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AUTISMO E ADEQUAÇÃO CURRICULAR 2


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Curso 
Autismo e 
adequação curricular 
com Mara Rúbia Rodrigues Martins 
 
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Sumário 
 
Módulo 1 – Introdução .............................................................................. 3 
Módulo 2 – Currículo e adequação curricular ........................................... 4 
Aula 1. O processo de inclusão na escola regular ...................................... 4 
Aula 2. O processo de inclusão na escola regular .................................... 11 
Aula 3. Documentos importantes sobre inclusão e acesso ao currículo . 17 
Aula 4. Níveis de adequação curricular I ................................................. 23 
Aula 5. Níveis de adequação curricular II ................................................ 29 
Aula 6. Níveis de adequação curricular III ............................................... 35 
Aula 7. Outras dimensões da adequação curricular I .............................. 42 
Aula 8. Outras dimensões da adequação curricular II ............................. 49 
 
 
 
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Módulo 1 – Introdução 
 
Vídeo chamada 
 
Ementa: O curso trata da importância da adequação curricular como instrumento pedagógico 
para oferecer condições necessárias à aprendizagem do estudante com autismo, partindo de 
uma avaliação inicial, a fim de orientar a elaboração de adequações necessárias a este fim e 
ainda, contribuir com o professor e a equipe pedagógica para o planejamento de um projeto 
individual de adequação curricular de acordo com as necessidades e potencialidades do 
estudante com autismo, observando a legislação vigente e os projetos políticos-pedagógicos das 
instituições escolares. O participante aprenderá a elaborar adequações curriculares para 
estudantes com autismo. 
 
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Módulo 2 – Currículo e adequação curricular I 
 
 
 
Aula 1. O processo de inclusão na escola regular 
 
 
Olá! Sou Mara Rúbia Rodrigues Martins, pedagoga, psicopedagoga clínica institucional, 
mestre em psicologia e doutoranda em ciências da informação na Universidade Fernando 
Pessoa, em Porto, Portugal. Trabalhei durante mais de 30 anos na Secretaria de Educação do 
Distrito Federal e, nos últimos 16 anos, como professora de estudantes com diagnóstico de 
transtorno global do desenvolvimento e transtorno do espectro autista. Espero contribuir e 
compartilhar com vocês um pouco do nosso conhecimento acerca do autismo e da adequação 
curricular. Sejam todos e todas muito bem-vindos. 
 
Este é o nosso primeiro módulo. O objetivo geral é entender o que é o currículo e o que 
são as adequações curriculares, identificar quais são os níveis de adequação curricular e 
conhecer as adequações curriculares nos seus elementos curriculares. 
 
Veremos como a escola regular deverá realizar o seu processo de inclusão, como deverá 
incluir os seus estudantes dentro do transtorno do espectro autista. 
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Sabemos que o transtorno se apresenta em vários níveis. É importante que o professor 
conheça bem o seu estudante, saiba quais são as suas capacidades, as suas potencialidades, as 
suas dificuldades e como ele aprende. Isso é muito importante, porque estamos em um espaço 
escolar, e o professor precisa se preocupar com a escolarização desse estudante. Muitas vezes 
eu ouço dizer que nós precisamos trabalhar a socialização, que o estudante vem para se 
socializar. Eu sempre digo que a escola é um grande e importante espaço de socialização para 
esse estudante e para qualquer estudante, mas a socialização é uma consequência. O espaço 
escolar existe para a escolarização. O professor tem que ter esse foco, essa preocupação em 
ensinar o seu estudante, que se socializará e consequentemente conviverá com seus iguais, com 
seus pares. O professor precisará também fazer essa intermediação, porque sabemos que um 
dos problemas, uma das dificuldades desses estudantes é, justamente, na interação social, na 
comunicação, que são aspectos importantes para a socialização. 
 
Então, o que o professor precisa saber? Ele precisa conhecer o seu estudante, conhecer 
as suas potencialidades, as suas capacidades, as suas dificuldades, as suas habilidades, o seu 
foco de interesse, que é muito comum nos estudantes com o transtorno do espectro autista. 
Muitos deles têm um foco de interesse e é a partir dele que o professor começará a estabelecer 
um vínculo com esse estudante. A escola deve atender aos estudantes com deficiência, com 
altas habilidades, com superdotação e com transtornos globais do desenvolvimento, como 
preconiza nossa legislação. 
O foco do nosso curso são os transtornos globais do desenvolvimento. Muitas vezes 
falarei em autismo e autistas, então vocês devem entender que eu estou falando de estudantes 
com transtorno do espectro autista (TEA) ou transtorno global do desenvolvimento (TGD). 
Estamos falando do mesmo sujeito; às vezes para facilitar a fala utilizamos estes termos: autismo 
ou autistas. 
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É importante que a escola tenha uma rede de profissionais envolvidos nesse processo, 
não cabe apenas ao professor o papel da escolarização do seu estudante. Precisamos dos 
coordenadores, dos supervisores, dos professores da sala de recursos ou do atendimento 
educacional especializado, de toda essa rede de suporte. Toda a rede de apoio é importante 
para que, de fato, tenhamos uma inclusão não somente de direito. 
 
É um grande desafio para as escolas a diversidade de estudantes, e aqui não estamos 
falando apenas dos estudantes com transtorno do espectro autista, mas da diversidade de uma 
maneira geral. Temos, além dos alunos com as diversas deficiências e com altas habilidades cujo 
atendimento a lei preconiza, aqueles que têm o que chamamos de transtornos funcionais: 
transtorno do deficit de atenção/hiperatividade, dislexia, transtorno opositor desafiante, 
transtorno do processamento auditivo central, etc. O professor e a escola precisam estar 
convictos em atender a essa diversidade de estudantes; para isso, é necessário conhecimento, 
é necessário estudo. Não é possível fazermos isso de uma maneira incidental, baseada apenas 
na prática. Por exemplo, tenho mais de trinta anos de trabalho na educação, mas não posso 
fazer as coisas simplesmente como eu acho que são. Preciso estudar, ver as características do 
estudante autista, não somente na literatura. Também tenho que ver o meu sujeito, o meu 
aluno real, aquele aluno com quem realmente irei trabalhar, porque, muitas vezes, o estudante 
da literatura não é o mesmo da vida real. 
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Hoje temos uma diversidade de técnicas, de recursos materiais e audiovisuais. 
Atualmente, estou trabalhando com tecnologia, e o que nós temos para trabalhar com os nossos 
estudantes é muito grande, mas não basta apenas termos o recurso, é preciso saber usá-lo, é 
preciso adequar. A escola inclusiva tem vários paradigmas, inclusive na educação especial 
preconizada pelo Ministério da Educação (MEC), que, em uma publicação de 1998, diz que toda 
a comunidade escolar precisa elaborar o projeto político-pedagógico da escola, não apenas a 
direção, os coordenadores e professores. Aí temos a contribuição de outros profissionais e das 
famílias também para a elaboração desse projeto político-pedagógico, que será o norteador de 
toda a estrutura, de tudo que será trabalhado na escola e que dará as diretrizes principais que 
orientarão os trabalhos realizados nessa escola, nesse estabelecimento de ensino. 
Dentro do projeto político-pedagógico, temos a estruturação do currículo escolar. Por 
exemplo, uma rede pública tem o seu currículo como um todo, mas cabe a cada estabelecimento 
organizar esse currículo de uma forma que atenda o perfil da sua comunidade escolar. Mesmo 
que tenhamos um currículo comum a uma rede, precisamos ter outro currículo, baseado nesse 
currículo comum, para atender aos estudantes de acordo com as suas necessidades dentro da 
escola. Assim, já temos uma adaptação um pouco maior e, dentro dela, temos o que chamamosde adaptação curricular na sala de aula, que cabe ao professor fazer. Então, além da adequação 
em nível de estabelecimento de ensino, também temos a adequação curricular em sala de aula 
e a adequação curricular de cada estudante que apresenta necessidades especiais. Veremos isso 
mais adiante. 
Precisamos estar atentos às metodologias que usaremos e a como nós avaliaremos; 
porque, se tenho esse trabalho de realizar uma adequação curricular específica para o meu 
estudante, se utilizo recursos apropriados para esse estudante, tenho que avaliá-lo de acordo 
com o trabalho que desenvolvi com ele. A avaliação não pode ser algo estanque, diferente da 
minha prática diária. 
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O professor precisa conhecer o seu estudante, conhecer em termos de características 
pontuais dentro do transtorno do espectro autista; por isso precisamos ler e estudar. Temos 
indicações de leitura nas referências, inclusive nos módulos, e também tem a apostila com 
textos complementares. Há várias referências para que vocês estudem e pesquisem. 
O bom professor é aquele que tem o conhecimento, mas que também tem a prática. 
São dois processos que se constituem ao mesmo tempo. Não podemos falar assim: "Ah, eu vou 
ali me preparar e volto". Ser professor não é isso, temos que nos preparar e atuar ao mesmo 
tempo. 
 
