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Curso de Pedagogia MÓDULO: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II 2021-2024 DIRETORA GERAL Suzana Karling VICE-DIRETORA GERAL Prof.ª Me. Daniela Caldas Acosta DIRETOR PEDAGÓGICO Prof. Me. Argemiro Aluísio Karling COORDENADORA DO CURSO DE PEDAGOGIA Prof.ª Taís Reis Leal Murta PRODUÇÃO DO MATERIAL Prof. Me. Argemiro Aluísio Karling Prof.ª Me. Nelci Gonçalves Dorigon Prof.ª Me. Rosângela Trabuco Malvestio da Silva Prof.ª Me. Dalva Linda Vicentini ELABORAÇÃO DO CONTEÚDO Prof.ª Me. Dalva Linda Vicentini FORMATAÇÃO Priscilla Tomazi Histórico de Revisão Professor Ano Daniela P. do Nascimento 2020 Nenhuma parte deste fascículo pode ser reproduzida sem autorização expressa do IEC e dos autores. Direitos reservados para: INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO E DA CIDADANIA Av. Cerro Azul, 1411 – Jd. Novo Horizonte. CNPJ – 02.684.150/0001-97 CEP: 87010-055 - Maringá – PR – Fone: (44) 3225-1197 e-mail: fainsep@fainsep.edu.br HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 5 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 7 PLANO DE ENSINO 8 INTRODUÇÃO 9 UNIDADE 1 – EDUCAÇÃO NO BRASIL COLÔNIA 10 1.PERÍODOS DA HISTÓRIA NO BRASIL 10 1 EDUCAÇÃO JESUÍTICA (1549-1759) 11 1.2 RATIO STUDIORUM 15 1.2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DO RATIO STUDIORUM 16 1.2.2 EDUCAÇÃO DOS NEGROS ESCRAVOS E DAS MULHERES 18 2. A EDUCAÇÃO NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XVIII (1759- 1822) - REFORMA POMBALINA 20 UNIDADE 2 – A EDUCAÇÃO NO BRASIL IMPÉRIO 27 1.FAMÍLIA REAL NO BRASIL 27 1.1 A INSTRUÇÃO PÚBLICA E O MÉTODO PEDAGÓGICO DE LANCASTER 28 2. O SISTEMA EDUCACIONAL DURANTE O SEGUNDO REINADO 32 UNIDADE 3 – A EDUCAÇÃO NO BRASIL REPÚBLICA 37 1 A EDUCAÇÃO NA PRIMEIRA REPÚBLICA (1889 – 1929) 37 1.1 MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA E A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE ENSINO NO BRASIL. 38 2. O PROJETO EDUCACIONAL BRASILEIRO NO REGIME MILITAR 40 3. O PROJETO EDUCACIONAL DURANTE A DÉCADA DE OITENTA 42 4. CONSTRUINDO A ESCOLA CIDADÃ (DÉCADA DE 1990 ATÉ OS DIAS ATUAIS) 43 UNIDADE 4 – A ERA DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA 46 1. A FUNÇÃO DA ESCOLA NACIONAL 46 2. PERSPECTIVAS ATUAIS DA EDUCAÇÃO 48 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 6 2.1 UM PASSADO SEMPRE PRESENTE 50 2.2 EDUCAÇÃO TRADICIONAL 50 2.3 EDUCAÇÃO INTERNACIONALIZADA PAREI AQUI 51 2.4 NOVAS TECNOLOGIAS 51 2.5 PARADIGMAS HOLONÔMICOS 52 2.6 EDUCAÇÃO POPULAR 53 3.UNIVERSALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA E NOVAS MATRIZES TEÓRICAS 54 3.1 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO 55 3.2 PARA PENSAR A EDUCAÇÃO DO FUTURO 59 QUESTÕES DE ESTUDO 64 REFERÊNCIAS 66 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 7 APRESENTAÇÃO Prezados alunos: Mais um módulo inicia e gostaria de lembrá-los da missão da FAINSEP que é de formar profissionais educadores, bacharéis e tecnólogos; ampliar a formação humanística de pessoas para o pleno exercício da cidadania e preparo básico para funções técnicas e serviços gerais; oferecer educação continuada por meio de cursos de atualização, aperfeiçoamento e especialização, inclusive para o exercício de docência na educação superior; enfim, promover a educação e a cidadania por todos os meios, utilizando para tal o conhecimento, o desenvolvimento e a aplicação de novas tecnologias e educação a distância. Dessa forma, saiba que a formação e profissionalização do educador, com apropriação de competências e conhecimentos necessários ao exercício da ação docente, serão desenvolvidas durante a Graduação em Pedagogia. Com isso, espera-se o desenvolvimento de atitudes de reflexão e análise da atuação pedagógica e de valores para bem atuar na sociedade como agente de transformação, em busca de uma sociedade mais justa, a partir da identificação e análise das dimensões sócio-políticas e culturais de seu meio. A Pedagogia abrange o campo teórico e investigativo da educação, do ensino, de aprendizagens e do trabalho pedagógico propriamente dito, portanto saibam que, nesta Instituição, ao término da graduação, vocês não terão apenas um diploma, mas, sim, uma mudança e/ou transformação, tanto nos aspectos pessoais como profissionais, tornando- se um indivíduo crítico, criativo e participativo na busca de uma sociedade mais justa. Bons Estudos! A Direção HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 8 PLANO DE ENSINO Módulo: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II. Carga Horária: 60 horas Código: HE II 1. EMENTA Contexto histórico, político, econômico e social das mudanças educacionais no Brasil. Educação no Brasil Colônia, Educação no Brasil Império. Educação no Brasil República. Educação brasileira na atualidade. Educação contemporânea. 2. OBJETIVO Conhecer o percurso histórico da educação brasileira, para assim compreender os ideais da educação na contemporaneidade. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 9 INTRODUÇÃO Toda educação assenta-se sobre uma concepção de ser humano e de sociedade, ou seja, pressupõe uma ideia de humanidade e um tipo de sociedade na e para a qual se quer formar os educandos. Com o intuito de conhecer a história da educação, nossos estudos estão inseridos no tempo. O conhecimento de diferentes civilizações, marcadas por ideais distintos de educação, é que nos dará condições de estabelecer relações, participar da herança cultural dos nossos antepassados e realizarmos projetos de mudança. Você deve estar questionando: para que serve saber do passado? É no passado que os seres humanos buscam respostas para suas inquietações atuais. Compreender a História da Educação ajuda a deixar de considerar naturais os aspectos do cotidiano, como se fossem necessários e imutáveis. Para uma melhor compreensão do nosso presente, precisamos lançar o olhar em direção ao passado e acompanhar a evolução histórica que nos trouxe até os dias de hoje. Talvez você se surpreenda que questões que já eram debatidas há tempos permanecem como objeto de intensa polêmica. A história da educação está inserida e escrita com as mesmas tintas nos sucessivos cenários históricos, políticos e religiosos. Às vezes parece se repetir, pois seu avanço se dá através de uma “espiral ascendente”, em que o mesmo ponto é revisitado em um patamar acima. Estudar a História da Educação, requer que se estabeleça uma relação direta com o contexto histórico geral, observando a sincronia existente entre as crises na educação e as crises no sistema. Mas esta sincronia não deve ser entendida apenas como algo que ocorre paralelamente na história geral e na história da educação. Na verdade, as relações estabelecidas entre os homens são estabelecidas das relações que estes produzem em sua existência. Por este motivo, a educação não pode ser considerada um fenômeno isolado, mas interligada a política e que pode sofrer com os efeitos da ideologia. Portanto, tencionamos fornecer a você, aluno, um instrumento indispensável para que seja capaz de atingir os objetivos do conhecimento a respeito da história da educação, em cada período histórico vivenciado pela humanidade. Esperamos que o conteúdo deste módulo contribua para a sua formação acadêmica e o instigue a buscar meios adequados que auxiliem na mudança da educação que ansiamos. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 10 UNIDADE 1 – EDUCAÇÃO NO BRASIL COLÔNIA 1.PERÍODOS DA HISTÓRIA NO BRASIL A história do Brasil está intimamente ligada aos acontecimentos da Europa no século XVI (1500-1601), uma vez que a colonização é resultado da expansão comercial da burguesia enriquecida com a Revolução Comercial. Com todos os países buscando lucros, o interesse mercantil motiva a busca por colônias, desta forma, a esquadra portuguesa comandada por Pedro Álvares Cabral chega ao Brasil em 1500. Aranha (2006) ressalta que neste período as colônias valiam tanto para ampliaçãodo comércio, como por fornecer produtos tropicais e metais preciosos para as metrópoles. De 1500 a 1530, a exploração do território, então chamado Terra de Santa Cruz, era limitada a expedições para coleta e transporte de pau-brasil, madeira nobre apreciada no continente europeu e algumas expedições exploratórias. Durante esse período, a costa brasileira foi também explorada por diversos povos entre eles holandeses, ingleses e, principalmente, franceses. Mesmo não tendo assinado o Tratado de Tordesilhas (acordo entre Portugal e Espanha que dividiu em 1494 as terras recém-descobertas), essas nações enviavam ao Brasil missões para extrair madeira. Para tentar garantir o controle do território, a partir de 1530 inicia-se a colonização nas terras brasileiras. Em 1534, o rei de Portugal, D. João III, decidiu repartir o Brasil em 15 lotes, ou capitanias hereditárias. As áreas eram doadas em caráter vitalício e hereditário Para começar nossos estudos HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 11 aos cidadãos da pequena nobreza portuguesa, os donatários. Entre os deveres dos detentores das terras estavam: governar, colonizar, resguardar e desenvolver a região com recursos próprios. Com a monocultura de cana-de-açúcar, a economia colonial expandiu-se em torno do engenho de açúcar, recorrendo ao trabalho escravo, inicialmente dos índios e, depois, dos negros africanos (ARANHA, 2006). O Brasil era uma colônia de economia agrícola, na qual, o lucro ficava com os comerciantes na metrópole, desta forma, a educação não constituía meta prioritária, já que o desempenho de funções na agricultura não exigia formação especial. Mesmo assim, as metrópoles europeias enviaram religiosos para o trabalho missionário e pedagógico, com a finalidade principal de converter os índios e impedir que os colonos se desviassem da fé católica, conforme as orientações