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1 RESPOSTA ENDÓCRINA, METABÓLICA E INFLAMATÓRIA AO TRAUMA (REMIT) Gizelle Felinto INTRODUÇÃO ➢ DEFINIÇÃO DA REMIT → é a reorganização do organismo para manter e priorizar a perfusão/fluxo sanguíneo, a oxigenação tecidual e as reservas energéticas dos tecidos e órgãos que mais precisam no momento do trauma. Assim, esse processo será responsável por manter as funções vitais, priorizando-se o Sistema Nervoso Central (SNC), Coração (manutenção do Débito Cardíaco) e Rins (manutenção da Perfusão Renal). Apenas após isso é que se mobiliza essas reservas para resolver o processo de injúria que o organismo sofreu. Dessa forma, consegue-se, ao longo de todo esse processo traumático, manter as funções vitais e, de forma adequada, regenerar e cicatrizar o local acometido • Ou seja, primeiramente a nossa resposta biológica ao mantém-nos vivos (SNC, Coração e Rins), para depois priorizar o local injuriado ➢ A capacidade que o nosso organismo tem de responder a determinadas agressões, sejam elas de natureza cirúrgica, traumática ou infecciosa, por exemplo, é uma importante parte da reação de estresse que tem por objetivo aumentar a probabilidade de o indivíduo sobreviver a algum trauma. Essa resposta coordenada envolve a: • Manutenção do fluxo sanguíneo e da oferta de Oxigênio para os tecidos e órgãos • Mobilização de substratos para utilização como fonte energética e para o auxílio ao processo de cicatrização de feridas ➢ Nem toda REMIT é igual! → Assim, a resposta é diretamente proporcional à gravidade do evento. Ou seja, quanto mais grave a injúria, maior será a resposta metabólica ➢ De acordo com a gravidade do processo que levou à lesão tecidual: • Trauma de pequena intensidade → resposta endócrina e imunológica tente a ser temporária e tem-se uma restauração da homeostase metabólica e imune mais rapidamente • Trauma grave (Ex: pacientes politraumatizados e grandes queimados) → pode desencadear uma resposta de grande intensidade que provoca a deterioração dos processos reguladores do hospedeiro e o impedimento da recuperação das funções celulares e de órgãos. Assim, quando não se tem uma intervenção terapêutica adequada, essas alterações podem levar à falência orgânica múltipla e ao óbito ➢ Resposta Imune ao Trauma → aumento da síntese e liberação de mediadores humorais e da inflamação • Os principais mediadores incluem: ▪ Citocinas (ou Citoquinas), como: ✓ Fator de Necrose Tumoral (TNF) ✓ Interleucinas ▪ Radicais livres derivados de oxigênio ▪ Opioides endógenos ▪ Ácido araquidônico e os produtos do seu metabolismo (Prostaglandinas e Tromboxane) ▪ Complemento ativado DE MODO GERAL O QUE OCORRE EM UM PROCESSO DE INJÚRIA É ➢ Para que o organismo reaja a uma injúria ele necessita de: • Energia → é fornecida pelo metabolismo aeróbio, havendo, assim, a necessidade de oxigênio para a produção dessa energia • Perfusão → pois não adianta ter Oxigênio se não se tem perfusão. Assim, o marcador de perfusão é o Débito Cardíaco (DC): DC = Frequência Cardíaca x Retorno Venoso ▪ Assim, ao se aumentar o consumo de oxigênio e a frequência cardíaca, aumenta-se o débito cardíaco para permitir que o oxigênio chegue onde é necessário • Captação de oxigênio → é necessário que se aumente essa captação, que é refletida por meio do aumento da Frequência Respiratória ➢ Dessa forma, seguindo essa linha de raciocínio acima, o que o nosso organismo faz em um processe de injúria é: Manutenção da Perfusão Sistêmica • Aumentar o Consumo de Oxigênio → energia • Aumentar a Frequência Cardíaca (FC) → perfusão • Aumentar a Frequência Respiratória (FR) → captação de oxigênio • Aumentar a Temperatura → ao se aumentar o consumo de O2, a FC e a FR, tem-se uma taxa metabólica mais aumentada. Por isso que também se aumenta a temperatura corporal Mobilização de Energia (enviar energia para onde ela é necessária) • Balanço