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Bruno Nascimento Carvalho DESENVOLVIMENTO MOTOR E-book 4 Neste E-Book: INTRODUÇÃO ����������������������������������������������������������� 3 MECANISMOS DE CONTROLE PARA AQUISIÇÃO DE NOVAS HABILIDADES MOTORAS ������������������������������������������������������������������4 Fatores a serem considerados na elaboração de intervenções direcionadas ao processo de aquisição de novas habilidades motoras �������������������������������������������������4 CONTROLE CENTRAL E FEEDBACK �����������������10 PROCESSOS DE ADAPTAÇÕES TEMPORAIS (DA MATURAÇÃO AO ENVELHECIMENTO) E A CAPACIDADE DE AQUISIÇÃO DE NOVAS HABILIDADES MOTORAS ���������������������������������������������������������������� 22 Estágios de desenvolvimento motor e capacidades de aquisição de novas habilidades motoras ������������������������������22 DESENVOLVIMENTO MOTOR, CAPACIDADE FÍSICA E POTENCIAL DE AQUISIÇÃO DE NOVAS HABILIDADES MOTORAS ����������������������������������������������������������������26 CONSIDERAÇÕES FINAIS ������������������������������������31 SÍNTESE �������������������������������������������������������������������� 32 2 INTRODUÇÃO Este módulo se propõe a possibilitar compreensão dos mecanismos determinantes para aquisição de novas habilidades motoras� Destes, daremos mais ênfase em relação aos aspectos do controle central e do feedback� Em seguida, estabelecemos compreen- são sobre a influência das adaptações que ocorrem nos processos maturacionais e de envelhecimento com o potencial de aquisição de novas habilidades� Por fim, relacionamos o processo de desenvolvimen- to motor com as alterações na estrutura/capacidades física e o potencial de aquisição de novas habilidades motoras� Figura 1: Representação de habilidades motoras� Fonte: Freepik. 3 MECANISMOS DE CONTROLE PARA AQUISIÇÃO DE NOVAS HABILIDADES MOTORAS Fatores a serem considerados na elaboração de intervenções direcionadas ao processo de aquisição de novas habilidades motoras No primeiro módulo, definimos aprendizagem motora como a área de conhecimento que estuda o processo de aquisição/aprimoramento de habilidades motoras e os profissionais que lidam com o processo de rea- bilitação pós lesões/doenças que também atuam no segmento da aprendizagem motora (GÓES, 2020). Segundo os conceitos teóricos do modelo de desen- volvimento motor de Gallahue (2013), apresentado anteriormente, o processo de aprendizagem motora ocorre sequencialmente em três fases/estágios: ● Fase ou estágio – inicial: o indivíduo apre- senta muitos erros de execução e movimentos descoordenados� ● Fase ou estágio – intermediário: há um refina- mento da habilidade motora e melhor aptidão para executar o movimento� 4 ● Fase ou estágio – final/proficiente: a habilidade é desempenhada de forma proficiente e totalmente automatizada. ESTÁGIO INICIAL ESTÁGIO PROFICIENTE ESTÁGIO INICIAL ESTÁGIO PROFICIENTE PR ÁT IC A PR ÁT IC A Figura 2: Ilustração da aquisição de novas habilidades mo- toras. Créditos: SILVA; SILVA; GONÇALVES; COSTA (2018) Conforme exposto na figura acima, o processo de melhorias em relação aos estágios de aprendizagem motora (desempenho) na execução das habilida- des motoras é dependente da prática (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; SILVA; SILVA; GONÇALVES; COSTA, 2018). Em relação ao aumento de prática, há de ser con- sideradas propostas de intervenção que ofereçam problemas motores elaborados, ao invés de sim- plesmente propiciar uma repetição mecânica dos 5 movimentos ao indivíduo; deve-se propor estratégias que façam o indivíduo procurar respostas adequadas aos problemas motores e, assim, obter experiências que irão auxiliar na execução de habilidades motoras no futuro (SILVA; SILVA; GONÇALVES; COSTA, 2018). O processo deve possibilitar a exploração de diferen- tes soluções relacionadas aos problemas motores, en- volvendo tentativas de um esforço cognitivo conscien- te que envolve: organização, execução, avaliação e modificação de ações motoras (TANI; CORRÊA, 2016). A intervenção deve fornecer melhorias em relação ao processo de aprendizagem motora; além do au- mento de prática, deve-se considerar outros aspec- tos, como: um correto fornecimento de instruções, a complexidade da tarefa, considerando o nível de aptidão do indivíduos, as demonstrações, as metas e um correto uso dos diferentes tipos de feedback (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; GÓES, 2020; TANI; CORRÊA, 2016). O profissional de educação física fornece informa- ções prévias à realização da prática por duas formas de explicação: instrução verbal e