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Brasília-DF. OxigenOterapia e VentilaçãO NãO inVasiVa em neOpediatria Elaboração Letícia Marcelino Barrada Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I OXIGENOTERAPIA .................................................................................................................................. 9 CAPÍTULO 1 FUNÇÕES DO OXIGÊNIO, HIPÓXIA, HIPOXEMIA E TOXICIDADE DO OXIGÊNIO ........................... 9 CAPÍTULO 2 ADMINISTRAÇÃO DE OXIGÊNIO SUPLEMENTAR ....................................................................... 30 CAPÍTULO 3 DISPOSITIVOS DE LIBERAÇÃO DE OXIGÊNIO ............................................................................ 42 UNIDADE II VENTILAÇÃO MANUAL E PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA ..................................................................... 45 CAPÍTULO 1 UTILIZAÇÃO DA VENTILAÇÃO MANUAL ................................................................................... 45 CAPÍTULO 2 PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA E REANIMAÇÃO EM RECÉM-NASCIDOS E CRIANÇAS ............ 50 UNIDADE III VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA ................................................................................................................ 54 CAPÍTULO 1 HISTÓRICO E MODALIDADES .................................................................................................. 54 CAPÍTULO 2 REPERCUSSÕES FISIOLÓGICAS E SEUS EFEITOS........................................................................ 64 CAPÍTULO 3 PRINCIPAIS INDICAÇÕES X CONTRAINDICAÇÕES, VANTAGENS X DESVANTAGENS ................... 67 CAPÍTULO 4 UMA NOVA ABORDAGEM: CPAP NASAL NA SALA DE PARTO .................................................... 77 UNIDADE IV MANUSEIO DE OUTRAS TERAPIAS .......................................................................................................... 81 CAPÍTULO 1 INSUFLAÇÃO DE GÁS TRAQUEAL E MANEJO DO ÓXIDO NÍTRICO ............................................ 81 PARA (NÃO) FINALIZAR ..................................................................................................................... 85 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 86 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução O oxigênio (O2) teve seus efeitos reconhecidos desde a sua descoberta, em 1772, por Schelle e, em 1774, por Pristly, que ao realizar o aquecimento do óxido de mercúrio vermelho obteve um gás incolor. Em sua publicação, o autor relatou a sensação de “respirar mais leve”. Três anos depois, Lavoisier também obteve sucesso em suas experiências e definiu o nome do gás descoberto por Pristly. Por volta de 1780, Chaussier utilizou o oxigênio com propósitos médicos em recém-nascidos (RNs) que apresentavam dificuldades respiratórias. Mesmo com essas descobertas, a oxigenoterapia só começou a ser estudada nos últimos 75 anos. A administração e o manuseio do oxigênio vêm sendo uma das mais importantes terapêuticas para pacientes que apresentam hipóxia resultante de situações comuns como infecções do trato respiratório inferior. Além da indicação citada, o gás também tem seu valor terapêutico comprovado e traz benefícios em outras situações, tais como a redução da incidência e gravidade da apneia em recém-nascidos pré-termo (RNPT) e a dilatação das artérias pulmonares com resultante da elevação do fluxo sanguíneo pulmonar. A oxigenoterapia compreende a oferta de O2 em concentrações superiores às encontradas no ambiente (ar ambiente: O2 a 20,93%, nitrogênio (N2) a 78%, dióxido de carbono (CO2) a 0,03% e outros gases a 1,04), com objetivo de tratar e corrigir os sintomas e/ou manifestações da hipóxia, sendo muito utilizada para tratamento de diversas doenças. Já a ventilação mecânica não invasiva (VNI) teve sua primeira descrição realizada por Gregory et al. (1971 apud COURTNEY; BARRINGTON), que utilizaram a pressão positiva nas vias aéreas (CPAP) em doenças da membrana hialina, hoje conhecida como “síndrome da angústia respiratória do recém-nascido”. O modelo da época continha um fluxômetro, um aquecedor/umidificador, uma interface neonatal e um selo d’água. No início foram utilizadas máscaras faciais com pressões altas e não se sabia de fato os efeitos gerados e como utilizar. A utilização de prongs, peças nasais necessárias para aplicação da VNI aos recém-nascidos e lactentes por sem respirados especialmente nasais, foram descritos por Kattwinkel et al. (1973 apud COURTNEY; BARRINGTON). Desde então, a utilização da VNI em neopediatria vem sendo estudada e tem apresentado seus efeitos por meios de pesquisas em grande escala. Hoje, temos evidências de melhora clínica em casosclínicos, mas ainda são necessários estudos para comprovar e comparar os benefícios apresentados por meios de diversas modalidades, parâmetros, interfaces e tipos de aparelhos. 8 Com isso, a assistência fisioterapêutica ao paciente neopediátrico requer conhecimento e habilidades técnicas especializadas, atuação em equipe visando ao cuidado global do paciente. Com isso, torna-se imprescindível a capacitação do fisioterapeuta por meio de treinamento e especialização na área, para a realização de avaliação criteriosa dos pacientes e escolher a técnica mais adequada para prevenir ou reduzir complicações e proporcionar uma assistência global aos pacientes. Portanto, a disciplina visa proporcionar o conhecimento e fundamentação sobre a oxigenoterapia e as diferentes formas de administração, os benefícios e malefícios gerados, o embasamento da ventilação não invasiva em neopediatria e suas interfaces, benefícios e contraindicações. Objetivos » Proporcionar conhecimento por meio de fundamentação técnica, sobre oxigenoterapia e ventilação mecânica não invasiva em neopediatria. 9 UNIDADE IOXIGENOTERAPIA CAPÍTULO 1 Funções do oxigênio, hipóxia, hipoxemia e toxicidade do oxigênio Funções do oxigênio Basicamente, a necessidade de oxigênio (O2) resume-se nos níveis das células individualmente localizadas dentro do organismo do ser humano. Para que as células possam funcionar e sobreviver, devem ser mantidas e abastecidas de combustível. A fonte desse combustível é a molécula de ATP (adenosina trifosfato), que promove energia necessária para as células executarem diferentes atividades que são indispensáveis para a manutenção do funcionamento adequado do organismo. Durante a contração muscular, a síntese de moléculas orgânicas e o transporte de materiais pela membrana celular são atividades que demandam energia. Para que possa ter a produção de ATP, podem ser usadas diversas substâncias como, por exemplo, proteínas, lipídios, glicose e outros nutrientes. Mas o componente essencial da produção normal de ATP é o oxigênio. No entanto, como o O2 não é armazenado no organismo, ele deve chegar às células e estar disponível para as estruturas (mitocôndrias) do interior das células para gerar a produção de ATP. A responsável por quase todo o consumo de O2 pela célula é a produção de ATP. Com isso, a deficiência de ATP leva à perda da funcionalidade dos tecidos e órgãos. Sendo assim, o cérebro sofre lesão permanente quando tem privação de O2 por mais do que alguns minutos, o coração pode sofrer lesão grave do músculo cardíaco. Resumidamente, o metabolismo celular necessita de O2 para gerar o combustível “ATP”, que possui função de acelerar as reações químicas, que representam trabalho realizado pelas células do organismo. 10 UNIDADE I │OXIGENOTERAPIA Figura 1. Cadeia respiratória e síntese de ATP. CADEIA TRANSPORTADORA DE ELÉTRONS SÍNTESE DO ATP H+ H+ H+ H+ H+ ATPADP + Pi H20 Gás oxigênio 2e- +2H+ 1/2O2 FAD FADH2 NAD+ NADH Mitocôndria Proteína transportadora de elétrons Fonte: disponível em: <http://biologiairleneonline2.blogspot.com/2016/03/cadeia-transportadora-de-eletrons.html>. Acesso em: 1/10/2018. Para que organismo tenha suas necessidades de O2 atendidas, é necessário que ocorram atividades básicas: 1ª) Ventilação eficaz A ventilação consiste na troca de ar entre a atmosfera e os alvéolos dos pulmões. Compreende o processo da inspiração (entrada de ar nos pulmões) e da expiração (saída de ar dos pulmões); » O trajeto do ar passa pelo nariz ou boca, pela orofaringe e em seguida pela traqueia até chegar aos pulmões; » Da traqueia, passa para os brônquios esquerdos e direitos, de onde realiza a distribuição para tubos cada vez menores chamados bronquíolos, até chegar aos alvéolos, que são pequenos sacos elásticos localizados nas extremidades dos menores tubos das vias aéreas inferiores; » A troca gasosa entre o ar e o sangue ocorre nos alvéolos. 11 OXIGENOTERAPIA │ UNIDADE I 2ª) Difusão eficaz de gases entre os alvéolos e o sangue » O O2 deve passar dos alvéolos através da membrana celular, por meio do líquido intersticial, atravessando as células que formam as paredes dos capilares, e atingindo o sangue. 