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ICTERÍCIA NEONATAL (20.08) Se você observar um bebê ictérico, provavelmente ele está com BI>5mg/dL. O nível sérico normal em adulto é BI < 1mg/dL. Expressa-se clinicamente quando o nível de bilirrubina indireta é maior que 1,5mg/dl ou a bilirrubina direta é maior que 1,5mg/dl. A bilirrubina direta é a conjugada, que é a letal. Pronta para ser excretada, ela é hidrossolúvel. A bilirrubina indireta não se dissolve e é ela que pode atravessar a BHE, ir para o cérebro e causar encefalopatia. A bilirrubina é produto da degradação da hemácia, ela vai se desmembrar em HEME e globina. · Icterícia fisiológica · População maior de eritrócitos · Menor vida média da hemácia fetal · Menor captação da bilirrubina pelo hepatócito pela atividade limitada das proteínas Y e Z · Limitação da conjugação hepática da bilirrubina pela menor atividade da enzima glicuronil-transferase · Aumento da circulação entero-hepática pela baixa ingesta alimentar, trânsito intestinal lento, maior ação da enzima betaglicuronidase desconjugando a bilirrubina direta a nível intestinal. Icterícia como manifestação de doença Etiologia Doença hemolítica do RN por incompatibilidade Rh · Gestação anterior, mãe Rh negativo, feto Rh positivo, hemácias D fetal passam para a circulação materna e produz Ac anti-D · Outra gestação os Ac anti-D produzidos pela mãe passam para o feto, causando hemólise fetal se RN Rh+ · Coombs direto positivo · Icterícia precoce (primeiras 6 horas de vida) · RN apresenta hepatoesplenomegalia, anemia e, às vezes, sufusões hemorrágicas · Hidropsia fetal: anemia intensa e anasarca · A gravidade depende do título de Ac Incompatibilidade sanguínea Rh · As hemácias fetais portadoras do antígeno D ou Du são destruídas por anticorpos maternos IgG anti-D · RN será Rh-positivo e mãe Rh-negativo com Du negativo · A gestante terá sido sensibilizada em uma gestação prévia e a gravidade da doença fetal aumenta em gestações subsequentes · Coombs indireto positivo no pré-natal indica sensibilização da gestante · O RN terá anemia marcante, hepatoesplenomegalia Alguns indivíduos apresentam a chamada variante DU, que é uma expressão fenotípica fraca do antígeno D. · Se a mãe é Rh negativa mas DU positiva, a gestante possui o Antígeno D e não desenvolverá anticorpo anti-D já que se comporta como Rh negativo. Profilaxia · Durante a gestação – 28 semanas de IG · Pós-parto - mãe RH negativo, D fraco negativo, RN Rh positivo com Coombs direto negativo até 72 h do parto · Após natimorto · Após aborto · Após procedimentos invasivos – amniocentese, cordocentese Doença hemolítica do RN por incompatibilidade ABO · Mãe do grupo sanguíneo O e RN do grupo A ou B · Anticorpos IgG anti-A ou anti-B entram na circulação fetal · Reação com os Ag A ou B dos eritrócitos fetais · Icterícia raramente está presente nas primeiras horas, aparecendo a partir do segundo dia · A anemia geralmente não adquire grau importante · Difícil diferenciação com a icterícia fisiológica · Coombs direto quase sempre negativo ou fracamente positivo (20 a 30%) · A doença pode ocorrer já na primeira gestação · O quadro clínico é bem mais brando e de evolução arrastada · O esfregaço do sangue periférico poderevelar esferócitos idênticos aos encontrados na esferocitose hereditária. Defeitos congênitos das hemácias · Deficiência de glicose-6-fosfato-desidrogenase (G6PD) · Transmissão ligada ao sexo · Maior destruição de hemácias – anemia hemolítica · Icterícia aparece no 2º dia de vida · Hepatoesplenomegalia é incomum · Grau de anemia não costuma ser grave · Desencadeado por uso de drogas · Todo RN com icterícia importante, sem causa imuno-hematológica ou outra doença, deve ser submetido a teste de triagem para deficiência de G6PD. Caso clínico – deficiência de G6PD Lactente, 12 meses, é avaliado por apresentar quadro de icterícia e palidez, notados hoje. Há alguns dias, vinha com quadro febril e mãe administrou AAS por conta própria. Há poucos