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Bronquite crônica canina - revisão Clínica Vet

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Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 129, julho/agosto, 201774
Introdução
De causa desconhecida, a bronquite crônica canina
(BCC) é uma enfermidade caracterizada por inflamação
crônica e progressiva dos brônquios, traduzindo-se clini-
camente em tosse persistente e podendo progredir para
insuficiência respiratória 1,2. A primeira descrição da
doença foi feita em um estudo de 1974 3, no qual foram
relatadas as alterações clínicas e patológicas em uma série
Paulo Eduardo Ferian
MV, prof. adj.
Depto. Clín. Méd. Peq. Animais – Udesc
pauloeduferian@yahoo.com.br
Marília Gabriela Luciani
MV, residente
Udesc
marilia_luciani@hotmail.com 
Bronquite crônica canina – revisão
Canine chronic bronchitis – a review
Bronquitis crónica canina – revisión
Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 129, p. 74-80, 2017
Clínica
Resumo: A bronquite crônica canina (BCC) é considerada uma das doenças respi-
ratórias mais comuns em cães. Ela é caracterizada por tosse crônica e progressiva,
com comprometimento da qualidade de vida do paciente. A enfermidade é causada
por um processo inflamatório de origem desconhecida, sendo mais comumente
observada em cães adultos a idosos de raças de pequeno porte. Casos graves da
enfermidade são caracterizados por importantes alterações estruturais das vias
aéreas e podem evoluir para insuficiência respiratória e óbito. A despeito disso, as
informações disponíveis na literatura sobre a moléstia são extremamente limitadas, e
o tratamento preconizado, baseado em poucas evidências científicas consistentes. O
objetivo deste trabalho é realizar uma revisão da literatura sobre o tema, abordando os
aspectos de etiopatogenia, sinais clínicos, exames subsidiários e tratamento da BCC.
Unitermos: cão, tosse, inflamação, brônquios
Abstract: Canine Chronic Bronchitis (CCB) is considered to be one of the most
common chronic respiratory diseases of dogs. The hallmark of CCB is chronic and
progressive cough that leads to poor life quality of the dog. Severe cases may progress
to respiratory insufficiency and death. The cause is an inflammatory process of unknown
origin. The disease is most common in adult and older dogs of small animal breeds.
In severe cases, this chronic inflammatory process progresses to irreversible structural
changes in the airways, resulting in respiratory failure. Despite this, information about
the disease is extremely limited in the literature, and the recommended treatment is
based on poor scientific evidence. Thus, the aim of this study is to review the subject
and describe the etiology, pathophysiology, clinical features, complementary diagnosis
and treatment of CCB.
Keywords: dog, cough, inflammation, bronchi
Resumen: La Bronquitis Crónica Canina (BCC) es considerada una de las enferme-
dades respiratorias más comunes en perros. Se caracteriza por la presencia de tos
crónica y progresiva y afecta la calidad de vida del paciente. La enfermedad es pro-
vocada por un proceso inflamatorio de origen desconocido, y se la observa más en
perros de edad media/avanzada de razas pequeñas. Los casos graves se caracteri-
zan por alteraciones importantes en la estructura de las vías aéreas, que pueden pro-
gresar hasta la insuficiencia respiratoria y muerte. La información disponible en la lite-
ratura es limitada y el tratamiento se fundamenta en pocas evidencias científicas con-
sistentes. El objetivo del presente trabajo fue realizar una revisión de la literatura
sobre el asunto, abordando la etiopatogenia, los signos clínicos, los exámenes
complementarios y el tratamiento de la BCC.
Palabras clave: perros, tos, inflamación, bronquios
de 26 cães com BCC. Embora seja considerada uma das
doenças respiratórias crônicas mais comuns em cães, as
informações disponíveis na literatura são bastante limi-
tadas 1. O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão
de literatura sobre a enfermidade, avaliando aspectos da
etiopatogenia, características clínicas, exames subsi-
diários e terapêutica dessa importante enfermidade res-
piratória.
Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 129, julho/agosto, 2017 75
Etiopatogenia e patologia
Embora sejam conhecidas várias causas de inflamação
bronquial em cães, como parasitas e vírus, a BCC é con-
siderada um processo inflamatório crônico de causa des-
conhecida 4. A etiologia alérgica é a mais provável, e um
estudo recente demonstrou que esses pacientes parecem
apresentar uma predisposição atópica, baseada em um
aumento da relação sérica de células positivas para recep-
tor de quimiocina CC4 e células CD4 (CCR4/CD4) 5.
Contudo, não há uma conclusão definitiva sobre o fator
incitante do processo inflamatório 1,2.
Na maioria dos casos, a inflamação é caracterizada
pelo predomínio de neutrófilos, com aumento variável de
outros tipos celulares, como os eosinófilos 2,6-8. Essas célu-
las liberam uma série de substâncias no tecido pulmonar,
como elastases, proteases e radicais livres de oxigênio,
que contribuem para o aumento de permeabilidade vascu-
lar, recrutamento de novas células inflamatórias, injúria
celular e aumento da produção de muco, ocasionando fre-
quentemente dano tecidual permanente 6. Devido à perda
do epitélio ciliado, ocorre inabilidade do sistema mucoci-
liar em remover debris do trato respiratório 1,6.
As mudanças patológicas que ocorrem na doença são
irreversíveis e progressivas, resultando em remodelamen-
to do tecido pulmonar. Na histopatologia, observa-se in fil -
trado inflamatório e edema na mucosa, perda do epitélio
ciliado, espessamento da musculatura lisa, fibrose, me -
taplasia escamosa, hiperplasia das células caliciformes,
hipertrofia de glândulas mucosas e bronquiectasia 6,8. As
consequências de todo esse processo incluem a obstrução
das vias respiratórias, a diminuição da complacência pul-
monar, o comprometimento da depuração de secreções e
a alteração do equilíbrio entre ventilação e perfusão,
podendo culminar em insuficiência respiratória 2,3,8.
Aspectos clínicos
A BCC pode ocorrer em cães de qualquer porte e raça,
embora seja observada comumente nos de pequeno porte.
A maioria dos casos ocorre em cães adultos a idosos, com
mais de oito anos de idade, embora haja relatos de casos
esporádicos em animais mais jovens 1,9-11.
O sinal clínico mais importante da BCC é a tosse
crôni ca, produtiva ou não, presente por um período
variável, de meses a anos no momento do diagnóstico
inicial. A in ten si dade da tosse varia de discreta a grave,
havendo em geral no último caso comprometimento da
qualidade de vida e possível evolução para insuficiência
respiratória 1,2,4. É possível que o cliente relate o primeiro
episódio como agudo, sem a percepção de tosse em perío-
dos anteriores 2.
Nas fases menos avançadas da enfermidade, o paciente
em geral apresenta-se saudável. No exame físico é possí-
vel auscultar crepitações, devido à presença excessiva de
muco nas vias respiratórias, ou sibilos, em função da obs-
trução de pequenas vias aéreas. Contudo, alguns animais
podem não demonstrar alteração evidente na ausculta pul-
monar 2. Conforme a moléstia se agrava, é possível obser-
var uma dispneia tipicamente expiratória. Nas fases
finais, podem-se observar sinais de insuficiência, como
grave distrição respiratória e cianose 1,2,4,6,9.
A síncope, embora rara, pode ocorrer em decorrência
de tosse, provavelmente em função do aumento do tônus
vagal (síncope tussígena) ou devido ao desenvolvimento
de hipertensão pulmonar 2.
Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 129, julho/agosto, 201776
Exames subsidiários
A radiografia é o principal exame de triagem inicial para
pacientes com suspeita de BCC. Além das alterações
sugestivas, ela ajuda a descartar outras causas de tosse. O
achado radiográfico mais comum é o padrão bronquial,
caracterizado por opacidades circulares e linhas radiopacas
paralelas, que representam as paredes bronquiais espessa-
das 12,13 (Figura 1A). Esse padrão não é específico da BCC,
podendo ser observado em outras doenças bronquiais 13.
Pode haver aumento da trama intersticial, assim como
bronquiectasia (Figuras 1A e 1B).A presença de padrão
alveolar é comum em pneumonias bacterianas oportunistas
2 (Figura 1C). A ausência de alterações radiográficas não
descarta o diagnóstico de BCC, uma vez que parte dos
pacientes apresenta exame radiográfico normal 12. Embora
o diagnóstico definitivo de BCC necessite da documenta-
ção do processo inflamatório por meio de outras técnicas
(lavado broncoalveolar ou biópsia), as alterações clínicas e
o descarte de outras doenças associadas ao exame radio-
gráfico são fortemente sugestivos da enfermidade 2,4.
A tomografia computadorizada apresenta melhor sensi-
bilidade na avaliação das alterações de espessamento bron-
quial observadas na BCC. Contudo, em função do custo, da
disponibilidade e da necessidade de anestesia geral do
paciente, o exame não é recomendado como técnica roti-
neira para todos os pacientes com suspeita de BCC, poden-
do ser utilizado em casos em que a avaliação clínica inicial
e o exame radiográfico se mostram inconclusivos 14.
A broncoscopia com realização de lavado broncoalveo-
lar (LBA) associada aos demais achados clínicos fornece
diagnóstico definitivo de BCC. Na avaliação broncoscópi-
ca da árvore bronquial observam-se sinais de inflamação,
como hiperemia, excesso de muco, mucosa irregular, nó -
dulos fibróticos, bronquiectasia e broncomalácia 1,2,4,6,9
(Fi gura 2). A análise citológica do LBA demonstra comu-
mente aumento da porcentagem de neutrófilos, que em
geral se encontram sem sinais de degeneração. Pode ocor-
rer aumento concomitante de eosinófilos 1,2,11. A maioria dos
pacientes apresenta predominância de neutrófilos, mas em
um número menor de casos a célula preponderante pode
ser o eosinófilo. Nessa segunda situação, é im portante
fazer o diagnóstico diferencial para doenças que levam a
inflamação pulmonar eosinofílica, como a broncopneumo-
patia eosinofílica e as parasitoses pulmonares. Uma alí-
quota de LBA deve ser enviada para realização de cultura
e antibiograma, se possível com cultura quantitativa 15. A
maioria dos pacientes não apresenta infecção bac teriana
associada no momento do diagnóstico 3. Con tu do, a conta-
minação bacteriana pode ocorrer, principal men te em ani-
mais com bronquiectasia. Um re sul tado de cultura positi-
vo deve ser interpretado em conjunto com a avaliação cito-
lógica, que em caso de infecção ver dadeira geralmente
demonstra presença de bactérias e fa gocitose, além de
neutrófilos degenerados. A cultura quan titativa também
Clínica
Figura 1 – A) Exame radiográfico de cão poodle, macho,
doze anos. Notar padrão bronquial acentuado, com opa-
cidades circulares e linhas paralelas radiopacas (setas
amarelas). Observa-se bronquiectasia em brônquio de
lobo cranial (setas verdes). B) Exame radiográfico de
cadela cocker de catorze anos. Observa-se padrão bron-
quial difuso e bronquiectasia pronunciada (setas). C)
Exame feito no paciente da figura A durante pneumonia
bacteriana secundária. Notar desenvolvimento de padrão
alveolar
C
Paulo Ferian
B
Paulo Ferian
A
Paulo Ferian
Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 129, julho/agosto, 2017 77
A B
Paulo Ferian
Figura 2 – Broncoscopia de cão poodle, macho, de cinco anos de idade. A) Observam-se mucosa hiperêmica,
presença de nódulos fibróticos e excesso de muco. B) Brônquios gravemente dilatados (bronquiectasia)
Paulo Ferian
Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 129, julho/agosto, 201778
complicação bacteriana são a piora súbita do quadro de
tosse em paciente anteriormente estável, sinais sistêmicos
como anorexia, apatia e febre, desenvolvimento de leuco-
citose neutrofílica com ou sem desvio e presença de neu-
trófilos tóxicos no hemograma, além de aparecimento de
padrão alveolar no exame radiográfico 1,2.
