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E SUAS ALTERAÇÕES • O pensamento se constitui a partir de elementos sensoriais que podem fornecer substrato (sustentação) para o processo de pensar: são as imagens perceptivas e as representações. • Desde Aristóteles, os elementos propriamente intelectivos do pensamento dividem-se em três operações básicas: os conceitos, os juízos e o raciocínio. OS CONCEITOS • se formam a partir das representações (um elemento puramente cognitivo), não é possível visualizá-los ou senti-los, exprimem-se os caracteres mais gerais dos objetos e fenômenos. • Dois passos fundamentais para a formação de conceitos: 1. Eliminação dos caracteres de sensorialidade 2. Generalização • O conceito é o elemento estrutural básico do pensamento. JUÍZOS • Formar juízos é o processo que conduz ao estabelecimento de relações significativas entre os conceitos básico • Consiste em: na afirmação de uma relação entre dois conceitos. (exemplo: cadeira e utilidade cadeira é útil) RACIOCÍNIO • A função que relaciona os juízos. • Modo especial de ligação entre conceitos, de sequência de juízos, de encadeamento de conhecimentos. • A ligação entre juízos conduz a formação de novos juízos, dessa forma, o raciocino e próprio pensamento se desenvolvem. O PROCESSO DE PENSAR • O curso do pensamento (o modo como ela flui), a forma do pensamento (sua estrutura preenchida pelos mais diversos conteúdos e interesses) e o conteúdo do pensamento (o assunto em si). ALTERAÇÕES DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO PENSAMENTO ALTERAÇÕES DOS CONCEITOS Desintegração dos conceitos • Ocorre quando os conceitos sofrem um processo de perda do seu significado original e uma mesma palavra passa a ter significados diversos • Determinado objeto e a palavra que normalmente a designa passam a não mais coincidir. • Como se o sujeito passasse a usar as palavras de forma totalmente pessoal e idiossincrática/peculiar (característica própria). • Bastante característica da esquizofrenia e pode ocorrer também nas síndromes demenciais. Condensação dos conceitos • Ocorre quando dois ou mais conceitos são fundidos, o paciente involuntariamente condensa duas ou mais ideias em um único conceito, que se expressa por uma nova palavra. • NEOLOGISMOS ALTERAÇÕES DOS JUÍZOS Juízo deficiente ou prejudicado • A elaboração dos juízos é prejudicada por deficiência intelectual e pobreza cognitiva do indivíduo. • Os conceitos são inconsistentes e o raciocínio é pobre e defeituoso. • Às vezes, é difícil diferenciar um juízo deficiente de um delírio. Juízo de realidade ou delírio ALTERAÇÕES DOS JUÍZOS • Pensamento normal: ser regido pela lógica formal e orientar-se segundo a realidade e os princípios da racionalidade da cultura no qual o indivíduo está inserido. • Princípios básicos do pensamento lógico-formal (visão aristotélica): 1. Princípio da identidade: ou da não contradição – A é A e B é B. 2. Princípio da causalidade: se A é a causa de B, A não pode ser ao mesmo tempo efeito de B. Sendo as mesmas condições mantidas, as mesmas causas devem produzir os mesmos efeitos. 3. Lei da parte e do todo: se A é parte de B, então B não pode ser parte de A. • De acordo com o filósofo Hegel, as principais leis da dialética que se contrapõem aos princípios da lógica aristotélica são: Lei da transformação da quantidade em qualidade, toda afirmação encerra em si mesma o princípio de sua negação e tudo é, a um só tempo, causa e efeito de si mesmo. • Pensamento indutivo: parte da observação dos fatores elementares, da experimentação e da comparação entre fenômenos para chegar a conclusões e concepções mais gerais. • Pensamento dedutivo: parte de esquemas, axiomas, definições e teoremas já bem-arquitetados, para, por meio de demonstrações lógicas, deduzir a sua verdade. Além disso, presta-se mais às ciências matemáticas, à lógica formal. Já o método indutivo é mais adequado às ciências naturais e, em parte, às ciências sociais. • intuição ou pensamento intuitivo como a apreensão de uma realidade de forma direta e imediata. A intuição seria uma forma de conhecimento