demonstração. A utilização das instruções verbais se refere a “o que fazer”, e as demonstrações se relacionam a “como deve ser feito” (GÓES, 2020). No momento de fornecer instruções para os alunos/ clientes, os professores/instrutores devem consi- derar o processo de aprendizagem individual (nos estágios iniciais de aprendizagem, uma intervenção 6 relacionada ao movimento humano deve fornecer somente as informações essenciais para execução das tarefas). Uma estratégia a ser utilizada nos está- gios iniciais de aprendizagem é o uso de instruções bem direcionadas aos aspectos que precisam ser aprendidos/melhorados das habilidades motoras� Além disso, independentemente do período da vida, os indivíduos possuem diferentes capacidades para assimilar as informações recebidas (SILVA; SILVA; GONÇALVES; COSTA, 2018). As instruções verbais podem ser direcionadas para aspectos como: o ob- jetivo da tarefa, sua especificidade (o que fazer de fato) e seu modo de execução (TANI; CORRÊA, 2016). A complexidade se refere ao número de partes e ao nível de dificuldade de uma tarefa. Conforme expos- to, o processo de aquisição de novas habilidades motoras considera o pressuposto que um indivíduo inicialmente possui uma menor capacidade para execução das tarefas; nesse sentido, deve ser con- siderada a utilização de tarefas com menor comple- xidade (SILVA; SILVA; GONÇALVES; COSTA, 2018). Uma das estratégias estabelecidas na literatura so- bre o processo de aprendizagem motora é a utili- zação da definição de metas, as metas podem ser definidas a curto ou longo prazo; e tem finalidade de promover maior comprometimento, dedicação e motivação, durante a prática na realização das tarefas (GÓES, 2020). 7 Um recurso a ser utilizado para facilitar o proces- so de ensino-aprendizagem é o uso da demons- tração, no qual o cliente/aluno pode comparar a execução da habilidade motora com um padrão de movimento estabelecido. Vale ressaltar que a habilidade motora deve ser demonstrada de forma lenta, considerando o potencial de retenção de informações e o estágio de desenvolvimento do in- divíduo (SILVA; SILVA; GONÇALVES; COSTA, 2018). A demonstração também pode ser associada a um momento de elaboração de um modelo, que favorece a capacidade de imitação e possibilita a aprendizagem por meio de observação (TANI; CORRÊA, 2016). Há uma boa perspectiva em relação à otimização do processo de aprendizagem com associação de instruções verbais e não verbais, pois a demonstra- ção pode facilitar a compreensão das instruções verbais, minimizando a compreensão de instruções complexas� Além disso, há evidências de efeito superior em re- lação às associações cognitivas dos clientes/aluno, no processo de ensino-aprendizagem, com o uso da demonstração associada a instruções verbais, quando comparadas ao fornecimento delas sepa- radamente (TANI; CORRÊA, 2016). 8 SAIBA MAIS O livro “Aprendizagem motora e o ensino do es- porte” possui um tópico específico sobre a uti- lização de instruções verbais, demonstrações e outras estratégias no processo de aprendizagem motora (página 46). Consulte na plataforma Minha Biblioteca� Acesse o Podcast 1 em Módulos 9 CONTROLE CENTRAL E FEEDBACK O movimento humano é o produto final de um proces- so que envolve a participação de vários mecanismos de controle do sistema nervoso central (SNC) (TANI; CORRÊA, 2016).Há um série de teorias cognitivas relacionadas à estruturação inicial do controle de movimento� Essas teorias se baseiam em como as estruturas centrais controlam os movimentos (GÓES, 2020). Apresentamos, de forma comprimida, as prin- cipais teorias sobre esse processo: ● Teoria reflexa: teoria que apresentou uma série de questionamentos, porém, serviu de embasamento inicial para as teorias subsequentes sobre controle central, em relação aos movimentos� Na concepção dessa teoria, o comportamento humano é baseado em reflexos. Os movimentos humanos considerados mais complexos, nessa perspectiva, são resultan- tes de uma combinação sucessiva de reflexos mais simples. Em aspectos práticos, os reflexos neurais produzidos por meio da medula espinhal conduzem à ativação/inibição dos diferentes grupamentos musculares� ● Teoria hierárquica: nessa teoria há uma divisão do SNC que o divide em três níveis hierárquicos – que, em conjunto, controlam o movimento humano: ○ Nível inferior: composto por medula espinhal e tronco encefálico� 10 ○ Nível intermediário: composto pelas divisões mo- toras e sensórias do córtex cerebral� ○ Nível superior: composto por regiões associativas, predominantemente, as divisões frontais do cérebro� Inicialmente, essa teoria considerava