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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/236176693 Alterações posturais e equilíbrio em criança com tumor no vermis cerebelar – resultados pós-operatórios Data · April 2009 CITATIONS 0 READS 3,832 3 authors, including: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Evaluation and physiotherapeutic intervention in stroke View project Interação dos fatores musculo-esqueléticos no equilibrio de crianças e adolescentes com polineuropatia sensitivo-motora hereditária View project Cyntia De Baptista University of São Paulo 21 PUBLICATIONS 87 CITATIONS SEE PROFILE Luciane Sande de souza Universidade Federal do Triangulo Mineiro (UFTM) 69 PUBLICATIONS 188 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Luciane Sande de souza on 04 June 2014. 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Eletrofisiologia visual Givago da Silva Souza et al. Tumor no vermis cerebelar Cyntia Rogean de Jesus Alves et al. www.atlanticaeditora.com.br ABRIL • JUNHO de 2009 • Ano 5 • Nº 2 N e u ro c iê n c ia s - V o lu m e 5 - N ú m e ro 2 - A b ril/ Ju n h o d e 2 0 0 9 ISSN 1807-1058 Sumário Volume 5 número 2 - abril/junho de 2009 EDITORIAL Neurociência – uma revolução tecnológica ao nosso alcance, Luiz Carlos de Lima Silveira ................... 59 OPINIÕES A moral da coisa em si, Bruno Duarte Gomes .................................................................................... 66 Os girassóis de Vincent van Gogh, Eliza Maria da Costa Brito Lacerda ................................................. 70 ENTREVISTA Duloxetina, tratamento de primeira escolha para a depressão grave do paciente idoso, Michele Mancini ................................................................................................ 73 ARTIGO ORIGINAL Melhoria na memória de idosos através de um programa de aprendizagem e prática de Libras, Sonia Yara Brunswick Vallado .............................................................................. 76 REVISÕES Reabilitação vestibular em pacientes idosos portadores de vertigem posicional paroxística benigna, Paulo Cesar Nunes Junior, Eduardo Monnerat, Gladys Fontenele, João Santos Pereira .................................................................. 81 Neurociências e comportamento: ampliando vertentes investigativas no campo das relações interpessoais, Fabio Biasotto Feitosa ............................................................. 87 Avaliação da sensibilidade ao contraste através da eletroencefalografia de eventos, Givago da Silva Souza, Bruno Duarte Gomes, Manoel da Silva Filho, Luiz Carlos de Lima Silveira .............................................................................. 92 Avaliação visual de sujeitos com prejuízo na leitura: contribuições da psicofísica visual, Marcelo Fernandes da Costa .......................................................................... 103 RELATO DE CASO Alterações posturais e equilíbrio em criança com tumor no vermis cerebelar - resultados pós-operatórios, Cyntia Rogean de Jesus Alves, Luciane Aparecida Pascucci Sande, Marcus Vinícius Rezende dos Santos .......................................... 109 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ........................................................................................................ 118 EVENTOS ..................................................................................................................................... 120 Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 200958 © ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado.Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Fisiologia do Exercício, Enfermagem Brasil, Nutrição Brasil e MN-Metabólica. I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. Revista Multidisciplinar das Ciências do Cérebro Editor: Luiz Carlos de Lima Silveira, UFPA Editor associado: Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, Fiocruz Editor-assistente: Daniel Martins de Barros, HC-USP Presidente do conselho editorial: Roberto Paes de Carvalho, UFF Conselho editorial Aniela Improta França, UFRJ (Neurolingüística) Carlos Alexandre Netto, UFRGS (Farmacologia) Cecília Hedin-Pereira, UFRJ (Desenvolvimento) Daniela Uziel, UFRJ (Desenvolvimento) Dora Fix Ventura, USP (Neuropsicologia) Eliane Volchan, UFRJ (Cognição) João Santos Pereira, UERJ (Neurologia) Koichi Sameshima, USP (Neurociência computacional) Leonor Scliar-Cabral, UFSC (Lingüística) Lucia Marques Vianna, UniRio (Nutrição) Marco Antônio Guimarães da Silva, UFRRJ/UCB (Fisioterapia e Reabilitação) Marco Callegaro, Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (Psicoterapia) Marco Antônio Prado, UFMG (Neuroquímica) Rafael Linden, UFRJ (Neurogenética) Rubem C. Araujo Guedes, UFPE (Neurofisiologia) Stevens Kastrup Rehen, UFRJ (Neurobiologia Celular) Vera Lemgruber, Santa Casa do Rio de Janeiro (Neuropsiquiatria) Wilson Savino, FIOCRUZ (Neuroimunologia) Neurociências é publicado com o apoio de: SBNeC (Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento) Presidente: Marcus Vinícius C. Baldo www.sbnec.org.br ISSN 1807-1058 Administração e vendas Antonio Carlos Mello Assistente de vendas – Atendimento Márcia P. Nascimento melloassinaturas@uol.com.br Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP Atendimento (11) 3361 5595/3361 9932 E-mail: melloassinaturas@uol.com.br Assinatura 1 ano (6 edições ao ano): R$ 180,00 www.eventoserevistas.com.br Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin jeanlouis@atlanticaeditora.com.br Editor assistente – Publicidade Guillermina Arias guillermina@atlanticaeditora.com.br Direção de arte Cristiana Ribas cristiana@atlanticaeditora.com.br Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 2009 59 Editorial No lançamento do Neurociências, há cinco anos, fiz uma limitada digres- são sobre o avanço da ciência e expressei o desejo de que o crescimento da Neurociência, observado em muitos países, fosse acompanhado pelas instituições de ensino e pesquisa do nosso país graças a investimentos di- ferenciados pelas agências nacionais de fomento nesse campo da fronteira do conhecimento [1]: “Está em gestação uma nova revolução na história do desenvolvimento científico e tecnológico. Ela é dirigida para o funcionamento do cérebro, para a criação de máquinas inteligentes e para o desenho de interfaces entre cérebro e máquina. O Brasil pode desfrutar de uma posição de destaque nessa nova era. Graças a um trabalho de mais de meio século, encontram-se funcionando em muitas universidades e institutos de pesquisa grupos de investigação em Neurociência, com um grande número de pesquisa- dores, já em sua terceira geração. A recente criação do Instituto Internacional de Neurociências em Natal e do Instituto do Cérebro do Hospital Albert Eins- tein em São Paulo pode servir para atrair jovens neurocientistas, aumentar o intercâmbio entre os cientistas brasileiros e do exterior, e criar uma ponte entre a vida acadêmica e as necessidades da sociedade em geral.” Apesar das notícias alvissareiras relatadas no final desse comentário, a verdade é que em duas edições do prestigioso Edital Institutos do Milênio, lançadas nos últimos dez anos pelas agências brasileiras que financiam ciên- cia e tecnologia, nenhum instituto voltado especificamente para Neurociência foi aprovado. Outros mecanismos, entretanto, continuaram sendo utilizados pelos neurocientistas brasileiros para garantir o apoio às suas pesquisas, de um lado concorrendo com grande sucesso nos diversos editais do CNPq, CAPES e FINEP, obtendo apoios que se individualmente são de menor monta no que no programa mencionado, no conjunto chegam a somas bastante significativas, e por outro lado através de ações maiores de grande impacto. Entre estas últimas, a criação em 2006 da “Rede Instituto Brasileiro de Neurociência (IBN Net)”, com apoio da FINEP, coordenação situada no Nú- cleo de Medicina Tropical da UFPA, em Belém, Pará, e vice-coordenação no Departamento de Bioquímica da UFRGS, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Essa rede reuniu, no momento da sua criação, 125 docentes-pesquisadores de diversos laboratórios de 11 instituições de ensino superior: UFPA, UFPE, UNIR, UFMG, UFRJ, UFF, USP, UFSC, UFRGS, PUCRS e UFSM. Contando com as parcerias que essa centena de docentes-pesquisadores desenvolvem com Neurociência – uma revolução tecnológica ao nosso alcance Luiz Carlos de Lima Silveira, Editor Médico, Doutor em Ciências Biológicas (Biofísica), Pesqui- sador do CNPq, Diretor Geral do Núcleo de Medicina Tropi- cal, Universidade Federal do Pará, Professor Associado de Neurociência, Instituto de Ciên- cias Biológicas, Universidade Federal do Pará. Correspondência: luiz@ufpa.br Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 200960 colegas de outras laboratórios que não constam na lista dos diretamente apoiados pelo IBN-Net, é maior o número final de instituições envolvidas. O apoio da FINEP à criação da IBN-Net pode ser considerado possivelmente como o primeiro apoio de grande monta específico