meses, apresentou o mesmo quadro notado hoje, após episódio infeccioso. Na história pregressa consta, ainda, internação neonatal por icterícia. Esfregaço do sangue periférico revela a presença de corpúsculos de Heinz. · Na deficiência de G6PD o RN irá desenvolver hemólise e anemia com icterícia quando exposto a algum estresse oxidativo, acidose, hipoglicemia, infecção ou algumas drogas. · O mais comum é que a icterícia ocorra 2º ou 3º dia de vida. O diagnóstico é confirmado pela dosagem de G6PD. · Na avaliação do sangue periférico, presença de corpúsculos de Heinz e as hemácias mordidas. Icterícia e leite materno · Icterícia associada ao aleitamento materno · Forma precoce (Icterícia do aleitamento materno) · Estabelece-se na primeira semana de vida · Diminuição das mamadas ou mamadas ineficazes podem ser a causa deste quadro · Baixa ingesta leva a um quadro de estase intestinal que favorece a exacerbação do ciclo êntero-hepático · O tratamento consiste no estímulo à amamentação e fornecimento de aporte calórico para a criança · Forma tardia (Icterícia do leite materno) · Início tardio · Fatores do leite materno que interferem com o metabolismo da bilirrubina, estimulando a sua reabsorção intestinal · Os níveis séricos de bilirrubina indireta seguem aumentando e podem permanecer elevados por até 12 semanas Quando o aleitamento é suspenso, os níveis caem rapidamente em 48h. SÍNDROME DA ICTERÍCIA DO LEITE MATERNO FATORES DE RISCO – AAP (2004) MAIORES · BT na zona de alto risco (>percentil 95) antes da alta · Icterícia precoce · Doença hemolítica por incompatibilidade Rh · Doença hemolítica por incompatibilidade ABO · Deficiência de G6PD · IG de 36-36 semanas · Dificuldade no aleitamento materno · Perda de peso > 5% do PN · Irmão anterior com icterícia tratado com fototerapia · Cefalohematomas e equimoses · Descendência asiática INTERMEDIÁRIOS · BT na zona de risco intermediário (percentil 40 a 95) antes da alta hospitalar · IG de 37-38 semanas · Icterícia antes da alta hospitalar · Filho de mãe diabética · Idade materna > 24 anos · Sexo masculino MÍNIMOS · BT na zona de baixo risco (< percentil 40) antes da alta hospitalar · IG acima de 39 semanas · Alimentação exclusiva com fórmula láctea · Alta hospitalar após 72 horas Diagnóstico; · História familiar e do comportamento de outros irmãos · Evolução do RN (ingesta calórica, número de evacuações, vômitos) · Exame físico: · Icterícia torna-se evidente a partir de 5mg/dl · Zonas de Kramer · Hepatoesplenomegalia, cefalematomas, petéquias ou quimoses, onfalite Triagem da hiperbilirrubinemia Exames Laboratoriais Determinação da bilirrubina · Bilirrubina transcutânea – BT - Indolor, prática, imediata · BiliCheck (Respironics) X JM 103 (Minolta/Dragger) Bilirrubinômetros · Bilirrubina capilar – bilirrubina total Doloroso, menor volume de sangue, resultado rápido · PADRÃO OURO - Bilirrubina sérica total e frações (procedimento doloroso, > volume de sangue, demora do resultado) Indicações: · Único método disponível · BTc > 13 mg/dl · Indicação e controle de tratamento · Obs.: A amostra de sangue coletado deve permanecer em frasco ou capilar envolto em papel alumínio para evitar o contato com a luz e a degradação da bilirrubina. Classificação da hiperbilirrubinemia Avaliação do risco · Zona de baixo risco – sem retorno · Zona de risco intermediário baixo Retorno com 72 horas · Zona de risco intermediário alto Retorno com 48 horas · Zona de risco alto – investigar e tratar CONDUTA TERAPÊUTICA Fototerapia + Exsanguíneo transfusão Imunglobulina standart venosa PREVENÇÃO DE KERNICTERUS! Não há um consenso quanto aos níveis séricos de BT para indicar fototerapia ou exsanguineo transfusão em RN a termo ou pré-termo: leva-se em conta a avaliação periódica da BT, as idades gestacional e pós-natal, além dos fatores agravantes da lesão bilirrubínica neuronal. FOTOTERAPIA Cuidados: · Manutenção da temperatura corporal · Hidratação adequada · Manutenção da oferta calórica · Proteção