O professor precisa conhecer esse estudante, suas características, suas potencialidades, 
suas habilidades intelectuais, sociais e motoras, seu processamento sensorial. Nos deteremos 
um pouco sobre o processamento sensorial, porque é um ponto que chama muito a atenção 
dentro do transtorno do espectro autista. Muitos dos nossos estudantes têm problemas 
sensoriais, hipersensibilidade ou hipossensibilidade. Às vezes, a demanda sensorial é muito 
grande para eles. Muitas vezes, eles têm até crises comportamentais por conta desses input de 
que falamos, de estímulos sensoriais demasiados, que demandam muita resposta. Às vezes, a 
luminosidade da sala de aula é muito forte, ou temos essas lâmpadas que ficam piscando. Se 
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um aluno tem problemas com isso, por exemplo, pode ser feita uma adequação curricular para 
esse estudante. Podemos pensar que ele não consegue fazer uma tarefa porque é difícil. 
Contudo, se observarmos o estudante piscar, podemos chegar à conclusão que deve ser a 
lâmpada e podemos permitir que o estudante use um boné. Isso é adequação curricular. É muito 
simples, não precisa de um material muito rebuscado, não tem a ver diretamente com o 
conteúdo programático, porque confundimos muito a adequação curricular e pensamos que 
tem relação somente com as questões pedagógicas, os conteúdos, mas não é somente isso. O 
uso do boné ou da viseira é uma adequação curricular e eu preciso registrá-la, porque o 
professor que me substituirá no ano seguinte, a pessoa que trabalhará com esse estudante 
depois de mim precisará saber que ele necessita dessa viseira, pois a iluminação provoca uma 
sensação sensorial muito forte para ele. Poderíamos também apagar a luz, deslocar o estudante 
para perto da janela ou da porta, melhorar a luminosidade; todavia, isso nem sempre é possível 
nas escolas. Às vezes precisamos da lâmpada, e o professor precisa estar atento a essa 
necessidade. 
O professor precisa também conhecer a modalidade de aprendizagem do seu estudante, 
ou seja, saber como ele aprende. Precisamos saber isso, e a literatura nos mostra que a maioria 
das pessoas que estão no espectro tem facilidade com a entrada visual. O professor, diante 
desse conhecimento, procurará dar entradas visuais, começará as suas aulas e trabalhará, no 
seu dia a dia, com imagens. 
 
O professor precisa conversar também com as famílias, com os cuidadores desse 
estudante para conhecê-lo no seu ambiente doméstico. Precisa saber também quais são as 
expectativas da família em relação à aprendizagem e à vida de seu filho na escola. É importante 
que o professor saiba como esse estudante é em casa, como ele se comunica, como essa família 
dá esse apoio, se ele tem um sistema de comunicação, se ele toma medicamento, se ele tem 
reações a esse medicamento ̶ porque, às vezes, há uma reação, e o estudante pode ficar 
sonolento durante parte do dia; precisamos saber, pois podemos estar com ele nessa parte do 
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dia. É muito importante essa interação com a família. Eu preciso saber como ele se locomove, 
como é seu sono, se ele tem alergia, entre outras coisas. Hoje temos diversos tipos de alergias 
alimentares. É importante o professor saber se o seu estudante tem alergia, se tem restrição, se 
faz alguma dieta, e quais as expectativas da família em relação à escola. Isso tudo é muito 
importante. 
 
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Aula 2. O processo de inclusão na escola regular 
 
No vídeo anterior, vimos o que um professor precisa saber sobre o seu estudante autista 
para poder incluí-lo. Agora, veremos o que é o currículo, o que são as adequações curriculares, 
quais os elementos básicos para a elaboração das adequações curriculares e o que a LDB nos diz 
acerca das adequações curriculares. 
 
A LDB nos diz que o currículo é construído a partir do projeto pedagógico da escola e 
viabiliza sua operacionalização, orientando as atividades educativas, as formas de executá-las, 
definindo suas finalidades. Assim, ele pode ser visto como um guia sugerido sobre o que, quando 
e como ensinar; sobre o que, como e quando avaliar. Em outras palavras, deve ser elaborado 
um projeto político-pedagógico da escola, e o professor e a escola, enfim, a rede escolar precisa 
estar preocupada com o que ensinará, como ensinará, quando ensinará e com que recursos 
ensinará. 
 
A rede escolar organizará esse currículo de forma que possa atender aos estudantes. Os 
elementos essenciais para fazermos uma adequação curricular são: os objetivos e os conteúdos; 
as metodologias, os recursos e as atividades; a organização dessas adequações; os espaços 
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físicos que serão utilizados (sala de aula, pátio, sala de leitura, etc); o tempo necessário para o 
aluno; o trabalho individualizado ou em agrupamentos. 
 
É muito importante que o professor tenha toda essa estrutura para poder elaborar uma 
boa adequação curricular, e ele precisa estar atento para buscar benefícios para todos os 
estudantes. Como vimos no vídeo anterior, temos uma diversidade na escola. Não basta o 
professor ficar preocupado apenas com aquele seu aluno com TGD/TEA, ele precisa também ver 
os outros estudantes, as necessidades dos estudantes em geral. Ele precisa atender a todos os 
estudantes. 
 
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De acordo com os PCNs ̶ os parâmetros curriculares nacionais ̶ , adequações 
curriculares são estratégias e critérios de situação docente, admitindo decisões que 
oportunizam adequar a ação educativa escolar às maneiras, às peculiaridades de aprendizagem 
dos alunos, considerando que o processo de ensino/aprendizagem pressupõe atender a 
diversidade das necessidades desses estudantes. É disto que estamos falando: a escola precisa 
se preocupar com essa diversidade, e os PCNs trazem isso como um documento orientador que 
proporcionará aos professores, à escola, uma diretriz de organização do seu currículo de acordo 
com as necessidades dos seus estudantes. 
 
Temos aí a diversidade. Trazemos a imagem acima para que vejamos que todos somos 
diferentes, não somente nossos alunos. Há algo importante: precisamos nos preocupar, 
também, com o professor. O professor não é o único responsável pela escolarização desses 
estudantes e ele também tem as suas peculiaridades e individualidades, que se misturam com 
as dos estudantes e das pessoas que trabalham nessa escola. A diversidade perpassa todo o 
ambiente escolar, toda a escolarização. 
 
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Segundo o MEC, as adequações curriculares constituem possibilidades educacionais 
diante das dificuldades de aprendizagem dos estudantes de uma forma geral, e o currículo 
precisa ser adaptado para tornar-se apropriadoa essas peculiaridades e individualidades do 
estudante. O currículo é dinâmico, não pode ser estático; ele, a todo instante, está mudando, 
porque as pessoas que estão entrando e saindo, circulando na escola, estão em movimento. 
Hoje temos uma turma; amanhã a turma já é diferente, não somente em termos de quantidades, 
mas os alunos já aprenderam outras coisas, já são pessoas diferentes. Também há essa dinâmica 
de entrar mais alunos, de sair e chegar mais estudantes com deficiência, que, hoje, é uma 
realidade da qual não se pode mais fugir. Há pouco tempo, há uns 10 anos, tínhamos colegas 
que diziam que não queriam classe com estudante especial. Hoje não podemos escolher, não 
devemos escolher, pois todas as pessoas são diferentes e todos merecem educação – educação 
de qualidade. O currículo precisa ser ampliado, se necessário, ou reduzido, se necessário; cabe 
à equipe pedagógica da escola decidir. Ressaltamos mais uma vez o que temos falado: não cabe 
apenas ao professor, mas também à equipe pedagógica, ao projeto político-pedagógico dessa 
instituição prever um currículo flexível e que se adapte às necessidades dos estudantes. 
 
 
Mais uma vez, uma imagem de diversidade. Esperamos que fique gravada essa imagem 
na cabeça de vocês: peixinhos coloridos no mar. Somos peixinhos coloridos na escola, somos 
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pessoas diferentes. Precisamos ter um olhar individualizado para fazer essa adequação 
curricular, precisamos ver esse indivíduo e significá-lo como um aluno que realmente precisa da 
escolarização, daquele conteúdo, daquele currículo adequado, adaptado para às necessidades 
dele. 
 
Temos a Constituição Federal que é a lei do nosso país, mas a nossa lei magna na 
educação é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996. No seu artigo 58, a LDB 
estabelece que a educação especial é uma modalidade de educação oferecida, 
preferencialmente, na rede regular de ensino. Precisamos primar por essa orientação da lei, 
porque é na rede regular que se dão as vivências, as experiências e na qual nos constituímos 
como seres humanos. 
Muitas vezes os nossos estudantes são “do lar”, ou seja, vêm de casa, e a escola será o 
primeiro ambiente grande e diverso onde encontrarão pessoas que, às vezes, irão acolhê-los, 
outras vezes, nem tanto. Eles terão convívio com seus pares, com pessoas com idades próximas, 
que têm mais ou menos os mesmos interesses. Esse convívio será facilitado no ambiente escolar. 
 
A LDB, no artigo 59, estabelece que os educandos com necessidades especiais precisam 
ter adequados os currículos, os métodos, as técnicas, os recursos e a organização do espaço 
16 
 
escolar. A lei já preconiza a adequação. Precisamos lembrar que a lei é de 1996; hoje usamos 
outra terminologia: “pessoas com deficiências”, “pessoas com TGD”, “estudantes com TGD”. 
 
 
 
 
 
 
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Aula 3. Documentos importantes sobre inclusão e acesso ao currículo 
 
No vídeo anterior, vimos o que é currículo, o que são adequações curriculares e os 
elementos básicos para a elaboração de adequações curriculares. 
 
Neste vídeo, veremos a Declaração de Salamanca, o programa de Educação para Todos 
e as adequações curriculares de acesso ao currículo. 
 
