Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Gabriela Medeiros - Medicina Referência: Tratado De Gastroenterologia: Da Graduação À Pós-Graduação. Schlioma Zaterka. 2ªed. 1 INTRODUÇÃO À GASTROENTEROLOGIA ANAMNESE Na maioria das doenças do aparelho digestivo, o raciocínio diagnóstico depende dos dados obtidos na história clínica. Embora a razão da consulta sejam queixas digestivas, o exame físico não deve se restringir ao abdome; deve abranger os demais órgãos também. QP: A anamnese inicia-se com a simples anotação da queixa principal do paciente e de seu início. HDA: caracterizar cada um dos sintomas apresentados, hierarquizá-los de acordo com sua importância clínica, questionar há quanto tempo eles se instalaram, descrever todo o transcurso da doença, suas melhoras, seus agravamentos, a intervenção de tratamentos, além de resultados de exames, verificar se as manifestações da doença estão relacionadas temporalmente com algum acontecimento vivido pelo paciente (p. ex., traumas emocionais; mudanças nos hábitos de vida, incluindo mudanças no tipo de alimentação; introdução de algum medicamento etc.). PRINCIPAIS SINTOMAS DO APARELHO DIGESTIVO QUEIXAS DIGESTIVAS ALTAS: o Sintomas digestivos altos são denominados dispépticos. A palavra dispepsia se origina do grego e significa alteração (dis) da digestão (pepsis). o Considera-se dispepsia um conjunto de sintomas induzidos pela ingestão de alimentos e que são expressos em regiões que correspondem ao epigástrio até, aproximadamente, o umbigo. o Dois são os tipos de sintomas dispépticos: a dor e os pós-prandiais. o SINTOMAS PÓS-PRANDIAIS: Plenitude pós-prandial (sensação desagradável de prolongada permanência do alimento no estômago) Saciedade precoce (sensação de estômago cheio rapidamente, em desproporção ao volume de alimento ingerido, com o desaparecimento do apetite) Sensação de que o estômago está inchado, empanturrado ou distendido na ausência de uma distensão visível Náuseas Vômitos Eructações (arrotos). o A dispepsia pode estar associada a: Doenças orgânicas: úlceras pépticas, DRGE, câncer gástrico, doenças biliopancreáticas; Dispepsia funcional: Quadro isolado sem que se identifique uma causa determinante. o A dispepsia configura-se como uma síndrome, os pacientes, em geral, não apresentam todo o conjunto de sintomas, apenas alguns deles. o É muito importante que se faça o diagnóstico diferencial entre dispepsia orgânica e funcional para o que deve ser considerado: Tempo de doença Idade do paciente Antecedentes de câncer gástrico na família Presença de sintoma ou sinais de alarme (perdas de sangue, anemia, inexplicável perda de peso, hipertrofias ganglionares, massas palpáveis e outras evidências de doença orgânica); o DOR: torácica e abdominal DOR TORÁCICA Doenças que afetam o esôfago são capazes de produzir dores referidas no tórax, particularmente em sua face anterior. Podem assumir forte intensidade e ser do tipo constritivo ou em queimação (pirose). São indicativos de origem esofágica se: Acompanhadas de disfagia ou de regurgitação ácida ou, ainda, se melhoram ou pioram com a deglutição. NÃO são indicativos de origem ESOFÁGICA: Doenças digestivas abdominais, como úlcera péptica, colecistite e pancreatite, também podem provocar dores torácicas. Se estiver relacionada com movimentos respiratórios, deve ter origem em pulmões ou pleura; Se for agravada ou melhorada com mudanças de posição do corpo, a probabilidade maior é de que seja decorrente de processos patológicos na coluna; Se for bem relacionada a esforços físicos ou irradiada para a região do pescoço e/ou membro superior esquerdo, é forte a indicação Gabriela Medeiros - Medicina Referência: Tratado De Gastroenterologia: Da Graduação À Pós-Graduação. Schlioma Zaterka. 