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MEDNOTES SÍNDROME NEFRÓTICA Você sabe manejar pacientes com síndrome nefrótica? Conhece suas principais complicações? · Caso clínico: · Pedro, 5 anos · Criança em anasarca e queixa e urina espumosa, mas com quadro clínico geral benigno · função renal normal · Estamos diante de um quadro clássico de síndrome nefrótica: síndrome edemigênica numa criança em ótimo estado geral sem outros fatores associados. · Histologia e fisiologia glomerular · Lembrar das estruturas principais do glomérulo: capilar glomerular com endotélio fenestrado, membrana basal em verde, podócito com seus processos podocitários e mesângio - estrutura celular e proteica que dá sustentação para o glomérulo · Doença glomerular: patologias predominantemente de imunocomplexos - formação de antígeno-anticorpo que se ligam, produzem uma reação inflamatória local, atraindo células inflamatórias em menor ou maior quantidade, desestruturando o glomérulo, aumentando sua permeabilidade a proteínas, hemácias, entre outros componentes. · Quando suspeitar de doença glomerular · Sempre que falo de glomerulopatia, falo de proteinúria, em especial albuminúria · Síndrome nefrítica: quadro mais agudo, muita atração inflamatória, doenças com quadro proliferativo, muita hematúria, menor quantidade de proteinúria · Síndrome nefrótica: quadro mais insidioso, médio prazo de evolução, resposta inflamatória glomerular é menos intensa, não tem hematúria em geral (na prova não tem!) · Mapa mental: S. Nefrótica X S. Nefrítica · SÍNDROME NEFRÓTICA · Características gerais · S. nefrótica é patognomônica de Doença Glomerular · Pêntade: 1) Proteinúria > 3,5 g/24h (adultos) e > 40 mg/h/m² em crianças 2) Hipoalbuminemia (<3,5 g/dL) 3) Edema 4) Hiperlipidemia (achado não obrigatório) 5) Lipidúria · Início geralmente subagudo · As doenças glomerulares são responsáveis por mais de 50% dos casos de doença renal crônica · Para a maioria dos pacientes, a síndrome nefrótica é uma condição crônica · Pode ocorrer em qualquer idade e, quando ocorre em lactentes nos primeiros 3 meses de vida, pode ser classificada como síndrome nefrótica congênita e infantil, geralmente secundária (por ex. devido a infecção) ou primária (por alterações genéticas) · A S. nefrótica pode ocorrer em função de doença sistêmica ou ser a manifestação de doença primária renal · A biópsia renal é indicada na quase totalidade das S. nefróticas primárias em adultos e na maioria das secundárias · Tendência a hipercoagulabilidade, aterogênese e eventos tromboembólicos · Aumento do risco de infecções, anemia, doenças ósseas · Não apenas a albumina é perdida na urina, como também imunoglobulinas, complemento, fatores de coagulação, eritropoetina, proteína ligadora de vitamina D, etc. · Mecanismo imunológico: depósito de imunocomplexo em estruturas glomerulares · Ausência de hematúria na síndrome nefrótica · Quadro clínico e complicações são comuns a todas as doenças que fazem parte do espectro da síndrome · Apresentação clínica · IMPORTANTE! Fisiopatologia das complicações · Tudo começa com a albuminúria · A desnutrição protéica leva ao catabolismo muscular · Hipoalbuminemia leva à compensação hepática da síntese de proteínas - aumenta também a produção de lipoproteínas, levando à dislipidemia no paciente, pode ter lipidúria · as duas alterações lipídicas mais comuns são hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia · Perda de imunoglobulinas - aumento do risco de infecções · As infecções na S. Nefrótica ocorrem principalmente por bactérias encapsuladas como S. pneumoniae, H. influenzae e N. meningitidis. · Proteínas geram dano tubular, podem levar à disfunção tubular · Hipoalbuminemia também provoca desregulação dos fatores anti e pró coagulantes - aumento do risco de tromboembolismo · Déficit de minerais, vitaminas e proteínas carreadoras de hormônios · Síndrome nefrótica - edema nefrótico · Teoria do underfill: Mais comum em crianças! hipoalbuminemia gera redução da pressão osmótica do vaso. Edema difícil de tratar, refratário: aumento da produção de vasopressina por conta da redução do volume plasmático (mas o líquido acaba não ficando dentro do vaso); além de ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona por hipovolemia relativa (retém sódio e água, que também vão pro interstício) · Teoria do overflow: Na grande maioria dos pacientes com síndrome nefrótica, o edema ocorre por aumento de volume sanguíneo, devido ao defeito primário na habilidade do néfron em excretar sódio · Avaliação inicial · Exames habituais: urina tipo I, proteinúria de 24h, perfil lipídico, dosagem de ureia, creatinina, hemograma · Causas associadas: glicemia, FAN, dosagem do complemento sérico · Avaliar necessidade de outros exames: dosagem de crioglobulinas, sorologias