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Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 1 Mírian Santos – 7° semestre Problema 08 – “Vem e some” Objetivos: 1. Compreender a Esclerose Múltipla; Definição; Epidemiologia; Etiologia; Fatores de risco; Classificação; Manifestações clínicas; Diagnóstico – Sinal de Lemithe; Tratamento; 2. Estudar sobre as manifestações clinicas para o diagnóstico diferencial da: Mielinólise pontina central Leucoencefalopatia multifocal progressiva ADEM (encefalomielite disseminada aguda) Doenças do espectro neuromielite optica (DENMO). Esclerose Múltipla A Esclerose múltipla (EM) é uma doença autoimune que acomete o sistema nervoso central (SNC), mais especificamente a substância branca, causando desmielinização e inflamação. Temos 4 tipos de apresentação da EM: remitente-recorrente (EM-RR), primariamente progressiva (EM-PP), primariamente progressiva com surto (EM-PP com surto) e secundariamente progressiva (EM-SP). A forma mais comum é a EM-RR, representando 85% de todos os casos no início de sua apresentação. A forma EM-SP é uma evolução natural da forma EM-RR em 50% dos casos após 10 anos do diagnóstico (em casos sem tratamento – história natural). As formas EM-PP e EM-PP com surto perfazem 10%-15% de todos os casos. Epidemiologia Acomete usualmente adultos jovens, dos 20 aos 50 anos de idade, com pico aos 30, sendo mais rara quando se inicia fora dessa faixa etária. Em média, é duas vezes mais frequente em mulheres e apresenta menor incidência na população afrodescendente, oriental e indígena. Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 2 Mírian Santos – 7° semestre Estima-se que, no mundo, o número de pessoas vivendo com a doença esteja entre 2,0 e 2,5 milhões. A EM é desigualmente distribuída nas regiões do planeta, haja vista que a prevalência e a incidência tendem a aumentar com a latitude, tanto ao norte quanto ao sul da linha do equador, sendo mais altas na Europa e América do Norte. Fatores ambientais podem estar relacionados a essa diferença. O Brasil apresenta uma prevalência média de 8,69/100.000 habitantes, e assim como no mundo, a prevalência varia de acordo com a região de residência do paciente, sendo menor no Nordeste - 1,36 por 100 mil habitantes, e maior na região Sul - 27,2 por 100 mil habitantes. Fatores de risco Genéticos Diversos fatores de risco têm sido associados à EM e muitos ainda estão em investigação, mas aparentemente a ocorrência da doença se dá predominantemente em indivíduos geneticamente predispostos que são expostos a determinados fatores ambientais (p.ex., toxinas, tabagismo, vitamina D, agentes infecciosos, exposição ultravioleta). Do ponto de vista genético, o locus mais fortemente relacionado foi o complexo de histocompatibilidade principal (major histocompatibility complex – MHC) classe II. Entre as moléculas do MHC, as do antígeno leucocitário humano (HLA) têm sido associadas a doenças autoimunes. Conforme estudos em caucasianos do norte europeu, O HLA-DRB1 foi encontrado em aproximadamente 70% dos pacientes com EM e acredita-se que sua presença seja mais frequente em mulheres, o que justificaria a maior prevalência nesse gênero. Alguns exemplos são polimorfismos nos receptores de interleucina 2 e interleucina 7 (IL2RA e IL7RA), que estão implicados na função das células T regulatórias (Tregs). Ademais, genes de DNA mitocondrial poderiam estar associados à falência energética observada nos pacientes que apresentam as formas progressivas da doença. Quanto à herança, estima-se que quando ambos os pais têm diagnóstico de EM, seu filho tenha em torno de 30% de risco de desenvolver a doença, inclusive de forma precoce, na faixa etária pediátrica. Nem todos os genes estão associados a aumento do risco de EM, sendo que alguns são hoje considerados genes protetores. Entre eles, o HLADRB1* 11 e DBC1 estão associados ao aumento da atividade das células Tregs e à inibição da adesão das células inflamatórias ao endotélio vascular (necessária para sua migração). Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 3 Mírian Santos – 7° semestre Tabagismo e uso de tabaco oral O tabagismo ativo e passivo estão associados ao aumento do risco de EM. Quanto maior o tempo de fumo, maior risco devido pelo efeito cumulativo. Possivelmente, a irritação pulmonar causada pelo fumo (e supostamente também pelos solventes orgânicos) sejam triggers para o desenvolvimento de doenças autoimunes e não a nicotina em si. Infecção pelo vírus Epstein-Barr Diversos estudos sugerem a associação entre a infecção pelo vírus Epstein-Barr (EBV) e o desenvolvimento de EM principalmente quando esta ocorre na adolescência ou na idade adulta. Uma das evidências é a correlação positiva dos títulos de anticorpo contra o antígeno nuclear do EBV (anti-EBNA1) e a ocorrência de EM. Postula-se que o EBV poderia integrar-se ao DNA das células hospedeiras de forma aleatória e que algumas localizações de integração gerariam risco aumentado para EM. Infecção pelo citomegalovírus A infecção pelo citomegalovírus (CMV) tem sido considerada um potencial fator de proteção para EM. Após um primeiro evento inflamatório do SNC, a presença de anticorpos contra o CMV parece prevenir a conversão para EM. Vitamina D Entra como um fator de risco. Essa observação encontra suporte nas diferenças de prevalência de EM em regiões do planeta com maiores níveis de exposição UV (importante para o metabolismo da vitamina D), bem como na baixa frequência de EM em populações com baixa exposição solar, mas com elevado consumo de peixes gordurosos. Além disso polimorfismos no gene CYP27B1, que tem papel central no metabolismo da vitamina D, têm sido associados ao aumento do risco de EM. Como também, altos níveis de vitamina D correlacionam-se com redução do dano axonal (estudos de neurofilamento no líquido cefalorraquidiano de pacientes com EM). Exposição a raios ultravioleta Não está claro se a exposição aos raios ultravioleta (UV) é fator protetor pelos seus efeitos no metabolismo da vitamina D ou por mecanismos independentes. Um desses mecanismos propostos seria o aumento da ativação de células Treg. Alguns autores postulam que esses efeitos poderiam ser mediados pela melatonina que funcionaria como imunomodulador, melhorando a função das células Treg e inibindo células T pró- inflamatórias. Obesidade Obesidade é fator de risco devido aumento da atividade pró-inflamatória gerada pelo tecido adiposo, aumento dos níveis de leptina e redução da disponibilidade da vitamina D. Cafeína Pessoas que consomem diaritamente acima de 900ml/ao dia tem redução do risco de 30% de EM. Ingestão de sódio Estudos mostraram que altas concentrações de sódio estão relacionadas com as formas mais grave da doença. Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 4 Mírian Santos – 7° semestre Fisiopatologia Patologia O disturbio é caracterizado patologicamente pelo desenvolvimento focal – frequentemente perivenular – de areas disseminadas de desmielinizacao, juntamente com gliose reativa, dano axonal e degeneracao neuronal. Essas lesoes ocorrem na substancia branca e na substancia cinzenta do cerebro e da medula espinal e no nervo optico (II). Fisiopatologia A causa da esclerose multipla é desconhecida, mas acredita-se que o dano tecidual e os sintomas neurologicos sejam desencadeados por um mecanismo imunologico dirigido contra os antigenos dabainha de mielina. Infeccao viral ou outros fatores desencadeantes podem promover a entrada de celulas T e anticorpos no sistema nervoso central por uma interrupcao da barreira hematoencefalica. Isso leva a um aumento da expressao de moleculas de adesao celular, metaloproteinases da matriz e citocinas pro- inflamatorias. Essas moleculas trabalham em conjunto para atrair celulas imunologicas adicionais, degradam a matriz extracelular auxiliando sua migracao e ativam as respostas autoimunes contra varios antigenos. A ligacao desses antigenos-alvo por celulas que apresentam antigeno desencadeia uma resposta autoimune que pode envolver citocinas, macrofagos e complemento. O ataque imunologico a mielina desnuda os axonios, o que leva a uma reducao da velocidade de conducao nervosa. Junto com a perda de axonios e corpos celulares, isso leva a sintomas neurologicos progressivos. Manifestações Clínicas O início da