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Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Patologia Oral – 2020.2 Doenças imunologicamente mediadas As doenças dermatológicas imunologicamente mediadas estão associadas à produção de anticorpos que agem contra estrutura específica da pele e mucosas. Essas desordens apresentam características inflamatória e crônica. A interação dos anticorpos com o próprio tecido resulta na formação de bolhas intraepidérmicas que acometem a pele e as mucosas. Pênfigo Vulgar O pênfigo representa quatro doenças relacionadas de origem autoimunes, vulgar, vegentante, eritematoso e foliáceo, sendo apenas a Pênfigo Vulgar que afeta a cavidade oral. É a mais comum das doenças dessa classe, embora tenha uma incidência de 5:1.000.000; o não tratamento pode levar a morte do paciente. As lesões na cavidade oral são as primeiras a surgirem e as últimas a desaparecem, sendo as mais difíceis de se resolver durante o tratamento; sendo mais prevalente em pessoas entre a quinta e sexta década de vida, sem predileção por sexo As bolhas que caracterizam essa doença decorrem por uma produção anormal, por razões desconhecidas, de autoanticorpos que são dirigidos contra glicoproteínas de superfície da célula epidérmica, desmogleína 3 e desmogleína 1. Elas são componentes do desmossomos (estruturas de adesão entre as células epiteliais) e os autoanticorpos atacam esses componentes desmossomais, inibindo a interação molecular que é responsável pela aderência. Como resultado desse ataque imunológico aos desmossomos, uma fenda se desenvolve dentro do epitélio, causando a formação de uma bolha intraepitelial. OBS.: a desmogleína 3 é preferencialmente expressa na camada parabasal da epiderme e do epitélio bucal, enquanto que a desmogleína 1 é encontrada principalmente na camada superficial da epiderme, com expressão mínima no epitélio bucal. Os pacientes que desenvolveram autoanticorpos dirigidos contra desmogleína 3, com ou sem desmogleína 1, podem exibir histopatologicamente uma fenda intraepitelial acima da camada basal, e clinicamente formam-se bolhas de pênfigo vulgar na mucosa bucal. Os pacientes que desenvolvem autoanticorpos dirigidos somente contra desmogleína 1 exibirão histopatologicamente fenda intraepitelial superficial na epiderme, porém a mucosa bucal não será afetada. Clinicamente, as lesões finas, avermelhadas e descamativas do pênfigo foliáceo ou pênfigo eritematoso serão evidentes. Ocasionalmente, uma erupção bucal e cutânea semelhante ao pênfigo pode ocorrer em pacientes utilizando determinados medicações ou em pacientes com neoplasias malignas, especialmente as neoplasias malignas linforreticulares. OBS.: uma condição genética rara denominada pênfigo benigno crônico familiar ou doença de Hailey-Hailey pode apresentar lesões cutâneas erosivas, mas o envolvimento bucal nesse processo é incomum. Clinicamente, as bolhas são superficiais, que rompem facilmente resultando em ulcerações dolorosas e coalescentes. Sendo mais prevalente na mucosa jugal, lábios, gengiva e palato mole. Também é possível se manifestar na pele, como erupções bolhosas frágeis que, quando se rompem, forma áreas ulceradas. OBS.: o sinal de Nikolsky é quando se faz um movimento de pressão e fricção em área da mucosa lisa, e se forma uma ulceração, pois há um processo de acantólise. Para que a analise histológica seja assertiva, é importante remover uma parte da mucosa que esteja clinicamente normal. OBS.: essa região estará sobre influencia da desmogleína 3, o que irá criar uma fenda no epitélio. Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Patologia Oral – 2020.2 Histologicamente, não é visto processo inflamatório no tecido conjuntivo, e é possível observar uma fenda entre o epitélio que não acumulou liquido suficiente para formar uma bolha; também é possível ver células soltas; os queratinócitos basais permanecem ligados a membrana basal. O diagnóstico em boca, pode ser feito com imunofluorescência direta ou indireta, em que anticorpos são colocados em contato a um corte superficial; os anticorpos vão se aderir entre as células epiteliais, caracterizando uma atividade na região em que está o desmossoma. O tratamento é feito com corticoides tópicos e sistêmicos, e, nos casos mais graves, são usadas drogas imunossupressoras. Tendo um bom prognóstico. Penfigóide Doença autoimune, vesiculobolhosas crônicas, que acometem pele e mucosas, podendo ser do tipo bolhoso ou cicatricial (membranas mucosas). Difere do pênfigo vulgar, pois há produção autoanticorpos contra os hemidesmossomos, levando ao desprendimento do epitélio do tecido conjuntivo, gerando uma bolha subepitelial. Os antígenos alvos são o BP180 e BP230 – para o bolhoso – BP2, BP1, laminina 5, 6 e outras proteínas – para o cicatricial (mais comum na boca). Clinicamente, tem-se apresentação de lesões visiculobolhosas (um pouco mais resistente do que no pênfigo vulgar), ulcerações e lesões com crostas – cicatrizes, acometendo inicialmente mucosas (boca, orofaginge, esôfago, conjuntiva, nariz e genitália), quanto a pele, na cabeça e no pescoço. Na maioria dos casos, se manifestam oralmente, afetando qualquer região da boca (gengiva, língua, palato, assoalho, mucosa jugal e lábio superior) No processo de reparo da lesão, há formação de cicatrizes (exageradas), que podem levar a consequências graves. OBS.: singleforo é o processo que ocorre na conjuntiva que vai levar ao tracionamento da pálpebra em direção ao globo ocular. Esse tracionamento vai fazer com que os cílios entre em contato diretamente com a córnea provocando uma queratinização que pode levar a cegueira. Em boca, o aspecto é inespecífico, sendo fundamental para o diagnóstico biopsiar uma área que seja clinicamente normal. Microscopicamente, observa-se uma bolha em baixo do epitélio (subepitelial), resultado do ataque dos anticorpos. Para o diagnóstico, tem-se os achados clínicos associados aos aspectos microscópicos; porém, os exames de imunofluorescência D (IgG e C3 em padrão linear regular na membrana basal) e ID (cicatricial: poucos AC circulantes). O tratamento depende da extensão, é uma doença que não tem cura, seu tratamento paliativo é feito com uso de corticoides tópicos e/ou sistêmicos e agentes imunossupressores (casos mais graves). Líquen plano É uma doença mucocutânea inflamatória crônica, que acomete menos de 2% da população e tem predileção por mulheres entre 25 e 60 anos de idade, sendo raros os casos em crianças. Pode ser classificado em alguns tipos, sendo o mais comum o líquen plano reticular, que forma estrias e linhas ceratóticas que se entrelaçam (estrias de Wickham), sendo assintomático, afetando, principalmente, a mucosa jugal, língua, gengiva e lábios. OBS.: se apresentam bilateralmente (dos dois lados na cavidade oral). Outra manifestação do líquen plano, é o erosivo; que é caracterizado pela Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Patologia Oral – 2020.2 diminuição da espessura do epitélio que pode gerar ulcerações, que podem causar dor no paciente. OBS.: dentre as lesões apontadas, a gengiva pode ser afetada por todas, manifestando uma gengivite descamativa, que é caracterizado por uma gengiva avermelhada (perdendo seu aspecto róseo e de casca de laranja) e que gera ardência ao paciente. Alguns pacientes com líquen plano apresentam manifestações na pele, com formação de placas branco-acinzentadas ou avermelhada, nas regiões flexoras, que causam prurido. Também há uma displasia unhal. Para confirmaro diagnóstico, o exame histopatológico é fundamental, onde é possível ver o acumulo excessivo de linfócitos T e TCd8, que atuam atacando os queratinócitos basais; também há um infiltrado inflamatório de linfócitos dispostos em bandas ou em faixa na região subepitelial. Tem-se a formação de hiperqueratose, queratinócitos apoptóticose, as papilas epiteliais podem se tornar finas e alongadas. O tratamento cutâneo é feito com anti- histamínicos, corticoides locais ou sistêmicos se houver sintomas intensos e para o oral se tem o acompanhamento clínico ou uso de corticoides se houver sintomas. Referências: NEVILLE, B. W.; ALLEN, C. M.; DAMM, D. D.; et al. Patologia: Oral & Maxilofacial. 4ª Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. Imagens do Google Imagens.
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