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1 Doenças Bolhosas – resumo Clara Rêgo. DOENÇAS BOLHOSAS Doença autoimune caracterizada por vesículas ou bolhas. Obs: cuidado que existem outras patologias que cursam com bolhas, essas podem ser herpes simples, herpes zoster, trauma, impetigo, queimadura, prurido... mas nenhuma dessas é uma doença bolhosa, pois não são autoimunes. CLASSIFICAÇÃO: BOLHAS INTRAEPIDÉRMIA → PÊNFIGOS • Pênfigo vulgar; • P. foliáceo; • P. paraneoplásico; • P. por IgA BOLHAS SUBEPIDÉRMICA • Penfigóide bolhoso; • Pentigóide cicatrial; • P. gestacional; • Epidermólise bolhosa adquirida; • Dermatite herpetiforme; • Dermatose por IgA linear. “O que podemos ver nessa foto ao lado?” ➔ Pênfigo vulgar, pois a bolha é intraepidérmica. Os pênfigos são as doenças que cursam na intraepidérmica. Como vemos que ela é intraepidérmica? Podemos ver que há epiderme acima da bolha e também abaixo da bolha. Podemos ver na região circulada uma ruptura da epiderme – reparar nos queratinócitos começam a se soltar um dos outros. Isso é muito comum nas doenças bolhosas. Então essa foto seria uma bulosa intraepidérmica também. 2 Doenças Bolhosas – resumo Clara Rêgo. Vemos que não há mais epiderme aqui, apenas a derme. Então a bolha está abaixo da epidérmica = bolha subepidérmica. Obs: essa camada roxa mais clarinha é a derme. Olhando para a direita da foto, temos a pele normal. Agora olhando para a esquerda, vemos que a epiderme se dividiu da derme por conta da bolha. BULOSES INTRAPIDÉRMICAS - PÊNFIGOS: Grupo de doenças bolhosas autoimunes da pele e mucosas caracterizadas histologicamente por bolhas intraepidérmicas. FISIOPATOLOGIA: Ocorre uma produção de anticorpos contra componentes estruturais dos desmossomos. Ele é responsável por fazer a junção celular. Então por que há perda de aderência entre os queratinócitos? Por conta dos “anti-desmossosmos” auto-imunes. Desmogleínas (Dsg) → os anticorpos atacam essa estrutura. ➔ Pênfigo vulgar = anticorpo contra desmogleína 3 e 1. ➔ Pênfigo foliáceo = anticorpo contra desmogleína 1. Obs: o pênfigo paraneoplásico é uma exceção, pois neles há outros anticorpos além do contra a Desmogleínas, há o anticorpo contra Desmoplaquinas e contra estruturas.... ➔ Seta preta = córnea. ➔ Seta branca = lúcida ou granulosa. ➔ Seta amarela = espinhosa. ➔ Seta azul = basal. ➔ Abaixo da basal temos a derme. Obs: entre a derme e a epiderme há um limite bastante irregular. Temos as papilas dérmicas (evaginações da derme em direção a epiderme) e as cristas epidérmicas, que são cristas em direção a derme. Na foto da direita, percebemos que nesse espaço em branco entre os queratinócitos há os desmossomos – apontados pela seta preta. PÊNFIGO VULGAR: EPIDEMIOLOGIA 3 Doenças Bolhosas – resumo Clara Rêgo. • Adultos > 40 anos sem diferença entre os sexos; • Quando acontece em indivíduos mais jovens, menores que 20 anos, acomete mais mulheres. • Mais comum na raça branca. QUADRO CLÍNICO: • Lesões bolhosas na mucosa oral e pele. Obs: Nem sempre você vai visualizar no paciente a vesícula ou bolha, mas sim erosões, pois o teto da bolha rompeu → como diagnostico em bulose então? Através de exames complementares o Atentar para aftas recorrentes → ter atenção, pois um indivíduo que tem aftas recorrentes ou que não melhoram, investigar se aquilo é realmente uma afta ou um pênfigo. o Acometimento mucoso – 90%. ▪ 50 a 70% dos casos, o acometimento mucoso precede o quadro cutâneo. Obs: diferença do P. vulgar para o foleácio = no p. foleácio não há tanto acometimento mucoso. • As bolhas são efêmeras, deixando áreas erosadas nas mucosas e na pele – “aspecto em bife sangrento”. Isso acontece pelo o que já falamos, há rompimento do teto da bolha. • O pênfigo vulgar é mais grave, é mais difícil reparação → atinge anexos cutâneos – folículos. Obs: Tanto no vulgar quanto no folácios há a clivagem intraepidérmica, porém a vulgar é mais profunda que o pênfigo foleácio, por isso é mais grave e mais difícil reparação. Nessa foto vemos um pênfigo