EM pode ser abrupto ou insidioso. Os sintomas podem ser graves ou leves de forma que o paciente talvez não procura assistência médica por meses ou anos. São extremamente variados e dependem da localização e da gravidade das lesões no SNC. Os sintomas sensitivos são variáveis e incluem parestesias (p. ex., formigamento, sensação de alfinetadas e agulhadas ou queimação dolorosa) e hipoestesia (p. ex., sensibilidade reduzida, dormência ou sensação de que uma parte do corpo está “morta”). Sensações desagradáveis (p. ex., partes do corpo “inchadas”, “molhadas”, “em carne viva” ou “apertadas”) também são comuns. A deficiência sensitiva do tronco e dos membros inferiores abaixo de uma linha horizontal no dorso (nível sensitivo) sugere que a medula espinal é a origem do distúrbio sensitivo. Com frequência, acompanha uma sensação de constrição semelhante a uma faixa ao redor do tronco. A dor é um sintoma comum na EM, sentida > 50% dos pacientes. Pode ocorrer em qualquer área do corpo e mudar de localização ao longo do tempo. A neurite óptica (NO) em geral se apresenta como diminuição da acuidade visual, falta de nitidez ou redução da percepção das cores Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 5 Mírian Santos – 7° semestre (dessaturação) no campo central da visão. Tais sintomas podem ser leves ou evoluir para perda visual grave. Raramente, há perda total da percepção da luz. Os sintomas visuais costumam ser monoculares, mas podem ser bilaterais. A dor periorbital (agravada por movimentos oculares) muitas vezes precede ou acompanha a perda visual. A fraqueza dos membros pode se manifestar como perda da força, velocidade, ou destreza, como fadiga ou como distúrbio da marcha. A fraqueza induzida por exercício é um sintoma típico da EM. A fraqueza é do tipo relacionado com o neurônio motor superior, sendo geralmente acompanhada por outros sinais piramidais, como espasticidade, hiper-reflexia e sinal de Babinski. A fraqueza facial decorrente de lesão na ponte pode assemelhar-se à paralisia de Bell idiopática. Contudo, diferente desta, a fraqueza facial na EM não costuma estar associada à perda ipsilateral do paladar ou dor retroauricular. A espasticidade comumente está associada com espasmos musculares espontâneos ou induzidos por movimento. Em muitos casos, esse quadro é acompanhado de espasmos dolorosos que interferem com a capacidade de deambular, trabalhar ou cuidar de si mesmo. O borramento A ataxia geralmente se manifesta na forma de tremores cerebelares. Ela também pode envolver a cabeça e o tronco, ou a voz, produzindo disartria cerebelar típica (fala escandida). A vertigem pode surgir subitamente por lesão no tronco encefálico e simular superficialmente a labirintite aguda. A perda auditiva também pode ocorrer na EM, mas não é comum. SINTOMAS AUXILIARES: Os sintomas paroxísticos distinguem-se por sua duração breve (10 segundos a 2 minutos), alta frequência (5 a 40 episódios por dia), ausência de alteração da consciência ou do ritmo de base no eletrencefalograma durante os episódios, e evolução autolimitada (em geral, durante semanas a meses). Podem ser precipitados por hiperventilação ou movimento. Tais síndromes podem incluir o sintoma de Lhermitte; contrações tônicas de membro, face ou tronco (convulsões tônicas); disartria e ataxia paroxísticas; distúrbios sensitivos paroxísticos; e várias outras síndromes menos bem-caracterizadas. Os sintomas paroxísticos provavelmente resultam de descargas espontâneas, oriundas das bordas das placas desmielinizadas e propagadas para tratos de substância branca adjacentes. O sintoma de Lhermitte é uma sensação semelhante a um choque elétrico (suscitada por flexão ou outro movimento do pescoço) que se irradia ao longo do dorso até as pernas. Raramente, irradia-se para os braços. Costuma ser autolimitado, mas pode persistir por anos. Neuralgia do trigêmeo, espasmo hemifacial e neuralgia do glossofaríngeo podem ocorrer quando a lesão desmielinizante envolve a zona Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 6 Mírian Santos – 7° semestre de entrada (ou de saída) da raiz, respectivamente, do V, VII ou IX nervo craniano. A