da natureza oposta ao pensamento racional. • Há uma tendência nas pessoas em distorcer inconscientemente os dados e as percepções da realidade para confirmar hipóteses previamente formuladas no início de um raciocínio. TIPOS DE ALTERAÇÕES DE PENSAMENTOS • Pensamento mágico: fere frontalmente os princípios da lógica formal, bem como os indicativos e imperativos da realidade. Adequa a realidade ao pensamento e não o contrário. o Lei da contiguidade: e o ato mágico agir sobre um objeto que pertenceu a uma pessoa (roupa, adorno, móvel etc.), há a crença de que estará, de fato, agindo sobre a própria pessoa. o Lei da similaridade: A ação ou o pensamento mágico pensa produzir efeito desejado por imitação da ação real. Por exemplo, ao queimar um boneco com alguma semelhança com um inimigo, queimará o próprio inimigo. o Pode estar presente na esquizofrenia, histeria, quadros obsessivos- compulsivos etc. • Pensamento dereístico: um tipo de pensamento que se opõe marcadamente ao pensamento realista. Só obedece a lógica e a realidade quando interessa ao indivíduo. Se volta ao mundo interno do sujeito (como fantasias e sonhos), pode ocorrer em transtornos borderline, histeria, esquizofrenia etc. • Pensamento concreto: não ocorre distinção entre dimensão abstrata e concreta, O indivíduo não consegue entender ou utilizar metáforas, o pensamento é muito aderido ao nível sensorial da experiência. Pode ocorrer em casos de deficiência mental e esquizofrenia. • Pensamento inibido: a inibição do raciocínio, com diminuição da velocidade e do número de conceitos, juízos e representações. Ocorre em quadros demenciais e depressivos graves. • Pensamento vago: o paciente expõe um pensamento muito ambíguo, podendo mesmo parecer obscuro, marcante falta de clareza e precisão do raciocínio. Pode ser um sinal de esquizofrenia ou ocorrer em quadro demenciais, entre outros. • Pensamento prolixo: o paciente não consegue chegar a qualquer conclusão sobre o tema de que está tratando, senão após muito tempo e esforço. A tangencialidade (pensamento tangencial) e a circunstancialidade (pensamento circunstancial) são tipos de pensamento prolixo. A tangencialidade ocorre quando o paciente responde às perguntas de forma oblíqua e irrelevante, não sabendo discriminar o supérfluo do essencial. A circunstancialidade descreve o raciocínio e a digressão do paciente como “rodando em volta do tema”, sem entrar nas questões essenciais e decisivas. Ocorre em pacientes com transtorno de personalidade, com lesões cerebrais, início de um processo esquizofrênico. • Pensamento deficitário: estrutura pobre e rudimentar, o indivíduo tende ao raciocínio concreto; os conceitos são escassos e utilizados em sentido mais literal que abstrato ou metafórico. A abstração apenas ocorre com dificuldade, não há distinção pormenorizada e precisa de categorias como essencial e supérfluo; necessário ou acidental; causa e efeito; o todo e as partes; o real e o imaginário; o concreto e o simbólico. Esse fenômeno de extensa memorização mecânica é denominado ilhotas de memória, ocorrendo geralmente em deficientes mentais e autistas, que, em função de tal habilidade, eram chamados de idiotas-sábios. • Pensamento demencial: um pensamento pobre, porém tal empobrecimento é desigual, pode revelar elaborações mais ou menos sofisticadas, embora de forma geral seja imperfeito. Observa-se conceitos abstratos e aos raciocínios diferenciados e complicados, porém com sua progressão a tendência é prevalecer o pensamento pobre, concreto e desorganizado. Dificuldade em encontrar palavras. • Pensamento confusional: devido à turvação da consciência, é um pensamento incoerente, de curso tortuoso, que impede queo indivíduo apreenda de forma clara e precisa os estímulos ambientais. Marcante dificuldade em estabelecer vínculos entre conceitos e juízos. • Pensamento desagregado: pensamento radicalmente incoerente, no qual os conceitos e os juízos não se articulam minimamente de forma lógica, uma mistura aleatória de palavras que nada comunica ao interlocutor. • Pensamento obsessivo: predominam ideias ou representações, que