3ª) Transporte do O2 » Ocorre desde os capilares pulmonares até as células localizadas no restante do organismo; » Para que esse transporte de oxigênio ocorra, é necessário um volume sanguíneo adequado, um número conveniente de hemácias que possuam quantidades suficientes da molécula de hemoglobina, e é necessária uma ação cardíaca eficaz para bombear o sangue por todo o corpo; » Quando, finalmente, o O2 chega às células, ocorre a verdadeira respiração, que é a troca de molécula de gases através da membrana celular. Qualquer fator que possa afetar a concentração dos gases dentro dos alvéolos, ou a constrição dos capilares pelos quais circula sangue em torno dos alvéolos, interfere na difusão dos gases entre os alvéolos e o sangue. Alterações no padrão respiratório ou somente na frequência respiratória do paciente podem ser indicadores mais precoces da necessidade de suplementação com O2. Essa alteração pode ser resultado da hipoxemia ou da hipóxia. A importância da administração do O2 e seus efeitos terapêuticos são bem conhecidos, porém se tornam essenciais o conhecimento de efeitos maléficos e os riscos, impactos gerados na função pulmonar por sua utilização. A oxigenoterapia em neopediatria é utilizada há mais de 60 anos, com intuito de proporcionar um nível adequado de oxigenação, evitando os efeitos deletérios da hipóxia e, por outro lado, há uma preocupação com os efeitos da hiperóxia, que ainda não estão claramente definidos. Atualmente os limites de saturação de oxigênio arterial (SaO2) de 92 a 95% para as crianças e de 88 a 94% para recém-nascidos pré-termo são relatados como seguros e devem ser utilizados como os valores ideais nas unidades de internação. Recomenda-se que a prescrição de O2 seja norteada por parâmetros fisiológicos e clínicos. Indicações primárias da oxigenoterapia: » pressão arterial de O2 no sangue arterial (PaO2) < 60 mmHg com SaO2 entre 88 a 90% para crianças; 12 UNIDADE I │OXIGENOTERAPIA » PaO2 < 50 mmHg com SaO2 < 88% para RN. Com isso, torna-se necessário definir os objetivos com a terapêutica a fim de corrigir a hipoxemia/hiperóxia, de forma segura e contínua, e realizar monitorização para realizar análise das concentrações de O2 ofertadas, assim como verificar os níveis de SaO2 e os níveis dos gases sanguíneos arteriais. Sendo esses os princípios básicos da utilização do O2 em pacientes neopediátricos. Hipoxemia versus Hipóxia A deficiência de O2 no sangue arterial é compreendida como hipoxemia, e a baixa disponibilidade de O2 para os tecidos como hipóxia. Mediante esses conceitos, entende-se que a hipoxemia pode desencadear a hipóxia, sendo classificada de acordo com o fator desencadeante. Para proporcionar uma melhor oferta de O2 nessas situações, torna-se necessário identificar quais foram as causas da deficiência e as manifestações clínicas apresentadas pelo paciente, tais como podem ser observadas na quadro 1. Quadro 1. Sinais clínicos de hipóxia. Respiratórios Taquipneia, dispneia (tiragens e batimento de asa de nariz), cianose, e vaso e broncoconstrição pulmonar. Cardíacos Taquicardia (precoce), bradicardia, hipotensão e parada cardíaca (subsequentes). Neurológicos Inquietação, cefaleia, confusão, prostração, convulsão e coma. Outros Palidez e sudorese. Fonte: Prado; Vale (2012). Tipos de hipóxia Hipóxia hipóxica Apresenta-se nas doenças pulmonares em que há deficiência na troca gasosa associada à redução da PaO2, diminuição da spO2 e da saturação venosa de oxigênio (SvO2). Esse tipo de hipóxia pode ser gerado por diversos fatores, tais como: » Hipoventilação alveolar › Presente em situações de depressão respiratória, por meio de drogas ou doenças do sistema nervoso central (SNC), anormalidades neuromuscularesou musculoesquelética, fibrose pulmonar, pneumotórax, derrame pleural, apneia da prematuridade. › Em situações de hipóxia por hipoventilação, a utilização do O2, atenua 13 OXIGENOTERAPIA │ UNIDADE I a hipóxia, mas a prioridade do tratamento deve ser a correção do distúrbio que levou à hipoventilação. » Distúrbios de ventilação/perfusão (V/Q) › Considerado o mecanismo mais frequente da hipoxemia clinicamente importante (Figura 2), podendo estar presente em pacientes com asma, fibrose cística, atelectasias e na displasia broncopulmonar. › Da mesma maneira que na hipoventilação, a utilização de O2 não restabelece a função pulmonar normal, mas otimiza a relação V/Q. Figura 2. Distúrbio ventilação/perfusão. Capilar Trombo Unidade alveolar Fonte: Prado; Vale (2012). » Shunt arteriovenoso › O termo denomina as situações em que há áreas perfundidas e não ventiladas. Esse fenômeno ocorre quando parte do sangue venoso atravessa o pulmão e não entra em contato com o ar contido no alvéolo (Figura 2). › Normalmente o shunt está presente nas pneumonias ou na síndrome do desconforto respiratório agudo, já que nessas situações os alvéolos podem estar cheios de líquido ou células inflamatórias. › Nesses casos, a utilização de O2 não reverte o shunt, pois os alvéolos estão preenchidos de líquido e/ou colapsados, e o O2 utilizado pode não ter acesso à membrana alveocapilar nessas unidades. 14 UNIDADE I │OXIGENOTERAPIA Figura 3. Shunt arteriovenoso. PaO2 Unidade alveolar colabada PvO2: pressão parcial de O2 no sangue venoso; PcO2: pressão capilar de O2; PaO2: pressão parcial de O2 no sangue arterial. Fonte: Prado; Vale (2012). » Alteração na difusão: › É compreendida como a incapacidade do sangue capilar pulmonar equilibrar-se com o ar contido no alvéolo (Figura 3). › Consequência do dano gerado na membrana alveolocapilar com consequente distúrbio de troca gasosa. › Podendo ser um dos mecanismos envolvidos no desenvolvimento de hipoxemia nas doenças intersticiais pulmonares e no enfisema pulmonar. Figura 4. Alteração da difusão. Barreira sangue-gás espessada Fonte: Prado; Vale (2012). 15 OXIGENOTERAPIA │ UNIDADE I » Hipóxia anêmica › Apresenta-se em pacientes com doenças em que há a redução da capacidade do transporte de O2, pela redução da quantidade de O2 ligado à hemoglobina (Hb). › Pode ser encontrada por meio de análise de conteúdo arterial de O2. As causas são perda de sangue, anemia, Hb anormal ou envenenamento por monóxido de carbono (CO). › Em casos de hipóxias anêmicas, a PaO2 e a spO2 estão anormais e somente a SvO2 está reduzida. › A utilização de O2 não traz benefícios nessas situações e, no envenenamento por CO, é utilizada a oferta de O2 a 100%. » Hipóxia isquêmica › Encontrada em doenças que geram a redução do fluxo sanguíneo, por deficiência da bomba circulatória, no qual o transporte de O2 aos tecidos fica prejudicado, como na insuficiência cardíaca congestiva (ICC), na hipotensão, no choque e na parada cardíaca. › Nessas situações, a PaO2, a SpO2 e a SvO2 estão reduzidas, e o O2 é utilizado de forma eficaz como medida de suporte, mas não como tratamento. » Hipóxia histotóxica › Ocorre em doenças que geram a redução da utilização de O2 pelos tecidos, produzida pelo envenenamento por cianeto e outros venenos metabólicos. › Nessas situações, a PaO2 e a spO2 estão nos níveis normais, a SvO2 está reduzida, e a utilização de O2 é ineficaz. Toxicidade do oxigênio O O2, mesmo sendo essencial à vida, como qualquer medicamento administrado de forma inadequada, pode ser tóxico e gerar sérias consequências. A toxicidade, que depende de fatores como pressão absoluta de oxigênio oferecido, duração da exposição e sensibilidade individual, é a maior limitação à sua administração. Dentre os efeitos colaterais do uso de oxigênio, observam-se: 16 UNIDADE I │OXIGENOTERAPIA » depressão da ventilação; » retinopatia da prematuridade; » atelectasia de absorção; » fechamento de canais prematuramente; » depressão função mucociliar; » desenvolvimento de displasia broncopulmonar. Para uma adaptação do paciente neonatal ao ambiente rico em O2, torna-se necessário o desenvolvimento de defesas antioxidantes capazes de combater a citotoxicidade na transição para uma respiração independente após o seu nascimento. Ao longo das décadas, a utilização do O2 como medida terapêutica efetiva nos cuidados dos RNPTs tornou-se comum. Com o seu uso liberado, houve um aumento significativo de casos de pacientes com a chamada então “fibroplasia retrolental”, posteriormente chamada de “retinopatia da prematuridade”, descrita inicialmente por Terry, em 1942, atingindo proporções epidêmicas em 1952. Várias teorias foram levantadas na tentativa de entender sua patogênese. Porém, somente em 1952, Patz e colaboradores observaram, em seu estudo clínico controlado, uma maior incidência dessa doença em crianças que receberam níveis elevados de concentrações de O2. Com essa constatação, a retinopatia da prematuridade estava relacionada à hiperóxia, fazendo com que o uso de O2 fosse restrito nas unidades neonatais, provocando redução da incidência da doença, embora houvesse elevação da mortalidade. Em 1971, Gregory e colaboradores inseriram o método de utilização de pressão positiva contínua das vias aéreas (CPAP) na assistência ventilatória dos RNs. Esse fato gerou uma queda dramática na mortalidade, concomitantemente a um aumento na incidência da doença, já que o método proporcionou um incremento eficaz na tensão arterial de O2, mesmo quando fornecido em concentrações baixas. Com a utilização da ventilação assistida em RNs, associada ao uso de elevadas concentrações de O2, observou-se a ocorrência de modificações estruturais pulmonares, gerando o aparecimento de uma doença pulmonar crônica descrita incialmente por Nortway e colaboradores, em 1967, que a denominou então como “displasia broncopulmonar”. Atualmente, o mecanismo de toxicidade de oxigênio é atribuído às reações de radicais livres de O2 com os componentes celulares. Apesar do papel importante nos processos biológicos normais e nas reações de oxidação e redução no nível celular, essas substâncias são potencialmente lesivas e tóxicas. Podem romper a membrana lipoprotéica, 17 OXIGENOTERAPIA │ UNIDADE I levar à destruição das funções enzimáticas celulares, alterando o DNA e conduzindo à morte