para Neurociência realizado por uma agência de fomento brasileira. Por seu turno, o “Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN- ELS)” de Natal, Rio Grande do Norte, através de uma administração eficiente, conseguiu granjear apoio crescente de agências de fomento nacionais e do exterior e, a partir do seu lançamento, tornou- se uma realidade cada vez mais palpável inclusive com a fixação dos primeiros grupos de pesquisa e a realização recente de seleção de uma dezena de jovens neurocientistas para integrarem o seu corpo de professores-pesquisadores. No ano passado, diversas agências de fomento nacionais e estaduais se reuniram para o lançamento do edital Edital MCT / CNPq / FNDCT / CAPES Nº 015/2008 - Institutos Nacionais de Ciência e Tecno- logia (INCT), criado com diversas semelhanças com os dois editais anteriores do Programa Institutos do Milênio. Segundo os documentos disponíveis no site do CNPq, o objetivo dessa linha de fomento é “Promo- ver a formação ou consolidação dos INCTs deverão ocupar posição estratégica no Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação” [2]. E, ainda, “o Programa dos INCTs tem metas ambiciosas e abran- gentes em termos nacionais como possibilidade de mobilizar e agregar, de forma articulada, os melhores grupos de pesquisa em áreas de fronteira da ciência e em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável do país; impulsionar a pesquisa científica básica e fundamental competitiva internacionalmente; estimular o desenvolvimento de pesquisa científica e tecnológica de ponta associada a aplicações para promover a inovação e o espírito empreendedor, em estreita articulação com empresas inovadoras, nas áreas do Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec)” [3]. O “Documento de Orientação”, aprovado pelo Comitê de Coordenação dos INCTs em 29 de julho de 2008, estabelece que, “além de promover o avanço da competência nacional nas devidas áreas de atua- ção, criando ambientes atraentes e estimulantes para alunos talentosos de diversos níveis, do ensino médio ao pós-graduado, o Programa dosINCTs também se responsabilizará diretamente pela formação de jovens pesquisadores e apoiará a instalação e o funciona- mento de laboratórios em instituições de ensino e pesquisa e empresas, proporcionando a melhor dis- tribuição nacional da pesquisa científico-tecnológica, e a qualificação do país em áreas prioritárias para o seu desenvolvimento regional e nacional” [4]. O “Documento de Orientação” arremata: “os INCTs devem ainda estabelecer programas que contribuam para a melhoria do ensino de ciências e a difusão da ciência para o cidadão comum” [4]. A Comissão de Avaliação composta por pesqui- sadores renomados de várias áreas do conhecimento e tendo como coordenador o Professor Dr. Walter Colli (Graduado em Medicina e Doutor em Bioquími- ca pela USP, Professor Titular da USP, Bolsista de Produtividade 1A do CNPq, membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), membro da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS), membro da Ordem do Mérito Científico do Brasil nas classes Comendador e Grã Cruz) analisou e recomen- dou diversas propostas que foram ratificadas pela Diretoria Executiva do CNPq e aprovadas pelo Comitê de Coordenação do Programa Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, dentro dos recursos disponíveis para financiamento. Dessas, quatro são destinadas a criar INCTs com forte atuação em linhas diversas de Neurociência: INCT de Interface Cérebro Máquina, coordenado pelo Professor Dr. Miguel Ângelo Laporta Nicolelis, AASDAP / UFRN, aprovado em 4 de fevereiro de 2009. INCT de Excitotoxicidade e Neuroproteção, coor- denado pelo Prof. Dr. Diogo Onofre Gomes de Souza, UFRGS, aprovado em 27 de novembro de 2008. INCT de Neurociência Translacional, coordenado pelo Prof. Dr. Esper Abrão Cavalheiro, UNIFESP, apro- vado em 4 de fevereiro de 2009. INCT de Febres Hemorrágicas Virais, coordenado pelo Prof. Dr. Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, IEC, aprovado em 27 de novembro de 2008. Neste Editorial, procuramos contatar os INCTs aprovados, para obter material que pudéssemos apresentar aos leitores do Neurociências e dar-lhes uma idéia dos objetivos de cada INCT. Transcrevemos abaixo o que nos foi enviado pelos quatro institutos dessa lista aprovada nos últimos meses e gostaría- mos de estimular os leitores a contatar diretamente cada INCT para maiores detalhes sobre sua estrutura e atividades. Instituto Nacional de Interface Cérebro Máquina (INCEMAQ) (material fornecido pelo Prof. Dr. Sidarta Tollendal Gomes Ribeiro, Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa AASDAP / Instituto Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 2009 61 Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra IINN-ELS / UFRN). Uma interface cérebro-máquina (ICM) é uma ligação funcional direta entre o tecido cerebral vivo e aparatos robóticos e computacionais. A investigação de ICM começou na década de setenta, mas recebeu um grande impulso a partir de meados da década de noventa, quando um grupo de cientistas do Centro de Neuroengenharia da Universidade Duke (EUA) come- çou a executar experiências pioneiras demonstrando a viabilidade da utilização de ICM para permitir a roedores, macacos e finalmente seres humanos em- pregar diretamente a atividade cerebral para controlar uma grande variedade de dispositivos robóticos. Na vanguarda dessas realizações, a investigação de ICM inaugurou uma nova era de investigação neurofisio- lógica e permitiu, através de colaborações multidis- ciplinares em informática, engenharia e robótica, um aumento muito significativo da nossa compreensão de como as informações são codificadas por grandes populações de células cerebrais. Em última instância, os conhecimentos acumulados após uma década de experiências com ICM aumentaram a expectativa de que novas ferramentas de diagnóstico e tratamentos para doenças neurológicas possam surgir na próxima década, graças ao advento de novas metodologias e dispositivos. Desde seus primeiros passos, a inves- tigação moderna sobre ICM revelou a necessidade de empregar-se grandes equipes multidisciplinares de neurocientistas, engenheiros, matemáticos, cien- tistas da computação e médicos para fazer avançar a agenda dessa área de pesquisa. Como resultado, tais equipes multidisciplinares têm demonstrado que a atividade elétrica simultânea de grandes populações de neurônios pode ser usada para comandar disposi- tivos externos capazes de reproduzir uma variedade de comportamentos motores complexos. Todo apa- rato que se utiliza de uma ICM para restaurar uma dada função neurológica é também conhecido como neuroprótese. À medida em que mais e mais demons- trações experimentais se seguiram, a pesquisa em neuropróteses começou a indicar que esses disposi- tivos poderiam um dia melhorar a qualidade de vida para pacientes sofrendo de graves deficiências moto- ras, tais como a paralisia. Desse modo, avanços nas ICM têm o potencial de afetar positivamente a vida de milhões de pessoas no mundo todo. Além disso, há motivos para se acreditar que uma nova geração de ICMs possa também propiciar novos tratamentos para doenças neurodegenerativas graves como a doença de Parkinson. Embora o paradigma das ICM ainda seja novo, ele provê um excelente exemplo dos saltos progressivos que podem ser alcançados quando múltiplas disciplinas como a neurociência, a ciência da computação e a robótica são integradas para resolver questões científicas fundamentais. Efetivamente, diversos autores têm sugerido que os impactos futuros das ICM serão enormes tanto para a ciência básica quanto para a aplicada, uma vez que as ICM permitem a investigação de propriedades fundamentais do cérebro ao mesmo tempo em que habilitam o controle direto do cérebro sobre todos os tipos de dispositivos eletrônicos. Se o Brasil deseja participar desse esforço global e garantir um lugar entre as nações que buscam se tornar líderes nessa área, está claro que o país não pode perder a oportunidade de estabelecer uma infraestrutura de porte nacional capaz de conduzir pesquisa em ICM a nível mundial. Esse é precisamente o objetivo central do INCEMAQ: estabelecer um programa nacio- nal em pesquisa, clínica, educação e transferência tecnológica capaz de trazer o Brasil para a linha de frente em ICM. Estando esta revolução da ICM ainda em seu início, o Brasil tem a oportunidade única de acompanhar e até mesmo disputar a liderança deste salto qualitativo. A proposta para criação do INCEMAQ se baseia em uma diversificada equipe de neurobiólogos, neurocirurgiões, engenheiros, médicos, cientistas da computação e matemáticos, de 14 instituições distribuídas por todas as cinco regiões brasileiras. As instituições participantes são: Cluster Neurotec- nológico de Santa Catarina, Universidade Tecnológi- ca Federal do Paraná, Faculdade de Medicina USP, Instituto de Física USP – São Carlos, Departamento de Física e Matemática USP – Ribeirão Preto, UFMG, UFRJ, UnB, UFMA, Universidade Federal de Roraima, UFPE, UFRN. A