o conceito de “cadeia direta”, em que o nível superior é o determi- nante dos níveis inferiores. Atualmente, a literatura considera que há um processo integrativo e depen- dente do tipo de tarefa a ser executada� ● Teoria reflexo-hierárquica: concepção que o con- trole motor se inicia através dos reflexos, e estes determinam uma estruturação dos níveis hierárqui- cos do SNC. ● Teoria de programação motora: teoria que se pauta nos conceitos da fisiologia, no processo de controle motor; utiliza o pressuposto de que o mo- vimento não é dependente do reflexo, com base na compreensão que a medula espinhal possui potencial de produzir ações locomotoras sem determinações descendentes cerebrais� Dessa forma, foi estabelecido que a ação motora pode ocorrer sem estímulos, e, subsequentemente, foi estabelecido o conceito de padrão motor central (também conhecido na literatura como programa motor). Vale mencionar que a excitação do padrão motor pode ocorrer por estímulo sensorial ou pelos processos de controle central� Os conceitos acima acerca da teoria de programação motora estabeleceram uma maior importância em relação à ação do SNC no controle motor. Vale res- saltar que ela não delimita a substituição dos aspec- 11 tos reflexivos mencionados nas teorias anteriores; essa teoria somente agrega valor para o potencial de aquisição de habilidades motoras (GÓES, 2020). Além disso, essa teoria considera o pressuposto que o cérebro realiza o processamento e armazenamento das informações para produzir os comportamentos. As informações são processadas por meio do SNC em estágios (cognitivos discretos, percepção, toma- da de decisão e uma ação de resposta) (GÓES, 2020). Nessa concepção, em decorrência ao estímulo inicial, a informação é enviada ao cérebro (que, no esque- ma abaixo, é retratado como parte executiva) por intermédio do sistema nervoso central e periférico� Essa informação é processada por meio do SNC, que delimita um estímulo (mensagem) baseado nas informações armazenadas, direcionado para os mús- culos e articulações (que realizam uma ação efetora) e irão delimitar uma ação motora (resposta). Estímulo Erro Estado real Estado desejado Feedback informa sobre o estado real do sistema Esquema de teoria da programação motora Executivo Comparador Efetor Resposta Figura 3: Esquema da teoria de programação motor� Fonte: GÓES (2020) 12 SAIBA MAIS O livro “Controle e aprendizagem motora: intro- dução aos processos dinâmicos de aquisição de habilidades motoras” possui um tópico específico sobre a utilização das teorias de controle motor, baseado em aspectos cognitivos (informados aci- ma) e em relação aos sistemas dinâmicos. GÓES, S. M.. Curitiba: Intersaberes, 2020. O livro está disponível na plataforma Biblioteca Virtual. Não deixe de ler! Conforme exposto no tópico anterior, o processo de aprendizagem motora é dependente da prática (TANI; CORRÊA, 2016), e a prática pode ocorrer de duas maneiras: ● Prática física – situação na qual o cliente/aluno re- aliza as ações motoras da habilidade a ser aprendida. ● Prática mental – situação em que o indivíduo não executa os movimentos da habilidade motora; nesse processo, ocorre um desempenho mental da tarefa, sem as ações motoras� Em seu livro sobre aprendizagem motora e ensino do esporte Go Tani (2016), expõe uma série de efeitos e mecanismos relacionados à prática mental e como ela influencia e beneficia a prática física nos aspec- tos motores do processo de ensino-aprendizagem. Apresentamos, de forma sucinta, alguns teóricos: 13 ● Jacobson (1930) – primeiro direcionamento para uso da prática mental; segundo a concepção des- se pesquisador, com o processo de imaginação, o organismo, através do SNC, realiza disparos com pequenas ativações elétricas para a musculatura� Vale ressaltar que a excitação elétrica muscular é pequena e não possui potencial de indução de altera- ções em níveis mecânicos, sua função é basicamente direcionada ao preparo muscular (análise feita por eletromiografia). ● Sackett (1934) – considera que a prática mental beneficia o entendimento cognitivo-simbólico das habilidades motoras e, posteriormente, apresenta potencial de promover facilitação para o desenvol- vimento de soluções motoras e estratégias para a promoção de aumento do desempenho� ● Rawlings (1972) – corrobora o direcionamento que os benefícios da prática mental no processo de aprendizagem motora são relacionados a um controle amplo, que não engloba somente aspec- tos cognitivos� ● Mackay (1981) – fornece um direcionamento no qual a imaginação é um momento de prepa- ro para as ações motoras, com embasamento no conceito