Nitrogenado Negativo: ▪ A via metabólica preferencial de energia do nosso organismo é o carboidrato. Após um processo de injúria, a nossa reserva energética não é suficiente. Dessa forma, é necessário que o organismo gere outras formas de obter glicose de outra forma. Assim, começa-se a utilizar gordura (lipólise) e proteínas (proteólise). O uso de proteínas é feito por meio da dissociação dessa proteína em ureia e aminoácidos, passando-se a perder ureia, que passa a ser uma excreta e que tem nitrogênio. Desse modo, no momento em que se está quebrando proteína e se excretando ureia, tem-se um balanço nitrogenado negativo ➢ Importante → No trauma, a principal fonte de energia utilizada pelo organismo são os ácidos graxos livres, oriundos da lipólise Atenção A REMIT NÃO CONTROLADA PODE SER FATOR AGRAVANTE, PODENDO LEVAR O PACIENTE AO ÓBITO! ❖ A resposta biológica ao trauma tem como princípio básico a preservação do organismo. Porém, agressões intensas e graves desencadeiam uma resposta “maléfica”, que pode levar o indivíduo a óbito 2 RESPOSTA ENDÓCRINA, METABÓLICA E INFLAMATÓRIA AO TRAUMA (REMIT) Gizelle Felinto “SITUAÇÕES CONTROLADAS” – CIRURGIA ELETIVA ➢ RESPOSTA ENDÓCRINA: • É baseada principalmente em uma liberação hormonal por estímulos, principalmente, do nervo vago (não é exclusivo do nervo vago). Cada hormônio tem uma função importante no contexto da injúria e os hormônios não agem de forma separada, pois cada um, mesmo tendo ações diferentes, irão agir juntos em determinado contexto • NO SISTEMA CARDIOVASCULAR → São produzidos pela Glândula Suprarrenal: ▪ O eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal é responsável por detectar as alterações causadas pela injúria e liberar os hormônios produzidos pela glândula suprarrenal de forma aguda a) Cortisol (na injúria há aumento do Cortisol de forma aguda) → tem efeito catabólico (quebra), fazendo: ✓ Proteólise → mobilização de aminoácidos musculares ✓ Lipólise → facilita a ação de Catecolaminas (Adrenalina, Noradrenalina, Dopamina...) o Os corticoides são necessários para sensibilizar receptores adrenérgicos. Assim, quando se tem adrenalina ou noradrenalina, por exemplo, e não se tem corticoide, essa adrenalina não terá a função adequada, pois não sensibiliza os receptores. É por isso que, por exemplo, no choque refratário tem-se a indicação de associar corticoide para que se melhore a sensibilidade dos receptores adrenérgicos às catecolaminas b) Catecolaminas (Adrenalina, Noradrenalina...): ✓ Produzidas na medula suprarrenal ✓ Responsáveis por manter a perfusão pela otimização do débito cardíaco por meio da vasoconstrição o Ao se perder volume (sangue) para o meio externo o nosso organismo acaba desidratando, fazendo com que se diminua o fluxo sanguíneo da Arteríola Aferente Renal, causando uma Insuficiência Renal Pré- Renal. Ao se diminuir o fluxo dessa arteríola aferente renal, até que se prove o contrário, se está começando um período de choque, sendo necessário, diante desse quadro, que se garanta a perfusão por meio do débito cardíaco. Assim, as Catecolaminas fazem uma vasoconstrição periférica, diminuindo-se a perfusão nas extremidades, para que se aumente o retorno venoso e, consequentemente, aumente-se a frequência cardíaca. Dessa forma, tem-se um melhor débito cardíaco, conseguindo-se perfundir os órgãos e tecidos mais importantes de uma melhor forma ✓ A diminuição da perfusão periférica também diminui a perfusão esplâncnica/visceral. Assim, as Catecolaminas determinam um grau maior de atonia intestinal ✓ Insuficiência Adrenal = Choque o Quando não se tem Catecolaminas, que são responsáveis por manter a perfusão, e/ou quando não se tem Cortisol, que é responsável por fazer com que as Catecolaminas funcionem; ou seja, se a adrenal não funciona, não se controla o choque. Assim, entra-se em um quadrode insuficiência adrenal • NOS RINS: c) Hormônio