instituição sede do INCEMAQ é o IINN-ELS, localizado na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, o que vai ao encontro da necessidade de balancear regionalmente a produção científica no Brasil, onde a maioria esmagadora da produção científica vem da região Sudeste. O desenvolvimen- to bastante limitado da Neurociência fora da região Sudeste é um claro exemplo da enorme disparidade regional da Ciência Brasileira em geral. Em resumo, a proposta do INCEMAQ reúne uma equipe extrema- mente multidisciplinar com vários pesquisadores de reconhecida competência, fisicamente baseados em diferentes estados do Brasil, mas sob a liderança de uma instituição-sede nordestina, coordenada por um pesquisador mundialmente influente na área específi- ca do projeto. Dessa forma, o desenho institucional do INCEMAQ visa contribuir decisivamente para inverter Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 200962 a lógica de disparidade regional vigente na realidadecientífica brasileira. Instituto Nacional de Excitotoxicidade e Neu- roproteção (material fornecido pelo Professor Dr. Carlos Alberto Saraiva Gonçalves, Departamento de Bioquímica, Instituto de Ciências Básicas da Saúde, UFRGS). O glutamato é o principal neurotransmissor excitatório do sistema nervoso central. Entretanto, a estimulação excessiva do sistema glutamatérgi- co, decorrente de níveis aumentados de glutamato na fenda sináptica caracteriza a excitotoxicidade glutamatérgica, que está envolvida em inúmeros distúrbios do sistema nervoso agudos (isquemia ce- rebral, hipóxia, traumatismo cerebral, hipoglicemia, convulsões e intoxicação por metais) ou relacionados com a etiopatogenia de doenças crônicas neuroge- nenerativas. Diversos grupos de pesquisa brasileiros vêm estudando e contribuindo para o entendimento da neurobiologia da excitotoxicidade e dos possíveis mecanismos de neuroproteção, abordando aspectos básicos e clínicos. Com apoio do Programa dos INCTs, esses grupos constituíram o INCT de Excitotoxicidade e Neuroproteção. O Instituto é formado atualmente por 41 docentes-pesquisadores inseridos em oito programas de pós-graduação de 11 universidades e tem como objetivo contribuir para o entendimento das bases celulares e moleculares em diversas condições excitotóxicas, incluindo doenças humanas e modelos experimentais com animais; identificar marcadores bioquímicos e parâmetros eletrofisiológicos, para avaliação em modelos experimentais e para diagnós- tico e prognóstico de doenças associadas a excito- toxicidade; caracterizar possíveis alvos terapêuticos moleculares em condições de excitoxicidade; propor estratégias de neuroproteção (farmacológicas e/ou não-farmacológicas) para situações de excitotoxicida- de. Além disso, faz parte da missão formar doutores e mestres em projetos no tema do Instituto, vincu- lados aos programas de pesquisa das instituições envolvidas; estimular o intercâmbio e a vivência de estudantes de graduação e pós-graduação, entre os centros de pesquisa consolidados e os grupos de pesquisa emergentes, das instituições da rede; fomentar a qualificação de pós-doutores na interface das instituições da rede, de forma a permitir a aborda- gem multidisciplinar dos diversos grupos envolvidos. São também metas importantes do Instituto promover ambientes estimulantes e atrativos para estudantes e professores do ensino médio, preferentemente oriundo da rede escolar pública; estimular alunos do ensino médio, da graduação e da pós-graduação, para difusão do tema do Instituto, de forma a valorizar o ensino de Ciências nas escolas; envolver pesquisa- dores e alunos (do ensino médio à pós-graduação) na difusão do conhecimento biomédico referente aos riscos, fatores agravantes e atenuantes das doenças neurológicas para o cidadão comum, como fator de crescimento social e melhora da qualidade de vida. Instituto Nacional de Neurociência Translacional (INNT) (material fornecido pelo Prof. Dr. Esper Abrão Cavalheiro). Produzir tratamentos novos e efetivos aliados à prevenção adequada das doenças deve ser o principal objetivo dos sistemas de saúde de uma nação. Este objetivo é mais facilmente estabelecido com a tradu- ção efetiva dos achados das pesquisas biomédicas na prática clínica e nas tomadas de decisão na área da saúde. A pesquisa translacional tem sido reconhecida como a base desse progresso através de um processo contínuo que pode ser dividido em dois domínios. O primeiro envolve a aplicação das descobertas geradas pelas pesquisas nos laboratórios ao desenvolvimento dos estudos em seres humanos. Essas investiga- ções translacionais pré-clínicas são freqüentemente estabelecidas através do uso de modelos animais, culturas de tecidos, amostras de células humanas e animais ou através de sistemas experimentais tais como o estudo de moléculas biológicas, incluindo o DNA, RNA e as proteínas. O segundo domínio transla- cional reúne os resultados dos estudos básicos e os aplica na prática clínica, na tentativa de melhorar a saúde da população e facilitar a adoção das melhores práticas pela comunidade. Como reconhecido pelas principais revistas científicas e pelas grandes agências de fomento, a Neurociência é a área das ciências biomédicas que cresce mais rapidamente nos países desenvolvidos. Essa observação também é válida para nosso país. De fato, a Neurociência ocupa posição de destaque nos congressos multidisciplinares, tem presença significativa nos periódicos de maior impacto como Nature e Science, atrai um grande contingente de jovens para a pesquisa científica, e freqüenta a mídia e o interesse do público pela discussão das questões mais fundamentais da humanidade. A Neurociência brasileira tem se expandido notavelmente nos últimos 15 anos e hoje ocupa lugar relevante na produção internacional. Porém, e à diferença do que ocorre nos países desenvolvidos, o Brasil ainda não dispunha de uma rede nacional de pesquisa em Neurociência, necessária para aglutinar, de uma maneira formal, Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 2009 63 os esforços individuais dos principais pesquisado- res inseridos nesta área. A formação do Instituto Nacional de Neurociência Translacional (INNT) nos moldes aqui propostos se reveste de grande impor- tância estratégica, pois somente através do trabalho conjunto destes grupos de pesquisa poderá surgir e se consolidar uma massa crítica necessária para produzir Ciência da mais alta qualidade e transferir de maneira eficaz, através do Sistema Único de Saú- de, os conhecimentos e as inovações gerados nos laboratórios de pesquisa para o setor empresarial e a sociedade em geral. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças neurológicas e neuropsi- quiátricas constituem 15 a 20% do total de mortes globalmente. Por outro lado, e devido ao curso crônico da maioria dessas doenças, o custo das mesmas estimado em DALY (disability-adjusted life years) é o mais alto quando comparado a outros grupos de doen- ças (ex., HIV/AIDS, neoplasias, doenças cardíacas), representando aproximadamente 6,5% do custo total (Neurological Disorders, WHO, 2006). Esse quadro se torna ainda mais alarmante quando se leva em consideração a taxa de envelhecimento da população, o que, segundo a projeção da OMS, aumentará em 12% o custo das doenças neurológicas até 2030. Dentre as doenças neurológicas mais relevantes em termos populacionais estão as epilepsias, a doença de Alzheimer e outras demências, a doença cerebro- vascular, os tumores do sistema nervoso central, a doença de Parkinson e doenças do sistema motor, além das retinopatias e as doenças inflamatórias e infecciosas do sistema nervoso central. A incidência das doenças do cérebro e das assim-chamadas doen- ças nervosas (Alzheimer, dependências, ansiedade, depressão, epilepsia, etc) aumentam com a idade e acometem, aproximadamente, 40% da população dos EUA. O quadro fica ainda mais impactante se incluirmos nesse grupo os transtornos considerados psiquiátricos, tais como, a esquizofrenia, o transtorno obsessivo-compulsivo, o transtorno de personalidade anti-social, cujas bases neurobiológicas estão sendo progressivamente reconhecidas. O INNT reúne pesquisadores com formação e ex- periência variadas em Neuroanatomia, Neuroquímica, Neurofarmacologia, Neurobiologia Celular, Bioquími- ca, Biologia do Desenvolvimento, Biologia Estrutural e Neurofisiologia. Os pesquisadores principais e os associados são residentes e radicados em São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro e têm histórico de excelência, inserção internacional, publicações de impacto e índices elevados de citações de seus trabalhos. Foram responsáveis pela formação de recursos humanos e nucleação de vários grupos de pesquisa no país e exterior. O INNT agrega ainda colaboradores nos estados de Minas Gerais, Santa Catarina, Pernambuco e Bahia. Uma das missões centrais do INNT será contri- buir para elevara produção científica brasileira em Neurociência a um novo patamar, de maior projeção e visibilidade internacionais. Como se deu em todas as áreas da Ciência Brasileira, a Neurociência