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FACULDADE BAIANA DE DIREITO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO ANA BEATRIZ DE SOUZA SOARES FICHAMENTO DEDICADO À MATÉRIA DE DIREITO PENAL I TURMA 2A 2021.2 SALVADOR, BA FACULDADE BAIANA DE DIREITO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO FICHAMENTO DEDICADO À MATÉRIA DE DIREITO PENAL I TURMA 2A Realização do fichamento “Penas Perdidas”, apresentado à Faculdade Baiana de Direito e Gestão, como parte da atividade valorativa, da matéria Direito Penal I. Orientadora: Mayana Sales 2021.2 SALVADOR, BA QUAL ABOLIÇÃO? • Opinião Pública A opinião pública, que crê em um ‘homem comum”, que na verdade é uma abstração usada para legitimar o sistema existente. Na verdade, isso só oculta o peso da máquina de punir e excluir, herdado há séculos. Quando a sociedade compreender do que se trata, uma grande consciência popular reivindicará sua abolição. • Os bons e os maus A mídia perpetua uma ideia dualista simplista. Apesar de outros agentes quebrarem esse discursos preto e branco, as imagens maniqueístas ainda se impõem no campo da justiça penal. É preciso desmistificar as imagens fixas e as ideias preconcebidas que excluem qualquer reflexão e que fortalecem os sistemas opressivos. • A máquina As diferentes percepções sobre a justiça. Quem se sente protegido pelas leis, e quem é injustiçado ao cair em armadilhas? As nossas leis pretendem proteger todos dos males? Ou só alguns? • Burocracia Não há a garantia de uma ação conjunta e harmônica entre órgãos e serviços que intervém no funcionamento da máquina penal. Com toda a burocracia, a tendência maior não é para ações que se dirijam a objetivos externos, mas sim internos. “O processo de burocratização e profissionalização, que transpassa o sistema penal, faz dele um mecanismo sem alma.” • Um filme espantoso “Mecanização e frieza”. Há uma sucessão de papéis, não sendo ninguém responsável. Nenhum dos agentes do sistema tem alguma relação humana com o acusado. Independente de crenças pessoais, as pessoas ali são pagas para punir. Tudo funciona como uma linha de montagem, e, de cada pessoas, um prisioneiro (o produto final desse sistema). • Olhando de dentro Pensamos abstratamente sobre a prisão. É difícil interiorizar verdadeiramente o encarceramento. Privação de liberdade, outras privações, degradação do corpo, perda de qualquer possibilidade, distanciamento de tudo (e todos) que amou e conheceu. O condenado entra num contexto de relações deformadas, mais que a privação de liberdade, ficam as sequelas eternas. A prisão é um mal social específico, “ela é um sofrimento estéril”. O encarceramento é um “sofrimento não criativo, desprovido de sentido”. Ninguém é beneficiado pelo encarceramento, nem a “sociedade”. “Na prisão, os homens são despersonalizados e dessocializados”. • Relatividade “Ele fez por merecer” mesmo? Na realidade, deve-se considerar a relatividade. Fatos puníveis podiam variar no tempo e no espaço. “O conceito de crime não é operacional”. Um delito pode deixar de ser delito e um delinquente pode ser visto como um homem normal e honesto, dependendo do tempo e do espaço, entre outras variáveis. “É a lei que diz onde está o crime; é a lei que cria o ‘criminoso’”. • Cifra Negra “Cifra negra de delinquência”: volume considerável de fatos legalmente puníveis que o sistema menospreza ou ignora. O sistema penal funciona num ritmo bem reduzido. “Prova tangível do absurdo de um sistema por natureza estranho à vida das pessoas.” A perspectiva abolicionista não se apresenta como uma utopia, mas sim como uma necessidade lógica e realista, exigência de equidade. • O culpado necessário “O sistema penal fabrica culpados”. Há o inevitável favorecimento de falsidades e simulações não elogiáveis. • Filha da Escolástica Moral maniqueísta herdada pela Escolástica. Dicotomia inocente-culpado do sistema penal. “Justiça herdada da teologia do juízo final”. • O estigma “Interiorização pela pessoa atingida do etiquetamento legal e social”. • Exclusão “Para escapar da rejeição, subscreviam a rejeição de outros”. • Impasse Espírito de vingança. Exclusão