da Contrarreforma (ARANHA, 2006). É sobre a educação deste período que discorreremos a partir de agora. Fonte: http://gisele-finatti-baraglio.blogspot.com.br/1997/04/ 1 EDUCAÇÃO JESUÍTICA (1549-1759) Como podemos observar na imagem acima, os jesuítas chegaram ao Brasil em 1549, primeiramente o governador Tomé de Souza, quatro padres, dois irmãos jesuítas, chefiados por Manoel da Nóbrega (RIBEIRO; SAVIANI, 2011). Mas, quem eram os jesuítas? HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 12 A Companhia de Jesus foi uma ordem religiosa da Igreja Católica, fundada na Europa em 1540 por Inácio de Loyola. Os padres desta companhia eram denominados jesuítas, e sua missão era catequizar e evangelizar as pessoas, pregando o nome de Jesus. Os princípios básicos dessa ordem estavam pautados em: 1) a busca da perfeição humana por meio da palavra de Deus e a vontade dos homens; 2) a obediência absoluta e sem limites aos superiores; 3) a disciplina severa e rígida; 4) a hierarquia baseada na estrutura militar; 5) a valorização da aptidão pessoal de seus membros. São esses princípios que eram rigorosamente aceitos e postos em prática por seus membros, que tornaram a Companhia de Jesus uma poderosa e eficiente congregação (SHIGUVOV NETO; MACIEL, 2008). No Brasil, a missão que lhes foi conferida pelo rei de Portugal, Dom João III, era a de converter os gentios: “Porque a principal coisa que me moveu a mandar povoar as ditas terras do Brasil foi para que a gente delas se convertesse a nossa santa fé católica” de modo que os gentios “ possam ser doutrinados e ensinados nas coisas da nossa santa fé” (DOM JOÃO III, 1992, pp. 145 e 148, apud SAVIANI, 2011, pp. 25). A tarefa inicial dos jesuítas era a conversão e a catequese dos índios, o ensinamento das primeiras letras às crianças brancas e o pastoreio das ovelhas desgarradas (portugueses) que já viviam no Brasil e que davam maus exemplos aos nativos. As atividades que mais ocuparam os jesuítas foram à conversão e a catequização dos nativos, pois segundo Nóbrega: “[...] os gentios da terra não eram de má índole, uma vez que não praticavam uma religião, cuja teologia se opusesse profundamente ao cristianismo” (COSTA; MENEZES, 2005, p. 33). Os jesuítas também achavam que os índios eram bons, mas tinham maus comportamentos e queriam restaurar o que segundo eles era a verdadeira natureza dos nativos, transformando-os em cristãos, para eles, converter os índios era como escrever em um papel em branco, pois não tinham religião ou deuses, dessa forma não tiveram muita dificuldade em assimilar as novidades cristãs. Para os jesuítas o que havia de mais grave e errado na conduta dos índios era aquilo que contrariava ou se afastava da fé cristã, ou seja, o canibalismo, a poligamia e o fato de andarem nus. Muitos foram os obstáculos encontrados pelos jesuítas na evangelização dos nativos, muitas vezes HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 13 “almas” já convertidas, se perdiam, pois, os indígenas resistiam a certas imposições, uma das causas era o nomadismo, que dificultava a evangelização continuada. Outro obstáculo eram os próprios portugueses que apresentavam condutas inapropriadas, segundo os jesuítas, o que acarretava em maus exemplos para os índios. O próprio padre Manoel da Nóbrega se queixava do mau comportamento dos portugueses e do seu relaxamento moral, aproveitando-se dos costumes dos gentios para adotar comportamentos como o concubinato com muitas mulheres (índias) e a escravização de gentios. Algumas práticas facilitaram a catequese dos gentios, entre elas as missões também chamadas de reduções, que consistiam no aldeamento dos gentios, para afastá-los dos brancos e assim instaurar o cristianismo e a educação voltada às crianças índias (curumins), pois os adultos em geral não guardavam a devoção. Outro padre importante para a educação brasileira, foi o padre José de Anchieta, um hábil conhecedor de línguas, rapidamente conseguiu dominar a “língua geral” falada pelos índios do Brasil, organizou a gramática para dela se servir no trabalho pedagógico. Para realizar seu trabalho, Anchieta utilizou o idioma tupi, tanto para se dirigir aos índios como aos colonos que entendiam a língua geral falada ao longo da costa brasileira. Para tanto produziu poesia e teatro, ele é tido como o jesuíta que mais diversificou os meios para melhor apresentar as mensagens cristãs, tocando a alma dos ouvintes tanto pelo encanto, como pela emoção e pelo medo. Suas peças teatrais e os cantos eram escritos, encenados e cantados na língua tupi. Saviani (2011) ressalta que a principal estratégia para organização do ensino, para atrair os gentios, foi agir sobre as crianças. Desta forma, para facilitar a catequização dos curumins, foram enviados de Lisboa, alguns meninos órfãos (crianças que ficavam em instituições de caridade mantidas pela coroa) para o Brasil, para os quais foi fundado o Colégio dos Meninos de Jesus da Bahia e, depois, o Colégio dos Meninos de Jesus de São Vicente. Pretendia-se que os meninos brancos interagissem com os curumins, o que contribuiu para a introdução da cultura cristã entre os gentios. A primeira fase da educação jesuítica foi marcada pelo plano de instrução elaborado por Nóbrega. O plano se iniciava com o aprendizado do português (para os indígenas); prosseguia com a doutrina cristã, a escola de ler e escrever (no entanto, no aprendizado do ler e escrever as primeiras letras só eram necessárias até o ponto em que esta contribuísse com a catequese dos curumins) e, opcionalmente, canto orfeônico e música instrumental. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 14 Contudo, a aplicação desse plano foi precária, encontrando oposição dentro da própria ordem jesuítica, sendo ultrapassado pelo plano geral de estudos organizados pela Companhia de Jesus e reunido na Ratio Studiorum. É válido ressaltar que: A intenção dos missionários, porém, não se reduzia simplesmente a difundir a religião.Numa época de absolutismo, a Igreja, submetida ao poder real, era instrumento importante para a garantia da unidade política, já que uniformizava a fé e a consciência. A atividade missionária facilitava sobremaneira a dominação metropolitana e, nessas circunstâncias, a educação assumia papel de agente colonizador (ARANHA, 2006, p. 139). O COTIDIANO DOS JESUÍTAS Numa de suas cartas, o padre José de Anchieta descreve o dia-a-dia da catequese: “Ensinam-lhes os padres todos os dias pela manhã a doutrina, esta geral, e lhes dizem missa, para os que quiserem ouvir antes de irem para suas roças; depois disso ficam os meninos na escola, onde aprendem a ler e escrever, contar e outros bons costumes, pertencentes à política cristã; à tarde tem outra doutrina particular a gente que toma o Santíssimo Sacramento. Cada dia cão os padres visitar os enfermos com alguns índios deputados para isso; e se tem algumas necessidades particulares lhes acodem a elas; sempre lhes ministram os sacramentos necessários (...) O castigo que os índios têm é dado por seus meirinhos1 feitos pelos governadores e não há mais que quando fazem alguns delitos, o meirinho os manda meter em um tronco um ou dois dias, como ele quer; não tem correntes nem ferros da justiça (...) Os padres incitam sempre os índios que façam sempre suas roças e mais mantimentos , para que, se for necessário, ajudem com eles aos portugueses por seu resgate, como é verdade que muitos portugueses comem das aldeias, por onde se pode dizer que os padres da Companhia são os pais dos índios, assim das almas como dos corpos.” Saga: A grande história do Brasil, In: PILETTI, N. História da educação no Brasil. Ed. Ática, São Paulo, 2006. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 15 1.2 Ratio Studiorum Simultaneamente à educação do gentio, os jesuítas desenvolveram a educação formal, escolar, no Brasil colônia, destinada principalmente aos filhos dos portugueses e aos futuros membros da própria Companhia de Jesus. A vida escolar nos colégios era regulada por regras prescritas na Ratio Studiorum. A Ratio Studiorum teve sua versão definitiva publicada em 1599, no entanto, seu estudo e elaboração remontam a 1552. Consistia em um conjunto de 467 regras com objetivo de orientar tanto o conteúdo educativo como todas as funções essenciais ao funcionamento dos colégios, ou seja, um plano, uma organização dos estudos. Visava uma visão humanista, como recomendada pela Contrarreforma. Este plano de estudos aborda a formação nos colégios jesuíticos não se referindo ao período de alfabetização das crianças, prevê três graus do ensino: Um elementar, chamado de curso de Humanidades. De formação superior, o de Filosofia ou Artes. O de formação profissional dos futuros padres, o curso de Teologia. A base da educação estava pautada no latim e no grego, línguas clássicas que deviam auxiliar a retórica, a rigorosa disciplina e a emulação, ou seja, a competição entre os estudantes e entre as turmas, que era estimulada, inclusive, com sessões solenes de entrega de prêmios aos melhores (COSTA; MENEZES, 2009). O plano contido no Ratio inicia-se com as regras do provincial; depois as regras do reitor; seguidas das regras do prefeito de estudos superiores, do prefeito de estudos inferiores; regras dos exames escritos; para distribuição de prêmios; regras para professores, do bedel e por fim, as regras das academias. Além das normas e regras, o Ratio Studiorum apresenta os níveis de ensino: o curso de humanidade (“estudos inferiores” – atual ensino médio). Seu currículo abrangia estudos de: retórica, humanidades, gramática. Sendo a gramática dividida em três etapas: gramática superior, média e inferior. A formação seguia com os cursos de filosofia e teologia, denominados de “estudos superiores”, contudo, no Brasil os cursos de filosofia e teologia eram, na prática limitados à formação dos padres catequistas (SAVIANI, 2011). Todavia, é importante ressaltar que no Brasil não foi possível aplicar todas as regras do Ratio, uma vez que não haviam professores e estudantes suficientes para a abertura de todos os cursos e classes correspondentes. Saviani (2011), assevera que o plano contido no Ratio era de caráter universal e elitista. Universal porque era utilizado por todos os jesuítas, em qualquer lugar que HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 16 estivessem. Elitista porque acabou sendo destinado apenas aos filhos dos colonos, excluindo os indígenas, convertendo os colégios jesuítas em instrumento de formação da elite colonial. 