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apostila - introdução a neuropsicologia

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SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 2 
UNIDADE 1 – PSICOLOGIA: COMEÇO DE CONVERSA ......................................... 5 
1.1 Conceitos e definições ....................................................................................... 5 
1.2 Surgimento e evolução ...................................................................................... 6 
1.3 Objeto e objetivos ............................................................................................ 11 
1.4 Campos de atuação ......................................................................................... 11 
UNIDADE 2 – NEUROLOGIA ................................................................................... 16 
2.1 Conceitos e definições ..................................................................................... 16 
2.2 Surgimento e evolução .................................................................................... 17 
2.3 Doenças abordadas pela Neurologia ............................................................... 19 
UNIDADE 3 – NEUROPSICOLOGIA ........................................................................ 22 
3.1 Aspectos históricos .......................................................................................... 25 
3.2 A interdisciplinaridade da Neuropsicologia ...................................................... 35 
3.3 Neuropsicologia molecular ............................................................................... 38 
3.4 A Neuropsicologia no Brasil ............................................................................. 41 
UNIDADE 4 – NEUROIMAGEM APLICADA ............................................................ 44 
UNIDADE 5 – MÉTODOS QUANTITATIVOS EM NEUROPSICOLOGIA – A 
PSICOMETRIA ......................................................................................................... 50 
5.1 Medir, provar, testar ......................................................................................... 51 
5.2 A Teoria Clássica dos Testes – TCT ............................................................... 54 
5.3 A Teoria de Resposta ao Item – TRI ............................................................... 56 
5.4 Parâmetros dos testes: fidedignidade, validade e normatização ..................... 57 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 61 
 
 
2 
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de 
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios 
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
INTRODUÇÃO 
 
Velocidade de informação, inovações tecnológicas, tragédias, conquistas, 
novos valores, conhecimentos sendo produzidos, desconstruídos, reelaborados! 
Essas são algumas caraterísticas deste mundo contemporâneo em que vivemos e 
que ao mesmo tempo nos fascina e nos atormenta. 
E nesse emaranhado de fatos e sentimentos, eis que vimos surgir uma 
ciência, a qual muito tem contribuído para o estudo das relações cérebro-
comportamento, investigando áreas cognitivas do indivíduo, a Neuropsicologia. 
Por dedução óbvia, Neuropsicologia é uma especialidade clínica da 
Psicologia que estuda a relação entre cérebro e comportamento humano, abordando 
questões sobre o funcionamento cerebral saudável e patológico. 
 
 
Figura 1: Neuropsicologia. 
Fonte: http://www.clinicarenove.com/Blog/12Jul16-Voce-sabe-o-que-e-Neuropsicologia 
 
Para começo de conversa, precisamos dos conceitos, definições, história e 
evolução da Psicologia e Neurologia para que o nosso caminhar até a 
Neuropsicologia seja claro e sem tropeços, por isso, neste módulo introdutório, 
partiremos justamente das disciplinas acima! 
3 
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de 
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios 
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
Bastos e Rocha (2007) justificam a importância das interações que levaram 
à Neuropsicologia, ao afirmarem que as transições que marcam o mundo 
contemporâneo e, mais especificamente, a produção de conhecimento sobre ele, 
sinalizam claramente a falência de qualquer abordagem disciplinar que, fechada em 
seus próprios domínios, desconsidere o diálogo com outras disciplinas e minimize a 
necessidade de construir pontes entre diferentes perspectivas para uma maior e 
mais apropriada compreensão de qualquer parcela da realidade. 
Igualmente, para Xavier e Helene (2007, p. 188), ao se tratar os 
 
fenômenos psíquicos como originários de processos biológicos, ampliam-se 
nossas possibilidades de entendê-los, com ganhos científicos e teóricos, 
além dos sociais, éticos e morais, gerando-se um quadro explanatório mais 
coerente sobre esses fenômenos. 
 
Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se 
fazem necessárias: 
1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas 
efetivamente e outras somente consultadas, principalmente artigos retirados da 
World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao 
acesso facilitado na atualidade e até mesmo democrático, ajudam sobremaneira 
para enriquecimentos, para sanar questionamentos que por ventura surjam ao longo 
da leitura e, mais, para manterem-se atualizados. 
2) Deixamos bem claro que esta composição não se trata de um artigo 
original1, pelo contrário, é uma compilação do pensamento de vários estudiosos que 
têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também 
reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser 
deixados de lado, apesar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos 
estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aquela capaz de 
comunicar-se com o presente, mesmo que seu passado datável esteja separado 
pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância. 
3) Em se tratando de Jurisprudência, entendida como “Interpretação 
reiterada que os tribunais dão à lei, nos casos concretos submetidos ao seu 
 
1 Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, anais de congresso ou 
similares. 
 
4 
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de 
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios 
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
julgamento” (FERREIRA, 2005)2, ou conjunto de soluções dadas às questões de 
direito pelos tribunais superiores, algumas delas poderão constar em nota de rodapé 
ou em anexo, a título apenas de exemplo e enriquecimento. 
4) Por uma questão ética, a empresa/instituto não defende posições 
ideológico-partidária, priorizando o estímulo ao conhecimento e ao pensamento 
crítico. 
5) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou 
seja, baseada em normas e padrões da academia, portanto, pedimos licença para 
fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que 
os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos 
científicos. 
Por fim: 
6) Deixaremos em nota de rodapé, sempre que necessário, o link para 
consulta de documentos e legislação pertinente ao assunto, visto que esta última 
está em constante atualização. Caso esteja commaterial digital, basta dar um Ctrl + 
clique que chegará ao documento original e ali encontrará possíveis leis 
complementares e/ou outras informações atualizadas. Caso esteja com material 
impresso e tendo acesso à Internet, basta digitar o link e chegará ao mesmo local. 
 
