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; APTIDAO AERÓBIA DESEMPENHO ESPORTIVO, SAÚDE E NUTRIÇÃO \ORGANIZADORES Rômulo Bertuzzi Patrícia Chakur Brum Christiano Robles Rodrigues Alves Adriano Eduardo Lima-Silva \ \ I i I I Â i Manole ia Consumo máximo de oxigênio Rômulo Bertuzzi Adriano Eduardo Lima-Silva INTRODUÇÃO Tradicionalmente, o consumo máximo de oxigênio (V02máx) tem sido des crito como uma das principais variáveis determinantes do desempenho em esportes predominantemente aeróbios11,32. Ele é definido como a maior taxa de captação, transporte e utilização do oxigênio atmosférico durante um exer cício exaustivo2. Um dos primeiros estudos a reportar o V02máxde sujeitos fisicamente ativos foi conduzido por Hill e Lupton (1923), no qual foi descri to que o VO, atingia valores elevados próximos da exaustão (em torno de 4 L.miir1), podendo indicar que a capacidade máxima de realizar trabalho foi atingida. Cerca de 14 anos mais tarde, Robinson, Edwards e Dill24 reportaram os valores VOzmáx de sujeitos altamente treinados, incluindo o detentor do recorde mundial da corrida de 3,2 km durante 30 anos, o atleta Donald R. Lash. Esses autores observaram que Donald R. Lash alcançou o V02máx de 5,35 L.min'1 correndo a 21,6 km.lr1. Esse achado levou esses autores a refor- 78 Aptidão aeróbia çarem a hipótese de que altos valores do VO,máx poderíam estar associados com o desempenho em provas predominantemente aeróbias. Ao final da dé cada de 1960, Saltin e Astrand26 publicaram os valores de VO,máx de atletas de várias modalidades esportivas da seleção sueca. Eles detectaram que os esquiadores cross-countr\' eram os atletas que possuíam os valores mais eleva dos do VOjnáx e que nenhum dos atletas da seleção sueca tinha o V02máx abaixo de 81 mLkg^min1. Investigações publicadas posteriormente demonstraram que, de fato, atle tas altamente treinados possuíam elevados valores de V02máx. Por exemplo, ao recrutarem 12 corredores fundistas que estavam entre os 20 primeiros atle tas do ranking norte-americano na prova de 10 km, Conley e Krahenbuhl4 ob servaram o valor médio do VChmáxde 71,7 mL kg^miir1. Por sua vez, Costill, Thomason e Roberts5 observaram que corredores especialistas em provas de 16 km com o desempenho nessa distância entre 48,9 e 49,0 minutos possuíam valores de VO,máx entre 81,6 e 78,4 inL-kg ^min1, respectivamente. Dessa forma, esses achados reforçaram a ideia de que um elevado V02máx parece ser um pré-requisito para que os atletas tenham sucesso em competições de longa duração. Outros estudos também reportaram que o V02máx é um dos principais fatores determinantes do desempenho em testes contrarrelógio. Em um estu do conduzido com um grande número de universitários do sexo masculino e feminino, Ramsbottom, Nute e Williams22 detectaram fortes correlações entre o VO,máx e o desempenho de homens (r = -0,85; p < 0,01) e mulheres (r = -0,80; p <0,01) em uma corrida de 5 km. Ao utilizarem um modelo de re gressão múltipla, McLaughlin et al.15 detectaram que o V02máx era uma das principais variáveis associadas com o desempenho durante um teste de 16 km, explicando 90,2% da variação total do desempenho. Além de demonstrar que a elevada capacidade de captar e utilizar o O, atmosférico é fundamental para o sucesso em corridas de longa duração, esses achados também indicam que a elevada capacidade preditiva do VO,máx é independente do sexo dos atletas. Acredita-se que a sua capacidade de predizer o desempenho esportivo deva-se a sua relação com os sistemas respiratório, cardiovascular e muscular. Durante o teste progressivo até a exaustão, o aumento do V02 ocorre em virtu de da elevação do débito cardíaco e da diferença artério-venosa de oxigênio25. Assim, indivíduos com maiores valores dessas variáveis, provavelmente, tam bém possuem maiores valores de V02máx. Hill e Lupton11 sugeriram que o Consumo máximo de oxigênio 79 VO,máx poderia ser limitado pela rápida passagem do sangue nos pulmões, ou pela incapacidade de o coração aumentar sua contratilidade. Essa hipóte se foi revisada