celular. Hoje, o radical livre é denominado como qualquer espécie na qual há um ou mais elétrons não pareados na órbita externa. Este fato torna essas espécies extremamente reativas e potencialmente lesivas. Quando há a reação de um radical livre com um não radical livre, outro radical livre é gerado e, então, temos reações em cadeia. A propagação é mantida até o encontro de dois radicais livres entre si, cuja colisão gera uma ligação com dois elétrons, concluindo a reação em cadeia, ou até o encontro com uma substância antioxidante. Cerca de 95% do O2 consumido pelas células segue a cadeia do citocromo mitocondrial para gerar energia e água. Os outros 5% são metabolizados na forma de espécies reativas de O2, sendo: radical superóxido (O2•-), peróxido de hidrogênio (H2O2) e radical hidroxila (OH•). Essas substâncias podem ser produzidas por mecanismos enzimáticos e não enzimáticos. As reações enzimáticas são aquelas que estão envolvidas na cadeia respiratória, nos processos oxidativos de ativação de células polimorfonucleares, na síntese de prostaglandinas e de leucotrienos, por meio da cascata do ácido araquidônico, e na isquemia-reperfusão pela cascata da hipoxantina. A hipoxantina é gerada durante a hipóxia. Na reoxigenação, há a formação de radical superóxido (O2•-) e de peróxido de hidrogênio (H2O2), que reagem entre si, produzindo o radical hidroxila (OH•), sendo que essa reação é catalisada por metais de transição, principalmente o ferro. Figura 5. Mecanismo de produção de radicais livres na síndrome da hipóxia-reoxigenaçãovia cascata da hipoxantina. ATP ADP AMP Adenosina Inosina Hipoxantina Urato + O2•- + H2O2 Xantina desidrogenase Xantina oxidase ↓ Fonte: adaptado de <http://www.jped.com.br/conteudo/98-74-02-91/port_print.htm>. Acesso em: 1/10/2018. O radical superóxido (O2•-) e o peróxido de hidrogênio (H2O2), apesar de serem capazes de agir sobre proteínas, lípides e DNA, são pobremente reativos. Porém o radical hidroxila (OH•) é potencialmente reativo, podendo gerar lesões de forma direta ou 18 UNIDADE I │OXIGENOTERAPIA indireta. As lesões diretas são geradas sobre componentes celulares ou compostos orgânicos e requerem a presença de ferro. São elas (Quadro 2): Quadro 2. Componentes celulares ou compostos orgânicos. Lesão da membrana lipoprotéica e componentes celulares, pelo processo de peroxidação lipídica Alteração da permeabilidade vascular, com lesão de capilares; Alteração da estrutura de proteínas, ácidos nucléicos, lípides e carboidratos; Alterações oxidativas cumulativas em moléculas de longa duração, tais como o colágeno e a elastina; Degradação oxidativa de glicosaminoglicanos; Fibrose arteriocapilar secundária à peroxidação lipídica da parede vascular. As lesões indiretas ocorrem devido a distúrbios de homeostase do cálcio intracelular, levando a um aumento do cálcio citossólico, com consequente ativação da xantina oxidase (cascata da hipoxantina) e da fosfolipase A2 (cascata do ácido aracdônico). Fonte: disponível em: <http://www.jped.com.br/conteudo/98-74-02-91/port_print.htm>. Acesso em: 1/10/2018. Normalmente, a injúria gerada pelos radicais livres de O2 é combatida tanto por defesas de antioxidantes enzimáticos, por meio das enzimas superóxido dismutase, catalase e glutationa peroxidase, quanto por antioxidantes não enzimáticos, entre os quais a vitamina E, a vitamina C, o ácido úrico e a bilirrubina10. O RN e principalmente o prematuro têm sua capacidade antioxidante ainda não totalmente desenvolvida, o que eleva sua suscetibilidade ao dano decorrente da ação dos radicais livres de O2. Displasia broncopulmonar A DBP compreende neonatos prematuros que são dependentes de concentrações de oxigênio acima de 21% por um período maior ou igual a 28 dias. De acordo com a idade gestacional ao nascimento, o paciente deve ser submetido à reavaliação e à determinação da gravidade. A literatura identifica aspectos associados ao risco da doença. Fatores endógenos, como extremo baixo peso, sexo masculino, prematuridade, história familiar de asma e outros relacionados ao período perinatal, como ausência de uso de corticoide antenatal, asfixia perinatal, corioamnionite e fumo materno, são frequentes. 19 OXIGENOTERAPIA │ UNIDADE I Figura 6. Patogênese da displasia broncopulmonar. Cicatrização Genética Infecção Ventilação mecânica Enfisema Atelectasia Displasia Broncopulmonar Edema Fibrose Canal arterial Oxigênio Resposta Inflamatória PREMATURIDADE Fonte: disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572005000300004>. Acesso em: 1/10/2018. Quadro 3. Critérios diagnósticos e de avaliação de gravidade da displasia broncopulmonar. Critérios RN < 32 semanas RN ≥ 32 semanas Momento da avaliação IG de 36 semanas ou no momento da alta 28 dias, mas < 56 dias de idade pós-natal ou no momento da alta DBP leve Ar ambiente Ar ambiente DBP moderada Necessidade de fiO 2 < 0,3 Necessidade de fiO2 < 0,3 DBP grave Necessidade de fiO 2 > 0,3 ou uso de CPAP ou VMI Necessidade de fiO2 > 0,3 ou de CPAP ou VMI Fonte: Costa, 2013. Basicamente, o diagnóstico da DBP é baseado em manifestações clínicas não específicas. Com exceções, o desenvolvimento da doença ocorre em prematuros que foram submetidos à ventilação mecânica nos primeiros dias de vida. A ausculta respiratória evolui com frequência para sibilância recorrente, estertores e roncos. O manuseio da DBP representa um grande desafio e consiste em reduzir a agressão pulmonar, minimizar a inflamação e facilitar o crescimento pulmonar. O quadro clínico compreende sintomas respiratórios relacionados à dependência ao O2 e alterações radiológicas em RNs, em geral, prematuros submetidos à ventilação mecânica. Podemos observar taquidispneia. Em situações mais graves, a hipoxemia pode ser acompanhada de hipercapnia. Muitos pacientes demonstram deformidade torácica, taquidispneia de graus variados e menor tolerância aos exercícios físicos. Tosse e crises de sibilância são muito frequentes. Os sintomas são extremamente variáveis e depende da gravidade da DBP. As alterações radiológicas podem ser variadas, sendo: » Hiperinsuflação pulmonar com espessamento brônquico; » Atelectasias até a presença de traves opacas de fibrose; 20 UNIDADE I │OXIGENOTERAPIA » Grandes cistos; » Enfisema intersticial. Pode estar evidente o tronco da artéria pulmonar pela hipertensão pulmonar relacionada e, em casos muito graves, o aumento da área cardíaca. Mais de 90% dos pacientes com DBP demonstram alterações radiológicas à tomografia computadorizada de alta resolução. Figura 7. Radiografia simples de tórax em paciente com displasia broncopulmonar, mostrando linhas de opacificação peribrônquicas, hiperinsuflação e envolvimento bilateral. Fonte: Costa, 2013. As alterações funcionais pulmonares apresentam-se em graus variados e podem ser destacados a Figura 7: 21 OXIGENOTERAPIA │ UNIDADE I Figura 8. Alterações funcionais pulmonares. Fonte: Adaptado de <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572005000300004>. Acesso em: 1/10/2018. Retinopatia da prematuridade A retinopatia da prematuridade (ROP) é definida como uma doença vasoproliferativa secundária à inadequada vascularização da retina imatura dos RNPTs, que pode gerar cegueira ou graves danos visuais. É considerada uma das principais causas de cegueira e pode ser prevenida na fase da infância. Estima-se que 2/3 das 50.000 crianças cegas em todo o mundo vivem na América Latina. A proporção de cegueira gerada pela ROP é muito influenciada pelo nível de atenção aos cuidados neonatais, assim como pela existência de programas de triagem e tratamento. A Classificação Internacional da ROP (ICROP) denominou a doença de acordo com a gravidade (estadiamentos 1-5), localização (zonas I-II-III) e extensão em horas (1-12 h), com ou sem doença “plus” (dilatação arteriolar e tortuosidade venosa), em que a presença seria um indicador de atividade da doença. Mais recentemente, foi publicada uma atualização dessa classificação (ICROP-revisited), na qual foi reconhecida uma forma mais grave afetando o polo posterior (zona I e II), denominada doença pré-limiar. A ICROP denominou a doença limiar pela presença de ROP estágio 3, localizado nas zonas I ou II, com extensão de pelo menos 5 horas contínuas ou 8 horas intercaladas e com identificação da dilatação arteriolar e venosa compreendida como doença “plus”. A significância clínica da doença limiar é que se o prematuro não for tratado nesse momento terá chance de desenvolver complicações e resultados anatomofuncionais 22 UNIDADE I │OXIGENOTERAPIA ruins em 50% dos casos. O tratamento da doença limiar está relacionado à redução de 41% na ocorrência de pregas tracionais retinianas ou descolamento da retina e redução de 19% a 24% na incidência de cegueira quando são avaliados nos 5 a 15 anos subsequentes. No entanto, apesar da disponibilidade do tratamento e de seu benefício já reconhecido, mais de 40% das pacientes permanecem com acuidade visual (AV) < 20/200 no olho tratado. Figura 9. Representação esquemática do fundo de olho. Zona II Zona I Zona I 6 6 33 9 9 1212 PAPILAS ← ORA SERRATA → Olho direito ← Horas do relógio → Olho esquerdo Zona III Zona II Zona III Fonte: disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27492007000500028>. Acesso em: 1/10/2018. 