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Neurociência-Uma revolução tecnológica ao nosso alcance

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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/236176693
Alterações posturais e equilíbrio em criança com tumor no vermis cerebelar –
resultados pós-operatórios
Data · April 2009
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3 authors, including:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
Evaluation and physiotherapeutic intervention in stroke View project
Interação dos fatores musculo-esqueléticos no equilibrio de crianças e adolescentes com polineuropatia sensitivo-motora hereditária View project
Cyntia De Baptista
University of São Paulo
21 PUBLICATIONS   87 CITATIONS   
SEE PROFILE
Luciane Sande de souza
Universidade Federal do Triangulo Mineiro (UFTM)
69 PUBLICATIONS   188 CITATIONS   
SEE PROFILE
All content following this page was uploaded by Luciane Sande de souza on 04 June 2014.
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https://www.researchgate.net/publication/236176693_Alteracoes_posturais_e_equilibrio_em_crianca_com_tumor_no_vermis_cerebelar_-_resultados_pos-operatorios?enrichId=rgreq-e74bcc8f6c61ba1b69d781b1d6711fa0-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIzNjE3NjY5MztBUzoxMDQxNjA1MTkyNjIyMTlAMTQwMTg0NTIxMTczOQ%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/publication/236176693_Alteracoes_posturais_e_equilibrio_em_crianca_com_tumor_no_vermis_cerebelar_-_resultados_pos-operatorios?enrichId=rgreq-e74bcc8f6c61ba1b69d781b1d6711fa0-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIzNjE3NjY5MztBUzoxMDQxNjA1MTkyNjIyMTlAMTQwMTg0NTIxMTczOQ%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf
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https://www.researchgate.net/institution/Universidade-Federal-do-Triangulo-Mineiro-UFTM?enrichId=rgreq-e74bcc8f6c61ba1b69d781b1d6711fa0-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIzNjE3NjY5MztBUzoxMDQxNjA1MTkyNjIyMTlAMTQwMTg0NTIxMTczOQ%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf
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https://www.researchgate.net/profile/Luciane-Sande-De-Souza?enrichId=rgreq-e74bcc8f6c61ba1b69d781b1d6711fa0-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIzNjE3NjY5MztBUzoxMDQxNjA1MTkyNjIyMTlAMTQwMTg0NTIxMTczOQ%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf
neuroneurociências
Neurociências e relações interpessoais
Fabio Biasotto Feitosa
Duloxetina e depressão do idoso
Michele Mancini
Psicofísica visual
Marcelo Fernandes da Costa
Memória de prática de Libras
Sonia Yara Brunswick Vallado
Reabilitação vestibular
Paulo Cesar Nunes Junior et al.
Eletrofisiologia visual
Givago da Silva Souza et al.
Tumor no vermis cerebelar
Cyntia Rogean de Jesus Alves et al. www.atlanticaeditora.com.br
ABRIL • JUNHO de 2009 • Ano 5 • Nº 2
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ISSN 1807-1058
Sumário
Volume 5 número 2 - abril/junho de 2009
EDITORIAL
Neurociência – uma revolução tecnológica ao nosso alcance, Luiz Carlos de Lima Silveira ................... 59
OPINIÕES
A moral da coisa em si, Bruno Duarte Gomes .................................................................................... 66
Os girassóis de Vincent van Gogh, Eliza Maria da Costa Brito Lacerda ................................................. 70
ENTREVISTA
Duloxetina, tratamento de primeira escolha para a depressão grave 
do paciente idoso, Michele Mancini ................................................................................................ 73
ARTIGO ORIGINAL
Melhoria na memória de idosos através de um programa de aprendizagem 
e prática de Libras, Sonia Yara Brunswick Vallado .............................................................................. 76
REVISÕES
Reabilitação vestibular em pacientes idosos portadores de vertigem 
posicional paroxística benigna, Paulo Cesar Nunes Junior, 
Eduardo Monnerat, Gladys Fontenele, João Santos Pereira .................................................................. 81
Neurociências e comportamento: ampliando vertentes investigativas 
no campo das relações interpessoais, Fabio Biasotto Feitosa ............................................................. 87
Avaliação da sensibilidade ao contraste através da eletroencefalografia 
de eventos, Givago da Silva Souza, Bruno Duarte Gomes, 
Manoel da Silva Filho, Luiz Carlos de Lima Silveira .............................................................................. 92
Avaliação visual de sujeitos com prejuízo na leitura: contribuições 
da psicofísica visual, Marcelo Fernandes da Costa .......................................................................... 103
RELATO DE CASO
Alterações posturais e equilíbrio em criança com tumor no vermis cerebelar - 
resultados pós-operatórios, Cyntia Rogean de Jesus Alves, 
Luciane Aparecida Pascucci Sande, Marcus Vinícius Rezende dos Santos .......................................... 109
NORMAS DE PUBLICAÇÃO ........................................................................................................ 118
EVENTOS ..................................................................................................................................... 120
Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 200958
© ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada 
ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário 
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Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Fisiologia do Exercício, Enfermagem Brasil, Nutrição Brasil e MN-Metabólica.
I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
Revista Multidisciplinar das Ciências do Cérebro
Editor: Luiz Carlos de Lima Silveira, UFPA
Editor associado: Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, Fiocruz 
Editor-assistente: Daniel Martins de Barros, HC-USP
Presidente do conselho editorial: Roberto Paes de Carvalho, UFF
Conselho editorial
Aniela Improta França, UFRJ (Neurolingüística)
Carlos Alexandre Netto, UFRGS (Farmacologia)
Cecília Hedin-Pereira, UFRJ (Desenvolvimento)
Daniela Uziel, UFRJ (Desenvolvimento)
Dora Fix Ventura, USP (Neuropsicologia)
Eliane Volchan, UFRJ (Cognição)
João Santos Pereira, UERJ (Neurologia)
Koichi Sameshima, USP (Neurociência computacional)
Leonor Scliar-Cabral, UFSC (Lingüística)
Lucia Marques Vianna, UniRio (Nutrição)
Marco Antônio Guimarães da Silva, UFRRJ/UCB (Fisioterapia e Reabilitação)
Marco Callegaro, Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (Psicoterapia)
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Rafael Linden, UFRJ (Neurogenética)
Rubem C. Araujo Guedes, UFPE (Neurofisiologia)
Stevens Kastrup Rehen, UFRJ (Neurobiologia Celular)
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Neurociências é publicado com o apoio de:
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ISSN 1807-1058
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Direção de arte
Cristiana Ribas
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Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail:
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Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 2009 59
Editorial
No lançamento do Neurociências, há cinco anos, fiz uma limitada digres-
são sobre o avanço da ciência e expressei o desejo de que o crescimento 
da Neurociência, observado em muitos países, fosse acompanhado pelas 
instituições de ensino e pesquisa do nosso país graças a investimentos di-
ferenciados pelas agências nacionais de fomento nesse campo da fronteira 
do conhecimento [1]: “Está em gestação uma nova revolução na história do 
desenvolvimento científico e tecnológico. Ela é dirigida para o funcionamento 
do cérebro, para a criação de máquinas inteligentes e para o desenho de 
interfaces entre cérebro e máquina. O Brasil pode desfrutar de uma posição 
de destaque nessa nova era. Graças a um trabalho de mais de meio século, 
encontram-se funcionando em muitas universidades e institutos de pesquisa 
grupos de investigação em Neurociência, com um grande número de pesquisa-
dores, já em sua terceira geração. A recente criação do Instituto Internacional 
de Neurociências em Natal e do Instituto do Cérebro do Hospital Albert Eins-
tein em São Paulo pode servir para atrair jovens neurocientistas, aumentar 
o intercâmbio entre os cientistas brasileiros e do exterior, e criar uma ponte 
entre a vida acadêmica e as necessidades da sociedade em geral.”
Apesar das notícias alvissareiras relatadas no final desse comentário, 
a verdade é que em duas edições do prestigioso Edital Institutos do Milênio, 
lançadas nos últimos dez anos pelas agências brasileiras que financiam ciên-
cia e tecnologia, nenhum instituto voltado especificamente para Neurociência 
foi aprovado. Outros mecanismos, entretanto, continuaram sendo utilizados 
pelos neurocientistas brasileiros para garantir o apoio às suas pesquisas, 
de um lado concorrendo com grande sucesso nos diversos editais do CNPq, 
CAPES e FINEP, obtendo apoios que se individualmente são de menor monta 
no que no programa mencionado, no conjunto chegam a somas bastante 
significativas, e por outro lado através de ações maiores de grande impacto. 
Entre estas últimas, a criação em 2006 da “Rede Instituto Brasileiro de 
Neurociência (IBN Net)”, com apoio da FINEP, coordenação situada no Nú-
cleo de Medicina Tropical da UFPA, em Belém, Pará, e vice-coordenação no 
Departamento de Bioquímica da UFRGS, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. 
Essa rede reuniu, no momento da sua criação, 125 docentes-pesquisadores 
de diversos laboratórios de 11 instituições de ensino superior: UFPA, UFPE, 
UNIR, UFMG, UFRJ, UFF, USP, UFSC, UFRGS, PUCRS e UFSM. Contando com 
as parcerias que essa centena de docentes-pesquisadores desenvolvem com 
Neurociência – uma 
revolução tecnológica 
ao nosso alcance
Luiz Carlos de Lima Silveira, Editor
Médico, Doutor em Ciências 
Biológicas (Biofísica), Pesqui-
sador do CNPq, Diretor Geral 
do Núcleo de Medicina Tropi-
cal, Universidade Federal do 
Pará, Professor Associado de 
Neurociência, Instituto de Ciên-
cias Biológicas, Universidade 
Federal do Pará. 
