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Tutoria 2- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda Insuficiência Cardíaca Crônica Conceito: Insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa, na qual o coração é incapaz de bombear sangue de forma a atender às necessidades metabólicas tissulares, ou pode fazê-lo somente com elevadas pressões de enchimento. Tal síndrome pode ser causada por alterações estruturais ou funcionais cardíacas e caracteriza-se por sinais e sintomas típicos, que resultam da redução no débito cardíaco e/ou das elevadas pressões de enchimento no repouso ou no esforço. Classificação: A IC pode ser determinada de acordo com a fração de ejeção (preservada, intermediária e reduzida), a gravidade dos sintomas (classificação funcional da New York Heart Association − NYHA) e o tempo e progressão da doença (diferentes estágios). Fração de ejeção: A principal terminologia usada historicamente para definir IC baseia-se na FEVE e compreende pacientes com FEVE normal (≥ 50%), denominada IC com fração de ejeção preservada (ICFEp), e aqueles com FEVE reduzida (< 40%), denominados IC com fração de ejeção reduzida (ICFEr). Por outro lado, pacientes com fração de ejeção entre 40 e 49% passaram a ser definidos como IC de fração de ejeção intermediária (mid-range ou ICFEi). A diferenciação dos pacientes de acordo com a FEVE tem particular importância, uma vez que eles diferem em relação às suas principais etiologias, às comorbidades associadas e, principalmente, à resposta à terapêutica. Gravidade dos sintomas: A classificação funcional de acordo com a NYHA continua sendo a classificação usada para descrever e classificar a gravidade dos sintomas. Esta classificação se baseia no grau de tolerância ao exercício e varia desde a ausência de sintomas até a presença de sintomas mesmo em repouso. Ela permite avaliar o paciente clinicamente, auxilia no manejo terapêutico e tem relação com o prognóstico. Pacientes em classe funcional da NYHA III a IV apresentam condições clínicas progressivamente piores, internações hospitalares mais frequentes e maior risco de mortalidade. Por outro lado, embora pacientes em NYHA II apresentem sintomas mais estáveis e internações menos frequentes, o processo da doença nem sempre é estável, e estes pacientes podem apresentar morte súbita sem piora dos sintomas. Tutoria 2- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda Tempo de progressão da doença: Enquanto a classificação segundo a NYHA valoriza a capacidade para o exercício e a gravidade dos sintomas da doença, a classificação por estágios da IC proposta pela American College of Cardiology/American Heart Association ACC/AHA enfatiza o desenvolvimento e a progressão da doença. Esta classificação inclui desde o paciente com risco de desenvolver IC, cuja abordagem deve ser feita no sentido de prevenir seu desenvolvimento, quanto o paciente em estágio avançado da doença, que requer terapias específicas, como transplante cardíaco e/ou dispositivos de assistência ventricular. Classificação de Stevenson – perfusão e congestão O perfil do paciente com IC, além de ter valor prognóstico, é muito útil para que você guie o tratamento dele durante episódios de descompensação da doença. De acordo com a apresentação da IC, ela pode ser classificada em diferentes perfis. O perfil A é caracterizado pelo paciente “quente e seco”, ou seja, bem perfundido e sem congestão. Esse perfil é o alvo terapêutico do paciente com IC. Já no perfil B, a apresentação mais comum dos pacientes hospitalizados com IC, o paciente se apresenta “quente e úmido”, ou seja, apresenta-se bem perfundido, porém congesto. O perfil L apresenta-se “frio e seco”, ou seja, com hipoperfusão tecidual, no entanto sem congestão. Esse é o perfil mais incomum de apresentação da IC. Já o perfil C descreve o paciente “frio e úmido”, tratando-se do paciente com maior mortalidade na IC, pois apresenta ao mesmo tempo hipoperfusão e congestão, apresentando dessa forma. A avaliação do perfil do paciente é útil para a definição do tratamento, mas fique atento, o perfil do paciente pode mudar rapidamente. Tutoria 2- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda Epidemiologia: A despeito de avanços na terapêutica da IC, a síndrome mantém-se como patologia grave, afetando, no mundo, mais de 23 milhões de pessoas. A sobrevida após 5 anos de diagnóstico pode ser de apenas 35%, com prevalência que aumenta conforme a faixa etária. De acordo com publicações internacionais, o perfil clínico da IC crônica envolve indivíduos idosos portadores de etiologias diversas, sendo a isquêmica a mais prevalente, com alta frequência de comorbidades associadas. Tutoria 2- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda Etiologia: A IC pode ser resultado de uma doença intrínseca do coração (cardiomiopatia), ou mais comumente em virtude de outras doenças crônicas que causam um processo de alteração da função cardíaca, seja ela sistólica ou diastólica. As principais causas de IC no Brasil são cardiopatia isquêmica, cardiopatia hipertensiva, cardiopatia secundária a valvopatias, cardiomiopatia dilatada (CMD), cardiomiopatia alcóolica e doença de Chagas. Nem sempre é fácil, no entanto, identificar uma etiologia para a IC, uma vez que muitos pacientes com doença arterial coronária (DAC), por exemplo, também hipertensos e etilistas, havendo dessa forma uma sobreposição entre fatores de risco. Sempre que um paciente com IC não for hipertenso, não apresentar DAC, valvopatia ou outros fatores de risco, é importante pensar na possibilidade de CMD. No Brasil, especificamente, é importante levar em conta a Doença de Chagas que é endêmica principalmente em estados do Nordeste e em Minas Gerais, além da doença valvar de etiologia reumática. Ambas podem causar IC em pacientes mais jovens e não acometidos por outras comorbidades que são as principais causadoras de IC no resto do mundo, como DAC e HAS. Diagnóstico O diagnóstico da ICC é guiado primariamente pelo método clínico, no entanto, diversos exames complementares podem auxiliar no diagnóstico e também na avaliação da gravidade da doença. Os critérios de Framingham são critérios clínicos, exceto apenas pela cardiomegalia ao Raio X de tórax. Com 1 critério maior e 2 critérios menores ou 2 critérios maiores é possível indicar o diagnóstico de IC. Avaliação laboratorial: Na abordagem inicial dos pacientes com sinais e sintomas sugestivos de IC crônica ambulatorial, recomenda-se a realização de diversos exames laboratoriais complementares, não só para avaliar a presença e a gravidade de lesão de outros órgãos-alvo e detectar comorbidades, como também para verificar fatores agravantes do quadro clínico. A realização de exames seriados pode ser necessária para monitoração de variáveis de segurança, durante o tratamento da IC, incluindo função renal e eletrólitos. Exames complementares Peptídeos natriuréticos: Apesar das evidências claramente favoráveis em relação ao BNP e ao NT- proBNP para o diagnóstico de IC, algumas limitações ao seu uso na prática clínica devem ser Tutoria 2- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda destacadas, pois estes peptídeos podem elevar-se na presença de anemia, insuficiência renal crônica (IRC), e idade avançada, e apresentar níveis mais baixos na presença de obesidade. Os peptídeos natriuréticos têm demonstrado ainda papel prognóstico em pacientes com IC. Embora não seja possível dispensar os exames de imagem para a confirmação diagnóstica em pacientes que apresentem sinais e sintomas sugestivos de IC, o uso dos peptídeos natriuréticos auxilia de forma considerável na definição do diagnóstico de IC, contribuindo principalmente para excluir o diagnóstico quando este é incerto. Os pontos de corte que excluem o diagnóstico de IC variam de acordo com a forma de apresentação da doença, aguda ou crônica. Eletrocardiograma: A realização de eletrocardiograma (ECG) de 12 derivações é recomendada na avaliação inicial de todosos pacientes com IC, para avaliar sinais de cardiopatia estrutural como hipertrofia ventricular esquerda, isquemia miocárdica, áreas de fibrose, distúrbios da condução atrioventricular, bradicardia ou taquiarritmias, que podem demandar cuidados e tratamentos específicos. Vários destes aspectos são