neuralgia do trigêmeo (tic douloureux) é uma dor facial muito breve e lancinante, com frequência desencadeada por impulso aferente a partir da face ou dos dentes. A mioquimia facial consiste em contrações tremulantes rápidas e persistentes da musculatura facial (em especial da parte inferior do orbicular do olho) ou uma contração que se propaga lentamente pela face. Resulta de lesões dos tratos corticobulbares ou do trajeto do nervo facial no tronco encefálico. Sensibilidade ao calor refere-se aos sintomas neurológicos produzidos pela elevação da temperatura central do corpo. Por exemplo, é possível haver borramento unilateral transitório da visão durante banho quente ou exercício físico (sintoma de Uhthoff). Também é comum que os sintomas da EM se agravem transitoriamente, às vezes de forma drástica, durante doenças febris. Tais sintomas relacionados com o calor provavelmente resultam de bloqueio transitório da condução. A disfunção vesical está presente em > 90% dos pacientes com EM, e em um terço deles a disfunção resulta em episódios semanais ou mais frequentes de incontinência. A hiper-reflexia do detrusor, decorrente da deficiência da inibição suprassegmentar, causa frequência e urgência urinárias, noctúria e esvaziamento incontrolável da bexiga. A dissinergia do detrusor-esfincter, secundária à perda da sincronização entre os músculos detrusor e o esfincter, causa dificuldade de iniciar e/ou interromper o jato urinário, acarretando hesitação, retenção urinária, incontinência por transbordamento e infecção recorrente. EVOLUÇÃO: 1. A EM remitente-recorrente (EMRR) responde por 90% dos casos de EM e caracteriza-se por crises isoladas de disfunção neurológica que geralmente evoluem ao longo de dias a semanas (raramente, ao longo de horas). Nas crises iniciais, há frequentemente uma recuperação substancial ou completa durante as semanas ou meses seguintes. Entretanto, à medida que as crises continuam, a recuperação pode ser menos evidente. Entre os episódios, os pacientes estão neurologicamente estáveis. 2. A EM progressiva secundária (EMPS) sempre começa como EMRR. Entretanto, em algum momento, a evolução clínica muda, de modo que o paciente sofre deterioração da função não associada a episódios agudos. A EMPS produz maior grau de deficiência neurológica fixa do que a EMRR. Para um paciente com EMRR, o risco de evoluir com EMPS é de cerca de 2% a cada ano, ou seja, a grande maioria dos casos de EMRR porfim evolui para EMPS. Assim, a EMPS parece representar um estágio tardio da mesma doença subjacente à EMRR. 3. A EM progressiva primária (EMPP) responde por cerca de 10% dos casos. Esses pacientes não apresentam crises, Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 7 Mírian Santos – 7° semestre porém sofrem declínio contínuo da função desde o início da doença. Em comparação com a EMRR, a distribuição entre os sexos é mais igual, a doença começa mais tarde (média de idade próxima de 40 anos), e a incapacidade surge mais rápido (pelo menos em relação ao início do primeiro sintoma clínico). Apesar dessas diferenças, a EMPP parece representar a mesma doença subjacente à EMRR. Investigação Investigação: As investigacoes podem ajudar a apoiar o diagnostico clinico e excluir outros disturbios, mas por si so nao justificam um diagnostico definitivo de esclerose multipla. O liquido cerebrospinal (LCS) costuma ser anormal, com leve linfocitose ou aumento leve da concentracao de proteinas, em especial quando examinado logo apos uma recorrencia aguda. A eletroforese do LCS mostra a presenca de discretas bandas na regiao da imunoglobulina G (IgG) (bandas oligoclonais) em 90% dos pacientes. Os antigenos responsaveis por esses anticorpos sao desconhecidos. Quando existe evidencia clinica de lesao em somente um lugar do sistema nervoso central, o diagnostico de esclerose multipla nao pode ser feito de modo adequado, ate que outras regioes tenham sido afetadas subclinicamente. A RM pode ajudar a detectar lesoes subclinicas e tornou-se praticamente indispensavel para a confirmacao do diagnostico. Imagens ponderadas em T1 podem revelar “buracos negros”, que provavelmente representam areas