Na década de 1980, iniciou-se mundialmente o movimento de educação inclusiva. O 
mundo todo estava preocupado com a inclusão escolar, e o Brasil, signatário desse documento 
com os outros países, declara que fará também a inclusão escolar, dando prioridade para a 
educação inclusiva. Esses documentos estabelecem os direitos das pessoas com deficiência à 
educação – a uma educação inclusiva e de qualidade. O programa de Educação para Todos quer 
garantir que todos os cidadãos tenham acesso à escolaridade, à produção e difusão do 
conhecimento e, principalmente, à sua utilização nas vivências de cidadania. 
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O cumprimento desses objetivos requer a existência de sistemas educacionais 
planejados e organizados para receber todos os estudantes, e, novamente, enfatizamos a 
importância da escola. É nessa visão de atender a todos que precisamos fazer diversas 
adequações. Não precisamos ter medo da adequação, pois ela é, simplesmente, um modo de 
organizar o nosso trabalho pedagógico para que ele atinja a diversidade dos nossos estudantes. 
Como vimos, o nosso foco aqui são os estudantes com transtornos globais do 
desenvolvimento e com transtorno do espectro autista, dentre os quais há uma grande 
diversidade, por ser um transtorno que varia desde autismo leve até severo. Alguns estudantes 
têm mais dificuldades de interação social e de comunicação do que movimentos estereotipados 
ou dificuldades da imaginação, por exemplo, e vice-versa. Há estudantes que têm muitas 
dificuldades em todos esses aspectos, por isso, mais uma vez, ressaltamos a importância de 
estudar, pois na literatura encontramos características dessa diversidade. Porém, o que não 
encontramos na literatura é o fazer pedagógico específico para aquele estudante! Aí está a 
importância da união entre o professor, a escola e a equipe pedagógica para estudar a melhor 
forma de atender a essas peculiaridades, à diversidade que encontramos entre os nossos 
estudantes. Às vezes, o aluno tem mais facilidade para uma determinada atividade e mais 
dificuldade para outra, mais facilidade para um conteúdo do que para outro. O professor precisa 
estar atento, ele precisa perceber qual é a modalidade de aprendizagem do seu estudante, qual 
é a forma como ele aprende. Podemos identificar o foco de interesse desse estudante e trazê-
lo para a nossa realidade, para o nosso dia-a-dia, para o nosso “fazer” pedagógico. Fazemos isso 
por dois motivos principais: primeiro, para estabelecer vínculo, que é algo importante quando 
se trata de estudantes autistas; e, depois, porque, partindo do interesse deles, é mais fácil 
ganhá-los, conquistá-los, para entrar com outros conteúdos, com outras atividades, para 
ampliar as questões pedagógicas de conteúdo programático. Enfim, podemos partir do foco de 
interesse do estudante. 
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A Declaração de Salamanca traz algumas referências de princípios, de políticas e práticas 
que devemos trabalhar nas nossas escolas. Nessas recomendações, é importante destacar que 
o Brasil fez um compromisso de estabelecer a inclusão escolar em todos os níveis. Hoje, no 
Brasil, temos a educação especial, a educação inclusiva em todas as modalidades, desde a 
educação precoce até a universidade. Daí a importância da capacitação, do estudo, da 
socialização do conhecimento. 
 
A escola não está mais amarrada. Geralmente ela era muito presa nos primeiros anos 
de escolarização, ficava um fardo muito pesado para aqueles professores dos primeiros níveis. 
E as dificuldades iam passando para as séries finais do ensino fundamental, ensino médio, 
universidade. Daí a importância da capacitação, do estudo, da socialização do conhecimento. 
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O que são os paradigmas de suportes? Na área da educação, isso implica a providência 
e a implementação dos ajustes que se fizerem necessários para atender as pessoas com 
deficiência, TGD, altas habilidades e superdotação. É o que preconiza a lei para que se vá além 
do simples acesso à educação. Não é mais possível ficarmos preocupados apenas com a questão 
do acesso à matrícula. É preciso que esse estudante frequente, seja assíduo e participe da sua 
educação. 
Hoje, com a educação considerada de uma maneira mais ampla, de uma maneira global, 
precisamos pensar na questão do acesso, da entrada desse estudante e na questão da sua 
permanência e da sua participação efetiva na sua educação. Ele não pode ser um mero 
espectador, às vezes recebendo somente aquilo que não consegue entender, sem conseguir 
fazer o processo realmente educativo. A escola, como um todo, precisa se preocupar com a 
aprendizagem dos estudantes; afinal de contas, estamos em um ambiente escolar e precisamos 
nos preocupar com a escolarização,não podemos esquecê-la. 
 
As adaptações curriculares de acesso ao currículo são aquelas que possibilitam ao aluno 
ter condições de acessar esse currículo, de ter contato com esse currículo. Para isso, são 
necessários ajustes graduais que se promovem por meio do planejamento ̶ aquele 
planejamento do qual nós já falamos nos outros vídeos ̶ , um planejamento em nível de 
instituição escolar, através do projeto político-pedagógico, e pedagógico em si, que é aquele 
21 
 
que o professor realizará em sala de aula com seu estudante. Portanto, é um currículo que dará 
acesso às demandas educacionais de cada estudante. Em algumas dessas circunstâncias, 
constata-se que o estudante poderá ser beneficiado por conteúdos curriculares de caráter mais 
funcional e prático, e isso é essencial. Então, é possível que eu precise enxugar um pouco mais 
o currículo do meu estudante com TGD/TEA, pois preciso ver o que é funcional para ele, ou seja, 
o que servirá para a vida prática dele, para o dia a dia dele. Assim, enquanto professores, 
estamos preocupados em adequar o conteúdo. Precisamos ver o que é importante para o nosso 
estudante, o que ele precisa saber para realmente usar esses conhecimentos na vida dele, na 
prática dele, e, às vezes, precisamos nos preocupar com atividades que chamamos “de vida 
autônoma”, “de vida social”, ou “da vida diária”. Também cabe à escola se preocupar com isso, 
porque o nosso estudante precisa de autonomia, precisa do fazer e escolher por si mesmo, e 
podemos lhe dar essas condições na medida em que o colocamos na vida, porque é na vida que 
aprendemos isso. 
 
Essa questão prática é muito importante: muitas vezes, os professores não se dão conta 
de que isso também é currículo. Às vezes, ficamos preocupados com pontos bem acadêmicos ̶
português, matemática, decorar isso, fazer aquilo ̶ e esquecemos que temos ali uma pessoa, 
um sujeito que está no mundo e que precisa conviver com esse mundo da maneira mais 
autônoma que conseguir. E isso a escola também pode ensinar para que ele tenha um 
crescimento pessoal e social na diversidade. 
A questão, por exemplo, do foco de interesse é muito interessante. Contarei uma 
situação para vocês em que eu usei uma metodologia “à la Mara”, quando eu ainda não tinha 
me aprofundado nos estudos e já usei a questão do foco de interesse. Eu era alfabetizadora e 
tinha um estudante autista, com muita estereotipia, com ecolalia. Ele se sentava no fundo da 
sala, de costas para mim e ficava repetindo frases, enquanto eu dava aula. Eu trabalhava mais 
com método fônico: eu fazia o som da letra, mostrava a letra, a palavra, com que letra começa, 
com que letra termina, quantas vezes abrimos a boca, etc. E o menino ficava lá atrás, de costas 
22 
 
para mim, balançando as mãozinhas, se balançando, fazendo o sonzinho dele, e eu, preocupada, 
porque ele não estava prestando atenção, ele não estava ouvindo o que eu estava falando e 
continuava estereotipando. Passou mais ou menos um mês e eu não sabia o que fazer. De vez 
em quando, a ecolalia dele era: “Consul 8kg, Brastemp 10kg”, ele repetia essa coisa da máquina 
de lavar. O foco de interesse desse meu estudante era máquina de lavar. Então tive uma ideia: 
“Trarei a máquina de lavar para a sala de aula!”. Ao invés de trazer as fichas com as palavras que 
eu tinha selecionado, certo dia cheguei, anunciei para a turma que iríamos aprender palavras e 
peguei a ficha “Brastemp”. Quando eu falei essa palavra, o menino se virou e, pela primeira vez, 
fez contato visual comigo. Naquele momento ele me viu como pessoa. Fazia mais de um mês 
que eu dava aula para ele, e foi a partir daí que começamos a estabelecer esse vínculo, a partir 
daí ele começou a prestar atenção naquilo que eu falava. 
Nessa época, tínhamos, lá em Brasília, o que nós chamamos de aula de reforço. Então 
combinei com a mãe desse aluno que ela o traria para essas aulas, no turno contrário. Na minha 
sala de aula regular, eu continuava seguindo com o conteúdo, mas, na aula de reforço, a 
máquina de lavar veio junto. Há uma coisa muito importante: não fique na máquina de lavar, 
professor. A máquina de lavar estava ali, “Brastemp”, “Electrolux”... “Electrolux” é a palavra 
mais alfabetizadora que eu conheço! Quantas letras, quantas sílabas, quantos sons... A partir 
daí comecei a trabalhar várias outras noções: “O que nós colocamos na máquina de lavar? 
Camisa, vestido, meia, cueca”; “que cor é o vestido, a meia?”; “quantas meias tem um par?”; 
“quantas pessoas moram na minha casa? Quantos pares de meia eu preciso?”; isso é 
matemática! “A máquina de lavar está onde? Na casa do fulano, em Brasília, no Distrito Federal, 
na região centro-oeste”. Observem a quantidade do que podemos trabalhar partindo do foco 
de interesse do estudante. Minha dica para você, professor, é a seguinte: observe qual é o foco 
de interesse, aquilo de que o seu estudante gosta; comece a usar esse foco de interesse para 
estabelecer o vínculo inicial, para começar a trabalhar o conteúdo, mas amplie; não fique 
somente no foco de interesse, porque, senão, você está limitando o seu estudante e você precisa 
abrir os horizontes, precisa ampliar os conteúdos para ele. 
 
 
23 
 
Aula 4. Níveis de adequação curricular I 
 
No vídeo anterior, vimos a Declaração de Salamanca e o programa de Educação para 
Todos e as adequações de acesso ao currículo. 
 
Neste vídeo, vamos ver quais e quantos são os níveis de adequação curricular. 
As adequações curriculares ocorrem em três níveis. O primeiro é o nível do projeto 
político-pedagógico (PPP), do qual nós já falamos um pouco nos vídeos anteriores. Esse é o nível 
em que a escola precisa se preocupar em adaptar o currículo para atender aos seus estudantes. 
Ou seja, no projeto político-pedagógico, já devem constar as adequações curriculares que a 
escola deve fazer em termos de sua organização para receber todos os estudantes. 
 
O segundo nível são as adequações curriculares relacionadas ao currículo da classe; é 
uma maneira de o professor e a equipe pedagógica verem o funcionamento daquela sala de aula 
e considerarem todos os estudantes que ali se encontram, não só aqueles com TGD, mas 
também aqueles com outras deficiências: altas habilidades, superdotação, e, até mesmo, como 
nós vimos, aqueles com os transtornos funcionais, que não são amparados pela legislação, 
porém que têm suas diferenças. Além disso, temos aqueles alunos que, muitas vezes, não têm 
nenhuma deficiência, mas têm uma dificuldade de aprendizagem. Assim, as adaptações 
relacionadas ao currículo precisam ter essa amplitude, esse olhar focado na diversidade 
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existente naquela classe particular, que é diversa das outras classes. Temos várias classes na 
escola, e cada uma tem a sua diversidade de estudantes. 
 