 
 
2 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio. Versão 5.0. Editora 
Positivo, 2005. 
5 
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UNIDADE 1 – PSICOLOGIA: COMEÇO DE CONVERSA 
 
1.1 Conceitos e definições 
Psicologia é a ciência da alma, ou da psique, ou da mente, ou do 
comportamento. Etimologicamente a expressão Psicologia deriva das palavras 
gregas “psyché” (alma, espírito) e “logos” (estudo, razão, compreensão), portanto, 
podemos dizer: estudo ou compreensão da alma. 
Essa ciência refere-se, na verdade, a um conjunto de funções que se 
distinguem em três grandes vias: 
� a via ativa (movimentos, instintos, hábitos, vontade, liberdade, tendências, e 
inconsciente); 
� a via afetiva (prazer e dor, emoção, sentimento, paixão, amor); 
� a via intelectiva (sensação, percepção, imaginação, memória, ideias, 
associação de ideias). 
Essas três vias articulam-se em grandes sínteses mentais, tais como: 
atenção, linguagem e pensamento, inteligência, julgamento, raciocínio e 
personalidade (MEYNARD, 1958 apud GOMES, 2005). 
Essas funções também são conhecidas como cognitivas, afetivas e 
conativas. As cognições são as capacidades do intelecto, as afeições são os 
sentimentos e emoções, e a conação refere-se às nossas atividades, que são as 
respostas expressivas ou comportamentais. 
A Psicologia é ciência que gera uma prática profissional. Enquanto ciência 
tem por objetivo explicar como o ser humano pode conhecer e interpretar a si 
mesmo e como pode interpretar e conhecer o mundo em que vive (aí incluídas a 
interação dos indivíduos entre si, a interação com a natureza, com os objetos e com 
os sistemas sociais, econômicos e políticos dos quais façam parte). Enquanto 
prática profissional, a Psicologia coloca o conhecimento por ela acumulado a serviço 
de indivíduos e instituições (IP/USP, 2017). 
A Psicologia constitui-se numa ciência que, reconhecidamente, tem exercido 
uma função social de grande relevância, quer como área de conhecimento que tem 
contribuído para ampliar a compreensão dos problemas humanos, quer como campo 
de atuação cada vez mais vasto e efetivo na intervenção sobre estes (ANTUNES, 
2014). 
6 
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recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
 
 
Figura 2: Psicologia. 
Fonte: http://mundodapsi.com/tag/psicologia/ 
 
1.2 Surgimento e evolução 
Concordamos com Campos (2008) ao inferir que o conhecimento do 
passado é condição essencial para a melhor orientação das escolhas feitas no 
presente, e para ampliar as bases da reflexão sobre a condição humana e sobre o 
papel das reflexões em Psicologia ao longo dessa trajetória. Por isso, vamos falar, 
mesmo que com breves recortes, sobre sua evolução. 
Também é fato que, apesar de nossos antepassados terem uma história de 
muitos milhares de anos, temos que aceitar que o número “cem” é uma marca 
razoável para comemorações, não é verdade? Pois bem, em 1979 começaram as 
comemorações do centenário de fundação do laboratório de Wilhelm Wundt em 
Leipzig, na Alemanha. 
Wundt (1832-1920), médico, filósofo e psicólogo alemão, é considerado um 
dos fundadores da Psicologia Experimental junto com Ernst Heinrich Weber e 
Gustav Theodor Fechner. 
Podemos dizer que foi Wundt que determinou o objeto de estudo, o método 
de pesquisa, os tópicos a serem estudados e os objetivos da nova ciência, tanto que 
o ‘seu’ Primeiro Laboratório de Psicologia Experimental seguiu os modelos dos 
laboratórios das ciências naturais e logo se tornou um centro de investigação, 
7 
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recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
permitindo a Wundt atingir o seu principal objetivo que era contribuir para o processo 
de autonomização da Psicologia relativamente à Psicologia. 
Influenciado pelas descobertas da química, segundo as quais todas as 
substâncias químicas são compostas por átomos, foi decompor a mente nos seus 
elementos mais simples, que são as sensações. 
Tanto para Wundt como para os seguidores do estruturalismo, as operações 
mentais resultam da organização de sensações elementares que se relacionam com 
a estrutura do sistema nervoso. 
Wundt recorre aos métodos experimentais das ciências naturais, 
particularmente as técnicas usadas pelos fisiologistas, e adaptou os seus métodos 
científicos de investigação aos objetivos da Psicologia. Dessa forma, a Fisiologia e a 
Filosofia ajudaram a moldar tanto o objeto de estudo da nova ciência como os seus 
métodos de investigação. 
Deixemos Wundt um pouco de lado e lembremos que no mundo atual, o 
desenvolvimento científico e tecnológico tem alcançado patamares nunca antes 
imaginados. Tempo e espaço adquirem novos significados com a eliminação das 
distâncias pelas redes informatizadas. Novos conhecimentos vêm transformar 
profundamente a estrutura produtiva, a educação, a assistência à saúde, as artes, 
as relações humanas (ANTUNES, 2014). 
Alguns velhos problemas, no entanto, não apenas permanecem como 
tendem a agravar-se: a miséria, a exclusão social, a violência, a limitação do acesso 
ao saber e à saúde, o desemprego, a xenofobia, o racismo, as guerras imperialistas, 
a escassez de perspectivas existenciais. 
Nesse panorama, os problemas do presente e os que vislumbramos para um 
futuro próximo impõem à Psicologia tarefas cada vez maiores e mais desafiadoras; 
disso decorre a imperativa necessidade de reflexão sobre seu significado e sua 
responsabilidade na construção do devir histórico. 
É preciso que tenhamos uma compreensão mais ampla da Psicologia e de 
sua relação com a sociedade (ANTUNES, 2014). 
Nessas idas e vindas ao passado, que se mescla com o presente, a verdade 
é que conhecer a história ajuda a evitar os erros do passado e a prever o futuro, mas 
seu maior valor está em permitir-nos compreender o presente. 
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eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
Como diz Goodwin (2005), o conhecimento da história coloca os fatos da 
atualidade numa perspectiva melhor, contribui para que nos imunizemos contra a 
crença de que o presente tem problemas insuperáveis em relação aos velhos 
tempos. Cada era tem seus problemas. O conhecimento da história também 
contribui para reduzir a tendência a pensar que as realizações da atualidade 
representam uma culminância do “progresso” que conseguimos em relação às 
realizações inferiores do passado. 
Nesse sentido, Cambaúva (2000) reforçaque, ao mesmo tempo em que a 
Psicologia é uma ciência antiga, ela é jovem! Enquanto Ciência autônoma é jovem, 
pois data da segunda metade do século XIX; entretanto, formulações psicológicas, 
como psique e fenômenos psíquicos (consciência, sensação, percepção, sonhos, 
memória) já preocupavam os filósofos da antiguidade. 
Quanto à evolução no Brasil, Antunes (2014) nos conta que a preocupação 
com os fenômenos psicológicos fez-se presente em ‘terras tupiniquins’3 desde os 
tempos da colônia, aparecendo em obras escritas nas diferentes áreas do saber e, 
mais tarde, durante o século XIX, em produções advindas de instituições como 
faculdades de medicina, hospícios, escolas e seminários. 
As mudanças advindas com o Império (século XIX) e mesmo com autonomia 
relativa, trouxe profundas transformações à sociedade brasileira, entre as quais se 
incluem significativas mudanças no plano cultural, inserindo-se aí a produção de 
ideias e práticas de natureza psicológica. Nesse contexto, o pensamento psicológico 
produzido nesse período diferenciou-se do precedente, particularmente pela 
vinculação às instituições então criadas. A produção do saber psicológico ainda foi 
gerada, no entanto, no interior de outras áreas de conhecimento, fundamentalmente 
na Medicina e na Educação. 
As Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia foram criadas em 
1832, tendo sua origem nas Cadeiras de Cirurgia, na Bahia, e de Cirurgia e 
Anatomia, no Rio de Janeiro, instaladas em 1808. Nessas faculdades, como 
exigência para a conclusão do curso, o aluno deveria defender publicamente uma 
tese de doutoramento ou inaugural, que lhe conferia o título de doutor. Grande parte 
 