definitiva? • Repercussões O sistema penal endurece o condenado, fazendo dele uma nova vítima. • Acidentes? Situações geralmente transcendem um culpado. Por que não ter uma visão aberta? • Poucos remanescentes Por que justamente estes casos são tratados pelo sistema penal? • Pré-seleção Papel da mídia é equivocado. Deviam cobrir rotineiramente, mostrando as injustiças e as camadas mais injustiçadas da sociedade. Sistema penal cria e reforça as desigualdades. • Deixar pra lá “Você realmente aceita estar comprometido com as atividades concretas que levam a tais situações?” • Distâncias siderais Distâncias siderais entre os encarcerados, os políticos, os juristas, os policiais, e nós. • O jogo de propostas discordantes Cada um com sua estreita visão profissionalizada. Sem decisão conjunta, mesmas práticas, trabalho compartimentalizado. • A reinterpretação Cada um emprega uma interpretação... Até a interpretação entre diferentes vítimas pode variar em relação à ação e ao agressor. • Os filtros Filtros que estereotipam o indivíduo. • O foco Espelho deformante que reduz o acontecimento a um momento, ao ato. Essa forma de focalizar o acontecimento é absurda. • À margem do assunto O sistema penal congela o problema, não havendo caráter evolutivo até o dia do julgamento. • Estereótipos Intervenção estereotipada age negativamente sob a “vítima” e o “delinquente”. A ação em abstrato não considera as singularidades. • Ficções “A justiça penal estatal opera fora da realidade, condenando seres concretos a enormes sofrimentos por razões impessoais e fictícias”. • A pena legítima Medidas coercitivas e responsabilidades individuais podem e devem existir, mas num sistema diferente. • O impacto Estigmatizante. Perda de dignidade. Não só os presos, como as família são afetadas. • Noutro lugar e de outra forma “Se, portanto, abolíssemos o sistema penal, a maior parte dos que hoje participam do seu funcionamento continuaria tendo suas atividades asseguradas, com um status moral mais elevado. Vamos, pois, deter este cavalo desembestado”. • Libertação “Abolir o sistema penal significa dar vida às comunidades, às instituições e aos homens”. QUAL LIBERDADE? • Solidariedade Derrubar todo o sistema vai muito além de reformas, é assumir as quatro formas de solidariedade (com os condenados, com as pessoas vitimizadas, com toda uma sociedade que precisa se libertar de falsas crenças em relação ao tema e com as pessoas que asseguram o funcionamento do sistema penal). • Círculo vicioso Precisamos sair do lugar e questionar mesmo a noção de crime e a noção de autor. • Vocabulário Primeiramente, é preciso mudar a linguagem. • Uma outra lógica Descriminalizar é libertar. • Cinco estudantes Chamar um fato de “crime” o reduz ao estilo punitivo da linha sócio-estatal. Devíamos falar em “situações problemáticas”, já que se pode pensar em uma gama de soluções. • O que é gravidade? “Quando se consegue sair do bloqueio imposto por esta noção de gravidade, torna- se possível aplicar outros modelos muito mais satisfatórios de reação social”. • Chaves de leitura “A lei deveria se abster de impor uma linha de reação uniforme”. Um mesmo acontecimento pode ser visto de diferentes formas. • Boa saúde Vivendo com as tensões e com as diferenças – tornar suportáveis os conflitos latentes, descriminalizar, sabendo que não conseguiremos evitar todas as situações dolorosas. • Uma melhor escolha Problemas podem ser resolvidos sem a intervenção desnecessária do sistema penal. • Estruturas paralelas Um novo enfoque permite soluções humanas. • E a violência? “Esperar que o sistema penal acabe com ‘a criminalidade’é esperar em vão”. • Estatísticas “Evitando generalizar o que é apenas local, certamente conseguiríamos expulsar um pouco deste sentimento deletério de insegurança que intoxica as pessoas”. • Liberdade e segurança Como o juiz vai proteger “a ordem” e o cidadão? Difícil que o juiz consiga assumir esse duplo papel. “Um juiz que tivesse a missão de garantir as liberdades individuais num sistema não-penal poderia dar a esse papel renovado toda uma outra dimensão”. • O lado das vítimas: autodefesa “No