23 OXIGENOTERAPIA │ UNIDADE I Figura 10. Classificaçãoda Retinopatia da Prematuridade. Doença pré-limiar tipo 2 Estágio 1 ou 2 em zona I sem “plus”; ou estágio 3 em zona 2 sem “plus” Doença pré-limiar tipo 1 Qualquer estágio em zona I com ”plus”; ou estágio 3 em zona I sem “plus”; ou estágio 2 ou 3 em zona II com “plus” Doença limiar Doença limiar Estágio 3, em zona I ou II, com ao menos 5h de extensão contínuas ou 8h intercaladas, na presença de doença “plus” (definida dilatação arterial e venosa) Estágio 5 Descolamento total de retina Estágio 4 Descolamento de retina parcial (4a, mácula colada; 4b, mácula descolada) Estágio 3 Proliferação fibrovascular a partir da crista elevada Estágio 2 Crista elevada entre a retina vascular e avascular Estágio 1 Linha branca e plana que separa a retina vascular da avascular Fonte: Adaptado de Projeto Diretrizes (2011). 24 UNIDADE I │OXIGENOTERAPIA Monitorização gasométrica Quando um paciente neopediátrico apresenta algum sinal de dificuldade respiratória, é importante que sejam avaliados os distúrbios dos gases sanguíneos, pois a indicação das condutas terapêuticas, posologia e método de administração, se por pressão positiva constante de vias aéreas (CPAP) ou ventilação mecânica invasiva, dependem dos resultados gasométricos encontrados. Com isso, é fundamental a monitoração da gasometria de todos os pacientes em uso da oxigenoterapia, que pode ser por método não invasivo ou técnica transcutânea, ou invasivo por meio da punção arterial. Autores relatam que quando há uma demanda crescente (superior a 50%) de O2 que os métodos convencionais não conseguem atender, o CPAP nasal passa a ser o método mais indicado. E quando em CPAP nasal, a criança apresentar uma necessidade de O2 maior que 100%, com quadros clínicos de apneia ou PaCO2 maior que 6, há indicação de ventilação mecânica invasiva. » Oximetria de pulso › É um procedimento não invasivo de monitoração gasométrica. Por meio desse instrumento é analisada a fração inspirada de oxigênio (FIO2) por um monitor transcutâneo. › O oxímetro possui painel digital ou manual para calibragem de O2 de 21% até 100%. › A boa correlação desse instrumento de avaliação com a análise gasométrica depende da perfusão periférica do paciente e da estabilidade da transmissão do sinal ao sensor posicionado na polpa digital ou no lobo da orelha. › A saturação recomendada para os pacientes é de 90 a 94% que equivaleria a uma PaCO2 entre 50 - 70. » Gasometria arterial › É um procedimento técnico para análise do conteúdo de O2 e gás carbônico no sangue, possibilitando analisar o equilíbrio acidobásico, respiratório e metabólico: · simples; · seguro; · doloroso. 25 OXIGENOTERAPIA │ UNIDADE I › Acidose: pH igual ou inferior a 7.35 → qualquer situação em que ocorra elevação do ácido carbônico (H2CO3) ou queda do bicarbonato básico (HCO3). › Alcalose: pH igual ou superior a 7.4 → qualquer situação na qual ocorre aumento do bicarbonato básico ou queda do ácido carbônico. › Tanto a acidose como a alcalose metabólica refletem o impacto sistêmico das modificações dos níveis de bicarbonato de sódio (HCO3). › Já a acidose respiratória ou a alcalose respiratória afetam o ácido carbônico (H2CO3) e o dióxido de carbono (CO2), portanto, com impacto nos pulmões. Figura 11. Oxímetro de pulso. Fonte: Cruzeiro do Sul (2012). Outros fatores importantes a serem avaliados no exame são: a. PaO2 – concentração de O2/ pressão parcial de O2 dissolvido no sangue; valores normais = 85 a 100 mmHg; b. PaCO2 – tensão de dióxido de carbono/PaO2 baixa = hiperventilação, PaO2 elevada = hipoventilação; valores normais = 35 a 45 mmHg; c. SaO2 – saturação de O2/ oxigênio transportado pela hemoglobina; valor normal: 95%; d. Bicarbonato (HCO3), valores normais = 22 a 28 mmHg/litro. 26 UNIDADE I │OXIGENOTERAPIA Figura 12. Elementos da gasometria. HCO3pCO2 Fonte: SaúdeExperts (2014). Os valores obtidos pela gasometria arterial são de extrema importância, pois norteiam as condutas e a assistência prestada ao paciente, o que torna seu conhecimento fundamental para a atuação fisioterapêutica. Os locais em que são realizadas as coletas do exame são: » Artéria radial; » Artéria braquial; » Artéria femoral. Como em qualquer exame complementar, a gasometria terá aplicabilidade se os dados forem fidedignos e confiáveis. Tabela 1. Gasometria arterial, valores de referência que podem variar de acordo com o laboratório. PH 7.35 a 7.45 PCO2 35 a 45 PaO2 80 a 100 HCO3 22 a 26 TCO2 23 a 28 SO2 ≥92 BE (-2) a (+2) Fonte: Justiniano, 2012. Basicamente, os distúrbios do equilibro ácido-base são: » Acidose respiratória: pH < 7.35 e PaCO2 >45 mmHg; » Alcalose respiratória: pH >7.45 e PaCO2 <35 mmHg; » Acidose metabólica: pH <7.35 e HCO3 <22 ou BE <-2; 27 OXIGENOTERAPIA │ UNIDADE I » Alcalose metabólico: pH >7.45 e HCO3 >26 e BE >+2. » Níveis de O2: Hipoxemia – PaO2 <80 mmHg; » Hiperóxia – PaO2 <100 mmHg. Quadro 4. Consequência do desequilíbrio ácido-base – acidose respiratória. Acidose respiratória pH diminuído e PaCO2 aumentado Compensação respiratória intervencional PaCO 2 diminuído (hiperventilação) Compensação metabólica HCO 3 aumentado Causas Quadro clínico Diminuição da ventilação alveolar Sonolência, desorientação, arritmia cardíaca, vasodilatação cerebral Fonte: Justiniano, 2012. Quadro 5. Consequência do desequilíbrio acidobásico – alcalose respiratória. Alcalose respiratória pH aumentado e PaCO2 diminuído Compensação respiratória intervencional PaCO2 aumentado (hipoventilação) Compensação metabólica HCO3 diminuído Causas Quadro clínico Hiperventilação inapropriada Confusão mental Sepse Crises convulsivas Febre Paresteria e tetania Hepatopatia grave Diminuição de drive respiratório Fonte: Justiniano, 2012. Quadro 6. Consequência do desequilíbrio ácido-base – acidose metabólica. Acidose metabólica HCO3 diminuído Compensação respiratória PaCO2 diminuído (Hiperventilação) Causas Quadro clínico Acidose lática Taquipneia e fadiga respiratória Cetoacidose diabética Diminuição de inotropismo cardíaco Insuficiência renal Arritmias malignas Desidratação Vasodilatação Fonte: Justiniano, 2012. Em casos de acidose metabólica, podemos realizar o cálculo de PCO2 esperado, sendo: 1,5 X Bic +8 = +/- 2. 28 UNIDADE I │OXIGENOTERAPIA Quadro 7. Consequência do desequilíbrio ácido-base – alcalose metabólica. Alcalose metabólica HCO3 aumentado Compensação respiratória PaCO 2 aumentado (hipoventilação alveolar) Causas Quadro clínico Vômitos Confusão mental e crises convulsivas Diuréticos Parestesia e tetania Corticoesteroides Diminuição de drive respiratório Fonte: Justiniano, 2012. A gasometria pode ser feita tanto em sangue venoso como em sangue arterial. Rotineiramente, coletas de sangue arterial são mais solicitadas em relação às venosas devido à maior oxigenação do sangue e pelo fato de não serem alteradas em seus resultados hemogasométricos nos casos de estase do fluxo sanguíneo, em distúrbios respiratórios primários. Resumidamente, as diferenças mais expressivas entre os resultados arteriais e venosos são: maiores pH e pO2 nas amostras arteriais e maiores pCO2 e teores de bicarbonato e de TCO2 nas venosas; normalmente não se encontram diferenciações nas concentrações de BE. Tabela 2. Gasometria venosa valores de referência que podem variar de acordo com o laboratório. pH 7.35 a 7.45 PCO2 40 a 50 PaO2 25 a 40 HCO3 24 a 29 SO2 68 a 85 BE -3.9 a +1 Fonte: Justiniano, 2012. » Distúrbio de oxigenação: › Relação PaO2/FiO2; › Gradiente alvéolo/arterial: verifica troca gasosa; FiO2 100% ou aa; < 15 ou <10 = boa troca gasosa; (DAaO2 = PAO2 – PaO2) e (DAaO2 = 130- [PaCO2 + PaO2]). 29 OXIGENOTERAPIA │ UNIDADE I Leia mais sobre: COSTA, P. F. B. M. Displasia broncopulmonar. Pulmão RJ, Rio de Janeiro, v. 22, n. 3, p. 37-42, 2013.. PIERANTONI, L. M. M.; CABRAL, I. E. Conhecimentos essenciais no cuidado à criança em oxigenoterapia.Disponível em: <https://sobep.org.br/revista/ component/zine/article/54-conhecimentos-essenciais-no-cuidado-criana-em- oxigenoterapia.html>. PROJETO DIRETRIZES. Retinopatia da prematuridade. Disponível em: <https:// diretrizes.amb.org.br/_BibliotecaAntiga/retinopatia_da_prematuridade.pdf>. 30 CAPÍTULO 2 Administração de oxigênio suplementar Sistemas de baixo fluxo Nos sistemas de baixo fluxo ou de fluxo variável, o gás é ofertado em uma taxa de fluxo que pode não satisfazer as necessidades do paciente (fluxos de até 5 L/min), mas permite: » A umidificação dos gases e, assim, a ação das defesas naturais do nariz, além de permitir uma respiração confortável e um baixo custo. Tem como desvantagem: » Não fornecer uma concentração estável de O2. Podem ser administrados por: » Cânula nasal; » Cateter nasal; » Cateter transtraqueal; » Máscara simples; » Macronebulização. Figura 13. Exemplo de dispositivo de baixo fluxo. INFANTIL NEONATAL Fonte: disponível em: <http://jgmoriya.com.br/produto/cateter-nasal-infantil/>. Acesso em: 1/10/2018. 31 OXIGENOTERAPIA │ UNIDADE I Sistema de alto fluxo O gás é fornecido em uma taxa de fluxo mais elevada, que satisfaz as necessidades inspiratórias do paciente. Neste método é possível mensurar a FiO2 e mantê-la mais estável, independentemente do esforço inspiratório dos pacientes. Os sistemas de alto fluxo permitem: » A umidificação e o aquecimento dos gases. As desvantagens são: » o desconforto do alto fluxo; » o ruído produzido; » um alto custo devido ao grande volume de gás utilizado. Podem ser administrados por: » Máscara de arrastamento de ar (Venturi), tenda de O2, halos e capacete de O2, cateter alto fluxo. O cálculo do sistema de alto fluxo consiste: %O2= (Fluxo de AC x 21) + (Fluxo O2 x 100) / (Fluxo AC + O2) Figura 14. Exemplo de dispositivo de alto fluxo. Fonte: disponível em: <https://www.cpaps.com.br/kit-mascara-venturi-hsiner>. Acesso em: 1/10/2018. 