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Apostila HE II 2021 - 2024

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Prévia do material em texto

Curso de Pedagogia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO: 
 
HISTÓRIA DA 
EDUCAÇÃO II 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2021-2024
 
 
 
 
 
DIRETORA GERAL 
Suzana Karling 
 
VICE-DIRETORA GERAL 
Prof.ª Me. Daniela Caldas Acosta 
 
DIRETOR PEDAGÓGICO 
Prof. Me. Argemiro Aluísio Karling 
 
COORDENADORA DO CURSO DE PEDAGOGIA 
Prof.ª Taís Reis Leal Murta 
 
PRODUÇÃO DO MATERIAL 
Prof. Me. Argemiro Aluísio Karling 
Prof.ª Me. Nelci Gonçalves Dorigon 
Prof.ª Me. Rosângela Trabuco Malvestio da Silva 
Prof.ª Me. Dalva Linda Vicentini 
 
ELABORAÇÃO DO CONTEÚDO 
Prof.ª Me. Dalva Linda Vicentini 
FORMATAÇÃO 
 
Priscilla Tomazi 
 
 
 
 
 
 
Histórico de Revisão 
Professor Ano 
Daniela P. do Nascimento 2020 
 
 
 
 
 
Nenhuma parte deste fascículo pode ser reproduzida sem autorização expressa do IEC e dos autores. 
 
Direitos reservados para: 
 
 
INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO E DA CIDADANIA 
Av. Cerro Azul, 1411 – Jd. Novo Horizonte. CNPJ – 02.684.150/0001-97 
CEP: 87010-055 - Maringá – PR – Fone: (44) 3225-1197 
e-mail: fainsep@fainsep.edu.br 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
5 
 
 
SUMÁRIO 
APRESENTAÇÃO 7 
PLANO DE ENSINO 8 
INTRODUÇÃO 9 
UNIDADE 1 – EDUCAÇÃO NO BRASIL COLÔNIA 10 
1.PERÍODOS DA HISTÓRIA NO BRASIL 10 
1 EDUCAÇÃO JESUÍTICA (1549-1759) 11 
1.2 RATIO STUDIORUM 15 
1.2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DO RATIO STUDIORUM 16 
1.2.2 EDUCAÇÃO DOS NEGROS ESCRAVOS E DAS MULHERES 18 
2. A EDUCAÇÃO NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XVIII (1759- 1822) - REFORMA POMBALINA 20 
UNIDADE 2 – A EDUCAÇÃO NO BRASIL IMPÉRIO 27 
1.FAMÍLIA REAL NO BRASIL 27 
1.1 A INSTRUÇÃO PÚBLICA E O MÉTODO PEDAGÓGICO DE LANCASTER 28 
2. O SISTEMA EDUCACIONAL DURANTE O SEGUNDO REINADO 32 
UNIDADE 3 – A EDUCAÇÃO NO BRASIL REPÚBLICA 37 
1 A EDUCAÇÃO NA PRIMEIRA REPÚBLICA (1889 – 1929) 37 
1.1 MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA E A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE 
ENSINO NO BRASIL. 38 
2. O PROJETO EDUCACIONAL BRASILEIRO NO REGIME MILITAR 40 
3. O PROJETO EDUCACIONAL DURANTE A DÉCADA DE OITENTA 42 
4. CONSTRUINDO A ESCOLA CIDADÃ (DÉCADA DE 1990 ATÉ OS DIAS ATUAIS) 43 
UNIDADE 4 – A ERA DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA 46 
1. A FUNÇÃO DA ESCOLA NACIONAL 46 
2. PERSPECTIVAS ATUAIS DA EDUCAÇÃO 48 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
6 
 
2.1 UM PASSADO SEMPRE PRESENTE 50 
2.2 EDUCAÇÃO TRADICIONAL 50 
2.3 EDUCAÇÃO INTERNACIONALIZADA PAREI AQUI 51 
2.4 NOVAS TECNOLOGIAS 51 
2.5 PARADIGMAS HOLONÔMICOS 52 
2.6 EDUCAÇÃO POPULAR 53 
3.UNIVERSALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA E NOVAS MATRIZES TEÓRICAS 54 
3.1 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO 55 
3.2 PARA PENSAR A EDUCAÇÃO DO FUTURO 59 
QUESTÕES DE ESTUDO 64 
REFERÊNCIAS 66 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
7 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Prezados alunos: 
 
Mais um módulo inicia e gostaria de lembrá-los da missão da FAINSEP que é de 
formar profissionais educadores, bacharéis e tecnólogos; ampliar a formação humanística 
de pessoas para o pleno exercício da cidadania e preparo básico para funções técnicas e 
serviços gerais; oferecer educação continuada por meio de cursos de atualização, 
aperfeiçoamento e especialização, inclusive para o exercício de docência na educação 
superior; enfim, promover a educação e a cidadania por todos os meios, utilizando para tal 
o conhecimento, o desenvolvimento e a aplicação de novas tecnologias e educação a 
distância. 
Dessa forma, saiba que a formação e profissionalização do educador, com 
apropriação de competências e conhecimentos necessários ao exercício da ação docente, 
serão desenvolvidas durante a Graduação em Pedagogia. Com isso, espera-se o 
desenvolvimento de atitudes de reflexão e análise da atuação pedagógica e de valores para 
bem atuar na sociedade como agente de transformação, em busca de uma sociedade mais 
justa, a partir da identificação e análise das dimensões sócio-políticas e culturais de seu 
meio. 
A Pedagogia abrange o campo teórico e investigativo da educação, do ensino, de 
aprendizagens e do trabalho pedagógico propriamente dito, portanto saibam que, nesta 
Instituição, ao término da graduação, vocês não terão apenas um diploma, mas, sim, uma 
mudança e/ou transformação, tanto nos aspectos pessoais como profissionais, tornando-
se um indivíduo crítico, criativo e participativo na busca de uma sociedade mais justa. 
 
Bons Estudos! 
 
A Direção 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
8 
 
 
 
 
PLANO DE ENSINO 
 
 
Módulo: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II. 
Carga Horária: 60 horas Código: HE II 
 
1. EMENTA 
Contexto histórico, político, econômico e social das mudanças educacionais no Brasil. 
Educação no Brasil Colônia, Educação no Brasil Império. Educação no Brasil República. 
Educação brasileira na atualidade. Educação contemporânea. 
 
2. OBJETIVO 
 
Conhecer o percurso histórico da educação brasileira, para assim compreender os ideais 
da educação na contemporaneidade. 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
9 
 
INTRODUÇÃO 
Toda educação assenta-se sobre uma concepção de ser humano e de sociedade, 
ou seja, pressupõe uma ideia de humanidade e um tipo de sociedade na e para a qual se 
quer formar os educandos. 
Com o intuito de conhecer a história da educação, nossos estudos estão inseridos 
no tempo. O conhecimento de diferentes civilizações, marcadas por ideais distintos de 
educação, é que nos dará condições de estabelecer relações, participar da herança cultural 
dos nossos antepassados e realizarmos projetos de mudança. 
Você deve estar questionando: para que serve saber do passado? É no passado que 
os seres humanos buscam respostas para suas inquietações atuais. Compreender a 
História da Educação ajuda a deixar de considerar naturais os aspectos do cotidiano, como 
se fossem necessários e imutáveis. 
Para uma melhor compreensão do nosso presente, precisamos lançar o olhar em 
direção ao passado e acompanhar a evolução histórica que nos trouxe até os dias de hoje. 
Talvez você se surpreenda que questões que já eram debatidas há tempos 
permanecem como objeto de intensa polêmica. A história da educação está inserida e 
escrita com as mesmas tintas nos sucessivos cenários históricos, políticos e religiosos. Às 
vezes parece se repetir, pois seu avanço se dá através de uma “espiral ascendente”, em 
que o mesmo ponto é revisitado em um patamar acima. 
Estudar a História da Educação, requer que se estabeleça uma relação direta com o 
contexto histórico geral, observando a sincronia existente entre as crises na educação e as 
crises no sistema. Mas esta sincronia não deve ser entendida apenas como algo que ocorre 
paralelamente na história geral e na história da educação. Na verdade, as relações 
estabelecidas entre os homens são estabelecidas das relações que estes produzem em 
sua existência. Por este motivo, a educação não pode ser considerada um fenômeno 
isolado, mas interligada a política e que pode sofrer com os efeitos da ideologia. 
Portanto, tencionamos fornecer a você, aluno, um instrumento indispensável para 
que seja capaz de atingir os objetivos do conhecimento a respeito da história da educação, 
em cada período histórico vivenciado pela humanidade. Esperamos que o conteúdo deste 
módulo contribua para a sua formação acadêmica e o instigue a buscar meios adequados 
que auxiliem na mudança da educação que ansiamos. 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
10 
 
UNIDADE 1 – EDUCAÇÃO NO BRASIL COLÔNIA 
 
 
 
 
1.PERÍODOS DA HISTÓRIA NO BRASIL 
A história do Brasil está intimamente ligada aos acontecimentos da Europa no século 
XVI (1500-1601), uma vez que a colonização é resultado da expansão comercial da 
burguesia enriquecida com a Revolução Comercial. 
Com todos os países buscando lucros, o interesse mercantil motiva a busca por 
colônias, desta forma, a esquadra portuguesa comandada por Pedro Álvares Cabral chega 
ao Brasil em 1500. Aranha (2006) ressalta que neste período as colônias valiam tanto para 
ampliaçãodo comércio, como por fornecer produtos tropicais e metais preciosos para as 
metrópoles. 
De 1500 a 1530, a exploração do território, então chamado Terra de Santa Cruz, era 
limitada a expedições para coleta e transporte de pau-brasil, madeira nobre apreciada no 
continente europeu e algumas expedições exploratórias. 
Durante esse período, a costa brasileira foi também explorada por diversos povos 
entre eles holandeses, ingleses e, principalmente, franceses. Mesmo não tendo assinado 
o Tratado de Tordesilhas (acordo entre Portugal e Espanha que dividiu em 1494 as terras 
recém-descobertas), essas nações enviavam ao Brasil missões para extrair madeira. 
 Para tentar garantir o controle do território, a partir de 1530 inicia-se a colonização 
nas terras brasileiras. Em 1534, o rei de Portugal, D. João III, decidiu repartir o Brasil em 
15 lotes, ou capitanias hereditárias. As áreas eram doadas em caráter vitalício e hereditário 
 
Para começar nossos estudos 
 
 
 
 
 
 
 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
11 
 
aos cidadãos da pequena nobreza portuguesa, os donatários. Entre os deveres dos 
detentores das terras estavam: governar, colonizar, resguardar e desenvolver a região 
com recursos próprios. 
Com a monocultura de cana-de-açúcar, a economia colonial expandiu-se em torno 
do engenho de açúcar, recorrendo ao trabalho escravo, inicialmente dos índios e, depois, 
dos negros africanos (ARANHA, 2006). 
O Brasil era uma colônia de economia agrícola, na qual, o lucro ficava com os 
comerciantes na metrópole, desta forma, a educação não constituía meta prioritária, já que 
o desempenho de funções na agricultura não exigia formação especial. Mesmo assim, as 
metrópoles europeias enviaram religiosos para o trabalho missionário e pedagógico, com a 
finalidade principal de converter os índios e impedir que os colonos se desviassem da fé 
católica, conforme as orientações da Contrarreforma (ARANHA, 2006). 
É sobre a educação deste período que discorreremos a partir de agora. 
 