vulgar, pois há o rompimento entre os queratinócitos formando a bolha, e podemos ver também que há acometimento do folículo (circulado de azul). Além disso, vemos que coladinho com a dérmica fica apenas uma camada de células – lesão mais profunda. Essas lesões evoluem em semanas. A principal causa de morte dessas doenças seriam infecções, sendo o tegumento lesionado a porta de entrada. PÊNFIGO FOLIÁCEO: • PF. Clássico: o Epidemiologia semelhante ao PV: adultos > que 40 anos, ocorrendo igualmente em mulheres e homens. • PF endêmico / brasileiro / fogo selvagem: Obs: Esses dois tipos têm quadro clínico igual, o que difere é a epidemiologia, pois no endêmico tem fisiopatologia com traços diferente. o Acomete crianças e adultos. 4 Doenças Bolhosas – resumo Clara Rêgo. o Ocorrência familiar. o Países sul-americanos: populações rurais (regiões centro-oeste, triangulo mineiro e oeste paulista); o Autoimunidade é desencadeada por proteínas presentes na saliva no mosquito borrachudo (lembrando que há uma predisposição genética, então essas substâncias presentes nas salivas apenas “ajudam” que esse processo autoimune se desenvolva). QUADRO CLÍNICO: • Lesões vesicocrostosas no couro cabeludo, face, região esternal e interescapular. o A lesão elementar é muito efêmera. o Ao diagnóstico, é mais comum encontrar erosões e crostas. • Surtos recidivantes podem deixar crostas secas e escamas – aspecto foliáceo. • Não acomete anexos cutâneos – diferente do vulgar; • Lesões mais superficiais – por isso tem recuperação mais fácil que o vulgar; • P. foleáceos NÃO ACOMETE MUCOSAS! PV x PF Comparando P. foleácio e P. vulgar: nessa foto podemos comparar que há maior acometimento das mucosas no PV do que no PF. PÊNFIGO PARANEOPLÁSICO: • Uma paraneoplasia é uma alteração na pele relacionada a um câncer em outra região. • Também é uma bulose intraepidérmica. • Acometimento intenso das mucosas; • Mucosite dolorosa + lesões de pele; • Não responsivo ao tratamento convencional das buloses (imunossupressão); • Linfoma não Hodgkin, leucemias, timoma. 5 Doenças Bolhosas – resumo Clara Rêgo. DIAGNÓSTICO DOS PÊNFIGOS: • Quadro clínico e anamnese. • Biópsia de pele (lesão) – exame histopatológico. • Biópsia de pele perilesional – pele normal perto da lesão. o Imunofluorescência direta – IFD. o Anticorpo IgG nos espaços intercelulares da epiderme. o A diferença entre PV e PF se dá pelo exame histológico, pois na imunofluorescência eles são iguais. • Então eu faço 2 biópsias! EXAME HISTOPATOLÓGICO: ➔ P. vulgar ➔ Essa é uma clivagem intraepidérmica mais superficial, assim sendo um P. foleáceo. PERGUNTINHAS: • Por que no pênfigo foliáceo a bolha é mais superficial? O PF cursa com anticorpos contra a desmogleina 1, a qual está mais relacionada com a superfície da pele. Além disso ainda há desmogleína 3, que também é responsável pela sustentação da pele, e não é afetado pelo anticorpo do PF. • Por que o pênfigo foliáceo não acomete mucosas? Na mucosa, a desmogleina 3 está em toda a extensão da mucosa, e pela PF só atinge a desmogleína 1 (muito superficial na mucosa), está área não é muito afetada. 6 Doenças Bolhosas – resumo Clara Rêgo. BIÓPSIA DE PELE: ➔ Não tem como diferencia PV e PF apenas pela a imunofluorescência, pois ela vai dar positivo nas duas. Precisamos da anamnese, exame físico e das DUAS biópsias. TRATAMENTO: • IMUNOSSUPRESSÃO! o Corticoide em doses imunossupressoras – altas doses → cuidado!!! Precisamos buscar se o paciente tem hepatites virais, tuberculose (raio-x), HPV, parasitose (exame de fezes), entre outros, pois ao imunossuprimir, podemos disseminar essas doençase prejudicar o paciente. • Agentes imunossupressores: o Azatioprina, metotrexate, ciclofosfamida, micofenolato de mofetila. • Imunobiológicos: rituximabe. O PV e o PF geralmente respondem bem ao tratamento! BULOSES SUBEPIDÉRMICAS: Lembrando que buloses são doenças autoimunes que cursam com vesícula ou bolha. As buloses subepidérmicas se diferencia das intraepidérmicas, pois a primeira tem produção de anticorpos