sistema de saúde aqui evidenciado, colocando na berlinda o que deveria ser um dos tripés da qualidade de vida de uma nação. De acordo com Baruffi (2016, p. 5), [...] a política possui várias possibilidades, dentre elas nos deparamos com as que nos levam a construir uma sociedade com diretos e deveres bem estruturados, ou a que leva a termos uma sociedade totalmente desestruturada e mantida como refém de suas ações. Frente ao exposto, precisamos compreender que a política pode ser vista de duas maneiras, uma voltada para uma ação propícia ao povo ou voltada aos interesses individuais dos governantes do momento histórico. Referente ao conceito de social, podemos compreender como aquilo que está sendo referido à sociedade. A sociedade é compreendida como um conjunto de indivíduos que participam de uma mesma cultura; cabendo salientar que a palavra social possui também o objetivo de esclarecer os problemas que a sociedade possui ou está interessado nele (SOCIAL, 2017, p. 1). Temos como último conceito o de economia, que possui como definição: "[...] uma ciência que estuda os processos de produção, distribuição, acumulação e consumo de bens materiais. É a contenção ou moderação nos gastos, é uma poupança” (SIGNIFICADOS, 2013, s. p.). Com isso, podemos determinar o conceito de Política Social como: As ações permanentes ou temporárias relacionadas ao desenvolvimento, à reprodução e à transformação dos sistemas de proteção social. TÓPICO 2 | POLÍTICA DE SAÚDE: UMA 25 [...] Esta é a atividade que decorre da própria dinâmica de atuação dos sistemas de proteção social, ou seja, consiste em sua forma de expressão externa, concretização, e envolve o desenvolvimento de estratégias coletivas para reduzir a vulnerabilidade das pessoas aos riscos sociais (GIOVANELLA, 2012, p. 36). Com isso, a política social compreende ações com cunho de proteção social, buscando assim relações, processos, instrumentos e atividades “que visam a desenvolver as responsabilidades públicas (estatais ou não) na promoção da seguridade social e bem-estar” (GIOVANELLA, 2012, p. 36). É importante desta forma, salientar que as políticas sociais, tradicionalmente, abrangem áreas como: saúde, assistência social e previdência, que são espaços que envolvem o bem-estar social, como também a área habitacional e educacional, pois de acordo com Giovanella (2012, p. 36), “Quando se fala em política social como ação concreta de produção social, uma nova questão se coloca: compreender como os sistemas de proteção social são geridos, e principalmente, como eles agem concreta e diretamente sobre a realidade social”. Comoos sistemas de proteção social são construídos e como eles agem diretamente sobre esta realidade social vivida pela população? Se observarmos o sistema de saúde que possuímos próximo de nós, verificamos que existem diversas engrenagens que a tornam dinâmica, assim, “a construção da política de saúde como política social acaba envolvendo diversos aspectos políticos, sociais, econômicos, institucionais, estratégicos, ideológicos, teóricos, técnicos, culturais [...]” (GIOVANELLA, 2012, p. 37). Com isso, percebemos que cada aspecto está entrelaçado, encaixado, sendo necessária a participação de todos, não sendo visto de maneira isolada, mas sim, conjunta frente à política de saúde. Manter este envolvimento, este entrelaçamento, com os aspectos mencionados acima, acaba denotando que existem diversas relações, sendo ela desde o mais alto escalão do governo, até a população que recebe estas ações na forma de programas de saúde, sendo que para cada ação são necessários planos, estratégias, instrumentos diferenciados, observando-se as questões relativas às áreas e culturas envolvidas, pois, de acordo com Giovanella (2012, p. 37), “[...] a política de saúde se encontra na interface entre Estado, sociedade e mercado”. Mas de que maneira? Observe que cada segmento possui sua responsabilidade, seja o Estado, a sociedade e o mercado, posicionando a cada um deles, o que cabe fazer. ESTADO: sua responsabilidade fica relacionada à definição de normas e obrigações, e buscar junto ao recolhimento de recursos utilizando-os para a implementação de programas e ações que atinjam a população através de serviços na área da saúde pública, além de definir leis que sejam sancionadas e levadas ao UNIDADE 1 | RETROSPECTIVA 26 desenvolvimento de novas tecnologias e de recursos humanos. SOCIEDADE: paga seus impostos, os quais financiam os programas que o estado desenvolve, e de acordo com Giovanella (2012, p. 37), “a sociedade tem atitudes e preserva valores em relação ao corpo e ao bem-estar, comporta- se