32 UNIDADE I │OXIGENOTERAPIA Cateter de alto fluxo Compreende a terapia ventilatória não invasiva que proporciona a entrega de uma mistura de O2 com ar umidificado e aquecido pelo nariz por meio de uma adequada e confortável pronga/cânula, com um fluxo de pelo menos 1 litro/minuto, que geralmente varia entre 5-40 litros/minuto. O uso de alto fluxo de O2 pode promover uma pressão expiratória final positiva (PEEP), que varia entre 1,7 e 4,8 cmH2O. A umidade proporciona a atividade ciliar e reduz a viscosidade das secreções, enquanto o aquecimento reduz a probabilidade de broncoespasmo gerado pelo frio. Além disso, o alto fluxo produz uma pressão positiva na via aérea e reduz o espaço morto, otimizando a capacidade residual funcional. É um dispositivo que permite a entrega de oxigênio aquecido e umidificado com fluxo de até 60l/min, com uma concentração inspirada modificável de oxigênio de até 100%. Tornou-se cada vez mais popular na UTI para gerenciar pacientes com insuficiência respiratória aguda hipoxêmica. A combinação da umidade com cânula nasal oferece um nível de suporte respiratório maior do que a oxigenoterapia tradicional, fornecendo altos fluxos de modo confortável e eficiente. Quatro benefícios importantes contribuem para isto: » fornecimento de até 100% de oxigênio com mais precisão; » lavagem do espaço morto anatômico; » pressão positiva nas vias aéreas em todo o ciclo respiratório; » melhoria da depuração mucociliar. Atualmente, a terapia com a utilização do alto fluxo se tornou popular e tem sido utilizada em unidades de terapia intensiva neonatal e pediátrica. Dentre as vantagens de uso, destacam-se: » facilidade na instalação; » maior conforto; » menor risco de trauma; » melhor adaptação ao rosto de bebês, melhor alimentação e laço entre o paciente e os acompanhantes. Tem sido muito utilizada como assistência respiratória nos casos de: » apneia em prematuros; » síndrome do desconforto respiratório; 33 OXIGENOTERAPIA │ UNIDADE I » doença pulmonar crônica; » retirada da assistência respiratória como ventilação mecânica invasiva e não invasiva. Figuras 15 e 16. Cateter de alto fluxo. Fonte: a autora, 2017. Sistemas de reservatório O oxigênio fica armazenado em reservatório e é liberado durante as inspirações: [ ] de O2 mais alta com fluxo mais baixo. Podem ser administradas em: » máscara simples com reservatório; » máscara de reinalação parcial; » máscara de não reinalação total. 34 UNIDADE I │OXIGENOTERAPIA Figura 17. Sistema de reservatório. Fonte: disponível em: <http://www.fibracirurgica.com.br/mascara-de-alta-concentracao-infantil-com-reservatorio-protec/p>. Acesso em: 1/10/2018. Métodos e formas de administração de oxigênio suplementar Cateteres Cateter/cânula nasal É denominado como um canudo de silicone, que o torna mais confortável. Apresenta orifícios que se direcionam às narinas do paciente e pode ou não dispor de prongas nasais. O fluxo do O2 utilizado com o cateter nasal dever apresentar concentrações baixas (até 5l/min), no intuito de prevenir lesões da mucosa e sangramentos. Este é um dos modos de administração de O2 mais utilizados em hospitais, devido ao seu baixo custo, o que permite uma terapia contínua e facilidade em sua adaptação e liberdade para poder comer e falar. O fluxo contínuo que é liberado preenche o reservatório anatômico das vias aéreas e é inspirado para os pulmões a cada ciclo, mesmo quando a boca está aberta. A desvantagem desse dispositivo está na dificuldade de mensurar a fiO2 que se torna alta no início da fase inspiratória e decresce à medida que o ar ambiente é acrescido ao ar inalado. A fiO2 depende de vários fatores, tais como: o fluxo do gás administrado, o peso, o volume-minuto do paciente, além da relação do diâmetro nasal com o diâmetro do dispositivo utilizado. Assim, podemos estimar a fiO2, considerando o fluxo de gás que é utilizado e o peso do paciente. Deve ser realizado o cálculo do peso do fator (etapa 35 OXIGENOTERAPIA │ UNIDADE I 1 – Tabela 3), e posteriormente verifica-se a fiO2 estimada ao utilizar o peso do fator encontrado (etapa 2 – Tabela 3). Tabela 3. Etapa 1 do cálculo da fiO2 efetiva – cálculo do peso do fator. Fluxo (l/min) Fator com peso de 1 kg 1,5 kg 2kg 2,5 kg 3 kg 3,5 kg 0,03 3 2 2 1 1 1 0,06 6 4 3 2 2 2 0,125 12 8 6 4 4 4 0,15 15 10 8 6 5 4 0,25 25 17 13 10 8 7 0,5 50 33 25 20 17 14 0,75 75 50 38 30 25 21 1,0 100 67 50 40 33 29 1,25 100 83 63 50 42 36 1,5 100 100 75 60 50 43 2,0 100 100 100 80 67 57 3,0 100 100 100 100 100 86 Fonte: Prado; Vale (2012). Tabela 4. Etapa 2 do cálculo da fiO2 efetiva quando oferecido fluxo de O2 a 100%. Peso do fator calculado da etapa I FiO2 ≤ 3 0,21 a 0,23 4 a 8 0,24 a 0,27 9 a 12 0,28 a 0,30 13 a 18 0,31 a 0,35 19 a 23 0,36 a 0,39 25 a 29 0,41 a 0,44 30 a 36 0,45 a 0,49 38 a 42 0,51 a 0,54 43 a 44 0,55 a 0,56 50 a 60 0,60 a 0,68 63 a 71 0,71 a 0,77 75 a 86 0,80 a 0,89 100 1,0 Fonte: Prado; Vale (2012). Para entendermos melhor, por exemplo: se o RN tem 2 kg de peso e está sob o uso de um cateter nasal com o fluxo de 0,5 l/min de O2 ao verificar a Tabela 6, o cálculo do peso do fator equivalente a 25. Na Tabela 7, com o peso do fator 25, há um fiO2 efetivo de 0,41 a 0,44. 36 UNIDADE I │OXIGENOTERAPIA Cateter nasofaríngeo É um dispositivo de material semelhante ao cateter nasal, um tubo fino de plástico, com uma sonda nasogástrica ou sonda de aspiração traqueal, que é passado na cavidade nasal até a nasofaringe, logo abaixo do palato mole. É bem descrito na literatura, mas pouco utilizado na prática clínica neonatal e pediátrica. Figura 18. Cateter nasofaríngeo. Fonte: disponível em: <https://es.slideshare.net/danielamoscosorojas/oxigenoterapia-25783346>. Acesso em: 1/10/2018. Máscaras: » Máscara simples: › Apresentam orifício para a entrada do O2 e orifícios laterais para exalação dos gases sem válvulas direcionais. › São consideradas de fácil adaptação e relativamenteconfortáveis, sendo posicionadas na face do paciente, abrangendo a boca e o nariz. › É um método pouco administrado em pacientes neonatais e lactentes, em razão da pouca tolerância à sua utilização, da dificuldade de amamentação oral e da pouca confiabilidade na fiO2. › Com esse dispositivo, há risco de reinalação de CO2, por conta disso, indica-se o uso por períodos curtos de tempo, durante o transporte do paciente ou durante a adaptação no período pós-extubação, principalmente em pacientes maiores. 37 OXIGENOTERAPIA │ UNIDADE I » Máscara com reservatório: › Também conhecida como máscara não reinalantes ou com reinação parcial, em que o O2 é armazenado em um reservatório incorporado ao dispositivo e o fluxo do gás é liberado durante os ciclos inspiratórios do paciente. › O dispositivo tem um sistema de válvula, em que há permissão do retorno do gás expirado para dentro do reservatório. › Por ofertar uma fiO2 elevada (de aproximadamente 60%), tem vantagem, mesmo com a utilização de baixos fluxos. › Muito indicada em emergências e terapia de curto prazo que necessitem de concentração moderadas e elevadas de O2. › Utilizado em pacientes maiores. » Máscara de arrastamento de ar (Venturi): › Um fluxo de O2 administrado é alimentado por uma válvula de entrada (adaptador) para produzir uma fiO2 estável e estabelecida durante o ciclo respiratório do paciente. › Esses chamados “adaptadores” têm orifícios de tamanhos restritos, em que o fluxo de O2 sob pressão é de até 15 l/min. › Quanto maiores forem os orifícios e o jato de entrada, maior será a concentração do O2 administrado. › Os adaptadores também são conhecidos como “pipetas” e possuem cores diferentes, em que cada um corresponde a uma fiO2 oferecida. › A passagem do jato de gás por meio do orifício gera uma aspiração do ar ambiente para o interior da máscara, na mesma medida da velocidade com o qual o O2 se movimenta através do orifício, dessa maneira, o paciente respira a mistura de O2 e ar ambiente. › É um dispositivo muito utilizado em pacientes pediátricos, devido à possibilidade de manter a fiO2 fixa, e por ser considerada de fácil adaptação e tolerância. › Porém torna-se desconfortável e ruidosa quando são administradas concentrações mais elevadas. 38 UNIDADE I │OXIGENOTERAPIA » Incubadora › A administração de O2 na incubadora é utilizada nas formas mais leves de desconforto respiratório em RNs, que não necessitem de altas concentrações de fiO2 elevada (aproximadamente 30%). › Uma de suas vantagens é o aquecimento e umidificação do gás oferecido, e como desvantagem é não permitir uma fiO2 constante, devido à abertura das portinholas para a realização de procedimentos frequentes no RN. › Atualmente, existem, no mercado, incubadoras que têm um sistema para compensação dessa perda da concentração de O2. » Halos ou capacetes › São conhecidos como caixas de orifício que envolvem a cabeça do paciente, cobrindo a área acima do pescoço. › Têm uma tampa na parte superior móvel para facilitar o acesso ao paciente. › É utilizada em RN e lactentes, em condições que não permitam a utilização de métodos descritos anteriormente, ou quando é necessária uma fiO2 fixa e conhecida. › Permite oferecer uma fiO2 de até 100%, de uma forma mais precisa, porque o controle pode ser realizado por um blender ou pelo uso de uma fórmula, calculada mediante os fluxos de O2 e ar comprimido (AC) ofertados: FiO2: [(fluxo O2 x 1,0) + (fluxo de AC x 0,21)] (fluxo O2 + fluxo AC) › O espaço entre o halo/capacete e o pescoço do paciente deve ser adequado para garantir que haja a respiração da mistura dos gases que está sendo ofertada. › Nesse sistema, podem ser utilizados fluxos iguais ou maiores do que 2 a 3 l/kg/min para prevenir a retenção CO2. › Atualmente, não é muito utilizado, por gerar ruídos elevados, que podem ser maléficos para o sistema auditivo do paciente. 