O terceiro nível são as adequações individualizadas, e é aí que está o foco principal deste 
curso, embora não possamos esquecer os outros níveis também. As adequações individualizadas 
são aquelas realizadas para o estudante; são questões que precisam ser muito bem observadas: 
o que ensinar, quando ensinar, como ensinar para aquele estudante especificamente, entre 
outras coisas. O professor precisa se preocupar em focar também as adequações necessárias 
para cada estudante. 
 
As adaptações em nível do PPP, como já vimos, são as adequações que a escola precisa 
fazer para organizar o seu PPP. 
 
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É preciso levar em consideração toda a diversidade de estudantes que existem naquele 
estabelecimento de ensino. Quando falamos em escola, queremos dizer toda a equipe, e não 
apenas a equipe dentro da escola, mas também os outros profissionais parceiros que dão 
suporte, além das famílias. Podemos formar um grupo, um colegiado para elaborar esse PPP, 
com a cara daquela escola. Esse nível exige que se tenha medidas de ajuste do currículo formal, 
aquele fornecido pela Secretaria de Educação. Esse PPP, naturalmente,tem que estabelecer a 
forma como a escola se organizará para atender efetivamente esses estudantes e quais os 
serviços de apoio de que ela necessita, por exemplo, psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta 
ocupacional, mais professores, e outros. 
 
Hoje temos na Lei Berenice Piana e a questão do profissional de apoio especializado que 
dará suporte para esse estudante. A escola precisa estabelecer isso no seu PPP: ela deve 
propiciar condições estruturais para que a escola como um todo funcione bem e, também, 
considerar as condições específicas para cada estudante. Assim, esse estudante terá direito à 
um atendimento educacional especializado, à uma sala de recursos, pois ele precisa desse 
profissional de apoio especializado. 
 
Todos esses aspectos precisam constar no PPP, para que a escola consiga, também, 
obter recursos em termos de materiais, pois há estudantes que precisam de recursos 
específicos, de tecnologia assistiva. Para que isso se concretize, a escola precisa se flexibilizar, e 
26 
 
flexibilização é uma coisa muito difícil em educação. Especialmente aqui no Brasil, somos muito 
engessados, temos medo de ousar, medo de ampliar, medo de flexibilizar, mas precisamos fazer 
isso, e a lei nos ampara. Quando trabalhamos corretamente, o nosso estudante começa a se 
desenvolver, a aprender, a ser incluído de uma forma natural, pois o currículo foi flexibilizado 
de acordo com a necessidade dele. O contexto escolar precisa ser um ambiente de discussões 
no sentido de conhecer a realidade educacional daquela instituição, as reais necessidades, do 
que seus alunos realmente precisam e não podemos esquecer a avaliação e a promoção desses 
estudantes. 
 
A escola precisa favorecer e estimular a diversificação de técnicas, de procedimentos e 
de estratégias, mas não conseguimos fazer isso sem estudar. Precisamos pesquisar, estudar para 
descobrir o que existe em termos de técnicas, o que está disponível no mundo. É muito 
interessante o que descobrimos, porém, muitas vezes, descobrimos que há instrumentos 
disponíveis no mundo, mas não na minha escola porque o custo é alto e não temos condições 
de bancar. Temos que considerar o que podemos adaptar dessas técnicas e procedimentos que 
existem. Hoje, tratando-se de TEA, temos muito material, pois no mundo inteiro se está 
estudando o autismo. 
 
 Hoje temos recursos, materiais, estratégias, técnicas, metodologias, mas elas não 
servirão de nada se as usarmos “puras”, porque essas técnicas, procedimentos e teorias não 
falam especificamente do nosso aluno, que é único. Precisamos tomar esse conhecimento e 
27 
 
adequá-lo de acordo com as nossas condições, com as condições do nosso estudante. Temos 
que adaptar esse conhecimento, mas precisamos, antes de mais nada, buscá-lo. As avaliações 
devem ser realizadas no contexto. Ou seja, se, durante todo o tempo, adaptamos a nossa 
prática, precisamos nos lembrar de que a nossa avaliação não pode ser igual à de todo mundo, 
ela também precisa ser adaptada. 
 
A escola precisa assumir esse papel de avaliação diagnóstica. Uma avaliação diagnóstica 
deve ser realizada no início do ano letivo, no início do processo, para que se conheça os 
estudantes, não somente em termos de conteúdos acadêmicos, mas também, conforme já 
falamos, em termos das suas habilidades e competências. A escola precisa se organizar de forma 
que realmente conheça a sua clientela e precisa elaborar documentos informativos e 
normativos. Essa não pode ser uma organização informal, "de corredor". Não, precisamos de 
documentos que organizem. Em um módulo posterior, traremos uma organização documental 
da adequação curricular. 
 
Todas as decisões, todo o planejamento, devem ser feitos em conjunto, como equipe 
pedagógica. Ressaltamos mais uma vez: você que é diretor, que é coordenador, que tem outra 
função na escola, não coloque somente sobre os ombros do professor a responsabilidade das 
adequações. Essa responsabilidade cabe a toda equipe envolvida, e não só aos profissionais, 
como já falamos; precisamos também da colaboração da família e, na medida do possível, 
28 
 
reduzir ao máximo as transferências das responsabilidades para outras instâncias. Primeiro, 
tentamos resolver dentro da escola, tentamos ver se lá dentro temos os recursos necessários. 
Mas, se for preciso, abrimos as portas da escola e vamos em busca do apoio, da ajuda que 
precisamos para o nosso fazer pedagógico. 
E agora vocês acompanharão a fábula da ratoeira: 
 
Fábula de Esopo 
Um ratinho, olhando pelo buraco da parede de sua toca, viu o fazendeiro e sua esposa abrindo 
um pacote. Pensou logo no tipo de comida que poderia haver ali. Ao descobrir que era uma ratoeira, ficou 
aterrorizado. Correu ao pátio da fazenda para advertir todos. 
Foi ao galinheiro e falou: 
— Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa! 
A galinha disse: 
— Desculpe-me, senhor rato, eu entendo que isso seja um grande problema para o senhor, mas 
não me prejudica em nada, não me incomoda. — E a galinha continuou a ciscar. 
O rato foi até o chiqueiro e disse ao porco: 
— Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira! 
O porco respondeu: 
— Desculpe-me, senhor rato, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser rezar. Ratoeira é 
para pegar ratos. Fique tranquilo, pois o senhor será lembrado nas minhas preces. — E o porco continuou 
a chafurdar na lama de seu chiqueiro. 
O rato dirigiu-se então à vaca. E ela lhe disse: 
— O que, senhor rato? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não! — E ali a vaca 
ficou a balançar o rabo e ruminar. 
Então, o rato voltou para sua toca, cabisbaixo e abatido, para encarar a ratoeira do fazendeiro. 
Eis que naquela noite ouviu-se um barulho, como o de uma ratoeira pegando uma vítima. A 
mulher do fazendeiro correu para ver o que havia pegado. No escuro, ela não viu que a ratoeira havia 
pegado a cauda de uma cobra venenosa. E a cobra peçonhenta picou a mulher. O fazendeiro a levou 
imediatamente ao hospital. 
Ela foi medicada, mas voltou com febre. E todo mundo sabe que, para alimentar alguém com 
febre, nada melhor que uma canja de galinha. Assim, o fazendeiro pegou sua faca e foi providenciar o 
ingrediente principal: galinha. 
Como a doença da mulher piorava, os amigos, parentes e vizinhos vieram visitá-la. Para alimentá-
los, o fazendeiro matou o porco. 
Mas a pobre mulher não melhorou e acabou morrendo. Muita gente veio para o funeral. O 
fazendeiro então sacrificou a vaca para alimentar aquele povo todo. 
29 
 
Aula 5. Níveis de adequação curricular II 
 
No vídeo anterior, vimos as adequações no nível do PPP. 
 
Neste vídeo, veremos as adequações relativas ao currículo da classe, como o professor 
articulará esse currículo para a classe. As medidas desse nível são realizadas pelo professor. 
 
As adequações relacionadas ao currículo da classe cabem ao professor, porque o 
professor conhece a sua classe. O que ele tem que fazer: avaliar e fazer a avaliação diagnóstica. 
 
Ele verá quantos alunos tem, se eles têm diagnósticos, se não têm, como é o 
funcionamento deles. Os primeiros dias de aula são para o professor perceber essas 
peculiaridades dos estudantes, para ver como os alunos aprendem, se há adequações que ele 
pode fazer em nível de turma. Dessa forma, ele vai elaborar a programação para sua sala de 
aula. Ele focaliza o que fazer, como fazer, como organizar o tempo na sala de aula, quais são os 
30 
 
conteúdos, se terá horário para português, para matemática, etc. O professor vai estabelecer 
como serão coordenadas as atividades docentes, o fazer pedagógico na sala de aula, quais serão 
os horários em que haverá recreio, lanche, educação física, se será com outro professor, se será 
com ele, se será nesse espaço de sala de aula, se será no pátio da escola, se fará uma excursão 
com a turma. Portanto, todo esse planejamento em nível de sala de aula, em nível de 
funcionamento da classe, das aulas, paratoda a turma, cabe ao professor realizar. 
Os procedimentos dessa adequação devem constar na programação de aula do 
professor, ou seja, no plano de aula; não é concebível que o professor entre na sua sala de aula 
sem um planejamento. Precisamos realizar o planejamento diário, semanal, mensal, bimestral 
e anual. Falamos de planejamento de curto, médio e longo prazo, no começo do ano, fazendo 
aquela avaliação diagnóstica. Precisamos antecipar os nossos passos e ter em mente quais sãos 
os nossos objetivos, o que pretendemos alcançar; não podemos chegar na sala de aula sem 
objetivos pedagógicos para a turma. Temos que saber não apenas o conteúdo, mas também 
como passar esse conteúdo; temos que saber o que fazer para que esses estudantes aprendam 
aquilo que vamos trabalhar. 
 