3 O primeiro contato dos portugueses quando chegaram ao Brasil se deu com os nativos da tribo 
tupiniquim, da grande família Tupi-guarani, os quais lhe ofertaram de presente papagaios e araras, 
espécies não existentes na Europa. Quando os portugueses voltaram para lá contaram esse encontro 
e por um tempo o Brasil ficou conhecido como “Terra tupiniquim ou terra dos papagaios”. 
9 
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dos trabalhos sobre assuntos psicológicos, nessa época, é proveniente dessas 
teses, que tratavam de temas relacionados à: Psiquiatria, Neurologia, Neuriatria, 
Medicina Social e Medicina Legal. Muitas dessas teses antecedem a criação formal 
de uma cátedra afim às questões psicológicas, pois a primeira delas, denominada 
“Clínica das Moléstias Mentais”, foi criada em 1881 e, desde 1836, encontram-se 
teses que tratam do fenômeno psicológico. Os assuntos tratados são muito variados, 
dentre os quais: paixões ou emoções, diagnóstico e tratamento das alucinações 
mentais, epilepsia, histeria, ninfomania, hipocondria, psicofisiologia. Instrução e 
educação física e moral, higiene escolar, sexualidade e temas de caráter 
psicossocial (ANTUNES, 2014). 
Crescente interesse pela Medicina Legal é observado, assim como sua 
proximidade com a Psicologia Social. A tese de Júlio Afrânio Peixoto, denominada 
“Epilepsia e Crime”, é demonstrativa desse fato. 
Nos anos finais desse período, temas bastante próximos da Psicologia, 
propriamente dita, começam a aparecer de maneira significativa, revelando maior 
rigor metodológico e uma base científica mais apurada. Vale lembrar que a 
Psicologia conquistou o estatuto de ciência autônoma no último quartel daquele 
século, momento em que aparecem teses que podem ser identificadas com a 
ciência psicológica. 
No final do século XIX é defendida a tese “Duração dos Atos Psíquicos 
Elementares”, de Henrique Roxo, considerada por Lourenço Filho, Pessotti e 
Pfromm Netto como o primeiro trabalho de Psicologia Experimental, baseado em 
número significativo de dados obtidos experimentalmente, com o uso do “psicômetro 
de Buccola”. 
Não há duvidas de que a produção de ideias psicológicas foi também 
produto dessa sociedade em transformação, sobretudo na busca de respostas às 
necessidades que se diversificavam e se impunham pelos novos tempos. As 
transformações econômicas, com suas consequências para o incremento do 
processo de urbanização, acabaram por trazer à tona novos problemas ou a 
explicitação de problemas antigos, que o país não se encontrava preparado para 
resolver. Nesse contexto, a Medicina e a Educação foram chamadas a contribuir 
10 
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para a solução dos problemas, incluindo-se aí a preocupação com o fenômeno 
psicológico em várias de suas dimensões. 
Em resumo, o desenvolvimento do pensamento psicológico no Brasil, no 
século XIX, não pode ser visto apenas na sua dimensão local. É necessário 
considerar que a preocupação com os fenômenos psicológicos vinha, durante 
séculos, se desenvolvendo; entretanto, é no século XIX que a evolução da Filosofia, 
de um lado, e dos conhecimentos produzidos pela Fisiologia, de outro, começaram a 
caminhar em direção a uma possível síntese. 
O século XIX trouxe essa possibilidade para as ciências e para a Psicologia, 
foi o momento fundamental que preparou as condições para sua autonomia. Esse 
período não apenas sintetizou e aprofundou o conhecimento a respeito dos 
fenômenos psicológicos, mas, mais que isso, as mudanças ocorridas na Europa do 
século XVIII criaram desafios e necessidades que precisavam ser respondidas pelo 
conhecimento produzido no século XIX. Aparece aqui também a problemática do 
incremento do processo de urbanização decorrente, na Europa, do avanço do modo-
de-produção capitalista. Assim, uma sociedade que enfrentava, de um lado, os 
problemas relativos à saúde, saneamento, habitação e outros, criados pela 
densidade demográfica e, por outro lado, os movimentos sociais que questionavam 
as bases sobre as quais aquela sociedade se erigia, precisava de instrumentos para 
melhor compreender tais problemas e sobre eles intervir. Era necessário buscar o 
controle, não apenas de problemas como epidemias, mas também da conduta 
humana. A isso, acrescenta-se que a ideologia burguesa colocava no indivíduo o 
fundamento de uma sociedade baseada na propriedade privada, portanto pessoal e 
individual; fazia-se necessário, pois, compreender o homem nessa dimensão. De 
resto, é preciso considerar que uma formação social baseada na divisão social do 
trabalho e no avanço técnico apontava para a especialização do conhecimento. 
Nesse panorama, o contato de muitos brasileiros com os movimentos 
intelectuais europeus inevitavelmente fez com que essas ideias, lá em franca 
expansão, mais cedo ou mais tarde aqui chegassem também. A profusão de ideias 
na Europa, somada às necessidades da sociedade brasileira, permitiu que aqui se 
desenvolvessem, dentre várias áreas de conhecimento, também as ideias 
psicológicas (ANTUNES, 2014). 
11 
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1.3 Objeto e objetivos 
A Psicologia é uma ciência que tem como objeto de estudo os seres vivos 
que estabelecem trocas simbólicas como meio ambiente. Está relacionada às 
ciências humanas (Filosofia, Teoria do Conhecimento) e biológicas (Biologia, 
Neurofisiologia, Psicofarmacologia) e apresenta elementos comuns às ciências 
sociais (Sociologia, Antropologia) e exatas (Ergonomia, Psicofísica). 
Decorre daí a diversidade das abordagens e áreas de estudo na Psicologia, 
bem como o grau de interdisciplinaridade e convergência dos seus temas. Na 
Universidade de São Paulo, por exemplo, pesquisas no Instituto de Psicologia 
abrangem desde o nível molecular, na Psicofarmacologia, ou biofísico, na 
Psicofisiologia, ao epistemológico, na Epistemologia Genética, ao subjetivo, na 
interpretação dos sonhos e motivações inconscientes, mantendo-se como fio 
condutor o interesse pelo comportamento e pela experiência do indivíduo. 
A Psicologia é a ciência que estuda nossas atitudes, nossos valores, nossos 
pensamentos, nossos sentimentos, nossas ações, tanto de forma individual quanto 
grupal, através de nossas intra e inter-relações com o mundo que nos cerca. 
Souza (2011) pondera que o objeto de estudo da Psicologia de forma bem 
ampla é o homem, porém a Psicologia não é considerada totalmente científica, pois 
o pesquisador ao mesmo tempo em que pesquisa ele também está inserido na sua 
própria pesquisa, agregando seus pensamentos e emoções à pesquisa tornando a 
mesma cientificamente um tanto inválida. 
Levando apenas em consideração o objeto humano como estudo da 
Psicologia, ela pode ser de certa forma confundida com outras ciências. Mas o que 
faz a Psicologia diferir das outras ciências humanas é o estudo da subjetividade, e é 
ela que nos faz compreender a totalidade da vida humana, pois é o indivíduo em 
todas as suas expressões visíveis, invisíveis, singulares e genéricas. 
 