39 OXIGENOTERAPIA │ UNIDADE I Figura 19. Capacete ou halo de oxigênio. Fonte: disponível em: <https://www.linkedin.com/pulse/halo-cef%C3%A1lico-com-suporte-de-oxig%C3%AAnio-%C3%A0-100- e-posi%C3%A7%C3%A3o-cherene?articleId=6080481764336238592#comments-6080481764336238592&trk=prof-post>. Acesso em: 1/10/2018. Figura 20. Tenda de oxigênio. Fonte: disponível em: <http://www.olidef.com.br/produtos/neonatal/tenda-de-oxigenacao>. Acesso em: 1/10/2018. 40 UNIDADE I │OXIGENOTERAPIA Quadro 8. Vantagens e desvantagens dos dispositivos de O2. Método Vantagens Desvantagens Cateter nasal » Simplicidade e economia. » Desconforto e irritação. » FiO 2 depende de padrão ventilatório do paciente. » Necessidade de revezar as narinas. » Risco de deslocamento do cateter. » Risco de distensão gástrica. Cânula nasal » Maior conforto. » Economia (não precisa ser removida). » Compatível com a rotina diária (pode-se comer e falar sem obstáculos). » Menor chance de distinção. » Não pode ser utilizada por pacientes com problemas nas narinas. » Pouca aceitação entre crianças pequenas. » Não permite nebulização. » Depende do padrão respiratório do paciente. Máscara simples »» »»↑»Concentração de O2. » Pode ser utilizado em pacientes com condutos nasais obstruídos. » Dificuldade de fixação. » De pouca aceitação para crianças. » Interfere na visão. » Provoca irritação na pele. » Obstrui o fluxo de vômito. » Limita a assistência às vias aéreas. Máscara de Venturi (fluxo fixo de O 2 com fluxo de ar alto e variável) » Concentrações estáveis de O 2 até fiO 2 – 50%. » Dificulta a fixação. » Pouca aceitação entre as crianças. Fonte: disponível em: <https://sobep.org.br/revista/component/zine/article/54-conhecimentos-essenciais-no-cuidado-criana- em-oxigenoterapia.html>. Acesso em: 1/10/2018. Aumento da concentração de O2 inspirado associado ao aumento da pressão do gás nas vias aéreas » Pressão contínua nas vias aéreas › Técnica que utiliza a pressão nas vias aéreas acima da pressão que é recebida pela atmosfera durante o ciclo respiratório. › Produz um aumento da pressão alveolar, da capacidade residual funcional (CRF) e da capacidade vital (CV), com consequente recrutamento de alvéolos colapsados, e reduz a frequência respiratória. › A elevação da CRF leva a uma redução do shunt pulmonar, melhorando a complacência pulmonar, e a SaO2 e reduz o trabalho respiratório. › É um recurso utilizado por aparelhos geradores de fluxo que são conectados à rede de gases, adaptados a uma interface por intermédio de uma válvula de pressão positiva expiratória final (PEEP) ajustável, ou pelo uso de ventiladores mecânicos. 41 OXIGENOTERAPIA │ UNIDADE I › Durante a utilização do CPAP, especialmente com altos fluxos, a criança pode respirar com predominância oral, o que pode gerar aspiração de ar e consequentemente distensão gástrica. › Faz-se necessário que o fisioterapeuta esteja atento durante a aplicação, pois a distensão eleva o risco de vômitos e broncoaspiração. Leia mais sobre: CAMARGO, P. A. B. et al. Oxigenoterapia inalatória em pacientes pediátricos internados em hospital universitário. Rev Paul Pediatr v. 26, n. 1, p. 43-47, 2008. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rpp/v26n1/a07v26n1.pdf> PIERANTONI, L. M. M.; CABRAL, I. E. Conhecimentos essenciais no cuidado à criança em oxigenoterapia. Disponível em: <https://sobep.org.br/revista/ component/zine/article/54-conhecimentos-essenciais-no-cuidado-criana-em- oxigenoterapia.html> ROSA, N. C. et al. Uso da oxigenoterapia de alto fluxo em pediatria e neonatal. Revista Saúde. v. 11, n.1-2, 2017. Disponível em: <revistas.ung.br/index.php/ saude/article/view/2342/2209> 42 CAPÍTULO 3 Dispositivos de liberação de oxigênio » Cilindros › Armazenam o O2 em sua forma gasosa, que será ofertada por cilindros de compressão de alta pressão. › Dependendo do volume que é armazenado e da taxa de fluxo utilizado, haverá um tempo útil de esvaziamentoprevisto e constantemente verificado. › Cilindros pequenos podem ser portáteis, sendo uma fonte extremamente útil de O2 para o transporte de pacientes. Figura 21. Cilindro de O2. Fonte: disponível em: <http://consermed.com/produto/cilindro-de-oxigenio-valvula-o2-fluxometro-umidificador/>. Acesso em: 1/10/2018. Quadro 9. Vantagens e desvantagens dos cilindros. Vantagens Desvantagens Fácil manuseio Autonomia limitada e alto custo. Pode ser portátil Pode ser de difícil transporte e armazenamento. O 2 a 100% de pureza Comburente. Fonte: Prado; Vale (2012). 43 OXIGENOTERAPIA │ UNIDADE I » Concentradores › Compreendem equipamentos elétricos que utilizam uma peneira molecular para realizar a separação do O2 do ar ambiente, liberando o O2 para o paciente e o N2 de volta para a atmosfera. › São utilizados como fonte fixa de O2. Figura 22. Cilindro de O2. Fonte: disponível em: <http://www.medfisiostore.com.br/concentrador-de-oxigenio-devilbiss-5lpm.html>. Acesso em: 1/10/2018. Quadro 10. Vantagens e desvantagens dos concentradores. Vantagens Desvantagens Baixo custo Depende de energia elétrica Maior autonomia Produzir ruídos e não são portáteis Fonte: Prado; Vale (2012). » Oxigênio líquido › O O2 modificado do estado gasoso para o liquido, quando está resfriado a 183ºC, pode ser armazenado em tanques estacionados isolados termicamente, instalados em hospitais e clínicas. › Este sistema permite o armazenamento em uma grande quantidade de O2 em pequenos recipientes, por 1 L de O2 líquido o que equivale a 840 l de O2 gasoso. 44 UNIDADE I │OXIGENOTERAPIA › Tem um reservatório grande com uma capacidade de 32 l, que permite o abastecimento em casa, em unidades portáteis leves, e que tem a durabilidade de até 8 horas contínuas com 2l/min de uso. › Antes de ser inalado pelo paciente, por uma mangueira ajustada às narinas, o O2 líquido é vaporizado, sendo transformado em gás e, então, aquecido dentro do tanque. Figura 23. O2 líquido. Fonte: disponível em: <http://drramiro.com.br/uncategorized/concentradores-estacionarios-e-portateis-2/>. Acesso em: 1/10/2018. Quadro 11. Vantagens e desvantagens do O2 líquido. Vantagens Desvantagens Permite fácil mobilidade ao paciente, possibilitando uma vida social Alto custo e pode causar queimaduras frias Fonte: Prado; Vale (2012). 45 UNIDADE II VENTILAÇÃO MANUAL E PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA CAPÍTULO 1 Utilização da ventilação manual O balão autoinflável ou ressuscitador manual é o instrumento mais utilizado em ventilação pulmonar mecânica (VM) manualmente operada. É usado em situações como: atendimento de RN em sala de parto; na ressuscitação respiratória, durante parada cardiorrespiratória; nas unidades de emergência; nas UTIs; nos centros cirúrgicos; no transporte de pacientes com insuficiência respiratória; e na fisioterapia respiratório. Atualmente, novos métodos de ventilação manual estão sendo inseridos no mercado, a príncipio em UTIs neonatais e pediátricas. É manômetro análogico por meio de equipamento portátil ou acoplado no balão autoinflável, o que permite regular e controlar as pressões inspiratórias e expiratórias, possiblitando um menor risco de agrressão ao pulmão, independentemente do profissional que o manipule. Figura 24 e 25. Ressuscitador manual com manômetro. Fonte: a autora, 2017. 46 UNIDADE II │ VENTILAÇÃO MANUAL E PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA É instituído com o objetivo de promover ventilação com pressão positiva em pacientes que apresentam necessidade de assistência ventilatória, sendo este o principal dispositivo para realizar a ventilação manual durante o procedimento de reanimação cardiopulmonar. Também proporciona a inação de O2 aos pacientes, substituindo temporariamente a ventilação mecânica, ventilando os pacientes durante o período de transporte intra e extra-hospitalar e é empregado na fisioterapia respiratória. Os equipamentos portáteis para ventilação artificial só passaram a ser usados rotineiramente em 1952, durante epidemia de poliomielite. A partir desse período, houve desenvolvimento acelerado desse dispositivo. Em 1955, a empresa Ambu International criou o primeiro RM portátil autoinflável, com uma válvula de não reinalação, que foi nomeada como Ambu®. O Ambu® passou a ser utilizado como sinônimo de RM em todo o mundo. Novos equipamentos foram aprimorados para a segurança do paciente e praticidade do profissional que o manuseia. Um RM possui quatro partes: Porta expiratória: » Válvula reguladora de pressão; » Bolsa; » Válvula de entrada de ar. Além disso, os componentes opcionais são: » Reservatório de oxigênio; » Válvula de pressão expiratória positiva final (PEEP); » Manômetro. A porta expiratória possui a válvula de não reinalação (válvula do paciente). É unidirecional e permite que o fluxo de ar para o paciente quando a bolsa seja comprimido e se fecha quando há a liberação da bolsa, prevenindo a entrada de ar retrógrado, pois não deixa que o gás exalado seja reinalado durante a próxima insuflação. A válvula limitadora de pressão ou válvula pop-off é usada com o intuito de adequar o pico de pressão (PIP) atingido pelo