de padrões semelhantes às ondas cere- brais de movimentos reais, em relação a quando o processo é somente imaginado (análise feita por eletroencefalograma). ● Denis (1985) – seu conceito teórico possui um encaminhamento no qual a prática mental realiza uma função de direcionamento para o processo ima- 14 ginativo, com um papel organizacional cognitivo, inicialmente; e, posteriormente, para indivíduos com domínio parcial da habilidade motora (estágios mais avançados) com um papel recordativo, em relação a sensações cinestésicas e visuais� ● Vealey e Greenleaf (2009) – desenvolveram um conceito baseado na perspectiva do esporte, no qual o processo de imaginação como prática mental for- nece um embasamento direcionado a três aspectos: 1. Desempenho e aprendizagem: há três pressupos- tos sobre esse aspecto: o primeiro com um direcio- namento de que a prática mental apresenta potencial de complementar a prática física; o segundo dire- cionado para um momento imaginativo de preparo psicológico, antes da execução da habilidade motora propriamente dita (como um momento de preparo antes da execução da habilidade motora); o último com a finalidade de proporcionar estabilidade ao atleta, trazendo uma sensação de relaxamento. 2. Pensamentos e emoções: o processo imaginati- vo da prática mental pode melhorar os aspectos do controle de pensamentos/emoções com a indução de uma série de melhorias, como: aumento da au- toconfiança e da motivação, em relação ao controle de atenção e ansiedade� 3. Pesquisas de atletas bem-sucedidos: a literatura científica indica que atletas de alto nível e bem-suce- didos utilizam de forma mais ampla e sistemática o 15 processo imaginativo, em comparação a seus pares menos bem-sucedidos� ● Schmidt (2010) – conceito robusto dos benefí- cios da prática mental relacionados a: ativação dos estágios de processamento que utilizam aspectos cognitivos e simbólicos na tomada de decisão na execução das habilidades motoras, contribuem noprocesso de programação motora que possibilita uma representação clara do estado desejado; ativa- ção cerebral relacionada aos músculos que serão re- crutados na execução dos movimentos propriamente ditos, e, por fim, em relação a todos os aspectos necessários à tarefa� Considerando as definições acerca da prática mental, há um consenso estabelecido que, independentemen- te, do nível de aptidão dos indivíduos, ela propicia benefícios, em relação ao processo de aprendizagem e execução de novas habilidades motoras (TANI; CORRÊA, 2016). O desenvolvimento do potencial de aprendizagem motora também é determinado pelos tipos de fee- dback, que é a resposta elaborada pelo professor/ instrutor em relação ao movimento, ou executada pelo aluno/cliente em determinada tarefa� Essa res- posta é relativa ao desempenho e influencia direta- mente a aquisição de uma nova habilidade motora (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). 16 Outra definição sobre o feedback é a informação gerada a uma resposta motora disponível ao apren- diz durante/após uma ação motora (TANI; CORRÊA, 2016). Em aspectos práticos, o professor/instrutor fornecerá um retorno ao cliente/aluno relacionado à execução do movimento� Com base no feedback, o indivíduo que executou a tarefa irá comparar o seu próprio desempenho com o padrão de movimento ideal (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). O feedback pode ser classificado em relação a al- guns aspectos: aos diferentes tipos de feedback que podem ser fornecidos, e a outros fatores que podem ser determinantes na execução e aprendizagem das habilidades motoras a longo prazo (SILVA; SILVA; GONÇALVES; COSTA, 2018): 1. Uma das classificações em relação aos tipos de feedback é o seu fornecimento pelo instrutor/pro- fessor para o aluno/cliente: ● Feedback positivo: resposta positiva do professor/ instrutor ao aluno/cliente com um direcionamento de que a tarefa foi bem executada� ● Feedback negativo: resposta negativa do pro- fessor/instrutor com um direcionamento de que a tarefa foi mal executada e/ou possui necessidade de correções� 2. Há o feedback em relação à percepção do indiví- duo que executa as tarefas: 17 ● Feedback interno: relaciona-se à percepção do sistema sensorial do indivíduo ao executar os movimentos� O feedback obtido por meio de canais sensoriais do próprio cliente/aluno ao executar habilidades mo- toras também é conhecido na literatura como feed- back intrínseco/inerente� Ele é fornecido por fontes externas de percepção (exterocepção), como visão, audição e olfato; ou por fontes internas perceptivas (propriocepção), por meio dos receptores