Correspondência: luiz@ufpa.br
Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 200960
colegas de outras laboratórios que não constam na 
lista dos diretamente apoiados pelo IBN-Net, é maior 
o número final de instituições envolvidas. O apoio 
da FINEP à criação da IBN-Net pode ser considerado 
possivelmente como o primeiro apoio de grande 
monta específico para Neurociência realizado por uma 
agência de fomento brasileira.
Por seu turno, o “Instituto Internacional de 
Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-
ELS)” de Natal, Rio Grande do Norte, através de 
uma administração eficiente, conseguiu granjear 
apoio crescente de agências de fomento nacionais 
e do exterior e, a partir do seu lançamento, tornou-
se uma realidade cada vez mais palpável inclusive 
com a fixação dos primeiros grupos de pesquisa e 
a realização recente de seleção de uma dezena de 
jovens neurocientistas para integrarem o seu corpo 
de professores-pesquisadores. 
No ano passado, diversas agências de fomento 
nacionais e estaduais se reuniram para o lançamento 
do edital Edital MCT / CNPq / FNDCT / CAPES Nº 
015/2008 - Institutos Nacionais de Ciência e Tecno-
logia (INCT), criado com diversas semelhanças com 
os dois editais anteriores do Programa Institutos do 
Milênio. Segundo os documentos disponíveis no site 
do CNPq, o objetivo dessa linha de fomento é “Promo-
ver a formação ou consolidação dos INCTs deverão 
ocupar posição estratégica no Sistema Nacional de 
Ciência, Tecnologia e Inovação” [2]. E, ainda, “o 
Programa dos INCTs tem metas ambiciosas e abran-
gentes em termos nacionais como possibilidade de 
mobilizar e agregar, de forma articulada, os melhores 
grupos de pesquisa em áreas de fronteira da ciência 
e em áreas estratégicas para o desenvolvimento 
sustentável do país; impulsionar a pesquisa científica 
básica e fundamental competitiva internacionalmente; 
estimular o desenvolvimento de pesquisa científica 
e tecnológica de ponta associada a aplicações para 
promover a inovação e o espírito empreendedor, em 
estreita articulação com empresas inovadoras, nas 
áreas do Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec)” 
[3].
O “Documento de Orientação”, aprovado pelo 
Comitê de Coordenação dos INCTs em 29 de julho de 
2008, estabelece que, “além de promover o avanço 
da competência nacional nas devidas áreas de atua-
ção, criando ambientes atraentes e estimulantes para 
alunos talentosos de diversos níveis, do ensino médio 
ao pós-graduado, o Programa dosINCTs também se 
responsabilizará diretamente pela formação de jovens 
pesquisadores e apoiará a instalação e o funciona-
mento de laboratórios em instituições de ensino e 
pesquisa e empresas, proporcionando a melhor dis-
tribuição nacional da pesquisa científico-tecnológica, 
e a qualificação do país em áreas prioritárias para 
o seu desenvolvimento regional e nacional” [4]. O 
“Documento de Orientação” arremata: “os INCTs 
devem ainda estabelecer programas que contribuam 
para a melhoria do ensino de ciências e a difusão da 
ciência para o cidadão comum” [4].
A Comissão de Avaliação composta por pesqui-
sadores renomados de várias áreas do conhecimento 
e tendo como coordenador o Professor Dr. Walter 
Colli (Graduado em Medicina e Doutor em Bioquími-
ca pela USP, Professor Titular da USP, Bolsista de 
Produtividade 1A do CNPq, membro da Academia 
Brasileira de Ciências (ABC), membro da Academia 
de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS), 
membro da Ordem do Mérito Científico do Brasil nas 
classes Comendador e Grã Cruz) analisou e recomen-
dou diversas propostas que foram ratificadas pela 
Diretoria Executiva do CNPq e aprovadas pelo Comitê 
de Coordenação do Programa Instituto Nacional de 
Ciência e Tecnologia, dentro dos recursos disponíveis 
para financiamento. Dessas, quatro são destinadas 
a criar INCTs com forte atuação em linhas diversas 
de Neurociência:
INCT de Interface Cérebro Máquina, coordenado 
pelo Professor Dr. Miguel Ângelo Laporta Nicolelis, 
AASDAP / UFRN, aprovado em 4 de fevereiro de 
2009.
INCT de Excitotoxicidade e Neuroproteção, coor-
denado pelo Prof. Dr. Diogo Onofre Gomes de Souza, 
UFRGS, aprovado em 27 de novembro de 2008.
INCT de Neurociência Translacional, coordenado 
pelo Prof. Dr. Esper Abrão Cavalheiro, UNIFESP, apro-
vado em 4 de fevereiro de 2009.
INCT de Febres Hemorrágicas Virais, coordenado 
pelo Prof. Dr. Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, 
IEC, aprovado em 27 de novembro de 2008.
Neste Editorial, procuramos contatar os INCTs 
aprovados, para obter material que pudéssemos 
apresentar aos leitores do Neurociências e dar-lhes 
uma idéia dos objetivos de cada INCT. Transcrevemos 
abaixo o que nos foi enviado pelos quatro institutos 
dessa lista aprovada nos últimos meses e gostaría-
mos de estimular os leitores a contatar diretamente 
cada INCT para maiores detalhes sobre sua estrutura 
e atividades.
Instituto Nacional de Interface Cérebro Máquina 
(INCEMAQ) (material fornecido pelo Prof. Dr. Sidarta 
Tollendal Gomes Ribeiro, Associação Alberto Santos 
Dumont para Apoio à Pesquisa AASDAP / Instituto 
Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 2009 61
Internacional de Neurociências de Natal Edmond e 
Lily Safra IINN-ELS / UFRN).
Uma interface cérebro-máquina (ICM) é uma 
ligação funcional direta entre o tecido cerebral vivo e 
aparatos robóticos e computacionais. A investigação 
de ICM começou na década de setenta, mas recebeu 
um grande impulso a partir de meados da década de 
noventa, quando um grupo de cientistas do Centro de 
Neuroengenharia da Universidade Duke (EUA) come-
çou a executar experiências pioneiras demonstrando 
a viabilidade da utilização de ICM para permitir a 
roedores, macacos e finalmente seres humanos em-
pregar diretamente a atividade cerebral para controlar 
uma grande variedade de dispositivos robóticos. Na 
vanguarda dessas realizações, a investigação de ICM 
inaugurou uma nova era de investigação neurofisio-
lógica e permitiu, através de colaborações multidis-
ciplinares em informática, engenharia e robótica, um 
aumento muito significativo da nossa compreensão 
de como as informações são codificadas por grandes 
populações de células cerebrais. Em última instância, 
os conhecimentos acumulados após uma década de 
experiências com ICM aumentaram a expectativa de 
que novas ferramentas de diagnóstico e tratamentos 
para doenças neurológicas possam surgir na próxima 
década, graças ao advento de novas metodologias e 
dispositivos. Desde seus primeiros passos, a inves-
tigação moderna sobre ICM revelou a necessidade 
de empregar-se grandes equipes multidisciplinares 
de neurocientistas, engenheiros, matemáticos, cien-
tistas da computação e médicos para fazer avançar 
a agenda dessa área de pesquisa. Como resultado, 
tais equipes multidisciplinares têm demonstrado que 
a atividade elétrica simultânea de grandes populações 
de neurônios pode ser usada para comandar disposi-
tivos externos capazes de reproduzir uma variedade 
de comportamentos motores complexos. Todo apa-
rato que se utiliza de uma ICM para restaurar uma 
dada função neurológica é também conhecido como 
neuroprótese. À medida em que mais e mais demons-
trações experimentais se seguiram, a pesquisa em 
neuropróteses começou a indicar que esses disposi-
tivos poderiam um dia melhorar a qualidade de vida 
para pacientes sofrendo de graves deficiências moto-
ras, tais como a paralisia. Desse modo, avanços nas 
ICM têm o potencial de afetar positivamente a vida 
de milhões de pessoas no mundo todo. Além disso, 
há motivos para se acreditar que uma nova geração 
de ICMs possa também propiciar novos tratamentos 
para doenças neurodegenerativas graves como a 
doença de Parkinson. Embora o paradigma das ICM 
ainda seja novo, ele provê um excelente exemplo 
dos saltos progressivos que podem ser alcançados 
quando múltiplas disciplinas como a neurociência, a 
ciência da computação e a robótica são integradas 
para resolver questões científicas fundamentais. 
Efetivamente, diversos autores têm sugerido que os 
impactos futuros das ICM serão enormes tanto para 
a ciência básica quanto para a aplicada, uma vez 
que as ICM permitem a investigação de propriedades 
fundamentais do cérebro ao mesmo tempo em que 
habilitam o controle direto do cérebro sobre todos 
os tipos de dispositivos eletrônicos. Se o Brasil 
deseja participar desse esforço global e garantir um 
lugar entre as nações que buscam se tornar líderes 
nessa área, está claro que o país não pode perder 
a oportunidade de estabelecer uma infraestrutura 
de porte nacional capaz de conduzir pesquisa em 
ICM a nível mundial. Esse é precisamente o objetivo 
central do INCEMAQ: estabelecer um programa nacio-
nal em pesquisa, clínica, educação e transferência 
tecnológica capaz de trazer o Brasil para a linha de 
frente em ICM. Estando esta revolução da ICM ainda 
em seu início, o Brasil tem a oportunidade única de 
acompanhar e até mesmo disputar a liderança deste 
salto qualitativo.