de formas que afetam a saúde, coletiva e/ou individualmente (poluição, sedentarismo, consumo de drogas)”. MERCADO: realiza a “produção de insumos, oferece serviços de seguro e participa da oferta de serviços e da formação de recursos humanos” (GIOVANELLA, 2012, p. 37). Com este movimento, observamos que as engrenagens da política de saúde determinam que é necessária a construção de dinâmica, a qual faz com que os programas e ações desenvolvidas pelo Estado cheguem até a população. Para tanto, faz-se necessária a organização e dinamicidade das políticas de saúde. De acordo com Giovanella (2012, p. 37-38), devem ser considerados como de extrema importância sete aspectos essenciais na gestão da política de saúde a saber: 1. A definição de objetivos (finalidades) da política: a política de saúde se constrói buscando atingir objetivos projetados e acordados como garantidores de padrões de proteção mínimos contra riscos sociais e a promoção do bem- estar (redução e eliminação de enfermidades, distribuição de benefícios para manter nível de renda em patamares aceitáveis, regulação de relações sociais como familiares e empresariais); 2. A construção e o emprego de estratégias, planos, instrumentos e técnicas capazes tanto de analisar e monitorar as condições sociais de existência da população quanto de desenhar estratégias, metas e planos detalhados de ação; 3. O desempenho simultâneo de papéis políticos e econômicos diferentes – a política de saúde produz efeitos em diversas relações sociais ao mesmo tempo (promoção da igualdade; legitimação política de grupos governamentais, manutenção da dinâmica econômica); 4. A construção oficial de arenas, canais e rotinas para orientar os processos decisórios que definam as estratégias e os planos de ação da política; 5. A assimilação, contraposição e/ou compatibilização de diferentes projetos sociais provenientes dos mais diversos atores presentes na cena política de um país; 6. O desenvolvimento, a reprodução e a transformação de marcos institucionais e econômicos, que permeiam, sustentam, a política e a interligam ativamente ao sistema de proteção social; 7. A formação de referenciais éticos e valorativos da vida social – a afirmação e a difusão de valores éticos, de justiça e igualdade, de referências sobre a natureza humana fundada em evidências cientificamente legitimadas, de ideais de organização política e social, de elementos culturais e comportamentais. TÓPICO 2 | POLÍTICA DE SAÚDE: UMA 27 Todos esses elementos são centrais na construção da política de saúde e estão presentes no cotidiano da ação dos sistemas de proteção social sobre a realidade. Com estes elementos, tem-se o norte para a elaboração e manutenção de ações que possam chegar até a população; mas observe, caro acadêmico, é necessária a participação de todos neste processo para serem alcançados os objetivos propostos. Com isso, a definição dos objetivos acarreta a base da construção de políticas de saúde, que a partir de sua definição as estratégias, os recursos serão melhor delineados para sua posterior aplicabilidade. Assim, ao realizarmos a elaboração de uma política, aqui neste caso, de saúde, juntamente com os objetivos necessitamos verificar que tipo de valores estarão dando suporte a essa política, pois com este movimento encontramos dois pontos que influenciarão esta elaboração, que de acordo com Giovanella (2012, p. 39), assim se apresentam: O primeiro consiste na visibilidade política que essa forma de se apresentar comporta, permitindo que chefes de governo divulguem com mais facilidade suas realizações, indo ao encontro dos anseios da população. O segundo deve-se a que o conceito permite que se tenha uma visão totalizante da política, possibilitando avaliar seus rumos. Cabe salientar em se tratando de objetivos, a construção de estratégias, planos e técnicas, auxiliam também no desenvolvimento de mecanismos que reiteram a aplicabilidade de ações nos mais variados setores da população, oferecendo a estes, condições dignas e adequadas de políticas de saúde em suas especificidades. Ressalta-se aqui, que, se os objetivos propostos não são alcançados, tanto estratégias como planos acarretarão o aumento das desigualdades e não sua redução; quanto à melhoria das condições de vida não serão atingidas. Mas, fica a pergunta: então, não teremos política de saúde, se ela não chegar a atender o proposto em seus planos? De acordo com Giovanella (2012, p. 39-40), Ao negar a existência de políticas concretas porque não estão atendendo as finalidades que consideramos ser aquelas da política de saúde, estaríamos perdendo a