Fonte: http://gisele-finatti-baraglio.blogspot.com.br/1997/04/ 
 
1 EDUCAÇÃO JESUÍTICA (1549-1759) 
 
Como podemos observar na imagem acima, os jesuítas chegaram ao Brasil em 
1549, primeiramente o governador Tomé de Souza, quatro padres, dois irmãos jesuítas, 
chefiados por Manoel da Nóbrega (RIBEIRO; SAVIANI, 2011). 
Mas, quem eram os jesuítas? 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
12 
 
A Companhia de Jesus foi uma ordem religiosa da Igreja Católica, fundada na 
Europa em 1540 por Inácio de Loyola. Os padres desta companhia eram denominados 
jesuítas, e sua missão era catequizar e evangelizar as pessoas, pregando o nome de Jesus. 
Os princípios básicos dessa ordem estavam pautados em: 1) a busca da perfeição 
humana por meio da palavra de Deus e a vontade dos homens; 2) a obediência absoluta e 
sem limites aos superiores; 3) a disciplina severa e rígida; 4) a hierarquia baseada na 
estrutura militar; 5) a valorização da aptidão pessoal de seus membros. São esses 
princípios que eram rigorosamente aceitos e postos em prática por seus membros, que 
tornaram a Companhia de Jesus uma poderosa e eficiente congregação (SHIGUVOV 
NETO; MACIEL, 2008). 
No Brasil, a missão que lhes foi conferida pelo rei de Portugal, Dom João III, era a 
de converter os gentios: “Porque a principal coisa que me moveu a mandar povoar as ditas 
terras do Brasil foi para que a gente delas se convertesse a nossa santa fé católica” de 
modo que os gentios “ possam ser doutrinados e ensinados nas coisas da nossa santa fé” 
(DOM JOÃO III, 1992, pp. 145 e 148, apud SAVIANI, 2011, pp. 25). 
A tarefa inicial dos jesuítas era a conversão e a catequese dos índios, o ensinamento 
das primeiras letras às crianças brancas e o pastoreio das ovelhas desgarradas 
(portugueses) que já viviam no Brasil e que davam maus exemplos aos nativos. 
As atividades que mais ocuparam os jesuítas foram à conversão e a catequização 
dos nativos, pois segundo Nóbrega: “[...] os gentios da terra não eram de má índole, uma 
vez que não praticavam uma religião, cuja teologia se opusesse profundamente ao 
cristianismo” (COSTA; MENEZES, 2005, p. 33). 
Os jesuítas também achavam que os índios eram bons, mas tinham maus 
comportamentos e queriam restaurar o que segundo eles era a verdadeira natureza dos 
nativos, transformando-os em cristãos, para eles, converter os índios era como escrever 
em um papel em branco, pois não tinham religião ou deuses, dessa forma não tiveram muita 
dificuldade em assimilar as novidades cristãs. 
Para os jesuítas o que havia de mais 
grave e errado na conduta dos índios era 
aquilo que contrariava ou se afastava da fé 
cristã, ou seja, o canibalismo, a poligamia e 
o fato de andarem nus. 
Muitos foram os obstáculos 
encontrados pelos jesuítas na 
evangelização dos nativos, muitas vezes 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
13 
 
“almas” já convertidas, se perdiam, pois, os indígenas resistiam a certas imposições, uma 
das causas era o nomadismo, que dificultava a evangelização continuada. 
Outro obstáculo eram os próprios portugueses que apresentavam condutas 
inapropriadas, segundo os jesuítas, o que acarretava em maus exemplos para os índios. O 
próprio padre Manoel da Nóbrega se queixava do mau comportamento dos portugueses e 
do seu relaxamento moral, aproveitando-se dos costumes dos gentios para adotar 
comportamentos como o concubinato com muitas mulheres (índias) e a escravização de 
gentios. 
Algumas práticas facilitaram a catequese dos gentios, entre elas as missões também 
chamadas de reduções, que consistiam no aldeamento dos gentios, para afastá-los dos 
brancos e assim instaurar o cristianismo e a educação voltada às crianças índias 
(curumins), pois os adultos em geral não guardavam a devoção. 
Outro padre importante para a educação brasileira, foi o padre José de Anchieta, um 
hábil conhecedor de línguas, rapidamente conseguiu dominar a “língua geral” falada pelos 
índios do Brasil, organizou a gramática para dela se servir no trabalho pedagógico. 
Para realizar seu trabalho, Anchieta utilizou o idioma tupi, tanto para se dirigir aos 
índios como aos colonos que entendiam a língua geral falada ao longo da costa brasileira. 
Para tanto produziu poesia e teatro, ele é tido como o jesuíta que mais diversificou os meios 
para melhor apresentar as mensagens cristãs, tocando a alma dos ouvintes tanto pelo 
encanto, como pela emoção e pelo medo. Suas peças teatrais e os cantos eram escritos, 
encenados e cantados na língua tupi. 
Saviani (2011) ressalta que a principal estratégia para organização do ensino, para 
atrair os gentios, foi agir sobre as crianças. Desta forma, para facilitar a catequização dos 
curumins, foram enviados de Lisboa, alguns meninos órfãos (crianças que ficavam em 
instituições de caridade mantidas pela coroa) para o Brasil, para os quais foi fundado o 
Colégio dos Meninos de Jesus da Bahia e, depois, o Colégio dos Meninos de Jesus de São 
Vicente. Pretendia-se que os meninos brancos interagissem com os curumins, o que 
contribuiu para a introdução da cultura cristã entre os gentios. 
A primeira fase da educação jesuítica foi marcada pelo plano de instrução elaborado 
por Nóbrega. O plano se iniciava com o aprendizado do português (para os indígenas); 
prosseguia com a doutrina cristã, a escola de ler e escrever (no entanto, no aprendizado do 
ler e escrever as primeiras letras só eram necessárias até o ponto em que esta contribuísse 
com a catequese dos curumins) e, opcionalmente, canto orfeônico e música instrumental. 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
14 
 
Contudo, a aplicação desse plano foi precária, encontrando oposição dentro da 
própria ordem jesuítica, sendo ultrapassado pelo plano geral de estudos organizados pela 
Companhia de Jesus e reunido na Ratio Studiorum. É válido ressaltar que: 
A intenção dos missionários, porém, não se reduzia simplesmente a difundir 
a religião.Numa época de absolutismo, a Igreja, submetida ao poder real, 
era instrumento importante para a garantia da unidade política, já que 
uniformizava a fé e a consciência. A atividade missionária facilitava 
sobremaneira a dominação metropolitana e, nessas circunstâncias, a 
educação assumia papel de agente colonizador (ARANHA, 2006, p. 139). 
 
O COTIDIANO DOS JESUÍTAS 
 
Numa de suas cartas, o padre José de Anchieta descreve o dia-a-dia da catequese: 
 
“Ensinam-lhes os padres todos os dias pela manhã a doutrina, esta geral, e lhes 
dizem missa, para os que quiserem ouvir antes de irem para suas roças; depois disso ficam 
os meninos na escola, onde aprendem a ler e escrever, contar e outros bons costumes, 
pertencentes à política cristã; à tarde tem outra doutrina particular a gente que toma o 
Santíssimo Sacramento. Cada dia cão os padres visitar os enfermos com alguns índios 
deputados para isso; e se tem algumas necessidades particulares lhes acodem a elas; 
sempre lhes ministram os sacramentos necessários (...) O castigo que os índios têm é dado 
por seus meirinhos1 feitos pelos governadores e não há mais que quando fazem alguns 
delitos, o meirinho os manda meter em um tronco um ou dois dias, como ele quer; não tem 
correntes nem ferros da justiça (...) Os padres incitam sempre os índios que façam sempre 
suas roças e mais mantimentos , para que, se for necessário, ajudem com eles aos 
portugueses por seu resgate, como é verdade que muitos portugueses comem das aldeias, 
por onde se pode dizer que os padres da Companhia são os pais dos índios, assim das 
almas como dos corpos.” 
 
Saga: A grande história do Brasil, In: PILETTI, N. História da educação no Brasil. Ed. Ática, São Paulo, 2006. 
 