Antidiurético (ADH) → ocorre a liberação do ADH para que o organismo não perca volume por meio da urina ✓ Promove a reabsorção de água ✓ Retenção hídrica no pós-operatório d) Aldosterona → há aumento da secreção de Aldosterona para que o organismo pare de perder água ✓ Reabsorve Na+ e H2O ✓ Excreta K+ ou H+ ✓ No túbulo contorcido distal do néfron, a Aldosterona reabsorve sódio e água e em troca ela elimina Potássio ou Hidrogênio • RESERVAS ENERGÉTICAS → para garantir uma reserva energética após uma injúria é necessário que se consiga glicose de uma outra forma que não seja pelo metabolismo dos carboidratos e) Glucagon → há aumento dos níveis de glucagon ✓ Níveis elevados de Glucagon favorecem a Gliconeogênese f) Insulina → ocorre diminuição dos níveis de insulina, pois após uma injúria necessita-se da liberação de energia, e não do armazenamento por meio da insulina ✓ É o principal hormônio anabólico ✓ Sua função está reduzida na resposta imediata ao trauma ✓ Ao se diminuir sua ação causa-se um estado de Hiperglicemia na resposta imediata ao trauma • Resumindo: ▪ Necessita-se de energia → dessa forma: ✓ Aumenta-se o Catabolismo (Hormônios Contra- insulínicos) → devido a necessidade de mobilizar as reservas energéticas. São responsáveis pelo Catabolismo: o Cortisol o GH → participa da resposta ao trauma, mas em menor proporção o Glucagon o Catecolaminas ✓ Diminui-se o Anabolismo → pois no trauma não se deve poupar energia. Principal hormônio anabólico: Insulina 3 RESPOSTA ENDÓCRINA, METABÓLICA E INFLAMATÓRIA AO TRAUMA (REMIT) Gizelle Felinto ▪ Mantém-se a Perfusão → por meio do (da): ✓ Aumento da perfusão → pela ação das Catecolaminas no sistema cardiovascular ✓ Diminuição da perda de água → por meio do ADH e da Aldosterona ➢ MODULAÇÃO DA RESPOSTA HORMONAL → formas de se diminuir a gravidade da reação endócrina descrita acima • Cirurgia Minimamente invasiva → Laparoscopia (acesso à cavidade abdominal), Toracoscopia, cirurgia endoscópica de joelho, cirurgia endoscópica do trato urinário... ▪ Todas as técnicas minimamente invasivas diminuem as perdas → ou seja, não se tem cavidade aberta. Assim, não se perde volume, diminuindo-se um pouco a atividade das Catecolaminas ▪ Com uma cirurgia minimamente invasiva também ocorre a diminuição da dor, diminuindo-se sua resposta metabólica, pois dor aumenta o consumo de oxigênio, a Frequência Cardíaca, a Frequência respiratória... ▪ O que for feito para diminuir dor e diminuir perda acaba modulando a resposta hormonal, pois quão mais grave é a injúria, mais grave será a resposta, por isso que em cirurgias são preferíveis aquelas minimamente invasivas ▪ Diminui a liberação de Citocinas Inflamatórias: ✓ Citocinas são proteínas de fase aguda que são liberadas principalmente por células do sistema imunológico (Macrófagos, Neutrófilos e Linfócitos) e que tem uma função de sinalização o Interleucina 1 (IL-I) → é uma interleucina de atividade pró-inflamatória, estimulando a liberação de proteínas de fase aguda, a cascata de coagulação... ❖ Sua liberação pode causar: - Anorexia - Febre → é a característica mais marcante - Síndrome de Disfunção de Múltiplos Órgãos (SDMO) → quando se tem uma resposta pró-inflamatória mantida e desproporcional (mantem-se aumento da permeabilidade vascular, vasoconstrição periférica, liberação desenfreada de hormônios e febre sem controle) o organismo acaba por não tolerar, pois, por exemplo, quando se tem uma permeabilidade vascular muito aumentada pode-se fazer vários litros de soro no doente que mesmo assim todo esse líquido irá para o terceiro espaço. Assim, essa resposta exacerbada leva a condições graves, como a SDMO • Bloqueio de Vias Aferentes: ▪ Anestesia Multimodal → ao invés de apenas intubar o paciente e submetê-lo a uma anestesia geral (assim que passar o efeito dessa anestesia o paciente irá acordar e sentirá dor), pode-se associar a essa anestesia