para hepatites B e C, HIV, ANCA e anticorpos anti-MBG · Caso não haja causas secundárias, solicitar biópsia renal para avaliar qual é o tipo de DG · Manejo do edema nefrótico · Restrição de sódio < 2,4 g/24h · Suspensão de medicações que possam contribuir com edema - anlodipina, betabloqueadores, etc · Diuréticos de alça - furosemida VO/EV (preferir EV se hipoalbuminemia grave) · Diuréticos tiazídicos - HCTz, clortalidona · Se tendência de hipocalemia, associar diuréticos poupadores de potássio - amilorida, espironolactona · Ultrafiltração - se refratário, se redução f; renal · Prevenção de eventos tromboembólicos · Risco elevado de eventos tromboembólicos · Evitar imobilização prolongada · Antiagregantes plaquetários - AAS, clopidogrel · Heparinização profilática - em especial em internações com paciente acamado · Tratar a dislipidemia - estatinas, ezetimiba, fibratos · Manejo da proteinúria - proteção renal · Geralmente doenças do espectro da síndrome nefrótica cursam com proteinúrias muito elevadas · iECA/BRA (antiproteinúricos) - manter a maior dose tolerada · Alvo de proteinúria < 0,5 a 1,0 g/24 horas · Controle pressórico rigoroso - PA < 130 x 30 mmHg · Controle de ingesta proteica e de sódio · Tratamento da doença de base - imunossupressão ** · Proteinúria e prognóstico renal · Doenças associadas · IMPORTANTE! Doença de lesões mínimas (DLM) · Também conhecida como Doença de Nil ou nefrose lipoide · Características gerais · Principal causa de síndrome nefrótica em crianças menores de 10 anos (90%) · pico de incidência aos 4 anos; predomínio sexo masculino 2:1 · Causa de síndrome nefrótica em adultos (10 a 15%) · mais comum em idosos; sem predileção por sexo · Proteinúria maciça · Proteinúria seletiva - albuminúria · Ausência de hematúria (70%) · SEM consumo de complemento · em geral, hipertensão ausente (70%) e f. renal preservada · RESPOSTA DRAMÁTICA A CORTICOIDES VO, em especial em crianças · Em geral, é idiopática · Fatores associados a DLM · Na maioria das vezes é idiopática · Drogas: AINHs, interferon, sais de ouro/lítio · Alérgenos: pólen, pó, imunizações · Malignidades: doença de Hodgkin, micose fungoide, LLC (incomum) · Fisiopatologia · Idiopática · Fatores associados podem ser o gatilho para o início da doença - como infecções virais · Fusão dos processos podocitários - microscopia eletrônica · Na microscopia óptica, não se observam grandes alterações. Por isso o nome “doença de lesões mínimas” · Ausência de infiltrado celular - doença de caráter não proliferativo · Biópsia · Tratamento · Medidas gerais** · Corticoides - 1 mg/kg/dia, VO, por 8 a 12 semanas, com diminuição gradual da dose. Após o controle da proteinúria, reduzir a dose gradativamente entre 1 e 3 meses e suspender · Crianças com s. nefrótica presumivelmente por doença de lesão mínima, deve-se iniciar a corticoterapia mesmo sem biópsia · a biópsia só está indicada para crianças corticodependentes, corticorresistentes com recidivas frequentes e àquelas com mais de 8 anos, ou com perda de função renal · Remissão completa (PTU <0,5 g/24h) em 95% dos casos · Associação de ciclosporina, ciclofosfamida ou clorambucila se não houver remissão (mais comum em adultos) · IMPORTANTE! Como abordar criança com s. nefrótica · 4. Criança em bom estado geral- pode tratar em casa · 5. Coleta de urina de 24h para confirmação OU urina simples com relação: proteinúria/creatinina plasmática · 6. Não. sd nefrótica em crianças é presumivelmente diagnosticada como DLM, não há indicação de biópsia, a menos que a resposta não seja positiva. · 7. Prednisona VO, 1mg/kg/dia, por 8 a 12 semanas e desmame gradual Glomeruloesclerose segmentar e focal · A GESF é uma síndrome nefrótica clássica, associada à redução da função renal, depósitos de IgM e C3 na imunofluorescência e hematúria (50%), sem consumo do complemento, com rara remissão espontânea. · Principal causa de S. nefrótica em adultos · 30 a 35% dos casos de síndrome nefrótica em adultos (principalmente adultos jovens) · Esclerose em parte dos glomérulos - focal - e nas alças capilares de cada glomérulo - segmentar · Pode estar associada à hematúria e/ou à hipertensão (50%) · SEM consumo de complemento · Proteinúria variável - menor proteinúria, melhor prognóstico renal · Proteinúria não seletiva · 50% dos pacientes vão evoluir para DRCt em 5 a 10 anos · Primária (idiopática) - fatores imunológicos circulantes · Secundárias - diversos fatores potencialmente envolvidos · Genéticas - GESF familiar · Virais - HIV ** (variante colapsante) - pior prognóstico, menor resposta a corticoides · Drogas - heroína, interferon, lítio, pamidronato · Adaptação estrutural - funcional (sobrecarga glomerular) 1. Baixo peso ao nascer 2. Agenesia renal unilateral 3. Nefropatia de refluxo vesicoureteral 4. Obesidade ** 5. Anemia