ocular radiopaca · Retirar fralda · Mudançade decúbito após as mamadas · Medir irradiância · Cobrir a solução parenteral e o equipo com papel alumínio ou usar extensores impermeáveis à luz · Descontinuidade da fototerapia durante a amamentação · Peso diário e temperatura corporal a cada 3h para detectar hipo/hipertemia · Aumentar oferta hídrica. · Lâmpada fluorescente: eleva temperatura, consumo de 02, FR e fluxo sanguíneo na pele maior perda insensível de água (PI). · Lâmpada com LED não altera a (PI) de água, mas pode levar a hipotermia. Aparelhos da fototerapia: · Convencional · Bilispot · Biliblanket · Biliberço · Bilitron · Bilitron Bed IRRADIÂNCIA de 8-12µW/cm²/nm como standard ou padrão de 30 µW/cm²/nm de alta intensidade. Sempre considerando a média dos 5 pontos. Conduta terapêutica: · Diminuir em 2mg/dl o nível de indicação de fototerapia, se doença hemolítica ( Rh, ABO, outros antígenos), deficiência de G-6-PD, asfixia, letargia, instabilidade na temperatura, sepse, acidose ou albuminemia < 3g/dl. · Iniciar fototerapia de alta intensidade se: · BT 17-19 mg/dl e colher BT após 4-6h. · BT 20-25 mg/dl e colher BT em 3-4h. · BT > 25 mg/dl e colher BT em 2-3h, enquanto o material de EST é preparado. Indicação de fototerapia RN < 34 semanas EXSANGUINEO TRANSFUSÃO Tipo de sangue Volume de troca TRATAMENTO FARMACOLÓGICO · ENCEFALOPATIA BILIRRUBÍNICA (KERNICTERUS) Síndrome neurológica causada pelo depósito de BI nas células do SNC. Manifestações clínicas: FORMA AGUDA · 2° ao 5° dia em RNT; até 7 dias em RNPT · Hipotonia, letargia, sucção débil · Hipertonia da musculatura extensora (opistótono), febre, irritável · Apneia, coma, convulsões e morte 75% com sinais neurologicos = óbito 80% sobreviventes = sequelas – coreoatetose, surdez, espasmo muscular involuntário, retardo mental. FORMA CRÔNICA · Paralisia cerebral atetoide grave · Neuropatia auditiva · Displasia dentária · Paresia vertical do olhar Icterícia fisiológica X patológica Deve-se pensar em icterícia patológica nas seguintes situações, exceto: · Quando começa nas primeiras 24 horas de vida · Quando encontro níveis elevados de bilirrubina · Quando a velocidade de aumento da bilirrubina é de 4 mg/dl em 24h · Quando a icterícia é persistente · Quando há sinais de colestase Caso clínico: Um neonato a termo, sadio, com 3 dias de vida, apresenta-se com icterícia. Exame físico normal, hemoglobina de 16,8, reticulócitos de 1%, bilirrubina não conjugada 8,5 mg/dl, bilirrubina conjugada 0,8 mg/dl. Mãe A+ e RN O +. O diagnóstico provável é: ICTERÍCIA NAS PRIMEIRAS 24 HORAS DE VIDA Exames obrigatórios na investigação de icterícia precoce: · Bilirrubina total e frações · Tipagem sanguínea · COOMBS direto · Hematócrito ou hemoglobina · Hematoscopia · Contagem de reticulócitos Icterícia por aumento de bilirrubina direta · É sempre patológica; · Início insidioso; · Valores de BD iguais ou superiores a 1,5 – 2,0 mg/dl ou maiores que 20% da BT; · Tratamento NÃO é fototerapia; · Se prolongada: prurido, xantomas, deficiência de vitaminas lipossolúveis. Icterícia que aparece nas primeiras 24 horas de vida (icterícia precoce) RN de termo BT>12mg/dL (Zona III de Kramer) RN pré-termo BT > 15mg/dL Icterícia persistente além da primeira semana de vida Icterícia com BD aumentada (> 2 mg/dL e/ou > 15% da BT) Acúmulo de BT maior que 5mg/dL por dia Sobrecarga de bilirrubina ao hepatócito Doenças hemolíticas: Hereditárias Adquiridas Coleções sanguíneas extravasculares Policitemia Deficiência ou inibição da conjugação de bilirrubina Hipotireoidismo congênito Síndrome da icterícia pelo leite materno Síndrome de Gilbert Síndrome de Crigler Najjar tipos 1 e 2 Circulação êntero-hepática aumentada de bilirrubina RN de termo Pico: 60 – 72 horas de vida Duração: 5º - 10º dia de vida RN pré-termo Pico: 4º - 6º dia de vida Duração: 10º - 14º dia A icterícia fisiológica é menos intensa em crianças alimentadas entre 3 – 6 horas após o nascimento.
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