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Quefazer comunitário – papel do psicólogo Martín-Baró ❖ Vice-reitor acadêmico na universidade centro americana (UCA) em El Salvador ❖ Nasceu em um país europeu, mas migrou muito cedo para El Salvador ❖ Morreu com 47 anos e teve uma vida muito promissora, gerando várias contribuições para a psicologia e para a teologia. ❖ Era um padre jesuíta que acabou se tornando acadêmico ❖ Sua morte foi um dos desfechos mais chocantes da ditadura de El Salvador – morreu por conta de um atentado político, já que suas obras tinham um caráter de discussão política muito forte, o colocando na mira da extrema direita. Contextualizando ❖ Para ele, a situação psíquica dos indivíduos e a forma como ela era construída é ajustada ou não aquilo que é tido como normalidade, comportamento padrão, ajustamento. ❖ Essa configuração psíquica pode ser anormal em reação a condições normais, ou normal em reação a condições anormais (não estão dentro do padrão praticado) ❖ Dizia que a solução para os problemas de saúde mental nas sociedades seria a transformação da sociedade, partindo da construção de que os sujeitos se ajustam ao sistema adoentado, que não fornece condições saudáveis para as pessoas viverem. ❖ Ele diz que existe, na sociedade, uma construção daquilo que pode ser chamado de “anormalidade normal” – as pessoas passam a se adaptar àquilo que é praticado, mas não é saudável. ❖ Assim, postulava que psicólogos não poderiam ignorar a influencia que os contextos difíceis têm sobre a saúde mental – e se o fizerem, se tornam cumplices das injustiças sociais (anormalidade) que podem causar problemas mentais. O papel do psicólogo ❖ O papel do psicólogo é definido em função das circunstancias concretas que a população que vai ser atendida tem. ❖ Cabe ao psicólogo contribuir a partir da sua especificidade para alterar essa realidade opressora, buscando algum tipo de resposta junto a população. ❖ Principal ferramenta do psicólogo: conscientização. ❖ A conscientização seria o “horizonte primordial do quefazer psicológico”. ❖ Assim, seria possível que o profissional de psicologia ajudasse a superar a alienação, a identidade pessoal e social. ❖ Ajudaria a transformar as condições opressivas do seu contexto. ❖ A identidade profissional e o papel que devemos desempenhar em nossas sociedades é muito mais importante do que a discussão interminável de se a psicologia é uma ciência ou não. ❖ É muito mais importante examinar a situação histórica de nossos povos e suas necessidades do que estabelecer o âmbito da psicologia como ciência. ❖ As definições do que encontramos em cada lugar deve ser única e singular, porque a maioria das realidades são inadequadas para captar uma especificidade social e cultural. ❖ No quefazer do psicólogo, devemos voltar nossa atenção para esse contexto, sem presumir que o fato de fazermos parte dele o torna suficientemente conhecido – devemos ter uma qualidade do olhar. Injustiça estrutural ❖ Sobre sociedades pobres e subdesenvolvidas assentam-se regimes que distribuem desigualmente os bens disponíveis ❖ Exemplos de injustiças estruturais: pessoas que têm que pensar sobre ficar sem comer, ficar sem saúde, ficar sem educação. ❖ Submissão da maioria dos povos a condições miseráveis ❖ Apenas pequenas minorias desfrutam de todo tipo de comodidade e luxo A LUTA REVOLUCIONARIA ❖ Mobilizações populares para destituir injustiças estruturais, ou ❖ Guerras sangrentas em países miseráveis, ou ❖ Economias débeis, ou ❖ Ganhos e perdas, ou ❖ Grandes potencias que fazem valer suas metas incentivando e financiando as desavenças locais ❖ Ex: Guerra do Paraguai O quefazer do psicólogo ❖ A psicologia sugeria uma solução alternativa para os conflitos sociais: mudar o individuo preservando a ordem social ou, no melhor dos casos, gerando a ilusão de que talvez, ao mudar o indivíduo, também mudaria a ordem social, como se a sociedade fosse uma somatória de indivíduos. ❖ Portanto, não se trata de perguntar o que cada um pretende fazer com a psicologia, mas sim para onde vai o quefazer psicológico; ❖ Pergunta norteadora: Qual efeito objetivo a atividade psicológica produz em uma determinada sociedade? - para onde vai o fazer psicológico, e quais seus efeitos na sociedade. Consciência ❖ É preciso examinar todas aquelas possibilidades que, historicamente, têm sido descartadas. ❖ Daí, necessitamos