2ªed. 2 de que seja o resultado de uma isquemia miocárdica; PIROSE/AZIA: o É definida como uma sensação de queimação ou ardência. o Constitui a manifestação mais comum da DRGE, com ou sem esofagite. o A pirose de localização unicamente epigástrica é sugestiva de origem gástrica ou gastroduodenal. ODINOFAGIA: o É a dor que é percebida em região retroesternal durante a ingestão dos alimentos, portanto, induzida pelo fenômeno da deglutição. o Deve-se a processos inflamatórios orofaríngeos ou esofágicos ou a doenças motoras do esôfago. DISFAGIA: o É a designação que se dá à dificuldade para a deglutição dos alimentos sólidos ou líquidos. o A sensação é a de que o alimento para em sua descida ao estômago, estacionando em algum ponto entre a boca e o apêndice xifoide. o Disfagia orofaríngea ou alta Quando a dificuldade é sentida ao nível da boca ou da faringe; ela ocorre principalmente com líquidos, associando-se frequentemente a engasgos em razão da passagem do material ingerido para as vias aéreas superiores e inferiores. o Disfagia esofágica ou baixa Costuma ser referida sobre o esterno e estar relacionada com processos obstrutivos (estenoses esofágicas) ou com alterações na atividade motora que executa o ato da deglutição (p. ex., megaesôfago chagásico, acalasia idiopática, afecções neuromusculares que afetam a fase esofágica da deglutição). REGURGITAÇÃO: o Consiste no retorno à boca de material contido no esôfago ou no estômago, sem a violência do vômito e sem ser precedido por náuseas. o É perceptível pelo retorno de um volume líquido ou sólido de sabor, em geral, ácido ou amargo. o Constitui-se em forte indicativo de doença do refluxo gastroesofágico quando associada à pirose, e de megaesôfago, se acompanhada de disfagia. DOR ABDOMINAL: Características clínicas que devem ser investigadas são: Localização (topografia anatômica do abdome); Cronologia, periodicidade; Intensidade e tipo; Ritmo ou horário; Fatores que melhoram ou pioram; Duração; Irradiação; Náuseas e vômitos; Eructação e aerofagia LOCALIZAÇÃO DA DOR: Dor em epigástrio e suas imediações: Consequentes a úlceras gástricas e duodenais, dispepsias funcionais e orgânicas, gastrites agudas (gastrites crônicas não causam de dor), tumores gástricos, colecistites, pancreatites, obstruções no intestino delgado proximal, hepatites e congestão aguda do fígado, abscessos subfrênicos, pneumonias, angina e infarto do miocárdio. Dor em mesogástrio e suas imediações: Produzidas por infecções, inflamações, obstrução, isquemia e distensões do intestino delgado, apendicite (em fase inicial), pancreatites e tumores do pâncreas. Dor em hipogástrio e todo o baixo ventre: São apontadas as dores produzidas pelas seguintes doenças: inflamações, obstrução, isquemia, diverticulite e tumores do intestino distal, apendicite, salpingites, gravidez ectópica, afecções do ovário e cistites A dor da colecistite, em geral aguda, é inicialmente referida no ponto vesicular (corresponde aproximadamente à junção dos 2/3 laterais com o terço medial da borda costal direita). Na apendicite aguda clássica, a dor é referida no ponto apendicular. Dores na região dorsal: Podem ser decorrentes de úlceras pépticas penetrantes da face posterior do duodeno ou do estômago. As dores produzidas por doenças da vesícula ou das vias biliares podem ser referidas na região inferior da escápula direita. As pancreatites provocam dores epi e mesogástricas que tendem, em cerca de 50% dos casos, a também afetar a área em faixa até o dorso, à direita e/ou à esquerda. Processos infecciosos subfrênicos provocam dor supraclavicular e na face lateral do pescoço, territórios dos nervos frênicos. As dores das afecções do cólon esquerdo e reto podem ser percebidas na fossa ilíaca esquerda e até na região sacral. As dores dos cálculos ureterais costumam se manifestar nas faces laterais do abdome, obliquamente, até a genitália.Gabriela Medeiros - Medicina Referência: Tratado De Gastroenterologia: Da Graduação À Pós-Graduação. Schlioma Zaterka. 