Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 129, julho/agosto, 201774 Introdução De causa desconhecida, a bronquite crônica canina (BCC) é uma enfermidade caracterizada por inflamação crônica e progressiva dos brônquios, traduzindo-se clini- camente em tosse persistente e podendo progredir para insuficiência respiratória 1,2. A primeira descrição da doença foi feita em um estudo de 1974 3, no qual foram relatadas as alterações clínicas e patológicas em uma série Paulo Eduardo Ferian MV, prof. adj. Depto. Clín. Méd. Peq. Animais – Udesc pauloeduferian@yahoo.com.br Marília Gabriela Luciani MV, residente Udesc marilia_luciani@hotmail.com Bronquite crônica canina – revisão Canine chronic bronchitis – a review Bronquitis crónica canina – revisión Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 129, p. 74-80, 2017 Clínica Resumo: A bronquite crônica canina (BCC) é considerada uma das doenças respi- ratórias mais comuns em cães. Ela é caracterizada por tosse crônica e progressiva, com comprometimento da qualidade de vida do paciente. A enfermidade é causada por um processo inflamatório de origem desconhecida, sendo mais comumente observada em cães adultos a idosos de raças de pequeno porte. Casos graves da enfermidade são caracterizados por importantes alterações estruturais das vias aéreas e podem evoluir para insuficiência respiratória e óbito. A despeito disso, as informações disponíveis na literatura sobre a moléstia são extremamente limitadas, e o tratamento preconizado, baseado em poucas evidências científicas consistentes. O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão da literatura sobre o tema, abordando os aspectos de etiopatogenia, sinais clínicos, exames subsidiários e tratamento da BCC. Unitermos: cão, tosse, inflamação, brônquios Abstract: Canine Chronic Bronchitis (CCB) is considered to be one of the most common chronic respiratory diseases of dogs. The hallmark of CCB is chronic and progressive cough that leads to poor life quality of the dog. Severe cases may progress to respiratory insufficiency and death. The cause is an inflammatory process of unknown origin. The disease is most common in adult and older dogs of small animal breeds. In severe cases, this chronic inflammatory process progresses to irreversible structural changes in the airways, resulting in respiratory failure. Despite this, information about the disease is extremely limited in the literature, and the recommended treatment is based on poor scientific evidence. Thus, the aim of this study is to review the subject and describe the etiology, pathophysiology, clinical features, complementary diagnosis and treatment of CCB. Keywords: dog, cough, inflammation, bronchi Resumen: La Bronquitis Crónica Canina (BCC) es considerada una de las enferme- dades respiratorias más comunes en perros. Se caracteriza por la presencia de tos crónica y progresiva y afecta la calidad de vida del paciente. La enfermedad es pro- vocada por un proceso inflamatorio de origen desconocido, y se la observa más en perros de edad media/avanzada de razas pequeñas. Los casos graves se caracteri- zan por alteraciones importantes en la estructura de las vías aéreas, que pueden pro- gresar hasta la insuficiencia respiratoria y muerte. La información disponible en la lite- ratura es limitada y el tratamiento se fundamenta en pocas evidencias científicas con- sistentes. El objetivo del presente trabajo fue realizar una revisión de la literatura sobre el asunto, abordando la etiopatogenia, los signos clínicos, los exámenes complementarios y el tratamiento de la BCC. Palabras clave: perros, tos, inflamación, bronquios de 26 cães com BCC. Embora seja considerada uma das doenças respiratórias crônicas mais comuns em cães, as informações disponíveis na literatura são bastante limi- tadas 1. O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão de literatura sobre a enfermidade, avaliando aspectos da etiopatogenia, características clínicas, exames subsi- diários e terapêutica dessa importante enfermidade res- piratória. Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 129, julho/agosto, 2017 75 Etiopatogenia e patologia Embora sejam conhecidas várias causas de inflamação bronquial em cães, como parasitas e vírus, a BCC é con- siderada um processo inflamatório crônico de causa des- conhecida 4. A etiologia alérgica é a mais provável, e um estudo recente demonstrou que esses pacientes parecem apresentar uma predisposição atópica, baseada em um aumento da relação sérica de células positivas para recep- tor de quimiocina CC4 e células CD4 (CCR4/CD4) 5. Contudo, não há uma conclusão definitiva sobre o fator incitante do processo inflamatório 1,2. Na maioria dos casos, a inflamação é caracterizada pelo predomínio de neutrófilos, com aumento variável de outros tipos celulares, como os eosinófilos 2,6-8. Essas célu- las liberam uma série de substâncias no tecido pulmonar, como elastases, proteases e radicais livres de oxigênio, que contribuem para o aumento de permeabilidade vascu- lar, recrutamento de novas células inflamatórias, injúria celular e aumento da produção de muco, ocasionando fre- quentemente dano tecidual permanente 6. Devido à perda do epitélio ciliado, ocorre inabilidade do sistema mucoci- liar em remover debris do trato respiratório 1,6. As mudanças patológicas que ocorrem na doença são irreversíveis e progressivas, resultando em remodelamen- to do tecido pulmonar. Na histopatologia, observa-se in fil - trado inflamatório e edema na mucosa, perda do epitélio ciliado, espessamento da musculatura lisa, fibrose, me - taplasia escamosa, hiperplasia das células caliciformes, hipertrofia de glândulas mucosas e bronquiectasia 6,8. As consequências de todo esse processo incluem a obstrução das vias respiratórias, a diminuição da complacência pul- monar, o comprometimento da depuração de secreções e a alteração do equilíbrio entre ventilação e perfusão, podendo culminar em insuficiência respiratória 2,3,8. Aspectos clínicos A BCC pode ocorrer em cães de qualquer porte e raça, embora seja observada comumente nos de pequeno porte. A maioria dos casos ocorre em cães adultos a idosos, com mais de oito anos de idade, embora haja relatos de casos esporádicos em animais mais jovens 1,9-11. O sinal clínico mais importante da BCC é a tosse crôni ca, produtiva ou não, presente por um período variável, de meses a anos no momento do diagnóstico inicial. A in ten si dade da tosse varia de discreta a grave, havendo em geral no último caso comprometimento da qualidade de vida e possível evolução para insuficiência respiratória 1,2,4. É possível que o cliente relate o primeiro episódio como agudo, sem a percepção de tosse em perío- dos anteriores 2. Nas fases menos avançadas da enfermidade, o paciente em geral apresenta-se saudável. No exame físico é possí- vel auscultar crepitações, devido à presença excessiva de muco nas vias respiratórias, ou sibilos, em função da obs- trução de pequenas vias aéreas. Contudo, alguns animais podem não demonstrar alteração evidente na ausculta pul- monar 2. Conforme a moléstia se agrava, é possível obser- var uma dispneia tipicamente expiratória. Nas fases finais, podem-se observar sinais de insuficiência, como grave distrição respiratória e cianose 1,2,4,6,9. A síncope, embora rara, pode ocorrer em decorrência de tosse, provavelmente em função do aumento do tônus vagal (síncope tussígena) ou devido ao desenvolvimento de hipertensão pulmonar 2. Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 129, julho/agosto, 201776 Exames subsidiários A radiografia é o principal exame de triagem inicial para pacientes com suspeita de BCC. Além das alterações sugestivas, ela ajuda a descartar outras causas de tosse. O achado radiográfico mais comum é o padrão bronquial, caracterizado por opacidades circulares e linhas radiopacas paralelas, que representam as paredes bronquiais espessa- das 12,13 (Figura 1A). Esse padrão não é específico da BCC, podendo ser observado em outras doenças bronquiais 13. Pode haver aumento da trama intersticial, assim como bronquiectasia (Figuras 1A e 1B).A presença de padrão alveolar é comum em pneumonias bacterianas oportunistas 2 (Figura 1C). A ausência de alterações radiográficas não descarta o diagnóstico de BCC, uma vez que parte dos pacientes apresenta exame radiográfico normal 12. Embora o diagnóstico definitivo de BCC necessite da documenta- ção do processo inflamatório por meio de outras técnicas (lavado broncoalveolar ou biópsia), as alterações clínicas e o descarte de outras doenças associadas ao exame radio- gráfico são fortemente sugestivos da enfermidade 2,4. A tomografia computadorizada apresenta melhor sensi- bilidade na avaliação das alterações de espessamento bron- quial observadas na BCC. Contudo, em função do custo, da disponibilidade e da necessidade de anestesia geral do paciente, o exame não é recomendado como técnica roti- neira para todos os pacientes com suspeita de BCC, poden- do ser utilizado em casos em que a avaliação clínica inicial e o exame radiográfico se mostram inconclusivos 14. A broncoscopia com realização de lavado broncoalveo- lar (LBA) associada aos demais achados clínicos fornece diagnóstico definitivo de BCC. Na avaliação broncoscópi- ca da árvore bronquial observam-se sinais de inflamação, como hiperemia, excesso de muco, mucosa irregular, nó - dulos fibróticos, bronquiectasia e broncomalácia 1,2,4,6,9 (Fi gura 2). A análise citológica do LBA demonstra comu- mente aumento da porcentagem de neutrófilos, que em geral se encontram sem sinais de degeneração. Pode ocor- rer aumento concomitante de eosinófilos 1,2,11. A maioria dos pacientes apresenta predominância de neutrófilos, mas em um número menor de casos a célula preponderante pode ser o eosinófilo. Nessa segunda situação, é im portante fazer o diagnóstico diferencial para doenças que levam a inflamação pulmonar eosinofílica, como a broncopneumo- patia eosinofílica e as parasitoses pulmonares. Uma alí- quota de LBA deve ser enviada para realização de cultura e antibiograma, se possível com cultura quantitativa 15. A maioria dos pacientes não apresenta infecção bac teriana associada no momento do diagnóstico 3. Con tu do, a conta- minação bacteriana pode ocorrer, principal men te em ani- mais com bronquiectasia. Um re sul tado de cultura positi- vo deve ser interpretado em conjunto com a avaliação cito- lógica, que em caso de infecção ver dadeira geralmente demonstra presença de bactérias e fa gocitose, além de neutrófilos degenerados. A cultura quan titativa também Clínica Figura 1 – A) Exame radiográfico de cão poodle, macho, doze anos. Notar padrão bronquial acentuado, com opa- cidades circulares e linhas paralelas radiopacas (setas amarelas). Observa-se bronquiectasia em brônquio de lobo cranial (setas verdes). B) Exame radiográfico de cadela cocker de catorze anos. Observa-se padrão bron- quial difuso e bronquiectasia pronunciada (setas). C) Exame feito no paciente da figura A durante pneumonia bacteriana secundária. Notar desenvolvimento de padrão alveolar C Paulo Ferian B Paulo Ferian A Paulo Ferian Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 129, julho/agosto, 2017 77 A B Paulo Ferian Figura 2 – Broncoscopia de cão poodle, macho, de cinco anos de idade. A) Observam-se mucosa hiperêmica, presença de nódulos