possibilidade de compreender a realidade e, por conseguinte, interferir em seu curso. Portanto, o conhecimento das realidades setoriais concretas, e não apenas o projeto de uma situação ideal, é um aspecto essencial para compreender como as políticas de saúde interagem com a realidade, que efeitos causam, e como essas realidades afetam a elaboração da política. UNIDADE 1 | RETROSPECTIVA 28 Percebemos através da citação da autora acima apresentada que para existir uma política de saúde eficaz, faz-se necessária a instrumentalização, a busca por estratégias técnicas que auxiliarão no cumprimento de determinado objetivo ou meta, seja ela em qualquer campo de atuação. Como exemplo podemos apresentar a vacinação das crianças relativa a diversas doenças como poliomielite, sarampo, entre outros. Salientamos ainda que as políticas de saúde necessitam, além de objetivos e técnicas, o aspecto instrumental, que busca visualizar as ações a serem desenvolvidas, os resultados a serem alcançados, quem realizará a execução do projeto ou programa, os recursos a serem utilizados nesta ação, qual é a origem destes recursos, a forma de avaliar o programa desenvolvido. Tudo isso é necessário para o desenvolvimento de um plano estratégico. O plano estratégico para ser desenvolvido necessita de trêselementos essenciais em sua formulação de acordo com Caldas (2008, p. 1): Formação da Agenda (Seleção das Priori dades) Formulação de Políticas (Apresentação de Soluções ou Alternativas) Processo de Tomada de Decisão (Escolha das Ações) Implementação (ou Execução das Ações) Avaliação Seguindo esta linha de pensamento, é determinado que as políticas públicas possuam uma dinâmica, a qual para sua eficácia necessita de organização para a obtenção de sucesso em seus objetivos, os quais devem servir de prioridade para a sociedade, conseguindo efeitos nas diversas relações sociais, além de promoção de igualdade, e manutenção da dinâmica econômica para o bem-estar da população. Com isso, temos que ter bem claro, que a realização das políticas públicas não é um caminho fácil de ser trilhado, pois sabemos que muitas vezes não existe consenso sobre os diversos problemas de política de saúde, pois existem diversos grupos sociais que divergem de opinião e possuem percepções distintas sobre as ações de como devem ser realizadas, pois, de acordo com Giovanella (2012, p. 45), “[...] não é fácil produzir uma política qualquer, sem que antes se obtenha a assimilação mínima dos múltiplos interesses envolvidos”. Com isso, observamos que são estabelecidas relações de poder, para o posterior estabelecimento de políticas de saúde eficazes e que acabe definindo TÓPICO 2 | POLÍTICA DE SAÚDE: UMA 29 os programas, ações, estratégias que culminem com a prática e eficácia dos programas junto à agenda pública de saúde, pois conforme Paim e Teixeira (2006, p. 74), Entende-se como política de saúde a resposta social de uma organização (como o Estado) diante das condições de saúde dos indivíduos e das populações e seus determinantes, bem como em relação à produção, distribuição, gestão e regulação de bens e serviços que afetam a saúde humana e o ambiente. Frente ao citado, as políticas de saúde são desenvolvidas a partir das necessidades, que possuem um círculo de poder, muitas vezes oculto, que está determinado em círculos de relação de poder, que originam todas as etapas elencadas por Caldas já citada anteriormente. “Essas relações se expressam em espaços específicos, chamados “arenas”, por meio de regras determinadas e processos previamente estabelecidos” (GIOVANELLA, 2012, p. 45). Nestas arenas, alguns atores podem participar, mas em outras arenas (espaços) não, dando assim uma compreensão de que as políticas públicas de saúde possuem suas instâncias colegiadas de decisão. Nesta estrutura de construção de políticas públicas de saúde, deparamo- nos com diversos espaços, colegiados, os quais determinam sua hierarquização dentro do processo decisório destas políticas, nas quais são necessárias negociações e pactuação intergovernamental, com formação de vontade política e a participação e controle social, que fica a cargo 50% pelo governo de contrapartida e 50% da sociedade civil. Este movimento ocorre com a participação das esferas federal, estadual e municipal, tendo cada um a reponsabilidade de constituir seus conselhos e realizar conferências de saúde para a fomentação de planos para a manutenção e/ ou obtenção da saúde pública. Cabe salientar que se buscarmos um olhar mais apurado para as políticas de saúde, encontraremos sempre impregnados nestas políticas as relações de poder, as quais para