e complementada no início deste século por Basset e Howley1, que sugeriram como fatores limitantes do V02máx os seguintes mecanismos: a capacidade de difusão pulmonar, o débito cardíaco máximo, a capacidade de o sangue transportar o oxigênio, a diferença artério-venosa de oxigênio. Os três primeiros têm sido citados como fatores centrais e o quarto, como fator periféri co. A seguir, serão apresentadas as principais informações acerca desses fatores limitantes do V02máx. FATORES LIMITANTES DO VO Acredita-se que o débito cardíaco máximo poderia ser um dos principais fatores limitantes do VO,máx2’. Por sua vez, os altos valores do débito cardíaco máximo observados em sujeitos treinados em relação aos sedentários da mesma idade são decorrentes do volume máximo de ejeção, pois a variação da frequência cardía ca é pequena nessas condiçõesl 25,27. Uma das prováveis causas dessas variações são as diferentes adaptações morfológicas no coração que induzem ao aumento da pré-carga5. Em um trabalho realizado por Wernstedt et al.54, foi observada uma relação das adaptações do volume e da espessura do ventrículo esquerdo com o VO,máx. Para atender a tal propósito, os autores avaliaram sujeitos do gênero masculino e feminino que realizavam treinamento predominantemente aeróbio, de força e grupo controle. Foi notado que os sujeitos do grupo de treina mento aeróbio do sexo masculino possuíam valores superiores de VO,máx e de volume do ventrículo esquerdo em relação aos demais grupos, especialmente quando corrigido pela massa corporal total. Possivelmente, o aumento do volu me do ventrículo esquerdo e a redução da resistência do pericárdio permitiríam uma maior contratil idade em períodos de aumento rápido do volume de eje- • ção, elevando, assim, a fração de ejeção55. Entre os demais fatores centrais citados anteriormente, tem-se apontado que a capacidade de difusão pulmonar é a menos relevante em sujeitos saudá veis quando se exercitam próximos do nível do mar25, pois, durante o esforço máximo, a saturação arterial de 02 mantém-se em torno de 95%51. Entretan to, em condições especiais, por exemplo, nas ascensões em montanhas com 3.000 m acima do nível do mar ou em atletas de elite com débito cardíaco máximo elevado, a difusão pulmonar parece aumentar sua participação na limitação do V02máxr>. Nesses casos, a pressão do oxigênio nos alvéolos e 2MÁX 80 Aptidão aeróbia a saturação desse gás na mioglobina poderíam limitar o VO,máx16. Tem-se demonstrado que indivíduos com um elevado volume expiratório forçado possuem uma menor redução na pressão arterial de oxigênio durante o exer cício máximo, corroborando a relação entre a pressão alveolar e a difusão do oxigênio na membrana alvéolo-capilar16. Além disso, acredita-se que, durante o exercício intenso com a participação de uma grande massa muscular, a saturação de oxigênio possa atingir valores abaixo de 95%16. Supostamente, isso reduziría a oferta de oxigênio para a mitocôndria, reduzindo a disponibi lidade de ATP para os processos biológicos ativos. O redirecionamento do fluxo sanguíneo para os grupos musculares menos recrutados nos exercícios físicos exaustivos parece ser mais um fator central ca paz de limitar o VO,máx'. Tem-se demonstrado que a dessaturação de oxigênio nos músculos intercostais é similar ao observado nos músculos dos membros inferiores durante o exercício intenso16. Harms et al.10sugeriram que durante o exercício físico ocorra um aumento do fluxo sanguíneo de até 25% do valor total para os músculos em exercício quando há uma facilitação artificial do trabalho dos músculos respiratórios. Ao realizar experimentos em condições de hiperó- xia, Richardson et al.25 evidenciaram ainda a importância do transporte de O, e do seu gradiente de difusão entre o sangue e a célula, como fatores que limitam o VO,máx. Esse redirecionamento é regulado por múltiplos mecanismos, mas a atividade metabólicadesses tecidos apresenta-se como fator preponderante9. Do ponto de vista operacional, ao considerar que os parâmetros fisiológicos mensu rados durante