apesar de terem um conteúdo repulsivo para o indivíduo, se impõem à consciência de modo persistente e incontrolável, luta constante entre as ideias obsessivas e o indivíduo. Com certa frequência em pacientes gravemente obsessivos, aspectos do pensamento mágico também estão presentes. ALTERAÇÕES DO PROCESSO DE PENSAR • curso do pensamento: As principais alterações do curso do pensamento são a aceleração, a lentificação, o bloqueio e o roubo do pensamento. • Aceleração do pensamento: flui de forma muito acelerada, ocorre nos casos de mania esquizofrenia, ansiedades intensas etc. • Lentificação do pensamento: progride lentamente, de forma dificultosa. Há certa latência entre as perguntas formuladas e as respostas. Ocorre principalmente nas depressões graves. • Bloqueio do pensamento: quando o paciente, no meio de uma conversa, interrompe seu pensamento de uma forma brusca e sem motivo aparente. O doente relata que, sem saber por que, “o pensamento para”, é bloqueado. Trata-se de alteração quase que exclusiva da esquizofrenia. • Roubo do pensamento: o doente tem a nítida sensação de que seu pensamento foi roubado de sua mente, por uma força ou ente estranho, uma máquina ou antena. Típico da esquizofrenia. • Forma do pensamento: As principais alterações da forma ou estrutura do pensamento são: fuga de ideias, dissociação e incoerência do pensamento, afrouxamento das associações, descarrilhamento e desagregação do pensamento. • Fuga de ideias: uma ideia se segue a outra de forma extremamente rápida, perturbando-se as associações lógicas entre os juízos e os conceitos. As associações entre as palavras deixam de seguir uma lógica ou finalidade do pensamento e passam a ocorrer por assonância (repetição de consoantes e sílabas, como amor e flor). Muito característica der quadros maníacos. • Dissociação do pensamento: desorganização do pensamento encontrada em certas formas de esquizofrenia. Os pensamentos passam progressivamente a não seguir uma sequência lógica e bem-organizada. • Afrouxamento das associações: as associações parecem mais livres, não tão bem-articuladas. Manifesta-se nas fases iniciais da esquizofrenia e em transtornos da personalidade (sobretudo no da personalidade esquizotípica). • Descarrilhamento do pensamento: pensamento passa a extraviar-se de seu curso normal, toma atalhos colaterais, desvios, pensamentos supérfluos, retornando aqui e acolá ao seu curso original. Geralmente está associado a marcante distraibilidade. • Desagregação do pensamento: profunda e radical perda da coerência de pensamento, sobram apenas “pedaços” de pensamentos, conceitos e ideias fragmentadas, muitas vezes irreconhecíveis, sem qualquer articulação racional. Ocorre em formas avançadas da esquizofrenia e quadros demenciais. Na esquizofrenia ocorre: afrouxamento das associações, descarrilhamento do pensamento e, finalmente, desagregação do pensamento. • Conteúdo do pensamento: o conteúdo do pensamento é aquilo que preenche a estrutura do processo de pensar. Os principais conteúdos que preenchem os sintomas patológicos são: persecutório, depreciativos, religiosos, sexuais, de poder (riqueza, prestígio ou grandeza), de ruína (ou culpa) e conteúdos hipocondríacos tem a ver com a constituição sócio-histórica do indivíduo, sua cultura, estrutura psicológica e neurológica. A persecutoriedade (ou vivências de perseguição) é provavelmente muito importante pelo fato de a sobrevivência em um mundo potencialmente ameaçador ser tema onipresente em quase todos os grupos sociais. Os conteúdos de poder, riqueza, ruína e culpa com certeza também têm conexão com a dimensão de sobrevivência. A sexualidade, por sua vez, possui uma importância que deriva de fatores instintivo-biológicos (sobrevivência da espécie) e psicológicos, pois, paralelamente ao desenvolvimento das relações afetivas. Os temas religiosos e místicos por não haver cultura que a religião desempenhe um papel de organização da representação do mundo e os temas hipocondríacos revelam a importância que o corpo tem para a experiência humana.
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