2ªed. 3 CRONOLOGIA: Elas podem se instalar de forma aguda ou serem crônicas, intermitentes ou contínuas. DOR ABDOMINAL AGUDA: A dor abdominal aguda e intensa acompanhada de manifestações locais e gerais e iniciada dentro de 1 a 72 horas caracteriza o que é conhecido como abdome agudo e pode prenunciar grave doença aguda, que exige cuidados imediatos. Algumas dessas dores abdominais agudas tendem a desaparecer espontaneamente, como nas gastroenterites agudas. As dores agudas podem ser caracterizadas por sucessivas intensificações e alívios definindo o tipo de dor “em cólica” da obstrução de víscera oca (intestinal, biliar, ou ureteral). A dor das apendicites e diverticulites agudas tem intensidade continuamente progressiva. Em afecções arteriais abdominais agudas, como no infarto mesentérico e na ruptura de aneurisma da aorta, a dor pode alcançar intensidade elevada muito rapidamente. DOR ABDOMINAL CRÔNICA: Provocadas por doenças orgânicas ou funcionais e podem ser contínuas ou apresentar recidivas agudas com períodos de remissão que podem chegar a semanas, meses ou até anos. Exemplos: Dor periódica: Úlcera péptica duodenal ou gástrica: dor abdominal de duração variável de uma a algumas semanas: é o período em que a úlcera está aberta ou ativa. Em seguida, na acalmia, período que varia de semanas a anos, a dor está ausente, o que pode significar que a lesão está cicatrizada. Portanto, as úlceras gastroduodenais têm como característica longos períodos de dor e de acalmia. Se a dor abdominal de um paciente com úlcera péptica se tornar constante ou se agravar, deve-se suspeitar de aprofundamento da úlcera na parede do órgão comprometido (úlcera terebrante ou perfurante). Doença calculosa da vesícula biliar: se os cálculos migram para o ducto cístico e o colédoco, ocorrem dores que duram de poucas horas a poucos dias. Passado o quadro agudo, há períodos oligo ou assintomáticos mais ou menos prolongados, que podem persistir por anos. Assim, a dor biliar tem como característica períodos dolorosos curtos (horas, poucos dias) e períodos de acalmia longos. Outra doença que evolui por crises de dores, frequentemente intensas, intercaladas por períodos de acalmia, é a pancreatite crônica calcificante, produzida pelo alcoolismo crônico. A identificação da coincidência cronológica entre a dor abdominal e o período da menstruação ou do meio do ciclo menstrual deve lembrar a possibilidade de endometriose e da dor da ovulação, respectivamente. INTENSIDADE E TIPO: o A intensidade da dor nem sempre guarda relação com o tipo e a gravidade da doença, tendo limitado valor diagnóstico, pois pode refletir mais o estado psíquico do paciente do que a natureza da doença que a está provocando. o Dores mais intensas comum em: abdome agudo por afecções inflamatórias, obstrutivas e isquêmicas. o Alguns sintomas associados indicam real intensidade da dor: ⤷ Sudorese ⤷ Palidez ⤷ Bradicardia ⤷ Hipotensão arterial ⤷ Náuseas e vômitos Tipos de dor: ⤷ Dor em “queimação” ou dor “funda” no epigástrio é importante indicador da possibilidade de doença péptica. ⤷ Dor tipo “peso” sugere distensão de víscera oca ou parenquimatosa e pode ser a queixa do paciente com dispepsia funcional. ⤷ Dor em “cólica” ou “torcida”: sensação de constrição da víscera durante curto intervalo de tempo. Quando assume forte intensidade, seguida por considerável abrandamento, é sugestiva de processo obstrutivo dos órgãos tubulares e encontra exemplos nas litíases ureteral (cólica renal) e das vias biliares (cólica biliar) e nas obstruções intestinais de qualquer etiologia. Pode, entretanto, ocorrer em portadores de doenças funcionais, como SII, Gabriela Medeiros - Medicina Referência: Tratado De Gastroenterologia: Da Graduação À Pós-Graduação. Schlioma Zaterka. 