 Antigamente tínhamos aula de didática, que era “como ensinar”. Não basta termos o 
conhecimento. Será que sabemos como passar esse conhecimento de uma forma que 
estudantes tão diversos consigam aprender? 
 
É essa a nossa função, e precisamos ter isso em mente para elaborar o nosso 
planejamento. Por exemplo, precisamos considerar as dificuldades de aprendizagem do nosso 
estudante. Os nossos estudantes com TGD/TEA, muitas vezes, não falam, não têm a oralidade. 
31 
 
Precisamos disponibilizar uma comunicação alternativa para que ele possa se comunicar, para 
que possa dizer o que quer e o que não quer, para que possa expressar o que está sentindo. 
O professor precisa estar atento a isso, e não pode mais pensar que isso não lhe diz 
respeito porque é professor de outra matéria e não tem nada a ver com inclusão. Podemos 
buscar ajuda. Hoje nós temos o que chamamos de atendimento educacional especializado, o 
AEE, ou a sala de recursos, que é o profissional que pode dar esse suporte, pode dar esse apoio, 
que pode, por exemplo, usar uma tecnologia assistiva para facilitar o processo de comunicação. 
Às vezes o estudante precisa de uma comunicação alternativa aumentativa, se ele se 
comunica minimamente, e eu preciso que ele tenha um repertório mais ampliado. Aí esse 
profissional poderá me ajudar. Se ele já tem atendimento com fonoaudiólogo, preciso procurar 
conhecer esse profissional, saber como é que trabalha, para poder fazer parecido na escola. 
O professor também precisa se preocupar com os agrupamentos que ele faz na sala de 
aula, pois devem estar de acordo os objetivos. Por isso ele tem que planejar, por exemplo, se o 
estudante vai sentar sozinho ou em grupo, se vai precisar de um colega para auxiliar. Se o aluno 
tem muito problema com inputs sensoriais auditivos, por exemplo, não pode trabalhar em um 
grupo muito grande, tem que ser um grupo reduzido; ou então, caso o nosso aluno não possa 
ficar na sala, ele precisa de um outro espaço. 
Esses agrupamentos serão diversificados, também em termos de localização no espaço; 
às vezes ocorrerão na sala de aula, no pátio, no parque, na sala de leitura, no laboratório de 
informática, depende do seu objetivo. 
O trabalho do professor na sala de aula e dos professores de apoio precisa se dar de 
forma cooperativa, interativa e bem definida, pois aí não teremos conflitos pessoais. Às vezes 
levamos as questões do trabalho para o lado pessoal, mas somos profissionais, estamos em um 
ambiente profissional, então temos que saber o que nos cabe fazer dentro da função que 
exercemos. 
Como professor da sala de recursos, preciso saber quais as funções do cargo que estou 
ocupando. Às vezes, ocupamos vários cargos, circulamos por vários ambientes. Por exemplo, eu 
já fui coordenadora, supervisora, diretora, vice-diretora; já ocupei vários cargos, e cada cargo 
que se ocupa tem funções determinadas. Precisamos saber o que podemos fazer dentro do 
nosso “quadrado” para não invadir o espaço do outro. Se eu sou professora, devo saber como 
uma professora deve agir, quais são suas atribuições. Se sou diretora, devo saber quais são as 
atribuições da diretora, e assim por diante. Em um ambiente escolar, muitas vezes, temos esses 
conflitos que beiram a discórdia; por isso temos que saber separar as coisas, precisamos definir 
bem os papéis. Muitas vezes, esses papéis são definidos no PPP da escola. 
32 
 
 
Como já falamos, a organização do espaço físico cabe ao professor, que definirá quais 
os recursos materiais que serão utilizados; por isso é preciso conhecê-los. Existem muitos 
recursos que não conhecemos. Uma dica é acessar o site do MEC - tecnologias assistivas1, e 
vocês verão a grande quantidade de materiais disponíveis para a sala de recursos, para o AEE, e 
que podemos usar na sala de aula. Além disso, temos a pesquisa na internet. Ali encontramos 
materiais que, às vezes, podemos confeccionar, que não precisamos ir longe para buscar, que 
não custam muito caro, mas que precisamos conhecer. 
 
Por exemplo, quanto ao mobiliário, pode ser necessário ter uma carteira diferente, uma 
porta maior do que a que temos; precisamos saber quais os mobiliários, quais os equipamentos, 
quais os materiais de que precisamos para atender o nosso estudante. 
 
 
1 http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=12681:portal-de-ajudas-tecnicas. 
33 
 
Veremos nos módulos mais adiante que a temporalidade é algo com que o professor 
precisa se preocupar. A organização do tempo é algo que precisa de planejamento. Quais são as 
aulas que o nosso aluno terá? Quanto tempo ele precisa para executar as atividades? Se o nosso 
estudante precisa de um tempo maior, e ele tem esse direito, a adequação curricular 
contemplará isso? O professor precisa verificar o nível de motivação e começar com coisas 
interessantes, coisas de que o estudante gosta, coisas da experiência, da vivência dele. O 
professor precisa trazer a vida do estudante para a sala de aula, também, para criar uma 
cumplicidade. Podemos deixar o nosso aluno se expressar da maneira como ele conseguir; as 
atividades podem ser realizadas de várias formas; o professor não precisa ficar amarrado, 
cristalizado, inflexível. 
 
Planejamento é assim mesmo: ele pode não dar certo, mas temos que insistir, planejar 
melhor, porque quem erra somos nós, que estamos planejando errado. Às vezes não fazemos 
nada do que tínhamos planejado; sim, planejamos errado, mas isso é absolutamente normal. O 
professor tem que ter a capacidade de planejar as suas atividades de acordo com os seus 
objetivos, de acordo com aquilo que deseja atingir. 
 
Ele precisa estar atento e diversificar as atividades. O bom professor é aquele que dá 
atividades fáceis, atividades médias e atividades, não difíceis, mas desafiadoras. Se a atividade 
for difícil, o nosso aluno com TGD/TEA desanima. Ele pode ter problemas de comportamento se 
a tarefa está muito difícil e se ele está muito cansado e não consegue realizá-la. O professor, 
34 
 
conhecendo esse estudante, mesclará atividades de maneira que ele possa, enfim, participar da 
melhor forma possível. 
 
 
Essas adaptações de classe visam tornar possível a participação desse estudante, não só 
no ambiente escolar, mas na vida dele: ele tem que levar o que aprende para a vida, para ser 
um sujeito autônomo. 
Para encerrar esse vídeo, trouxe para vocês Um aluno chamado Matheus. É um vídeo 
muito interessante, que mostra as angústias do professor ao receber o estudante autista. Vejam 
o que essa escola fez, e como o Matheus foi incluído nessa escola. Penso que é muito importante 
termos essa dimensão, porque todos nós somos humanos, todos temos medos e inseguranças, 
mas o desafio está aí. 
 
 
35 
 
Aula 6. Níveis de adequação curricular III 
 
No vídeo anterior, vimos as adequações em nível do PPP e as organizações de sala de 
aula, da classe. 
 
Agora veremos as adequações individualizadas, o “x” da questão: as adequações para o 
nosso estudante. Estas também são feitas pelo professor, e, como eu já disse em outro vídeo, oprimeiro passo é fazer uma avaliação diagnóstica: quem é esse estudante, quais as suas 
habilidades, as suas potencialidades, o seu foco de interesse, as suas dificuldades, as suas 
limitações e a modalidade de aprendizagem. Tudo isso é importante. 
 
Hoje, a maioria dos estudos nos mostram que a entrada, a modalidade de aprendizagem 
mais adequada para as pessoas dentro do TEA é a visual. Os nossos estudantes têm a facilidade 
de aprender visualizando, então, quais os recursos que o professor pode utilizar? Ele mesmo 
como modelo: “faça assim, faça como eu, olha, isso aqui se faz assim, desse jeito”. Você mostra 
para o seu estudante como tem que ser feito ou apresenta imagens. Você pode tirar fotografias 
dele executando aquela atividade. Hoje, temos muitos recursos na internet, podemos recuperar 
imagens, por exemplo. Veremos em um módulo mais adiante a importância de uma 
estruturação da rotina, da organização das atividades que esse estudante vai fazer para se 
colocar diante da aprendizagem. É muito importante também que o professor apresente o que 
ele vai trabalhar: “Eu sou a professora de matemática do segundo ano, e nós vamos trabalhar 
36 
 
hoje isso, isso e isso”, para mostrar ao estudante o que ele vai aprender, quais os objetivos, 
como se dará isso, para ele começar a entrar no conteúdo que desejamos passar para ele, como 
fazemos aqui: “olha, no próximo módulo, no próximo vídeo”. Isso vai preparando vocês de uma 
certa forma para receberem esse conteúdo. Na realidade, os nossos estudantes precisam ser 
preparados e a literatura nos mostra que a maioria, não todos, mas a maioria que está dentro 
do espectro precisa dessa antecipação, precisa do que nós chamamos de pistas visuais. Adiante 
veremos isso mais detalhadamente e, também, quais os fatores que interferem nesse processo 
e quais são as suas dificuldades. 
 