1.4 Campos de atuação 
O campo da Psicologia é muito vasto. Inclui atividades consagradas como a 
Psicologia Clínica, Escolar, atividades em pesquisas básicas como o estudo dos 
processos psiconeurológicos e memória, e um enorme conjunto de possibilidades 
aplicadas e de pesquisa que inclui Matemática, Física, Informática, Engenharia, 
12 
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Enfermagem, Trânsito, Ecologia, Psicofísica, Genética, Administração, Comunidade, 
Sociologia, Antropologia, Educação e Marketing. 
A Psicologia é uma ciência aplicada, mas também é uma ciência básica de 
grande importância para qualquer campo de conhecimento. Uma maneira de 
entender o seu vasto campo é distinguir suas duas grandes tradições. De um lado, o 
interesse em saber o que é o nosso intelecto, isto é, a nossa capacidade de 
conhecer (via cognitiva). Do outro, o interesse em saber como e porque somos 
diferentes uns dos outros e respondemos de modos diferentes as influências 
ambientais (via afetiva e conativa). Por exemplo, por que de uma mesma família sai 
um filho altruísta e dedicado às soluções dos grandes problemas da humanidade e 
um outro delinquente e criminoso? Por que uma criança vai para a escola e aprende 
as lições com a maior facilidade e uma outra apresenta uma grande dificuldade no 
seu aprendizado? 
A Psicologia que conhecemos hoje é o resultado da confluência de 
preocupações e métodos oriundos da Filosofia e da Fisiologia. Todas as funções 
psicológicas decorrem de processos orgânicos. Avanços nos campos da Genética, 
Neurofisiologia e Bioquímica trouxeram importantes esclarecimentos sobre 
processos psicológicos básicos como, por exemplo, hereditariedade, agressividade, 
depressão e ansiedade (GOMES, 2005). 
Tanto que nosso curso será voltado para as questões neuropsicológicas, 
mas antes, vejamos alguns dos campos dessa ciência que, por vezes, intriga aos 
leigos. 
A Psicologia Clínica é geralmente centrada em torno de ambientes 
hospitalares, sendo mais um tipo de Psicologia que lida com distúrbios mentais, 
como a depressão, entre outros. O aspecto de aconselhamento é bastante 
autoexplicativo. Os terapeutas oferecem um aconselhamento familiar para resolver 
problemas. 
A Psicologia Social se concentra na interação de pessoas em condições 
especiais e em grupos. Em resumo, ele examina a maneira como as pessoas 
interagem umas com as outras. Destaca a lógica por trás daqueles que podem estar 
com falta de capacidade na comunicação em grupo. O estudo da Psicologia Social 
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seria mais bem aplicado aos grandes grupos que podem ter dificuldade em lidar com 
o outro também. 
A Psicologia aplicada ao ambiente industrial nos lembra de relações de 
trabalho. São atribuídos psicólogos para ajudar as grandes empresas e escritórios 
de empresas com problemas que os funcionários podem ter. Com o esforço 
contínuo de trabalho, família e finanças, bem como as relações que desempenham 
um papel importante na vida de tantas pessoas, o domínio industrial da Psicologia é 
uma grande ajuda que é oferecida pelos empregadores a seus empregados. 
Segundo Santos (2000), em Psicologia, o termo atividade se alinha 
conceitualmente às diferentes abordagens que procuram explicar a natureza do 
comportamento e sua previsibilidade social. A busca pela elaboração de modelos 
que permitam compreender os comportamentos do homem, de um lado, como um 
sistema de recepção e tratamento da informação, e de outro lado, como um sistema 
de transformação de energia, produziram diferentes formulações sobre o 
desempenho das pessoas naquilo que elas fazem ou se proponham a fazer. 
A visão de “homem” movido por determinantes internas (solicitações) ou 
submetido às condicionantes externas (cargas de trabalho), originou, na Psicologia 
do trabalho, concepções que contemplam ambas as definições. Na verdade, o 
trabalho pode ser visto como um subsistema menor das coisas que fazemos para 
aliviar nossas tensões, mas também pode representar a atividade principal de 
realização objetiva do ser humano. De uma forma ou de outra, o trabalho é 
incorporado subjetivamente no nosso modo de perceber e fazer as coisas que 
necessitamos. 
Além disso, podemos dizer que a diferença entre o trabalho formal (tarefa) e 
o trabalho real (atividade), elemento fundamental do estudo do comportamento do 
homem no trabalho, permite definir níveis da análise das atividades de trabalho, que 
podem servir à teoria psicológica geral. 
Segundo essa ótica, existem três grandes campos que são 
interdependentes, relativos ao estudo das atividades de trabalho: 
1. as comunicações – para agir é necessário efetuar trocas de informações 
sobre o estado da situação na qual nos encontramos; 
14 
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eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
2. as regulações – toda ação consiste em reduzir a diferença entre um estado 
desejado de uma determinada situação e o estado atual no qual nos 
encontramos; 
3. as competências – as modalidades e as possibilidades de reduzir esta 
diferença dependem diretamente das habilidades cognitivas e sensório- 
motoras que o sujeito dispõe (SANTOS, 2000). 
 