fibróticos e excesso de muco. B) Brônquios gravemente dilatados (bronquiectasia) Paulo Ferian Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 129, julho/agosto, 201778 complicação bacteriana são a piora súbita do quadro de tosse em paciente anteriormente estável, sinais sistêmicos como anorexia, apatia e febre, desenvolvimento de leuco- citose neutrofílica com ou sem desvio e presença de neu- trófilos tóxicos no hemograma, além de aparecimento de padrão alveolar no exame radiográfico 1,2. Diagnósticos diferenciais As principais doenças incluídas no diagnóstico diferen- cial são aquelas que causam tosse crônica, principalmente em cães de pequeno porte. As enfermidades mais im por - tantes que devem ser consideradas são o colapso de tra- queia 19-21, a broncomalácia 22-25 e a doença valvar mitral 26. Além disso, essas enfermidades podem ser diagnosticadas como comorbidades, sendo necessário avaliar minuciosa- mente qual a contribuição delas para os sintomas do paciente 2. Outros diagnósticos diferenciais menos frequen- tes são as neoplasias e pneumopatias intersticiais, como a broncopneumopatia eosinofílica 27-29 e a fibrose pulmonar 30. Tratamento Existem poucas evidências científicas sobre as reco- mendações de tratamento para pacientes com BCC 1. Os objetivos da terapêutica são minimizar os sinais clínicos e a progressão da doença. A cura não é esperada, mas a maioria dos pacientes pode obter significativa diminuição dos sintomas. Alguns cães podem apresentar remissão completa 4. Os principais fármacos usados no tratamento são os esteroides, broncodilatadores e antitussígenos 1,2. Os corticoides, cujo objetivo é minimizar a secreção e o processo inflamatório que danifica os brônquios, me - lho rando substancialmente a tosse, são fármacos essen- ciais na abordagem terapêutica. A prednisona é a escolha inicial, podendo ser administrada na dose de 1mg/kg uma a duas vezes ao dia por 7 a 10 dias e com redução progres - si va da dose (em geral de 25 a 50% a cada 7 dias) até a menor dose eficaz para manter os sinais clínicos sob con- trole e com efeitos adversos mínimos (de forma ideal, 0,5 mg/kg a cada 48 ou 72 horas) 1,2,4,6,9. A maioria dos animais apresenta uma boa resposta inicial com a terapia esteroi- de, mas não se espera a remissão completa dos sintomas em todos os casos 1. Em um estudo, a terapia com corticoide na forma de aerossol foi sugerida como eficaz na redução dos sinais clínicos associados a BCC 31. Em seres humanos, a depo- sição de medicação mais eficaz é atingida com a aspira- ção oral por meio de inspirações profundas. Mesmo com esses cuidados, uma porcentagem elevada de pessoas uti- liza a medicação de forma imprópria, comprometendo a eficiência desse tipo de tratamento 1. Em cães, portanto, é bastante questionável a quantidade de fármaco que atinge as vias aéreas 2. Além disso, é um tratamento mais onero- so que a terapia oral 1. O tratamento com corticoide na forma de aerossol pode ser reservado para pacientes que ajuda a diferenciar infecção verdadeira de contaminação. Crescimento de uma pequena quantidade de colônias bac- terianas (menor que 1,7 x 103) 15 e análise citológica inconsistente com infecção geralmente representam con- taminação da coleta 1,2,6. Testes de função pulmonar, embora largamente utilizados no diagnóstico de doenças das vias aéreas na medicina humana (ex.: doença pulmonar obstrutiva crônica), são pouco disponíveis e pobremente padronizados na medicina veterinária. Além disso, alguns desses parâmetros funcio- nais dependem da colaboração do paciente, como o volume expiratório forçado, o que, por motivos óbvios, não pode ser realizado em cães. De forma mais prática, a hemogasome- tria pode ser utilizada em casos graves para avaliação das trocas gasosas, da mesma