Às vezes, o estudante tem dificuldade de aprendizagem, mas é possível que ele apenas 
não domine um conteúdo anterior; então precisamos recuperar esse conteúdo para que ele 
possa seguir. Um outro ponto muito importante, como nós falamos, é que eles têm essa questão 
sensorial. Muitas vezes falamos demais ̶ a maioria dos professores fala muito ̶ e acontece que 
o processamento do estudante fica comprometido. Eles têm essa dificuldade de processar, se 
falamos muito, se damos muita entrada auditiva; eles não entendem, não conseguem executar 
as tarefas e nós ficamos cobrando deles. O resultado disso é crise, e, muitas vezes, dizemos que 
o aluno autista é muito difícil porque ele tem essas crises. Mas às vezes somos nós que 
provocamos a crise: não explicamos com antecedência e com detalhes o que era para ele fazer, 
e ele não entende. Dessa forma, ele não faz, não porque não sabe fazer, mas porque ele não 
entende o que deve fazer. 
Assim como falamos dos outros tipos de adequação, essa adequação individualizada não 
pode ser engessada. Ela pode, inclusive, ser alterada, porque não fazemos necessariamente a 
adequação para o ano todo. Sempre que for preciso voltar, “adaptaremos a adaptação”; 
organizaremos essa adaptação para que ela se encaixe nesse estudante como se fosse uma 
roupa. Não podemos pegar uma roupa GG e colocar em uma pessoa P. Assim é a adequação, 
não podemos pegar uma adequação e alargar de uma forma que o nosso estudante não possa 
dar conta. 
37 
 
Para o que serve a adequação curricular? Para o meu estudante conseguir alcançar o 
objetivo, pois se não tem objetivo, eu não preciso de adequação. A adequação é para que o meu 
estudante consiga atingir os objetivos que estabeleci para ele. A organização do trabalho precisa 
estar consoante com as necessidades do estudante e ela precisa ser uma adequação processual, 
ou seja, deve acontecer ao longo do ano letivo. Alguns aspectos precisam ser previamente 
considerados para fazermos as adequações em qualquer nível, então, veremos agora a real 
necessidade da adequação. 
 
Esse estudante precisa mesmo de uma adequação? Precisa. Em que nível? Em um nível 
bem amplo. Em detalhes? Não, ele precisa de pequenas coisas, lembrando o exemplo do boné 
do qual falamos anteriormente. Às vezes, é simplesmente de um boné que ele precisa. Isso é 
fácil, é algo pequeno, mas precisa constar da adequação curricular, porque a adequação 
curricular é um direito dele. O que fazemos pode ser algo tão simples que não damos 
importância, mas precisamos escrevê-lo para respaldar o nosso trabalho. É um documento 
importante, que pode ser necessário se alguém precisar me substituir; ou se ele for de outra 
professora no ano que vem; ou se em casa ele tem esse mesmo comportamento, o problema 
estará resolvido com o boné também. Ou seja, precisamos escrever, registrar tudo que 
realizamos como adequação curricular. 
Também precisamos avaliar o nível de competência curricular. Então, o que ele já sabe 
desse determinado currículo, desse conteúdo que eu vou ensinar? O que ele precisa saber? 
Porque, no currículo geral, nosso estudante precisa de muitas coisas e ele pode não ter 
condições de chegar lá. São muitos passos que ele vai ter que dar para poder chegar naquele 
objetivo, nesse ano letivo, nesse semestre, no tempo que temos. Se ele não conseguir chegar, o 
que temos que pensar? O que ele poderá aprender? Onde é que ele poderá chegar? Precisamos 
definir isso e graduar, e reformular essa adequação sempre que necessário. Não ficaremos 
engessados ou presos naquilo que escrevemos no começo do ano, mas precisamos sempre nos 
reportar àquilo. Outro ponto importante é que, quando formos fazer o nosso planejamento, 
temos que colocar o que foi planejado na adequação para que aquele estudante não seja um 
38 
 
aluno isolado dentro do planejamento da turma. Podemos fazer a adequação para ele, mas 
pensando nele dentro da turma, dentro da nossa sala de aula. Ele não é um aluno só nosso, do 
professor; ele é um aluno da instituição, é um aluno “do mundo”. 
 
Há a questão de que em alguns lugares ainda temos as classes especiais. Assim, 
precisamos realizar adequações curriculares para essas classes especiais, para as instituições 
especializadas. A tarefa de inclusão não deve caber apenas ao ensino comum, como eu falei no 
primeiro vídeo: nós precisamos incluir todo mundo. A legislação pede que seja em classe 
comum, mas, em alguns casos e algumas regiões, ainda é necessário que existam classes 
especiais ou instituições filantrópicas, de apoio, de suporte. Até mesmo nessas instituições, 
nessas classes, nós precisamos de adequações curriculares. Apenas como informação: no 
Distrito Federal, onde eu trabalho, nós temos classes especiais, chamadas de classes especiais 
de TGD/TEA, onde temos apenas alunos com TGD/TEA, e nós fazemos o plano pedagógico 
individual, que é uma adequação baseada em uma escala Portage de desenvolvimento. Fazemos 
a avaliação dos estudantes e organizamos o currículo desse estudante de acordo com os 
resultados, mas, para isso, o professor também precisa ser especializado, precisa trabalhar. 
 
O professor tem que adequar a sua sala às necessidades dos seus estudantes. Voltando 
aos alunos com TGD/TEA, precisamos de pistas visuais, assim como materiais concretos; 
39 
 
precisamos trazer para a sala de aula, sempre que possível, materiais de apoio, o que chamamos 
de cola, uma colinha; ele precisará usar uma calculadora, por exemplo, porque ainda não sabe 
de cabeça. Esses materiais servem de apoio. Antigamente ̶ hoje não vejo mais tanto nas salas 
de aula ̶, por exemplo, os professores faziam cartazes, principalmente com regras ortográficas, 
que ficavam fixados nas paredes da sala. Às vezes o nosso estudante precisa de modelos de 
atividades; é interessante oferecer um modelo: você faz um exemplo para ele seguir depois. 
 
Outra coisa com o que o professor precisa se preocupar é a qualidade ao invés da 
quantidade. Nossa formação dava muito incentivo para quantidade; precisamos nos preocuparcom a qualidade. Às vezes supervisiono ou dou auxílio em alguma escola, e eles chegam com 
aqueles portfólios lindos, maravilhosos, com uma resma de papel que o menino fez. Quando 
você conhece o menino, você sabe que ele não fez nada daquilo ou que ele fez com muita ajuda. 
A qualidade da atividade, aprender a fazer, vale muito mais a pena. Eu uso muito vídeo: gosto 
de filmar o aluno fazendo, o passo a passo, para as famílias realmente verem que ele fez. E se 
ele precisar de ajuda, darei ajuda, mas vamos saber que teve ajuda e em que medida ela foi 
necessária. 
É preciso haver diversificação na maneira de ensinar, não se pode ensinar sempre do 
mesmo jeito, falando e falando. É preciso usar imagens: a questão sensorial, vivencial é muito 
importante. Tenho que diversificar o máximo, tenho que dar atividades visuais, auditivas, 
sensoriais. Há alunos que tem facilidade de aprender com resumos, marca textos. Às vezes, nós 
apenas damos uma marcada de texto ou colocamos imagens esquemáticas, e o aluno consegue 
visualizar e aprender. 
O uso de tecnologias assistivas2. Os conteúdos devem partir sempre das habilidades e 
do saber que o estudante já tem e, também, dos seus interesses. O professor tem que ser 
perspicaz nesse sentido, tem que saber de onde vai começar. Para isso, ele precisa conhecer 
 
2 http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=12681:portal-de-ajudas-tecnicas 
40 
 
minimamente o estudante, fazer uma avaliação diagnóstica, uma avaliação inicial e usar todos 
os recursos que ele conhece. E o que ele não conhece, deve buscar conhecer. Em todas as 
profissões hoje, mas principalmente na de professor, não se pode parar de estudar, de 
pesquisar. É preciso ir em busca do conhecimento, porque a função do professor é saber quais 
são os objetivos, as estratégias, as atividades e os recursos necessários de acordo com a 
avaliação que ele vai fazer dos estudantes. 
 
A política de educação especial, na perspectiva da educação inclusiva, preconiza que os 
sistemas de ensino devem organizar condições de acesso aos espaços, aos recursos pedagógicos 
e à comunicação que favoreçam a promoção da aprendizagem, a valorização das diferenças e 
as formas de atender às necessidades de todos os alunos, ou seja, isso resume o que falamos 
até aqui. 
 
Precisamos dar as condições para que esse estudante, efetivamente, não só tenha 
acesso, ou seja, não só entre na escola, mas permaneça e atue sobre a sua aprendizagem, que 
ele seja um sujeito ativo de sua aprendizagem e que realmente cumpra o seu papel de 
escolarização, que vai além da socialização - essa é a importância da escola. 
41 
 
 
 
 
 
 
42 
 
Aula 7. Outras dimensões da adequação curricular I 
 
Vimos que as adequações curriculares se dão em três níveis: no PPP, no nível da classe 
e no nível individualizado. Além da classificação das adequações curriculares por nível, temos as 
adequações de acesso ao currículo e as adequações nos elementos curriculares. 
 
Neste vídeo, veremos as primeiras: as adequações de acesso ao currículo. 
As adequações de acesso são um conjunto de elementos físicos e materiais; é aquilo que 
o professor precisa fazer para organizar o espaço físico – para que o seu estudante tenha acesso 
à sua sala de aula, ao seu conteúdo – e os recursos materiais necessários para aquele estudante. 
Muitas vezes precisamos adequar esses recursos materiais, além dos recursos pessoais do 
professor. 
 