articula- res, tendinosos ou musculares – as informações externas e internas são combinadas e integradas através do SNC e geram informações cinestésicas para o indivíduo (TANI; CORRÊA, 2016). ● Feedback externo: são as informações externas fornecidas por outros indivíduos, em relação a quem executa as habilidades motoras� 3. O feedback aumentado é o principal entre os di- ferentes tipos de feedbacks externos abordados na literatura, ele ocorre com direcionamento para mo- dificar/melhorar as informações sensórias obtidas pelo feedback interno: ● Em relação ao fornecimento de informações du- rante a execução das tarefas, e possui uma relação com as informações já fornecidas pelo próprio sis- tema sensorial do indivíduo� 18 ● Com um direcionamento para novas informações, que não foram fornecidas previamente pelo feedback interno, e que não são necessariamente relacionadas aos movimentos executados no momento (nesse caso, são relacionadas aos motivos da execução do movimento). Assim como o feedback interno, o aumentado possui outras nomenclaturas na literatura científica, sendo conhecido como feedback extrínseco ou aprimo- rado (TANI; CORRÊA, 2016). Esse tipo de feedback é fornecido quando o indivíduo executa uma tarefa e percebe, por meio do feedback intrínseco, que há erros nas ações motoras, no entanto, ele não possui capacidade de correção dos erros sozinho e há a necessidade de orientações de terceiros� Nesse contexto, o feedback extrínseco executa papel de direcionamento para soluções cognitivas rela- cionadas aos problemas motores; vale mencionar que as orientações fornecidas por ele devem ser específicas sobre a detecção de erros e com dire- cionamento para o padrão de movimento correto (TANI; CORRÊA, 2016). O feedback aumentado possui dois tipos de direcio- namentos para o processo de aquisição de novas habilidades motoras: ● Com objetivo de fornecer um rápido direcionamen- to ao cliente/aluno para melhorar uma habilidade motora – nessa ocasião, o feedback é fornecido logo após ou durante a execução da habilidade para que 19 o cliente/aluno consiga desenvolver rapidamente o entendimento sobre suas ações motoras� ● Com o objetivo de fornecer motivação ao aluno, o instrutor/professor fornece um direcionamento positivo em relação à execução da tarefa (feedback positivo) para promover sua contínua execução. FIQUE ATENTO O professor/instrutor deve ter cuidado ao fornecer correções para o aluno/cliente em relação à má execução das tarefas (feedback negativo), pois o excesso de correções pode induzir a sensações negativas e prejudicar o processo de aprendizagem de novas habilidades motoras� O feedback aumentado também pode ser compre- endido em relação à forma de conhecimento: ● Conhecimento de resultado: informação verbal acerca de uma ação motora em relação ao objetivo pretendido; ● Conhecimento de performance/cinemático ou cinético: informação sobre o padrão de movimento realizado pelo indivíduo. A maioria das evidências científicas é direcionada para o estudo do conhecimento de resultado. Há um direcionamento que aponta a otimização do proces- so de aprendizagem motora, baseado no conjunto da prática com um fornecimento de controle de re- 20 sultado controlado pelo cliente/aluno, em relação a um processo controlado por fontes externas; nesse caso, os feedbacks são relacionados às demandas específicas, informadas pelo indivíduo que está exe- cutando a ação motora (o aluno/cliente informa o que ele precisa de orientação) (TANI; CORRÊA, 2016). 21 PROCESSOS DE ADAPTAÇÕES TEMPORAIS (DA MATURAÇÃO AO ENVELHECIMENTO) E A CAPACIDADE DE AQUISIÇÃO DE NOVAS HABILIDADES MOTORAS Estágios de desenvolvimento motor e capacidades de aquisição de novas habilidades motoras O ser humano, a partir de sua concepção até o fim da vida, realiza uma série de adaptações desenvolvimen- tistas (lembrando que o conceito de desenvolvimento se relaciona à mudança de função, independente- mente de ela ser positiva ou negativa); conforme ocorrem as modificações em curso temporal no de- senvolvimento humano e no desenvolvimento mo- tor, também ocorrem modificações no potencial de aquisição de novas habilidades motoras� Conforme apresentado anteriormente, o processo de desenvolvimento motor pode ser dividido em es- tágios e fases de desenvolvimento. As habilidades motoras são classificadas em movimentos de esta- bilização, locomoção e manipulação. Além disso, o potencial para execução das habilidades motoras se associa às modificações das fases de desenvol- 22 vimento motor, segundo a teoria clássica de desen- volvimento motor de Gallahue (2013). Os primeiros movimentos