apresen- tou um impressionante crescimento quantitativo ao longo dos últimos 15 anos. De fato, o Brasil apresenta hoje posição de destaque em termos do número de ar- tigos científicos publicados anualmente, respondendo por cerca de 2% da produção científica mundial. Mas faz-se ainda necessário dar maior visibilidade à nossa produção científica e facilitar sua transformação em bens e/ou serviços que beneficiem a população que a financia. A proposta do INNT, de apoiar grupos de excelência na Neurociência nacional num horizonte mais largo, deverá contribuir sensivelmente para per- mitir uma maior ousadia nas abordagens experimen- tais e um aumento na qualidade da produção. Nesse sentido, é importante ressaltar que os grupos propo- nentes do INNT mantêm uma rede altamente capilar de colaborações com outros grupos de pesquisas no país e no exterior. Dessa forma, o fortalecimento dos grupos proponentes do INNT repercutirá também no fortalecimento e qualificação de um grande número de grupos de pesquisa associados. Os grupos de pesquisa estarão organizados em torno de um tema central que é conhecer a fisiologia do sistema nervoso e as patologias que o afetam. Há um interesse coletivo na geração de ferramentas ce- lulares e moleculares bem como de modelos animais que serão compartilhados entre os grupos, permitindo sua aplicação nos diferentes modelos fisiológicos e patológicos. Há ainda um empenho na descoberta de marcadores celulares, genéticos e de imagem que permitirão a identificação de alvos terapêuticos com propriedades neuroprotetoras. A integração do grupo propiciará que estes alvos sejam testados inicial- mente em modelos animais das diferentes doenças do sistema nervoso. A presença marcada de clínicos participando do INNT permitirá a implementação de estudos translacionais para os alvos gerados no es- tudo. Além disso, o INNT manterá ainda uma efetiva divulgação de seus trabalhos. Além da divulgação dos artigos científicos através de publicações em revistas indexadas, o Instituto promoverá ações de integração com a sociedade através do Grupo de Popularização da Neurociência (PopNeuro) e organizará um Progra- Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 200964 ma de Formação de Pessoal Qualificado através de cursos de curta duração. Existirá ainda um sistema de teleconferências através do qual cursos e palestras poderão ser ministrados pelos grupos participantes do INNT ou por outros grupos no País. Os objetivos e metas do INNT são: 1) criar mo- delos animais e outros modelos experimentais que proporcionem o avanço da pesquisa translacional em neurociência; 2) determinar e validar novos al- vos terapêuticos identificados a partir da elucidação das bases moleculares e celulares da fisiopatologia das doenças do sistema nervoso; 3) criar linhas de pesquisa em humanos que testem os conhecimentos obtidos com os modelos acima descritos; 4) buscar biomarcadores específicos que facilitem a identi- ficação precoce das doenças neurodegenerativas com vistas à adequação do tratamento; 5) induzir a capacitação de novos talentos na tradução da pesquisa biomédica em prática clínica; 6) promover o desenvolvimento de tecnologias que facilitem a pesquisa translacional em Neurociência; 7) buscar soluções integradas em parceria com os serviços de saúde com vistas a estimular novas estratégias para a pesquisa translacional em neurociência; 8) promover a criação de parcerias que maximizem os investimentos em pesquisas translacionais em neu- rociência e a consolidação de novos pólos no país para diminuir as assimetrias regionais; 9) promover a difusão e a divulgação dos conhecimentos adquiridos para o governo, o setor empresarial e a sociedade em geral. Ao final deste período espera-se contribuir para que a Neurociência nacional se encontre em um novo patamar, e que o País esteja organizado para oferecer inovações nas áreas de prevenção, diagnós- tico e tratamento para as patologias neurológicas e psiquiátricas de uma forma mais eficiente do que se encontra neste momento. Instituto Nacional de Febres Hemorrágicas Virais (INFHV) (material fornecido pelo Prof. Dr. Cris- tovam Wanderley Picanço Diniz, Instituto de Ciências Biológicas, UFPA). O INFHV, apesar de estar voltado especificamente às arboviroses, pelo tema a que está dedicado e pela composição da equipe, certamente contribuirá para um conjunto de novo de conhecimen- tos sobre a interação vírus e sistema nervoso, assim como para uma formação de recursos humanos de- dicada à essa área. As FHV são importantes causas de morbidade e mortalidade, potenciais riscos de epidemias e são de grande importância em Saúde Pública no Brasil e no mundo. Segundo o Ministério da Saúde, diversos vírus são associados com qua- dros clínicos de FHV, sendo os mais importantes no Brasil os quadros hemorrágicos causados pela febre amarela, dengue, hepatites virais B e D, hantaviroses e arenaviroses. Essas enfermidades têm em comum o desenvolvimento de uma síndrome clínica que cursa com manifestações gerais que culminam em suas formas severas em sintomas e sinais de falência de órgãos resultando em alterações hemodinâmicas e manifestações hemorrágicas acompanhadas ou não de insuficiência hepática, renal, pulmonar e cardiovas- cular. Os mecanismos fisiopatológicos que resultam nesse conjunto de síndromes e insuficiências não são totalmente esclarecidos pois não existem modelos experimentais para muitos dos vírus responsáveis por esses quadros que reproduzam com eficiência as repercussões cínicas observadas em humanos. Portanto, desconhecem-se em profundidade os me- canismos determinantes de sua gravidade e não se dispõe de testes rápidos, sensíveis e específicos para um pronto diagnóstico. O INFHV tem por objetivos avaliar os principais mecanismos patogênicos que levam à alteração vascular, um dos mais importan- tes elementos associados à gravidade; investigar a participação da resposta imune inata e adquirida nos eventos lesionais teciduais e de seus fatores determi- nantes; desenvolver testes sorológicos e moleculares com maior sensibilidade, especificidade e rapidez. Recentemente uma série de descrições sistemáti- cas tem conectado à infecção pelo vírus da dengue à ocorrência de síndromes neurológicas associadas às alterações metabólicas induzidas pela infecção, à resposta inflamatória exacerbada, à invasão do sistema nervoso central pelo vírus ou a combinação em maior ou menor proporção desses elementos. Entretanto os mecanismos fisiopatológicos dessas entidades clínicas permanecem por ser esclarecidos. O presente projeto pretende investigar tais mecanis- mos em modelo murino. Para tanto, serão inoculados cérebros de camundongos neonatos com o patógeno humano isolado e, através de passagens sucessivas, pretendemos aumentar a neurovirulência para o mo- delo experimental. Com a variedade de maior neuro- virulência serão feitas inoculações intradérmicas no camundongo adulto com concentrações conhecidas do patógeno de modo a simular o modo de infecção natural, rastreando o transporte dos antígenos vírais por via neural e hematogênica a partir de imunomar- cação seletiva. É objetivo identificar o mecanismo de invasão, as células e as áreas alvos dos antígenos virais no sistema nervoso central murino empregando ensaios in vivo e in vitro. Serão também investigadas as alterações comportamentais ao longo da progres- Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 2009 65 são da doença correlacionando-as à resposta inflama- tória celular quantificada por estereologia, identifican- do os compartimentos subcelulares ocupados pelo vírus por microscopia eletrônica. A resposta humoral será igualmente investigada através de dosagens de marcadores da resposta inflamatória tais comoo interferon gama, interferon alfa, fator neurotrófico tumoral alfa, interleucina-1 beta, interleucina 8 e in- terleucina 12. Espera-se que os resultados possam subsidiar novas linhas de investigação dedicadas a revelar as bases moleculares associadas às síndro- mes neurológicas. Essas são notícias alvissareiras, com certeza, mas preferimos concluir com o mesmo alerta de há quatro anos [1]: “E para os políticos, que tanto falam em independência tecnológica: vamos investir em áreas onde a corrida está na largada! Querer vencer corrida que já começou há muito, partindo agora, é mais desconcertante que o paradoxo de Zeno. Em Neurociência, o Brasil está ‘alinhado no grid de largada’ nas filas da frente. Com um pouco mais de visão estratégica, a política científica brasileira pode colocar nas mãos da próxima geração um país de ponta. Desta vez a revolução do conhecimento hu- mano e a mudança do paradigma tecnológico estão ao nosso alcance.” Referências Silveira LCL. Neurociências no Brasil – uma revolu-1. ção tecnológica ao nosso alcance. Neurociências 2004;1:42-47. http://www.cnpq.br/resultados/index.htm2. http://www.cnpq.br/programas/inct/_apresenta-3. cao/apresentacao.html CNPq. Programa Institutos Nacionais de C&T – Docu-4. mento de Orientação Aprovado pelo Comitê de Coor- denação em 29 de julho de 