Silva (2012, p. 2) são: “[...] o poder (em suas mais variadas manifestações) pode ser exercido mediante o uso da coação e/ou da persuasão. Em matéria de política, ambas as opções são tidas como válidas tudo depende de quem exerce o poder e de como opta por exercê-lo”. Em se tratando de políticas de saúde, compreendemos que elas a partir da sua formulação e posterior aplicação, devemos ter em conta que esta formulação levará a uma interação com “macroprocessos sociais, que irão delimitar o campo de expansão dessa política, normalmente reforçando-a ou restringindo-a” (GIOVANELLA, 2012, p. 48). Com isso, cabe salientar que as políticas de saúde, a partir de uma padronização, estarão construindo um padrão de sociedade que é desejado ao UNIDADE 1 | RETROSPECTIVA 30 poder público. Por isso, a necessidade da participação ativa da sociedade civil organizada na formulação e observação das políticas de saúde que são ou não desenvolvidas em seu município. Fica claro aqui, caro acadêmico, que as políticas públicas de saúde são formuladas pela esfera federal, mas, é importante salientar que sua construção e aplicabilidade fica, na atualidade de fácil visualização e conhecimento, através das plataformas de transparência do governo federal e que, nós, cidadãos, temos a possibilidade de ver, analisar, e posteriormente cobrar de nossos governantes a sua aplicabilidade em nosso estado ou município. Nossa participação é essencial nestas políticas públicas. Tendo compreendido esta estrutura e sua logística relativas às políticas públicas e sua construção, vamos nos ater à participação dos estados da federação e dos municípios na aplicabilidade dos programas que posteriormente estaremos apresentando, para o bem-estar da população. 3 AS PARTICIPAÇÕES DOS ESTADOS E MUNICÍPIOS NAS POLÍTICAS DE SAÚDE Conforme vimos anteriormente a construção das políticas públicas de saúde são realizadas a partir de atores que formam os segmentos da elaboração das agendas (saúde). O governo federal possui sua parcela de responsabilidade na elaboração dos planos e programas de saúde, verificando que ações são necessárias para atingir o público alvo de problemas relativos à saúde pública. De acordo com a Constituição Federal (1988), é dever do estado manter a saúde e bem-estar social da população, mas somente ele não consegue chegar até esta população, faz-se necessária a participação dos estados e municípios para a aplicação destes programas de saúde. Desta maneira, os estados e municípios precisam inscrever-se nos programas do governo federal e desenvolver ações para atingir a população. Temos como exemplo os programas de vacinação, que atingem todas as regiões do Brasil. Observamos que este engajamento dos estados e municípios são primordiais. Com isso, tanto estados como municípios, também necessitam da participação de outros segmentos da sociedade civil para que possam atingir seus objetivos, como no exemplo anterior, a vacinação em massa. A sociedade civil organizada participa nestas ações como uma das ferramentas mais importantes, em todo o processo, pois com ela os objetivos são TÓPICO 2 | POLÍTICA DE SAÚDE: UMA 31 alcançados e assim se conquista uma saúde de qualidade. A participação é essencial e dinamiza todas as pessoas, através de propaganda, dos panfletos entregues em vários segmentos da sociedade como escolas, supermercados, lojas, entre outros. A ação dos profissionais da saúde, como os agentes de saúde, precisa ser valorizada quando batem a nossa porta, ou quando nos recebem nos postos de saúde. Com isso, verificamos que os governantes e secretários de saúde de nossos estados e municípios necessitam estar antenados aos programas que são oferecidos pelo governo federal e dinamizá-los junto à população. Falamos muito da complexa engrenagem que é a construção das políticas de saúde, agora vamos afunilar um pouco mais este diálogo, trazendo para nosso estado e município o desenvolvimento destes programas de saúde pública. Hierarquicamente, as políticas de saúde possuem a seguinte formação e missão: FIGURA 5 – A HIERARQUIA E MISSÃO DOS GESTORES DA SAÚDE PÚBICA FONTE: A autora GOVERNO FEDERAL MINISTÉRIO DA SAÚDE MISSÃO "Promover a saúde da população mediante a integração e a construção de parcerias com os órgãos federais, as unidades da Federação, os municípios, a iniciativa privada e a sociedade, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e para o exercício da cidadania" (BRASIL, 2018). SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE UNIDADE 1 | RETROSPECTIVA 32 Observamos que todas as esferas
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