de uma avaliação não só do que somos, mas o que poderíamos ter sido, e sobretudo, o que deveríamos ser frente às necessidades de nossos povos, independentemente de termos modelos para isso ou não. ❖ Definição de consciência: realidade psicossocial, relacionada com a consciência coletiva de que falava Durkheim (1984). ❖ A consciência inclui, antes de tudo, a imagem que as pessoas têm de si mesmas, imagem que é o produto da história de cada um, e que não é um assunto privado. ❖ Mas inclui também as representações sociais, e todo o saber social e cotidiano que chamamos de “senso comum”, um âmbito privilegiado da ideologia. ❖ O saber considerado mais importante não é o conhecimento explícito e formalizado, mas sim o saber inserido na práxis cotidiana, na maioria das vezes implícito, inconsciente, ideologicamente naturalizado, que é difícil de se acessar num primeiro momento. ❖ O processo de conscientização é importante para que se desnaturalize esses conhecimentos implícitos e naturalizados – e é isso que deve ser feito pelo profissional de psicologia. ❖ O comportamento deve ser visto à luz de seu significado pessoal e social, no sentido de que se adquire a partir de uma perspectiva histórica. ❖ A consciência não é simplesmente o âmbito privado de saber e do sentir, mas sobretudo o âmbito onde cada pessoa encontra o impacto refletido de seu ser e de seu saber na sociedade, lhe permitindo ser alguém, ter uma identidade pessoal e social. ❖ A consciência é o saber, ou o não saber sobre si mesmo, sobre o próprio mundo e sobre os demais, indo além do mental. ❖ A consciência seria uma forma de acessar as relações que atravessam a sua existência, edificada pela atuação e reflexão que envolve a possibilidade de acessar o conhecimento que está sendo produzido. Assim, quando acessamos o saber e o conhecimento sobre nós mesmos, nossa realidade, sobre as leis que nos regem, estamos batendo diretamente com a consciência que temos sobre as coisas do mundo. Conscientização ❖ Termo criado por Paulo Freire ❖ Caracteriza o processo de transformação pessoal e social que experimenta os oprimidos latino-americanos quando se alfabetizam em dialética com o seu mundo. ❖ Para Freire, se alfabetizar é uma ferramenta, uma possibilidade, para acessar outros universos. Alfabetizar-se é, sobretudo, aprender a ler a realidade circundante e a escrever a própria história. É aprender a dizer a palavra da própria existência, que é pessoal, mas sobretudo, coletiva. O processo de conscientização supõe três aspectos 1. O ser humano se transforma ao modificar sua realidade – processo dialético, ativo pedagogicamente, não pode acontecer através de imposição, somente através de diálogo. 2. Mediante a gradual decodificação do seu mundo, a pessoa capta os mecanismos que oprimem e desumanizam – derrubada da consciência que normalizava isso 3. O novo saber das pessoas sobre sua realidade circundante – leva a pessoa a um novo saber sobre si mesma e sua identidade social, descobrindo as raízes de quem ela é e o horizonte de quem ela pode ser. ❖ Ao assumir a conscientização como horizonte do quefazer psicológico, reconhece-se necessária centralização da psicologia no âmbito pessoal, como seu correlato dialético e incompreensível sem a sua referencia constitutiva. ❖ Não há pessoa sem família, aprendizagem sem cultura, loucura sem ordem social, eu sem nós. ❖ A conscientização responde às situações de injustiça, promovendo uma consciência critica sobre as raízes, objetivas e subjetivas, da alienação social – a pessoa não sabe outras maneirasde organização e funcionamento da sociedade, porque elas são alienadas. ❖ A conscientização vem como um processo que pode e deve levar as pessoas a estranharem a sua realidade, a estranharem o contexto em que elas vivem, para que a partir disso elas entendem o que é justo e o que é injusto, e de que forma a justiça e a injustiça é distribuída na sociedade. ❖ Possibilita e facilita o desencadeamento de mudanças, o rompimento com os esquemas fatalistas que sustentam a alienação. ❖ Supõe abandonar a mecânica reprodutora das relações de dominação-submissão, visto que só é realizado com dialogo. ❖ Leva as pessoas a recuperar memoria histórica, romper com sistemas fatalistas que mascaram a realidade social, identifique que as situações não são dadas, mas sim construídas.
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