A proposta para criação do INCEMAQ se baseia 
em uma diversificada equipe de neurobiólogos, 
neurocirurgiões, engenheiros, médicos, cientistas 
da computação e matemáticos, de 14 instituições 
distribuídas por todas as cinco regiões brasileiras. 
As instituições participantes são: Cluster Neurotec-
nológico de Santa Catarina, Universidade Tecnológi-
ca Federal do Paraná, Faculdade de Medicina USP, 
Instituto de Física USP – São Carlos, Departamento 
de Física e Matemática USP – Ribeirão Preto, UFMG, 
UFRJ, UnB, UFMA, Universidade Federal de Roraima, 
UFPE, UFRN. A instituição sede do INCEMAQ é o 
IINN-ELS, localizado na cidade de Natal, Rio Grande 
do Norte, o que vai ao encontro da necessidade de 
balancear regionalmente a produção científica no 
Brasil, onde a maioria esmagadora da produção 
científica vem da região Sudeste. O desenvolvimen-
to bastante limitado da Neurociência fora da região 
Sudeste é um claro exemplo da enorme disparidade 
regional da Ciência Brasileira em geral. Em resumo, 
a proposta do INCEMAQ reúne uma equipe extrema-
mente multidisciplinar com vários pesquisadores de 
reconhecida competência, fisicamente baseados em 
diferentes estados do Brasil, mas sob a liderança de 
uma instituição-sede nordestina, coordenada por um 
pesquisador mundialmente influente na área específi-
ca do projeto. Dessa forma, o desenho institucional do 
INCEMAQ visa contribuir decisivamente para inverter 
Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 200962
a lógica de disparidade regional vigente na realidadecientífica brasileira.
Instituto Nacional de Excitotoxicidade e Neu-
roproteção (material fornecido pelo Professor Dr. 
Carlos Alberto Saraiva Gonçalves, Departamento de 
Bioquímica, Instituto de Ciências Básicas da Saúde, 
UFRGS).
O glutamato é o principal neurotransmissor 
excitatório do sistema nervoso central. Entretanto, 
a estimulação excessiva do sistema glutamatérgi-
co, decorrente de níveis aumentados de glutamato 
na fenda sináptica caracteriza a excitotoxicidade 
glutamatérgica, que está envolvida em inúmeros 
distúrbios do sistema nervoso agudos (isquemia ce-
rebral, hipóxia, traumatismo cerebral, hipoglicemia, 
convulsões e intoxicação por metais) ou relacionados 
com a etiopatogenia de doenças crônicas neuroge-
nenerativas. Diversos grupos de pesquisa brasileiros 
vêm estudando e contribuindo para o entendimento 
da neurobiologia da excitotoxicidade e dos possíveis 
mecanismos de neuroproteção, abordando aspectos 
básicos e clínicos. Com apoio do Programa dos INCTs, 
esses grupos constituíram o INCT de Excitotoxicidade 
e Neuroproteção. O Instituto é formado atualmente 
por 41 docentes-pesquisadores inseridos em oito 
programas de pós-graduação de 11 universidades e 
tem como objetivo contribuir para o entendimento das 
bases celulares e moleculares em diversas condições 
excitotóxicas, incluindo doenças humanas e modelos 
experimentais com animais; identificar marcadores 
bioquímicos e parâmetros eletrofisiológicos, para 
avaliação em modelos experimentais e para diagnós-
tico e prognóstico de doenças associadas a excito-
toxicidade; caracterizar possíveis alvos terapêuticos 
moleculares em condições de excitoxicidade; propor 
estratégias de neuroproteção (farmacológicas e/ou 
não-farmacológicas) para situações de excitotoxicida-
de. Além disso, faz parte da missão formar doutores 
e mestres em projetos no tema do Instituto, vincu-
lados aos programas de pesquisa das instituições 
envolvidas; estimular o intercâmbio e a vivência de 
estudantes de graduação e pós-graduação, entre 
os centros de pesquisa consolidados e os grupos 
de pesquisa emergentes, das instituições da rede; 
fomentar a qualificação de pós-doutores na interface 
das instituições da rede, de forma a permitir a aborda-
gem multidisciplinar dos diversos grupos envolvidos. 
São também metas importantes do Instituto promover 
ambientes estimulantes e atrativos para estudantes 
e professores do ensino médio, preferentemente 
oriundo da rede escolar pública; estimular alunos do 
ensino médio, da graduação e da pós-graduação, para 
difusão do tema do Instituto, de forma a valorizar o 
ensino de Ciências nas escolas; envolver pesquisa-
dores e alunos (do ensino médio à pós-graduação) 
na difusão do conhecimento biomédico referente aos 
riscos, fatores agravantes e atenuantes das doenças 
neurológicas para o cidadão comum, como fator de 
crescimento social e melhora da qualidade de vida.
Instituto Nacional de Neurociência Translacional 
(INNT) (material fornecido pelo Prof. Dr. Esper Abrão 
Cavalheiro).
Produzir tratamentos novos e efetivos aliados à 
prevenção adequada das doenças deve ser o principal 
objetivo dos sistemas de saúde de uma nação. Este 
objetivo é mais facilmente estabelecido com a tradu-
ção efetiva dos achados das pesquisas biomédicas na 
prática clínica e nas tomadas de decisão na área da 
saúde. A pesquisa translacional tem sido reconhecida 
como a base desse progresso através de um processo 
contínuo que pode ser dividido em dois domínios. O 
primeiro envolve a aplicação das descobertas geradas 
pelas pesquisas nos laboratórios ao desenvolvimento 
dos estudos em seres humanos. Essas investiga-
ções translacionais pré-clínicas são freqüentemente 
estabelecidas através do uso de modelos animais, 
culturas de tecidos, amostras de células humanas e 
animais ou através de sistemas experimentais tais 
como o estudo de moléculas biológicas, incluindo o 
DNA, RNA e as proteínas. O segundo domínio transla-
cional reúne os resultados dos estudos básicos e os 
aplica na prática clínica, na tentativa de melhorar a 
saúde da população e facilitar a adoção das melhores 
práticas pela comunidade. 
Como reconhecido pelas principais revistas 
científicas e pelas grandes agências de fomento, a 
Neurociência é a área das ciências biomédicas que 
cresce mais rapidamente nos países desenvolvidos. 
Essa observação também é válida para nosso país. 
De fato, a Neurociência ocupa posição de destaque 
nos congressos multidisciplinares, tem presença 
significativa nos periódicos de maior impacto como 
Nature e Science, atrai um grande contingente de 
jovens para a pesquisa científica, e freqüenta a mídia 
e o interesse do público pela discussão das questões 
mais fundamentais da humanidade. A Neurociência 
brasileira tem se expandido notavelmente nos últimos 
15 anos e hoje ocupa lugar relevante na produção 
internacional. Porém, e à diferença do que ocorre nos 
países desenvolvidos, o Brasil ainda não dispunha 
de uma rede nacional de pesquisa em Neurociência, 
necessária para aglutinar, de uma maneira formal, 
Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 2009 63
os esforços individuais dos principais pesquisado-
res inseridos nesta área. A formação do Instituto 
Nacional de Neurociência Translacional (INNT) nos 
moldes aqui propostos se reveste de grande impor-
tância estratégica, pois somente através do trabalho 
conjunto destes grupos de pesquisa poderá surgir 
e se consolidar uma massa crítica necessária para 
produzir Ciência da mais alta qualidade e transferir 
de maneira eficaz, através do Sistema Único de Saú-
de, os conhecimentos e as inovações gerados nos 
laboratórios de pesquisa para o setor empresarial e 
a sociedade em geral.
Segundo dados da Organização Mundial da 
Saúde (OMS), as doenças neurológicas e neuropsi-
quiátricas constituem 15 a 20% do total de mortes 
globalmente. Por outro lado, e devido ao curso crônico 
da maioria dessas doenças, o custo das mesmas 
estimado em DALY (disability-adjusted life years) é o 
mais alto quando comparado a outros grupos de doen-
ças (ex., HIV/AIDS, neoplasias, doenças cardíacas), 
representando aproximadamente 6,5% do custo total 
(Neurological Disorders, WHO, 2006). Esse quadro 
se torna ainda mais alarmante quando se leva em 
consideração a taxa de envelhecimento da população, 
o que, segundo a projeção da OMS, aumentará em 
12% o custo das doenças neurológicas até 2030. 
Dentre as doenças neurológicas mais relevantes em 
termos populacionais estão as epilepsias, a doença 
de Alzheimer e outras demências, a doença cerebro-
vascular, os tumores do sistema nervoso central, a 
doença de Parkinson e doenças do sistema motor, 
além das retinopatias e as doenças inflamatórias e 
infecciosas do sistema nervoso central. A incidência 
das doenças do cérebro e das assim-chamadas doen-
ças nervosas (Alzheimer, dependências, ansiedade, 
depressão, epilepsia, etc) aumentam com a idade 
e acometem, aproximadamente, 40% da população 
dos EUA. O quadro fica ainda mais impactante se 
incluirmos nesse grupo os transtornos considerados 
psiquiátricos, tais como, a esquizofrenia, o transtorno 
obsessivo-compulsivo, o transtorno de personalidade 
anti-social, cujas bases neurobiológicas estão sendo 
progressivamente reconhecidas. 