marcadores prognósticos em muitas cardiopatias, como na chagásica crônica. A detecção de bloqueio de ramo esquerdo (BRE), com alargamento pronunciado da duração do complexo QRS, auxilia na indicação da terapia de ressincronização cardíaca (TRC). Ecocardiograma: O ecocardiograma transtorácico é exame de imagem de escolha para o diagnóstico e o seguimento de pacientes com suspeita de IC. Permite a avaliação da função ventricular sistólica esquerda e direita, da função diastólica, das espessuras parietais, do tamanho das cavidades, da função valvar, da estimativa hemodinâmica não invasiva e das doenças do pericárdio. A ventriculografia radioisotópica pode ser útil em pacientes nos quais a janela ecocardiográfica não é adequada, embora ela tenha perdido grande espaço na prática clínica contemporânea. Outros exames de imagem, como a ressonância magnética e tomografia computadorizada, podem ser usados quando os não invasivos forem inconclusivos, ou para o diagnóstico de miocardiopatias específicas. Radiografia do tórax: A radiografia simples do tórax, por sua simplicidade, rapidez de obtenção e ampla disponibilidade, é recomendada na avaliação inicial dos pacientes com sinais e sintomas de IC, para avaliação de cardiomegalia e congestão pulmonar. Porém, vale ressaltar que a sensibilidade do método é bastante limitada e, ainda, que a disfunção sistólica cardíaca significativa pode ocorrer sem cardiomegalia na radiografia de tórax. O método tem maior valor no contexto da IC aguda, em que as alterações de congestão pulmonar são mais intensas. A radiografia de tórax também é útil por sua capacidade de identificar causas pulmonares de dispneia, como doença pulmonar intersticial, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), neoplasia pulmonar e pneumonia. Ressonância magnética cardíaca: Fornece avaliação altamente acurada das estruturas e da função cardíaca, sendo considerada atualmente o método padrão-ouro para medidas dos volumes, da massa miocárdica e da fração de ejeção de ambas as cavidades ventriculares. A ressonância magnética cardíaca (RMC) pode ser empregada como método alternativo para as avaliações estrutural e funcional, naqueles pacientes em que o ecocardiograma convencional se mostre inadequado pela pobre janela acústica. Pode ser empregada para a caracterização anatômica diagnóstica em pacientes com IC e cardiopatia congênita complexa. Tutoria 2- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda A RMC apresenta limitações que precisam ser consideradas no momento de sua indicação, como claustrofobia, presença de próteses e implantes metálicos ferrimagnéticos, e disfunção renal com clearance de creatinina < 30 mL/min/1,73 m2, uma vez que existe risco nessa população de desencadeamento de fibrose sistêmica nefrogênica. Quadro Clinico Quanto a apresentação clínica, a IC pode ser dividida didáticamente em IC direita e IC esquerda. Na IC esquerda, a falência do ventrículo esquerdo (VE) causa um aumento da pressão do enchimento deste ventrículo, o que diminui a eficácia da passagem do sangue do átrio esquerdo (AE) para o VE causa aumento da pressão no AE, dificultando o retorno do sangue da circulação pulmonar para o AE. Isso resulta em sintomas como dispneia aos esforços (que tende a piorar progressivamente sem o tratamento da IC), tosse seca ou com secreção rosácea, dispneia paroxística noturna (DPN), sintoma em que o paciente relata acordar durante a noite com falta de ar, que tende a melhorar após alguns minutos sentado ou em pé. Em estágios mais avançados, pode ser relatada ortopneia, onde o paciente relata dispneia ao deitar, o que é causado pelo aumento da pré-carga com a redistribuição do volume sanguíneo que se acumulava nos membros inferiores por gravidade. Em casos mais graves, o paciente pode apresentar edema agudo de pulmão (EAP) em virtude do aumento da pressão hidrostática nos capilares da circulação pulmonar, causando extravasamento de fluidos para os alvéolos e prejudicando a respiração. Já na IC direita, o processo de falência ocorre no ventrículo direito (IC), e através dos mesmos mecanismos explicados no caso da IC direita, ocorre congestão, no