a exaustão dependem da capacidade de os indivíduos tolerarem o desconforto promovido pela fadiga, a caracterização do VO,máx torna-se fun damental para o diagnóstico da potência aeróbia máxima. Diversas variáveis fisiológicas são utilizadas para a identificação do VO,máx, porém, a estabi lização do consumo do oxigênio ao final do teste progressivo até a exaustão é a principal. Essa estabilização do VO, foi inicialmente descrita por Taylor, Buskirk e HenscheP2, quando atribuíram a existência de um comportamen to denominado “platô” (Figura 6.1), que se referia a um aumento inferior a 2,1 cc kg"1 min1 na captação de O, com o incremento da intensidade. Esses autores observaram que o VO, não aumentava nos estágios finais dos testes er- gométricos, sugerindo que a potência aeróbia máxima havia sido atingida. Para que haja um aumento da velocidade de corrida mediante a um peque no aumento no VO,, ao final do teste, é necessário que uma outra fonte ener gética aumente a sua participação. Acredita-se que, nos estágios finais de teste Consumo máximo de oxigênio 81 Figura 6.1 Resposta do consumo de oxigênio em função da intensidade de esforço durante um teste progressivo máximo. incrementai, a demanda metabólica imposta pelo exercício físico não pode ser plenamente atendida pelo metabolismo aeróbio1. Assim, a energia química necessária para a realização do trabalho mecânico nos últimos estágios seria complementada pelo metabolismo anaeróbio, o que resultaria em um menor aumento no V02 ao final do teste. De fato, achados recentes demonstraram uma forte associação entre a capacidade anaeróbia e a existência do platô8. Dessa forma, a maioria das evidências transcorre sobre os processos extra- celulares que induzem a anaerobiose, resultando no surgimento do platô do VO,máx. No entanto, geralmente em testes ergoespirométricos realizados em esteira, cerca de 50% dos sujeitos apresentam o platô15. Isso evidencia a possi bilidade de outros eventos estarem associados ao término do exercício, além do aumento da participação do sistema glicolítico. Wagner55 sugeriu que esse comportamento possa ser decorrente da baixa capacidade de tolerar o descon forto promovido pela fadiga, principalmente quando a população analisada é formada por sujeitos sedentários. Além disso, em alguns casos, os avaliados podem interromper o teste progressivo no momento que atingem a menor 82 Aptidõo oeróbia intensidade correspondente ao V02máx (Figura 6.1)1. Por consequência, a uti lização isolada do platô na identificação do VO,máx poderia ser insuficiente. Assim, o VCXmáx tem sido determinado quando dois ou mais dos seguintes critérios são obtidos: um aumento no VO, menor que 2,1 mLkg^miiv1 entre dois estágios consecutivos, a razão de troca respiratória maior que 1,1, a con centração de lactato sanguíneo pico igual ou maior que 8,0 mmoM'1, uma di ferença de ± 10 bpm da frequência cardíaca predita pela idade (220-idade)12. Não obstante, Noakes1"19 tem criticado veementemente as possíveis limi tações metodológicas dos estudos que associaram a presença do platô com a diminuição da oferta de O, aos músculos exercitados. Por exemplo, na estru turação do trabalho anteriormente citado de Taylor, Buskirk e HenscheP2, os autores utilizaram análise de gases durante o período de um minuto após um minuto e 45 segundos do início do exercício. De fato, alguns estudos têm demonstrado que o tempo de análise do VO, interfere na identifica ção do platô15. Além disso, Noakes18 sugeriu que dois fatores intramuscu- lares fossem responsáveis pela interrupção em todos os eventos de corrida, sendo esses: a atividade enzimática da miosina ATPase e a sensibilidade do cálcio no músculo esquelético. Esses eventos fisiológicos intramusculares, que induzem a fadiga independentemente da oferta de O,, são comumente denominados como “limitação periférica”. De maneira alternativa, Noakes et al.20 sugeriram que a PVE fosse o melhor preditor do desempenho em provas predominantemente aeróbias. Esses autores observaram que o nível de correlação entre a PVE e o