O INNT reúne pesquisadores com formação e ex-
periência variadas em Neuroanatomia, Neuroquímica, 
Neurofarmacologia, Neurobiologia Celular, Bioquími-
ca, Biologia do Desenvolvimento, Biologia Estrutural 
e Neurofisiologia. Os pesquisadores principais e os 
associados são residentes e radicados em São Paulo, 
Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro e têm histórico 
de excelência, inserção internacional, publicações 
de impacto e índices elevados de citações de seus 
trabalhos. Foram responsáveis pela formação de 
recursos humanos e nucleação de vários grupos de 
pesquisa no país e exterior. O INNT agrega ainda 
colaboradores nos estados de Minas Gerais, Santa 
Catarina, Pernambuco e Bahia. 
Uma das missões centrais do INNT será contri-
buir para elevara produção científica brasileira em 
Neurociência a um novo patamar, de maior projeção e 
visibilidade internacionais. Como se deu em todas as 
áreas da Ciência Brasileira, a Neurociência apresen-
tou um impressionante crescimento quantitativo ao 
longo dos últimos 15 anos. De fato, o Brasil apresenta 
hoje posição de destaque em termos do número de ar-
tigos científicos publicados anualmente, respondendo 
por cerca de 2% da produção científica mundial. Mas 
faz-se ainda necessário dar maior visibilidade à nossa 
produção científica e facilitar sua transformação em 
bens e/ou serviços que beneficiem a população que 
a financia. A proposta do INNT, de apoiar grupos de 
excelência na Neurociência nacional num horizonte 
mais largo, deverá contribuir sensivelmente para per-
mitir uma maior ousadia nas abordagens experimen-
tais e um aumento na qualidade da produção. Nesse 
sentido, é importante ressaltar que os grupos propo-
nentes do INNT mantêm uma rede altamente capilar 
de colaborações com outros grupos de pesquisas no 
país e no exterior. Dessa forma, o fortalecimento dos 
grupos proponentes do INNT repercutirá também no 
fortalecimento e qualificação de um grande número 
de grupos de pesquisa associados. 
Os grupos de pesquisa estarão organizados em 
torno de um tema central que é conhecer a fisiologia 
do sistema nervoso e as patologias que o afetam. Há 
um interesse coletivo na geração de ferramentas ce-
lulares e moleculares bem como de modelos animais 
que serão compartilhados entre os grupos, permitindo 
sua aplicação nos diferentes modelos fisiológicos e 
patológicos. Há ainda um empenho na descoberta de 
marcadores celulares, genéticos e de imagem que 
permitirão a identificação de alvos terapêuticos com 
propriedades neuroprotetoras. A integração do grupo 
propiciará que estes alvos sejam testados inicial-
mente em modelos animais das diferentes doenças 
do sistema nervoso. A presença marcada de clínicos 
participando do INNT permitirá a implementação de 
estudos translacionais para os alvos gerados no es-
tudo. Além disso, o INNT manterá ainda uma efetiva 
divulgação de seus trabalhos. Além da divulgação dos 
artigos científicos através de publicações em revistas 
indexadas, o Instituto promoverá ações de integração 
com a sociedade através do Grupo de Popularização 
da Neurociência (PopNeuro) e organizará um Progra-
Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 200964
ma de Formação de Pessoal Qualificado através de 
cursos de curta duração. Existirá ainda um sistema de 
teleconferências através do qual cursos e palestras 
poderão ser ministrados pelos grupos participantes 
do INNT ou por outros grupos no País.
Os objetivos e metas do INNT são: 1) criar mo-
delos animais e outros modelos experimentais que 
proporcionem o avanço da pesquisa translacional 
em neurociência; 2) determinar e validar novos al-
vos terapêuticos identificados a partir da elucidação 
das bases moleculares e celulares da fisiopatologia 
das doenças do sistema nervoso; 3) criar linhas de 
pesquisa em humanos que testem os conhecimentos 
obtidos com os modelos acima descritos; 4) buscar 
biomarcadores específicos que facilitem a identi-
ficação precoce das doenças neurodegenerativas 
com vistas à adequação do tratamento; 5) induzir 
a capacitação de novos talentos na tradução da 
pesquisa biomédica em prática clínica; 6) promover 
o desenvolvimento de tecnologias que facilitem a 
pesquisa translacional em Neurociência; 7) buscar 
soluções integradas em parceria com os serviços 
de saúde com vistas a estimular novas estratégias 
para a pesquisa translacional em neurociência; 8) 
promover a criação de parcerias que maximizem os 
investimentos em pesquisas translacionais em neu-
rociência e a consolidação de novos pólos no país 
para diminuir as assimetrias regionais; 9) promover a 
difusão e a divulgação dos conhecimentos adquiridos 
para o governo, o setor empresarial e a sociedade 
em geral. Ao final deste período espera-se contribuir 
para que a Neurociência nacional se encontre em um 
novo patamar, e que o País esteja organizado para 
oferecer inovações nas áreas de prevenção, diagnós-
tico e tratamento para as patologias neurológicas e 
psiquiátricas de uma forma mais eficiente do que se 
encontra neste momento.
Instituto Nacional de Febres Hemorrágicas 
Virais (INFHV) (material fornecido pelo Prof. Dr. Cris-
tovam Wanderley Picanço Diniz, Instituto de Ciências 
Biológicas, UFPA). O INFHV, apesar de estar voltado 
especificamente às arboviroses, pelo tema a que está 
dedicado e pela composição da equipe, certamente 
contribuirá para um conjunto de novo de conhecimen-
tos sobre a interação vírus e sistema nervoso, assim 
como para uma formação de recursos humanos de-
dicada à essa área. As FHV são importantes causas 
de morbidade e mortalidade, potenciais riscos de 
epidemias e são de grande importância em Saúde 
Pública no Brasil e no mundo. Segundo o Ministério 
da Saúde, diversos vírus são associados com qua-
dros clínicos de FHV, sendo os mais importantes no 
Brasil os quadros hemorrágicos causados pela febre 
amarela, dengue, hepatites virais B e D, hantaviroses 
e arenaviroses. Essas enfermidades têm em comum 
o desenvolvimento de uma síndrome clínica que cursa 
com manifestações gerais que culminam em suas 
formas severas em sintomas e sinais de falência de 
órgãos resultando em alterações hemodinâmicas e 
manifestações hemorrágicas acompanhadas ou não 
de insuficiência hepática, renal, pulmonar e cardiovas-
cular. Os mecanismos fisiopatológicos que resultam 
nesse conjunto de síndromes e insuficiências não são 
totalmente esclarecidos pois não existem modelos 
experimentais para muitos dos vírus responsáveis 
por esses quadros que reproduzam com eficiência 
as repercussões cínicas observadas em humanos. 
Portanto, desconhecem-se em profundidade os me-
canismos determinantes de sua gravidade e não se 
dispõe de testes rápidos, sensíveis e específicos para 
um pronto diagnóstico. O INFHV tem por objetivos 
avaliar os principais mecanismos patogênicos que 
levam à alteração vascular, um dos mais importan-
tes elementos associados à gravidade; investigar a 
participação da resposta imune inata e adquirida nos 
eventos lesionais teciduais e de seus fatores determi-
nantes; desenvolver testes sorológicos e moleculares 
com maior sensibilidade, especificidade e rapidez. 
Recentemente uma série de descrições sistemáti-
cas tem conectado à infecção pelo vírus da dengue 
à ocorrência de síndromes neurológicas associadas 
às alterações metabólicas induzidas pela infecção, 
à resposta inflamatória exacerbada, à invasão do 
sistema nervoso central pelo vírus ou a combinação 
em maior ou menor proporção desses elementos. 
Entretanto os mecanismos fisiopatológicos dessas 
entidades clínicas permanecem por ser esclarecidos. 
O presente projeto pretende investigar tais mecanis-
mos em modelo murino. Para tanto, serão inoculados 
cérebros de camundongos neonatos com o patógeno 
humano isolado e, através de passagens sucessivas, 
pretendemos aumentar a neurovirulência para o mo-
delo experimental. Com a variedade de maior neuro-
virulência serão feitas inoculações intradérmicas no 
camundongo adulto com concentrações conhecidas 
do patógeno de modo a simular o modo de infecção 
natural, rastreando o transporte dos antígenos vírais 
por via neural e hematogênica a partir de imunomar-
cação seletiva. É objetivo identificar o mecanismo de 
invasão, as células e as áreas alvos dos antígenos 
virais no sistema nervoso central murino empregando 
ensaios in vivo e in vitro. Serão também investigadas 
as alterações comportamentais ao longo da progres-
Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 2009 65
são da doença correlacionando-as à resposta inflama-
tória celular quantificada por estereologia, identifican-
do os compartimentos subcelulares ocupados pelo 
vírus por microscopia eletrônica. A resposta humoral 
será igualmente investigada através de dosagens 
de marcadores da resposta inflamatória tais comoo interferon gama, interferon alfa, fator neurotrófico 
tumoral alfa, interleucina-1 beta, interleucina 8 e in-
terleucina 12. Espera-se que os resultados possam 
subsidiar novas linhas de investigação dedicadas a 
revelar as bases moleculares associadas às síndro-
mes neurológicas.
Essas são notícias alvissareiras, com certeza, 
mas preferimos concluir com o mesmo alerta de há 
quatro anos [1]: “E para os políticos, que tanto falam 
em independência tecnológica: vamos investir em 
áreas onde a corrida está na largada! Querer vencer 
corrida que já começou há muito, partindo agora, 
é mais desconcertante que o paradoxo de Zeno. 