entanto, nesse caso é dificultado o retorno da circulação sistêmica, e não a circulação pulmonar. Dessa forma, o paciente costuma apresentar edema em membros inferiores, estase de jugulares, pode apresentar esplenomegalia por congestão (que pode evoluir até mesmo para insuficiência hepática) e ascite. A principal causa de IC direita, é uma IC esquerda que passou a causar aumento da resistência pulmonar, no entanto há outras causas como estenose da valva mitral, Cor pulmonale, hipertensão pulmonar primária e tromboembolismo pulmonar. De acordo com a apresentação da IC, ela pode ser classificada em diferentes perfis. O perfil A é caracterizado pelo paciente “quente e seco”, ou seja, bem perfundido e sem congestão. Esse perfil é o alvo terapêutico do paciente com IC. Já no perfil B, a apresentação mais comum dos pacientes hospitalizados com IC, o paciente se apresenta “quente e úmido”, ou seja, apresenta-se bem perfundido, porém congesto. O perfil L apresenta-se “frio e seco”, ou seja, com hipoperfusão tecidual, no entanto sem congestão. Esse é o perfil mais incomum de apresentação da IC. Já o perfil C descreve o paciente Tutoria 2- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda “frio e úmido”, tratando-se do paciente com maior mortalidade na IC, pois apresenta ao mesmo tempo hipoperfusão e congestão, apresentando dessa forma. A avaliação do perfil do paciente é útil para a definição do tratamento, mas fique atento, o perfil do paciente pode mudar rapidamente. Tratamento Não farmacológico Tabagismo e drogas ilícitas: Todos os pacientes com IC devem ser encorajados a parar de fumar, preferencialmente com o auxílio de serviços especializados, para cessação do tabagismo, podendo utilizar terapias de reposição de nicotina e/ou fármacos moduladores, de acordo com recomendações universalmente aceitas. Uso de bebidas alcoólicas: Pacientes com miocardiopatia dilatada de origem alcoólica devem ser aconselhados a se absterem completamente do uso de bebidas alcoólicas, o que pode se traduzir em melhora substancial da função ventricular. Vacina para influenza e pneumococo: Recomendamos a vacinação anual contra influenza para todos os pacientes com IC. Estudo recente sugere redução nas internações por doença cardiovascular dos pacientes que foram vacinados. Farmacológico Uma parte do tratamento é focada no alívio dos sintomas, no entanto, algumas classes de medicamento tem o potencial de diminuir o fenômeno de remodelamento cardíaco, que ocorre principalmente devido à hiperativação do SRAA (Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona) e sistema simpático. Excluindo casos de insuficiência cardíaca aguda grave, antes de iniciar o Tutoria 2- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda tratamento farmacológico é importante uma completa avaliação da função ventricular. A ICC tem um caráter progressivo e inicia antes de os sinais e sintomas se tornarem evidentes. A terapêutica busca melhorar a função sistólica ventricular, aliviar os sintomas, regular as alterações neuro-humorais da insuficiência cardíaca, reduzir o fenômeno de remodelamento ventricular, minimizar complicações como tromboembolismo e arritmias. Nos pacientes que se apresentam com ICC descompensada, os objetivos primários são prevenção de morte, manutenção da função e perfusão tecidual e alívio da congestão. Medicamentos que aumentam sobrevida: Há um grupo de medicamentos muito importantes para o tratamento da IC a longo prazo, pela sua capacidade deaumentar a sobrevida dos pacientes. A maioria desses medicamentos inibe a desregulação do sistema simpático e SRAA. Os medicamentos que apresentam essas características são os inibidores da enzima conversora da angiotensina (iECA), bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA), beta-bloqueadores, antagonistas da aldosterona, hidralazina e nitratos, valsartana-sacubitril e novas classes de anti-diabéticos. No caso dos iECA, ensaios clínicos randomizados indicaram redução da mortalidade com o uso do enalapril, estabelecendo hoje a indicação de uso de iECA em todos pacientes com IC que não apresentem contraindicações. Apesar de alguns