1.2.1 Procedimentos Metodológicos do Ratio Studiorum A metodologia do Ratio Studiorum compreende os processos didáticos utilizados para a transmissão dos conteúdos e os estímulos pedagógicos. No entanto, esta não ocorreu de forma padronizada, visto que haviam muitos métodos, o que acarretou em ampla liberdade de escolha que poderia ser adaptada às circunstâncias. O padre Leonel Franca (1952) afirma que ao mestre se confere amplos poderes de iniciativa, podendo ele fazer uso dos métodos preestabelecidos ou apropriar-se de novos. Entre as iniciativas estão: a preleção, é uma lição antecipada, ou seja, uma explicação do que o aluno deverá estudar, cujo método e aplicações variam de acordo com o nível intelectual dos estudantes. A prelação não visa comunicar fatos, mas desenvolver e ativar o espírito, com ela o aluno exercita, não só a memória, mas principalmente a imaginação, o juízo e a razão. O método utilizado era fundamentalmente ativo, no qual professores e alunos trabalhavam juntos, também era solicitado a colaboração contínua dos alunos. Neste método o aluno era protagonista da sua aprendizagem, isto é, ele deveria ter um aspecto ativo, autoformativo, evitando a passividade, o desinteresse e indiferença. Os decuriões auxiliavam os professores nas aulas (organizando os grupos, corrigindo e passando lições, controlando a indisciplina, etc.), estes eram escolhidos pelo desempenho escolar e pelo mérito pessoal, para eles também existiam regras, como obediência ao professor, organizar as salas (número de cadeiras, limpeza, concertos, horário de início das aulas etc.) para que tudo corresse bem. Quanto aos estímulos pedagógicos, ressaltamos que os jesuítas não eram adeptos aos castigos corporais, no entanto, quando acreditavam ser necessário aplicavam correções e essa ficava a cargo do corretor - homem sério e moderado, de fora da Companhia, que punia de acordo com as instruções recebidas do Prefeito de Estudos. Sobre os castigos, eles aparecem no Ratio nas regras comuns para os professores das classes inferiores, a regra 40, refere: Modo de castigar. Não seja precipitado no castigar nem demasiado no inquirir; dissimule de preferência quando o puder sem prejuízo de ninguém; não só não inflija nenhum castigo físico (este é ofício do corretor) mas abstenha-se de qualquer injúria, por palavras ou atos não chame ninguém HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 17 senão pelo seu nome ou cognome; por vezes é útil em lugar do castigo acrescentar algum trabalho literário além do exercício de cada dia; ao Prefeito deixe os castigos mais severos ou menos costumados, sobretudo por faltas cometidas fora da aula, como a ele remeta os que se recusam aceitar os castigos físicos (1832; a correção) principalmente se forem mais crescidos. (Const. p. IV, c. 7, n. 2 D). (http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/fontes_escritas/1_Jesuitico/r atio%20studiorum.htm). Os castigos físicos não tinham a intenção de ferir ou humilhar o aluno, mas causar uma leve dor física na primeira idade como um meio de disciplinar. Como não utilizavam constantemente os castigos físicos, recorriam aos sentimentos como a honra e a dignidade, incentivavam a competição (emulação) como forma de estimular os jovens,para isso premiavam os melhores alunos. Todavia, a competição era saudável (mente e corpo), aconteciam por meio de torneios escolares, sessões literárias, entre outros. Segundo Toyshima, Montagnoli e Costa (2012), as premiações eram outro incentivo à emulação, pois os prêmios eram distribuídos diante de grandes autoridades eclesiásticas e civis, na presença de familiares. O Ratio apresentava normas para as premiações (números de prêmios, julgamento do concurso, realização do evento, e distribuição). As ideias pedagógicas expressas no Ratio correspondem ao que passou a ser conhecido na modernidade como pedagogia tradicional. Para Saviani (2011, p. 58): Essa concepção pedagógica caracteriza-se por uma visão essencialista de homem, isto é, o homem é concebido como construído por uma essência universal e imutável. À educação cumpre moldar a existência particular e real de cada educando à essência universal e ideal que o define enquanto ser humano. Para a vertente religiosa, tendo sido o homem feito por Deus à sua imagem e semelhança, a essência humana é considerada, pois criação divina. Em consequência, o homem deve empenhar-se em atingir a perfeição humana na vida natural para fazer por merecer a dádiva da vida sobrenatural. Discorremos até o presente momento sobre duas formas de educação ministradas pelos jesuítas no Brasil, uma a conversão do índio, em que ação pedagógica ocorria nas missões; a outra, os colégios, que foram fundados nos principais núcleos urbanos, e destinavam-se primordialmente, mas não exclusivamente, aos descendentes dos colonizadores. A terceira forma de educação dos jesuítas ocorreu fora dos colégios e das missões e, principalmente, nos engenhos, nos dois primeiros séculos da colonização. Como foi proibida a escravidão dos gentios, os negros são trazidos ao Brasil, para trabalhar na mineração e nos engenhos, onde a maioria da população vivia. Era nos engenhos que aconteciam as festas religiosas as missas e os principais eventos sociais. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 18 Como nos engenhos havia poucos letrados e a colônia desconhecia a imprensa, a cultura da época colonial era caracterizada pela oralidade, desta forma os sermões eram instrumentos de educação tanto dos senhores de escravos, como dos próprios escravos. Com a descoberta do ouro, a mineração fez com que a imigração portuguesa crescesse em demasia, e uma rápida urbanização ocorreu assim, à vida social, sai do engenho para conquistar a cidade. 1.2.2 Educação dos negros escravos e das mulheres A educação dos escravos negros no Brasil colonial é um tema pouco estudado da história brasileira, pois segundo alguns autores, as crianças já nasciam marcadas pela escravidão, e eram submetidas e a um processo de negação da sua própria cultura, pelos cristãos. No livro Casa Grande Senzala, Gilberto Freire, também cita a falta de material para se estudar a educação dos negros no Brasil colonial: Infelizmente as pesquisas em torno da imigração de escravos negros para o Brasil tornaram-se extremamente difíceis, em torno de certos pontos de interesse histórico e antropológico, depois que o eminente baiano Conselheiro Rui Barbosa, ministro do Governo Provisório, após a proclamação da República de 1989, por motivos ostensivamente de ordem econômica - a circular emanou do ministro da Fazenda sob o nº29 e com data de 13 de maio de 1981 – mandou queimar os arquivos da escravidão. Talvez esclarecimentos genealógicos precisos se tenham perdido nesses autos-de-fé republicanos (FREIRE, 1963, 419). Os negros chegaram ao Brasil, apenas para serem escravos, desta forma, não poderiam jamais ir à escola. Com grande dificuldade os missionários conseguiram fazer com que os escravos assistissem a missa aos domingos, realizadas nas Capelas dos engenhos. O padre Antônio Vieira foi um dos missionários, que discutia quase todos os assuntos em seus sermões e quando estes eram pregados as irmandades dos negros, padre Vieira favorecia a identificação entre a escravidão do corpo e a libertação da alma e procurava ensinar aos negros, a importância da escravidão. Mais tarde surgem os colégios Jesuítas com função de educar. E segundo Gilberto Freire, no livro Casa Grande e Senzala: Os colégios dos Jesuítas nos primeiros 02 (dois) séculos, depois os seminários e colégios de padres, foram os grandes focos de erradicação de cultura no Brasil colonial [...] Foi uma heterogênea população infantil a que se reuniu nos colégios dos padres, nos séculos XVI e XVII: filhos de caboclos arrancados aos pais; filhos de normandos encontrados nos matos; filhos de portugueses; mamelucos; meninos órfãos vindos de Lisboa. Meninos, louros, sardentos, pardos, morenos, cor de canela. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 19 Só negros e muleques parecem ter sido barrados das primeiras escolas jesuítas negros e muleques retintos (FREIRE, 1969, 575-576). Pode-se dizer que, se houve uma educação para os negros, esta foi um resgate dos restos educacionais que foram direcionados a eles. Os poucos fatos existentes, relatam que os filhos dos escravos pertencentes aos missionários fazendeiros, foram educados nas escolas concebidas pelo Ratio Studiorum onde a ação pedagógica jesuíta era alicerçada neste método. Os jesuítas estiveram à frente da educação por 210 anos (1549-1759) e, foi em função da catequese firmada por eles, que os filhos dos escravos também foram submetidos à escolarização, mas não deixaram de utilizar a mão-de-obra negra em suas fazendas, já que não tiveram muito sucesso na inclusão dos indígenas neste feito, e também porque foram proibidos. A educação das crianças negras fez com que fosse criado um diferencial entre a escravidão, praticada pelos jesuítas e a utilizada nas colônias comuns, assim: Os escravos negros não eram livres para buscarem a instrução média e superior, e claro está que os senhores não os compravam para os mandarem aos estudos e fazer deles bacharéis ou sacerdotes. A instrução ou educação, que lhes permitiam essa, e mais do que essa, lhes ensinava a Igreja. E a Igreja foi à única educadora do Brasil até o final do século XVIII, representada por todas as organizações religiosas do Clero Secular, que possuíam casas no Brasil (SERAFIM LEITE, apud FERREIRA JÚNIOR; BITTAR, 1999, p.10). Ferreira e Bittar (1999), ainda dizem em que a combinação da catequese com o ensino das primeiras letras, veio a ser utilizado nos séculos XVII e XVIII, nas fazendas da Companhia de Jesus, com os filhos dos escravos que nela trabalhavam, dessa forma, os filhos dos escravos nascidos nessas fazendas, sofreram um processo de conversão ao cristianismo católico, além do autoritarismo dos projetos utilizados nas pedagogias educacionais referidas a eles, ou seja, estavam sujeitos a punições físicas aplicadas nos colégios, como se não bastasse à humilhação que passavam fora dali. As mulheres em sua maioria eram analfabetas, sua educação restringia-se a boas maneiras e prendas domésticas. Nenhuma mulher, fossem elas brancas, ricas ou pobres, negras escravas ou indígenas, tinha acesso à leitura e a escrita. Neste período, a mulher era considerada um ser inferior. “O sexo feminino fazia parte do imbecilitus sexus, ou sexo imbecil. Uma característica a qual pertenciam mulheres, crianças e doentes mentais”. Haviam versinhos sobre as mulheres que queriam aprender, que dizia que mulher que sabe muito é atrapalhada para ser mãe de família. Existia também, um abecedário moral que continha em cada letra o padrão de comportamento HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 20 feminino socialmente desejado, que fora difundido na época, dedicado as mulheres que pretendiam aprender a ler, por exemplo: “a letra A significativa que a mulher deveria ser amiga de sua casa, H humilde a seu marido, M mansa, Q quieta, R regrada, S sisuda, entre outros”. Portanto, era essaa mentalidade expressa nesse período em relação a instrução feminina (RIBEIRO, 2000, p. 79-80). A educação jesuítica no Brasil teve fim e 1759, quando estes foram expulsos pelo Marquês de Pombal. 2. A EDUCAÇÃO NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XVIII (1759- 1822) - REFORMA POMBALINA Até a metade do século XVIII (1759), no Brasil, os responsáveis pela educação, tanto dos nativos como dos portugueses, foram os jesuítas por meio da catequese, constituindo mais tarde os colégios, introduzindo o trabalho pedagógico no Brasil. A partir daí ocorreram reformas que mudaram todo o contexto educacional no Brasil devido à decadência econômica, política e cultural que se encontrava a monarquia portuguesa. As ideias iluministas tomavam conta da Europa, continuando a ânsia pelos estudos de humanidades e cultura, mas principalmente, o interesse pelo cientificismo pragmático. Especificamente em Portugal, o Iluminismo ocorreu de forma diferente, pois seu objetivo era fortalecer a imagem do monarca e recuperar o apoio popular. Ficou a cargo do primeiro ministro de D. José, marquês de Pombal, executar tais reformas, sendo uma delas o decreto que impedia os jesuítas de exercerem o ensino nos domínios portugueses e, a transferência do controle do ensino para o Estado. No Brasil, os jesuítas não aceitaram entregar de imediato o controle do ensino ao Estado e reagiram como puderam, sendo aniquilados pelas tropas portuguesas. Muitas das reformas instituídas pelo marquês de Pombal tiveram validade até o século XIX. Houveram muitos empecilhos na divulgação do ensino no Brasil colônia, o que adiou a aplicação das medidas pombalinas de reforma da educação. Entre eles pode-se destacar a falta de estradas, o isolamento geográfico da colônia, meios de transportes e comunicação insuficientes e precários e, o escasso povoamento, assim como, os altos índices de mortalidade infantil (quando chegavam à idade adulta preferiam ingressar na HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 21 milícia), a vinculação da população com as atividades agrícolas, a escravidão e a aplicação indevida dos recursos do subsídio literário (VERALDO, 2005, p. 49). O “povo” não tinha muito interesse pela educação (aulas régias), pois era através da riqueza e da hereditariedade que conseguiam um espaço na elite e em cargos administrativos. As aulas régias também chamados de estudos menores, foram implantadas pela Coroa que nomeou professores, estabeleceu planos de estudo fragmentados, ou seja, as disciplinas eram isoladas umas das outras. Esses estudos eram aplicados por professores que, muitas das vezes, apresentavam despreparo com relação aos conteúdos e aprendizados ensinados, distantes de seu próprio contexto educacional, completamente leigo às aulas. Na colônia foram criadas aulas régias de ler e escrever, de gramática, retórica, de grego e filosofia. Poucas foram as aulas ofertadas, desta forma, o restante da educação formal foi dado em escolas religiosas. Uma das diretrizes da reforma pombalina referente à instrução, era privilegiar o ensino das primeiras letras, assim como o latim (muito estudado anteriormente) por meio da língua materna, que tinha como objetivo o fortalecimento da mesma como meio de legitimar o Estado português. Também proclamavam algumas vantagens desse novo ensino, como a intenção de oferecer aulas de línguas modernas, como o francês, além de desenho, aritmética, geometria, ciências naturais, no espírito dos novos tempos e contra o dogmatismo da tradição jesuítica (ARANHA, 2006). Muitos conflitos entre a Igreja e o Estado se deram por causa da inspeção da educação no Brasil, mas se por um lado esse conflito impedia a trajetória do ensino, por outro contribuiu positivamente para esse caminho, já que ambas as instituições pretendiam formar o “civil cristão”, ou seja, desenvolver nos homens a civilidade indispensável ao mundo urbano, no qual crescia e, ao mesmo tempo, divulgar o temor a Deus e a obediência ao Rei como forma de legitimar a monarquia. Apesar das tentativas pombalinas de mudar a educação brasileira, a sociedade não se modificou, mantendo seu sistema baseado na grande propriedade e na escravidão, onde somente a classe abastada teve direito à educação. Muitas vezes as medidas pombalinas se dirigiam apenas ao fortalecimento do império português. Porém no início do século XIX surgia uma nova mentalidade que iria transformar a educação no Brasil cheia de ideias revolucionárias na qual se disseminou na Independência brasileira e consequentemente na Constituição do Império. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 22 A EDUCAÇÃO NO PERÍODO COLONIAL DA HISTÓRIA BRASILEIRA FERREIRA, Liliana Soares. Educação no período colonial da História Brasileira IN: Educação e História. 2ª edição revisada e ampliada. Ed Unijuí A inclusão do Brasil na história acontece em meio ao processo de expansão marítima portuguesa. A pretensão lusa era descobrir novos mercados fornecedores de matéria- prima. Portanto, a terra brasileira insere-se no mapa mundial como uma possibilidade de riquezas a mais para a metrópole portuguesa como comprovam vários trechos da Carta do escrivão Caminha ao Rei. Mas a terra em si é muito boa de ares, tão frios, e temperados, como os de Entre- Douro e Minho, porque, neste tempo de agora, assim os achávamos com os de lá. Águas são muitas e infindas. De tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la, dar-se-á tudo por bem das águas que tem. Mas o melhor fruto que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente;. E esta deve ser a principal semente que vossa alteza nela deve lançar. (Caminha, 1998, p.55) Assim como ocorreu em várias colônias americanas descobertas naquela época, no Brasil, havia o interesse em descobrir para a metrópole a maior quantidade possível de riquezas. A conquista da riqueza, no entanto, era ocultada sob o objetivo mais nobre: a conversão de almas. Agindo dessa forma, os colonizadores sentiam-se protegidos pelas leis divinas ainda que cometessem a destruição do meio e causassem a dizimação dos povos indígenas habitantes desta terra. A chegada ao Brasil, e a dificuldade, inicialmente, em descobrir tais riquezas, levaram ao abandono temporário das terras recém-descobertas. Exploraram, então o pau- brasil. Não foi uma atividade duradoura, pois não gerava as riquezas esperadas se comparada ao comercio de especiarias. Com a falência desse tipo de comércio, os portugueses passaram a enviar expedições de reconhecimento das terras; essas expedições fizeram um primeiro mapeamento das terras em nosso país. Só que, nessa época, apareceram por aqui expedições francesas. Isso obrigou “Portugal a preocupar-se com a proteção das terras, passando a povoá-las e a investir nelas através de uma divisão de capitanias hereditárias. Surgem os primeiros aldeamentos e a economia passa a centrar- se na produção açucareira. Define-se então, uma estrutura econômica assentada no latifúndio, no regime colonial e na escravidão” (Freire, 1989, p.21). Com o primeiro governador-geral, Tomé de Souza, encarregado de gerenciar a colônia e suas diversas capitanias chegam os primeiros jesuítas. Começa a história da educação formal no Brasil. Vinham os religiosos na armada do primeiro governador-geral, Tomé de Souza, e em pouco tempo começaram a exercer seu apostolado. Confessaram a gente da armada, e na quarta dominga da quadragésima daquele ano, diziam sua primeira missa. O padre Nóbrega pregava ao governador e seus homens, o padre Juan Azpicuelta Navarro, aos da terra. Já ao irmão Vicente Rodrigues (ou Vicente rijo) HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 23 encarrega-se o ensino dos meninos, tanto da doutrina como de “ler e escrever”; neste trabalho seria seguido pelo irmão Diogo Jácome, na capitania de Ilhéus, na qual fazia, segundo o padre Nóbrega, “muito fruto em ensinar os