maneira que em outras doenças respiratórias que causem algum nível de disfunção 1,2. Exames laboratoriais rotineiros, como hemograma e bio química sérica, em geral não são de grande valia, ex - ce to em casos de pneumonias bacterianas oportunistas, em que se pode observar o desenvolvimento de neutrofilia com desvio à esquerda e presença de neutrófilos tóxicos 2. Em áreas endêmicas, o exame fecal pode ser realizado para descarte de parasitas pulmonares 16. Não foram en - contradas descrições na literatura consultada de casos de parasitas pulmonares caninos no Brasil. Assim, em nosso país, os parasitas pulmonares aparentemente são raros e de menor importância como diagnóstico diferencial. Complicações As principais complicações da BCC são a bronquiecta- sia e a pneumonia bacteriana oportunista. Esses dois fato- res estão intimamente ligados, uma vez que é muito mais comum que a infecção ocorra em pacientes com bron- quiectasia 2,17,18. Embora a hipertensão pulmonar seja suge- rida como complicação em pacientes com BCC, a por- centagem depacientes com BCC que desenvolvem hiper- tensão pulmonar é desconhecida 2. A bronquiectasia é caracterizada pela destruição das es truturas anatômicas normais da parede bronquial pelo pro cesso inflamatório, com consequente dilatação irre - ver sível do brônquio 17,18. Devido a esse processo, o orga - nis mo não consegue mais mobilizar o muco produzido em excesso para fora das vias respiratórias dilatadas, le - vando ao seu acúmulo distalmente à região dilatada. Tal fator leva ao agravamento dos sintomas, além de facilitar a contaminação bacteriana. O diagnóstico da bronquiecta- sia pode ser feito por exame radiográfico, no qual se observam linhas radiopacas paralelas (parede bronquial es pessada), que não se afunilam em direção à periferia do lobo pulmonar 13,17. Em alguns casos, a alteração só pode ser observada por meio de broncoscopia ou tomografia 14,17. A infecção bacteriana é um evento comum em pacientes com bronquiectasia, podendo ocorrer de forma recorrente (várias infecções no ano) 1,17. Os principais indicativos de Clínica Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 129, julho/agosto, 2017 79 necessitem de doses altas de prednisona oral para contro- le dos sinais ou que possuam alguma contraindicação para o seu uso (ex.: diabetes melito) 4. Recomenda-se o uso da fluticasona administrada por meio de máscara e espaçador. A dose para cães não foi bem estabelecida, sugerindo-se inicialmente 10 a 20 µg/kg duas vezes ao dia. O ajuste da terapia segue a mesma premissa anterior, procurando-se usar o mínimo de fármaco possível para controle dos sinais clínicos 13. Os antitussígenos podem ser úteis para minimizar a tosse, principalmente em pacientes que não apresentam melhora efetiva após terapia esteroide. Embora seja um mecanismo de defesa do trato respiratório, a tosse torna- se nesses casos um fator de decréscimo de qualidade de vida e causa lesão adicional nas vias respiratórias, além de ser um fator de estresse significativo para os proprie- tários 4,6. Os agentes narcóticos são os mais efetivos, como a codeína na dose de 1 a 2 mg/kg duas a quatro vezes ao dia 21. A medicação deve ser usada com cautela em pacientes com bronquiectasia, em função do risco de retenção de muco e exacerbação bacteriana 4. O tempo de tratamento não é estabelecido, devendo ficar a cargo do clínico o ajuste da melhor dose e da necessidade de inter- rupção ou continuidade do tratamento 32-34. Um trabalho recente avaliou o uso do maropitant, um antagonista de receptores de neurocinina-1, como agente supressor de tosse em pacientes com BCC, além de estudar suas possí- veis propriedades anti-inflamatórias. Embora o fármaco tenha sido útil em diminuir a intensidade da tosse, o pro- cesso