Pois bem, os psicólogos buscam estudarconceitos como a percepção, 
cognição, emoção, personalidade, comportamento, relacionamento interpessoal, 
individual e coletiva e do inconsciente, incluindo-se aqui questões relacionadas com 
a vida quotidiana, por exemplo, família, educação e trabalho. Focam também o 
tratamento de problemas de saúde mental, buscando compreender o 
comportamento social e a dinâmica social, ao mesmo tempo em que incorporam os 
processos subjacentes fisiológicos e neurológicos em suas concepções de 
funcionamento mental. 
Inclui muitos subdomínios de estudo e de aplicação em causa em áreas 
como o desenvolvimento humano, desporto, saúde, indústria, meios de 
comunicação social, direito (ALVES, 2008). 
 
Guarde... 
Psicologia é a ciência que estuda o comportamento humano e seus 
processos mentais, ou seja, é a área da ciência que estuda o que motiva o 
comportamento humano – o que o sustenta, o que o finaliza e também seus 
processos mentais, que passam pela sensação, emoção, percepção, aprendizagem, 
inteligência. 
Os conhecimentos produzidos pela Psicologia e a complexidade e 
capacidade de transformação do ser humano, acabaram por ampliar em grande 
medida sua área de atuação, possibilitando cada área uma gama infinita de 
descobertas sobre o homem e seu comportamento, ou sobre o homem e suas 
relações. 
O estado psicológico humano é fundamental para desfrutar do bem 
individual e, por consequência, o bem comum. Assim, a Psicologia busca 
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permanentemente métodos para o desenvolvimento cognitivo, emocional e 
relacional dos indivíduos e sua interação social. 
16 
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UNIDADE 2 – NEUROLOGIA 
 
 
Figura 3: Neuropsicologia. 
Fonte: https://www.amato.com.br/content/o-que-faz-o-neurologista 
 
2.1 Conceitos e definições 
A Neurologia é a especialidade médica que se dedica ao diagnóstico e 
tratamento das doenças estruturais do Sistema Nervoso Central (composto pelo 
encéfalo e pela medula espinal) e do Sistema Nervoso Periférico (composto pelos 
nervos e músculos), bem como de seus envoltórios (que são as meninges) (REED, 
2004). 
Doença estrutural significa que há uma lesão identificável em nível genético-
molecular (mutação do material genético DNA), bioquímico (alteração de uma 
proteína ou enzima responsável pelas reações químicas que mantêm as funções 
dos tecidos, órgãos ou sistemas) ou tecidual (alteração da natureza histológica ou 
morfológica própria de cada tecido, órgão ou sistema). 
Em outras palavras, existe uma alteração neuroanatômica ou 
neurofisiológica que produz manifestações clínicas, as quais devem ser 
interpretadas. 
Este exercício de associação dos sintomas e sinais neurológicos 
apresentados pelo paciente (diagnóstico sindrômico) com o tipo de função alterada e 
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com a estrutura anatômica a ela associada (diagnóstico anatômico ou topográfico) é 
a base do raciocínio em Neurologia Clínica. 
De acordo com a Academia Brasileira de Neurologia, o Neurologista, 
Neurocirurgião e Neurologista infantil possuem formações diferentes. 
� O Neurologista estuda as doenças que serão tratadas clinicamente, tendo 
durante a sua formação um grande aporte de conhecimento e experiência a 
respeito de medicamentos, as interações entre esses medicamentos e sua 
ação sobre a doença e sobre o indivíduo. Tem antes de tudo uma formação 
clínica e não realiza procedimentos cirúrgicos. 
� O Neuropediatra exerce o mesmo papel do neurologista, mas a sua formação 
é voltada especificamente para as doenças neurológicas de crianças. 
� O Neurocirurgião não é submetido ao mesmo tipo de treinamento do 
neurologista para a aprendizagem do diagnóstico, tratamento clínico e 
conhecimento sobre o manejo das drogas da extensíssima variedade de 
doenças neurológicas. O seu foco é o tratamento das doenças do sistema 
nervoso através de cirurgia e atua, principalmente, em centros cirúrgicos4. 
 