2ªed. 4 doenças inflamatórias e infecciosas (gastroenterites agudas). ⤷ Dor “contínua”: permanência prolongada que mantém a mesma intensidade, é observada nas neoplasias. Deve-se lembrar que, frequentemente, os cálculos biliares, ao atravessarem as vias biliares, podem não provocar a chamada “cólica” biliar, mas manifestar-se por dor contínua (dor biliar). ⤷ A dor em “pontada” ou “facada” apresenta-se em processos inflamatórios agudos que envolvem o peritônio. OBS.: “desconforto” pode ser considerada como um equivalente da dor. HORÁRIO Variações do sintoma no decorrer das 24 horas do dia e com as atividades funcionais do aparelho digestivo. o Dor da úlcera duodenal: ocorre cerca de 2 a 4 horas após as refeições, mantendo certo paralelismo com os níveis de acidez do estômago. o A alimentação, em geral, determina o alívio da dor. Esse tipo de ritmo é chamado a três tempos: dói- come-passa. o Quando a acidez noturna é grande, o paciente pode ser despertado de seu sono pela dor. Essa queixa é denominada clocking. o Em geral, ao despertar pela manhã, em jejum, o ulceroso não apresenta dor, pois está longe do período digestivo, dado pelas refeições. o Nos portadores de úlceras gástricas, a dor costuma acontecer logo após as refeições, em consequência da distensão do órgão acometido por processo inflamatório em suas paredes. O mesmo pode ocorrer nas gastrites agudas provocadas por agentes infecciosos ou por excessiva ingestão de bebidas alcoólicas. o Nas colecistites e pancreatites agudas, a solicitação funcional desses órgãos também provocará dores pós-prandiais precoces. o A angina mesentérica, causada por isquemia das alças do intestino delgado em decorrência da obstrução da artéria mesentérica superior, caracteriza-se pela dor, frequentemente intensa, aproximadamente cerca de 15 a 30 minutos após uma refeição, quando há maior demanda de sangue arterial para o processo de digestão e absorção. o Por razões desconhecidas, a dor biliar tende a ocorrer durante a noite, despertando o paciente. o Na diferenciação entre doença orgânica e doença funcional, deve ser considerado excepcional que uma dor que desperta o paciente de seu sono tenha causa funcional. FATORES DE MELHORA E PIORA o Os anti-inflamatórios, em geral, agravam as dores por afecções gástricas e duodenais. o A ingestão de alimentos piora a dor de processos inflamatórios gástricos (gastrite aguda, úlcera gástrica, neoplasias do estômago). o Os vômitos e as eructações melhoram a dor ou o desconforto causado por essas mesmas doenças. o A ingestão de alimentos pode provocar o agravamento das doenças biliares e pancreáticas e, também, desperta a dor da obstrução mesentérica (angina abdominal). o Quando a evacuação ou a eliminação de flatos alivia temporariamente uma dor abdominal, a indicação é de que ela está sendo produzida no intestino grosso por afecções funcionais ou orgânicas. o Nos processos patológicos que afetam o retroperitônio, como nas pancreatites, apendicites agudas ou úlceras penetrantes, o paciente tende a manter a flexão do tronco sobre os membros inferiores (atitude genupeitoral) o Quando o peritônio parietal for comprometido por um processo patológico, particularmente nos agudos, a deambulação e a trepidação (no carro ou ambulância em direção ao pronto-socorro) tendem a piorar a dor abdominal (popularmente chamada “sinal do solavanco”). o A melhora com analgésicos indica que a dor, provavelmente, é decorrente de lesões inflamatórias ou de neoplasias; a melhora com antiespasmódicos indica o comprometimento de vísceras ocas; os anti-inflamatórios podem melhorar dores de origem neoplásica, cólicas renais, afecções musculares e esqueléticas, mas com frequência induzem ou agravam dor decorrente da úlcera ou inflamação do estômago. o Traumas emocionais além de serem fatores que favorecem a instalação de dores abdominais(somatização), são também seus agravantes. DURAÇÃO o Dores da úlcera gastroduodenal duram horas, e em geral são aliviadas por alimentação ou alcalinos. o As dores biliares apresentam curta duração (minutos) e são recorrentes (repetitivas). o As dores pancreáticas apresentam horas de duração e apresentam alívio em determinadas posições (Atitude Genupeitoral). Gabriela Medeiros - Medicina Referência: Tratado De Gastroenterologia: Da Graduação À Pós-Graduação. Schlioma Zaterka. 