inflamatório permaneceu inalterado 35. Os broncodilatadores podem ser utilizados numa tenta- tiva de melhorar o fluxo respiratório e reverter parte da obstrução das vias aéreas 2,8. A obstrução do fluxo aéreo devido ao excesso de muco e de inflamação é um evento documentado nesses pacientes 8, e pode haver benefício com o uso dessa classe de medicamentos. Os fármacos mais utilizados pertencem à classe dos metilxantínicos (teofilina e aminofilina) e agonistas β2-adrenérgicos (ter- butalina e salbutamol) 2,4. Outras medidas que podem ser sugeridas numa tentati- va de melhorar a condição clínica do paciente ou prevenir complicações incluem nebulização (solução fisiológica três vezes ao dia por 15 minutos), perda de peso, dimi- nuição de poluentes ambientais (ex.: fumaça de cigarro) e vacinação anual para traqueobronquite infecciosa 4,6,9. A terapia antibiótica é recomendada apenas em pacien- tes com evidência clínica (piora da tosse, febre, apatia, hiporexia) ou em exames subsidiários (exame radiográfico e/ou hemograma) sugestivos de infecção 4. Se possível, podem-se obter amostras das vias respiratórias como LBA para confirmação da infecção e realização de antibiogra- ma. A terapia antibiótica domiciliar pode ser recomenda- da em pacientes com pneumonia e sem sinais de distrição respiratória grave e que não precisem de terapia auxiliar, como fluido e oxigenioterapia. Os potenciais patógenos que causam pneumonia oportunista são muito variados, e o padrão de sensibilidade é imprevisível. Pode-se utilizar amoxicilina com clavulanato de potássio 20 a 25 mg/kg duas a três vezes ao dia 36,37. Animais com sinais de insufi- ciência respiratória (saturação de O2 abaixo de 94 ou PaO2 < 80 mmHg) devem ser internados, e deve-se iniciar tera- pia intravenosa de amplo espectro, assim como medidas adequadas de suporte, como fluidoterapia e oxigeniotera- pia 4,37. Espera-se uma melhora evidente dos parâmetros clínicos e radiográficos dentro de 48 a 72 horas. Caso isso não ocorra, devem-se considerar alteração do fármaco, coleta de material para cultura e reavaliação do diagnósti- co. O tempo de terapia antibiótica deve ser prolongado nesses animais, principalmente em casos de bronquiecta- sia, podendo estender-se por três a quatro semanas 37. Prognóstico O prognóstico da BCC é variável. Alguns pacientes podem ter sinais bem controlados e viver com qualidade de vida por períodos prolongados, embora não haja expectativa de cura, uma vez que os danos nas vias respiratórias em geral são permanentes 1,2. Animais com bronquiectasia e infecções de repetição têm um prognóstico pior, em geral evoluindo para insuficiência respiratória. Mesmo esses pacientes podem ter sobrevida de meses a anos, se acompanhados e tratados de forma apropriada. O acompanhamento clínico rigoroso, com identificação de potenciais complicações e realização de ajustes terapêuticos necessários, é importante para maximizar a qualidade de vida do paciente 4. Considerações finais A BCC é uma das principais enfermidades respirató- rias em cães. A associação das alterações clínicas, radio- gráficas e endoscópicas e o descarte de outras causas da tosse crônica formam a base da abordagem diagnóstica. As condutas terapêuticas de longo prazo e o manejo das potenciais complicações visam melhorar a qualidade de vida do paciente e minimizar a progressão da doença. Referências 01-McKIERNAN, B. C. Diagnosis and treatment of canine chronic bronchitis. Twenty years of experience. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 30, n. 6, p. 1267-1278, 2000. 02-ROZANSKI, E. Canine chronic bronchitis. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 44, n. 1, p. 107-116, 2014. doi: 10.1016/j.cvsm.2013.09.005. 