estudos indicarem eficácia semelhante entre BRA e iECA, normalmente os BRA são reservados aos pacientes que apresentam alguma intolerância ao iECA (como tosse seca, um dos principais efeitos colaterais dessa classe de medicamentos). Uma possibilidade terapêutica promissora é a combinação de valsartana e sacubitril. A valsartana é um antagonista do receptor de angiotensina, que é combinado ao sacubitril, um inibidor da neprisilina. A neprilisina é uma enzima responsável pela degração do BNP e ANP, que apresentam efeito natriurético benéfico para o paciente com IC, dessa forma o sacubitril aumenta a disponibilidade do BNP e ANP. A combinação de valsartana-sacubitril apresentou resultados superiores ao dos iECA em pacientes com IC, com redução de 16% da mortalidade, por isso esse medicamento passou a ser indicado em pacientes com ICFEp que persistem sintomáticos apesar de tratamento otimizado com beta- bloqueadores, iECA ou BRA e antagonistas da aldosterona. Valsartana-sacubitril deve ser prescrito substituindo os BRA ou iECA, na dose inicial de 49/51mg em pacientes que mantém pressão sistólica acima de 100mmHg. Em pacientes com níveis mais baixos da pressão arterial, a dose inicial deverá ser de 24/26mg. É necessário ficar atento para a possibilidade de angioedema, um dos principais efeitos colaterais do medicamento, e é necessário suspender os iECA 36 horas de iniciar o uso do valsartana- sacubitril, para evitar a sobreposição das drogas, o que aumentaria o risco de hipotensão e angioedema. Os beta-bloqueadores são indicados em todos os pacientes com IC apresentando disfunção sistólica, desde que não apresentem contraindicações como asma grave e bradicardias. Os beta- bloqueadores também reduzem a mortalidade dos pacientes com IC, reduzem o mecanismo de remodelamento cardíaco e a demanda de O2 dos cardiomiócitos, sendo especialmente vantajosos nos pacientes que apresentam DAC associada. Tutoria 2- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda Os antagonistas da aldosterona também auxiliam na redução da pré-carga e são indicados nos pacientes com IC e disfunção sistólica na classe III e IV da NYHA. Deve-se ter atenção para a possibilidade de hipercalemia, principalmente nos pacientes que usam antagonistas da aldosterona e BRA ou iECA. O medicamento deve ser suspenso em caso de hipercalemia. A combinação da hidralazina com um nitrato (como a isossorbida) apresentou redução de mortalidade em pacientes negros com IC classe II-IV da NYHA. Há evidência de maior qualidade indicando o benefício do uso dos beta-bloqueadores, iECAs ou BRAs e antagonistas do receptor da aldosterona, dessa forma, eles não devem ser suspensos para a introdução da hidralazina associada ao nitrato, e sim associados a ela. Há novos estudos que sugerem vantagem do uso da hidralazina também em pacientes brancos que apresentam sintomas apesar da terapia já otimizada com outras classes. Em pacientes diabéticos, inibidores do SGLT-2 (como a dapagliflozina e empagliflozina), uma nova classe de anti-diabéticos que inibem a reabsorção da glicose nos túbulos proximais, apresentou redução da mortalidade por causas cardiovasculares e redução das internações hospitalares. Dessa forma, essa classe de medicamentos se apresenta como uma possibilidade promissora para pacientes com DM2. É preciso ficar atento, no entanto, pois há estudos indicando que essas drogas estão associadas com maior risco de cetoacidose diabética. Medicamentos para alívio dos sintomas: Outras drogas, como os diuréticos tiazídicos, diuréticos de alça, drogas vasoativas e digitálicos também podem ser indicados nos pacientes com ICC, principalmente em episódios de descompensação, no entanto é importante ter em mente que apesar do efeito importante dessas drogas no alívio dos sintomas do paciente, eles não apresentam redução comprovada da mortalidade. Os diuréticos de alça, representados basicamente pela furosemida, representam a classe mais efetiva para alívio do quadro de congestão nos pacientes com IC descompensada (IC perfil B ou C). A dose de furosemida deve ser avaliada de acordo com o quadro clínico do paciente, e muitas vezes precisará