sistema penal, a vítima não tem nenhum espaço e nem poderia tê-lo”. Reforço no sistema penal não traria mais proteção às vítimas ou às pessoas que se sentem ameaçadas de alguma forma. Milícias e justiças privadas agem por conta própria como autodefesa punitiva mesmo com o sistema penal em funcionamento. • Vítimas e processo penal Deve-se evitar o sentimento de vingança generalizada e durável. Como a mídia geralmente vai atrás das vítimas e com o acontecimento ainda “quente”, isso é quase inerente. Em boa parte dos casos, “a vítima não requeria que se procedesse à persecução penal”, bastando uma espécie de fase de conciliação para casos mais graves e, em geral, restando a não necessidade de um procedimento penal (segundo pesquisas do Instituto Vera de New York). • As vítimas: suas expectativas “As pessoas em dificuldade e na dor têm, antes de tudo, necessidade de alguém que as escute. Quando pessoas compreensivas e amigáveis lhes permitem se expressar com calma e melhor se situar em seu conflito, um pouco de seu problema já está resolvido”. • A dimensão simbólica da pena A Antropologia e a História levam ao entendimento de que não é a duração nem o horror do sofrimento infligido que harmonizam aqueles que podem vir a clamar por vingança, mas sim a dimensão simbólica da pena (o sentido de reprovação social do fato que lhe é atribuído). • E os colarinhos brancos? “Para mim, o princípio da abolição necessária do sistema penal, da máquina penal tal como a defino, não deve sofrer qualquer exceção”. • Um olhar através da história Regulamento na França antiga que se preocupava de levar as pessoas a evitar as instâncias oficiais. • Leviatã e sociedade “A sociedade não deve ser confundida com o Estado e as instituições estatais”. • Os caminhos da concórdia “O antropólogo Michel Alliot, certa vez, explicava que nossa noção de “crime” é, na verdade, desconhecida das civilizações primitivas, dando dois exemplos, um retirado das sociedades africanas e outro dos esquimós de Quebec”. • Companheirismo Não estar sozinho e procurar a solução com alguém já é uma grande libertação, tornando o problema mais sustentável. • Em volta de uma churrasqueira Deve-se resolver problemas através da busca em compreender o que se passa com as pessoas. • Retribuição e sistema cível “As desvantagens do enfoque cível são evidentemente menores que os pesados inconvenientes do sistema penal”. Exemplo das situações do divórcio. • A organização de encontros “cara – a – cara” Mecanismo de apaziguamento de conflitos. Outro tipo de procedimento seria a arbitragem com um conciliador. Ainda, a possibilidade de community boards (grande número de conciliadores diferentes). • Proximidade Proximidade psicológica com as pessoas envolvidas em problemas seria dar aos órgãos o serviço de uma tarefa humana. • O crime impossível Pesquisa sistemática e não apenas ocasional, reorganização social e legal (jurídica) e reformas estruturais que partam da organização da coletividade são pontos necessários. • Desdramatizar “Na medida em que uma intervenção institucional for desejada por determinados interessados, e dando-se tal intervenção num marco jurídico, é fundamental evitar o efeito dramático próprio do sistema penal. É desejável que os governos de sociedades que se pretendam pluralistas tomem consciência deste aspecto da descriminalização”. • Por um tecido vivo “Criminólogos e governantes falam em prevenir a delinquência, através do combate às origens econômicas, urbanísticas, culturais e sociais de determinados atos negativos. É interessante notar que, assim, admitem implicitamente que os atos hoje definidos como crimes e delitos – e, pelos quais, em nossas prisões, indivíduos determinados são aviltados e estigmatizados por toda a vida – constituem, na realidade, fatos imputáveis a causas complexas e coletivas”. • Renovação A renovação do sistema não eliminaria os problemas, mas sim as soluções estereotipadas por ele impostas. “O desaparecimento do sistema punitivo estatal abrirá, num convívio mais sadio e mais dinâmico, os caminhos de uma nova justiça”.
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