43 
 
 
O professor é o instrumento de ligação entre o conhecimento e esse estudante. Ele 
precisa de recursos tanto como pessoa quanto como professor. Por exemplo, quais conteúdos 
ele precisa dominar? O que o professor precisa saber do conteúdo que precisará passar para o 
seu estudante? 
O professor também precisa se preparar: voltamos à importância da capacitação, do 
estudo, da busca de conhecimento para além da sua disciplina, para além dos conteúdos que 
ele vai ministrar. Ele precisa conhecer também as fases de desenvolvimento. Por exemplo, se 
ele tem um estudante dentro do espectro, ele precisa conhecer as características básicas dessa 
condição. E precisa conhecer os recursos, as técnicas, os materiais existentes, pois se não for 
assim, como é que ele vai lançar mão daquilo que não conhece? 
O professor precisa se preparar para trabalhar com esses estudantes. Há uma coisa 
muito triste: às vezes queremos nos preparar, para depois atuar; mas isso não existe. 
Preparamo-nos e atuamos ao mesmo tempo. E mais triste ainda: jamais estaremos preparados, 
porque a vida é uma eterna preparação. Não nos preparamos para a vida; vivemos a vida. Não 
nos preparamos para ser aquele professor totalmente pronto para atuar, porque a diversidade, 
o dia a dia, o ambiente e o cotidiano escolar são movimentados, a nossa vida é movimentada. 
Às vezes somos inseguros, achamos que sabemos tão pouco. Sim, é verdade, mas podemos 
conhecer mais. E precisamos começar, pois é começando que vamos ter a medida do que 
realmente precisamos alcançar para transformar a vida dessas pessoas, desses estudantes, no 
sentido amplo da palavra, porque o professor marca a vida das pessoas, dos estudantes. Como 
vimos, muitas vezes, nossos alunos dentro do transtorno devem ser preparados para a vida, não 
apenas para o conteúdo pedagógico. O professor precisa saber quais os recursos e materiais que 
facilitarão essa trajetória, o que inclui a questão da comunicação alternativa, pois uma das 
dificuldades dos nossos estudantes é a comunicação. 
44 
 
 
O professor, para dar acesso ao currículo, precisa criar as condições para que o 
estudante realmente seja inserido e permaneça na escola, porque, caso contrário, ele desiste e 
vai embora. É por isso que temos muita evasão escolar. Hoje, o Brasil tem muitas condições de 
acesso, comparado com anos anteriores; os brasileiros têm muito mais acesso à educação, mas 
a permanência ainda é uma pedra no sapato. Damos acesso, mas os estudantes não conseguem 
ficar, porque a escola não está dando conta deles. A maioria das pessoas dizem que os 
estudantes não dão conta da escola, mas é justamente o contrário: é a escola que tem que dar 
contas deles. 
Neste curso, estamos dando algumas dicas para você, professor, que faz parte da equipe 
escolar, pois não queremos falar somente para o professor, queremos falar para toda a equipe. 
Vocês devem estar persuadidos por essa vontade de fazer a diferença, de fazer com que seus 
estudantes não somente tenham acesso, mas também permaneçam e participem do seu 
processo educacional, pois permanecer e ficar parado não adianta. O estudante precisa 
participar e, como partícipe, precisa das adequações, senão sua inclusão será somente 
burocrática, será uma falácia. Estar inserido no ambiente não é inclusão, não significa que se 
está incluído nesse ambiente, pois estar incluído significa participar. A diferença está aí: cabe ao 
professor proporcionar os melhores níveis de comunicação e de interação, que são duas das 
grandes dificuldades das pessoas que estão dentro do transtorno. O professor precisa estar 
atento e conhecer as questões de comunicação e de interação para poder intervir e, realmente, 
fazer com que esse estudante participe, se integre e se comunique com seus pares, com a 
sociedade. 
45 
 
 
Outras medidas de acesso que podem ser necessárias são a adequação do mobiliário ̶ 
se o meu estudante tiver essa demanda, sobretudo fisicamente ̶, e a aquisição de equipamentos 
e recursos. Nesse caso, o professor fará o pedido de compra para a instituição e, para isso, 
precisa apresentar objetivos pedagógicos: “É muito importante que o aluno tenha esses 
materiais, esses recursos, porque meus objetivos pedagógicos são esses e com esses materiais 
o meu aluno será capaz de aprender; seu desenvolvimento está condicionado a esses recursos”. 
Cada escola, cada instituição, tem a suamaneira de realizar essas aquisições. 
Sobre a adaptação de materiais, já vimos que nossos estudantes precisam de pistas 
visuais, de materiais concretos para que eles possam se direcionar, e o professor precisa 
proporcionar isso também. Uma dica muito importante: não é preciso ir a outro planeta e nem 
gastar milhões; existem materiais muitos simples. Em outros cursos vocês verão materiais muito 
simples, que podemos produzir com sucata, para serem usados na sala de aula. 
Também já tocamos na questão de ter um sistema de comunicação alternativa. Como 
essa é uma outra dificuldade de nossos estudantes, é necessário conhecer programas e técnicas 
que facilitem a comunicação de nossos estudantes. 
 
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Agrupamento dos estudantes: dependendo do meu objetivo, do conteúdo que vou 
trabalhar, colocarei meu estudante sozinho, em dupla, em trio, na sala de aula, fora da sala de 
aula, em outra sala. Vou organizar os agrupamentos de acordo com os meus objetivos e de 
acordo com as necessidades dos meus alunos. 
Além disso, o professor deverá proporcionar o ambiente mais favorável possível para a 
aprendizagem. Por que digo “o mais favorável possível”? Porque sabemos quais são as 
condições das escolas brasileiras, e de nada serve ficar imaginando uma escola ideal que não 
existe. Portanto, dentro das condições que cada professor tem na sua escola, ele deve pensar 
em como pode adaptar esse ambiente da melhor forma possível para que seu aluno aprenda, 
para que o convívio seja bom. Devemos pensar nas questões da higiene, do espaço, da 
luminosidade, do barulho, entre outros. Temos o exemplo de Temple Grandin. Para quem quiser 
pesquisar, ela fala de sua hipersensibilidade auditiva. Uma das adequações que fizeram para ela 
foi a mudança de sala de aula. Ela estudava em uma sala ao lado de um ginásio onde as pessoas 
treinavam basquete, e ela ouvia o barulho das passadas dos jogadores lá na sala de aula, porque 
ela tinha hipersensibilidade auditiva. Toda vez que havia jogo ou treino, ela não conseguia se 
concentrar na sala de aula, porque o foco atencional auditivo dela era o ginásio, não a sala de 
aula. Isso acontece muito com nossos estudantes com Distúrbio do Processamento Auditivo 
Central (DPAC), pois eles focalizam em algo secundário e deixam de prestar atenção no principal. 
Temple conseguiu verbalizar isso, e então os professores a mudaram de sala de aula. Isso foi 
uma adequação curricular. 
Encorajar o estudante é muito importante, pois quem não gosta de ser elogiado, ser 
reforçado positivamente? Todos gostamos, e nosso estudante também; mas muitas vezes ele 
tem dificuldade, o passo a passo dele é mais lento, mais demorado que o da maioria dos 
estudantes. Cada passo precisa ser valorizado para que ele tenha motivação para continuar 
andando. Muitas vezes o estudante não faz exatamente o que era para ser feito, mas o esforço 
que ele fez foi tão grande e ele fez com tanto empenho que precisa ser valorizado. 
 
47 
 
Sobre a adaptação de materiais escritos, veremos algumas sugestões no último módulo. 
Preciso saber qual é a modalidade de aprendizagem, ou seja, como meu estudante aprende. Já 
vimos que a literatura aborda mais a facilidade visual. Se eu tenho essas pistas, o que devo fazer 
com elas? Devo colocá-las no meu material, no meu dia a dia. Se meu aluno precisa de marca 
texto nas questões principais, eu faço isso. Se ele precisa de uma letra maior ou de um texto 
menor, se ele precisa de um exemplo e uma atividade, proporcionarei isso para ele. Verei uma 
proposta que seja possível e viável para meu estudante. Precisamos conhecer nosso estudante 
para podermos adequar os materiais. 
Se ele precisa ler, se percebemos o que ele quer falar, o que é necessário para que ele 
responda à questão, precisamos dar a ele essa oportunidade, porque estamos no mundo 
tecnológico. Nesse mundo, não precisamos decorar inúmeras coisas, pois temos informações na 
palma da mão. Quem não tem um celular hoje? Se temos algo a pesquisar, pesquisamos nele. 
Hoje, precisamos saber onde pesquisar e não ter tudo na cabeça. É uma forma diferente de 
aprender, e precisamos facilitar esse caminho para os nossos estudantes. 
 
É necessário providenciar instrumentos avaliativos, pois não é possível ter todo esse 
trabalho de adaptação para a classe, para os estudantes, e, no momento de avaliar, aplicar uma 
avaliação igual àquela dos outros alunos. Não adianta nada, porque o estudante com 
necessidades especiais não dará a resposta. Ele terá uma nota baixa, uma vez que, durante todo 
o processo, ele foi executando as tarefas de determinada maneira e, na hora de ser avaliado, 
mudou-se a forma de proceder. Não é certo, não é justo com o aluno. A avaliação deve seguir 
os moldes do trabalho executado durante o ano letivo. 
É muito importante favorecer o processo comunicativo, principalmente para a 
autonomia do nosso estudante, para ele poder dizer minimamente aquilo que quer. A 
comunicação é uma pedra fundamental no processo educativo. 
Devemos providenciar softwares educativos. Mas muito cuidado, pois há softwares, 
material tecnológico para quase tudo. Nossos estudantes nasceram neste século, são mais 
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jovens, mais tecnológicos do que nós. Eles têm muita facilidade, então colocamos a tecnologia 
na mão deles como uma babá eletrônica. Errado! Muitas famílias fazem isso, dão um tablete 
para funcionar como uma babá eletrônica, para ficar o dia todo com a criança. Não! Todo 
material deve ter um objetivo pedagógico, pois estamos falando de escola. Qual é o objetivo 
pedagógico da utilização desse software, dessa determinada tecnologia? É preciso ter um 
objetivo pedagógico, não posso entregar na mão dele e deixar ele lá, porque estarei fechando 
esse estudante, ao invés de abri-lo. 
 