geral um bloqueio periférico, retirando-se a dor durante a cirurgia e diminuindo-se a dor nos pós- operatório ✓ O indivíduo pode ficar 24 a 48h com uma Anestesia Peridural (anestesia no espaço epidural) RECUPERAÇÃO DA REMIT – Pode-se dividir a REMIT de algumas formas ➢ Fase Adrenérgica-Corticoide: • É a fase inicial/aguda (Ex: nas primeiras horas do corte cirúrgico) • Ação das Catecolaminas e dos Corticoides • Duração → é de acordo com a manutenção do estresse metabólico, podendo durar horas a dias ▪ Na maioria das vezes esse estresse é apenas durante a cirurgia, mas existem alguns casos em que se tem uma perda de sangue muito grande ou em que o paciente apresente infecção, por exemplo. Nesses casos esse estresse metabólico perdura por mais tempo • Ocorre predomínio de: ▪ Catabolismo ▪ Gliconeogênese → formação de glicose para que se obtenha energia ▪ Balanço nitrogenado negativo → devido a quebra de proteínas ➢ Fase Anabólica Precoce: • Após o organismo sair dessa fase aguda (fase adrenérgica- corticoide) ele entra na fase de “produção” daquilo que perdeu • Nessa fase ocorre: ▪ Síntese de Proteína → assim, o balanço nitrogenado tende ao equilíbrio ▪ Queda do Fator de Necrose Tumoral Alfa (TNF-α) ou Caquexina → quando o organismo tem uma injúria ocorre aumento dos níveis de TNF-α, fazendo com que o indivíduo não sinta fome e ainda perca suas reservas energéticas. Assim, se esses níveis elevados TNF-α de persistirem ocorre o mesmo que acontece com a IL-1 quando ela persiste, podendo o paciente chocar, não se recuperar e vir ao óbito ▪ Normalização do Potássio: ✓ No pós-operatório ocorre aumento temporário do potássio por morte celular → pois o potássio é o principal cátion intracelular. Assim, ao se matar a célula, libera-se potássio, aumentando os seus níveis ✓ Diminuição tardia por efeito da aldosterona → a aldosterona, no túbulo contorcido distal do néfron, absorve sódio e água e libera potássio na urina o No começo da resposta metabólica inflamatória a prioridade do organismo é o metabolismo da água para que se mantenha a perfusão, assim aumenta-se os níveis de 4 RESPOSTA ENDÓCRINA, METABÓLICA E INFLAMATÓRIA AO TRAUMA (REMIT) Gizelle Felinto aldosterona, que absorve sódio e água e libera potássio na urina. Porém, nesse caso, os níveis de potássio não diminuem, pois está ocorrendo morte celular e o potássio que estava dentro dessas células é liberado (ou seja, o potássio que estava sendo perdido na urina é mantido alto devido à morte celular). Com a melhora do paciente não há necessidade de reter tanta água e, muito comumente, esses pacientes acabam tendo excesso de líquidos no terceiro espaço, fazendo edema gravitacional (distribuição para a periferia). Assim, esse excesso de volume em determinado momento deve ser liberado. Dessa forma, os níveis de aldosterona caem, fazendo com que o organismo pare de reabsorver água e de jogar potássio fora, assim o potássio não cai rapidamente pela ação da aldosterona, pois não se tem mais níveis elevados dessa aldosterona ➢ Fase Anabólica Tardia: • Reganho ponderal e de tecido adiposo • Ex: paciente com a ferida cicatrizada, em bom estado geral, com apetite... • Nessa fase não se tem mais gastos. Assim, pode-se “construir” novamente. Dessa forma, para-se de produzir apenas proteínas para a regeneração celular e começa-se a estocar “SITUAÇÕES NÃO-CONTROLADAS” - TRAUMA ➢ Exemplos: • Politraumatizado • Grande queimado • Sepse • Casos de COVID • Choque hipovolêmico grave... ➢ Nesses pacientes tem-se uma agressão maior, assim tem-se também uma resposta ao trauma na mesma proporção: maior e mais grave ➢ Persistência do estado Catabólico (pois a depender do tipo de traumaele pode perdurar por dias): • Proteólise → a persistência dessa proteólise acaba causando: ▪ Sarcopenia → pois o reservatório de proteína do organismo é músculo e para a realização da proteólise quebra-se o músculo ▪ Prejuízo na cicatrização de feridas ▪ Insuficiência respiratória → pois o diafragma é um músculo, sendo também usado para a proteólise • Lipólise → a lipólise persistente pode causar: ▪ Embolia gordurosa (a gordura forma vária microtrombos) → é bem mais clássica de grandes traumas ortopédicos, mas também é descrita na reação exacerbada ▪ Acidose metabólica → pois gordura é igual a glicerol + ácido graxo. Assim, quando se quebra o lipídeo, o glicerol produzirá energia e o ácido graxo causará acidose e cetose. Em até certo ponto essa quebra de gordura é benéfica e o organismo prefere primeiramente gastar proteína para deixar a gordura reservada para o cérebro. Assim, quando não se tem glicose, essa quebra de lipídeos faz com que a cetose nutra o cérebro. Porém, o metabolismo da cetose pode levar a acidose metabólica, que pode ser fatal ➢ Persistência da Fase Adrenérgica: • Vasoconstrição Periférica Mantida → pode causar: ▪ Hipóxia Tecidual → necrose de extremidades (dedo, nariz, orelha, pênis...) ▪ Insuficiência Renal ▪ Aumento da Permeabilidade Vascular ▪ Perdas para o Terceiro Espaço ➢ FASE DE BAIXO FLUXO SEGUIDA DE REFLUXO: • FASE Ebb: ▪ Fase de baixo fluxo → na qual se diminui a resposta de todo o corpo ao trauma ▪ Quando se tem uma resposta muito grave ao trauma e mesmo após a resposta hormonal não se consegue manter o fluxo sanguíneo o organismo entra em processo de falência, ocorrendo: ✓ Diminuição do débito cardíaco ✓ Aumento da resistência vascular periférica ✓ Volume circulatório depletado ✓ Hipotermia e hipometabolismo ▪ Essa situação pode levar o paciente ao óbito, mas quando se está em uma situação tão descontrolada é muito melhor que se diminua o gasto metabólico • FASE FLOW: ▪ “Refluxo” → reperfusão ▪ Ocorre com a restauração da volemia (Ex: após a infusão de cristaloides, como o Ringer lactato, e/ou hemoderivados) ▪ É basicamente a fase adrenérgica ▪ Nessa fase ocorre: ✓ Hipermetabolismo → ocorrerá “reconstrução” do que foi perdido ✓ Secreção Pró-inflamatória → liberação de IL-1, causando febre o É nessa fase flow que a febre pós-traumática ocorre, sendo ocasionada por intensa produção de citocinas, principalmente IL-1 o A temperatura pode chegar à níveis de até 38,5°C ✓ Alteração do Metabolismo Proteico - Proteólise → ocorre mobilização de aminoácidos, principalmente Alanina e Glutamina o A mobilização de aminoácidos a partir do músculo esquelético e tecidos periféricos se faz de modo intenso quando comparada à 5 RESPOSTA ENDÓCRINA, METABÓLICA E INFLAMATÓRIA AO TRAUMA (REMIT) Gizelle Felinto resposta a cirurgia eletiva, caracterizando a proteólise acelerada o Glutamina: ❖ Serve como substrato para a gliconeogênese hepática ❖ É usado como combustível para os enterócitos (é a alimentação preferencial dos enterócitos) → assim, em muitos casos, administra-se glutamina para pacientes graves para garantir que o intestino e a circulação esplâncnica continuem funcionando bem ❖ Diminui acidose → a glutamina captada pelos rins, contribuindo para o grupamento de amônia (NH3), favorecendo a excreção ácida (NH3 + H+ = NH4), pois a amônia é um tampão ácido na urina, facilitando a excreção do cátion hidrogênio para o lúmen tubular. Esse fenômeno é extremamente benéfico, uma vez que hipoperfusão tecidual difusa decorrente de hipovolemia pode ocorrer em pacientes vítimas de lesões graves, o que pode gerar acidose láctica o Alanina: ❖ É derivada do piruvato ❖ Ciclo de Felig → durante a resposta ao trauma ou a cirurgias eletivas, a proteólise faz com que a alanina seja liberada do músculo, ganhe a circulação e seja “transformada” no fígado em glicose ▪ Na fase Flow volta-se a ter fluxo, mas o paciente antes se encontrava em um estado gravíssimo. Assim, às vezes, mesmo tendo o retorno do fluxo, o paciente não dá conta de tudo, fazendo com que o organismo não use apenas o metabolismo aeróbio (uma glicose na presença de uma