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lesões vesicobolhosas

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MODULO 7 
LESÕES VESICOBOLHOSAS 
Vesícula e bolha são lesões de crescimento superficial, contendo líquido no seu interior, sendo 
vesícula o termo para referir a lesão com até 3 mm, e bolha a lesão com mais do que 3 mm de 
diâmetro. Algumas lesões podem se iniciar como vesículas (por exemplo o herpes) ou bolhas 
(por exemplo pênfigo vulgar e penfigóide benigno de mucosas), que posteriormente se rompem 
deixando um leito erosivo ou ulcerado. Outras lesões podem formar bolhas (por ex. mucocele) 
e regredir espontaneamente em alguns casos. 
Algumas informações importantes para o diagnóstico são: 
• Lesão única ou múltiplas. 
•Qual a coloração do líquido? 
• Houve modificação no aspecto clínico da(s) lesão(ões)? 
 
Mucocele (Fenômeno de extravasamento de muco): Surge a partir do rompimento do ducto 
excretor de uma glândula salivar menor, seguido pelo derramamento de mucina que fica 
acumulada no interior do tecido conjuntivo. Portanto, o principal fator etiológico é o trauma 
local que pode ser referido pelo paciente ou responsáveis. Contudo, em alguns casos, pode não 
ser identificado. 
observa-se aumento de volume de coloração azulada ou translúcida, assintomática, que ocorre 
com maior frequência na mucosa labial inferior. Às vezes, essas lesões ocorrem no palato e no 
ventre de língua. As lesões superficiais, em alguns casos, rompemse e esvaziam seu conteúdo, 
mas comumente se enchem outra vez. Sua maior incidência é no sexo feminino e em crianças 
entre 8 e 14 anos de idade. 
O aspecto clínico associado à história de remissão e recorrência, aliado ao exame 
histopatológico, confirma o diagnóstico definitivo. O tratamento consiste na remoção da lesão 
e das glândulas salivares menores circunvizinhas, que provavelmente foram as responsáveis 
pelo surgimento de lesão. Esta abordagem minimiza as recorrências, que são relativamente 
frequentes. 
 
Rânula: a também representa um fenômeno de extravasamento de muco. Entretanto, ocorre 
na região de assoalho de boca devido à ruptura de um ducto da glândula sublingual (glândula 
salivar maior). o fator etiológico também é o trauma local, que pode ser referido ou não ter sido 
percebido pelo paciente. Clinicamente, observa-se aumento de volume em assoalho de boca de 
coloração azulada ou translúcida, geralmente assintomático. O nome rânula deriva do aspecto 
clínico semelhante ao ventre de uma rã. Lesões mais profundas podem ter uma coloração 
semelhante a da mucosa adjacente. 
Lesões extensas podem elevar a língua. Pode ser referida história de aumento de volume 
seguido de remissão e ressurgimento da lesão. O diagnóstico é baseado nos aspectos clínicos da 
lesão. O tratamento é variado. Uma opção, mais radical, é a remoção da lesão juntamente com 
a glândula. Outra alternativa é criar, cirurgicamente, uma nova via de drenagem2 para a salivar 
chegar na cavidade bucal, procedimento chamado marsupialização. Uma abordagem proposta 
mais recentemente é a micromarsupialização, a partir da qual se passa o fio de sutura através 
da lesão para criar uma via de drenagem e induzir a formação de epitélio em torno do fio, como 
se fosse um novo ducto excretor. 
 
Herpes Labial Recorrente: causada pela infecção pelo vírus do herpes simples tipo I (HSV-1). A 
infecção inicial se dá pelo contato com lesões peribucais ativas. A maior parte dos pacientes se 
infecta e não desenvolve nenhuma manifestação, apenas 1% apresenta a manifestação primária 
(gengivoestomatite herpética aguda ou primária). Posteriormente, cerca de 45% das pessoas 
infectadas desenvolve a reativação do vírus, desencadeada por fatores como estímulos locais, 
exposição solar, imunossupressão, estresse, e alterações hormonais. Essa reativação é o herpes 
labial recorrente, que se caracteriza por lesões que afetam a região de transição entre pele e 
vermelhão de lábio. Em alguns casos, o herpes pode se manifestar no interior da boca. Os 
pacientes podem apresentar sinais e sintomas prodrômicos, que precedem a manifestação 
clínica em um período de 4 a 6 horas, tais como: prurido, ardência, dor e eritema na região. 
Clinicamente, as lesões se iniciam como múltiplas vesículas, que se rompem no intervalo de 24 
a 48 horas, formando úlceras, que ressecam e tornam-se crostas que, em um período de 7 a 10 
dias, involuem sem deixar nenhuma cicatriz. Os pacientes relatam quadros de recorrência 
usualmente no mesmo local. O diagnóstico é clínico baseado na história de recorrência e nas 
características descritas acima. Alguns pacientes apresentam poucas recorrências ao ano (de 1 
a 3), porém outros apresentam quadros mensais de reativação do vírus e aparecimento de 
lesões. Nestes casos uma investigação sistêmica minuciosa bem como, avaliação dos possíveis 
efeitos desencadeadores se faze necessária. O tratamento envolve o uso de antivirais tópicos 
ou sistêmicos. Abaixo são descritos protocolos terapêuticos que podem ser utilizados nas lesões 
de herpes labial recorrente 
 