Em Neurociência, o Brasil está ‘alinhado no grid de 
largada’ nas filas da frente. Com um pouco mais de 
visão estratégica, a política científica brasileira pode 
colocar nas mãos da próxima geração um país de 
ponta. Desta vez a revolução do conhecimento hu-
mano e a mudança do paradigma tecnológico estão 
ao nosso alcance.”
Referências
Silveira LCL. Neurociências no Brasil – uma revolu-1. 
ção tecnológica ao nosso alcance. Neurociências 
2004;1:42-47.
http://www.cnpq.br/resultados/index.htm2. 
http://www.cnpq.br/programas/inct/_apresenta-3. 
cao/apresentacao.html
CNPq. Programa Institutos Nacionais de C&T – Docu-4. 
mento de Orientação Aprovado pelo Comitê de Coor-
denação em 29 de julho de 2008. http://www.cnpq.
br/editais/ct/2008/docs/015_anexo.pdf
Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 200966
Opinião
A moral da coisa em si
Bruno Duarte Gomes
Biólogo, Doutor em Neuro-
ciências, Professor Adjunto, 
Instituto de Ciências Biológicas 
e Núcleo de Medicina Tropical, 
Universidade Federal do Pará
Correspondência: Bruno Duarte 
Gomes, Universidade Federal 
do Pará, Núcleo de Medicina 
Tropical, Av. Generalíssimo De-
odoro 92 Umarizal 66055-240 
Belém PA, Tel: (91)3241-0032, 
E-mail: brunodgomes@ufpa.br
Antes de começar, gostaríamos de lembrar que no ano de 2008, comple-
tou-se 150 anos da primeira exposição de Charles Robert Darwin (1809-1882) 
e Alfred Russel Wallace (1823-1913) na Sociedade Lineana de Londres, com 
as idéias básicas da evolução das espécies [1]. No ano seguinte, mais pre-
cisamente em 24 de novembro de 1859, foi publicada por Darwin a primeira 
edição do livro A Origem das Espécies [2]. Sabemos que as idéias de Darwin 
e Wallace ultrapassaram e muito o âmbito acadêmico e mesmo a Biologia, 
atingindo de assalto, por exemplo, a Filosofia e mesmo as Ciências Sociais, 
que ainda hoje tem de lidar com razoáveis inferências de novíssimos campos 
como a psicologia evolucionária. De fato, a hoje bem fundamentada Teoria da 
Evolução das Espécies constituiu uma revolução e alterou de modo irrevogável 
a percepção humana acerca de si e do Universo. A chamada para a revolução 
de Darwin vem a calhar, pois a nossa intenção é novamente atinar para A 
Nova Revolução, que nasce da derrocada do dualismo de René Descartes 
(1596-1650; também conhecido pela forma latinizada Renatus Cartesius) 
e John Locke (1632-1704). Essa nova revolução parece vir de modo mais 
sorrateiro que a evolução das espécies. Já vem sendo anunciada por filóso-
fos e psicólogos há tempos e atualmente suas conseqüências denunciadas 
e evidenciadas, se nos permitem a aliteração, com muita intensidade pela 
Neurociência. O assunto de que trata este texto segue a mesma linha geral 
iniciada em outros textos que publicamos na Seção Opinião de Neurociências: 
“A base material do reconhecimento de faces” [3] e “A força e a herança 
dos males da alma” [4]. É o relato de mais uma importante descoberta da 
Neurociência que corrobora a máxima de que “A mente humana é o produto 
do funcionamento do cérebro”. Temos procurado justificar nossa insistência 
em temas que quase imediatamente se relacionam a essa afirmação.
Pelas descobertas de Darwin e o desenvolvimento posterior de suas 
idéias, culminando no que chamamos hoje de moderna teoria da evolução, 
temos que a vida possui um sentido objetivo: lutar pela sobrevivência e 
reproduzir-se para com isso passar os genes adiante, os verdadeiros imor-
tais em todo o processo de evolução. No entanto, a vida humana é guiada 
totalmente e de modo consciente por uma realidade e sentido subjetivos. 
Para resumir, por uma realidade construída pelo que chamamos mente, que 
é a “coisa” que nos daria aquele sentido muito particular à vida e que de-
pende de cada ser humano. Esse sentido seria fornecido a cada um através 
da razão, emoção, inteligência, memória etc... A mente seria, em suma, 
aquilo que nos forneceria as qualidades intelectuais superiores e algo que 
definitivamente nos diferenciaria dos outros animais. Mas se nosso cérebro é 
produto da evolução tanto quanto o estômago ou o coração, não seria nossa 
realidade e sentido subjetivos o produto da realidade objetiva? Com Darwin 
Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 2009 67
e seus sucessores a vida em seu sentido objetivo foi 
elucidada. Eis a outra revolução! Com a Neurociência, 
a vida subjetiva está sendo aos poucos transviada 
em fenômenos objetivos, materiais. Vamos a mais 
uma evidência.
Em um ensaio intitulado A vida virtuosa, o grande 
filósofo, matemático e escritor Bertrand Russell enun-
cia a sua máxima de que “A vida virtuosa é aquela 
inspirada pelo amor e guiada pelo conhecimento”[5]. 
Como o próprio Bertrand Russell fez questão de 
destacar no mesmo texto, o conhecimento a que 
ele se refere não é um conhecimento ético, mas o 
conhecimento científico.
A aceitação de que a realidade objetiva é possí-
vel e que a mesma é revelada pela ciência, pode vir 
como uma conseqüência natural para não cientistas 
ou filósofos, dada a imensa quantidade de mudanças 
na vida humana proporcionada pela tecnologia, que 
é a aplicação do conhecimento científico por vezes 
armazenado por muitas décadas. Mas vejamos a 
seguir como essa aceitação é claramente limitada 
e delimitada. Se nos permitimos à auto-indulgência 
de divagar por entre pensamentos extremos e por 
vezes aterradores, podemos ser impiedosamente in-
terpelados por perguntas e reflexões tais como: “Pelo 
conhecimento científico torno-me consciente de que o 
amor que minha mãe sente por mim é fruto de reações 
químicas e de funções precisas empenhadas por subs-
tâncias como os hormônios, ou seja, um imperativo 
evolucionário que em milhares de anos se desenvolveu 
por seleção natural de modo a, entre outras coisas, 
guardar e proteger a prole dos predadores e da morte 
por inanição”. Todavia, isso não me torna um filho frio 
ou me desespera a ponto de acusar minha mãe de 
falsa em suas intenções e sentimentos devido a uma 
suposta artificialidade do amor materno. De modo 
análogo, tão pouco a mãe consciente da “verdade” 
revelada pela ciência relega o filho ao desprezo ou à 
falta de cuidados pelo mesmo motivo.
Vejamos outra reflexão. “Pelas descobertas cien-
tíficas tomo conhecimento de que o amor que une o 
homem e uma mulher é também produto de reações 
químicas bem descritas”. Novamente, a aceitação 
desse fato revelado pela ciência não fará com que se 
deixe de amar ou desvalorizar o amor pelo respectivo 
cônjuge em detrimento da “fria” dança dos átomos 
e menos ainda que se deixe de sofrer pela pessoa 
amada com pensamentos improváveis do tipo “Por 
que estou sofrendo se o amor é tão somente a ma-
nifestação subjetiva de fenômenos materiais”.
E ainda. Levemos a mesma linha de raciocínios 
improváveis ao que chamamos ódio, cuja desvalori-
zação como sensação pela elucidação de seus meca-
nismos moleculares e neurais de origem, poderia até 
ser de inegável utilidade em muitas ocasiões. Alguém 
se negaria a deixar de odiar outrem pela suposição 
de que seu ódio é totalmente injustificado devido 
à revelação científica de que a cólera de todos os 
sentimentos é um “mero” mecanismo de defesa de 
que nos “dotou” a evolução e, portanto, novamente, 
produto de fenômenos da super complexa matéria 
orgânica? A descrição de mais exemplos poderia 
prosseguir quase que indefinidamente. Poderíamos 
imaginartalvez um para cada sensação ou sentimento 
com todas as citações, levando muito provavelmente 
a uma experiência e o conhecimento objetivo acerca 
dessa experiência. 
A dicotomia entre a experiência e o que julgamos 
ser o que realmente é, foi explorada de modo não ex-
clusivo, mas bastante peculiar, pelo filósofo Friedrich 
Wilhelm Nietzsche (1844-1900) em seu livro “Hu-
mano, demasiado humano” [6]. Mais precisamente 
no Aforismo 16 Nietzsche fez a distinção clara entre 
vislumbrar o mundo como fenômeno e como coisa 
em si. Fenômeno, segundo Nietzsche, é justamente 
aquilo que é ditado pela experiência. É aquilo que a 
humanidade acumulou durante muitos anos de olhar 
sobre as coisas com “...exigências morais, estéticas, 
religiosas, com cega inclinação, paixão ou medo...”. 
Os maus hábitos do pensamento ilógico segundo 
Nietzsche. Mas que ao mesmo tempo tornam a 
existência humana plena de significado. A “coisa 
em si” seria olhar o mundo como que com olhos de 
um observador arguto e alienígena que, despido das 
impressões determinadas pela moral acumulada, 
observa as coisas como realmente são: desnudas 
do tecido do julgamento moral que encobre todas as 
coisas e, por isso, capaz de vê-las como são em si. 