Diagnósticos diferenciais
As principais doenças incluídas no diagnóstico diferen-
cial são aquelas que causam tosse crônica, principalmente
em cães de pequeno porte. As enfermidades mais im por -
tantes que devem ser consideradas são o colapso de tra-
queia 19-21, a broncomalácia 22-25 e a doença valvar mitral 26.
Além disso, essas enfermidades podem ser diagnosticadas
como comorbidades, sendo necessário avaliar minuciosa-
mente qual a contribuição delas para os sintomas do
paciente 2. Outros diagnósticos diferenciais menos frequen-
tes são as neoplasias e pneumopatias intersticiais, como a
broncopneumopatia eosinofílica 27-29 e a fibrose pulmonar 30.
Tratamento
Existem poucas evidências científicas sobre as reco-
mendações de tratamento para pacientes com BCC 1. Os
objetivos da terapêutica são minimizar os sinais clínicos e
a progressão da doença. A cura não é esperada, mas a
maioria dos pacientes pode obter significativa diminuição
dos sintomas. Alguns cães podem apresentar remissão
completa 4. Os principais fármacos usados no tratamento
são os esteroides, broncodilatadores e antitussígenos 1,2.
Os corticoides, cujo objetivo é minimizar a secreção e
o processo inflamatório que danifica os brônquios, me -
lho rando substancialmente a tosse, são fármacos essen-
ciais na abordagem terapêutica. A prednisona é a escolha
inicial, podendo ser administrada na dose de 1mg/kg uma
a duas vezes ao dia por 7 a 10 dias e com redução progres -
si va da dose (em geral de 25 a 50% a cada 7 dias) até a
menor dose eficaz para manter os sinais clínicos sob con-
trole e com efeitos adversos mínimos (de forma ideal, 0,5
mg/kg a cada 48 ou 72 horas) 1,2,4,6,9. A maioria dos animais
apresenta uma boa resposta inicial com a terapia esteroi-
de, mas não se espera a remissão completa dos sintomas
em todos os casos 1.
Em um estudo, a terapia com corticoide na forma de
aerossol foi sugerida como eficaz na redução dos sinais
clínicos associados a BCC 31. Em seres humanos, a depo-
sição de medicação mais eficaz é atingida com a aspira-
ção oral por meio de inspirações profundas. Mesmo com
esses cuidados, uma porcentagem elevada de pessoas uti-
liza a medicação de forma imprópria, comprometendo a
eficiência desse tipo de tratamento 1. Em cães, portanto, é
bastante questionável a quantidade de fármaco que atinge
as vias aéreas 2. Além disso, é um tratamento mais onero-
so que a terapia oral 1. O tratamento com corticoide na
forma de aerossol pode ser reservado para pacientes que
ajuda a diferenciar infecção verdadeira de contaminação.
Crescimento de uma pequena quantidade de colônias bac-
terianas (menor que 1,7 x 103) 15 e análise citológica
inconsistente com infecção geralmente representam con-
taminação da coleta 1,2,6.
Testes de função pulmonar, embora largamente utilizados
no diagnóstico de doenças das vias aéreas na medicina
humana (ex.: doença pulmonar obstrutiva crônica), são
pouco disponíveis e pobremente padronizados na medicina
veterinária. Além disso, alguns desses parâmetros funcio-
nais dependem da colaboração do paciente, como o volume
expiratório forçado, o que, por motivos óbvios, não pode ser
realizado em cães. De forma mais prática, a hemogasome-
tria pode ser utilizada em casos graves para avaliação das
trocas gasosas, da mesma maneira que em outras doenças
respiratórias que causem algum nível de disfunção 1,2.