2ªed. 5 IRRADIAÇÃO o A dor da doença gastroduodenal localiza-se no epigástrio. A irradiação para as costas é indício de complicação grave, sinal de que a úlcera perfurou e está bloqueada no pâncreas, o órgão adjacente. o Quando a dor passa a apresentar irradiação difusa, com sensibilidade aumentada do abdome à pressão manual, e dor aguda quando a pressão manual é bruscamente cessada (descompressão brusca), trata-se de provável perfuração em abdome livre com comprometimento peritoneal. o A dor de origem vesicular costuma apresentar irradiação para a região dorsal direita e, às vezes, para a região escapular direita. o A irradiação da dor em faixa (do HD para o HE) é sugestiva de comprometimento pancreático. NÁUSEA E VÔMITOS o Esses dois sintomas podem ocorrer, conjuntamente, em doenças agudas (p. ex., gastrites e gastroenterites, por ação de medicamentos ou de tóxicos, presença de sangue na luz gástrica) ou incidirem cronicamente de forma frequente ou episódica (p. ex., enxaqueca, cinetoses, doenças crônicas do trato digestivo alto, inclusive das vias biliares e do pâncreas). o Vômitos abruptos, em jato, não precedidos por náuseas, são provocados por hipertensão intracraniana e meningite. o Informação sobre o material expelido pelo vômito: Presença de sangue em pequena quantidade (síndrome de Mallory-Weiss em decorrência de lacerações na junção esofagogástrica, por vômitos repetidos) ou em grande quantidade (decorrente de sangramentos abundantes por úlcera, erosões ou neoplasias no estômago ou duodeno ou por ruptura de varizes esofágicas) caracteriza a hematêmese. Presença de restos alimentares ingeridos, pelo menos três ou mais horas antes, em geral volumosos, indica dificuldade do esvaziamento gástrico (estenose em região pilórica). Odor e aspecto fecaloide indicam obstrução em porções proximais do intestino delgado. o Na maioria das causas do vômito, é constituído só de líquido claro, hialino ou levemente tinto de bile. A presença de bile no material vomitado não tem significado especial, pois resulta de refluxo duodenogástrico que, em geral, ocorre durante o próprio episódio de náuseas e vômitos, independentemente de sua causa. Entretanto, se a presença de bile no material vomitado for muito expressiva, deve ser lembrada a possibilidade de obstrução duodenal a jusante da desembocadura do colédoco. o Vômito provocado pelo próprio paciente: durante gastrites agudas, quando o esvaziamento do estômago alivia o mal-estar gástrico (alcoolismo agudo), e em casos de bulimia, com o intuito de o paciente não engordar ou de perder peso. ERUCTAÇÃO/AEROFAGIA (“ARROTO”) o A eructação é um fenômeno considerado normal, uma vez que, a cada vez que se ingere uma refeição ou líquido, uma pequena quantidade de ar penetra também no estômago. o Torna-se um sintoma quando é excessiva ou quando causa desconforto ou sensação de distensão epigástrica. o A anormalidade pode estar associada à salivação excessiva (sialorreia) como pode ocorrer na doença do refluxo gastroesofágico, ou reduzida (sialoquiese) ocasionada por pequena produção das glândulas salivares. o Desordens na esfera psíquica (ansiedade, depressão) que causam taquifagia com excessiva ingestão de ar podem ocasionar aerofagia e eructações. o Por vezes, não se consegue estabelecer uma explicação plausível para as excessivas eructações. QUEIXAS DIGESTIVAS BAIXAS: As principais são: Diarreia/esteatorreia/tenesmo; Prisão de ventre; Meteorismo/flatulência. Gabriela Medeiros - Medicina Referência: Tratado De Gastroenterologia: Da Graduação À Pós-Graduação. Schlioma Zaterka. 