de ajustes até atingir uma dose otimizada. É necessário avaliar a função renal dos pacientes, principalmente daqueles que já apresentam DRC, uma vez que os diuréticos de alça Tutoria 2- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda podem auxiliar a compensar o quadro de congestão do paciente, no entanto, piorar de forma concomitante a função renal. Os diuréticos tiazídicos são muito menos eficientes que os diuréticos de alça, no entanto são uma alternativa terapêutica usada principalmente em associação com a furosemida nos pacientes que já fazem uso de altas doses dessa droga, no entanto, continuam congestos. No caso de diuréticos de alça e tiazídicos, é importante estar atento para o risco de desenvolvimento de hiponatremia, hipocalemia e outros distúrbios hidroeletrolíticos. A digoxina, da classe dos digitálicos, é uma droga usada principalmente com a intenção de aumentar o inotropismo. Ela bloqueia a Na+/K+ ATPase, e de forma indireta, aumenta a concentração de Cálcio no citoplasma, aumentando a força contrátil do cardiomiócito. No entanto, os digitálicos são drogas que apresentam um importante potencial arritmogênico e também uma ação anticolinérgica que reduz a excitabilidade do nó sinoatrial. Essa classe é considerada uma alternativa para o tratamento de pacientes com IC sintomáticos que não conseguiram atingir otimização clínica apesar de terapia otimizada com as drogas que reduzem mortalidade na IC. Os digitálicos apresentam uma janela terapêutica estreita e podem apresentar muitos efeitos colaterais, principalmente em pacientes hipocalêmicos ou com hipomagnesemia. Os sintomas da intoxicação digitálica são principalmente náuseas, vômitos, alterações visuais e arritmias cardíacas (podendo apresentar taquiarritmias ou bradiarritmias. Em pacientes muito graves, pode ser necessário fazer uso de drogas vasoativas, principalmente a dobutamina e noradrenalina. A noradrenalina apresenta principalmente efeito vasoconstrictor, e pode ser necessária em pacientes em choque cardiogênico. A dobutamina apresenta efeito inotrópico positivo, agindo em receptores adrenérgicos alfa-1, beta-1 e beta-2. Anticoagulantes: Nos pacientes que apresentam histórico pessoal ou familiar de primeiro grau, pode ser avaliado o uso de anticoagulação com antagonistas da vitamina K (warfarin) ou novos anticoagulantes, e o uso de anticoagulantes como a heparina ou enoxaparina é indicado para prevenção de trombose venosa profunda e tromboembolismo pulmonar nos pacientes com ICC internados, com mobilidade reduzida. Dispositivos: Nos pacientes refratários ao tratamento clínico otimizado, apresentando FE≤35% e bloqueio de ramo completo (QRS≥ 120ms), o ressincronizador biventricular, um tipo de marcapasso que sincroniza a sístole dos ventrículos, é indicado. Pacientes com IC apresentam risco maior de morte súbita por causa cardiovascular e de desenvolvimento de arritmias associadas a instabilidade hemodinâmica, como taquicardia ventricular (TV) e fibrilação ventricular (FV). Pacientes com IC que apresentam alto risco para Tutoria 2- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda morte súbita de causa cardiovascular podem fazer uso de cardiodesfibriladores implantáveis(CDI) como forma de prevenção primária. Os pacientes que já apresentaram TV ou FV e sobreviveram, podem fazer uso do CDI como forma de prevenção secundária. Como o nome sugere, o dispositivo identifica essas arritmias e realiza cardioversão elétrica, reduzindo o risco de morte súbita cardiovascular. Nos pacientes com ICFEr estágio D da AHA, é possível fazer uso de dispositivos de assistência ventricular, uma bomba mecânica que é conectada no VE e à aorta ascendente, realizando a função de bomba que deveria ser desempenhada pelo coração. Esse dispositivo pode aumentar muito a qualidade de vida dos pacientes com ICFEr e reduzir muito ou até eliminar sintomas de baixo débito, no entanto esses dispositivos são caros e pouco disponíveis no nosso meio. Em pacientes com indicações específicas, o transplante cardíaco é uma alternativa. Tutoria 2- 2ºmódulo/ Jeovanna Miranda
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