Nietzsche pondera ainda que a ciência poderia ao 
menos em certa medida nos libertar do mundo como 
representação, como fenômeno, fazendo com que 
pudéssemos então nos elevar por instantes acima de 
todo evento. Nietzsche escreveu ainda que a visão da 
coisa em si talvez nos causasse uma risada homérica 
porque veríamos que aquilo que tanto nos vale quase 
como significado divino, é apenas vazio de sentido já 
que o sentido mesmo, nós é que criamos. O estudo 
da moral, essa força que dita nossas impressões e 
condutora de nossas atitudes, foi de grande interesse 
de Nietzsche e está presente em toda a sua obra. A 
distinção de Nietzsche pode ser vista como a dua-
lidade que emerge atualmente da nova Filosofia da 
Mente, os estados mentais e os estados de coisas 
que os mesmos representam. Fenômeno = estados 
Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 200968
de coisas. Coisa em si = estados mentais. Pudera 
Nietzsche ter vivido para saber das modernas desco-
bertas da Neurociência, em especial as conclusões 
do trabalho de Joshua Greene e colegas a respeito 
da moral [7]. 
Joshua D. Greene e colaboradores usaram res-
sonância magnética funcional para sondar diversos 
indivíduos enquanto submetidos a uma série de di-
lemas morais divididos em pessoais e impessoais, 
bem como a dilemas não morais. Essa classificação 
resulta do tipo de narrativa complexa que antecedeu 
uma pergunta feita ao indivíduo a respeito da situação 
exposta na narrativa. Segundo os autores, as pergun-
tas foram inspiradas em já conhecidos dilemas éticos 
de comum estudo pelos filósofos contemporâneos 
que se debruçam sobre o pensamento moral. 
Um dos dilemas empregados foi o do trem. Em 
todos os exemplos empregados a seguir, a suposição 
é de que nenhuma das pessoas envolvidas nas narra-
tivas é conhecida. Um trem desgovernado é conduzido 
por cinco pessoas que serão mortas se ele prosseguir 
seu curso a menos que alguém acione um mecanismo 
de alteração de rota fazendo com que o trem vá para 
trilhos alternativos onde, no entanto, matará uma 
pessoa ao invés das cinco. Nesse caso, o que você 
faria? Valeria salvar as cinco pessoas à custa de uma. 
Segundo os autores a resposta majoritária a essa 
pergunta é sim! Agora vamos a outro problema simi-
lar, o dilema da passarela. Como anteriormente, um 
trem ameaça matar cinco pessoas. Agora você está 
perto de uma pessoa em uma passarela que passa 
sobre trilhos e que está entre o trem que está vindo 
e as cinco pessoas. Nesse caso, a única maneira 
de salvar as cinco pessoas é empurrar o estranho 
da passarela para os trilhos, o que o matará, mas 
supondo que seja possível seu corpo parar o trem, 
isso fará com que seja impedida a morte das cinco 
pessoas. Deve-se com isso salvar as cinco pessoas 
empurrando o estranho para a morte? Os autores 
dizem que nesse caso a resposta majoritária é não! 
Bom, a justificativa comum, segundo os autores, 
para essas decisões antagônicas, é que no dilema 
do trem o infeliz anti-herói que morrerá simplesmente 
já estava lá, ao contrário do dilema da passarela, 
onde você deliberadamente empurrará o indivíduo 
rumo à morte com um fim específico, salvar as cinco 
pessoas. Parece uma justificativa razoável. Confesso 
que eu mesmo daria exatamente as respostas que 
foram consideradas para os dois dilemas. No entanto 
a justificativa para as respostas entra em conflito com 
a resposta majoritária a uma variante do dilema do 
trem onde os trilhos que levam o trem em direção ao 
indivíduo dão uma volta ao redor do mesmo tomando 
um caminho direto para os outros cinco indivíduos. 
Você pode então escolher mudar o curso do trem 
levando as cinco pessoas à morte ou manter o curso 
levando a morte apenas o nosso anti-herói já que 
novamente aqui se supõe que o corpo do mesmo 
é capaz de parar o trem. Pois bem, aqui a resposta 
majoritária é para manter o curso, apesar de haver um 
claro fim de “usar” o indivíduo para salvar os outros 
cinco. Claramente, não há então qualquer justificativa 
consistente que explique de fato as repostas. 
Os dilemas como o da passarela foram consi-
derados por Greene e colaboradores como sendo 
de natureza pessoal, ou seja, supostamente mais 
emocionais em comparação com o dilema do trem, 
mais intuitivamente impessoal e por isso suposta-
mente menos emocional. Ambos os dilemas foram 
considerados estritamente morais em comparação 
com dilemas não morais como tomadas de decisão 
comum no dia a dia tipo qual cupom usar em uma 
loja ou se qual transporte levaria menos tempo ao 
destino, se de trem ou de ônibus. Os resultados da 
ressonância foram impressionantes. Eles acharam 
que as respostas aos dilemas morais pessoais, quan-
do comparadas com dilemas impessoais e não mo-
rais, produziram um aumento de atividade em áreas 
associadas com processamento social e emocional 
como o giro medial frontal, giro posterior do cíngulo e 
o giro angular. No entanto, dilemas impessoais e não 
morais quando comparados com os dilemas morais 
pessoais produziram aumento da atividade em áreas 
associadas com a memória de trabalho como as áreas 
pré-frontal dorsolateral e parietal. Em um nível maior 
de detalhamento foi especialmente interessante a 
pouca diferença entre as atividades registradas para 
os dilemas morais impessoais e não morais. O que 
sugere que os dilemas morais impessoais podem ter 
algo mais em comum com os não morais do que com 
os dilemas morais pessoais. Uma semelhança que 
de fato não é percebida pela experiência. 
Além da análise da ativação diferencial de áreas 
corticais, Greene e colaboradores ainda analisaram o 
tempo de reação dos indivíduos para as tomadas de 
decisão em relação às narrativas e o compararam aos 
dados obtidos com ressonância magnética funcional. 
Os indivíduos foram mais lentos em aprovar violações 
morais pessoais, mas relativamente rápidos para 
condená-las. Para os julgamentos morais impessoais 
e não morais, tanto aprovações quanto reprovações 
foram fornecidas em iguais intervalos de tempo. Os 
autores sugerem que esses resultados podem ser 
explicados pelo fato de que os indivíduos tiveram 
Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 2009 69
que “superar” suas repostas emocionais negativas 
quando aprovaram violações morais pessoais em 
comparações com os outros dilemas, menos inten-
sos emocionalmente. Os resultados dos tempos 
de reação mostrariam, dessa maneira, de modo 
bastante conclusivo, o envolvimento emocional em 
cada dilema. 
A ativação de áreas corticais específicas no 
processamento de informações relacionadas ao 
pensamento moral não era nova até o trabalho de 
Greene e colaboradores. Em um trabalho do mesmo 
ano, mas anterior, Jorge Moll e colaboradores tam-
bém usaram ressonância magnética funcional para 
testar diversos indivíduos comperguntas simples 
classificadas como tendo um conteúdo moral ou 
não [8]. Os indivíduos que apresentaram julgamen-
tos em resposta a questionamentos de conteúdo 
moral apresentaram aumento da atividade bilateral 
no pólo frontal, giro medial frontal, cerebelo direito, 
pólo temporal direito, sulco temporal superior, córtex 
órbito-frontal esquerdo, precúneo direito do lobo pa-
rietal e porção posterior do globo pálido. A intensa 
ativação do giro medial frontal em ambos os estudos 
atesta a importância dessa área em especial para o 
processamento de informações relacionadas à mo-
ral. O trabalho de Greene é especial porque mostra 
uma forte evidência de que a emoção é uma força 
significativa no julgamento moral. E sugere também 
que a razão tem papel preponderante nos julgamen-
tos impessoais e nos julgamentos pessoais morais 
nos quais as considerações racionais e intuições 
emocionais conflitam. 
Como obedecemos ao primado da experiência 
em detrimento do conhecimento objetivo, a visão 
da moral como fenômeno material em nada altera 
nossas opiniões acerca dos dilemas morais que nos 
confrontam rotineiramente. Tal como citado no início 
do texto em relação ao amor e o ódio. No entanto, 
voltando à consideração de Nietzsche em relação à 
experiência e coisa em si, as conclusões de Greene 
e outros pesquisadores levaram a própria moral, que 
embota a visão do mundo como coisa em si, ao status 
de coisa em si! As conclusões dos neurocientistas 
da moral por instantes nos podem “elevar acima de 
todo evento” como dizia Nietzsche. Convido-vos a 
dar a risada homérica junto com Nietzsche e a tentar 
ver se a transformação da tão sagrada moral em um 
fenômeno material sem direção divina ou sentido 
além do humano, pode em momentos cruciais nos 
levar à sonhada vida virtuosa citada por Bertrand 
Russell. Se não puder, que pelo menos possamos 
continuar rindo de modo nietzscheano pelas mãos 
da Neurociência. 
Referências
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Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 200970
Opinião
Os girassóis de Vincent van Gogh
Eliza Maria da Costa Brito Lacerda
E.M.C.B. Lacerda é aluna de 
mestrado do Programa de Pós-
graduação em Neurociências e 
Biologia Celular do Instituto de 
Ciências Biológicas, Universi-
dade Federal do Pará. Ela de-
senvolve a parte experimental 
da sua dissertação no Labo-
ratório de Neurologia Tropical, 
Núcleo de Medicina Tropical, 
Universidade Federal do Pará. 