molécula de oxigênio no ciclo de Krebs, produzindo 32 a 36 ATPs), pois nem sempre haverá oxigênio devido à diminuição do fluxo na periferia causada pelo choque. Assim, quando não se tem oxigênio para ter energia, realiza-se o metabolismo anaeróbio, que é o ciclo de Cori ▪ Ciclo de Cori (uso de glicose em metabolismo anaeróbio): ✓ É a metabolização do lactato, produzido no músculo, pelo fígado para ser convertido em glicose ✓ Com uma glicose esse metabolismo irá produzir 2 a 4 ATPs e liberar Lactato ✓ Lactato: o É resultado do metabolismo anaeróbio e é um ácido, assim ele determina acidose e é um dos melhores e mais estudados marcadores de perfusão o Sai dos músculos e é metabolizado no fígado através da gliconeogênese para formar glicose “SITUAÇÕES NÃO-CONTROLADAS” - JEJUM ➢ Quanto menos tempo de jejum, melhor será. Pois o jejum gasta as reservas energéticas e quando se entra em um estado em que se irá gastar todas essas reservas energéticas e antes desse estado o individuo passa por um jejum acaba-se por agravar a resposta a essa injúria ➢ Quando se faz jejum ocorre: • Glicogenólise → o glicogênio (hepático e muscular) é o primeiro a ser quebrado no jejum, por ação das Catecolaminas, formando a glicose • Gliconeogênese → ocorre quando o organismo percebe que a glicogenólise não é o suficiente ▪ O Glucagon (antagonista da insulina) quebra os lipídeos e as proteínas, formando glicose a partir deles • Proteólise menos intensa que no trauma → ocorre em situações de jejum prolongado, nos quais não se tem mais glicose ▪ Uso de corpos cetônicos como fonte de energia ▪ Para a alimentação quebra-se mais lipídeos do que proteínas, pois o lipídeo pode ser usado para alimentar o cérebro, e a proteína não ▪ É menos intensa que no trauma porque no jejum não há necessidade de gastar energia para a cicatrização de feridas e para manter a hemostasia, por exemplo ➢ PREVENÇÃO DE CETOSE DE JEJUM: • Protocolo ERAS (Otimização da Recuperação Pós- Operatória) → é seguido para que se diminua o tempo de jejum do paciente • Cota Basal de Glicose → administra-se as 400kcal que o glicogênio hepático tem por meio de um soro ao paciente APLICAÇÃO PRÁTICA ➢ CASO CLÍNICO → MJDM, 56 anos, previamente hígida, portadora de câncer colorretal (adenocarcinoma de cólon sigmoide), admitida no hospital com quadro de dor abdominal de início há cerca de 05 dias, associada a vômitos e queda do estado geral. No exame físico apresenta: Abdome globoso, tenso, doloroso á palpação difusa, pressão arterial de 80x50mmHg, frequência cardíaca de 140bpm e oligoanúrica. Submetida a retossigmoidectomia em caráter de urgência, por neoplasia de cólon perfurada, com contaminação fecal de cavidade abdominal, com colostomia • Discussão do caso: ▪ Hipóteses Diagnósticas: ✓ Choque séptico de foco abdominal → pois a paciente se apresenta hipotensa, taquicárdica e sem diurese ✓ Neoplasia de cólon perfurada 6 RESPOSTA ENDÓCRINA, METABÓLICA E INFLAMATÓRIA AO TRAUMA (REMIT) Gizelle Felinto ▪ Nesse caso, é apenas após entrar em choque séptico e apresentar uma resposta inflamatória já muito intensa que essa paciente vai ser operada, ou seja, após já ter ocorrido toda a resposta do organismo a esse trauma. Assim, essa mulher sofrerá um trauma (a cirurgia) em cima de outra agressão que ela já apresenta ▪ Supondo que a cirurgia seja um sucesso e essa paciente continue viva, ela terá: ✓ Alta da UTI no 5º do Pós-Operatório → nesses 5 dias ela irá tomar antibiótico de amplo espectro, demorará a se alimentar, vai se desnutrir, terádificuldade de deambular, terá mais dor... ✓ Alta hospitalar no 14º dia do Pós-Operatório ➢ CASO CLÍNICO → MJDM, 56 anos, previamente hígida, portadora de câncer colorretal (adenocarcinoma de cólon sigmóide), é admitida no hospital para realização de cirurgia eletiva. Fez preparo intestinal, estando em dieta líquida há 02 dias e com diarreia secundária a substância