tempo necessário para percorrerem diferentes distâncias (10 a 90 km) era mais forte (r = -0,88 e -0,94) que o nível de associa ção observado entre VO,máx e o desempenho nessas diferentes distâncias de corrida (r = -0,55 e -0,86). De fato, estudos publicados posteriormente corro boraram a hipótese de que a PVE seja um excelente preditor do desempenho na corrida em diferentes distâncias, incluindo sujeitos fisicamente ativos50, corredores recreacionaisH e triatletas moderadamente treinados28. Os fatores que determinam a PVE não são completamente conhecidos, mas parece que além da potência aeróbia, a economia de corrida (EC), as características neu- romusculares e o metabolismo anaeróbio são os principais21-28. Por exemplo, Paavolainen, Nummela e Rusko21 observaram que a PVE estava associada com o desempenho no maximal anaerobic running test e com a concentração de lactato de pico mensurada nesse teste. Além disso, outros estudos demons traram que a melhora do PVE, após um programa de treinamento de força, Consumo máximo de oxigênio 83 foi acompanhada pela melhora da força dinâmica máxima (1RM) e da EC29. Dessa maneira, atletas energeticamente mais econômicos e capazes de gerar maior potência muscular poderíam atingir velocidades mais elevadas ao final do teste progressivo até a exaustão. Todavia, McLaughlin et al.15 chamaram a atenção para o fato de a PVE ser uma variável mecânica e, portanto, as va riáveis fisiológicas e neuromusculares determinantes da PVE poderiam ser as mesmas do desempenho nas provas predominantemente aeróbias, incluindo o VO,máx. Isso poderia indicar uma relação casual e não de casualidade en tre a PVE e o desempenho. De qualquer maneira, independentemente dos processos que induzem ao surgimento do fenômeno do platô, que caracteriza o VO,máx, o maior valor do VO, obtido em testes máximos até a exaustão (VO,pico) também pode ser utilizado como marcador da potência aeróbia6. Essa conclusão foi obtida com base em um experimento realizado com 71 sujeitos que foram avaliados com protocolo do tipo “rampa" aplicado em cicloergômetro. Ao analisar a regressão linear do VO, com a carga, os resultados gerados pelos sujeitos que apresentaram o comportamento característico do VO,pico não foi estatistica mente diferente daqueles que apresentaram o platô característico do VO,máx (a diferença média foi de apenas 0,017 ± 0,15 L min'1). Todavia, é importan te notar que o estado de treinamento dos atletas participantes dos estudos citados anteriormente possuía uma considerável variação. Por exemplo, na investigação conduzida por Ramsbottom, Nute e Williams22, o coeficiente de variação do tempo necessário para completar o teste contrarrelógio de 5 km foi 11,5% e 13% para os homens e as mulheres, respectivamente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diversos achados científicos descritos na literatura indicaram que o VO,máx parece ser um bom preditor do desempenho em grupos heterogêneos em ter mos de rendimento atlético. Contudo, ele talvez não seja o melhor preditor do rendimento atlético em grupos com atletas homogêneos em termos de performance. Por exemplo, Conley e KrahenbuhP observaram que, em um grupo de corredores de alto nível com coeficiente de variação de apenas 3,4% na competição de 10 km, o nível de associação entre VO,máx e o desempe nho nessa prova não era estatisticamente significante. Portanto, parece que a capacidade do VO,máx em predizer o desempenho nos esportes predomi nantemente aeróbios é limitada. Dessa forma, outras variáveis submáximas 84 Aptidõo aeróbia relacionadas à aptidão aeróbia poderíam ser fundamentais para o sucesso dos atletas fundistas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Basset DR Jr. Howlev ET. Maximal oxygen uptake: “classical” versus “contempo-rarv" vieu-points. Med Sei Sports Exerc. 1997;29( 5): 591 -603. 2. Basset DR Jr, Howlev ET. Limiting factors for maximum oxygen uptake and de- terminants of endurance performance. Med Sei Sports Exerc. 2000;32(l):70-84. 3. 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