falciforme · OBS: tratamento da GESF secundária envolve controle da causa base, controle pressórico e uso de estatinas · Biópsia · Tratamento · Nem sempre responde bem. · Paciente mais sintomático, mais internações: indicação para corticoides · Prednisona 1 a 2 mg/kg/dia em dias alternados, de 6 a 16 semanas, reduzir a dose até remissão ou até completar de 6 a 8 meses. · Corticorresistente: dou corticoide na dose máxima e a proteinúria não reduz · Corticodependente: dou corticoide na dose adequada, a proteinúria reduz bastante, quando desmama corticoide, proteinúria sobe novamente · Corticodependente e corticorresistente precisam de outra imunossupressão que não o corticoide. · Prognóstico em relação à proteinúria e resposta à corticoterapia · Evolução lenta e progressiva para DRCt · Quanto menor a proteinúria, melhor a sobrevida renal · Pacientes respondedores a corticoides possuem melhor prognóstico que os não respondedores Nefropatia membranosa · A nefropatia membranosa é mais frequente em indivíduos brancos, > 40 anos, homens, podendo ser secundária (25%) a: LES, hepatite B, sífilis, malária, carcinomas e neoplasias hematológicas · 15 a 40% das causas de síndrome nefrótica em adultos (em especial acima de 40 anos) · Rara em crianças · Mais comum em homens · Em 75% das vezes, é primária · Sempre procurar causas secundárias potencialmente associadas 1. Tumores sólidos - próstata, intestino, pulmão, mamas, ginecológicos pélvicos 2. Associação com hepatite B 3. AINEs 4. Sais de ouro/penicilamina 5. LES (Nefrite Lúpica Classe V - nefropatia membranosa - associada a positivação dos auto anticorpos do lúpus, associada a quadro clínico do lúpus) / OBS: As classes III e IV são as proliferativas - síndrome nefrítica · Causas primárias - anticorpo conhecido, responsável pela formação de imunocomplexo da doença membranosa: receptor da fosfolipase A nos podócitos · Apresentação clínica · Sem hematúria · SEM consumo de complemento · A nefropatia membranosa apresenta espessamento da membrana basal glomerular, com complemento sérico normal · 70% dos pacientes tem PA e função renal normais no início do quadro · Proteinúrias importantes - maior risco de complicações relacionadas à síndrome nefrótica · A doença glomerular mais associada a eventos trombóticos é a GN membranosa · Trombose de veia renal crônica - pode ser assintomática · Trombose de veia renal aguda - perda rápida de função renal, aumento DHL, hematúria e muita proteinúria, varicocele lado esquerdo Doença dos terços - após tratamento inespecífico · ⅓ dos pacientes vai evoluir com remissão espontânea · ⅓ dos pacientes vai evoluir com PTU e f. renal estáveis · ⅓ dos pacientes vai evoluir com DRC em estágio avançado (10-15 anos) · Risco para progressão: sempre avaliar potencial para evolução desfavorável, visando escolher os pacientes com benefício para imunossupressão (risco moderado e elevado) · f. renal normal + PTU < 4 g/24h (baixo risco) · f. renal normal + PTU entre 4 e 8 g/24h (risco intermediário) · deterioração de f. renal + PTU > 8g/24h (risco elevado) · Biópsia · Depósitos subepiteliais (abaixo dos podócitos) - espessamento da membrana basal e padrão em espículas · IF - depósito granular de IgM ao longo da alça capilar glomerular · Diagnóstico · Testes para todos os pacientes · Pressão arterial · Função renal (Cr sérica e ClCr) · Excreção de proteína urinária (urina de 24h ou relação proteína/creatinina) · Albumina sérica · Colesterol sérico, incluindo relação LDL-HDL · Urinálise · Biópsia renal · Anti-PLA2R (anticorpo anti receptor da fosfolipase A2) · pode ser útil para diagnóstico e monitorizar a atividade imunológica da doença · Doenças associadas · Anti-HBs · Anticorpo HCV · FAN, DNA de dupla hélice · Complementos C3, C4 · Pacientes selecionados · Com suspeita de eventos tromboembólicos, dor no flanco, hematúria, insuficiência renal aguda >> Ecodoppler venoso dos rins, TC com contraste, RNM · Com redução abrupta da função renal, com sedimento urinário tornando-se ativo >> Anticorpo Anti-MBG; ANCA; avaliação de nefrite intersticial · Sintomas sugestivos ou idade > 50 anos >> Screening para câncer · Tratamento · Na doença membranosa, não se utilizam corticóides isolados para imunossupressão dos pacientes. Associação de drogas citotóxicas (ciclosporina, tacrolimus, azatioprina) + corticoide. · O tratamento com imunossupressores e corticoide só deve ser considerado em pacientes com fatores de risco para progressão e naqueles com S. Nefrótica extremamente sintomática · Todos devem fazer o tratamento geral da S. Nefrótica: · IECA/BRA · Diuréticos, preferencialmente de alça · Estatina - com hipercolesterolemia · Anticoagulação - para pacientes com fenômeno trombótico ou hipoalbuminemia grave e persistente
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