de dano axonal permanente; lesoes hiperintensas tambem sao encontradas. Imagens ponderadas em T1 e realcadas por gadolineo podem evidenciar areas de inflamacao com degradacao da barreira hematoencefalica. As imagens ponderadas em T2 fornecem informacao sobre a carga da doença ou a carga da lesão (ou seja, numero total de lesoes), que em geral aparecem como areas de alta intensidade de sinal. Outras tecnicas da RM, incluindo medidas da atrofia cerebral, imagem por transferencia de magnetizacao, espectroscopia por ressonancia magnetica e imagem por tensor de difusao, provavelmente fornecem informacao mais relevante. Diagnóstico A esclerose múltipla clinicamente definida pode ser diagnosticada em pacientes com uma evolucao recorrente-remitente e sinais de pelo menos duas lesoes envolvendo regioes diferentes da substancia branca central. Uma esclerose múltipla provável e diagnosticada quando os pacientes tem evidencia de doenca multifocal da substancia branca, mas apresentaram somente um ataque clinico ou tem uma historia de pelo menos dois episodios clinicos tipicos, com sinais de somente uma lesao isolada. Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 8 Mírian Santos – 7° semestre Os exames de imagem podem ser usados para mostrar a disseminação ao longo do tempo, caso exista uma lesao contrastada com gadolineo depois de pelo menos tres meses do inicio de um evento clini co, em um local diferente daquele correspondendo ao evento inicial, ou se for encontrada uma nova lesao em T2 em qualquer momento, em comparacao com um exame de linha de base, obtido pelo menos 30 dias apos o evento clinico inicial. Disseminação no espaço requer tres dos itens a seguir: 1. pelo menos uma lesao contrastada com gadolineo ou nove lesoes hiperintensas em T2, caso nao exista lesao contrastada; 2. uma ou mais lesoes infratentoriais (ou medulares); 3. uma ou mais lesoes justacorticais e 4. pelo menos tres lesoes periventriculares. O diagnostico de doenca progressiva primaria requer, alem de 1 ano de doenca progressiva, dois ou mais dos itens a seguir: 1. RM positiva (nove lesoes em T2 ou pelo menos quatro lesoes em T2 com potencial evocado visual anormal); 2. duas ou mais lesoes focais em T2 na RM da coluna e 3. bandas oligoclonais positivas no LCS, aumento do indice de IgG, ou ambos. Quando os pacientes tiveram um unico evento clinico e, portanto, nao satisfazem os criterios para esclerose multipla, deve ser feito o diagnostico de uma síndrome clinicamente isolada (SCI). Esses pacientes tem um risco aumentado de desenvolvimento de esclerose multipla e, algumas vezes, recebem oferta de tratamento como se portassem a doenca, na esperanca de retardar a progressao para uma doenca clinicamente definida. Uma RM de seguimento deve ser considerada depois de 6 a 12 meses, para determinar se ocorreram novas lesoes. Tratamento DOENÇA RECORRENTE-REMITENTE – O tratamento com uma base indefinida com interferon b-1ª ou interferon b-1b, com uma Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 9 Mírian Santos – 7° semestre dosagem que depende da formulacao, reduz a taxa de recaidas. Acetato de glatiramer, administrado por injecoes subcutaneas (20 mg ao dia), parece ser igualmente eficaz. Alem de seu efeito sobre as recorrencias, o interferon b-1a e o acetato de glatiramer tambem podem retardar o inicio de incapacitacao significativa em pacientes com doenca recorrente. Natalizumabe, um anticorpo a4 integrina, reduz a taxa de recorrencia, mas em casos raros esta associado com leucoencefalopatia multifocal progressiva. Seu uso esta limitado a pacientes com doenca recorrente-remitente, pouco responsiva a outros tratamentos ou com uma evolucao inicial agressiva. No entanto, se o teste do anticorpo JC for negativo, o risco e baixo. Infusoes de imunoglobulina intravenosa (IVIg) tambem podem reduzir a taxa de recorrencia, mas as recomendacoes de tratamento sao prematuras. Plasmaférese algumas vezes e util quando os pacientes apresentam recorrencias graves que nao respondem a esteroides. Os efeitos colaterais mais comuns dos interferons sao a sindrome semelhante ao estado gripal e (no caso do interferon b-1b) as