 
 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
15 
 
1.2 Ratio Studiorum 
 
Simultaneamente à educação do gentio, os jesuítas desenvolveram a educação 
formal, escolar, no Brasil colônia, destinada principalmente aos filhos dos portugueses e 
aos futuros membros da própria Companhia de Jesus. A vida escolar nos colégios era 
regulada por regras prescritas na Ratio Studiorum. 
A Ratio Studiorum teve sua versão definitiva publicada em 1599, no entanto, seu 
estudo e elaboração remontam a 1552. Consistia em um conjunto de 467 regras com 
objetivo de orientar tanto o conteúdo educativo como todas as funções essenciais ao 
funcionamento dos colégios, ou seja, um plano, uma organização dos estudos. Visava uma 
visão humanista, como recomendada pela Contrarreforma. 
Este plano de estudos aborda a formação nos colégios jesuíticos não se referindo 
ao período de alfabetização das crianças, prevê três graus do ensino: 
 Um elementar, chamado de curso de Humanidades. 
 De formação superior, o de Filosofia ou Artes. 
 O de formação profissional dos futuros padres, o curso de Teologia. 
A base da educação estava pautada no latim e no grego, línguas clássicas que 
deviam auxiliar a retórica, a rigorosa disciplina e a emulação, ou seja, a competição entre 
os estudantes e entre as turmas, que era estimulada, inclusive, com sessões solenes de 
entrega de prêmios aos melhores (COSTA; MENEZES, 2009). 
O plano contido no Ratio inicia-se com as regras do provincial; depois as regras do 
reitor; seguidas das regras do prefeito de estudos superiores, do prefeito de estudos 
inferiores; regras dos exames escritos; para distribuição de prêmios; regras para 
professores, do bedel e por fim, as regras das academias. 
Além das normas e regras, o Ratio Studiorum apresenta os níveis de ensino: o curso 
de humanidade (“estudos inferiores” – atual ensino médio). Seu currículo abrangia estudos 
de: retórica, humanidades, gramática. Sendo a gramática dividida em três etapas: 
gramática superior, média e inferior. A formação seguia com os cursos de filosofia e 
teologia, denominados de “estudos superiores”, contudo, no Brasil os cursos de filosofia e 
teologia eram, na prática limitados à formação dos padres catequistas (SAVIANI, 2011). 
Todavia, é importante ressaltar que no Brasil não foi possível aplicar todas as regras 
do Ratio, uma vez que não haviam professores e estudantes suficientes para a abertura de 
todos os cursos e classes correspondentes. 
Saviani (2011), assevera que o plano contido no Ratio era de caráter universal e 
elitista. Universal porque era utilizado por todos os jesuítas, em qualquer lugar que 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
16 
 
estivessem. Elitista porque acabou sendo destinado apenas aos filhos dos colonos, 
excluindo os indígenas, convertendo os colégios jesuítas em instrumento de formação da 
elite colonial. 
 
1.2.1 Procedimentos Metodológicos do Ratio Studiorum 
 
A metodologia do Ratio Studiorum compreende os processos didáticos utilizados 
para a transmissão dos conteúdos e os estímulos pedagógicos. No entanto, esta não 
ocorreu de forma padronizada, visto que haviam muitos métodos, o que acarretou em ampla 
liberdade de escolha que poderia ser adaptada às circunstâncias. 
O padre Leonel Franca (1952) afirma que ao mestre se confere amplos poderes de 
iniciativa, podendo ele fazer uso dos métodos preestabelecidos ou apropriar-se de novos. 
Entre as iniciativas estão: a preleção, é uma lição antecipada, ou seja, uma explicação do 
que o aluno deverá estudar, cujo método e aplicações variam de acordo com o nível 
intelectual dos estudantes. A prelação não visa comunicar fatos, mas desenvolver e ativar 
o espírito, com ela o aluno exercita, não só a memória, mas principalmente a imaginação, 
o juízo e a razão. 
 O método utilizado era fundamentalmente ativo, no qual professores e alunos 
trabalhavam juntos, também era solicitado a colaboração contínua dos alunos. Neste 
método o aluno era protagonista da sua aprendizagem, isto é, ele deveria ter um aspecto 
ativo, autoformativo, evitando a passividade, o desinteresse e indiferença. 
 Os decuriões auxiliavam os professores nas aulas (organizando os grupos, 
corrigindo e passando lições, controlando a indisciplina, etc.), estes eram escolhidos pelo 
desempenho escolar e pelo mérito pessoal, para eles também existiam regras, como 
obediência ao professor, organizar as salas (número de cadeiras, limpeza, concertos, 
horário de início das aulas etc.) para que tudo corresse bem. 
Quanto aos estímulos pedagógicos, ressaltamos que os jesuítas não eram adeptos 
aos castigos corporais, no entanto, quando acreditavam ser necessário aplicavam 
correções e essa ficava a cargo do corretor - homem sério e moderado, de fora da 
Companhia, que punia de acordo com as instruções recebidas do Prefeito de Estudos. 
Sobre os castigos, eles aparecem no Ratio nas regras comuns para os professores das 
classes inferiores, a regra 40, refere: 
Modo de castigar. Não seja precipitado no castigar nem demasiado no 
inquirir; dissimule de preferência quando o puder sem prejuízo de ninguém; 
não só não inflija nenhum castigo físico (este é ofício do corretor) mas 
abstenha-se de qualquer injúria, por palavras ou atos não chame ninguém 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
17 
 
senão pelo seu nome ou cognome; por vezes é útil em lugar do castigo 
acrescentar algum trabalho literário além do exercício de cada dia; ao 
Prefeito deixe os castigos mais severos ou menos costumados, sobretudo 
por faltas cometidas fora da aula, como a ele remeta os que se recusam 
aceitar os castigos físicos (1832; a correção) principalmente se forem mais 
crescidos. (Const. p. IV, c. 7, n. 2 D). 
(http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/fontes_escritas/1_Jesuitico/r
atio%20studiorum.htm). 
 
Os castigos físicos não tinham a intenção de ferir ou humilhar o aluno, mas causar 
uma leve dor física na primeira idade como um meio de disciplinar. 
Como não utilizavam constantemente os castigos físicos, recorriam aos sentimentos 
como a honra e a dignidade, incentivavam a competição (emulação) como forma de 
estimular os jovens,para isso premiavam os melhores alunos. Todavia, a competição era 
saudável (mente e corpo), aconteciam por meio de torneios escolares, sessões literárias, 
entre outros. 
Segundo Toyshima, Montagnoli e Costa (2012), as premiações eram outro incentivo 
à emulação, pois os prêmios eram distribuídos diante de grandes autoridades eclesiásticas 
e civis, na presença de familiares. O Ratio apresentava normas para as premiações 
(números de prêmios, julgamento do concurso, realização do evento, e distribuição). 
As ideias pedagógicas expressas no Ratio correspondem ao que passou a ser 
conhecido na modernidade como pedagogia tradicional. Para Saviani (2011, p. 58): 
Essa concepção pedagógica caracteriza-se por uma visão essencialista de homem, 
isto é, o homem é concebido como construído por uma essência universal e 
imutável. À educação cumpre moldar a existência particular e real de cada 
educando à essência universal e ideal que o define enquanto ser humano. Para a 
vertente religiosa, tendo sido o homem feito por Deus à sua imagem e semelhança, 
a essência humana é considerada, pois criação divina. Em consequência, o homem 
deve empenhar-se em atingir a perfeição humana na vida natural para fazer por 
merecer a dádiva da vida sobrenatural. 
 
Discorremos até o presente momento sobre duas formas de educação ministradas 
pelos jesuítas no Brasil, uma a conversão do índio, em que ação pedagógica ocorria nas 
missões; a outra, os colégios, que foram fundados nos principais núcleos urbanos, e 
destinavam-se primordialmente, mas não exclusivamente, aos descendentes dos 
colonizadores. 
A terceira forma de educação dos jesuítas ocorreu fora dos colégios e das missões 
e, principalmente, nos engenhos, nos dois primeiros séculos da colonização. 
Como foi proibida a escravidão dos gentios, os negros são trazidos ao Brasil, para 
trabalhar na mineração e nos engenhos, onde a maioria da população vivia. Era nos 
engenhos que aconteciam as festas religiosas as missas e os principais eventos sociais. 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
18 
 
Como nos engenhos havia poucos letrados e a colônia desconhecia a imprensa, a 
cultura da época colonial era caracterizada pela oralidade, desta forma os sermões eram 
instrumentos de educação tanto dos senhores de escravos, como dos próprios escravos. 
Com a descoberta do ouro, a mineração fez com que a imigração portuguesa 
crescesse em demasia, e uma rápida urbanização ocorreu assim, à vida social, sai do 
engenho para conquistar a cidade. 
 
1.2.2 Educação dos negros escravos e das mulheres 
 
A educação dos escravos negros no Brasil colonial é um tema pouco estudado da 
história brasileira, pois segundo alguns autores, as crianças já nasciam marcadas pela 
escravidão, e eram submetidas e a um processo de negação da sua própria cultura, pelos 
cristãos. 
No livro Casa Grande Senzala, Gilberto Freire, também cita a falta de material para 
se estudar a educação dos negros no Brasil colonial: 
 
Infelizmente as pesquisas em torno da imigração de escravos negros para o Brasil 
tornaram-se extremamente difíceis, em torno de certos pontos de interesse histórico 
e antropológico, depois que o eminente baiano Conselheiro Rui Barbosa, ministro 
do Governo Provisório, após a proclamação da República de 1989, por motivos 
ostensivamente de ordem econômica - a circular emanou do ministro da Fazenda 
sob o nº29 e com data de 13 de maio de 1981 – mandou queimar os arquivos da 
escravidão. Talvez esclarecimentos genealógicos precisos se tenham perdido 
nesses autos-de-fé republicanos (FREIRE, 1963, 419). 
 
Os negros chegaram ao Brasil, apenas para serem escravos, desta forma, não 
poderiam jamais ir à escola. Com grande dificuldade os missionários conseguiram fazer 
com que os escravos assistissem a missa aos domingos, realizadas nas Capelas dos 
engenhos. 
O padre Antônio Vieira foi um dos missionários, que discutia quase todos os assuntos 
em seus sermões e quando estes eram pregados as irmandades dos negros, padre Vieira 
favorecia a identificação entre a escravidão do corpo e a libertação da alma e procurava 
ensinar aos negros, a importância da escravidão. 
Mais tarde surgem os colégios Jesuítas com função de educar. E segundo Gilberto 
Freire, no livro Casa Grande e Senzala: 
Os colégios dos Jesuítas nos primeiros 02 (dois) séculos, depois os seminários e 
colégios de padres, foram os grandes focos de erradicação de cultura no Brasil 
colonial [...] Foi uma heterogênea população infantil a que se reuniu nos colégios 
dos padres, nos séculos XVI e XVII: filhos de caboclos arrancados aos pais; filhos 
de normandos encontrados nos matos; filhos de portugueses; mamelucos; meninos 
órfãos vindos de Lisboa. Meninos, louros, sardentos, pardos, morenos, cor de 
canela. 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
19 
 
Só negros e muleques parecem ter sido barrados das primeiras escolas jesuítas 
negros e muleques retintos (FREIRE, 1969, 575-576). 
 