moços e escravos”; menos de um ano maistarde o padre Navarro estaria em porto seguro, “ensinando a ler e fazer oração aos pequenos”. (Chambouleyron, 1999, p.55). Os jesuítas, padres integrantes da recém-formada Companhia de Jesus – criada por Ignácio de Loyola, tinham o lema “Vence-te a ti mesmo e sacrifica-te pelo serviço da Igreja.” -, foram defensores de uma postura cristã católica contra o protestantismo e objetivavam manter os dogmas e crenças da Igreja Católica, perturbada pela reforma Protestante. Como se sabe, a reforma Protestante preconizava a relação Homem-Deus, tinha como base a fé e não necessitava de que a Igreja fizesse o papel de intermediadora. Preconizava a necessidade de utilizar a língua nacional nos cultos, a simplificação dos ritos, a utilização da Bíblia como livro sagrado e a salvação através da fé em Deus e não pela realização de obras. Cabe lembrar: o reconhecimento da Ordem dos Jesuítas pelo Papa deu-se nesse clima, como uma maneira a maior de recuperar o terreno perdido com a reforma luterana. Companha, aliás, era o termo adequado para nomear um pelotão de soldados de Cristo e da Igreja, que tinha pela frente a arriscada batalha de fazer recuar a invasão protestante que se verificava no “mundo civilizado”, justamente nos seus pólos mais avançados, pondo em risco a hegemonia do catolicismo entre os “povos eleitos por Deus” para propagar seu nome e seus mandamentos. (Xavier, 1994, p.40). Para efetivar essa defesa utilizavam um processo educacional cujas bases estavam assentadas na busca da conversão e na conquista espiritual. Manuel de Nóbrega, Azpicuelta Navarro, Vicente Rodrigues e José de Anchieta (só para alguns), foram os padres pioneiros desse empreendimento. À medida que eram fundadas escolas, eram transmitidos valores cristãos e a cultura portuguesa, eram criadas as condições de colonização e abria-se espaço para a ação exploratória da metrópole. Conforme Azevedo, Os jesuítas não estavam servindo apenas a obra da catequese, mas lançavam as bases da educação popular, e espalhando nas novas gerações a mesma fé, a mesma língua e os mesmos costumes, começavam a forjar na unidade espiritual, a unidade política de uma nova pátria. Inicialmente, a atividade educacional jesuítica centrou-se na catequese. Havia aquela grande concentração de indígenas ateus e era preciso torná-los cristãos, aumentando, assim, o quartel de servidores da fé católica na Terra. Nesse mesmo esforço, incluía-se a educação dos colonos e seus descendentes. Esse duplo objetivo tinha como elemento comum à crença no ensino da escritas e da literatura como condição para o conhecimento dos textos e dogmas católicos “no aprendizado da doutrina, apostava-se principalmente na sua memorização, e os padres orgulhavam-se dos meninos que sabiam tudo de cor. Por isto os jesuítas desenvolveram principalmente catecismos dialogados.” (Chambouyleyron, 1999, p.63); a difusão da fé católica atingia os índios, os senhores de engenho, os colonos, os escravos, de modo que passassem a considerarem-se filhos da Companhia de Jesus. Conforme Xavier, Os jesuítas deveriam cuidar da reprodução interna do contingente de sacerdotes necessário para a garantia da continuidade da obra. Sua tarefa educativa era basicamente aculturar e converter “ignorante” e “ingênuos”, como os nativos, e criar uma atmosfera civilizada e religiosa para desagregados e aventureiros que para aqui viessem. Isso constituía uma empreitada que exigia muita criatividade no que diz respeito aos métodos de ação, considerada a heterogeneidade da clientela que tinham diante de si. (Xavier, 1994, p.41). HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 24 Um dos fatores a contribuir para o sucesso do trabalho de catequese desenvolvido pelos jesuítas foi à rápida aprendizagem da língua dos indígenas. Contam os historiados: uma vez aprendida a língua, foram criadas gramáticas, textos e pequenas peças de teatro utilizadas no trabalho de conversão. Outro fator de grande importância é a ação dos padres, prioritariamente, sobre os curumins, os filhos dos indígenas, já que os pais apresentavam- se arredios e desconfiados. Assim, através das crianças eram infiltrados na comunidade valores cristãos. Come esse afã, os missionários desbravaram o território brasileiro e buscaram, em terras recônditas grupos de indícios carecidos, a ótica dos padres, de uma cultura cristã. Nessa busca, apresentavam-se como “soldados de Cristo”, marchando contra as condições da natureza, contra a falta de meios para a construção de escolas-modelo e sobretudo, contra a cultura nativa. Ao lado de cada igreja era construída uma escola, onde ensinavam a ler e a escrever. Essa tarefa era facilitada devido à cultura e formação educacional dos padres jesuítas, capazes de transitar facilmente em grupos diferenciados, desde os índios com suas linguagens até os colonos ou mesmo os escravos. Para além das vantagens desse sistema de aglomeração indígena, as missões, há uma série de desvantagens. A maior delas é a fragilidade dos índios, desprovidos, de sua liberdade no seu maior esconderijo diante do perigo: a selva. Estavam acuados, sob as ordens dos padres, sem liberdade para a guerra. Por isso, eram facilmente aprisionados em grandes grupos por colonos em busca de escravos. Assim, centralizada e artificial, a estrutura das missões desapareceu junto com a expulsão dos jesuítas de todos os territórios portugueses. É importante salientar: havia, nessa época um sistema único de educação para filhos de indígenas e para os filhos de colonos, com o tempo, o sistema se diversificou: para os índios, uma educação voltada para a fé e para o trabalho; para os colonos, uma educação que expandia para além dos rudimentos da leitura e escrita, da escola elementar. A impressão que se tem ao ler sobre esse período é que, primeiramente, os jesuítas pretendiam apenas instruir e promover a catequese, mas perceberam a possibilidade de lucros com a educação, pois eram os únicos educadores da época e contavam com o apoio real, então fundaram escolas que incluíssem os filhos dos colonos. Como a atividade educadora dos padres da Companhia alastrava-se rapidamente foi organizado um plano de estudo capaz de uniformizar a ação das escolas mantidas e dirigidas pelos jesuítas além de atender a diversidade de interesses e de capacidades, aprendizado do português, e ensino da doutrina cristã. Ao plano foi dado o nome de Ratio Studiorum. De acordo com o Ratio Studiorum, o ensino jesuítico após o período de aprendizagem da leitura e da escrita, abrangeria os cursos de Letras (em nível secundário), Filosofia e Ciências (em nível secundário), Teologia e Ciências Sagradas (em nível superior). Quanto ao método (cf. Larroyo, 1974, utilizavam não só a transmissão do conhecimento, mas a preleção (sinopse do que seria estudado), contenda (debate competitivo entre os alunos), memorização, expressão (estimulo ao aluno para traduzir textos de uma língua para outra, redação), imitação (incentivo à reprodução do estilo e das temáticas de grandes autores clássicos) e teatro. Os jesuítas pretendiam uma espécie de aula, espaço para os alunos serem interrogados constantemente e convidados a repetir o conteúdo apresentado pelo professor na preleção). Quanto à organização da escola (cf. Larroyo, 1974), o Ratio estabelecia a existência de uma provincial espécie de Delegado de Educação, para uma determinada região compreendendo casas e colégios da Companhia, um reitor, um prefeito de estudos, os professores, os decuriões (alunos com melhores notas) e os censores (alunos controladores da ordem e da disciplina, delatando que não respeitasse quaisquer normas). Nessa organização, ninguém desrespeitava ao superior, pois nisso fazia parte das regras do grupo, e as regras eram rigidamente obedecidas, sem exceções, sem “jeitinho HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 25 brasileiro”. As classes organizadas através de estágios de desenvolvimento e a promoção de umapara outra se dava mediante a aprendizagem. Para tanto, o tempo era medido e se constituía em cinco horas de aulas distribuídas igualmente entre as várias áreas do currículo e as tarefas escolares: memorização, temas, etc. (Larroyo, 1974.) Dessa forma o Ratio Studiorum era uma estratégia para garantir a organização das atividades pedagógicas da Companhia e mantê-las em acordo com uma filosofia educacional bem-definida. Ao mesmo tempo, ajudava na manutenção de uma hierarquia nas relações dentro da Escola. A organização do plano e, consequentemente do sistema escolar jesuítico se inspirou em elementos da cultura europeia e sua finalidade era eminentemente prática, sendo fruto da experiência comum. O resultado disso foi um ensino progressivo e rigidamente construído de modo a associar a cultura clássica a vivencia dos preceitos cristãos. É preciso reafirmar: a Companhia de Jesus tinha como preocupação central à formação religiosa, considerada um conteúdo aprendido através da pratica de ações cristãs, bem como orientava a ação dos jesuítas e imprimia na sua ação educativa a salvação do Homem para a glorificação de Deus. Por isso, não havia apenas a intenção de inserir os educandos na escrita e na matemática; havia, principalmente, a preocupação em aumentar o filão de padres jesuítas. Nessa época a educação feminina restringia-se ou ao trabalho de preceptora – no caso das famílias ricas -, ou a algumas poucas escolas para moças ou a mera aprendizagem de boas maneiras e prendas domésticas. Dadas essas características às prescrições do ratio e a formação universitária clássica, e muito bem-definida dos padres jesuítas, o ensino na colônia era, sem dúvida aristocrático e excluía analfabetos, pobres, negros e mulheres. Paralelamente, o ensino não permitia aos alunos questionar a realidade da colônia, dando-lhe como modelo de mundo civilizado