voluntários são executados na infância (na segunda fase/estágio de desenvol- vimento motor), conforme a teoria, entre o 1º e o 2º ano de vida, e são direcionados a uma capacidade rudimentar de estabilização, locomoção e manipu- lação (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; SILVA; SILVA; GONÇALVES; COSTA, 2018). ● Movimentos rudimentares estabilizadores: são relacionados ao início da infância; são movimentos de equilíbrio estático em relação a: cabeça, pescoço e tronco� ● Movimentos rudimentares locomotores: são ca- racterizados pelos movimentos de rastejar, engati- nhar e andar� ● Movimentos rudimentares manipulativos: são relacionados ao ato de agarrar/soltarobjetos� Com a continuação do processo de crescimento e desenvolvimento, entre o 2º e o 7º ano de vida, as crianças entram em uma fase/estágio fundamen- tal de desenvolvimento motor e ocorre progressão na aquisição das habilidades motoras (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; SILVA; SILVA; GONÇALVES; COSTA, 2018): ● Movimentos fundamentais estabilizadores: ocorre o desenvolvimento da capacidade completa de ficar em pé sem apoios; há o desenvolvimento da capaci- 23 dade de realizar rolamentos para frente e para trás, além de se equilibrar somente em um pé� ● Movimentos fundamentais locomotores: nesse período, ocorre um aumento na capacidade de cor- rida, salto, saltito e galope� ● Movimentos fundamentais manipulativos: a crian- ça desenvolve a capacidade de chutar, arremessar e saltar� Entre o 7º e o 14º ano de vida, ocorre o último está- gio/fase da classificação de desenvolvimento motor de Gallahue (2013), com uma progressão para mo- vimentos especializados: ● Movimentos especializados estabilizadores: exe- cução de movimentos de locomoção em bases ins- táveis. (exemplo: caminhar na trave da ginástica). ● Movimentos especializados locomotores: exe- cução de movimento de locomoção com maior de- manda física e cognitiva. (exemplo: execução do nado crawl). ● Movimentos especializados manipulativos: a criança desenvolve capacidade de executar movi- mentos manipulativos específicos. (exemplo: toque do voleibol e arremesso do basquetebol). Na concepção do autor, o processo de desenvolvi- mento humano e motor é contínuo; ele se baseia no conceito de desenvolvimento ao longo da vida� Dessa forma, o potencial para a aquisição de novas habilidades motoras também é contínuo, porém os 24 períodos sensíveis para a promoção de um máximo desenvolvimento com atividades motoras que requi- sitem habilidades motoras específicas em períodos/ estágios determinados são as mencionadas acima� Vale destacar que o desenvolvimento ao longo da vida pressupõe que devem ser ofertadas oportuni- dades de aprendizado até o fim da vida, promovendo o aumento dos aspectos relacionados à qualidade de vida dos indivíduos, assim como o desenvolvi- mento de diferentes tipos de habilidades motoras (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). O processo de desenvolvimento motor ao longo da vida conceitua que a vida adulta é um momento de manutenção das competências e capacidades mo- toras adquiridas durante a infância/adolescência (SILVA; SILVA; GONÇALVES; COSTA, 2018). E o pro- cesso de envelhecimento é compreendido como um momento de declínio fisiológico, com redução das capacidades motoras, em que o exercício físico é utilizado como uma ferramenta de manutenção da qualidade de vida� 25 DESENVOLVIMENTO MOTOR, CAPACIDADE FÍSICA E POTENCIAL DE AQUISIÇÃO DE NOVAS HABILIDADES MOTORAS No módulo 2, apresentamos as informações e o em- basamento teórico acerca das diferentes teorias de desenvolvimento motor; além disso, trouxemos da- dos sobre o processo de desenvolvimento humano, com enfoque nas modificações temporais, segundo diferentes teorias. Vale ressaltar que as teorias, de forma geral, abordam as modificações em nível cog- nitivo, físico e social� O enfoque do último tópico é realizar uma relação das modificações no processo de desenvolvimento motor, com o potencial de aquisição de novas ha- bilidades motoras e as alterações relacionadas ao desenvolvimento, em potencial, de capacidades físi- cas� Para estabelecermos essa relação, vamos nos basear nos conceitos referentes aos aspectos físicos da teoria do desenvolvimento humano dos domínios de comportamento (estudado anteriormente) e nos conceitos da teoria de desenvolvimento motor de Gallahue (2013). Segundo o direcionamento da teoria de desenvolvi- mento humano, até os três anos de vida, ocorre uma série de modificações relacionadas aos processos de crescimento e desenvolvimento físico que possi- 26 bilitam um rápido aumento na