Pode-se dizer que, se houve uma educação para os negros, esta foi um resgate dos 
restos educacionais que foram direcionados a eles. 
Os poucos fatos existentes, relatam que os filhos dos escravos pertencentes aos 
missionários fazendeiros, foram educados nas escolas concebidas pelo Ratio Studiorum 
onde a ação pedagógica jesuíta era alicerçada neste método. 
Os jesuítas estiveram à frente da educação por 210 anos (1549-1759) e, foi em 
função da catequese firmada por eles, que os filhos dos escravos também foram 
submetidos à escolarização, mas não deixaram de utilizar a mão-de-obra negra em suas 
fazendas, já que não tiveram muito sucesso na inclusão dos indígenas neste feito, e 
também porque foram proibidos. 
A educação das crianças negras fez com que fosse criado um diferencial entre a 
escravidão, praticada pelos jesuítas e a utilizada nas colônias comuns, assim: 
 
Os escravos negros não eram livres para buscarem a instrução média e superior, e 
claro está que os senhores não os compravam para os mandarem aos estudos e 
fazer deles bacharéis ou sacerdotes. A instrução ou educação, que lhes permitiam 
essa, e mais do que essa, lhes ensinava a Igreja. E a Igreja foi à única educadora 
do Brasil até o final do século XVIII, representada por todas as organizações 
religiosas do Clero Secular, que possuíam casas no Brasil (SERAFIM LEITE, apud 
FERREIRA JÚNIOR; BITTAR, 1999, p.10). 
 
Ferreira e Bittar (1999), ainda dizem em que a combinação da catequese com o 
ensino das primeiras letras, veio a ser utilizado nos séculos XVII e XVIII, nas fazendas da 
Companhia de Jesus, com os filhos dos escravos que nela trabalhavam, dessa forma, os 
filhos dos escravos nascidos nessas fazendas, sofreram um processo de conversão ao 
cristianismo católico, além do autoritarismo dos projetos utilizados nas pedagogias 
educacionais referidas a eles, ou seja, estavam sujeitos a punições físicas aplicadas nos 
colégios, como se não bastasse à humilhação que passavam fora dali. 
As mulheres em sua maioria eram analfabetas, sua educação restringia-se a boas 
maneiras e prendas domésticas. Nenhuma mulher, fossem elas brancas, ricas ou pobres, 
negras escravas ou indígenas, tinha acesso à leitura e a escrita. 
Neste período, a mulher era considerada um ser inferior. “O sexo feminino fazia parte 
do imbecilitus sexus, ou sexo imbecil. Uma característica a qual pertenciam mulheres, 
crianças e doentes mentais”. Haviam versinhos sobre as mulheres que queriam aprender, 
que dizia que mulher que sabe muito é atrapalhada para ser mãe de família. Existia 
também, um abecedário moral que continha em cada letra o padrão de comportamento 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
20 
 
feminino socialmente desejado, que fora difundido na época, dedicado as mulheres que 
pretendiam aprender a ler, por exemplo: “a letra A significativa que a mulher deveria ser 
amiga de sua casa, H humilde a seu marido, M mansa, Q quieta, R regrada, S sisuda, entre 
outros”. Portanto, era essaa mentalidade expressa nesse período em relação a instrução 
feminina (RIBEIRO, 2000, p. 79-80). 
A educação jesuítica no Brasil teve fim e 1759, quando estes foram expulsos pelo 
Marquês de Pombal. 
 
2. A EDUCAÇÃO NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XVIII (1759- 1822) - 
REFORMA POMBALINA 
 
Até a metade do século XVIII (1759), no Brasil, os responsáveis pela educação, tanto 
dos nativos como dos portugueses, foram os jesuítas por meio da catequese, constituindo 
mais tarde os colégios, introduzindo o trabalho pedagógico no Brasil. 
A partir daí ocorreram reformas que mudaram todo o contexto educacional no Brasil 
devido à decadência econômica, política e cultural que se encontrava a monarquia 
portuguesa. 
As ideias iluministas tomavam conta da Europa, continuando a ânsia pelos estudos 
de humanidades e cultura, mas principalmente, o interesse pelo cientificismo pragmático. 
Especificamente em Portugal, o Iluminismo ocorreu de forma diferente, pois seu 
objetivo era fortalecer a imagem do monarca e recuperar o apoio popular. 
Ficou a cargo do primeiro ministro de D. José, marquês de Pombal, executar tais 
reformas, sendo uma delas o decreto que impedia os jesuítas de exercerem o ensino nos 
domínios portugueses e, a transferência do controle do ensino para o Estado. 
No Brasil, os jesuítas não aceitaram entregar de imediato o controle do ensino ao 
Estado e reagiram como puderam, sendo aniquilados pelas tropas portuguesas. Muitas das 
reformas instituídas pelo marquês de Pombal tiveram validade até o século XIX. 
Houveram muitos empecilhos na divulgação do ensino no Brasil colônia, o que adiou 
a aplicação das medidas pombalinas de reforma da educação. Entre eles pode-se destacar 
a falta de estradas, o isolamento geográfico da colônia, meios de transportes e 
comunicação insuficientes e precários e, o escasso povoamento, assim como, os altos 
índices de mortalidade infantil (quando chegavam à idade adulta preferiam ingressar na 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
21 
 
milícia), a vinculação da população com as atividades agrícolas, a escravidão e a aplicação 
indevida dos recursos do subsídio literário (VERALDO, 2005, p. 49). 
O “povo” não tinha muito interesse pela educação (aulas régias), pois era através da 
riqueza e da hereditariedade que conseguiam um espaço na elite e em cargos 
administrativos. 
As aulas régias também chamados de estudos menores, foram implantadas pela 
Coroa que nomeou professores, estabeleceu planos de estudo fragmentados, ou seja, as 
disciplinas eram isoladas umas das outras. Esses estudos eram aplicados por professores 
que, muitas das vezes, apresentavam despreparo com relação aos conteúdos e 
aprendizados ensinados, distantes de seu próprio contexto educacional, completamente 
leigo às aulas. 
Na colônia foram criadas aulas régias de ler e escrever, de gramática, retórica, de 
grego e filosofia. Poucas foram as aulas ofertadas, desta forma, o restante da educação 
formal foi dado em escolas religiosas. 
Uma das diretrizes da reforma pombalina referente à instrução, era privilegiar o 
ensino das primeiras letras, assim como o latim (muito estudado anteriormente) por meio 
da língua materna, que tinha como objetivo o fortalecimento da mesma como meio de 
legitimar o Estado português. 
Também proclamavam algumas vantagens desse novo ensino, como a intenção de 
oferecer aulas de línguas modernas, como o francês, além de desenho, aritmética, 
geometria, ciências naturais, no espírito dos novos tempos e contra o dogmatismo da 
tradição jesuítica (ARANHA, 2006). 
Muitos conflitos entre a Igreja e o Estado se deram por causa da inspeção da 
educação no Brasil, mas se por um lado esse conflito impedia a trajetória do ensino, por 
outro contribuiu positivamente para esse caminho, já que ambas as instituições pretendiam 
formar o “civil cristão”, ou seja, desenvolver nos homens a civilidade indispensável ao 
mundo urbano, no qual crescia e, ao mesmo tempo, divulgar o temor a Deus e a obediência 
ao Rei como forma de legitimar a monarquia. 
Apesar das tentativas pombalinas de mudar a educação brasileira, a sociedade não 
se modificou, mantendo seu sistema baseado na grande propriedade e na escravidão, onde 
somente a classe abastada teve direito à educação. Muitas vezes as medidas pombalinas 
se dirigiam apenas ao fortalecimento do império português. Porém no início do século XIX 
surgia uma nova mentalidade que iria transformar a educação no Brasil cheia de ideias 
revolucionárias na qual se disseminou na Independência brasileira e consequentemente na 
Constituição do Império. 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
22 
 
 
 
A EDUCAÇÃO NO PERÍODO COLONIAL DA HISTÓRIA BRASILEIRA 
 
 
FERREIRA, Liliana Soares. Educação no período colonial da História Brasileira IN: Educação e História. 2ª 
edição revisada e ampliada. Ed Unijuí 
 
 A inclusão do Brasil na história acontece em meio ao processo de expansão marítima 
portuguesa. A pretensão lusa era descobrir novos mercados fornecedores de matéria-
prima. Portanto, a terra brasileira insere-se no mapa mundial como uma possibilidade de 
riquezas a mais para a metrópole portuguesa como comprovam vários trechos da Carta do 
escrivão Caminha ao Rei. 
 
Mas a terra em si é muito boa de ares, tão frios, e temperados, como os de Entre-
Douro e Minho, porque, neste tempo de agora, assim os achávamos com os de lá. 
Águas são muitas e infindas. De tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la, 
dar-se-á tudo por bem das águas que tem. Mas o melhor fruto que nela se pode 
fazer, me parece que será salvar esta gente;. E esta deve ser a principal semente 
que vossa alteza nela deve lançar. (Caminha, 1998, p.55) 
 
 Assim como ocorreu em várias colônias americanas descobertas naquela época, no 
Brasil, havia o interesse em descobrir para a metrópole a maior quantidade possível de 
riquezas. A conquista da riqueza, no entanto, era ocultada sob o objetivo mais nobre: a 
conversão de almas. Agindo dessa forma, os colonizadores sentiam-se protegidos pelas 
leis divinas ainda que cometessem a destruição do meio e causassem a dizimação dos 
povos indígenas habitantes desta terra. 
 A chegada ao Brasil, e a dificuldade, inicialmente, em descobrir tais riquezas, 
levaram ao abandono temporário das terras recém-descobertas. Exploraram, então o pau-
brasil. Não foi uma atividade duradoura, pois não gerava as riquezas esperadas se 
comparada ao comercio de especiarias. Com a falência desse tipo de comércio, os 
portugueses passaram a enviar expedições de reconhecimento das terras; essas 
expedições fizeram um primeiro mapeamento das terras em nosso país. Só que, nessa 
época, apareceram por aqui expedições francesas. Isso obrigou “Portugal a preocupar-se 
com a proteção das terras, passando a povoá-las e a investir nelas através de uma divisão 
de capitanias hereditárias. Surgem os primeiros aldeamentos e a economia passa a centrar-
se na produção açucareira. Define-se então, uma estrutura econômica assentada no 
latifúndio, no regime colonial e na escravidão” (Freire, 1989, p.21). 
 Com o primeiro governador-geral, Tomé de Souza, encarregado de gerenciar a 
colônia e suas diversas capitanias chegam os primeiros jesuítas. Começa a história da 
educação formal no Brasil. 
 