RM. A American Society for Testing and Materials (ASTM) recomenda que todos os RM tenham essa válvula e que haja um alívio da pressão ao se chegar a PIP de 40±5cmH2 O(12). A maioria dos aparelhos para neonatos 47 VENTILAÇÃO MANUAL E PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA │ UNIDADE II e crianças é equipada com essa válvula e, caso o profissional tenha necessidade de empregar picos superiores, a válvula pode ser bloqueada. A bolsa é definida como uma unidade compressível e deve se expandir após cada compressão gerada. A frequência de reinsuflação da bolsa delimita o volume minuto máximo. A manutenção da compressão dessa bolsa durante a fase expiratória diminui o pico de fluxo expiratório, elevando a relação inspiração/expiração. A válvula de entrada de ar previne a saída deste pela base da bolsa quando o ressuscitador é comprimido. Possui a responsabilidade da entrada do ar ambiente na bolsa, quando a pressão no interior desta é liberada. O reservatório de O2 eleva a fração do referido elemento (FiO2) fornecida ao paciente. Alguns aparelhos deixam que essa bolsa, na forma de saco, seja acoplada à válvula de entrada de ar na base da bolsa. Para que ocorra funcionamento desse dispositivo, o ressuscitador precisa ser alimentado por uma fonte de O2. Um fluxo adequado deve ser ajustado para a expansão completa do reservatório, sem que ele colapse durante o enchimento da bolsa. Quando uma fonte suplementar de O2 não é usada, o reservatório deve ser retirado, pois pode afetar o enchimento da bolsa. Existem duas válvulas no reservatório, sendo: » Uma válvula safety outlet tem o objetivo de aliviar a pressão no interior do reservatório, caso um fluxo de ar muito elevado seja fornecido ou não haja manipulação da bolsa. Se o volume de gás no reservatório não é suficiente para encher a bolsa, outra válvula safety inlet possibilita a entrada de ar ambiente. Figura 26. Ambu neonatal. ReservatórioVálvula Pop-Off Bolsa de AMBU neonatal 250ml Fonte: disponível em: <https://fpnotebook.com/mobile/ER/Procedure/PstvPrsrVntltn.htm>. Acesso em: 1/10/2018. » A válvula de PEEP proporciona uma PEEP que pode ser acoplada à porta expiratória do RM. Ela previne o desrecrutamento alveolar durante a ventilação manual. O manômetro é utilizado para monitorar a PIP 48 UNIDADE II │ VENTILAÇÃO MANUAL E PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA produzida durante a ventilação manual. Sua utilização acoplado ao RM foi testada e verificada em dois estudos. Os dois indicaram que o manômetro eleva a acurácia e diminui a variabilidade do desempenho da ventilação, por isso o seu uso na prática clínica é preconizado. Figura 27. Ambu neonatal com válvula de PEEP. Fonte: disponível em: <http://ambu.com.br/brazil/emergencia/ressuscitadores/ambu%C2%AE_disposable_pressure_ manometer.aspx>. Acesso em: 1/10/2018.A compressão do RM provoca elevação da pressão interna da bolsa e bloqueia a válvula de entrada de ar, forçando a abertura da válvula do paciente sobre a porta expiratória. Com a descompressão, a pressão na válvula do paciente é retirada e se fecha. A liberação da pressão no interior da bolsa abre a válvula de entrada de ar, deixando a entrada de gás para a próxima insuflação. Para muitos autores, a manipulação do RM deveria ser restrita a pessoas qualificadas e treinadas, pois compressões inadequadas podem gerar: » Hipoventilação; » Hiperventilação; » Barotrauma; » Redução do débito cardíaco. 49 VENTILAÇÃO MANUAL E PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA │ UNIDADE II O RM deve ser usado com a válvula reguladora de pressão desbloqueada e a pressão do aparelho monitorada com manômetro quando possível. A válvula de não reinalação do RM pode se contaminar com vômito, secreção ou sangue durante a ventilação. Por conta disso, antes de conectar o reanimador no tubo endotraqueal, é preciso verificar o equipamento. Deve-se verificar o funcionamento do aparelho para não haver reinalação de gás carbônico (CO2). Leia mais sobre: OLIVEIRA, P. M. N. et al. Fatores que afetam a ventilação com o reanimador manual autoinflável: uma revisão sistemática. Rev Paul Pediatr 2011;29(4):645- 55. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rpp/v29n4/27.pdf>. REBELLO, C. M. É preciso repensar o conceito da ventilação manual com balão autoinflável em recém-nascidos. Rev Paul Pediatr 2010;28(1):4. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rpp/v28n1/v28n1a01.pdf>. 50 CAPÍTULO 2 Parada cardiorrespiratória e reanimação em recém-nascidos e crianças Introdução à parada cardiorrespiratória (PCR) A parada cardiorrespiratória (PCR) compreende a cessação da atividade mecânica cardíaca, determinada pela ausência de pulso central palpável e de resposta aos estímulos (inconsciência), e respiração irregular (apneia ou respiração agônica – gasping). A PCR em crianças, diferentemente do que ocorre com o adulto, na maioria das vezes, é o resultado final da deterioração da função respiratória ou do choque, que leva à hipoxemia e à acidose progressivas, com parada cardíaca secundária. Consequentemente, o ritmo cardíaco terminal mais comum é a bradicardia com progressão para assistolia. A parada cardíaca primária súbita é evento raro na faixa etária pediátrica e mais frequente em adultos, sendo provocada pelo desenvolvimento de: » Arritmias cardíacas; » Fibrilação ventricular (FV); » Taquicardia ventricular (TV). A maior parte das paradas cardíacas pediátricas ocorre em ambiente pré-hospitalar e é decorrente de causas heterogêneas, incluindo: » Síndrome da morte súbita no RN; » Asfixia; » Trauma; » Afogamento por submersão; » Envenenamento (intoxicações); » Engasgo; » Asma grave; » Sepse. 51 VENTILAÇÃO MANUAL E PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA │ UNIDADE II Na prevenção da PCR, é essencial o emprego imediato de terapias adequadas a cada doença. A monitorização de parâmetros clínicos, FR, FC, coloração das mucosas e perfusão periférica, é obrigatória em todas as crianças que demonstrem algum risco, mesmo que mínimo, de desenvolvimento de insuficiência respiratória ou circulatória. A parada cardíaca tem pelos menos quatro fases: 1. Pré-parada; 2. Ausência de fluxo sanguíneo; 3. Baixo fluxo sanguíneo; 4. Pós-ressuscitação. A fase pré-parada representa a melhor oportunidade para evitar a PCR e tem impacto na sobrevida do paciente. As intervenções para melhorar os resultados da ressuscitação cardiopulmonar (RCP) devem ser direcionados para otimizar as terapias de acordo com a etiologia da parada cardíaca pediátrica e com as melhores evidências da literatura. As principais causas de PCR são: » Hipovolemia; » Hipóxia; » Hidrogênio (acidose); » Hipo/hipercalemia; » Hipotermia; » Hipoglicemia; » Tóxicos/toxina; » Tamponamento cardíaco; » Tensão do tórax (pneumotórax); » Trombose (coronariana/pulmonar). Quando a oferta de oxigênio (O2) para o cérebro e para o coração não é suficiente, a RCP deve ser iniciada. O objetivo da RCP efetiva deve ser otimizar a pressão de perfusão coronária e o fluxo sanguíneo para os órgãos críticos durante a fase de baixo fluxo. A RCP compreende o suporte básico de vida (SBV) e o suporte avançado de vida (SAV). O 52 UNIDADE II │ VENTILAÇÃO MANUAL E PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA SBV inclui a circulação artificial (compressão torácica) e o emprego da terapia elétrica (desfibrilação), a abertura das vias aéreas e a respiração artificial. Esse atendimento inicial não requer equipamentos sofisticados e pode ser executado em qualquer circunstância. O êxito depende da destreza e da rapidez com que as manobras são aplicadas. Já o SAV implica o aperfeiçoamento das técnicas utilizadas no SBV, na obtenção da via de acesso vascular, na administração de fluidos e medicamentos, na monitorização cardiocirculatória, no suporte respiratório avançado, na prevenção da disfunção de múltiplos órgãos e dos sistemas e medidas de neuroproteção (PRADO; VALE, 2012, pp. 182-183). Figura 28. Reanimação cardiopulmonar. Fonte: disponível em: <http://www.enfermeiroaprendiz.com.br/reanimacao-neonatal-em-sala-de-parto-assistencia-ao-rn- maior-igual-34-semanas/>. Acesso em: 1/10/2018. Leia mais sobre a “Reanimação neonatal e pediátrica”: » Reanimação do recém-nascido ≥34 semanas em sala de parto: Diretrizes 2016 da Sociedade Brasileira de Pediatria 26 de janeiro de 2016 » Maria Fernanda Branco de Almeida e Ruth Guinsburg Coordenação Geral do Programa de Reanimação Neonatal da SBP e Membros do International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR) Neonatal Task Forc » Disponível em: <http://wwws.sbp.com.br/reanimacao/wp-content/ uploads/2017/09/DiretrizesSBP-ReanimacaoRNMaior34semanas- 28set2017.pdf> 53 VENTILAÇÃO MANUAL E PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA │ UNIDADE II » Reanimação do Prematuro <34 semanas em sala de parto: Diretrizes 2016 da Sociedade Brasileira de Pediatria 26 de janeiro de 2016. » Ruth Guinsburg e Maria Fernanda Branco de Almeida Coordenação Geral do Programa de Reanimação Neonatal da SBP e Membros do International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR) Neonatal Task Force. » Disponível em: <http://wwws.sbp.com.br/reanimacao/wp-content/ uploads/2017/09/DiretrizesSBP-ReanimacaoPrematuroMenor34sema nas-28set2017.pdf>. » Diretrizes da ressuscitação cardiopulmonar pediátrica – 2015. » Paulo Roberto Antonacci Carvalho, Alexandre Rodrigues Ferreira, Valéria Bezerra da Silva, Luiz Fernando Loch. Disponível em: <http://residenciapediatrica.com.br/detalhes/251/diretrizes-da- ressuscitacao-cardiopulmonar-pediatrica---2015>. 