capacidade de execu- ção das habilidades motoras (COSTA; BIERDZYCKI; LOPES, 2019). A teoria de desenvolvimento motor considera que as primeiras modificações que per- mitem o desenvolvimento da capacidade inicial de movimentos voluntários ocorre entre o 1º e o 2º ano de vida, quando há um controle incipiente das crianças em relação aos músculos estabilizadores (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; SILVA; SILVA; GONÇALVES; COSTA, 2018). A teoria de desenvolvimento humano considera mo- dificações entre o 3º e o 6º ano de vida, com um direcionamento para modificações na composição corporal, processo de crescimento acentuado, au- mento de força, e aumento das habilidades motoras finas em geral (COSTA; BIERDZYCKI; LOPES, 2019). A classificação dos estágios de desenvolvimento motor direciona as mudanças em relação aos movi- mentos fundamentais entre o 2º e o 7º ano de vida, com uma indicação para alterações relacionadas ao desenvolvimento das capacidades de coordena- ção associada ao aumento da coordenação motora grossa (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; SILVA; SILVA; GONÇALVES; COSTA, 2018). Sequencialmente, a teoria de desenvolvimento huma- no utiliza o período da vida entre 6 e 11 anos de idade (classificado como terceira infância), no qual indica- -se que há um aumento da força; este corrobora para aumento do potencial, em relação às capacidades e habilidades atléticas (COSTA; BIERDZYCKI; LOPES, 27 2019). A teoria de desenvolvimento motor classifi- ca o último estágio/fase de desenvolvimento como um período entre o 7º e o 14º ano de vida, com a nomenclatura de fase motora especializada. Nesse período, há uma maior capacidade de refinamento e combinação das habilidades motoras (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; SILVA; SILVA; GONÇALVES; COSTA, 2018). A teoria de desenvolvimento humano continua rea- lizando outras classificações sobre os períodos de desenvolvimento. O próximo estágio compreende dos 11 aos 20 anos de idade (classificação de ado- lescência), no qual se considera um período em que há o estabelecimento da maturidade reprodutiva e, assim, interferências de questões sociais e uma alta taxa de crescimento físico (COSTA; BIERDZYCKI; LOPES, 2019). O contexto específico do desenvolvimento motor não realiza distinção dos 14 anos de idade até o final da vida; no entanto, os autores acreditam que, até os 18 anos de idade, é um momento da vida no qual as habilidades motoras ainda apresentam grande potencial para serem aperfeiçoadas (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; SILVA; SILVA; GONÇALVES; COSTA, 2018). Gallahue (2013), em seu modelo teórico, não especi- fica as alterações desenvolvimentistas nos momen- tos direcionados ao envelhecimento, no entanto, ele realiza uma classificação em relação à idade: ● Adulto jovem (18 a 40 anos de idade) 28 ● Meia idade (40 a 60 anos de idade) ● Velho jovem (60 a 70 anos de idade) ● Velho mediano (70 a 80 anos de idade) ● Velho mais velho (mais de 80 anos de idade) A teoria de desenvolvimento motor considera que, a partir do momento em que o indivíduo ingressa na classificação de adulto jovem (18 anos de idade), ocorre uma série de modificações em relação às demandas sociais/ambientais, que delimitam uma menor oferta de estímulos motores e, consequente- mente, uma menor possibilidade de desenvolvimento motor (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Outros autores que se baseiam na concepção de desenvolvimento motor da teoria de Gallahue (2013) fornecem um direcionamento que a idade adulta (18 a 40 anos) é um momento no qual o indivíduo apresenta potencial de manutenção em relação às capacidades motoras (SILVA; SILVA; GONÇALVES; COSTA, 2018). De fato, os estudiosos que se baseiam na teoria de desenvolvimento motor ao longo da vida o compre- endem como um processo contínuo que, até deter- minado período da vida, se relaciona a um momento de potencial progressão na capacidade de desenvol- vimento e realização de habilidades motoras, com posterior período de potencial regressão (BACIL; SILVA; MAZZARDO,2020). 