2ªed. 6 DIARREIA: Quando a parte comprometida é o intestino delgado e/ou hemicólon direito, a tendência é o paciente apresentar evacuações volumosas, pois a maior parte da absorção de água foi comprometida ou ativamente secretada (o intestino delgado absorve cerca de 9 a 10 litros de água por dia, incluindo a ingerida e a das secreções). Normalmente, não excedem dez evacuações por dia. Quando a parte afetada for o segmento retossigmoide (que atua como órgão de armazenamento), as evacuações tendem a ter pequenos volumes. Em geral, o número de evacuações diárias supera dez. Diarreia osmótica resulta da presença aumentada de solutos não eletrolíticos ingeridos (p. ex., lactose, sais de magnésio) que, por osmose, retêm água em excesso na luz intestinal; tendem a cessar quando a ingestão é interrompida. Diarreia secretora é devida à secreção de eletrólitos e água pelo intestino delgado (p. ex., por bactéria) ou cólon proximal (p. ex., sais biliares não absorvidos no íleo); tendem a não cessar quando a ingestão é interrompida. Diarreia inflamatória pode reunir elementos dos tipos osmóticos e secretor, além de sangue e Gabriela Medeiros - Medicina Referência: Tratado De Gastroenterologia: Da Graduação À Pós-Graduação. Schlioma Zaterka. 2ªed. 7 pus nas fezes, particularmente quando a agressão ocorre na mucosa das porções distais do intestino. A esteatorreia caracteriza-se por evacuações volumosas e brilhantes, que podem deixar aparentes pequenas gotas oleosas na superfície da água do vaso sanitário. A simples flutuação de fezes não indica esteatorreia, mas, simplesmente, fezes de baixa densidade pelo seu alto teor em gases. Tenesmo ou puxo sensação de uma desagradável e violenta expulsão do conteúdo retal. Ocorre quando há diminuição do limiar retal para o desencadeamento do reflexo da evacuação, provocada pela inflamação, faz que os pequenos volumes que adentram o reto, exacerbem os reflexos normais, provocando fortes movimentos para que sejam expelidos; Frequentemente, o material eliminado contém sangue, muco ou pus, alterações que, associadas à presença do tenesmo, definem a síndrome disentérica. É de interesse saber o horário preferencial em que as evacuações diarreicas acontecem: depois das refeições, na síndrome do intestino irritável; se noturnas, na neuropatia visceral diabética; as diarreias funcionais não costumam despertar o paciente de seu sono. CONSTIPAÇÃO OU PRISÃO DE VENTRE Evacuações dificultosas, seja por eliminação fecal infrequente (menos de 3x por semana ou a intervalos superiores a 48 horas) ou incompleta, geralmente acompanhadas de sensação de desconforto e distensão abdominal. É importante que se faça o diagnóstico diferencial entre as duas modalidades básicas de constipação intestinal: o Secundária: determinada por diferentes causas de cunho orgânico; o Funcional: não se consegue reconhecer uma causa orgânica e que se associa a anormalidades no trânsito pelos cólons, à dissinergia nos mecanismos de evacuação (constipação dissinérgica ou de saída) ou à hipossensibilidade retal no desencadeamento dos reflexos para a evacuação. O diagnóstico de constipação funcional pode ser feito apenas com os dados clínicos ou pode exigir investigação complementar. METEORISMO/FLATULÊNCIA Meteorismo é a distensão abdominal decorrente do acúmulo de gases no interior das alças intestinais. Flatulência designa o quadro de meteorismo acompanhado de desconforto e/ou dor abdominal e excessiva eliminação de gases através do ânus, que aliviará temporariamente os sintomas; se o acúmulo de gás (ar) estiver predominantemente no estômago (aerofagia), o alívio se dará pelaeructação. O acúmulo se dá por excessiva produção de gases por ação bacteriana no intestino grosso (p. ex., na deficiência de lactase) ou de ar deglutido (aerofagia) e, ainda, por redução de sua eliminação, quando se associa à constipação intestinal. É importante assinalar que o meteorismo com forte redução da eliminação de flatos integra o quadro clínico da obstrução intestinal. Outros sintomas Icterícia Sangramento digestivo. Gabriela Medeiros - Medicina Referência: Tratado De Gastroenterologia: Da Graduação À Pós-Graduação. Schlioma Zaterka. 2ªed. 8 EXAME FÍSICO
Compartilhar