54 UNIDADE IIIVENTILAÇÃO NÃO INVASIVA CAPÍTULO 1 Histórico e modalidades O primeiro trabalho publicado sobre VNI teve início na década de 30, quando foram apresentadas a técnica e os benefícios de sua utilização. Inicialmente, foi empregada na epidemia de poliomielite que ocorreu nos Estados Unidos (por volta dos anos de 1930 a 1950), ao utilizar a ventilação por pressão negativa que compreendia a aplicação de pressão subatmosférica externa ao tórax do paciente, como pode ser visto na Figura 29 simulando a inspiração e permitindo a expiração de forma passiva. Figura 29. Pulmão de aço, VNI por pressão negativa. Fonte: disponível em: <https://slideplayer.com.br/slide/11642017//>. Acesso em: 1/10/2018. 55 VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA│ UNIDADE III Já na década de 1950, com a evolução da VNI com pressão positiva, conforme Figura 28, o interesse pela assistência ventilatória não invasiva ressurgiu, e a técnica por pressão negativa foi perdendo seu espaço. A VNI surgiu como uma alternativa terapêutica eficaz, sendo considerada um suporte ventilatório eficaz e seguro, pois exige menos tempo de internação, apresenta custo baixo e menor taxa de mortalidade. Além disso, o paciente preserva a sua deglutição, a linguagem e os mecanismos de defesa das vias aéreas. Figura 30.Adaptação da VNI no ventilador Bird Mark 7. Entrada de ar aberta Linha de pressão retirada Máximo fluxo respiratório Fonte: disponível em: <http://www.jornaldepneumologia.com.br/detalhe_artigo.asp?id=584>. Acesso em: 1/10/2018. Desde o ano de 1990, o interesse pela instituição desse método tem aumentado de forma expressiva em ambientes hospitalares, principalmente nas unidades de terapias intensivas, reconhecendo seus benefícios e as vantagens de sua utilização. O uso da ventilação mecânica não invasiva (VMNI/VNI) em neonatologia e pediatria vem sendo estudado e utilizado em grande escala. Atualmente, há evidências de melhor clínica em algumas situações, mas estudos randomizados ainda são necessários para comprovar e comparar os benefícios apresentados pelas diversas modalidades, parâmetros, interfaces e tipos de aparelhos. Deve-se evitar assincronia entre paciente e VNI, pois causa lesão muscular; Caso haja necessidade, deve-se solicitar prescrição de sedação mínima à equipe medica. Se em 2 horas o paciente não apresentar melhora, é considerado falha. A VNI pode ser realizada em: ventilador mecânico convencional (compensar vazamento), ventilador especifico de ventilação não invasiva, gerador de fluxo, CPAP virtual (PRADO; VALE, 56 UNIDADE III │ VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA 2012, p.165). Pode ser aplicada em diversas modalidades ventilatórias: BIPAP, CPAP, PSV, SIMV. Quadro 12. Resumo das modalidades ventilatórias para VNI. Parâmetros Valores IPAP 8-12 cmH 2 0 EPAP 4-6 cmH 2 0 CPAP 5-7 cmH 2 0 FR back up 8-12 rpm Sensibilidade 0,5 – 1,0 l/m TI De acordo com idade Fonte: Oliveira, 2011. Quadro 13. Resumo das modalidades ventilatórias para VNI. Modalidades ventilatórias Modos BIPAP » S (Espontâneo) » S/T (Espontâneo/ Cronometrado) » T (Cronometrado) » PC (Pressão Controlada) » CPAP » AVAPS CPAP » Pressão contínua nas vias aéreas PSV » Utiliza-se o próprio ventilador mecânico, modo PSV SIMV » Utiliza-se o próprio ventilador mecânico, modo SIMV Fonte: Oliveira, 2011. Dentre os modos ventilatórios que podem ser utilizados por meio da VNI, a CPAP é a modalidade de primeira escolha pelos profissionais e é a mais utilizada em UTIN. Caracteriza-se por proporcionar uma pressão positiva contínua nas vias aéreas de poucos centímetros de água (cmH2O), promovendo a manutenção dos valores predeterminados durante todo o ciclo respiratório e a respiração realizada inteiramente pelo paciente. Nessa modalidade, o princípio da ventilação fisiológica é realizado com pressão negativa e modificado para pressão positiva, no qual o RN é obrigado a inspirar o ar que está contido no circuito, sendo esse, normalmente, suplementado com O2. Durante o momento da expiração, o ar liberado é expelido por uma válvula expiratória que possui um sistema graduado de PEEP, que tem o intuito de elevar o período de troca de O2 entre os alvéolos e os capilares, otimizando, assim, o processo de troca gasosa. Em forma terapêutica, a CPAP vem sendo muito usada em várias patologias respiratórias em neonatos. Por meio da pressão transpulmonar positiva, permite uma elevação da 57 VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA│ UNIDADE III capacidade residual funcional (CRF), que é de extrema importância para os RNs, pois funciona como um reservatório de O2 durante períodos em que não há fluxo inspiratório, além de intervir diretamente no trabalho respiratório. Para que seja produzido o modo ventilatório CPAP, existem basicamente dois sistemas: » um incorporado ao ventilador mecânico, que apresenta características de cada fabricante; » sistema construído de forma artesanal, denominado como “selo d’água”. Nos dois sistemas, há a necessidade da instalação de um gerador de fluxo contínuo, um sistema de conexão às vias aéreas e um dispositivo para produção de pressão positiva. Na CPAP instalada por meio do ventilador, as fontes de gás estão ligadas ao próprio aparelho, e o fluxo e a FiO2 são ajustados pelos dispositivos específicos para cada parâmetro. A pressão positiva é concedida por meio de uma válvula expiratória no circuito do ventilador mecânico. Já na CPAP em forma de selo d’água, os fluxômetros são instalados juntamente à fonte de O2, misturada ou não com ar comprimido, produzindo, assim, um fluxo contínuo. O fluxo total é a soma dos fluxos dos gases, e a FiO2 é delimitada mediante a proporção de cada gás contido nessa mistura. A fonte de O2 passa por um umidificador de ar aquecido por meio de um circuito respiratório e vai para o RN, dele vai para um recipiente provido de água destilada estéril, em que a parte expiratória distal do circuito estará submersa, cujo nível em centímetros corresponde à PEEP, produzindo assim a pressão de CPAP desejada. Apesar de a CPAP em selo d’água ser um sistema de baixo custo, fácil e simples de ser instalado e adaptado em RNs, se não houver uma adaptação adequada da interface escolhida ou se houver uma quantidade significativa de escape de ar por meio do nariz ou boca, o nível de PEEP não será garantido. A CPAP é uma modalidade ventilatória que promove: » incremento da oxigenação, pois proporciona uma reexpansão de áreas colapsadas; » diminui o shunt intrapulmonar; » otimiza a superfície de trocas gasosas e, consequentemente, promove a relação ventilação/perfusão. Por fim, seus objetivos também incluem: » otimizar a complacência pulmonar; » evitar atelectasias; 58 UNIDADE III │ VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA » manter o surfactante endógeno; » estabilizar as vias aéreas; » proporcionar uma regularidade do ritmo respiratório; » incrementar a expansão pulmonar; » diminuir a resistência das vias aéreas; » reduzir o esforço respiratório; » estabilizar o padrão respiratório. O BIPAP é uma modalidade ventilatória a VNI que ofertada por meio de dois níveis de pressão positiva nas vias aéreas, sendo ajustada uma pressão inspiratória determinada, definida como IPAP (pressão positiva inspiratória) e uma pressão expiratória determinada, definida de EPAP (pressão positiva expiratória). Durante sua instalação com o BIPAP, na fase inspiratória, a pressão é maior e, durante a fase expiratória, o nível de pressão é reduzido, sendo possível um melhor controle sobre a ventilação pulmonar, proporcionando um maior conforto para o RN. A IPAP tem como intuito: » diminuir o esforço inspiratório, elevando o VC e diminuindo a dispneia; » melhora a oxigenação em situações de insuficiência respiratória (IR) de causas pulmonares, cardíacas e neuromusculares. A EPAP tem como objetivo otimizar a CRF, aumentando, assim, a PaO2. Trata-se de um modo ventilatório que dá assistência à inspiração e, com isso, reduz o trabalho respiratório. A ventilação mecânica controlada, em respiradores para VNI, é a ventilação ciclada a tempo, instituída em casos de pacientes com drive respiratório ineficaz. Esses respiradores têm um ajuste para o tempo em que a pressão determinada será alcançada: se curto, o aumento será rápido; se mais longo, o aumento será progressivo, em “rampa”, sendo mais confortável para o paciente. A ventilação assistida controlada determina um número de ciclos respiratórios a ser proporcionado caso não haja esforço do paciente. Como o respirador “atrasa” seu ciclo quando o paciente demonstra um esforço respiratório, esse modo é dito sincronizado: SIMV, nos respiradores comuns ou S/T (spontaneous/timed) nos respiradores para VNI. 59 VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA│ UNIDADE III A ventilação assistida espontânea é mais conhecida como ventilação pulmonar com suporte de pressão (PSV). O esforço inspiratório do paciente realiza o “disparo” do respirador, que lhe promove a pressão determinada. É importante que o ventilador para VNI tenha uma frequência respiratória mínima que possa ser ajustada, para casos de pausa respiratória (back up para apnéia). Figura 31. Exemplo de ventilador mecânico utilizado em UTI neonatal e pediátrica, como modalidade não invasiva: dixtal 3012. Fonte: disponível
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