Despertar a motivação, a atenção e o interesse: como fazemos isso? Descobrindo quais 
os interesses, quais as motivações que ele tem, e partir daí. Como já falamos, precisamos 
começar com coisas que sejam prazerosas para esse estudante. Não podemos esquecer de abrir. 
Lembram-se da máquina de lavar? Podemos começar com o foco de interesse do aluno, mas 
devemos abrir para o mundo. De repente, essa máquina de lavar nem existirá mais, porque já 
tem tanto conhecimento agregado que o seu mundo foi ampliado. 
O uso de materiais tem que estar de acordo com os objetivos, nos níveis em que esse 
aluno se encontra. Devem ser materiais que favoreçam a aprendizagem; não é uma questão de 
lançar mão deles, indiscriminadamente, só porque estão disponíveis. 
Na medida do possível, precisamos trabalhar para eliminar o sentimento de 
inferioridade, de menos valia, de fracasso. Muitas vezes, os nossos estudantes, não só os com 
TGA ou TEA, vêm de um processo de fracasso. Muitas vezes, eles vêm de repetição de ano letivo, 
às vezes de várias repetições, e as pessoas falam que eles não são capazes, que não conseguem, 
que isso é muito difícil para eles, colocando-os cada vez mais para baixo, mas o professor deve 
fazer o contrário. Se o aluno deu um passo, deve ser valorizado, deve ser estimulado: “você 
consegue”, “eu te ajudo”, “com esse material aqui você conseguirá”, e quando ele conseguir, é 
euforia, é felicidade, é mostrar para ele sua própria capacidade. 
 
 
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Aula 8. Outras dimensões da adequação curricular II 
 
No último vídeo, vimos as adequações de acesso ao currículo. 
 
Agora, veremos sugestões de atividades para trabalharmos com nossos estudantes com 
TGD/TEA. 
 
É muito importante, para nossos estudantes, encorajarmos o estabelecimento de 
relações com o ambiente físico e social, pois esta é uma das dificuldades que ele tem: relacionar-
se com esse ambiente confuso, cheio de input, cheio de informação. O que o professor precisa 
fazer? Algumas vezes, o estudante precisará ficar em um ambiente mais silencioso, mas em 
alguns momentos precisamos deixá-los em um ambiente natural. Principalmente paraquem 
trabalha com crianças, é impossível pedir silêncio a toda hora, porque criança se movimenta, 
arrasta cadeira, etc. O estudante com TGD/TEA também precisa passar por isso, porque ele não 
é de outro planeta, e nesse planeta em que ele vive tem barulho, pessoas circulando. Como o 
professor fará isso? A adaptação do estudante deve ser gradual. Por exemplo: a escola tem 
recreio; sabemos que o estudante fica agitado no recreio, porque é uma agitação, uma correria. 
Mas queremos que o estudante com TGD/TEA fique no pátio na hora do recreio? Não, de 
nenhuma forma. Podemos ficar o ano todo com ele fechado na sala de aula? Também não. De 
que precisamos? Do passo a passo para que esse estudante chegue no recreio. Nos primeiros 
dias, ele ficará na sala, mas aos poucos vamos chegando perto da porta, colocamos o brinquedo 
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que ele mais gosta do lado de fora, vamos chamar um outro colega para participar da 
brincadeira. Há muitos alunos que gostam de brincar com esses colegas. 
Devemos oportunizar e exercitar o desenvolvimento de suas competências, ou seja, 
daquilo que ele sabe e consegue fazer. O meu primeiro estudante autista tinha muita habilidade 
com desenho, e eu já sabia disso quando ele foi inserido na minha turma. Ele era o desenhista 
da turma, nós usamos essa habilidade dele para os amigos se aproximarem. Houve uma época 
em que ele fazia cartinhas: ele desenhava as cartinhas, cada um tinha a sua, e os colegas 
organizavam brincadeiras com elas; era uma forma de ele se incluir. Usei uma habilidade que 
ele tinha, e assim a inclusão foi natural. Mas é importante saber que, às vezes, a inclusão não é 
natural, às vezes ninguém quer ficar junto com esse estudante, e nós temos que saber como 
mediar essa situação. O professor deve ser o instrumento que articula a socialização, porque os 
estudantes dentro do espectro têm essa dificuldade de empatia, de se colocar no lugar do outro, 
o que chamamos de teoria da mente ̶ nós não falaremos disso nesse curso, fica para o próximo. 
O professor tem que ser o articulador e trazer esse estudante para a socialização da maneira 
mais natural possível. 
Além disso, o professor precisa estimular a atenção para aquilo que precisa de atenção. 
Muitas vezes o foco de atenção do estudante é diferente daquele que ele necessita, ou então 
ele é muito focado nos interesses dele. O que acontece é que ele deixa de focar em aspectos, 
em conteúdo que são importantes. O professor precisa dirigir esse foco atencional para aquilo 
que é necessário. 
 
Devemos utilizar dicas, sinais claros daquilo que queremos ensinar. Muitas vezes o 
estudante não realiza tarefas porque não entendeu, ou porque o professor não foi claro o 
suficiente, ou porque o professor falou demais. Eu tinha um estudante que falava: “Chega, 
chega, você tem muitas palavras!”, ou seja, eu estava falando muito e ele não conseguia 
processar. Precisamos ter este cuidado: o nosso estudante não faz por que ele não sabe fazer 
ou por que ele não entendeu o que deve fazer? 
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É preciso também, na medida do possível, oferecer modelos adequados porque, na 
convivência, aprendemos com bons e maus modelos, ainda mais tratando-se de crianças. 
Existem ônus na inclusão, como aprender palavrões, entre outras coisas. Mas, na medida do 
possível, temos que oferecer modelos mais adequados, mais pertinentes possíveis e evitar as 
alternativas de ensaio e erro. Há situações que sabemos que são eficazes, situações que 
sabemos que funcionam. 
Favorecer o bem-estar emocional desse estudante também é fundamental. Muitas 
vezes temos estudantes que têm crises nervosas, pois há muitas informações entrando ou, 
então, há muita cobrança. Devemos dar tranquilidade: “é assim mesmo”, “você vai conseguir”, 
“eu vou dar mais tempo para você”, “te darei outro material”, para que esse estudante tenha 
equilíbrio emocional. 
 
Vimos as adequações de acesso e algumas sugestões. Agora, veremos adequações nos 
elementos curriculares. 
 
As adequações nos elementos curriculares dizem respeito às formas de ensinar e avaliar 
os conteúdos que pretendemos ministrar, considerando a temporalidade. Precisamos 
considerar o que podemos mudar nos objetivos pedagógicos para aquele estudante e quais os 
conteúdos que podemos modificar. Ressaltamos um ponto: quando falamos em adequação 
curricular, geralmente a primeira coisa que vem à cabeça é: “Vamos enxugar o conteúdo!” . Não 
é somente isso. Estamos terminando o primeiro módulo e somente agora estamos falando em 
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conteúdo. Observem o número de aspectos que precisam de atenção, o número de aspectos 
que pertencem à adequação curricular. Deixamos para falar sobre isso somente agora de 
propósito, pois a primeira coisa que vem à mente quando se fala em adequação curricular é 
“enxugar o conteúdo”, ou seja, retirar conteúdos. Mas isso não é o mais importante, não é o 
foco e não deve ser a prioridade. Se for preciso, faremos isso, mas com muita coerência: quem 
somos nós para decidir o que o aluno aprenderá, o que ele não tem direito nem de ver? Essa é 
uma questão muito importante. 
Outro ponto em que precisamos prestar atenção são os critérios e procedimentos de 
avaliação. Como avaliaremos esses estudantes? Isso tem que estar na adequação curricular 
deles. Como será esse processo de avaliação, quais serão os instrumentos e materiais? Como 
avaliarei esses estudantes? Como serão as atividades afim de que esses estudantes aprendam? 
Quais serão as metodologias utilizadas? As metodologias existem, mas não servem para todos, 
pois cada um tem sua modalidade de aprendizagem. Se temos um sujeito que tem a facilidade 
maior com a questão visual, não podemos ensiná-lo apenas auditivamente, precisamos oferecer 
o visual também. O professor precisa colocar isso na adequação curricular. 
 
As adequações metodológicas e didáticas se realizam por meio dos procedimentos 
técnicos e metodológicos. Chamamos atenção novamente para o fato de que somos 
profissionais, não podemos fazer as coisas por ensaio e erro, sem profissionalismo. Precisamos 
conhecer os procedimentos, as metodologias, as técnicas da nossa profissão, da nossa função, 
do nosso metier. Se eu sou professor de português, devo conhecer não apenas o conteúdo mas 
também as estratégias de como passar esse conteúdo, como os estudantes aprendem, como 
vou avaliar, como vou organizar as atividades. Planejaremos as atividades de acordo com os 
objetivos que queremos atingir, com os conteúdos que desejamos trabalhar, com os recursos 
materiais que temos. Portanto, a adequação curricular perpassa vários fatores aos quais 
precisamos ficar atentos. Precisamos perceber também quem é o coleguinha que dá mais apoio 
para o nosso estudante. Às vezes, é esse colega que fará o papel do apoio, que sustentará um 
pouco o aprender do colega, e, geralmente, eles têm uma linguagem toda própria, diferente da 
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nossa, a qual consegue atingir a outra criança. Precisamos agrupar nossos estudantes em grupos 
que favoreçam e fortaleçam a aprendizagem e utilizar métodos e técnicas específicos e que 
estejam de acordo com a necessidade daquele estudante. 
 
Precisamos utilizar técnicas, procedimentos e instrumentos de avaliação distintos e não 
precisamos ter medo disso. Convivo muito com os professores que dizem: “Não, mas eu não 
posso avaliar diferente”. Como não pode, se você trabalhou o tempo todo com atividades 
diversificadas? Uma coisa importante: às vezes diversificamos para o nosso aluno TGD/TEA, mas 
os outros alunos também se beneficiam. Então, às vezes, pensamos que estamos favorecendo 
apenas um estudante, mas, na realidade, muitos ganham. Com a inclusão, todo mundo ganha. 
Ganhamos enquanto profissionais, porque aprendemos maneiras diversificadas de trabalhar, 
temos um outro olhar para as pessoas; os outros alunos ganham, porque eles aprendem de 
maneiras diferenciadas e aprendem também a conviver com a diversidade,