Vinham os religiosos na armada do primeiro governador-geral, Tomé de Souza, e em 
pouco tempo começaram a exercer seu apostolado. Confessaram a gente da 
armada, e na quarta dominga da quadragésima daquele ano, diziam sua primeira 
missa. O padre Nóbrega pregava ao governador e seus homens, o padre Juan 
Azpicuelta Navarro, aos da terra. Já ao irmão Vicente Rodrigues (ou Vicente rijo) 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
23 
 
encarrega-se o ensino dos meninos, tanto da doutrina como de “ler e escrever”; 
neste trabalho seria seguido pelo irmão Diogo Jácome, na capitania de Ilhéus, na 
qual fazia, segundo o padre Nóbrega, “muito fruto em ensinar os moços e escravos”; 
menos de um ano maistarde o padre Navarro estaria em porto seguro, “ensinando 
a ler e fazer oração aos pequenos”. (Chambouleyron, 1999, p.55). 
 
 Os jesuítas, padres integrantes da recém-formada Companhia de Jesus – criada por 
Ignácio de Loyola, tinham o lema “Vence-te a ti mesmo e sacrifica-te pelo serviço da Igreja.” 
-, foram defensores de uma postura cristã católica contra o protestantismo e objetivavam 
manter os dogmas e crenças da Igreja Católica, perturbada pela reforma Protestante. Como 
se sabe, a reforma Protestante preconizava a relação Homem-Deus, tinha como base a fé 
e não necessitava de que a Igreja fizesse o papel de intermediadora. Preconizava a 
necessidade de utilizar a língua nacional nos cultos, a simplificação dos ritos, a utilização 
da Bíblia como livro sagrado e a salvação através da fé em Deus e não pela realização de 
obras. 
Cabe lembrar: o reconhecimento da Ordem dos Jesuítas pelo Papa deu-se nesse 
clima, como uma maneira a maior de recuperar o terreno perdido com a reforma luterana. 
 
Companha, aliás, era o termo adequado para nomear um pelotão de soldados de 
Cristo e da Igreja, que tinha pela frente a arriscada batalha de fazer recuar a invasão 
protestante que se verificava no “mundo civilizado”, justamente nos seus pólos mais 
avançados, pondo em risco a hegemonia do catolicismo entre os “povos eleitos por 
Deus” para propagar seu nome e seus mandamentos. (Xavier, 1994, p.40). 
 
 Para efetivar essa defesa utilizavam um processo educacional cujas bases estavam 
assentadas na busca da conversão e na conquista espiritual. Manuel de Nóbrega, 
Azpicuelta Navarro, Vicente Rodrigues e José de Anchieta (só para alguns), foram os 
padres pioneiros desse empreendimento. À medida que eram fundadas escolas, eram 
transmitidos valores cristãos e a cultura portuguesa, eram criadas as condições de 
colonização e abria-se espaço para a ação exploratória da metrópole. Conforme Azevedo, 
 
Os jesuítas não estavam servindo apenas a obra da catequese, mas lançavam as 
bases da educação popular, e espalhando nas novas gerações a mesma fé, a 
mesma língua e os mesmos costumes, começavam a forjar na unidade espiritual, a 
unidade política de uma nova pátria. 
 
 Inicialmente, a atividade educacional jesuítica centrou-se na catequese. Havia 
aquela grande concentração de indígenas ateus e era preciso torná-los cristãos, 
aumentando, assim, o quartel de servidores da fé católica na Terra. Nesse mesmo esforço, 
incluía-se a educação dos colonos e seus descendentes. Esse duplo objetivo tinha como 
elemento comum à crença no ensino da escritas e da literatura como condição para o 
conhecimento dos textos e dogmas católicos “no aprendizado da doutrina, apostava-se 
principalmente na sua memorização, e os padres orgulhavam-se dos meninos que sabiam 
tudo de cor. Por isto os jesuítas desenvolveram principalmente catecismos dialogados.” 
(Chambouyleyron, 1999, p.63); a difusão da fé católica atingia os índios, os senhores de 
engenho, os colonos, os escravos, de modo que passassem a considerarem-se filhos da 
Companhia de Jesus. Conforme Xavier, 
 
Os jesuítas deveriam cuidar da reprodução interna do contingente de sacerdotes 
necessário para a garantia da continuidade da obra. Sua tarefa educativa era 
basicamente aculturar e converter “ignorante” e “ingênuos”, como os nativos, e criar 
uma atmosfera civilizada e religiosa para desagregados e aventureiros que para 
aqui viessem. Isso constituía uma empreitada que exigia muita criatividade no que 
diz respeito aos métodos de ação, considerada a heterogeneidade da clientela que 
tinham diante de si. (Xavier, 1994, p.41). 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
24 
 
 Um dos fatores a contribuir para o sucesso do trabalho de catequese desenvolvido 
pelos jesuítas foi à rápida aprendizagem da língua dos indígenas. Contam os historiados: 
uma vez aprendida a língua, foram criadas gramáticas, textos e pequenas peças de teatro 
utilizadas no trabalho de conversão. Outro fator de grande importância é a ação dos padres, 
prioritariamente, sobre os curumins, os filhos dos indígenas, já que os pais apresentavam-
se arredios e desconfiados. Assim, através das crianças eram infiltrados na comunidade 
valores cristãos. Come esse afã, os missionários desbravaram o território brasileiro e 
buscaram, em terras recônditas grupos de indícios carecidos, a ótica dos padres, de uma 
cultura cristã. Nessa busca, apresentavam-se como “soldados de Cristo”, marchando contra 
as condições da natureza, contra a falta de meios para a construção de escolas-modelo e 
sobretudo, contra a cultura nativa. Ao lado de cada igreja era construída uma escola, onde 
ensinavam a ler e a escrever. Essa tarefa era facilitada devido à cultura e formação 
educacional dos padres jesuítas, capazes de transitar facilmente em grupos diferenciados, 
desde os índios com suas linguagens até os colonos ou mesmo os escravos. 
 Para além das vantagens desse sistema de aglomeração indígena, as missões, há 
uma série de desvantagens. A maior delas é a fragilidade dos índios, desprovidos, de sua 
liberdade no seu maior esconderijo diante do perigo: a selva. Estavam acuados, sob as 
ordens dos padres, sem liberdade para a guerra. Por isso, eram facilmente aprisionados 
em grandes grupos por colonos em busca de escravos. Assim, centralizada e artificial, a 
estrutura das missões desapareceu junto com a expulsão dos jesuítas de todos os 
territórios portugueses. 
É importante salientar: havia, nessa época um sistema único de educação para filhos 
de indígenas e para os filhos de colonos, com o tempo, o sistema se diversificou: para os 
índios, uma educação voltada para a fé e para o trabalho; para os colonos, uma educação 
que expandia para além dos rudimentos da leitura e escrita, da escola elementar. A 
impressão que se tem ao ler sobre esse período é que, primeiramente, os jesuítas 
pretendiam apenas instruir e promover a catequese, mas perceberam a possibilidade de 
lucros com a educação, pois eram os únicos educadores da época e contavam com o apoio 
real, então fundaram escolas que incluíssem os filhos dos colonos. 
 Como a atividade educadora dos padres da Companhia alastrava-se rapidamente 
foi organizado um plano de estudo capaz de uniformizar a ação das escolas mantidas e 
dirigidas pelos jesuítas além de atender a diversidade de interesses e de capacidades, 
aprendizado do português, e ensino da doutrina cristã. Ao plano foi dado o nome de Ratio 
Studiorum. 
 De acordo com o Ratio Studiorum, o ensino jesuítico após o período de 
aprendizagem da leitura e da escrita, abrangeria os cursos de Letras (em nível secundário), 
Filosofia e Ciências (em nível secundário), Teologia e Ciências Sagradas (em nível 
superior). 
 Quanto ao método (cf. Larroyo, 1974, utilizavam não só a transmissão do 
conhecimento, mas a preleção (sinopse do que seria estudado), contenda (debate 
competitivo entre os alunos), memorização, expressão (estimulo ao aluno para traduzir 
textos de uma língua para outra, redação), imitação (incentivo à reprodução do estilo e das 
temáticas de grandes autores clássicos) e teatro. Os jesuítas pretendiam uma espécie de 
aula, espaço para os alunos serem interrogados constantemente e convidados a repetir o 
conteúdo apresentado pelo professor na preleção). 
 Quanto à organização da escola (cf. Larroyo, 1974), o Ratio estabelecia a existência 
de uma provincial espécie de Delegado de Educação, para uma determinada região 
compreendendo casas e colégios da Companhia, um reitor, um prefeito de estudos, os 
professores, os decuriões (alunos com melhores notas) e os censores (alunos 
controladores da ordem e da disciplina, delatando que não respeitasse quaisquer normas). 
 Nessa organização, ninguém desrespeitava ao superior, pois nisso fazia parte das 
regras do grupo, e as regras eram rigidamente obedecidas, sem exceções, sem “jeitinho 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
25 
 