29 A teoria do desenvolvimento humano considera que no período entre 20 e os 40 anos de idade (jovem adulto) ocorre um momento de auge de capacidade e desempenho físico e, ao se aproximar do fim desse período, há uma redução das capacidades físicas e desempenho – dependentes das interferências do estilo de vida (COSTA; BIERDZYCKI; LOPES, 2019). A teoria de domínios do comportamento consi- dera que, no período entre os 40 aos 60 anos de idade (meia idade), ocorre redução na capacidade sensorial, vigor e destreza do indivíduo (COSTA; BIERDZYCKI; LOPES, 2019). A redução dessas valên- cias é determinante para aquisição das habilidades motoras; dessa forma, mesmo que não esteja claro nas teorias de desenvolvimento motor, se pressupõe que o processo de ensino-aprendizagem de habili- dades motoras seja executado com maior nível de dificuldade. Na concepção de desenvolvimento motor ao lon- go da vida, não há uma especificação do momento exato da modificação de aquisição de novas habili- dades motoras� Entretanto, há um direcionamento, que é relacionado ao processo de envelhecimento� Pressupõe-se que, com o início desse processo, são estabelecidas modificações relacionadas ao declínio e à perda fisiológica. Nesse contexto, ocorre perda de capacidades e habilidades motoras, e o exercício é re- alizado com um direcionamento de evitar o processo de perda (SILVA; SILVA; GONÇALVES; COSTA, 2018). Acesse o Podcast 2 em Módulos 30 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este último módulo foi proposto com a finalidade de apresentar/discutir os aspectos relacionados à aquisição de habilidades motoras� Dentre eles, de- mos maior ênfase ao controle central e aos aspectos ligados ao fornecimento de feedback� Posteriormente a isso, relacionamos questões que foram discutidas parcialmente em módulos ante- riores; mas que são vitais para uma compreensão integral do processo de desenvolvimento motor� Relacionamos as modificações na estrutura física dos indivíduos (apresentadas na teoria dos domínios do comportamento e na teoria de desenvolvimento motor de Gallahue) com os diferentes estágios de desenvolvimento motor e o potencial de aquisição de habilidades motoras� 31 SÍNTESE A relação que estabelecemos entre as modificações na estrutura/capacidade física dos indivíduos (apresentada na teoria dos domínios do comportamento e na teoria de desenvolvimento motor de Gallahue), com os diferentes estágios do desenvolvimento motor e o potencial de aquisição de habilidades motoras. Os fatores que norteiam o processo de aquisição de habilidades motoras, com maior ênfase em relação ao controle central e os aspectos relacionados ao fornecimento de feedback. RELAÇÃO ENTRE HABILIDADES MOTORAS, ESTÁGIOS/FASES DESENVOLVIMENTO MOTOR E CAPACIDADES FÍSICAS Este e-book foi proposto com a finalidade de discutir os aspectos relacionados à aquisição de habilidades motoras e sua relação com aspectos discutidos anteriormente (estágios de desenvolvimento motor e alterações na estrutura/capacidade física em curso temporal). Ele pode ser divido em duas grades partes: DESENVOLVIMENTO MOTOR Referências Bibliográficas & Consultadas BACIL, E. D. A.; SILVA, M.; MAZZARDO, O. Crescimento e desenvolvimento motor. Curitiba: InterSaberes, 2020. [Biblioteca Virtual] COSTA, R. R; BIERDZYCKI, B. P; LOPES, D. D. G. P. S. Aprendizagem e controle motor. Porto Alegre: Sagah, 2019. FRAZÃO, L. M. et al� Questões do humano na contemporaneidade. São Paulo: Summus, 2017 [Biblioteca Virtual] GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C.; GOODWAY, J. D. Compreendendo o desenvolvimento motor: be- bês, crianças, adolescentes e adultos. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. [Minha Biblioteca] GÓES, S. M. Controle e aprendizagem motora: introdução aos processos dinâmicos de aquisição de habilidades motoras. Curitiba: InterSaberes, 2020. [Biblioteca Virtual] MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Blucher, 2000. [Biblioteca Virtual] SHUMWAY-COOK, A; WOOLLACOTT, M. H. Controle motor: teoria e aplicações práticas. 3. ed. Barueri: Manole, 2010. [Minha Biblioteca] SILVA, J. V.; SILVA, M. H.; GONÇALVES, P. DA S.; COSTA, R. R. Crescimento e desenvolvimento humano e aprendizagem motora. Porto Alegre: Sagah, 2018. [Minha Biblioteca] SILVA, P. V. R. Teorias psicológicas do desenvol- vimento e da aprendizagem. São Paulo: Pearson, 2013. [Biblioteca Virtual] TANI, G; CORRÊA, U. C. Aprendizagem motora e o ensino do esporte. São Paulo: Blucher, 2016. [Minha Biblioteca] INTRODUÇÃO MECANISMOS DE CONTROLE PARA AQUISIÇÃO DE NOVAS HABILIDADES MOTORAS Fatores a serem considerados na elaboração de intervenções direcionadas ao processo de aquisição de novas habilidades motoras CONTROLE CENTRAL E FEEDBACK PROCESSOS DE ADAPTAÇÕES TEMPORAIS (DA MATURAÇÃO AO ENVELHECIMENTO) E A CAPACIDADE DE AQUISIÇÃO DE NOVAS HABILIDADES MOTORAS Estágios de desenvolvimento motor e capacidades de aquisição de novas habilidades motoras DESENVOLVIMENTO MOTOR, CAPACIDADE FÍSICA E POTENCIAL DE AQUISIÇÃO DE NOVAS HABILIDADES MOTORAS CONSIDERAÇÕES FINAIS SÍNTESE
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