reacoes no local da injecao. Acetato de glatiramer em geral e bem tolerado, mas pode produzir eritema nos locais de injecao, e cerca de 15% dos pacientes apresentam episodios transitorios de rubor, dispneia, sensacao de aperto no peito, palpitacoes e ansiedade apos as injecoes. Estes tres agentes são aprovados para o uso na esclerose multipla recorrente-remitente e estao disponiveis por prescricao. Seu custo é elevado, mas deve ser avaliado em relacao a reducao da necessidade de cuidados medicos e a reducao do tempo de trabalho perdido que segue a sua utilizacao. Esses agentes que modificam a doenca são administrados por via parenteral, mas o agente fingolimode (0,5 mg ao dia), para administracao por via oral, foi aprovado recentemente nos EUA para reduzir as recorrencias e a progressao da doenca; ele tambem reduz a atividade da lesao e a perda de volume cerebral na doenca recorrente- remitente. Seu mecanismo de acao e, provavelmente, impedir que os linfocitos migrem para dentro do sistema nervoso central. Esse medicamento e bastante seguro e bem tolerado. Efeitos adversos incluem cefaleia, fadiga, dor nas costas, diarreia, infeccoes do trato respiratorio, elevacao das enzimas hepaticas, efeitos sobre a pressao arterial, edema macular – no inicio do tratamento –, bradicardia transitoria e lentificacao da conducao atrioventricular. Por isso, a frequencia cardiaca deve ser monitorada durante seis horas apos a primeira dose, ou quando se recomeca um tratamento com fingolimode, depois que seu uso foi interrompido por duas semanas ou mais. Pelo menos ate que setenha mais experiencia com o farmaco, o uso do fingolimode provavelmente ficara restrito a pacientes com doenca recorrente-remitente. Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 10 Mírian Santos – 7° semestre Corticosteroides podem acelerar a recuperacao de recorrencias agudas, mas a extensao da recuperacao em si permanece inalterada. O tratamento e, portanto, reservado para as crises que levam a mudanca aguda na capacidade funcional, como aqueles que causam disfuncao visual ou da marcha. A administracao de esteroides em longo prazo nao evita recorrencias e nao deve ser realizada em decorrencia dos efeitos colaterais inaceitaveis. Nao existe um plano de tratamento padrao com corticosteroides, mas o regime mais comumente usado e a metilprednisolona intravenosa (1 g ao dia) durante cinco dias, seguida de prednisona por via oral (1 mg/kg/dia durante uma semana, com rapida reducao nas proximas 1 a 2 semanas). Esclerose múltipla progressiva primária ou secundária – O tratamento ideal dessas formas da doenca e menos claro. Nao existe um tratamento estabelecido para a esclerose multipla progressiva. Estudos recentes indicam que o interferon b-1b (e provavelmente interferon b-1a) e eficaz para reduzir a taxa de progressao como determinado clinicamente e por RM na doenca progressiva secundária, mas existe somente uma experiencia limitada com acetato de glatiramer nesse cenario. Mitoxantrona provavelmente reduz a frequencia de ataques clinicos e pode ajudar a reduzir a progressao da doenca em pacientes cuja condicao clinica esta piorando. Tratamento com ciclofosfamida, azatioprina, metotrexato ou cladribina pode ajudar a deter a evolucao da doenca progressiva secundaria, mas os estudos sao inconclusivos. Tratamento da saúde geral e tratamento sintomático – Estes nao devem ser negligenciados durante o tratamento abrangente da esclerose multipla. Exercicios e fisioterapia sao importantes, mas deve-se evitar exercicios excessivos, em especial durante periodos de recorrencia aguda. A fadiga e um problema serio para muitos pacientes e algumas vezes responde a amantadina ou a um dos antidepressivos seletivos inibidores da recaptacao da serotonina. O tratamento da espasticidade (discutido anteriormente), frequentemente, e necessario, como no cuidado vesical e intestinal agressivo. O tratamento de outros aspectos da esclerose multipla avancada, como deficits cognitivos, dor, tremor e ataxia, em geral e menos bem- sucedido. Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 11 Mírian Santos – 7° semestre Mielinólise pontina central Mielinólise é uma complicação neurológica que pode ocorrer depois da correção muito rápida da hiponatremia aos níveis normais ou supranormais. O quadro clínico varia dos casos assintomáticos até os pacientes em coma, embora possam apresentar-se com encefalopatia difusa associada aos níveis baixos de sódio sérico. Em geral, os sinais e sintomas neurológicos da mielinólise começam dentro de 2 a 3 dias depois da correção rápida dos níveis de sódio. Nos casos clássicos, o exame neurológico realizado depois da correção da hiponatremia pode detectar sintomas iniciais como disartria e disfagia com tetraplegia flácida (depois, espástica). Outras anormalidades neurológicas são mutismo, distúrbios comportamentais, psicose bem definida, oftalmoparesia, paralisias bulbar e pseudobulbar, hiper-reflexia, crises epilépticas e coma. Nos casos típicos, pode-se observar uma síndrome corticobulbar e corticoespinal rapidamente progressiva nos pacientes debilitados. Embora os pacientes tenham mutismo, não é comum que estejam em coma. Os pacientes podem estar “encarcerados” e, algumas vezes, podem comunicar-se por meio de piscadelas dos olhos. A evolução é rápida e o óbito geralmente ocorre dentro de alguns dias ou semanas depois do início dos sintomas. Leucoencefalopatia multifocal progressiva É uma doença neurologica rara e fatal de adultos causada pela infecção oportunista do parvovírus JC no SNC, mais especificamente acometendo os oligodentrócitos causando desmielinização progressiva. Ocorre em pacientes infectados pelo HIV e com contagens de células CD4 , 100/mm3. Um estado mental alterado é acompanhado por sinais neurológicos focais, incluindo hemianopsia, ataxia ou hemiparesia e convulsoes. Cefaleia e febre geralmente estao ausentes. Exames de TC ou RM podem mostrar uma ou mais lesoes da substância branca. O LCS normalmente mostra pleocitose linfocítica leve, proteína elevada e glicose normal, e a reaçao em cadeia da polimerase pode fornecer evidencia de infecçao por vírus JC. Nao existe tratamento comprovadamente eficaz. ADEM (encefalomielite disseminada aguda) Comum de aconecer após infecções virais inespecificas, como, sarampo, varicela e etc. Patologicamente, percebe-se areas perivasculares de desmielinização disseminadas pelo cerebro e pela medula espinal, associada a uma reação inflamatória. Este disturbio tem sua maior incidencia na infancia. Os sintomas iniciais muitas vezes consistem em cefaleia, febre e confusao mental; o exame revela sinais de irritacao meningea. Deficits neurologicos multifocais sao comuns. Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 12 Mírian Santos – 7° semestre O paciente apresenta-se com caracteristicas encefalopaticas, com disturbios de consciencia que variam de sonolencia a coma; podem ocorrer convulsoes. Fraqueza flacida e disturbios sensoriais nas pernas, respostas extensoras plantares e retencao urinaria sao manifestacoes comuns de envolvimento da medula espinal. Outros sinais neurologicos podem indicar envolvimento de nervos opticos ou nervos cranianos, hemisferios cerebrais, tronco cerebral ou cerebelo; ataxia cerebelar frequentemente e bem evidente, mas pode ocorrer neurite optica, hemiparesia e outros sinais de tratos longos, afasia e ate mesmo disturbios do movimento. O deficit neurologico se resolve, pelo menos em parte, depois de algumas semanas. A maioria dos pacientes apresenta uma recuperacao completa, mas alguns permanecem com graves deficits residuais. Doenças do espectro neuromielite optica (DENMO). Este disturbio recorrente (antigamente, conhecido como doenca de Devic e uma vez considerado como uma variante da esclerose multipla) esta associado com um marcador de anticorpo especifico, NMO-IgG, que tem como alvo o canal de agua aquaporina-4. O disturbio completamente estabelecido e caracterizado por neurite optica e mielite associada com alteracoes da RM que se estendem ao longo de pelo menos tres segmentos da medula espinal. REFERÊNCIAS Neurologia Clínica de Greenberg; Neurologia Clínica de Harisson; Tratado de Neurologia de Merriet; Tratado de Neurologia da Academia Brasileira;
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