brasileiro”. As classes organizadas através de estágios de desenvolvimento e a promoção 
de umapara outra se dava mediante a aprendizagem. Para tanto, o tempo era medido e se 
constituía em cinco horas de aulas distribuídas igualmente entre as várias áreas do 
currículo e as tarefas escolares: memorização, temas, etc. (Larroyo, 1974.) 
 Dessa forma o Ratio Studiorum era uma estratégia para garantir a organização das 
atividades pedagógicas da Companhia e mantê-las em acordo com uma filosofia 
educacional bem-definida. Ao mesmo tempo, ajudava na manutenção de uma hierarquia 
nas relações dentro da Escola. A organização do plano e, consequentemente do sistema 
escolar jesuítico se inspirou em elementos da cultura europeia e sua finalidade era 
eminentemente prática, sendo fruto da experiência comum. O resultado disso foi um ensino 
progressivo e rigidamente construído de modo a associar a cultura clássica a vivencia dos 
preceitos cristãos. É preciso reafirmar: a Companhia de Jesus tinha como preocupação 
central à formação religiosa, considerada um conteúdo aprendido através da pratica de 
ações cristãs, bem como orientava a ação dos jesuítas e imprimia na sua ação educativa a 
salvação do Homem para a glorificação de Deus. 
Por isso, não havia apenas a intenção de inserir os educandos na escrita e na 
matemática; havia, principalmente, a preocupação em aumentar o filão de padres jesuítas. 
 Nessa época a educação feminina restringia-se ou ao trabalho de preceptora – no 
caso das famílias ricas -, ou a algumas poucas escolas para moças ou a mera 
aprendizagem de boas maneiras e prendas domésticas. 
 Dadas essas características às prescrições do ratio e a formação universitária 
clássica, e muito bem-definida dos padres jesuítas, o ensino na colônia era, sem dúvida 
aristocrático e excluía analfabetos, pobres, negros e mulheres. 
Paralelamente, o ensino não permitia aos alunos questionar a realidade da colônia, 
dando-lhe como modelo de mundo civilizado o mundo europeu, enfim, conformava-se a 
política colonial. 
 Uma das críticas feitas ao trabalho em educação dos jesuítas é a elitização do 
ensino, afinal, os colégios jesuíticos foram instrumentos de formação da elite colonial, 
sendo efetivamente educados os descendentes da elite colonial, enquanto os índios foram 
apenas catequizados. Portanto a formação da elite do Brasil colonial será marcada por uma 
intensa rigidez e formalidade na forma de conceber a realidade e de pensar o futuro do 
país. Paralelamente, os jesuítas com sua proposta de educação extremamente arraigada 
aos dogmas católicos, a disciplina do corpo, a memorização e a competição contribuíram 
para o fortalecimento da burguesia em formação no país e das classes dirigentes, além de 
favorecerem o aumento da diferença entre “letrados” e analfabetos, a maioria da população. 
A cultura formal passa a ser vista como uma espécie de ornamento que só os privilegiados 
economicamente dispunham, assim como poderiam dispor de qualquer outra mercadoria 
luxuosa. 
 Assim como a quantidade de escolas o poder econômico dos padres aumentava. 
Aumentava com isso o poder sobre os senhores do engenho, influenciando suas decisões 
políticas. (A companhia era acusada de estar voltada apenas para o reforço de seu pelotão 
de padres e de priorizar o uso de outras línguas) (o latim principalmente) em detrimento a 
língua nacional. Essas críticas espalharam-se pela colônia. Nessa mesma época, 
expandiram-se as reformas patrocinadas pelos chamados déspotas esclarecidos. Entre 
esses, encontra-se o Marques de Pombal, poderoso ministro do rei português D. José I. 
Conforme Contrim (1993, p.261), consciente do atraso de seus país em relação aos demais 
países, Pombal, queria desmantelar a Companhia de Jesus, considerada conservadora e 
motivo das críticas anteriormente citadas. Essas motivações resultaram na expulsão dos 
jesuítas do território brasileiro. 
 
Quando expulsos, em 1759, os jesuítas nos legaram um ensino de caráter literário, 
verbalista, retórico, livresco, memorístico, repetitivo, estimulando a emulação 
através de prêmios e castigos, que se qualificava como humanista-clássico. 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
Pedagogia 
26 
 
Enclausurando os alunos em preceitos e preconceitos católicos, inibiu-os de uma 
leitura do mundo real tornando os cidadãos discriminatórios, elites capazes de 
reproduzir “cristãmente” a sociedade perversa dos contrastes e discrepâncias dos 
que tudo sabem e podem e dos que a tudo se submetem. Inculcaram a edil orgia 
do pecado e das interdições do corpo. “inauguraram” o analfabetismo no Brasil. 
(freira, 1989, p.41). 
 
 A partir daí, Pombal 
 
Traçou como novos objetivos educacionais: abrir o conteúdo do ensino as ciências 
experimentais, tornando-o mais prático e utilitário; despertar um maior número de 
interessados no ensino superior; diminuir a influência da Igreja no setor educacional. 
(Cotrim, 1993, p.264). 
 
 Porém, como a realidade bem comprovou, o que aconteceu efetivamente é que o 
ensino no Brasil, após a expulsão dos jesuítas, continuou a ser organizado de forma 
idêntica à da companhia de Jesus, mostrando ineficácia e inércia das chamadas reformas 
pombalinas. 
 É preciso, no entanto, a percepção de que as ações em educação sempre têm uma 
motivação filosófica e social nem sempre ideal. Em se tratando das iniciativas educacionais 
dos jesuítas no Brasil, há duas versões percebidas como destaques: se por um lado 
apresentou-se conservadora e elitista, voltada basicamente para os interesses da 
Companhia de Jesus, por outro, constituiu-se em um primeiro sistema de educação em 
nosso país. Devido a essas características, teve méritos e, com certeza, serviu (e serve, 
em alguns casos) de modelo para organização do sistema educacional ao longo desses 
últimos trezentos anos de história da educação brasileira. 
 
 
 
 
 
 
 
 PARA SABER MAIS 
 
A Educação no Brasil no Período Colonial. Silvia Rita Magalhães de Olinda. 
Disponível em: 
http://www2.uefs.br:8081/sitientibus/pdf/29/a_educacao_no_brasil_no_periodo_colonial.pd
f 
 
Apontamentos sobre a educação no Brasil Colonial. (1549-1759) 
Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/inter/v18n4/1518-7012-inter-18-04-0185.pdf 
 
TERRA. Márcia. História da Educação. São Paulo: Pearson Education do Brasil. 2014. 
 
 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II
 
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UNIDADE 2 – A EDUCAÇÃO NO BRASIL IMPÉRIO 
 
 
 
 
1.FAMÍLIA REAL NO BRASIL 
 
Com a chegada da Família Real ao Brasil, em 1808, é necessário uma série de 
medidas referentes ao campo intelectual, como a criação da Imprensa Régia, Biblioteca 
Pública, Jardim Botânico no Rio, Museu Nacional Surgia assim, uma nova mentalidade que 
iria transformar a educação no Brasil cheia de ideias revolucionárias na qual se disseminou 
na Independência brasileira e consequentemente na Constituição do Império. 
O processo de emancipação do Brasil, também incluiu medidas transformadoras, 
como a abertura dos portos ao comércio exterior, a revogação do alvará que proibia a 
instalação de manufaturas, significando de certa forma a ruptura do pacto colonial. 
Contudo, ainda não possuía formas organizadas de educação escolar, apresentava 
somente algumas poucas escolas e as aulas régias, nas quais eram insuficientes e não 
possuíam um currículo regular, consequências herdadas do período colonial, como também 
alguns cursos de nível superior que foram criados na fase joanina. 
Na fase joanina, os cursos foram criados, pois havia a necessidade de pessoal mais 
diversificado, que formasse burocratas e profissionais liberais. 
Neste período as preocupações educacionais estavam relacionadas com a 
permanência da família real e com a administração da Colônia. No que diz respeito ao povo 
 
Para começar nossos estudos 
 
 
 
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em geral, houve a permissão de abertura de escolas de Primeiras Letras, a “qualquer 
pessoa”, no entanto, não havia escolas, a maioria das aulas era dada na casa do próprio 
professor. No que concerne àelite, a preocupação concentrava-se na criação de cursos 
superiores, pois estas recebiam os preceptores em suas casas para as noções elementares 
das primeiras letras. 
Segundo Ribeiro (2011) em razão da defesa militar, são criadas em 1808, a 
Academia Real da Marinha e, 1810, a Academia Real Militar, ambos com a finalidade de 
formar oficiais e engenheiros civis e militares. Neste período também é criado o curso de 
cirurgia, que foi instalado no Hospital Militar na Bahia, e os cursos de cirurgia e anatomia e 
posteriormente o de medicina, no Rio de Janeiro. Todos visavam atender à formação de 
médicos e cirurgiões para o Exército e a Marinha. 
Com a volta da família real para Portugal em 1821 e o descontentamento de grande 
parte da população e da burguesia brasileira, o país se torna independente de Portugal em 
1822. 
Após a Proclamação da Independência, em 1822. Foi necessário a elaboração e 
promulgação de uma Constituição. Por Decreto baixado em 3 de junho de 1822, Dom Pedro 
I convocou a Assembleia Geral Constituinte e Legislativa. Por meio dessa Assembleia foi 
elaborada e efetivada a primeira Constituição Brasileira em 1824, a qual permaneceu por 
todo período imperial, essa Constituição começou por sugerir uma legislação particular 
sobre a instrução, com o objetivo de organizar a educação nacional que tinha em vista o 
estabelecimento da instrução primária e gratuita para todos os cidadãos (SAVIANI, 2011). 
 