Exames laboratoriais rotineiros, como hemograma e
bio química sérica, em geral não são de grande valia, ex -
ce to em casos de pneumonias bacterianas oportunistas,
em que se pode observar o desenvolvimento de neutrofilia
com desvio à esquerda e presença de neutrófilos tóxicos 2.
Em áreas endêmicas, o exame fecal pode ser realizado
para descarte de parasitas pulmonares 16. Não foram en -
contradas descrições na literatura consultada de casos de
parasitas pulmonares caninos no Brasil. Assim, em nosso
país, os parasitas pulmonares aparentemente são raros e de
menor importância como diagnóstico diferencial.
Complicações
As principais complicações da BCC são a bronquiecta-
sia e a pneumonia bacteriana oportunista. Esses dois fato-
res estão intimamente ligados, uma vez que é muito mais
comum que a infecção ocorra em pacientes com bron-
quiectasia 2,17,18. Embora a hipertensão pulmonar seja suge-
rida como complicação em pacientes com BCC, a por-
centagem depacientes com BCC que desenvolvem hiper-
tensão pulmonar é desconhecida 2.
A bronquiectasia é caracterizada pela destruição das
es truturas anatômicas normais da parede bronquial pelo
pro cesso inflamatório, com consequente dilatação irre -
ver sível do brônquio 17,18. Devido a esse processo, o orga -
nis mo não consegue mais mobilizar o muco produzido
em excesso para fora das vias respiratórias dilatadas, le -
vando ao seu acúmulo distalmente à região dilatada. Tal
fator leva ao agravamento dos sintomas, além de facilitar
a contaminação bacteriana. O diagnóstico da bronquiecta-
sia pode ser feito por exame radiográfico, no qual se
observam linhas radiopacas paralelas (parede bronquial
es pessada), que não se afunilam em direção à periferia do
lobo pulmonar 13,17. Em alguns casos, a alteração só pode
ser observada por meio de broncoscopia ou tomografia 14,17.
A infecção bacteriana é um evento comum em pacientes
com bronquiectasia, podendo ocorrer de forma recorrente
(várias infecções no ano) 1,17. Os principais indicativos de
Clínica
Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 129, julho/agosto, 2017 79
necessitem de doses altas de prednisona oral para contro-
le dos sinais ou que possuam alguma contraindicação
para o seu uso (ex.: diabetes melito) 4. Recomenda-se o
uso da fluticasona administrada por meio de máscara e
espaçador. A dose para cães não foi bem estabelecida,
sugerindo-se inicialmente 10 a 20 µg/kg duas vezes ao
dia. O ajuste da terapia segue a mesma premissa anterior,
procurando-se usar o mínimo de fármaco possível para
controle dos sinais clínicos 13.
Os antitussígenos podem ser úteis para minimizar a
tosse, principalmente em pacientes que não apresentam
melhora efetiva após terapia esteroide. Embora seja um
mecanismo de defesa do trato respiratório, a tosse torna-
se nesses casos um fator de decréscimo de qualidade de
vida e causa lesão adicional nas vias respiratórias, além
de ser um fator de estresse significativo para os proprie-
tários 4,6. Os agentes narcóticos são os mais efetivos, como
a codeína na dose de 1 a 2 mg/kg duas a quatro vezes ao
dia 21. A medicação deve ser usada com cautela em
pacientes com bronquiectasia, em função do risco de
retenção de muco e exacerbação bacteriana 4. O tempo de
tratamento não é estabelecido, devendo ficar a cargo do
clínico o ajuste da melhor dose e da necessidade de inter-
rupção ou continuidade do tratamento 32-34. Um trabalho
recente avaliou o uso do maropitant, um antagonista de
receptores de neurocinina-1, como agente supressor de
tosse em pacientes com BCC, além de estudar suas possí-
veis propriedades anti-inflamatórias. Embora o fármaco
tenha sido útil em diminuir a intensidade da tosse, o pro-
cesso inflamatório permaneceu inalterado 35.