2.2 Surgimento e evolução 
A Neurologia surgiu como uma especialidade da Medicina Interna, durante a 
segunda metade do século XIX, no hospital Salpêtrière, em Paris, França, com o 
médico Jean-Martin Charcot5. Pode-se dizer que, graças a ele, a Neurologia se 
desenvolveu e passou a ser lecionada no ensino universitário da França, por isso 
que Charcot é considerado o “Pai da Neurologia” tendo influenciado todo o mundo, 
inclusive na formação da escola brasileira de Neurologia, sendo este período 
considerado o pré-clássico da história. 
Além de Charcot, podemos incluir alguns discípulos como Joseph Babinski, 
Gilles de la Tourette, Edouard Bissaud e outros que influenciaram a formação 
brasileira. 
 
4 Ver o site: 
http://www.cadastro.abneuro.org/site/conteudo.asp?id_secao=33&id_conteudo=51&ds_secao=Impren
sa 
5 Em 1882, Jean Martin Charcot (1825-1893) foi indicado na Faculdade de Medicina de Paris como 
professor da autônoma disciplina neurológica, notabilizada por seu detentor, apesar de pouco antes a 
Universidade de Harvard ter criado a cadeira de Fisiologia e Patologia de Sistema Nervoso (1864) e a 
Universidade da Pensilvânia, a de Neurologia. 
18 
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recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
Como a maioria dos psiquiatras da segunda metade do século XIX aderiu à 
“Psiquiatria do cérebro”, principalmente a Escola Germânica, a prática 
neuropsiquiátrica era comum, mesmo no Brasil, e em alguns estados brasileiros 
permaneceu assim até meados do século XX. Charcot na Europa e, mais tarde, 
Antônio Austregésilo Rodrigues de Lima (“o pai da Neurologia brasileira”) estudaram 
a histeria com especial atenção. 
Até 1883, Neurologia e Psiquiatria indistintamente eram ministradas pelos 
mestres da Clínica Médica. Teixeira Brandão foi um dos fundadores da Policlínica 
Geral do Rio de Janeiro (1881) e médico do seu Serviço de Moléstias do Sistema 
Nervoso. Em 1893, foi criado no Hospício o Pavilhão de Observação que desde 
então foi dirigido por um professor de Doenças Nervosas e Mentais da Faculdade de 
Medicina do Rio de Janeiro, e não pelo diretor do Hospício. Antônio Austregésilo 
Rodrigues de Lima (1876-1960), fundador da Neurologia Brasileira (1912-1943?), foi 
nomeado para o Hospício Nacional de Alienados em 1904 e tornou-se responsável 
por sua ala masculina. A avaliação de rotina no hospício incluía também um exame 
do sistema nervoso, além de testes antropométricos. Para superar os problemas que 
foram relatados por comissões anteriores, novos pavilhões foram construídos, entre 
eles um para as crianças e epilépticos. Entre os pavilhões preparados para 
epilépticos, incluíram-se Griesinger(para mulheres) e Guislain (para homens). Para 
esses pacientes, camas especiais foram compradas com tábuas de madeira 
forradas que impediam que os pacientes caíssem em caso de crises noturnas. Na 
época, o conhecimento era de que os pacientes com epilepsia podiam cometer o 
pior tipo de loucura, por isso deviam passar por um processo de ordem social e 
proibição de viver livres nas ruas (GOMES, TEIVE, 2012). 
O início da Neurologia formal começa em 1912, com a Neurologia clássica 
brasileira e a primeira cátedra da área. A fundação da Academia Brasileira de 
Neurologia (ABN) se configurou no arauto da Neurologia moderna. A Neurologia 
pós-moderna se situa na atualidade e, especialmente, no âmbito da world wide web 
(rede de alcance mundial), na revolução de costumes, incremento ainda maior de 
conhecimento e de divulgação/ intercâmbio (GOMES; TEIVE, 2012). 
Dando um grande salto na história (século XX e XXI), tempos de constantes 
mudanças sociais, políticas e tecnológicas, o campo da Neurologia conta com as 
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eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
mais variadas técnicas, instrumentos, metodologias e conceitos para estudo, 
diagnóstico e tratamento de doenças neurológicas. 
Enfim, as fases pelas quais passou a Neurologia no Brasil foram muitas. 
Sugerimos a quem interesse por essa parte da história que leia a publicação da 
Associação Brasileira de Neurologia “História da Neurologia Brasileira” que se 
encontra disponível em: 
http://www.cadastro.abneuro.org/site/Livro%20ABN%20Historia%20da%20Neurologi
a%20no%20Brasil.pdf 
 