1.1 A INSTRUÇÃO PÚBLICA E O MÉTODO PEDAGÓGICO DE 
LANCASTER 
 
O século XIX no Brasil representou o início da transição do trabalho escravo para o 
trabalho livre e, posteriormente o trabalho assalariado, levando a uma modernização na 
produção, nas formas de trabalho e na política. No setor cultural, com a influência liberal e 
positivista, a educação ganhou forte impulso. A educação foi tomada como instrumento de 
poder e com capacidade para promover a transformação social, no entanto, a concepção 
de educação que se defendia no Brasil estava relacionada à disciplinarização da mente e 
do corpo, ao desenvolvimento de crenças morais próprias da sociedade disciplinar; não se 
relacionava, portanto, à independência intelectual. 
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Para que houvesse uma uniformidade no campo político e social, foi preciso recorrer 
à religião, ao exército e à educação, onde por meio desta a elite procurou consolidar-se 
utilizando o Método do Ensino Mútuo ou Monitorial - Método Lancaster que defendia a 
ordem, a disciplina e a obediência como um meio de sujeitar a população mais pobre à 
obediência. 
A lei de 15 de outubro de 1827, que previa a educação brasileira, trazia 
recomendações sobre onde deveria haver escolas e como elas deveriam ser; menções 
sobre a contratação de professores mediante concursos ou exames; definições sobre os 
ordenados e as gratificações, sem distinção, para os mestres e mestras; disposições sobre 
o ensino da leitura; a instituição, oficial, de um método pedagógico; determinações sobre a 
aplicação dos castigos escolares (NEVES, 2005). 
Foi também a responsável pela implantação do Método de Lancaster no Brasil, 
sendo ele de extrema importância para a formação da nação brasileira no período anterior 
à República, pois a implantação desse método pedagógico teve como finalidade combater 
as revoltas que até então ocorriam no Brasil, para que pudesse ser preservada a unidade 
e estruturas nacionais. Dessa forma, por meio da educação se garantiria a ordem e a 
civilização uma vez que a população fosse educada sob forte disciplina, começando da 
infância até a idade adulta. Pois para a sociedade dirigente a disciplinarização do “povo” 
era extremamente necessária. 
Nessa mesma lei, ficou instituído que os ordenados dos professores fossem 
definidos pelos presidentes de província, as escolas deviam ser de ensino mútuo (Método 
Lancaster), os professores deveriam providenciar sua formação em curto prazo e às 
próprias custas e, determinava os conteúdos das disciplinas. Seriam também ensinados os 
princípios da moral cristã e da doutrina católica apostólica romana, assim como aos temas, 
no ensino de leitura, sobre a Constituição do Império e História do Brasil. 
Entretanto, devido à falta de professores preparados, pelo fato de a remuneração 
não ser atrativo para a profissão, a falta de materiais adequados e a precariedade das 
instalações escolares, até mesmo de edifícios adequados às necessidades do ensino, essa 
lei não funcionou como o declarado. As escolas para meninas foram ainda mais 
menosprezadas. Em relação à fiscalização, esta não indicou nenhum efeito desejável. 
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Outros fatores que 
contribuíram para a implantação do 
método Lancasteriano no Brasil foi 
por ser vantajoso economicamente, 
por resolver o problema de falta de 
professores, uma vez que poderiam 
ensinar duzentos ou trezentos alunos 
de uma só vez e em pouco tempo. 
A estrutura física da escola 
lancasteriana exigia ambientes 
limpos, com boa luminosidade e ventilação. Havia uma única sala de aula para o ensino de 
leitura, escrita, contas e obediência. A sala era quadrada com o chão inclinado para frente 
e uma plataforma elevada, as carteiras eram dispostas espaçosamente, uma única 
escrivaninha para que o “mestre” pudesse ver os alunos de uma só vez (NEVES, 2005). 
A duração das aulas era de 5 horas mais ou menos, repartidas entre o período da 
manhã e da tarde. A doutrina cristã estava presente no início e no fim do dia escolar. Havia 
durante o dia escolar o rodízio de atividades que precisaria ser feito em poucos minutos e 
com ordem. Era por meio de chamada que se controlava a presença dos alunos, porém era 
feita de forma diferente da tradicional, em lugar de registrar os presentes, registravam-se 
os que estavam ausentes (NEVES, 2005). 
Em relação ao mestre, este era responsável pela escolha e cuidado dos recursos 
necessários para realização das aulas, por todas as avaliações e pela seleção dos 
monitores que eram responsáveis na tarefa de ensinar e corrigir os erros dos alunos – 
discípulos. 
Portanto era o mestre quem planejava as aulas de acordo com o método e os 
monitores colocavam essas aulas em prática. Os monitores eram escolhidos dentre os 
alunos mais adiantados e espertos, tinham que saber todo o conteúdo que iria ser 
trabalhado, precisavam ser atenciosos e disciplinados, sendo sua principal tarefa ensinar 
os alunos a corrigir-se mutuamente. 
O que distinguia as crianças, segundo Lancaster, era o saber ler, e era a partir do 
domínio da leitura que os outros objetivos educacionais eram definidos. O ensino da leitura 
se dava em uma classe (primeira) formada por crianças que não conheciam o alfabeto (não 
havia limite de idade), dois tipos de meios eram usados para o ensino e aprendizagem do 
alfabeto; a caixa de areia, onde o ensino das letras obedecia à regra da semelhança das 
formas gráficas das letras, havia três grupos distintos de letras, as que possuíam linhas 
 
https://sites.google.com/site/histedbrcolonialimperial/metodo-monitorial 
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retas como I, H e etc.; as que possuíam ângulos como A, M, e as que possuíam círculos ou 
curvas como O, C entre outras. 
O procedimento do ensino na caixa de areia obedecia a uma sequência: “o monitor 
dava a ordem de preparar, os alunos levantavam o dedo indicador, o monitor indicava a 
letra A, escrevia na areia e dizia: façam” (NEVES, 2005, p. 68). 
No Método Lancasteriano leitura e escrita eram estudadas simultaneamente, o que 
o diferenciava dos outros métodos. Era uma regra, ser colocada ao lado de uma criança 
que sabia menos, uma que tivesse maior conhecimento, para que o que soubesse menos 
aprendesse observando e copiando o que o outro fazia. 
Durante o tempo ocioso, outro meio de aprendizagem era utilizado, isto é, quando o 
monitor estava alisando a areia, as criançasdeviam ler o alfabeto que ficava colado nas 
costas do aluno da frente (cartaz). Também se utilizava cartões que continham letras, e 
estes ficavam suspensos nas paredes da sala. 
Para se entrar na classe de aritmética, era necessário que o aluno já soubesse a 
escrita dos números de 1 a 9. Cada aluno recebia uma lousa para acompanhar o monitor, 
as aulas iniciavam com adições pequenas e passavam para maiores, também já se 
apresentavam por meio da adição a subtração, a multiplicação e a divisão. Cada monitor 
recebia um livro que incluía a descrição das operações. E, “[...] para que houvesse o 
aprendizado era necessário que as primeiras tabuadas ou combinações das primeiras 
quatro regras ficassem decoradas na memória” (NEVES, 2005, p. 69). 
A avaliação, no Método Lancaster, era estabelecida segundo o ideal da formação de 
um indivíduo competitivo, mas não esquecendo a economia de tempo, se ensinava “ao 
mesmo tempo 60 ou 100 alunos. ” (NEVES, 2005, p. 70). 
Lancaster era contra o ensino individual, pois para ele havia perda de tempo, e 
também porque não havia competição. As classes não eram divididas por idade e sim 
conforme as capacidades de cada um, facilitando assim o ensino, e intimando os alunos a 
se sobressaírem uns aos outros para ir para a classe seguinte. Assim, o intento do Método 
no que diz respeito à classificação das classes, servia como um preceito do poder 
disciplinar, ou seja, servia de recompensa ou punição. 
Lancaster previa que quando o aluno aprendesse o que estava programado, não 
aprenderia mais nada, assim deveria passar para a classe seguinte. 
Havia as premiações, que eram dadas como recompensa à dedicação dos alunos. 
Esses prêmios eram de diferentes tipos, com caráter transitório, como as etiquetas de couro 
com inscrições; as medalhas de prata (estas eram devolvidas ao final da aula), e os 
concretos, como as figuras coladas em cartolinas (agradavam as crianças). 
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Castigos também eram utilizados no Método, sendo a conversa a primeira atitude 
indisciplinar que um aluno poderia cometer, pois como o método se baseava na 
memorização, não se podia falar e aprender ao mesmo tempo, assim o aluno era punido 
com severidade. 
Eram vários os instrumentos e os modos de castigos, e estes apareciam em duas 
formas: “[...] aqueles que constrangiam fisicamente, não por machucar, mas pelo fato de 
pregar no corpo a marca da punição, e os que constrangiam moralmente. [...]” (NEVES, 
2005, p. 73). Na maioria das vezes os castigos não eram dados porque os alunos não 
aprendiam, mas por indisciplina. 
Foi por interesse estatal, para que seu poder fosse difundido, que um método de 
instrução para todas as províncias foi articulado, e para que outros métodos não fossem 
instalados. Assim o Estado pode impor legalmente o Método Lancaster, fazendo com que 
os professores ficassem mais próximos e fossem vigiados, tornando-os agentes estatais. 
Tem-se que ressaltar, que “a concepção de educação que as classes ilustradas 
defendiam para as classes subalternas estava relacionada à disciplinarização da mente e 
do corpo e no desenvolvimento de crenças morais próprias da sociedade disciplinar, e não 
na independência intelectual” (NEVES, 2005, p.75). 
 
 
 