osmótica. Submetida a retossigmoidectomia por via laparotômica, sob anestesia geral, sem intercorrências • Assim, 2 dias antes da cirurgia, no preparo, essa paciente ficará sem comer e irá desidratar e desnutrir. Além disso, essa cirurgia foi aberta, sendo ela apenas entubada sob efeito de anestesia geral • Desfecho desse quadro: ▪ Mais dor no pós-operatório → a via cirúrgica não foi a minimamente invasiva ▪ Íleo adinâmico prolongado → pois a dor aumenta os níveis de catecolaminas, que causam adinamia intestinal, prolongando o tempo de recuperação do intestino ▪ Alta no 7º dia do Pós-Operatório • Condutas que deveriam ter sido tomadas → não deveria ter feito preparo intestinal e nem suspendido a dieta. Além disso, o ideal é que a via deveria ter sido minimamente invasiva e que a resposta tivesse sido modulada com anestesia bimodal (anestesia geral + bloqueio) ➢ CASO CLÍNICO → MJDM, 56 anos, previamente hígida, portadora de câncer colorretal (adenocarcinoma de cólon sigmóide), é admitida no hospital para cirurgia eletiva. Sem preparo de cólon. Fez preparo nutricional prévio. Submetida a retossigmoidectomia por via minimamente invasiva, com anestesia e analgesia multimodal • Nesse cenário fez-se as medidas necessárias para a modulação da resposta ao trauma, tendo-se um melhor desfecho para a paciente e uma alta hospitalar mais precoce • Desfecho: ▪ Menor dor no pós-operatório ▪ Recuperação mais rápida ▪ Alta no 4º dia do pós-operatório QUESTÕES 1) A resposta endócrino-metabólica ao trauma cirúrgico (REMIT) tem como objetivo oferecer condições para adequada recuperação do organismo. Entretanto, quando exacerbada, pode trazer efeitos deletérios e, em algumas situações, até danos irreversíveis. Qual das medidas abaixo atenua a liberação de cortisol após a intervenção cirúrgica? a) Utilização de videolaparoscopia com auxílio do CO2. b) Laparotomia xifo-umbilical com hemostasia rigorosa. c) Anestesia geral inalatória. d) Esternotomia com utilização de serra elétrica. Resposta: letra A, pois a via minimamente invasiva diminui a resposta metabólica ao trauma b) o corte no abdômen é muito grande c) traz apenas a anestesia geral sozinha, sem a modulação de dor d) é uma cirurgia aberta e muito invasiva 2) De acordo com as características da intervenção cirúrgica ou do traumatismo em geral, a interrupção parcial ou total da ingestão de alimentos pode estar presente e ter duração variável. Conforme seus conhecimentos sobre as alterações endócrinas, metabólicas e imunológicas ao jejum, julgue a veracidade das afirmações abaixo: I. Em resposta ao jejum, o glicogênio hepático é prontamente consumido e a gliconeogênese hepática é ativada, utilizando como substratos: aminoácidos, lactato e glicerol. II. O Ciclo de Cori (ou Ciclo Glicose-Lactato) se refere ao processo de reciclagem do lactato, que é consumido na glicogênese hepática e produzido na glicólise por eritrócitos e leucócitos. III. No jejum a curto prazo, a lipólise, com liberação de ácidos graxos e glicerol, ocorre devido aos níveis aumentados de insulina. IV. No jejum prolongado (acima de 1 semana) há uma redução da proteólise sistêmica, reflexo de uma adaptação dos órgãos vitais. V. As proteínas, durante a resposta endócrina, metabólica e imunológica ao trauma, são mobilizadas a partir de estruturas fundamentais, como a musculatura diafragmática, o que pode desencadear prejuízos para a função respiratória. De acordo com a veracidade das afirmações, marque a proposição que apresenta as afirmações corretas: a) I, IV e V b) I e II c) I, II, IV e V d) I, II e V e) I, III e V Resposta: letra A (I, IV e V) II) o ciclo de cori não ocorre no sangue, mas sim no músculo III) no jejum não se elevam os níveis de insulina, pois é necessário liberar energia, e não a armazenar. Assim, no jejum utiliza-se o glucagon, que é oposto à insulina
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