contra componentes da Membrana Basal – junção dermoepidérmica. Essa região é a transição entre a derme e a epiderme, a qual é formada pelas seguintes estruturas: ➔ Queratinócito basal e seu hemidesmosso (este liga o queratinócito à junção dermoespidérmica, enquanto o desmossomo liga um queratinócito no outro); ➔ Lâmina lúcida; ➔ Lâmina densa; ➔ Sublâmina densa (esse já está na derme); Quem tem a patologia da bulose, cria anticorpo contra uma estrutura da junção dermoepidérmica, havendo ruptura desta e formando uma bolha subepidérmica. PENFIGÓIDE BOLHOSO: Acomete principalmente idosos (>60 anos), sem diferença entre os sexos. ETIOPATOGENIA: Anticorpos contra os componentes AP1/BPAg1 (antígeno do penfigoide bolhoso tipo 1) e AP2/BPAg2(antígeno do penfigoide bolhoso tipo 2), estruturas da zona da membrana basal. 7 Doenças Bolhosas – resumo Clara Rêgo. QUADRO CLÍNICO: • Bolhas/vesículas; • Podem afetar difusamente o tegumento; • Podem ser hemorrágicas → aqui há acometimento da derme – onde estão os vasos sanguíneos. Nas buloses intradérmicas é mais raro, pois nessa região não há vasos. • 30% dos casos nas mucosas; • O quadro pode iniciar com lesões eritematosas ou placas. Nem sempre uma bulose subepidérmica vai aparecer uma bolha. → Por que uma bulose intraepidérmica é muito difícil ter uma bolha/vesícula como a da primeira foto? Porque nas intraepidérmicas a bolha é mais superficial, então o seu teto é mais fino, sendo mais fácil “pocar”. Já nas subepidérmicas, o teto da bolha é mais rígido, por isso é mais fácil visualizar bolhas “tensas”. DIAGNÓSTICO: • Diagnóstico é feito com exame de biópsia (duas). • Quadro clínico gera suspeita; • Histopatologia: bolha subepidérmica com infiltrado de eosinófilos e neutrófilos. A primeira biópsia é essa feita na lesão. • A segunda biópsia é feita do material próximo da lesão, para fazer imunofluorescência direta. o Vemos depósito de anticorpos na zona da membrana basal (é um aspecto visto em todas as doenças da aula de hoje). O prognóstico dos penfigóides pode ter quadros recorrentes, mas com boa resposta ao tratamento: prednisona, corticoide tópico potente em casos localizados, e/ou imunossupressores. PENFIGÓIDE CICATRICIAL/DAS MEMBRANAS MUCOSAS: Acomete mais idosos e mais no sexo feminino. Quadro clínico clássico: • Feminina, 62 anos, natural e procedente do RJ. Tem queixa de feridas na boca e na genitália. o HDA: há dois anos, surgimento espontâneo de úlceras dolorosas na cavidade oral, e pós alguns meses, lesões semelhantes na região genital. Refere neste período odinofagia, disfagia e perda de peso (10Kg). Associado a este quadro, refere também aderência e eritema ocular bilateral. As aderências são a formação de um tecido cicatricial, chamada de sinéquia. As aderências são características do penfigóide cicatrial. O paciente fica com dificuldade de abrir a boca, algo que chamamos de microstomia. Olhar seta vermelha na foto no canto da boca. 8 Doenças Bolhosas – resumo Clara Rêgo. É uma doença autoimune crônica (mais insidiosa), que acomete principalmente as mucosas. Os autoantígenos aqui podem ser vários (geralmente o paciente tem um anticorpo contra uma das estruturas): • BPAg2 • Integrina beta-4-alfa-6; • Lamina 5; • BPAg1; • Colágeno tipo VII. QUADRO CLÍNICO: • Lesões vesicobolhosas efêmeras que cicatrizam formando sinéquias/aderências e acometem principalmente as mucosas. o Oral → mucosa mais acometida (91%); o Conjuntival (66%); o Esofagiana (60%); o Laríngea (21%); o Genital (19%). • Consequências do acometimento intenso das mucosas: o Microstomia: abertura diminuída da cavidade oral causada pelas aderências. Paciente relata não conseguir se alimentar direito, não consegue fazer assepsia bucal normalmente. o Estenose esofágica; o Amaurose; o Disfagia e odinofagia; o Precisa de nutrição enteral ou traqueostomia – por acometimento das mucosas da VAIS. • Pode acometer a pele em 25-35% dos casos, principalmente no couro cabeludo, face, pescoço e tronco superior. DIAGNÓSTICO: • Quadro clínico característico: úlceras/exulcerações crônicas nas mucosas, com sequela cicatricial (sinéquias) em uma paciente idosa. • Histopatologia: bolha/clivagem subepidérmica. Nessa primeira biópsia, a amostra é colhida de uma lesão. • imunofluorescência direta: nessa segunda biópsia, fazemos de uma região próxima à lesão, a qual detecta depósito linear de anticorpos (IgG, C3, IgM e IgA) na zona basal. O prognóstico é de uma evolução insidiosa (não em surtos, como no bolhoso). O tratamento é com corticoide oral ou intravenoso ou com outros imunossupressores. PENFIGÓIDE GESTACIONAL: Acontece na gestação e puerpério. Nessa bulose subepidérmica, há um gatilho (o fator hormonal de aumento dos níveis de estrogênio), que acontecem na gravidez. Os autoantígenos são os AP1 (BPAg1). QUADRO CLÍNICO: • Lesões polimórficas: o Urticariformes; o Eritema; o Vesículas; 9 Doenças Bolhosas – resumo Clara Rêgo. o Bolhas; o Escoriações. • Prurido → característica importante. • Localização inicial clássica é a cicatriz umbilical, com posterior disseminação. DIAGNÓSTICO: • Gestante; • Quadro polimórfico pruriginoso. • Histopatologia e IFD semelhantes ao penfigoide bolhoso. O quadro pode recidivar posteriormente, principalmente pelo uso de anticoncepcional oral e uma gestação subsequente. O tratamento é feito com corticoide oral ou tópico, ou anti-histamínico. EPIDERMÓLISE BOLHOSA ADQUIRIDA: Aqui as bolhas são induzidas por um trauma/lesão, logo as localizações são em áreas de trauma e localização acral. O trauma não induz mecanicamente a lesão, e sim desencadeia um processo autoimune local. O trauma induz formação de anticorpos contra o colágeno VII da zona basal. Mais comum em adultos. O atrito geralmente é leve. O diagnóstico é feito com a clínica (bolhas em locais de trauma). A primeira biópsia vemos uma clivagem subepidémica com infiltrado de neutrófilos. Na IFD vemos IgG, C3 na ZMB. DERMATITE HERPETIFORME/DERMATITE DE DUHRING-BROCQ: Tem depósito de IgA na ZMB. 80-100% dos casos possuem associação com Doença Celíaca. Acomete mais adultos jovens. 10 Doenças Bolhosas – resumo Clara Rêgo. São as transglutaminases epidérmicas que são reconhecidas como antígenos pelo organismo. É criado anticorpo IgA contra essas. Não se sabe muito bem a função da trnasglutaminase na junção dermiepidérmica. Ela está presente principalmente nos queratinócitos da papila dérmica. QUADRO CLÍNICO: • Início insidioso; • Prurido; • Polimórfico: pode ter pápulas e placas urticariformes, vesículas agrupadas, bolhas... • Crescimento geralmente é centrífugo; • As localizações principais são: o Nádegas; o Região interescapular e sacra; o Superfície extensora dos antebraços; o Joelhos; o Cotovelos. • Pode ser desencadeada ou exacerbada por: o Ingesta excessiva de glúten; o Iodo – contrastes, alimentos (frutos do mar), doenças da tireoide. DIAGNÓSTICO: • Quadro clínico; • 1ª biópsia é o exame histopatológico → bolha subepidérmica com infiltrado de neutrófilos principalmente nas papilas dérmicas. o Numa fase inicial, pode ser que não ache clivagem subepidérmica, mas se achar apenas infiltrado inflamatório nas papilas, já podemos fechar diagnóstico • IFD → deposito granular de IgA. o Esse depósito é granular, e não linear como nas outras buloses. DERMATOSE POR IGA LINEARNão tem relação com a doença celíaca. Os autoantígenos podem ser AP2, AP1 e colágeno VII que se localizam na ZMB. QUADRO CLÍNICO: • Polimórfico; 11 Doenças Bolhosas – resumo Clara Rêgo. • Lesão característica é o colar de pérolas. • “Há um mês surgimento de lesões bolhosas muito pruriginosas, inicialmente no tronco e que, rapidamente, passaram a acontecer em todo o corpo”. DIAGNÓSTICO: • Quadro clínico; • 1ª biópsia é o exame histopatológico →coloração pela hematoxilina eosina. Vê bolha subepidérmica com infiltrado de neutrófilos. • IFD → depósito linear de IgA. Obs: vai se diferenciar da hipertiforme por isso aqui! Nesta o depósito é granular, enquanto da dermatose é linear. TRATAMENTO seria feito com sulfas.
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