2008. http://www.cnpq. br/editais/ct/2008/docs/015_anexo.pdf Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 200966 Opinião A moral da coisa em si Bruno Duarte Gomes Biólogo, Doutor em Neuro- ciências, Professor Adjunto, Instituto de Ciências Biológicas e Núcleo de Medicina Tropical, Universidade Federal do Pará Correspondência: Bruno Duarte Gomes, Universidade Federal do Pará, Núcleo de Medicina Tropical, Av. Generalíssimo De- odoro 92 Umarizal 66055-240 Belém PA, Tel: (91)3241-0032, E-mail: brunodgomes@ufpa.br Antes de começar, gostaríamos de lembrar que no ano de 2008, comple- tou-se 150 anos da primeira exposição de Charles Robert Darwin (1809-1882) e Alfred Russel Wallace (1823-1913) na Sociedade Lineana de Londres, com as idéias básicas da evolução das espécies [1]. No ano seguinte, mais pre- cisamente em 24 de novembro de 1859, foi publicada por Darwin a primeira edição do livro A Origem das Espécies [2]. Sabemos que as idéias de Darwin e Wallace ultrapassaram e muito o âmbito acadêmico e mesmo a Biologia, atingindo de assalto, por exemplo, a Filosofia e mesmo as Ciências Sociais, que ainda hoje tem de lidar com razoáveis inferências de novíssimos campos como a psicologia evolucionária. De fato, a hoje bem fundamentada Teoria da Evolução das Espécies constituiu uma revolução e alterou de modo irrevogável a percepção humana acerca de si e do Universo. A chamada para a revolução de Darwin vem a calhar, pois a nossa intenção é novamente atinar para A Nova Revolução, que nasce da derrocada do dualismo de René Descartes (1596-1650; também conhecido pela forma latinizada Renatus Cartesius) e John Locke (1632-1704). Essa nova revolução parece vir de modo mais sorrateiro que a evolução das espécies. Já vem sendo anunciada por filóso- fos e psicólogos há tempos e atualmente suas conseqüências denunciadas e evidenciadas, se nos permitem a aliteração, com muita intensidade pela Neurociência. O assunto de que trata este texto segue a mesma linha geral iniciada em outros textos que publicamos na Seção Opinião de Neurociências: “A base material do reconhecimento de faces” [3] e “A força e a herança dos males da alma” [4]. É o relato de mais uma importante descoberta da Neurociência que corrobora a máxima de que “A mente humana é o produto do funcionamento do cérebro”. Temos procurado justificar nossa insistência em temas que quase imediatamente se relacionam a essa afirmação. Pelas descobertas de Darwin e o desenvolvimento posterior de suas idéias, culminando no que chamamos hoje de moderna teoria da evolução, temos que a vida possui um sentido objetivo: lutar pela sobrevivência e reproduzir-se para com isso passar os genes adiante, os verdadeiros imor- tais em todo o processo de evolução. No entanto, a vida humana é guiada totalmente e de modo consciente por uma realidade e sentido subjetivos. Para resumir, por uma realidade construída pelo que chamamos mente, que é a “coisa” que nos daria aquele sentido muito particular à vida e que de- pende de cada ser humano. Esse sentido seria fornecido a cada um através da razão, emoção, inteligência, memória etc... A mente seria, em suma, aquilo que nos forneceria as qualidades intelectuais superiores e algo que definitivamente nos diferenciaria dos outros animais. Mas se nosso cérebro é produto da evolução tanto quanto o estômago ou o coração, não seria nossa realidade e sentido subjetivos o produto da realidade objetiva? Com Darwin Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 2009 67 e seus sucessores a vida em seu sentido objetivo foi elucidada. Eis a outra revolução! Com a Neurociência, a vida subjetiva está sendo aos poucos transviada em fenômenos objetivos, materiais. Vamos a mais uma evidência. Em um ensaio intitulado A vida virtuosa, o grande filósofo, matemático e escritor Bertrand Russell enun- cia a sua máxima de que “A vida virtuosa é aquela inspirada pelo amor e guiada pelo conhecimento”[5]. Como o próprio Bertrand Russell fez questão de destacar no mesmo texto, o conhecimento a que ele se refere não é um conhecimento ético, mas o conhecimento científico. A aceitação de que a realidade objetiva é possí- vel e que a mesma é revelada pela ciência, pode vir como uma conseqüência natural para não cientistas ou filósofos, dada a imensa quantidade de mudanças na vida humana proporcionada pela tecnologia, que é a aplicação do conhecimento científico por vezes armazenado por muitas décadas. Mas vejamos a seguir como essa aceitação é claramente limitada e delimitada. Se nos permitimos à auto-indulgência de divagar por entre pensamentos extremos e por vezes aterradores, podemos ser impiedosamente in- terpelados por perguntas e reflexões tais como: “Pelo conhecimento científico torno-me consciente de que o amor que minha mãe sente por mim é fruto de reações químicas e de funções precisas empenhadas por subs- tâncias como os hormônios, ou seja, um imperativo evolucionário que em milhares de anos se desenvolveu por seleção natural de modo a, entre outras coisas, guardar e proteger a prole dos predadores e da morte por inanição”. Todavia, isso não me torna um filho frio ou me desespera a ponto de acusar minha mãe de falsa em suas intenções e sentimentos devido a uma suposta artificialidade do amor materno. De modo análogo, tão pouco a mãe consciente da “verdade” revelada pela ciência relega o filho ao desprezo ou à falta de cuidados pelo mesmo motivo. Vejamos outra reflexão. “Pelas descobertas cien- tíficas tomo conhecimento de que o amor que une o homem e uma mulher é também produto de reações químicas bem descritas”. Novamente, a aceitação desse fato revelado pela ciência não fará com que se deixe de amar ou desvalorizar o amor pelo respectivo cônjuge em detrimento da “fria” dança dos átomos e menos ainda que se deixe de sofrer pela pessoa amada com pensamentos improváveis do tipo “Por que estou sofrendo se o amor é tão somente a ma- nifestação subjetiva de fenômenos materiais”. E ainda. Levemos a mesma linha de raciocínios improváveis ao que chamamos ódio, cuja desvalori- zação como sensação pela elucidação de seus meca- nismos moleculares e neurais de origem, poderia até ser de inegável utilidade em muitas ocasiões. Alguém se negaria a deixar de odiar outrem pela suposição de que seu ódio é totalmente injustificado devido à revelação científica de que a cólera de todos os sentimentos é um “mero” mecanismo de defesa de que nos “dotou” a evolução e, portanto, novamente, produto de fenômenos da super complexa matéria orgânica? A descrição de mais exemplos poderia prosseguir quase que indefinidamente. Poderíamos imaginartalvez um para cada sensação ou sentimento com todas as citações, levando muito provavelmente a uma experiência e o conhecimento objetivo acerca dessa experiência. A dicotomia entre a experiência e o que julgamos ser o que realmente é, foi explorada de modo não ex- clusivo, mas bastante peculiar, pelo filósofo Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900) em seu livro “Hu- mano, demasiado humano” [6]. Mais precisamente no Aforismo 16 Nietzsche fez a distinção clara entre vislumbrar o mundo como fenômeno e como coisa em si. Fenômeno, segundo Nietzsche, é justamente aquilo que é ditado pela experiência. É aquilo que a humanidade acumulou durante muitos anos de olhar sobre as coisas com “...exigências morais, estéticas, religiosas, com cega inclinação, paixão ou medo...”. Os maus hábitos do pensamento ilógico segundo Nietzsche. Mas que ao mesmo tempo tornam a existência humana plena de significado. A “coisa em si” seria olhar o mundo como que com olhos de um observador arguto e alienígena que, despido das impressões determinadas pela moral acumulada, observa as coisas como realmente são: desnudas do tecido do julgamento moral que encobre todas as coisas e, por isso, capaz de vê-las como são em si. Nietzsche pondera ainda que a ciência poderia ao menos em certa medida nos libertar do mundo como representação, como fenômeno, fazendo com que pudéssemos então nos elevar por instantes acima de todo evento. Nietzsche escreveu ainda que a visão da coisa em si talvez nos causasse uma risada homérica porque veríamos que aquilo que tanto nos vale quase como significado divino, é apenas vazio de sentido já que o sentido mesmo, nós é que criamos. O estudo da moral, essa força que dita nossas impressões e condutora de nossas atitudes, foi de grande interesse de Nietzsche e está presente em toda a sua obra. A distinção de Nietzsche pode ser vista como a dua- lidade que emerge atualmente da nova Filosofia da Mente, os estados mentais e os estados de coisas que os mesmos representam. Fenômeno = estados Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 200968 de coisas. Coisa em si = estados mentais. Pudera Nietzsche ter vivido para saber das modernas desco- bertas da Neurociência, em especial as conclusões do trabalho de Joshua Greene e colegas a respeito da moral [7]. Joshua D. Greene e colaboradores usaram res- sonância magnética funcional para sondar diversos indivíduos enquanto submetidos a uma série de di- lemas morais divididos em pessoais e impessoais, bem como a