Ela está desenvolvendo a sua 
dissertação de mestrado estu-
dando o efeito de solventes 
sobre a visão dos trabalha-
dores da cadeia de produção e 
distribuição do petróleo
Correspondência: Universidade 
Federal do Pará, Instituto de 
Ciências Biológicas, 66075-
110 Belém PA, E-mail: eliza_
lacerda@yahoo.com.br.
Vincent Willem van Gogh (30 de março de 1853 – 29 de julho de 1890) 
foi um artista pós-impressionista holandês, pioneiro do expressionismo, e que 
teve uma influência enorme na arte do Século XX. Suas pinturas são muito 
conhecidas mesmo por aqueles que vivem fora do mundo das artes, atingindo 
preços estratosféricos quando chegam aos leilões. Vincent van Gogh nasceu 
em Groot Zundert, Holanda, e começou a pintar somente aos 27 anos. Teve 
uma vida repleta de fracassos, conheceu a miséria, nunca conseguiu cons-
tituir família, sofreu inúmeras decepções amorosas, jamais teve condição 
nem de manter sua própria subsistência, mas é autor de uma fabulosa e 
intensa obra que acompanhou em estilo o seu estado mental. Passou o fim 
da vida internado em hospícios e, em 27 de julho de 1890, sucumbindo a 
uma depressão, morreu dias após dar um tiro no próprio peito [1].
Sua obra inicialmente foi marcada por intensidade dramática, poten-
cialidade expressiva dos tons escuros, da luminosidade barroca e do pincel 
nervoso. A partir de sua ida à Paris, em 1885, tais características foram 
radicalmente transformadas, sua arte passou a ter tons mais claros e exibir 
técnica pontilhada. Sua saúde mental deteriorou-se progressivamente. Em 
1888, em uma de suas crises mais famosas, cortou parte de uma das ore-
lhas. Após o trágico episódio, seu estilo mudou novamente do pontilhado 
para pequenas pinceladas. Em 1889, já com 36 anos, foi marcado por nova 
mudança de estilo após ser internado, por vontade própria, no hospital psi-
quiátrico em Saint-Paul-de-Mausole, na Provença. As pequenas pinceladas 
evolveram para curvas espiraladas. Pode-se notar também, à medida que o 
tempo passava, o uso cada vez mais freqüente de tons amarelados [1].
Com saúde mental bastante crítica, Vincent van Gogh sofria bruscas 
mudanças de humor, ansiedade, falha na memória por breves períodos e 
queixava-se sempre de uma cãibra na mão esquerda. Essas crises pioraram 
nos seus dois últimos anos de vida, tornando-se eventos episódicos com 
comprometimento físico entre os quais mantinha perfeita lucidez [2].
“Até agora tive quatro ataques maiores. Nestes episódios eu não sei o 
que fiz, disse ou queria. Antes destes, eu fiquei inconsciente por três 
vezes, sem qualquer razão reconhecida e não me lembro do que senti 
nestes períodos.”[3]
Sofria também de alucinações visuais e auditivas, mal estar estomacal, 
alteração na consciência, passando de extrema euforia à depressão profunda, 
seguida de angústia e insônia, os períodos de atividade febril alternando-se 
com apatia e esgotamento total [2].
Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 2009 71
“Devido a uma fraqueza no estômago durante 
os ataques, eu não posso me alimentar... 
Sou incapaz de descrever exatamente o meu 
problema; e então surgem crises horríveis 
de ansiedade, aparentemente sem causa, 
ou uma sensação de vazio ou fadiga na 
cabeça.”[3]
Tinha mania de perseguição, pronunciada emo-
tividade que culminavam em exagerada solicitude ou 
extrema religiosidade. Seu estado de transtorno era 
tal que chegava comer as próprias pinturas [2,4].
Mas qual seria a raiz de toda esta desordem men-
tal que acometeu este gênio da pintura pós-impres-
sionista? Não existe uma resposta pronta! Em 1889, 
Felix Rey, médico que o atendeu em Arles no episódio 
em que cortou a orelha, diagnosticou psicose grave 
e epilepsia psico-motora [3], sendo esse diagnóstico 
mantido por Gastaut, em 1956, que descreveu van 
Gogh como portador de um quadro de epilepsia psi-
comotora associada à alteração psíquica intercrítica 
do tipo esquizóide [5]. Em 1890, Paul Gachet, médico 
que o atendeu no hospital psiquiátrico de Saint-Paul-
de-Mausole, o tratou como tendo epilepsia agravada 
por intoxicação crônica por terebintina, um tipo de 
solvente orgânico usado na mistura de tintas, vernizes 
e polidores, e lesão cerebral casada pela luz solar [6]. 
Gachet foi retratado por Van Gogh mais de uma vez 
segurando uma flor de Digitalis purpurea, vegetal da 
qual era feita a digitalina, medicamento usado para 
tratar a insuficiência cardíaca. Não há registros de 
que Gachet tenha usado esse tratamento em van 
Gogh mas Lee, em 1981, sugereque o aparecimento 
de diversos sintomas de sua doença tenham sido 
devidos à intoxicação digitálica [7]. Outras intoxica-
ções foram sugeridas. Arnoldo (1988) descreveu o 
quadro como resultado de intoxicação por terpenos 
como, por exemplo, tujonas presentes no absinto e 
cânfora que van Gogh usava embebido em seu leito 
para dormir, as quais são substâncias extraídas de 
plantas geralmente associadas a solventes orgânicos 
[4]. van Gogh foi um grande consumidor de absinto 
e este não escapou às especulações dos inúmeros 
interessados em assuntos psiquiátricos [6]. Alguns 
foram mais criativos, como Arenbert et al. (1991) 
que afirmou que van Gogh era portador da doença de 
Mière [8]. Ou, ainda, Maire (1971) que afirmou que 
os sintomas visuais de van Gogh eram decorrentes 
de glaucoma [9].
A ciência atual, no entanto, permite-nos diag-
nósticos mais abertos que não precisam ter como 
característica necessariamente um ou outro mal. É 
cada vez mais comum descobrir-se diferentes sinais 
e sintomas que aparentemente não estão ligados 
e são resultados de uma mesma causa. E quando 
se fala em causa, não só os problemas nítidos de 
saúde devem ser considerados, mas toda a estrutu-
ra social a qual o sujeito em questão está inserido, 
considerar estilo de vida, ofício, lazer... Vincent van 
Gogh passou a juventude trabalhando na venda de 
obras de arte, começou a pintar aos 27 anos, com 
uma atividade bastante intensa, vivia envolto em 
tintas, que apresentam como principal componente 
determinados solventes orgânicos. Sua pintura era 
feita principalmente à óleo, ingeria pesadamente 
álcool, sua bebida favorita era a da moda na época, 
o absinto, composto de 68% de álcool [10]. Assim 
era sua vida e esse conjunto de circunstâncias selou 
o seu destino. 
van Gogh apresentava sintomas bem comuns 
de uma intoxicação crônica por solventes orgânicos 
que estiveram muito presentes em sua atividade 
ocupacional. Afinal, fazia parte da composição de 
seu material de pintura, como fazia parte também 
das suas bebidas e, depois, de seus medicamentos. 
O seja, de todos os elementos cardiais da sua vida, 
do trabalho ao lazer e aos vícios
Os solventes orgânicos são componentes peri-
gosos, pois são facilmente dissolvidos e absorvidos 
pelo corpo e, por serem lipofílicos, têm grande ca-
pacidade de atingir o sistema nervoso [11]. A expo-
sição a solventes orgânicos pode ocorrer de forma 
doméstica ou ocupacional, tendo em vista que são 
componentes de uma grande variedade de produtos e 
tal exposição pode resultar em sérios efeitos tanto no 
sistema nervoso central quanto no sistema nervoso 
periférico causando diferentes distúrbios nas funções 
psicofisiológicas [12]. 
O mal estar estomacal do qual Vincent van 
Gogh se queixava é um dos sintomas comuns de 
intoxicação por solventes orgânicos, incluindo enjôo, 
dispepsia e náusea, podendo virem acompanhados 
de dor de cabeça, fadiga e perda de motivação, o 
que justificaria a apatia e o esgotamento descritos 
pelo pintor [13]. Além desses sintomas, os efeitos 
da exposição crônica aos solventes orgânicos sobre 
o sistema nervoso central incluem dificuldade de 
concentração, perda de memória e mudança de per-
sonalidade [13], ou seja, todos sintomas também 
presentes no quadro clínico de van Gogh. A exposição 
crônica a alguns tipos de solventes orgânicos está 
associada com a degeneração de células nervosas no 
sistema nervoso periférico, resultando em sintomas 
como cansaço, mialgia, dor, fraqueza e hipoestesia 
Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 200972
dos membros [13], o que poderia explicar as dores 
que van Gogh apresentava nas mãos bem como o 
comprometimento físico do pintor, fato que pode ser a 
causa das trocas de estilo à medida que o seu quadro 
de saúde piorava – a mudança do preciso pontilhado 
por pinceladas cada vez mais longas. 