o mundo europeu, enfim, conformava-se a política colonial. Uma das críticas feitas ao trabalho em educação dos jesuítas é a elitização do ensino, afinal, os colégios jesuíticos foram instrumentos de formação da elite colonial, sendo efetivamente educados os descendentes da elite colonial, enquanto os índios foram apenas catequizados. Portanto a formação da elite do Brasil colonial será marcada por uma intensa rigidez e formalidade na forma de conceber a realidade e de pensar o futuro do país. Paralelamente, os jesuítas com sua proposta de educação extremamente arraigada aos dogmas católicos, a disciplina do corpo, a memorização e a competição contribuíram para o fortalecimento da burguesia em formação no país e das classes dirigentes, além de favorecerem o aumento da diferença entre “letrados” e analfabetos, a maioria da população. A cultura formal passa a ser vista como uma espécie de ornamento que só os privilegiados economicamente dispunham, assim como poderiam dispor de qualquer outra mercadoria luxuosa. Assim como a quantidade de escolas o poder econômico dos padres aumentava. Aumentava com isso o poder sobre os senhores do engenho, influenciando suas decisões políticas. (A companhia era acusada de estar voltada apenas para o reforço de seu pelotão de padres e de priorizar o uso de outras línguas) (o latim principalmente) em detrimento a língua nacional. Essas críticas espalharam-se pela colônia. Nessa mesma época, expandiram-se as reformas patrocinadas pelos chamados déspotas esclarecidos. Entre esses, encontra-se o Marques de Pombal, poderoso ministro do rei português D. José I. Conforme Contrim (1993, p.261), consciente do atraso de seus país em relação aos demais países, Pombal, queria desmantelar a Companhia de Jesus, considerada conservadora e motivo das críticas anteriormente citadas. Essas motivações resultaram na expulsão dos jesuítas do território brasileiro. Quando expulsos, em 1759, os jesuítas nos legaram um ensino de caráter literário, verbalista, retórico, livresco, memorístico, repetitivo, estimulando a emulação através de prêmios e castigos, que se qualificava como humanista-clássico. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 26 Enclausurando os alunos em preceitos e preconceitos católicos, inibiu-os de uma leitura do mundo real tornando os cidadãos discriminatórios, elites capazes de reproduzir “cristãmente” a sociedade perversa dos contrastes e discrepâncias dos que tudo sabem e podem e dos que a tudo se submetem. Inculcaram a edil orgia do pecado e das interdições do corpo. “inauguraram” o analfabetismo no Brasil. (freira, 1989, p.41). A partir daí, Pombal Traçou como novos objetivos educacionais: abrir o conteúdo do ensino as ciências experimentais, tornando-o mais prático e utilitário; despertar um maior número de interessados no ensino superior; diminuir a influência da Igreja no setor educacional. (Cotrim, 1993, p.264). Porém, como a realidade bem comprovou, o que aconteceu efetivamente é que o ensino no Brasil, após a expulsão dos jesuítas, continuou a ser organizado de forma idêntica à da companhia de Jesus, mostrando ineficácia e inércia das chamadas reformas pombalinas. É preciso, no entanto, a percepção de que as ações em educação sempre têm uma motivação filosófica e social nem sempre ideal. Em se tratando das iniciativas educacionais dos jesuítas no Brasil, há duas versões percebidas como destaques: se por um lado apresentou-se conservadora e elitista, voltada basicamente para os interesses da Companhia de Jesus, por outro, constituiu-se em um primeiro sistema de educação em nosso país. Devido a essas características, teve méritos e, com certeza, serviu (e serve, em alguns casos) de modelo para organização do sistema educacional ao longo desses últimos trezentos anos de história da educação brasileira. PARA SABER MAIS A Educação no Brasil no Período Colonial. Silvia Rita Magalhães de Olinda. Disponível em: http://www2.uefs.br:8081/sitientibus/pdf/29/a_educacao_no_brasil_no_periodo_colonial.pd f Apontamentos sobre a educação no Brasil Colonial. (1549-1759) Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/inter/v18n4/1518-7012-inter-18-04-0185.pdf TERRA. Márcia. História da Educação. São Paulo: Pearson Education do Brasil. 2014. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 27 UNIDADE 2 – A EDUCAÇÃO NO BRASIL IMPÉRIO 1.FAMÍLIA REAL NO BRASIL Com a chegada da Família Real ao Brasil, em 1808, é necessário uma série de medidas referentes ao campo intelectual, como a criação da Imprensa Régia, Biblioteca Pública, Jardim Botânico no Rio, Museu Nacional Surgia assim, uma nova mentalidade que iria transformar a educação no Brasil cheia de ideias revolucionárias na qual se disseminou na Independência brasileira e consequentemente na Constituição do Império. O processo de emancipação do Brasil, também incluiu medidas transformadoras, como a abertura dos portos ao comércio exterior, a revogação do alvará que proibia a instalação de manufaturas, significando de certa forma a ruptura do pacto colonial. Contudo, ainda não possuía formas organizadas de educação escolar, apresentava somente algumas poucas escolas e as aulas régias, nas quais eram insuficientes e não possuíam um currículo regular, consequências herdadas do período colonial, como também alguns cursos de nível superior que foram criados na fase joanina. Na fase joanina, os cursos foram criados, pois havia a necessidade de pessoal mais diversificado, que formasse burocratas e profissionais liberais. Neste período as preocupações educacionais estavam relacionadas com a permanência da família real e com a administração da Colônia. No que diz respeito ao povo Para começar nossos estudos HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 28 em geral, houve a permissão de abertura de escolas de Primeiras Letras, a “qualquer pessoa”, no entanto, não havia escolas, a maioria das aulas era dada na casa do próprio professor. No que concerne àelite, a preocupação concentrava-se na criação de cursos superiores, pois estas recebiam os preceptores em suas casas para as noções elementares das primeiras letras. Segundo Ribeiro (2011) em razão da defesa militar, são criadas em 1808, a Academia Real da Marinha e, 1810, a Academia Real Militar, ambos com a finalidade de formar oficiais e engenheiros civis e militares. Neste período também é criado o curso de cirurgia, que foi instalado no Hospital Militar na Bahia, e os cursos de cirurgia e anatomia e posteriormente o de medicina, no Rio de Janeiro. Todos visavam atender à formação de médicos e cirurgiões para o Exército e a Marinha. Com a volta da família real para Portugal em 1821 e o descontentamento de grande parte da população e da burguesia brasileira, o país se torna independente de Portugal em 1822. Após a Proclamação da Independência, em 1822. Foi necessário a elaboração e promulgação de uma Constituição. Por Decreto baixado em 3 de junho de 1822, Dom Pedro I convocou a Assembleia Geral Constituinte e Legislativa. Por meio dessa Assembleia foi elaborada e efetivada a primeira Constituição Brasileira em 1824, a qual permaneceu por todo período imperial, essa Constituição começou por sugerir uma legislação particular sobre a instrução, com o objetivo de organizar a educação nacional que tinha em vista o estabelecimento da instrução primária e gratuita para todos os cidadãos (SAVIANI, 2011). 1.1 A INSTRUÇÃO PÚBLICA E O MÉTODO PEDAGÓGICO DE LANCASTER O século XIX no Brasil representou o início da transição do trabalho escravo para o trabalho livre e, posteriormente o trabalho assalariado, levando a uma modernização na produção, nas formas de trabalho e na política. No setor cultural, com a influência liberal e positivista, a educação ganhou forte impulso. A educação foi tomada como instrumento de poder e com capacidade para promover a transformação social, no entanto, a concepção de educação que se defendia no Brasil estava relacionada à disciplinarização da mente e do corpo, ao desenvolvimento de crenças morais próprias da sociedade disciplinar; não se relacionava, portanto, à independência intelectual. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 29 Para que houvesse uma uniformidade no campo político e social, foi preciso recorrer à religião, ao exército e à educação, onde por meio desta a elite procurou consolidar-se utilizando o Método do Ensino Mútuo ou Monitorial - Método Lancaster que defendia a ordem, a disciplina e a obediência como um meio de sujeitar a população mais pobre à obediência. A lei de 15 de outubro de 1827, que previa a educação brasileira, trazia recomendações sobre onde deveria haver escolas e como elas deveriam ser; menções sobre a contratação de professores mediante concursos ou exames; definições sobre os ordenados e as gratificações, sem distinção, para os mestres e mestras; disposições sobre o ensino da leitura; a instituição, oficial, de um método pedagógico; determinações sobre a aplicação dos castigos escolares (NEVES, 2005). Foi também a responsável pela implantação do Método de Lancaster no Brasil, sendo ele de extrema importância para a formação da nação brasileira no período anterior à República, pois a implantação desse método pedagógico teve como finalidade combater as revoltas que até então ocorriam no Brasil, para que pudesse ser preservada a unidade e estruturas nacionais. Dessa forma, por meio da educação se garantiria a ordem e a civilização uma vez que a população fosse educada sob forte disciplina, começando da infância até a idade adulta. Pois para a sociedade dirigente a disciplinarização do “povo” era extremamente necessária. Nessa mesma lei, ficou instituído que os ordenados dos professores fossem definidos pelos presidentes de província, as escolas deviam ser de ensino mútuo (Método Lancaster), os professores deveriam providenciar sua formação em curto prazo e às próprias custas e, determinava os conteúdos das disciplinas. Seriam também ensinados os princípios da moral cristã e da doutrina católica apostólica romana, assim como aos temas, no ensino de leitura, sobre a Constituição do Império e História do Brasil. Entretanto, devido à falta de professores preparados, pelo fato de a remuneração não ser atrativo para a profissão, a falta de materiais adequados e a precariedade das instalações escolares, até mesmo de edifícios adequados às necessidades do ensino, essa lei não funcionou como o declarado. As escolas para meninas foram ainda mais menosprezadas. Em relação à fiscalização, esta não indicou nenhum efeito desejável. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 30 Outros fatores que contribuíram para a implantação do método Lancasteriano no Brasil foi por ser vantajoso economicamente, por resolver o problema de falta de professores, uma vez que poderiam ensinar duzentos ou trezentos alunos de uma só vez e em pouco tempo. A estrutura física da escola lancasteriana exigia ambientes limpos, com boa luminosidade e ventilação. Havia uma única sala de aula para o ensino de leitura, escrita, contas e obediência. A sala era quadrada com o chão inclinado para frente e uma plataforma elevada, as carteiras eram dispostas espaçosamente, uma única escrivaninha para que o “mestre” pudesse ver os alunos de uma só vez (NEVES, 2005). A duração das aulas era de 5 horas mais ou menos, repartidas entre o período da manhã e da tarde. A doutrina cristã estava presente no início e no fim do dia escolar. Havia durante o dia escolar o rodízio de atividades que precisaria ser feito em poucos minutos e com ordem. Era por meio de chamada que se controlava a presença dos alunos, porém era feita de forma diferente da tradicional, em lugar de registrar os presentes, registravam-se os que estavam ausentes (NEVES, 2005). Em relação ao mestre, este era responsável pela escolha e cuidado dos recursos necessários para realização das aulas, por todas as avaliações e pela seleção dos monitores que eram responsáveis na tarefa de ensinar e corrigir os erros dos alunos – discípulos. Portanto era o mestre quem planejava as aulas de acordo com o método e os monitores colocavam essas aulas em prática. Os monitores eram escolhidos dentre os alunos mais adiantados e espertos, tinham que saber todo o conteúdo que iria ser trabalhado, precisavam ser atenciosos e disciplinados, sendo sua principal tarefa ensinar os alunos a corrigir-se mutuamente. O que distinguia as crianças, segundo Lancaster, era o saber ler, e era a partir do domínio da leitura que os outros objetivos educacionais eram definidos. O ensino da leitura se dava em uma classe (primeira) formada por crianças que não conheciam o alfabeto (não havia limite de idade), dois tipos de meios eram usados para o ensino e aprendizagem do alfabeto; a caixa de areia, onde o ensino das letras obedecia à regra da semelhança das formas gráficas das letras, havia três grupos distintos de letras, as que possuíam linhas https://sites.google.com/site/histedbrcolonialimperial/metodo-monitorial HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 31 retas como I, H e etc.; as que possuíam ângulos como A, M, e as que possuíam círculos ou curvas como O, C entre outras. O procedimento do ensino na caixa de areia obedecia a uma sequência: “o monitor dava a ordem de preparar, os alunos levantavam o dedo indicador, o monitor indicava a letra A, escrevia na areia e dizia: façam” (NEVES, 2005, p. 68). No Método Lancasteriano leitura e escrita eram estudadas simultaneamente, o que o diferenciava dos outros métodos. Era uma regra, ser colocada ao lado de uma criança que sabia menos, uma que tivesse maior conhecimento, para que o que soubesse menos aprendesse observando e copiando o que o outro fazia. Durante o tempo ocioso, outro meio de aprendizagem era utilizado, isto é, quando o monitor estava alisando a areia, as criançasdeviam ler o alfabeto que ficava colado nas costas do aluno da frente (cartaz). Também se utilizava cartões que continham letras, e estes ficavam suspensos nas paredes da sala. Para se entrar na classe de aritmética, era necessário que o aluno já soubesse a escrita dos números de 1 a 9. Cada aluno recebia uma lousa para acompanhar o monitor, as aulas iniciavam com adições pequenas e passavam para maiores, também já se apresentavam por meio da adição a subtração, a multiplicação e a divisão. Cada monitor recebia um livro que incluía a descrição das operações. E, “[...] para que houvesse o aprendizado era necessário que as primeiras tabuadas ou combinações das primeiras quatro regras ficassem decoradas na memória” (NEVES, 2005, p. 69). A avaliação, no Método Lancaster, era estabelecida segundo o ideal da formação de um indivíduo competitivo, mas não esquecendo a economia de tempo, se ensinava “ao mesmo tempo 60 ou 100 alunos. ” (NEVES, 2005, p. 70). Lancaster era contra o ensino individual, pois para ele havia perda de tempo, e também porque não havia competição. As classes não eram divididas por idade e sim conforme as capacidades de cada um, facilitando assim o ensino, e intimando os alunos a se sobressaírem uns aos outros para ir para a classe seguinte. Assim, o intento do Método no que diz respeito à classificação das classes, servia como um preceito do poder disciplinar, ou seja, servia de recompensa ou punição. Lancaster previa que quando o aluno aprendesse o que estava programado, não aprenderia mais nada, assim deveria passar para a classe seguinte. Havia as premiações, que eram dadas como recompensa à dedicação dos alunos. Esses prêmios eram de diferentes tipos, com caráter transitório, como as etiquetas de couro com inscrições; as medalhas de prata (estas eram devolvidas ao final da aula), e os concretos, como as figuras coladas em cartolinas (agradavam as crianças). HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 32 Castigos também eram utilizados no Método, sendo a conversa a primeira atitude indisciplinar que um aluno poderia cometer, pois como o método se baseava na memorização, não se podia falar e aprender ao mesmo tempo, assim o aluno era punido com severidade. Eram vários os instrumentos e os modos de castigos, e estes apareciam em duas formas: “[...] aqueles que constrangiam fisicamente, não por machucar, mas pelo fato de pregar no corpo a marca da punição, e os que constrangiam moralmente. [...]” (NEVES, 2005, p. 73). Na maioria das vezes os castigos não eram dados porque os alunos não aprendiam, mas por indisciplina. Foi por interesse estatal, para que seu poder fosse difundido, que um método de instrução para todas as províncias foi articulado, e para que outros métodos não fossem instalados. Assim o Estado pode impor legalmente o Método Lancaster, fazendo com que os professores ficassem mais próximos e fossem vigiados, tornando-os agentes estatais. Tem-se que ressaltar, que “a concepção de educação que as classes ilustradas defendiam para as classes subalternas estava relacionada à disciplinarização da mente e do corpo e no desenvolvimento de crenças morais próprias da sociedade disciplinar, e não na independência intelectual” (NEVES, 2005, p.75). 2. O SISTEMA EDUCACIONAL DURANTE O SEGUNDO REINADO Como citado anteriormente, a Lei de 15 de outubro de 1827, tenta difundir o ensino público no Brasil, após a Independência, uma vez que sugeria a instalação de escolas em todos os povoados do Império. No entanto, de acordo com Saviani (2011), essa Lei não foi concretizada, de fato, pois se essas escolas tivessem sido instaladas, teria dado origem a um sistema nacional de instrução pública no Brasil. Mas isso não aconteceu, e em 1834 foi aprovado o Ato Adicional à Lei que desobrigava o Governo Central de cuidar das escolas primárias e secundárias e transferia essa responsabilidade para as províncias, ao Governo Central ficou incumbido apenas o Ensino Superior. Houveram muitas dificuldades para instruir as primeiras letras aos moradores dos lugares distantes e isolados, pois neste período, o acesso à escolarização era precário ou até mesmo inexistente, tanto por falta de escolas, quanto de professores. Foi por isso que HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 33 surgiram os decretos para criação das primeiras Escolas Normais no Brasil, com o objetivo de preparar professores para ensinar as primeiras letras. Podemos dizer que na primeira metade do século XIX, sob a vigência da Lei das Escolas de Primeiras Letras, a instrução pública caminhou a passos lentos. Neste período, havia insuficiência quantitativa, falta de preparo (a tentativa de resolver esse problema com a criação de Escolas Normais ainda não surtira efeito), escassa remuneração e pouca dedicação dos professores; a ineficiência do método lancasteriano, principalmente, à falta de instalações físicas adequadas para a prática do ensino mútuo, entre outros, acarretando em urgência em uma ampla reforma da instrução pública (SAVIANI, 2011). Em 1853, o então ministro do Império, baixou o regulamento que ficou conhecido como “Reforma Couto Ferraz” e em 1854, foi aprovado um Decreto que regulamentava a reforma do ensino primário e secundário. Este documento foi composto de cinco títulos, cada um com apenas um título, no primeiro, aborda a inspeção dos estabelecimentos públicos e particulares de Instrução primária e secundária; no terceiro, aborda a Instrução pública secundária; no quarto, trata do ensino particular primário e secundário e no quinto, aborda as faltas dos professores e diretores de estabelecimentos públicos e privados. Já, o segundo título, que trata da Instrução pública primária, é composto por três capítulos abordando as condições para o magistério público; nomeação, demissão, os professores adjuntos, substituição nas escolas e as escolas públicas, suas