dilemas não morais. Essa classificação resulta do tipo de narrativa complexa que antecedeu uma pergunta feita ao indivíduo a respeito da situação exposta na narrativa. Segundo os autores, as pergun- tas foram inspiradas em já conhecidos dilemas éticos de comum estudo pelos filósofos contemporâneos que se debruçam sobre o pensamento moral. Um dos dilemas empregados foi o do trem. Em todos os exemplos empregados a seguir, a suposição é de que nenhuma das pessoas envolvidas nas narra- tivas é conhecida. Um trem desgovernado é conduzido por cinco pessoas que serão mortas se ele prosseguir seu curso a menos que alguém acione um mecanismo de alteração de rota fazendo com que o trem vá para trilhos alternativos onde, no entanto, matará uma pessoa ao invés das cinco. Nesse caso, o que você faria? Valeria salvar as cinco pessoas à custa de uma. Segundo os autores a resposta majoritária a essa pergunta é sim! Agora vamos a outro problema simi- lar, o dilema da passarela. Como anteriormente, um trem ameaça matar cinco pessoas. Agora você está perto de uma pessoa em uma passarela que passa sobre trilhos e que está entre o trem que está vindo e as cinco pessoas. Nesse caso, a única maneira de salvar as cinco pessoas é empurrar o estranho da passarela para os trilhos, o que o matará, mas supondo que seja possível seu corpo parar o trem, isso fará com que seja impedida a morte das cinco pessoas. Deve-se com isso salvar as cinco pessoas empurrando o estranho para a morte? Os autores dizem que nesse caso a resposta majoritária é não! Bom, a justificativa comum, segundo os autores, para essas decisões antagônicas, é que no dilema do trem o infeliz anti-herói que morrerá simplesmente já estava lá, ao contrário do dilema da passarela, onde você deliberadamente empurrará o indivíduo rumo à morte com um fim específico, salvar as cinco pessoas. Parece uma justificativa razoável. Confesso que eu mesmo daria exatamente as respostas que foram consideradas para os dois dilemas. No entanto a justificativa para as respostas entra em conflito com a resposta majoritária a uma variante do dilema do trem onde os trilhos que levam o trem em direção ao indivíduo dão uma volta ao redor do mesmo tomando um caminho direto para os outros cinco indivíduos. Você pode então escolher mudar o curso do trem levando as cinco pessoas à morte ou manter o curso levando a morte apenas o nosso anti-herói já que novamente aqui se supõe que o corpo do mesmo é capaz de parar o trem. Pois bem, aqui a resposta majoritária é para manter o curso, apesar de haver um claro fim de “usar” o indivíduo para salvar os outros cinco. Claramente, não há então qualquer justificativa consistente que explique de fato as repostas. Os dilemas como o da passarela foram consi- derados por Greene e colaboradores como sendo de natureza pessoal, ou seja, supostamente mais emocionais em comparação com o dilema do trem, mais intuitivamente impessoal e por isso suposta- mente menos emocional. Ambos os dilemas foram considerados estritamente morais em comparação com dilemas não morais como tomadas de decisão comum no dia a dia tipo qual cupom usar em uma loja ou se qual transporte levaria menos tempo ao destino, se de trem ou de ônibus. Os resultados da ressonância foram impressionantes. Eles acharam que as respostas aos dilemas morais pessoais, quan- do comparadas com dilemas impessoais e não mo- rais, produziram um aumento de atividade em áreas associadas com processamento social e emocional como o giro medial frontal, giro posterior do cíngulo e o giro angular. No entanto, dilemas impessoais e não morais quando comparados com os dilemas morais pessoais produziram aumento da atividade em áreas associadas com a memória de trabalho como as áreas pré-frontal dorsolateral e parietal. Em um nível maior de detalhamento foi especialmente interessante a pouca diferença entre as atividades registradas para os dilemas morais impessoais e não morais. O que sugere que os dilemas morais impessoais podem ter algo mais em comum com os não morais do que com os dilemas morais pessoais. Uma semelhança que de fato não é percebida pela experiência. Além da análise da ativação diferencial de áreas corticais, Greene e colaboradores ainda analisaram o tempo de reação dos indivíduos para as tomadas de decisão em relação às narrativas e o compararam aos dados obtidos com ressonância magnética funcional. Os indivíduos foram mais lentos em aprovar violações morais pessoais, mas relativamente rápidos para condená-las. Para os julgamentos morais impessoais e não morais, tanto aprovações quanto reprovações foram fornecidas em iguais intervalos de tempo. Os autores sugerem que esses resultados podem ser explicados pelo fato de que os indivíduos tiveram Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 2009 69 que “superar” suas repostas emocionais negativas quando aprovaram violações morais pessoais em comparações com os outros dilemas, menos inten- sos emocionalmente. Os resultados dos tempos de reação mostrariam, dessa maneira, de modo bastante conclusivo, o envolvimento emocional em cada dilema. A ativação de áreas corticais específicas no processamento de informações relacionadas ao pensamento moral não era nova até o trabalho de Greene e colaboradores. Em um trabalho do mesmo ano, mas anterior, Jorge Moll e colaboradores tam- bém usaram ressonância magnética funcional para testar diversos indivíduos comperguntas simples classificadas como tendo um conteúdo moral ou não [8]. Os indivíduos que apresentaram julgamen- tos em resposta a questionamentos de conteúdo moral apresentaram aumento da atividade bilateral no pólo frontal, giro medial frontal, cerebelo direito, pólo temporal direito, sulco temporal superior, córtex órbito-frontal esquerdo, precúneo direito do lobo pa- rietal e porção posterior do globo pálido. A intensa ativação do giro medial frontal em ambos os estudos atesta a importância dessa área em especial para o processamento de informações relacionadas à mo- ral. O trabalho de Greene é especial porque mostra uma forte evidência de que a emoção é uma força significativa no julgamento moral. E sugere também que a razão tem papel preponderante nos julgamen- tos impessoais e nos julgamentos pessoais morais nos quais as considerações racionais e intuições emocionais conflitam. Como obedecemos ao primado da experiência em detrimento do conhecimento objetivo, a visão da moral como fenômeno material em nada altera nossas opiniões acerca dos dilemas morais que nos confrontam rotineiramente. Tal como citado no início do texto em relação ao amor e o ódio. No entanto, voltando à consideração de Nietzsche em relação à experiência e coisa em si, as conclusões de Greene e outros pesquisadores levaram a própria moral, que embota a visão do mundo como coisa em si, ao status de coisa em si! As conclusões dos neurocientistas da moral por instantes nos podem “elevar acima de todo evento” como dizia Nietzsche. Convido-vos a dar a risada homérica junto com Nietzsche e a tentar ver se a transformação da tão sagrada moral em um fenômeno material sem direção divina ou sentido além do humano, pode em momentos cruciais nos levar à sonhada vida virtuosa citada por Bertrand Russell. Se não puder, que pelo menos possamos continuar rindo de modo nietzscheano pelas mãos da Neurociência. Referências Darwin C, Wallace A. On the tendency of species to 1. form varieties: and on the perpetuation of varieties and species by natural means of selection. Journal of the Linnaean Society of London 1859;3:45-62. Darwin C. On the Origin of Species by Means of Natu-2. ral Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life. 1st ed. London: John Murray; 1859. Gomes BD, Silveira LCL. A base material do recon-3. hecimento de faces. Neurociências 2006;3:65-7. Gomes BD, Silveira LCL. A força e a herança dos 4. males da alma. Neurociências 2008;4:191-3. Russell B. Ensaios céticos. Porto Alegre: L± 5. 2008. Nietzsche F. Humano, demasiado humano. São 6. Paulo: Companhia de Bolso; 2005. Greene JD, Sommerville RB, Nystrom LE, Darley JM, 7. Cohen JD. An fMRI investigation of emotional engage- ment in moral judgment. Science 2001;293:2105-8. Moll J, Eslinger PJ, Souza RO. Frontopolar and anterior 8. temporal cortex activation in a moral judgment task: preliminary functional MRI results in normal subjects. Arq Neuro-Psiquiatr 2001;59:657–64. Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 200970 Opinião Os girassóis de Vincent van Gogh Eliza Maria da Costa Brito Lacerda E.M.C.B. Lacerda é aluna de mestrado do Programa de Pós- graduação em Neurociências e Biologia Celular do Instituto de Ciências Biológicas, Universi- dade Federal do Pará. Ela de- senvolve a parte experimental da sua dissertação no Labo- ratório de Neurologia Tropical, Núcleo de Medicina Tropical, Universidade Federal do Pará. Ela está desenvolvendo a sua dissertação de mestrado estu- dando o efeito de solventes sobre a visão dos trabalha- dores da cadeia de produção e distribuição do petróleo Correspondência: Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências Biológicas, 66075- 110 Belém PA, E-mail: eliza_ lacerda@yahoo.com.br. Vincent Willem van Gogh (30 de março de 1853 – 29 de julho de 1890) foi um artista pós-impressionista holandês, pioneiro do expressionismo, e que teve uma influência enorme na arte do Século XX. Suas pinturas são muito conhecidas mesmo por aqueles que vivem fora do mundo das artes, atingindo preços estratosféricos quando chegam aos leilões. Vincent van Gogh nasceu em Groot Zundert, Holanda, e começou a pintar somente aos 27 anos. Teve uma vida repleta de fracassos, conheceu a miséria, nunca conseguiu cons- tituir família, sofreu inúmeras decepções amorosas, jamais teve condição nem de manter sua própria subsistência, mas é autor de uma fabulosa e intensa obra que acompanhou em estilo o seu estado mental. Passou o fim da vida internado em hospícios e, em 27 de julho de 1890, sucumbindo a uma depressão, morreu dias após dar um tiro no próprio peito [1]. Sua obra inicialmente foi marcada por intensidade dramática, poten- cialidade expressiva dos tons escuros, da luminosidade barroca e do pincel nervoso. A partir de sua ida à Paris, em 1885, tais características foram radicalmente transformadas, sua arte passou a ter tons mais claros e exibir técnica pontilhada. Sua saúde mental deteriorou-se progressivamente. Em 1888, em uma de suas crises mais famosas, cortou parte de uma das ore- lhas. Após o trágico episódio, seu estilo mudou novamente do pontilhado para pequenas pinceladas. Em 1889, já com 36 anos, foi marcado por nova mudança de estilo após ser internado, por vontade própria, no hospital psi- quiátrico em Saint-Paul-de-Mausole, na Provença. As pequenas pinceladas evolveram para curvas espiraladas. Pode-se notar também, à medida que o tempo passava, o uso cada vez mais freqüente de tons amarelados [1]. Com saúde mental bastante crítica, Vincent van Gogh sofria bruscas mudanças de humor, ansiedade, falha na memória por breves períodos e queixava-se sempre de uma cãibra na mão esquerda. Essas crises pioraram nos seus dois últimos anos de vida, tornando-se eventos episódicos com comprometimento físico entre os quais mantinha perfeita lucidez [2]. “Até agora tive quatro ataques maiores. Nestes episódios eu não sei o que fiz, disse ou queria. Antes destes, eu fiquei inconsciente por três vezes, sem qualquer razão reconhecida e não me lembro do que senti nestes períodos.”[3] Sofria também de alucinações visuais e auditivas, mal estar estomacal, alteração na consciência, passando de extrema euforia à depressão profunda, seguida de angústia e insônia, os períodos de atividade febril alternando-se com apatia e esgotamento total [2]. Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 2009 71 “Devido a uma fraqueza no estômago durante os ataques, eu não posso me alimentar... Sou incapaz de descrever exatamente o meu problema; e então surgem crises horríveis de ansiedade, aparentemente sem causa, ou uma sensação de vazio ou fadiga na cabeça.”[3] Tinha mania de perseguição, pronunciada emo- tividade que culminavam em exagerada solicitude ou extrema religiosidade. Seu estado de transtorno era tal que chegava comer as próprias pinturas [2,4]. Mas qual seria a raiz de toda esta desordem men- tal que acometeu este gênio da pintura pós-impres- sionista? Não existe uma resposta pronta! Em 1889, Felix Rey, médico que o atendeu em Arles no episódio em que cortou a orelha, diagnosticou psicose grave e epilepsia psico-motora [3], sendo esse diagnóstico mantido por Gastaut, em 1956, que descreveu van Gogh como portador de um quadro de epilepsia psi- comotora associada à alteração psíquica intercrítica do tipo esquizóide [5]. Em 1890, Paul Gachet, médico que o atendeu no hospital psiquiátrico de Saint-Paul- de-Mausole, o tratou como tendo epilepsia agravada por intoxicação crônica por terebintina, um tipo de solvente orgânico usado na mistura de tintas, vernizes e polidores, e lesão cerebral casada pela luz solar [6]. Gachet foi retratado por Van Gogh mais de uma vez segurando uma flor de Digitalis purpurea, vegetal da qual era feita a digitalina, medicamento usado para tratar a insuficiência cardíaca. Não há registros de que Gachet tenha usado esse tratamento em van Gogh mas Lee, em 1981, sugereque o aparecimento de diversos sintomas de sua doença tenham sido devidos à intoxicação digitálica [7]. Outras intoxica- ções foram sugeridas. Arnoldo (1988) descreveu o quadro como resultado de intoxicação por terpenos como, por exemplo, tujonas presentes no absinto e cânfora que van Gogh usava embebido em seu leito para dormir, as quais são substâncias extraídas de plantas geralmente associadas a solventes orgânicos [4]. van Gogh foi um grande consumidor de absinto e este não escapou às especulações dos inúmeros interessados em assuntos psiquiátricos [6]. Alguns foram mais criativos, como Arenbert et al. (1991) que afirmou que van Gogh era portador da doença de Mière [8]. Ou, ainda, Maire (1971) que afirmou que os sintomas visuais de van Gogh eram decorrentes de glaucoma [9]. A ciência atual, no entanto, permite-nos diag- nósticos mais abertos que não precisam ter como característica necessariamente um ou outro mal. É cada vez mais comum descobrir-se diferentes sinais e sintomas que aparentemente não estão ligados e são resultados de uma mesma causa. E quando se fala em causa, não só os problemas nítidos de saúde devem ser considerados, mas toda a estrutu- ra social a qual o sujeito em questão está inserido, considerar estilo de vida, ofício, lazer... Vincent van Gogh passou a juventude trabalhando na venda de obras de arte, começou a pintar aos 27 anos, com uma atividade bastante intensa, vivia envolto em tintas, que apresentam como principal componente determinados solventes orgânicos. Sua pintura era feita principalmente à óleo, ingeria pesadamente álcool, sua bebida favorita era a da moda na época, o absinto, composto de 68% de álcool [10]. Assim era sua vida e esse conjunto de circunstâncias selou o seu destino. van Gogh apresentava sintomas bem comuns de uma intoxicação crônica por solventes orgânicos que estiveram muito presentes em sua atividade ocupacional. Afinal, fazia parte da composição de seu material de pintura, como fazia parte também das suas bebidas e, depois, de seus medicamentos. O seja, de todos os elementos cardiais da sua vida, do trabalho ao lazer e aos vícios Os solventes orgânicos são componentes peri- gosos, pois são facilmente dissolvidos e absorvidos pelo corpo e, por serem lipofílicos, têm grande ca- pacidade de atingir o sistema nervoso [11]. A expo- sição a solventes orgânicos pode ocorrer de forma doméstica ou ocupacional, tendo em vista que são componentes de uma grande variedade de produtos e tal exposição pode resultar em sérios efeitos tanto no sistema nervoso central quanto no sistema nervoso periférico causando diferentes distúrbios nas funções psicofisiológicas [12]. O mal estar estomacal do qual Vincent van Gogh se queixava é um dos sintomas comuns de intoxicação por solventes orgânicos, incluindo enjôo, dispepsia e náusea, podendo virem acompanhados de dor de cabeça, fadiga e perda de motivação, o que justificaria a apatia e o esgotamento descritos pelo pintor [13]. Além desses sintomas, os efeitos da exposição crônica aos solventes orgânicos sobre o sistema nervoso central incluem dificuldade de concentração, perda de memória e mudança de per- sonalidade [13], ou seja, todos sintomas também presentes no quadro clínico de van Gogh. A exposição crônica a alguns tipos de solventes orgânicos está associada com a degeneração de células nervosas no sistema nervoso periférico, resultando em sintomas como cansaço, mialgia, dor, fraqueza e hipoestesia Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 200972 dos membros [13], o que poderia explicar as dores que van Gogh apresentava nas mãos bem como o comprometimento físico do pintor, fato que pode ser a causa das trocas de estilo à medida que o seu quadro de saúde piorava – a mudança do preciso pontilhado por pinceladas cada vez mais longas. Um tipo de exposição crônica a solventes or- gânicos como a que Van Gogh sofreu, pode causar seqüelas neurológicas irreversíveis que também afetam a visão, principalmente a percepção de cor [14-18]. A maioria dessas deficiências adquiridas na visão de cor, no entanto, são subclínicas e causam queixas de alterações, principalmente, na percepção do contraste azul-amarelo [17-20]. E este é um fato bastante relevante dentro de toda a sintomatologia da doença de van Gogh, por vezes tratada com irre- levância e que aponta ainda de maneira mais forte para uma intoxicação crônica causada por solventes orgânicos: a sua percepção de cor muda ao longo de sua vida artística e tal mudança pode ser observada através da análise de sua obra. van Gogh mostrava em seus quadros, telas cada vez mais amareladas e claras ficando mais e mais opacas. Esse efeito pode ser nitidamente observado na sua séria de quadros de girassóis que são pintados de forma cada vez mais tênues à medida que o tempo passa e a intoxi- cação aumenta. Ele, aos poucos, troca a escolha de tons coloridos por tons em que o amarelo ou o azul prevalecem [21]. E esta é uma peculiar característica da exposição intensa a solventes orgânicos: deixa a vida do indivíduo opaca! Dessa forma podemos dizer que van Gogh pintava o mundo tal qual ele via e tal qual o sentia, e seu prazer de viver foi se esvaindo assim como as cores em suas telas... De toda forma, independente de sua história, a obra de Vincent van Gogh, que nunca lhe rendeu prestígio enquanto vivo e pode de fato ter sido a fonte de sua intoxicação, é hoje uma das mais conhecidas obras pós-impressionistas, estando entre as mais ca- ras do mudo. Ela continua a influenciar muitos artistas de nossa época e influenciará artistas que hão de vir. Se sua obra foi mesmo a causa de sua desgraça, ela é hoje o motivo de sua imortalidade! Referências Walther IF. Vincent Van Gogh. Taschen; 1990.1. Lubin AJ. Stranger on the earth: a psychological biog-2. raphy of Vincent van Gogh, Holt, Rinehart & Winston; 1972. p.82-4. Van Gogh V. Cartas a Théo. Porto Alegre: L±1986. 