Os broncodilatadores podem ser utilizados numa tenta-
tiva de melhorar o fluxo respiratório e reverter parte da
obstrução das vias aéreas 2,8. A obstrução do fluxo aéreo
devido ao excesso de muco e de inflamação é um evento
documentado nesses pacientes 8, e pode haver benefício
com o uso dessa classe de medicamentos. Os fármacos
mais utilizados pertencem à classe dos metilxantínicos
(teofilina e aminofilina) e agonistas β2-adrenérgicos (ter-
butalina e salbutamol) 2,4.
Outras medidas que podem ser sugeridas numa tentati-
va de melhorar a condição clínica do paciente ou prevenir
complicações incluem nebulização (solução fisiológica
três vezes ao dia por 15 minutos), perda de peso, dimi-
nuição de poluentes ambientais (ex.: fumaça de cigarro) e
vacinação anual para traqueobronquite infecciosa 4,6,9.
A terapia antibiótica é recomendada apenas em pacien-
tes com evidência clínica (piora da tosse, febre, apatia,
hiporexia) ou em exames subsidiários (exame radiográfico
e/ou hemograma) sugestivos de infecção 4. Se possível,
podem-se obter amostras das vias respiratórias como LBA
para confirmação da infecção e realização de antibiogra-
ma. A terapia antibiótica domiciliar pode ser recomenda-
da em pacientes com pneumonia e sem sinais de distrição
respiratória grave e que não precisem de terapia auxiliar,
como fluido e oxigenioterapia. Os potenciais patógenos
que causam pneumonia oportunista são muito variados, e
o padrão de sensibilidade é imprevisível. Pode-se utilizar
amoxicilina com clavulanato de potássio 20 a 25 mg/kg
duas a três vezes ao dia 36,37. Animais com sinais de insufi-
ciência respiratória (saturação de O2 abaixo de 94 ou PaO2
< 80 mmHg) devem ser internados, e deve-se iniciar tera-
pia intravenosa de amplo espectro, assim como medidas
adequadas de suporte, como fluidoterapia e oxigeniotera-
pia 4,37. Espera-se uma melhora evidente dos parâmetros
clínicos e radiográficos dentro de 48 a 72 horas. Caso isso
não ocorra, devem-se considerar alteração do fármaco,
coleta de material para cultura e reavaliação do diagnósti-
co. O tempo de terapia antibiótica deve ser prolongado
nesses animais, principalmente em casos de bronquiecta-
sia, podendo estender-se por três a quatro semanas 37.
Prognóstico
O prognóstico da BCC é variável. Alguns pacientes
podem ter sinais bem controlados e viver com qualidade de
vida por períodos prolongados, embora não haja expectativa
de cura, uma vez que os danos nas vias respiratórias em geral
são permanentes 1,2. Animais com bronquiectasia e infecções
de repetição têm um prognóstico pior, em geral evoluindo
para insuficiência respiratória. Mesmo esses pacientes
podem ter sobrevida de meses a anos, se acompanhados e
tratados de forma apropriada. O acompanhamento clínico
rigoroso, com identificação de potenciais complicações e
realização de ajustes terapêuticos necessários, é importante
para maximizar a qualidade de vida do paciente 4.
Considerações finais
A BCC é uma das principais enfermidades respirató-
rias em cães. A associação das alterações clínicas, radio-
gráficas e endoscópicas e o descarte de outras causas da
tosse crônica formam a base da abordagem diagnóstica.
As condutas terapêuticas de longo prazo e o manejo das
potenciais complicações visam melhorar a qualidade de
vida do paciente e minimizar a progressão da doença.
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