2.3 Doenças abordadas pela Neurologia 
Se considerarmos a enorme complexidade anatômica e funcional do 
Sistema Nervoso, entende-se que os sinais e sintomas que sugerem uma doença 
neurológica sejam muito variados e possam ocorrer de forma isolada ou combinada 
(REED, 2004). 
Tais sintomas e sinais neurológicos são principalmente: 
a) alterações psíquicas (distúrbios da consciência, do comportamento, da 
atenção, da memória, da organização do pensamento, da linguagem, da percepção 
e da organização de atos complexos, retardo do desenvolvimento neuropsicomotor e 
involução neuropsicomotora); 
b) alterações motoras (déficit de força muscular ou paralisias nos diferentes 
segmentos corporais, distúrbios da coordenação e do equilíbrio, movimentos 
involuntários, por exemplo, tremores, e outros); 
c) alterações da sensibilidade (anestesias, formigamentos, entre outros); 
d) alterações da função dos nervos do crânio e da face (olfação, visão, 
movimentos dos olhos, audição, mastigação, gustação, deglutição, fala, 
movimentação da língua, do ombro e do pescoço); 
e) manifestações endócrinas por comprometimento do hipotálamo ou 
hipófise, que são as áreas do Sistema Nervoso que controlam as glândulas 
endócrinas (atraso de crescimento, puberdade precoce, diabetes insipidus, e 
outras); 
20 
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recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
f) alterações dependentes da função do sistema nervoso autônomo 
(cardiovasculares, respiratórias, digestivas, da sudorese, do controle de esfíncters 
anal e vesical e outras); 
g) manifestações devidas ao aumento da pressão intracraniana, em 
decorrência do aumento de volume de um dos três componentes que ocupam a 
caixa craniana (tecido cerebral, vasos sanguíneos cerebrais ou líquido 
cefalorraquidiano), tais como dor de cabeça e vômitos; crises epilépticas, com ou 
sem convulsões motoras, com ou sem alterações da consciência; manifestações de 
comprometimento das meninges, principalmente rigidez de nuca. 
Por sua vez, as doenças neurológicas podem ter diferentes origens: 
� genética ou hereditária; 
� congênita, ou seja, dependente de um distúrbio do desenvolvimento 
embrionário ou fetal do Sistema Nervoso Central ou Periférico; 
� adquirida, ou seja, ocorrendo, com maior ou menor influência do ambiente, ao 
longo dos diferentes períodos da vida, desde a fase neonatal até a velhice 
(REED, 2004). 
Quanto às doenças mais comuns tratadas pelo neurologista são: 
� cefaleias ou dores de cabeça; 
� distúrbios do sono (insônia, excesso de sono, sono não restaurador, ronco, 
apneia do sono); 
� doenças cérebro-vasculares (AVC) ou “derrames”; 
� distúrbios do movimento (como tremores, tics e doença de Parkinson); 
� demências (como doença de Alzheimer); 
� doenças desmielinizantes (como a Esclerose Múltipla); 
� neuropatias periféricas (como a diabética); 
� doenças musculares e de junção (como a Miastenia Gravis); 
� desmaios, crises convulsivas e epilepsias; 
� tonturas e vertigens; 
� infecções do sistema nervoso (como meningites e encefalites); 
� tumores; 
� doenças degenerativas; 
� déficit de atenção e hiperatividade; 
21 
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� formigamentos, perda de memória, confusão, perda de força, alteração na 
visão, mudança de comportamento, entre outros. 
A Neurologia tem interface com a psiquiatria e pode tratar de casos de 
depressão, ansiedade, irritabilidade, pânico, entre outros (JACOBINA, 2017). 
 
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UNIDADE 3 – NEUROPSICOLOGIA 
 
 
Figura 4: Neuropsicologia. 
Fonte: http://www.inpn.pt/neurop.htm 
 
O Art. 3º da Resolução nº 02, de 03 de março de 2004, do Conselho Federal 
de Psicologia (CFP), define assim a especialidade de Neuropsicologia: 
Atua no diagnóstico, no acompanhamento, no tratamento e na pesquisa da 
cognição, das emoções, da personalidade e do comportamento sob o enfoque da 
relação entre estes aspectos e o funcionamento cerebral. Utiliza-se para isso de 
conhecimentos teóricos angariados pelas neurociências e pela prática clínica, com 
metodologia estabelecida experimental ou clinicamente. Utiliza instrumentos 
especificamente padronizados para avaliação das funções neuropsicológicas 
envolvendo principalmente habilidades de atenção, percepção, linguagem, 
raciocínio, abstração, memória, aprendizagem, habilidades acadêmicas, 
processamento da informação, visuoconstrução, afeto, funções motoras e 
executivas. Estabelece parâmetros para emissão de laudos com fins clínicos, 
jurídicos ou de perícia; complementa o diagnóstico na área do desenvolvimento e 
aprendizagem. 
O objetivo teórico da Neuropsicologia e da reabilitação neuropsicológica é 
ampliar os modelos já conhecidos e criar novas hipóteses sobre as interações 
23 
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cérebro-comportamentais. Trabalha com indivíduos portadores ou não de 
transtornos e sequelas que envolvem o cérebro e a cognição, utilizando modelos de 
pesquisa clínica e experimental, tanto no âmbito do funcionamento normal ou 
patológico da cognição, como também a estudando em interação com outras áreas 
das neurociências, da medicina e da saúde. 
Os objetivos práticos são levantar dados clínicos que permitam diagnosticar 
e estabelecer tipos de intervenção, de reabilitação particular e específica para 
indivíduos e grupos de pacientes em condições nas quais: 
a) ocorreram prejuízos ou modificações cognitivas ou comportamentais 
devido a eventos que atingiram primária ou secundariamente o sistema nervoso 
central; 
b) o potencial adaptativo não é suficiente para o manejo da vida prática, 
acadêmica, profissional, familiar ou social; ou, 
c) foram geradas ou associadas a problemas bioquímicos ou elétricos do 
cérebro, decorrendo disto modificações ou prejuízos cognitivos, comportamentais ou 
afetivos. 
Além do diagnóstico, a Neuropsicologia e sua área interligada de 
Reabilitação Neuropsicológica visam realizar as intervenções necessárias: 
i. junto ao paciente, para que possam melhorar, compensar, contornar ou 
adaptar-se às dificuldades; 
ii. junto aos familiares, para que atuem como coparticipantes do processo 
reabilitativo; 
iii. junto a equipes multiprofissionais e instituições acadêmicas e profissionais, 
promovendo a cooperação na inserção ou reinserção de tais indivíduos na 
comunidade quando possível, ou ainda, na adaptação individual e familiar 
quando as mudanças nas capacidades do paciente forem mais permanentes 
ou a longo prazo. 
Ainda no plano prático, fornece dados objetivos e formula hipóteses sobre o 
funcionamento cognitivo, atuando como auxiliar na tomada de decisões de 
profissionais de outras áreas, fornecendo dados que contribuam para as escolhas de 
tratamento medicamentoso e cirúrgico, excetuando-se as psicocirurgias, assim como 
em processos jurídicos nos quais estejam em questão o desempenho intelectual de 
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indivíduos, a capacidade de julgamento e de memória. Na interface entre o trabalho 
teórico e prático, seja no diagnóstico ou na reabilitação, também desenvolve e cria 
materiais e instrumentos, tais como testes, jogos, livros e programas de computador 
que auxiliem na avaliação e reabilitação dos pacientes. 
Desenvolve atividades em diferentes espaços: 
a) instituições acadêmicas, realizando pesquisa, ensino e supervisão; 
b) instituições hospitalares, forenses, clínicas, consultórios privados e 
atendimentos domiciliares, realizando diagnóstico, reabilitação, orientação à família 
e trabalho em equipe multidisciplinar. 
 