 
Pênfigo Vulgar: doença auto-imune mucocutânea4 crônica que se caracteriza pela formação de 
bolhas intra-epiteliais. A etiologia é desconhecida, mas sabe-se que há produção de auto-
anticorpos (IgG) reativos contra proteínas dos desmossomos. Esses anticorpos se ligam à 
proteína alvo e impedem a adesão entre as células epiteliais gerando a bolha intra-epitelial e 
levando o destacamento do epitélio de superfície. Clinicamente, afeta mais pacientes na quarta 
e quinta décadas de vida. Observa-se a formação de bolhas que se rompem facilmente, deixando 
áreas ulceradas e dolorosas. As bolhas raramente são vistas porque são frágeis e de curta 
duração. As lesões bucais precedem o surgimento das lesões cutâneas em 60% dos casos. Uma 
manobra clínica que pode nos auxiliar no diagnóstico de uma lesão como esta é o sinal de 
Nikolsky, que caracteriza-se pela tração delicada da mucosa clinicamente não afetada. Se, após 
alguns minutos, houver desprendimento da mucosa e produção de uma ferida, considera-se o 
sinal de Nikolsky positivo. Diante deste resultado conclui-se que se trata de uma doença que 
afeta a adesão epitelial, sendo pênfigo vulgar uma delas. Isso significa que o teste não é 
específico, persistindo a necessidade de descartar outras lesões autoimunes, especialmente o 
penfigóide benigno de mucosas. O diagnóstico final será obtido com a somatória das 
informações do exame clínico inicial e do exame histopatológico de uma biópsia 
parcial/incisional. Em alguns casos, se faz imunofluorescência direta, exame em que se pesquisa 
a presença dos auto-anticorpos no material da biópsia. O tratamento consiste na administração 
de corticóides tópicos e/ou sistêmicos, podendo ser associados ao uso de imunomoduladores. 
O prognóstico para os pacientes com pênfigo vulgar é reservado5 visto que, mesmo com a 
doença controlada, vários pacientes têm que manter o uso de terapia com corticóide de 
manutenção e, portanto, efeitos adversos a esse tratamento podem surgir, dentre eles tumores 
em função da imunossupressão. 
 
Penfigóide Benigno das Membranas Mucosas: é uma doença auto-imune, mucocutânea, 
vesicobolhosa que afeta predominantemente as mucosas bucais e conjuntivas. A causa é 
desconhecida, mas sabe-se que a doença ocorre devido ao acúmulo de auto-anticorpos 
(imunoglobulinas) ou componentes do complemento ao longo da membrana basal do epitélio, 
levando a formação de bolhas entre o epitélio e o conjuntivo. As lesões bucais normalmente são 
crônicas e persistentes, e se apresentam como úlceras superficiais precedidas por bolhas. As 
bolhas raramente são vistas porque são frágeis e de curta duração. Lesões cutâneas também 
podem ser vistas, mas não são tão frequentes como no pênfigo (Figura 7B). O sinal de Nikolsky 
é positivo. As lesões podem deixar cicatrizes, especialmente as lesões oculares, bastante comuns 
ao longo do curso da doença. É uma doença de adultos/idosos e mais frequente nas mulheres. 
Para o estabelecimento do diagnósticodefinitivo a realização de biópsia incisional e exame 
histopatológico é fundamental. O diagnóstico é confirmado histologicamente, muitas vezes 
sendo necessária também a imunofluorescência direta. O tratamento é realizado com 
imunossupressores e imunomoduladores tópicos e sistêmicos. Em um número considerável de 
casos há envolvimento exclusivo de gengiva, situação em que a aplicação tópica de corticóides 
pode controlar a doença de maneira eficaz. 
 
Angina Bolhosa Hemorrágica: se caracteriza por bolhas e/ ou vesículas contendo sangue. O 
paciente pode ou não referir dor. A etiopatogênese parece ser multifatorial, associando 
microtraumatismos, suscetibilidade individual e uso crônico de corticóides inalatórios. Alguns 
acreditam que estas lesões possam ter associação com diabetes e hipertensão. Clinicamente, as 
lesões tendem a ser mais observadas em adultos acima da 5ª década de vida, e localizam-se 
principalmente em palato mole e mucosa jugal. As bolhas se rompem naturalmente, resultando 
numa ulceração que repara não deixando cicatriz. O diagnóstico é clínico, mas, em alguns casos 
de recorrência ou mais atípicos, a biópsia pode ser realizada. Não possui tratamento específico 
e o prognóstico é muito bom.

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