03-WHEELDON, E. B. ; PIRIE, H. M. ; FISHER, E. W. ; LEE, R. Chronic bronchitis in the dog. The Veterinary Record, v. 94, n. 20, p. 466-471, 1974. 04-HAWKINS, E. C. Doenças da traqueia e brônquios. In: NELSON, R. W. ; COUTO, C. G. Medicina interna de pequenos animais, 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010, p. 284-300. ISBN: 978- 8535234459. 05-YAMAYA, Y. ; WATARI, T. Increased proportions of CCR4+ cells among peripheral blood CD4+ cells and serum levels of allergen- Clínica Veterinária, Ano XXII, n. 129, julho/agosto, 201780 68, 2014. ISSN: 1413-571X. 23-JOHNSON, L. R. ; POLLARD, R. E. Tracheal collapse and bronchomalacia in dogs: 58 cases (7/2001-1/2008). Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 24, n. 4, p. 298-305, 2010. doi: 10.1111/j.1939-1676.2009.0451.x. 24-ADAMAMA-MORAITOU, K. K. ; PARDALI, D. ; DAY, M. J. ; PRASSINOS, N. N. ; KRITSEPI-KONSTANTINOU, M. ; PATSIKAS, M. N. ; RALLIS, T. S. Canine bronchomalacia: a clinicopathological study of 18 cases diagnosed by endoscopy. Veterinary Journal, v. 191, n. 2, p. 261-266, 2012. doi: 10.1016/j.tvjl.2010.11.021. 25-BOTTERO, E. ; BELLINO, C. ; DE LORENZI, D. ; RUGGIERO, P. ; TARDUCCI, A. ; D’ANGELO, A. ; GIANELLA, P. Clinical evaluation and endoscopic classification of bronchomalacia in dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 27, n. 4, p. 840-846, 2013. doi: 10.1111/jvim.12096. 26-SINGH, M. K. ; JOHNSON, L. R. ; KITTLESON, M. D. ; POLLARD, R. E. Bronchomalacia in dogs with myxomatous mitral valve degeneration. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 26, n. 2, p. 312-319, 2012.doi: 10.1111/j.1939- 1676.2012.00887.x. 27-CLERCX, C. ; PEETERS, D. ; SNAPS, F. ; HANSEN, P. ; McENTEE, K. ; DETILLEUX, J. ; HENROTEAUX, M. ; DAY, M. J. Eosinophilic bronchopneumopathy in dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 14, n. 3, p. 282-291, 2000. doi: 10.1111/j.1939-1676.2000.tb01168.x. 28-CLERCX, C. ; PEETERS, D. Canine eosinophilic bronchopneu- mopathy. The Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 37, n. 5, p. 917-935, 2007. doi: 10.1016/j.cvsm.2007.05.007. 29-CORCORAN, B. M. ; THODAY, K. L. ; HENFREY, J. I. ; SIMPSON, J. W. ; BURNIE, A. G. ; MOONEY, C. T. Pulmonary infiltration with eosinophils in 14 dogs. Journal of Small Animal Practice, v. 32, n. 10, p. 494-502, 1991. doi: 10.1111/j.1748- 5827.1991.tb00863.x. 30-HEIKKILÄ-LAURILA, H. P. ; RAJAMÄKI, M. M. Idiopathic pulmonary fibrosis in West Highland white terriers. The Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 44, n. 1, p. 129-142, 2014. doi: 10.1016/j.cvsm.2013.08.003. 31-BEXFIELD, N. H. ; FOALE, R. D. ; DAVIDSON, L. J. ; WATSON, P. J. ; SKELLY, B. J. ; HERRTAGE, M. E. Management of 13 cases of canine respiratory disease using inhaled corticosteroids. The Journal of Small Animal Practice, v. 47, n. 7, p. 377-382, 2006. doi: 10.1111/j.1748-5827.2006.00028.x 32-LASCELLES, B. D. X. Treatment of tracheal collapse. In: NORTH AMERICAN VETERINARY CONFERENCE, 2005, Orlando. Proceedings... Orlando: NAVC, 2005. p. 1058-1059. 33-LYNELLE, J. Chronic cough in the dog: approach and management. In: SOUTHERN EUROPEAN VETERINARY CONFERENCE, 44., 2009, Barcelona. Proceedings… Barcelona: SEVC, 2009. 34-FORD, R. B. Chronic cough in the dog. In: LATIN AMERICA VETERINARY CONFERENCE, 2011, Lima. Proceedings… Lima: LAVC, 2011. 35-GROBMAN, M. ; REINERO, C. Investigation of neurokinin-1 receptor antagonism as a novel treatment for chronic bronchitis in dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 30, n. 3, p. 847-852, 2016. doi: 10.1111/jvim.13935. 36-DEAR, J. D. Bacterial pneumonia in dogs and cats. The Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 44, n. 1, p. 143-159, 2014. doi: 10.1016/j.cvsm.2013.09.003. 37-COHN, L. A. Pulmonary parenchymal disease. In: ETTINGER, S. J. ; FELDMAN, E. C. Textbook of veterinary internal medicine. 