Um tipo de exposição crônica a solventes or-
gânicos como a que Van Gogh sofreu, pode causar 
seqüelas neurológicas irreversíveis que também 
afetam a visão, principalmente a percepção de cor 
[14-18]. A maioria dessas deficiências adquiridas na 
visão de cor, no entanto, são subclínicas e causam 
queixas de alterações, principalmente, na percepção 
do contraste azul-amarelo [17-20]. E este é um fato 
bastante relevante dentro de toda a sintomatologia 
da doença de van Gogh, por vezes tratada com irre-
levância e que aponta ainda de maneira mais forte 
para uma intoxicação crônica causada por solventes 
orgânicos: a sua percepção de cor muda ao longo de 
sua vida artística e tal mudança pode ser observada 
através da análise de sua obra. van Gogh mostrava 
em seus quadros, telas cada vez mais amareladas e 
claras ficando mais e mais opacas. Esse efeito pode 
ser nitidamente observado na sua séria de quadros 
de girassóis que são pintados de forma cada vez 
mais tênues à medida que o tempo passa e a intoxi-
cação aumenta. Ele, aos poucos, troca a escolha de 
tons coloridos por tons em que o amarelo ou o azul 
prevalecem [21]. E esta é uma peculiar característica 
da exposição intensa a solventes orgânicos: deixa a 
vida do indivíduo opaca! Dessa forma podemos dizer 
que van Gogh pintava o mundo tal qual ele via e tal 
qual o sentia, e seu prazer de viver foi se esvaindo 
assim como as cores em suas telas...
De toda forma, independente de sua história, 
a obra de Vincent van Gogh, que nunca lhe rendeu 
prestígio enquanto vivo e pode de fato ter sido a fonte 
de sua intoxicação, é hoje uma das mais conhecidas 
obras pós-impressionistas, estando entre as mais ca-
ras do mudo. Ela continua a influenciar muitos artistas 
de nossa época e influenciará artistas que hão de vir. 
Se sua obra foi mesmo a causa de sua desgraça, ela 
é hoje o motivo de sua imortalidade!
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Neurociências • Volume 5 • Nº 2 • abril/junho de 2009 73
Entrevista
Antidepressivos duais como a duloxetina são bem tolerados tanto no 
paciente idoso como no adulto e têm uma ação significativa sobre os 
sintomas comuns da depressão no idoso, como a dor e os sintomas 
físicos.
Duloxetina no tratamento de pacientes idosos com depressão grave: 
análise dos dados publicados
Mancini M, Gianni W, Rossi A, Amoré M. Duloxetine in the manage-
ment of elderly patients with major depressive disorder: an analysis of 
published data. Expert Opin Pharmacother 2009;10(5)847-60.
Introdução: A depressão grave é uma condição comum nos idosos, fre-
quentemente associada a deficiências e diminuição das funções cognitivas. 
Duloxetina é um medicamento antidepressivo que inibe a recaptação da 
serotonina e norepinefrina. Objetivo: O objetivo desta revisão foi avaliar os 
dados disponíveis sobre o uso da duloxetina na população idosa. Métodos: 
Uma pesquisa extensiva foi realizada nas bases de dados Medline e Embase. 
Foram incluídos na revisão apenas artigos revisados por pares. Resultados: 
Quatro artigos correspondendo aos critérios de pesquisa foram identificados 
nas bases de dados Medline e Embase. Nos estudos controlados de curto 
prazo, o tratamento com duloxetina foi associado a melhoria significativa da 
função cognitiva, da depressão e do estado de saúde em pacientes respon-
dendo ao tratamento ou em remissão, quando comparado com placebo. A dor 
em geral e as dores lombares também melhoraram em pacientes tratados 
com duloxetina. Os dados de estudos abertos de longo prazo mostraram que 
melhorias significativas dos escores HAM-D-17, dos estados de saúde valida-
dos pelo médico (CGI-S) e pelo paciente (CGI-I) foram rápidas e mantiveram-
se até a semana 52. As taxas de respostas e de remissão observadas no 
fim dos estudos foram de 89,4% e 72,3% respectivamente. Duloxetina foi 
eficiente em pacientes que não responderam ou foram intolerantes ao trata-
mento por escitalopram. Náuseas e boca seca foram os eventos adversos 
mais comuns. Os resultados de segurança no estudo de longo prazo, no qual 
duloxetina foi empregada no limite superior da dose recomendada, mostrou 
que a maioria dos eventos adversos ocorreu precocemente e que a taxa de 
eventos adversos em pacientes com idade > 65 anos não é maior do que em 
coorte mais jovem. Conclusão: Duloxetina administrada a pacientes idosos 
com depressão grave tem eficácia antidepressiva rápida e sustentável e 
aparenta ser tão segura quanto em pacientes mais jovens.
Duloxetina, tratamento de primeira escolha 
para a depressão grave no paciente idoso
Prof. Dr. Michele Mancini, 
psiquiatra, Florença, Itália
74 Neurociências • Volume 3 • Nº 3 • maio-junho de 2006
Neurociências - Antidepressivos duais são mais 
efetivos que os ISRSs na população idosa?
Dr. Michele Mancini - Até agora, não temos 
muitos dados para afirmar isso. As duas classes de 
medicamentos são eficientes no tratamento da de-
pressão, mas a experiência que temos, nos estudos 
já publicados, mostra que os antidepressivos duais 
não causam efeitos secundários bem conhecidos 
dos ISRSs, como alguns sintomas de disfunção cog-
nitiva e o embotamento emocional frequentemente 
reportado com o uso da maioria dos antidepressivos 
ISRSs, tanto nos adultos como nos idosos. Este 
efeito pode ser a consequência de uma disfunção do 
lobo frontal, devido à alteração do metabolismo da 
serotonina ou da relação entre serotonina e adrena-
lina. Outras hipóteses sugerem que este fenômeno 
poderia ser causado por uma diminuição da atividade 
dopaminérgica, noradrenérgica e colinérgica na região 
cortical cingulada anterior, ou pela interação entre a 
dopamina e a serotonina, que poderia ser responsá-
vel por essas disfunções dependentes da dopamina 
observadas em pacientes tratados por ISRSs. Este 
efeito pode ser evitado com a duloxetina, porque esta 
aumenta os níveis de serotonina, de noradrenalina 
e também de dopamina, especificamente no córtex 
frontal e pré-frontal.
É verdade que este efeito pode ser uma vantagem 
quando o paciente apresenta sintomas emocionais 
importantes, como irritabilidade ou descontrole dos 
impulsos, mas na maioria dos casos, podemos afir-
mar que os antidepressivos duais como a duloxetina 
não induzem este efeito de insensibilidade emocional 
no tratamento a longo prazo, efeito que é muitas vezes 
uma causa do abandono do tratamento, uma vez que 
a fase ansiosa da doença está superada. Por isso, 
podemos dizer que a duloxetina é uma indicação de 
primeira escolha para tratar a depressão grave do 
paciente idoso.
Neurociências - De acordo com estudos clínicos, 
a duloxetina tem boa ação nos sintomas físicos as-
sociados à depressão. Esta melhor ação também é 
observada na população idosa?
Dr. Michele Mancini - A depressão grave da 
pessoa idosa é muito ligada à presença de sintomas 
físicos. Mais do que em adultos, a depressão no idoso 
pode se manifestar por sintomas físicos, com dores nas 
costas, ou por distúrbios cognitivos, o que faz com que 
o diagnóstico de depressão seja muitas vezes difícil, 
porque ela é mascarada pelos sintomas físicos ou 
cognitivos. Temos também muitas síndromes depres-
sivas que são a consequência de doenças físicas ou 
degenerativas, como as osteoartrites. O que podemos 
observar, nos estudos clínicos disponíveis, é que a 
duloxetina é rapidamente eficaz sobre a depressão e 
a qualidade de vida, e que sua ação não está significa-
tivamente afetada pela presença de diabetes, doença 
cardiovascular ou artrite. Foi bem demonstrado que a 
duloxetina reduz a severidade dos sintomas depressi-
vos em pacientes idosos com ou sem artrite.
 
Neurociências - Qual é o perfil do paciente idoso 
que pode melhor se beneficiar da duloxetina?
Dr. Michele Mancini - A duloxetina tem um efeito 
significativo sobre um sintoma associado à depressão, 
que é a dor. Duloxetina é ativa sobre a dor em geral, 
a lombalgia, as dores percebidas ao acordar, muito 
frequente em idosos. Os pacientes tratados com dulo-
xetina apresentam uma melhoria muito rápida desses 
tipos de dor, em comparação com pacientes tratados 
por placebo. Duloxetina reduz significativamente a 
severidade global da dor, a dor lombar, a remanência 
da dor ao acordar, e a limitação das atividades diárias 
em pacientes com artrite. Entretanto, esses dados po-
sitivos devem ser discutidos considerando que nenhum 
estudo específico foi conduzindo com duloxetina tendo 
como objetivo primário o tratamento da dor.
Duloxetina é eficaz para tratar a depressão 
grave e os sintomas associados em idosos, mesmo 
com a presença de comorbidades, e tem um efeito 
positivo sobre os componentes ansiosos somáticos 
da síndrome, que são frequentes em depressões da 
pessoa idosa. 
Neurociências - Qual foi o tempo médio de res-
posta da população idosa no estudo, ou seja, qual foi 
a rapidez de ação observada com duloxetina?
Dr. Michele Mancini - Um estudo controlado por 
placebo, de curto prazo, especificamente desenhado 
para pacientes idosos, mostrou efeitos significativos 
do tratamento com duloxetina já nas duas primeiras 
semanas de tratamento. Essa velocidade de ação foi 
confirmada por vários estudos.
Podemos afirmar que um tratamento com dulo-
xetina durante 8 semanas melhora rapidamente a 
depressão, a percepção do estado de saúde, e os 
índices de avaliação da dor e dos distúrbios cogni-
tivos.
A magnitude da melhoria e das taxas

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