condições e regime (SAVIANI, 2011). Esse regulamento foi dirigido apenas ao município da Corte, no entanto, servia de modelo para as outras províncias. A concepção pedagógica dessa reforma mostrou-se centralizadora, pois o papel atribuído ao inspetor era amplo. O ensino também se tornou obrigatório aos meninos com mais de 7 anos, menos aos escravos. Outra reforma do ensino brasileiro foi proposta em 1879, que reformou o ensino primário, secundário e superior também no município da Corte, esta chamada de Reforma Leôncio de Carvalho. A essência da reforma é apresentada logo de início ao proclamar que “é completamente livre o ensino primário e secundário no município da Corte e o superior em todo o Império, salva a inspeção necessária para garantir as condições de moralidade e higiene”. Essa referência à “moralidade e higiene” traz à tona um elemento que ocupou lugar central no ideário pedagógico brasileiro no Segundo Império e ao longo da Primeira República: o higienismo (SAVIANI, 2011). HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 34 A Reforma Leôncio de Carvalho, assim como na Reforma Couto Ferraz, manteve a obrigatoriedade do ensino primário do 7 aos 14 anos, a assistência aos alunos pobres, a organização da escola primária em dois graus e o serviço de inspeção. Já entre as mudanças sugeridas apenas pela Reforma Leôncio de Carvalho estão: a regulamentação das Escolas Normais fixando o seu currículo, a nomeação dos docentes, o órgão dirigente e a remuneração dos funcionários, e inovou ao prever a criação dos jardins de infância para as crianças de 3 a 7 anos, entre outros. Saviani (2011) assevera que a Lei das Primeira Letras procurou conduzir a questão didático pedagógica com o método do ensino mútuo, a Reforma Couto Ferraz o fez pela via do ensino simultâneo, a Reforma Leôncio de Carvalho aponta em direção do método do ensino intuitivo. Esse método também conhecido como lição de coisas, foi concebido com o intuito de resolver o problema daineficiência do ensino. Criado na Alemanha no final do século XVIII pela iniciativa de Basedow, Campe e, sobretudo de Pestalozzi. Consistia na valorização da intuição como fundamento de todo o conhecimento, isto é, a compreensão de que a aquisição dos conhecimentos decorria dos sentidos e da observação. No Brasil teve Rui Barbosa como um dos principais defensores. Este, foi responsável por sistematizar os princípios do método intuitivo em seus famosos Pareceres e por traduzir as Lições de Coisas, de Calkins. Aranha (2006) ressalta que a ênfase do método está no reconhecimento de que os sentidos são a porta para todo conhecimento. Contrariamente ao ensino discursivo, que atua por raciocínio lógico, desta forma, abstrato, busca-se começar a instrução primária educando a sensibilidade, pela qual percebemos cores, formas, sons, luz etc. O método intuitivo utilizava os objetos como suporte didático e os sentidos possibilitavam a produção de ideias, iniciando do concreto e chegando à abstração. Os sentidos deveriam ser educados para obter o conhecimento, passando da intuição dos sentidos para a intuição intelectual. Saviani (2011) afirma que para a utilização desses objetos (globo de Perce, gravuras, mapas, quadros Parker, etc.) dependia de diretrizes metodológicas claras. Desta forma, o que estava em jogo era o método de ensino entendido como uma orientação segura para a condução dos alunos, por parte do professor, em sala de aula. Assim, foram elaborados manuais segundo uma diretriz que modificava o papel HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 35 pedagógico do livro, ao invés de ser material didático utilizado pelo aluno é um material utilizado pelo professor, pois trazia modelos de procedimentos para elaboração de atividades. O método intuitivo rejeitava a educação livresca, a criança deveria aprender a ler o mundo visível, pela observação e percepção das relações entre os fenômenos. Aranha (2006) ressalta que no século XIX ainda não havia o que poderia chamar-se de pedagogia brasileira. No entanto, o método intuitivo vigorou até a república. Contudo, alguns intelectuais influenciados pelas ideias europeias e norte-americanas, buscavam novos rumos para a educação, apresentando projetos de leis, criando escolas, além de promover significativo debate aberto para a sociedade civil. Podemos inferir que, no século XIX, muitas realizações foram feitas no campo educacional, mesmo estas tendo sido restritas em sua maioria ao município da Corte. Entre elas estão: criação da Inspetoria Geral da Instrução Primária e Secundária do Município da Corte, destinada a fiscalizar o ensino público e particular; o estabelecimento das normas para o exercício da liberdade de ensino e de um sistema de preparação do professor primário (mesmo que ineficiente), entre outros. Todavia, mesmo que no final do Império houvessem surgido algumas esperanças quanto à educação no Brasil, por conta dos intensos debates sobre a mesma, a situação do ensino continuava precária, e o ensino superior era mais valorizado que os demais níveis. A herança do Império O ensino primário era ministrado, em grande parte, por professores leigos, já que não havia escolas normais para a preparação daqueles que se destinassem ao magistério. O ensino secundário apresentava predominância dos cursos avulsos, de frequência livre, sem uma organização hierárquica das matérias de Humanidades. O ensino superior era reduzido a umas poucas escolas isoladas, destinadas à formação de profissionais liberais, especialmente no campo do Direito. Ao terminar o período imperial, o Brasil não dispunha de um sistema integrado de ensino: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 36 O primário nada tinha a ver com o secundário: para cursar este último, o aluno não precisava ter concluído o primário. O curso secundário, excetuando-se o Colégio de Pedro II e outros poucos estabelecimentos, nem chegava a se constituir num curso seriado, ordenado; era formado por matérias avulsas, orientadas para os exames de ingresso aos cursos superiores; não se exigia a conclusão do secundário para iniciar estudos de nível superior. Não tínhamos uma universidade, mas apenas escolas isoladas de nível superior, como as Faculdades de Direito de São Paulo e do Recife, as Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e de Salvador, e a Escola de Engenharia do Rio de Janeiro. PILETTI, N. História da Educação no Brasil. Ed. Ática, São Paulo, 2006. PARA SABER MAIS Educação e História da Educação no Brasil. José Clécio Silva e Souza. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/18/23/educao-e-histria-da- educao-no-brasil. A Educação no Brasil Império. Disponível em: http://fabiopestanaramos.blogspot.com/2011/02/educacao-no-brasil- imperio.html. TERRA. Márcia. História da Educação. São Paulo: Pearson Education do Brasil. 2014. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 37 UNIDADE 3 – A EDUCAÇÃO NO BRASIL REPÚBLICA 1 A EDUCAÇÃO NA PRIMEIRA REPÚBLICA (1889 – 1929) Pensar as bases nas quais foi discutida a difusão do ensino elementar durante a Primeira República, ao considerar o analfabeto como apático à ideia de progresso, remetem-nos as principais preocupações dos reformadores da época. Difundir a educação a toda população era mudar suas práticas e mentalidade, construir valores civis e republicanos e assegurar a sobrevivência num mundo cada vez mais letrado. Tratava-se acima de tudo, de homogeneizar as referências sociais do país. É um período no qual surgem novas instituições; as reformas partilharam a tarefa de normatizar, profissionalizar e sistematizar a escolarização das camadas populares. O pensamento educacional da época orientou-se no sentido de articular o ensino à criação de uma nova cultura nacional, fundamentada nas noções de civismo. Nos bancos escolares é que a cultura cívica seria disseminada e a nossa tradição republicana forjada. A busca incessante pela unidade, por estabelecer identidades, parece ser uma preocupação comum aos reformadores da Primeira República. A questão era levar um projeto político de um grupo a ser aceito e incorporado pela maioria, pois disso dependia a consolidação democrática. Os republicanos tinham diante de si o desafio de desenvolver a democracia. A educação cívica era entendida não apenas como um meio para instruir-se sobre a pátria e seus símbolos, mas para habituar os escolares à prática da moral cívica. O cotidiano escolar foi tomado por inúmeros preceitos que pretendiam ensinar uma nova Para começar nossos estudos HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II Pedagogia 38 forma de obediência às regras. Os manuais de Educação Moral e Cívica fixavam, com rigor, cada detalhe da conduta social pretendida. Nessa perspectiva, a escola primária, vai abandonando os procedimentos estritamente disciplinares (como os castigos corporais), para lançar mão de uma cadeia de estratégias que deveriam atuar no plano do julgamento, ou seja, da disciplina intelectual das crianças e jovens por meio do autocontrole. A nova ordem urbana e a escola projetada para esse meio possuem finalidades explícitas de aculturação, pois o modo de socialização escolar se impôs aos demais modos. Por meio dela, as crianças se tornariam homens e mulheres aficionados ao seu país, submissos não pelo temor, mas pela razão, à autoridade, solidários com os demais e acostumados a reconhecer e a respeitar a justiça. Esse novo mecanismo de controle, feito de racionalidade, pode ser observado nas intenções estruturadas da escola primária da Primeira República. Neste período transforma-se a função da escola: de instruir para o de educar. O educar escolar não apenas diferia do educar familiar, mas a ele se opunha. Questionando a milenar estrutura educacional que vigorava na família, o
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