7. ed. St. Louis: Elsevier, 2010. p. 1096-1119. ISBN: 978- 1416065937. specific IgE antibody in canine chronic rhinitis and bronchitis. The Journal of Veterinary Medical Science, v. 77, n. 4, p. 421-425, 2015. doi: 10.1292/jvms.14-0338. 06-ETTINGER, S. J. Diseases of the trachea and upper airways. In: ETTINGER, S. J. ; FELDMAN, E. C. Textbook of veterinary internal medicine. 7. ed. St. Louis: Elsevier, 2010. p. 1066-1087. ISBN: 978-1416065937. 07-PADRID, P. ; AMIS, T. C. Chronic tracheobronchial disease in the dog. The Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 22, n. 5. p. 1203-1229, 1992. doi: 10.1016/S0195- 5616(92)50310-2. 08-PADRID, P. A. ; HORNOF, W. J. ; KURPERSHOEK, C. J. ; CROSS, C. E. Canine chronic bronchitis: a pathophysiologic evaluation of 18 cases. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 4, n. 3, p. 172- 180, 1990. doi: 10.1111/j.1939-1676.1990.tb00892.x. 09-KUEHN, N. F. Chronic bronchitis in dogs. In: KING, L. G. Textbook of respiratory disease in dogs and cats. 1. ed. St. Louis: Elsevier, 2004. p. 379-387. ISBN: 978-0721687063. 10-FORD, R. B. Chronic lung disease in old dogs and cats. The Veterinary Record, v. 126, n. 16, p. 399-402, 1990. 11-BROWNLIE, S. E. A retrospective study of diagnosis in 109 cases of canine lower respiratory disease. Journal of Small Animal Practice, v. 31, n. 8, p. 371-376, 1990. doi: 10.1111/j.1748- 5827.1990.tb00482.x. 12-MANTIS, P. ; LAMB, C. R. ; BOSWOOD, A. Assessment of the accuracy of thoracic radiography in the diagnosis of canine chronic bronchitis. The Journal of Small Animal Practice, v. 39, n. 11, p. 518-520, 1998. doi: 10.1111/j.1748-5827.1998.tb03697.x. 13-KEALY, J. K. ; McALLISTER, H. ; GRAHAM, J. P. O tórax. In:___. Radiografia e ultrassonografia do cão e do gato. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 199-350. ISBN: 978- 8535245103. 14-SZABO, D. ; SUTHERLAND-SMITH, J. ; BARTON, B. ; ROZANSKI, E. A. ; TAEYMANS, O. Accuracy of a computed tomography bronchial wall thickness to pulmonary artery diameter ratio for assessing bronchial wall thickening in dogs. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 56, n. 3, p. 264-271, 2015. doi: 10.1111/vru.12216. 15-PEETERS, D. E. ; McKIERNAN, B. C. ; WEISIGER, R. M.; SCHAEFFER, D. J. ; CLERCX, C. Quantitative bacterial cultures and cytological examination of bronchoalveolar lavage specimens in dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 14, n. 5, p. 534-541, 2000. 16-CONBOY, G. A. Canine angiostrongylosis: the French heartworm: an emerging threat in North America. Veterinary Parasitology, v. 176, n. 4 , p. 382-389, 2011. doi: 10.1016/j.vetpar.2011.01.025. 17-JOHNSON, L. R. ; JOHNSON, E. G. ; VERNAU, W. ; KASS, P. H. ; BYRNE, B. A. Bronchoscopy, imaging, and concurrent diseases in dogs with bronchiectasis: (2003-2014). Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 30, n. 1, p. 247-254, 2016. doi: 10.1111/jvim.13809. 18-GOMES, M. ; MARTINS, V. C. V. Bronquiectasias. In: LOPES, A. C. Tratado de clínica médica. 2. ed. São Paulo: Roca, 2009. p. 2617-2622. ISBN: 978-8572417792. 19-JOHNSON, L. R. ; McKIERNAN, B. C. Diagnosis and medical management of tracheal collapse. Seminars in Veterinary Medicine and Surgery (Small Animal), v. 10, n. 2, p. 101-108, 1995. 20-JOHNSON, L. R. Diagnóstico y tratamiento del colapso traqueal en los perros. Waltham Focus, v. 11, n. 2, p. 3-8, 2001. 21-FERIAN, P. E. ; TORRES, R. C. S. ; ARAÚJO, R. B. Abordagem diagnóstica e terapêutica do colapso traqueal (condromalácia traqueal) em cães. Clínica Veterinária, ano XV, n. 88, p. 36-42, 2010. ISSN: 1413-571X. 22-FERIAN, P. E. ; CARNEIRO, R. A. Broncomalácia em cães – relato de dois casos. Clínica Veterinária, ano XIX, n. 108, p. 62- Clínica
Compartilhar