3. p.10. Arnold WN. Vincent van Gogh and the thujone connec-4. tion. JAMA 1988;260:3042-4. Gastaut H. La maladie de Vincent van Gogh envisagée 5. à la lumière des conceptions nouvelles sur l’épilepsie psychomotorice. Ass Med Psychol 1956;114:196- 238. Morrant JC. The wing of madness: the illness of Vin-6. cent van Gogh. Canadian journal of psychiatry. Can J Psychiatry 1993;38(7):480-4. Lee TC. Van Gogh’s vision. Digitalis intoxication? 7. JAMA 1981;245(7): 727-9. Arenberg IK, Countryman LL, Berstein LH, Sham-8. baugh GEJr. Vincent’s violent vertigo. An analysis of the original diagnosis of epilepsy vs. the current diag- nosis of Menière’s disease. 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Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 2009 73 Entrevista Antidepressivos duais como a duloxetina são bem tolerados tanto no paciente idoso como no adulto e têm uma ação significativa sobre os sintomas comuns da depressão no idoso, como a dor e os sintomas físicos. Duloxetina no tratamento de pacientes idosos com depressão grave: análise dos dados publicados Mancini M, Gianni W, Rossi A, Amoré M. Duloxetine in the manage- ment of elderly patients with major depressive disorder: an analysis of published data. Expert Opin Pharmacother 2009;10(5)847-60. Introdução: A depressão grave é uma condição comum nos idosos, fre- quentemente associada a deficiências e diminuição das funções cognitivas. Duloxetina é um medicamento antidepressivo que inibe a recaptação da serotonina e norepinefrina. Objetivo: O objetivo desta revisão foi avaliar os dados disponíveis sobre o uso da duloxetina na população idosa. Métodos: Uma pesquisa extensiva foi realizada nas bases de dados Medline e Embase. Foram incluídos na revisão apenas artigos revisados por pares. Resultados: Quatro artigos correspondendo aos critérios de pesquisa foram identificados nas bases de dados Medline e Embase. Nos estudos controlados de curto prazo, o tratamento com duloxetina foi associado a melhoria significativa da função cognitiva, da depressão e do estado de saúde em pacientes respon- dendo ao tratamento ou em remissão, quando comparado com placebo. A dor em geral e as dores lombares também melhoraram em pacientes tratados com duloxetina. Os dados de estudos abertos de longo prazo mostraram que melhorias significativas dos escores HAM-D-17, dos estados de saúde valida- dos pelo médico (CGI-S) e pelo paciente (CGI-I) foram rápidas e mantiveram- se até a semana 52. As taxas de respostas e de remissão observadas no fim dos estudos foram de 89,4% e 72,3% respectivamente. Duloxetina foi eficiente em pacientes que não responderam ou foram intolerantes ao trata- mento por escitalopram. Náuseas e boca seca foram os eventos adversos mais comuns. Os resultados de segurança no estudo de longo prazo, no qual duloxetina foi empregada no limite superior da dose recomendada, mostrou que a maioria dos eventos adversos ocorreu precocemente e que a taxa de eventos adversos em pacientes com idade > 65 anos não é maior do que em coorte mais jovem. Conclusão: Duloxetina administrada a pacientes idosos com depressão grave tem eficácia antidepressiva rápida e sustentável e aparenta ser tão segura quanto em pacientes mais jovens. Duloxetina, tratamento de primeira escolha para a depressão grave no paciente idoso Prof. Dr. Michele Mancini, psiquiatra, Florença, Itália 74 Neurociências • Volume 3 • Nº 3 • maio-junho de 2006 Neurociências - Antidepressivos duais são mais efetivos que os ISRSs na população idosa? Dr. Michele Mancini - Até agora, não temos muitos dados para afirmar isso. As duas classes de medicamentos são eficientes no tratamento da de- pressão, mas a experiência que temos, nos estudos já publicados, mostra que os antidepressivos duais não causam efeitos secundários bem conhecidos dos ISRSs, como alguns sintomas de disfunção cog- nitiva e o embotamento emocional frequentemente reportado com o uso da maioria dos antidepressivos ISRSs, tanto nos adultos como nos idosos. Este efeito pode ser a consequência de uma disfunção do lobo frontal, devido à alteração do metabolismo da serotonina ou da relação entre serotonina e adrena- lina. Outras hipóteses sugerem que este fenômeno poderia ser causado por uma diminuição da atividade dopaminérgica, noradrenérgica e colinérgica na região cortical cingulada anterior, ou pela interação entre a dopamina e a serotonina, que poderia ser responsá- vel por essas disfunções dependentes da dopamina observadas em pacientes tratados por ISRSs. Este efeito pode ser evitado com a duloxetina, porque esta aumenta os níveis de serotonina, de noradrenalina e também de dopamina, especificamente no córtex frontal e pré-frontal. É verdade que este efeito pode ser uma vantagem quando o paciente apresenta sintomas emocionais importantes, como irritabilidade ou descontrole dos impulsos, mas na maioria dos casos, podemos afir- mar que os antidepressivos duais como a duloxetina não induzem este efeito de insensibilidade emocional no tratamento a longo prazo, efeito que é muitas vezes uma causa do abandono do tratamento, uma vez que a fase ansiosa da doença está superada. Por isso, podemos dizer que a duloxetina é uma indicação de primeira escolha para tratar a depressão grave do paciente idoso. Neurociências - De acordo com estudos clínicos, a duloxetina tem boa ação nos sintomas físicos as- sociados à depressão. Esta melhor ação também é observada na população idosa? Dr. Michele Mancini - A depressão grave da pessoa idosa é muito ligada à presença de sintomas físicos. Mais do que em adultos, a depressão no idoso pode se manifestar por sintomas físicos, com dores nas costas, ou por distúrbios cognitivos, o que faz com que o diagnóstico de depressão seja muitas vezes difícil, porque ela é mascarada pelos sintomas físicos ou cognitivos. Temos também muitas síndromes depres- sivas que são a consequência de doenças físicas ou degenerativas, como as osteoartrites. O que podemos observar, nos estudos clínicos disponíveis, é que a duloxetina é rapidamente eficaz sobre a depressão e a qualidade de vida, e que sua ação não está significa- tivamente afetada pela presença de diabetes, doença cardiovascular ou artrite. Foi bem demonstrado que a duloxetina reduz a severidade dos sintomas depressi- vos em pacientes idosos com ou sem artrite. Neurociências - Qual é o perfil do paciente idoso que pode melhor se beneficiar da duloxetina? Dr. Michele Mancini - A duloxetina tem um efeito significativo sobre um sintoma associado à depressão, que é a dor. Duloxetina é ativa sobre a dor em geral, a lombalgia, as dores percebidas ao acordar, muito frequente em idosos. Os pacientes tratados com dulo- xetina apresentam uma melhoria muito rápida desses tipos de dor, em comparação com pacientes tratados por placebo. Duloxetina reduz significativamente a severidade global da dor, a dor lombar, a remanência da dor ao acordar, e a limitação das atividades diárias em pacientes com artrite. Entretanto, esses dados po- sitivos devem ser discutidos considerando que nenhum estudo específico foi conduzindo com duloxetina tendo como objetivo primário o tratamento da dor. Duloxetina é eficaz para tratar a depressão grave e os sintomas associados em idosos, mesmo com a presença de comorbidades, e tem um efeito positivo sobre os componentes ansiosos somáticos da síndrome, que são frequentes em depressões da pessoa idosa. Neurociências - Qual foi o tempo médio de res- posta da população idosa no estudo, ou seja, qual foi a rapidez de ação observada com duloxetina? Dr. Michele Mancini - Um estudo controlado por placebo, de curto prazo, especificamente desenhado para pacientes idosos, mostrou efeitos significativos do tratamento com duloxetina já nas duas primeiras semanas de tratamento. Essa velocidade de ação foi confirmada por vários estudos. Podemos afirmar que um tratamento com dulo- xetina durante 8 semanas melhora rapidamente a depressão, a percepção do estado de saúde, e os índices de avaliação da dor e dos distúrbios cogni- tivos. A magnitude da melhoria e das taxas