2. O SISTEMA EDUCACIONAL DURANTE O SEGUNDO REINADO 
 
Como citado anteriormente, a Lei de 15 de outubro de 1827, tenta difundir o ensino 
público no Brasil, após a Independência, uma vez que sugeria a instalação de escolas em 
todos os povoados do Império. 
No entanto, de acordo com Saviani (2011), essa Lei não foi concretizada, de fato, 
pois se essas escolas tivessem sido instaladas, teria dado origem a um sistema nacional 
de instrução pública no Brasil. Mas isso não aconteceu, e em 1834 foi aprovado o Ato 
Adicional à Lei que desobrigava o Governo Central de cuidar das escolas primárias e 
secundárias e transferia essa responsabilidade para as províncias, ao Governo Central 
ficou incumbido apenas o Ensino Superior. 
Houveram muitas dificuldades para instruir as primeiras letras aos moradores dos 
lugares distantes e isolados, pois neste período, o acesso à escolarização era precário ou 
até mesmo inexistente, tanto por falta de escolas, quanto de professores. Foi por isso que 
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surgiram os decretos para criação das primeiras Escolas Normais no Brasil, com o objetivo 
de preparar professores para ensinar as primeiras letras. 
Podemos dizer que na primeira metade do século XIX, sob a vigência da Lei das 
Escolas de Primeiras Letras, a instrução pública caminhou a passos lentos. Neste período, 
havia insuficiência quantitativa, falta de preparo (a tentativa de resolver esse problema com 
a criação de Escolas Normais ainda não surtira efeito), escassa remuneração e pouca 
dedicação dos professores; a ineficiência do método lancasteriano, principalmente, à falta 
de instalações físicas adequadas para a prática do ensino mútuo, entre outros, acarretando 
em urgência em uma ampla reforma da instrução pública (SAVIANI, 2011). 
Em 1853, o então ministro do Império, baixou o regulamento que ficou conhecido 
como “Reforma Couto Ferraz” e em 1854, foi aprovado um Decreto que regulamentava a 
reforma do ensino primário e secundário. 
Este documento foi composto de cinco títulos, cada um com apenas um título, no 
primeiro, aborda a inspeção dos estabelecimentos públicos e particulares de Instrução 
primária e secundária; no terceiro, aborda a Instrução pública secundária; no quarto, trata 
do ensino particular primário e secundário e no quinto, aborda as faltas dos professores e 
diretores de estabelecimentos públicos e privados. 
Já, o segundo título, que trata da Instrução pública primária, é composto por três 
capítulos abordando as condições para o magistério público; nomeação, demissão, os 
professores adjuntos, substituição nas escolas e as escolas públicas, suas condições e 
regime (SAVIANI, 2011). 
Esse regulamento foi dirigido apenas ao município da Corte, no entanto, servia de 
modelo para as outras províncias. 
A concepção pedagógica dessa reforma mostrou-se centralizadora, pois o papel 
atribuído ao inspetor era amplo. O ensino também se tornou obrigatório aos meninos com 
mais de 7 anos, menos aos escravos. 
Outra reforma do ensino brasileiro foi proposta em 1879, que reformou o ensino 
primário, secundário e superior também no município da Corte, esta chamada de Reforma 
Leôncio de Carvalho. 
A essência da reforma é apresentada logo de início ao proclamar que “é 
completamente livre o ensino primário e secundário no município da Corte e o superior em 
todo o Império, salva a inspeção necessária para garantir as condições de moralidade e 
higiene”. Essa referência à “moralidade e higiene” traz à tona um elemento que ocupou 
lugar central no ideário pedagógico brasileiro no Segundo Império e ao longo da Primeira 
República: o higienismo (SAVIANI, 2011). 
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A Reforma Leôncio de Carvalho, assim como na Reforma Couto Ferraz, manteve a 
obrigatoriedade do ensino primário do 7 aos 14 anos, a assistência aos alunos pobres, a 
organização da escola primária em dois graus e o serviço de inspeção. Já entre as 
mudanças sugeridas apenas pela Reforma Leôncio de Carvalho estão: a regulamentação 
das Escolas Normais fixando o seu currículo, a nomeação dos docentes, o órgão dirigente 
e a remuneração dos funcionários, e inovou ao prever a criação dos jardins de infância para 
as crianças de 3 a 7 anos, entre outros. 
Saviani (2011) assevera que a Lei das Primeira Letras procurou conduzir a questão 
didático pedagógica com o método do ensino mútuo, a Reforma Couto Ferraz o fez pela via 
do ensino simultâneo, a Reforma Leôncio de Carvalho aponta em direção do método do 
ensino intuitivo. 
Esse método também conhecido como lição de coisas, foi concebido com o intuito 
de resolver o problema daineficiência do ensino. Criado na Alemanha no final do século 
XVIII pela iniciativa de Basedow, Campe e, sobretudo de Pestalozzi. Consistia na 
valorização da intuição como fundamento de todo o conhecimento, isto é, a compreensão 
de que a aquisição dos conhecimentos decorria dos sentidos e da observação. No Brasil 
teve Rui Barbosa como um dos principais defensores. Este, foi responsável por sistematizar 
os princípios do método intuitivo em seus famosos Pareceres e por traduzir as Lições de 
Coisas, de Calkins. 
Aranha (2006) ressalta que a ênfase do método está no reconhecimento de que os 
sentidos são a porta para todo conhecimento. Contrariamente ao ensino discursivo, que 
atua por raciocínio lógico, desta forma, abstrato, busca-se começar a instrução primária 
educando a sensibilidade, pela qual percebemos cores, formas, sons, luz etc. 
O método intuitivo utilizava os objetos como suporte didático e os sentidos 
possibilitavam a produção de ideias, iniciando do 
concreto e chegando à abstração. Os sentidos deveriam 
ser educados para obter o conhecimento, passando da 
intuição dos sentidos para a intuição intelectual. 
Saviani (2011) afirma que para a utilização desses 
objetos (globo de Perce, gravuras, mapas, quadros 
Parker, etc.) dependia de diretrizes metodológicas claras. 
Desta forma, o que estava em jogo era o método de 
ensino entendido como uma orientação segura para a 
condução dos alunos, por parte do professor, em sala de 
aula. Assim, foram elaborados manuais segundo uma diretriz que modificava o papel 
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pedagógico do livro, ao invés de ser material didático utilizado pelo aluno é um material 
utilizado pelo professor, pois trazia modelos de procedimentos para elaboração de 
atividades. 
O método intuitivo rejeitava a educação livresca, a criança deveria aprender a ler o 
mundo visível, pela observação e percepção das relações entre os fenômenos. 
Aranha (2006) ressalta que no século XIX ainda não havia o que poderia chamar-se 
de pedagogia brasileira. No entanto, o método intuitivo vigorou até a república. Contudo, 
alguns intelectuais influenciados pelas ideias europeias e norte-americanas, buscavam 
novos rumos para a educação, apresentando projetos de leis, criando escolas, além de 
promover significativo debate aberto para a sociedade civil. 
 Podemos inferir que, no século XIX, muitas realizações foram feitas no campo 
educacional, mesmo estas tendo sido restritas em sua maioria ao município da Corte. Entre 
elas estão: criação da Inspetoria Geral da Instrução Primária e Secundária do Município da 
Corte, destinada a fiscalizar o ensino público e particular; o estabelecimento das normas 
para o exercício da liberdade de ensino e de um sistema de preparação do professor 
primário (mesmo que ineficiente), entre outros. 
Todavia, mesmo que no final do Império houvessem surgido algumas esperanças 
quanto à educação no Brasil, por conta dos intensos debates sobre a mesma, a situação 
do ensino continuava precária, e o ensino superior era mais valorizado que os demais 
níveis. 
 
A herança do Império 
 
O ensino primário era ministrado, em grande parte, por professores leigos, já que não 
havia escolas normais para a preparação daqueles que se destinassem ao magistério. 
O ensino secundário apresentava predominância dos cursos avulsos, de frequência 
livre, sem uma organização hierárquica das matérias de Humanidades. 
O ensino superior era reduzido a umas poucas escolas isoladas, destinadas à 
formação de profissionais liberais, especialmente no campo do Direito. 
Ao terminar o período imperial, o Brasil não dispunha de um sistema integrado de 
ensino: 
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 O primário nada tinha a ver com o secundário: para cursar este último, o aluno não 
precisava ter concluído o primário. 
 O curso secundário, excetuando-se o Colégio de Pedro II e outros poucos 
estabelecimentos, nem chegava a se constituir num curso seriado, ordenado; era 
formado por matérias avulsas, orientadas para os exames de ingresso aos cursos 
superiores; não se exigia a conclusão do secundário para iniciar estudos de nível 
superior. 
 Não tínhamos uma universidade, mas apenas escolas isoladas de nível superior, 
como as Faculdades de Direito de São Paulo e do Recife, as Faculdades de 
Medicina do Rio de Janeiro e de Salvador, e a Escola de Engenharia do Rio de 
Janeiro. 
 
PILETTI, N. História da Educação no Brasil. Ed. Ática, São Paulo, 2006. 
 
 
 
PARA SABER MAIS 
 
 
 
Educação e História da Educação no Brasil. José Clécio Silva e Souza. 
Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/18/23/educao-e-histria-da-
educao-no-brasil. 
 
A Educação no Brasil Império. 
Disponível em: http://fabiopestanaramos.blogspot.com/2011/02/educacao-no-brasil-
imperio.html. 
 
TERRA. Márcia. História da Educação. São Paulo: Pearson Education do Brasil. 2014. 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 3 – A EDUCAÇÃO NO BRASIL REPÚBLICA 
 
 
1 A EDUCAÇÃO NA PRIMEIRA REPÚBLICA (1889 – 1929) 
Pensar as bases nas quais foi discutida a difusão do ensino elementar durante a 
Primeira República, ao considerar o analfabeto como apático à ideia de progresso, 
remetem-nos as principais preocupações dos reformadores da época. Difundir a educação 
a toda população era mudar suas práticas e mentalidade, construir valores civis e 
republicanos e assegurar a sobrevivência num mundo cada vez mais letrado. Tratava-se 
acima de tudo, de homogeneizar as referências sociais do país. 
É um período no qual surgem novas instituições; as reformas partilharam a tarefa de 
normatizar, profissionalizar e sistematizar a escolarização das camadas populares. O 
pensamento educacional da época orientou-se no sentido de articular o ensino à criação 
de uma nova cultura nacional, fundamentada nas noções de civismo. Nos bancos escolares 
é que a cultura cívica seria disseminada e a nossa tradição republicana forjada. 
A busca incessante pela unidade, por estabelecer identidades, parece ser uma 
preocupação comum aos reformadores da Primeira República. A questão era levar um 
projeto político de um grupo a ser aceito e incorporado pela maioria, pois disso dependia a 
consolidação democrática. Os republicanos tinham diante de si o desafio de desenvolver a 
democracia. 
A educação cívica era entendida não apenas como um meio para instruir-se sobre a 
pátria e seus símbolos, mas para habituar os escolares à prática da moral cívica. O 
cotidiano escolar foi tomado por inúmeros preceitos que pretendiam ensinar uma nova 
 
Para começar nossos estudos 
 
 
 
 
 
 
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forma de obediência às regras. Os manuais de Educação Moral e Cívica fixavam, com rigor, 
cada detalhe da conduta social pretendida. 
Nessa perspectiva, a escola primária, vai abandonando os procedimentos 
estritamente disciplinares (como os castigos corporais), para lançar mão de uma cadeia de 
estratégias que deveriam atuar no plano do julgamento, ou seja, da disciplina intelectual 
das crianças e jovens por meio do autocontrole. 
A nova ordem urbana e a escola projetada para esse meio possuem finalidades 
explícitas de aculturação, pois o modo de socialização escolar se impôs aos demais modos. 
Por meio dela, as crianças se tornariam homens e mulheres aficionados ao seu país, 
submissos não pelo temor, mas pela razão, à autoridade, solidários com os demais e 
acostumados a reconhecer e a respeitar a justiça. Esse novo mecanismo de controle, feito 
de racionalidade, pode ser observado nas intenções estruturadas da escola primária da 
Primeira República. Neste período transforma-se a função da escola: de instruir para o de 
educar. 
O educar escolar não apenas diferia do educar familiar, mas a ele se opunha. 
Questionando a milenar estrutura educacional que vigorava na família, o

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