Pois bem, a Neuropsicologia é uma área do conhecimento em pleno e 
constante desenvolvimento. Sua interface com diferentes disciplinas a torna 
indispensável para uma melhor compreensão dos processos cognitivos normais e de 
suas alterações em diferentes estados patológicos. Um dos aspectos da 
Neuropsicologia que vem ganhando grande destaque no mundo todo é sua 
aplicação no estudo dos processos cognitivos envolvidos no envelhecimento normal, 
bem como no das alterações cognitivas associadas a diferentes doenças comuns 
aos idosos, em particular as neurodegenerativas e cerebrovasculares (DINIZ, 2013). 
Outros conceitos trazidos6 por Haase et al (2012): 
A Neuropsicologia é considerada uma disciplina científica que se ocupa das 
relações cérebro/funções cognitivas, ou seja, das funções cognitivas e suas bases 
biológicas (RODRIGUES, 1993). 
É uma ciência de caráter interdisciplinar em suas origens, que busca 
estabelecer uma relação entre os processos mentais e o funcionamento cerebral, 
utilizando conhecimento das neurociências, que elucidam a estrutura e o 
 
6 RODRIGUES, N. Neuropsicologia: uma disciplina científica. Em: Rodrigues, N. & Mansur, L. L. 
(Eds.). Temas em neuropsicologia, 1, 1-18. São Paulo: Tec Art., 1993. 
SERON, X. Toward a cognitive neuropsychology. International Journal of Psychology, 17, 149-156, 
1982. 
LEZAK, M. D., HOWIESON, D. B., & LORING, D.W. Neuropsychological Assessment (4th ed.). New 
York: Oxford University Press, 2004. 
BARBIZET, J., & DUIZABO, P. Manual de Neuropsicologia. Porto Alegre: Artmed, 1985. 
LURIA, A. R. Higher cortical functions in man. New York: Basic Books, 1966. 
BENTON, A. L. Introducción a la neuropsicología. Barcelona: Fontanella, 1971. 
25 
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funcionamento cerebral, e da Psicologia, que expõe a organização das operações 
mentais e do comportamento (SERON, 1982). 
Define-se também como uma ciência dedicada a estudar a expressão 
comportamental, emocional e social das disfunções cerebrais (LEZAK et al., 2004), 
os déficits em funções superiores produzidos por alterações cerebrais (BARBIZET & 
DUIZABO, 1985), as inter-relações entre cérebro e comportamento, cérebro e 
funções cognitivas (LURIA, 1966) e, de forma mais ampla, as relações entre cérebro 
e comportamento humano (BENTON, 1971). Entre as funções neuropsicológicas 
estão atenção, percepção, orientação autopsíquica, temporal e espacial, linguagem 
oral e escrita, memória, aprendizagem, funções motoras, praxias, raciocínio, cálculos 
e funções executivas. 
 
3.1 Aspectos históricos 
Mais uma vez vimos enaltecer a história, pois ela sempre é um recurso 
precioso para o estudo do movimento das ideias, isto é, o surgimento de uma 
determinada proposição, seu impacto imediato ou tardio, seu declínio, seu retorno 
em outro tempo sob condições diferentes, ou a rejeição definitiva pela falta de 
evidências (KRISTENSEN; ALMEIDA; GOMES, 2001). 
A Neuropsicologia é uma ciência do século XX, que se desenvolveu 
inicialmente a partir da convergência da neurologia com a Psicologia, no objetivo 
comum de estudar as modificações comportamentais resultantes de lesão cerebral. 
Atualmente, podemos situá-la numa área de interface entre as neurociências (neste 
caso, ela também pode ser chamada de neurociência cognitiva), e as ciências do 
comportamento (Psicologia do desenvolvimento, Psicolinguística, entre outras) 
entendendo que o seu enfoque central é o estudo da relação sistema nervoso, 
comportamento, e cognição, ou seja, o estudo das capacidades mentais mais 
complexas como a linguagem, a memória, e a consciência (PINHEIRO 2005). 
Vamos nos contradizer... embora, seja uma ciência nova, em franco 
desenvolvimento e recheada de novas descobertas, podemos dizer que sua história 
começa na Antiguidade. Vejamos: 
De acordo com Lent (2002), desde os primórdios, as antigas civilizações 
como: astecas, maias, egípcios, chineses e assírios tinham curiosidade em 
26 
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compreender a mente em relação ao corpo, inclusive cogitavam que o encéfalo era 
essencial para a vida, pois era a base da cognição e doscomportamentos humanos. 
Posteriormente, grandes colaboradores para o avanço da ciência como Hipócrates, 
Aristóteles, Galeno, Charles Darwin, Galvani, Broca, Franz Gall, entre outros, 
mostram diferentes estudos sobre a anatomia do corpo sob diversos pontos de vista. 
Os filósofos afirmavam que a mente estava localizada no cérebro, pois a 
questão da região em que encontrava-se a mente era muito evidente, veja: 
� Pitágoras (580-510 a.C.) admitia que no encéfalo estava situada a mente, 
enquanto no coração localizavam-se a alma e as sensações; 
� Alcmeon (cerca de 500 a.C.) descreveu os nervos ópticos e investigou os 
distúrbios funcionais do encéfalo, considerando-o a sede do intelecto e dos 
sentidos; 
� Hipócrates (cerca de 460-370 a.C.) discutiu a epilepsia como um distúrbio do 
encéfalo, e o considerava como sede da inteligência e das sensações (tese 
cefalocentrista); 
� Platão (427-347 a.C.) considerava o encéfalo como sede do processo mental 
e julgava a alma tríplice, sendo o coração a sede da alma afetiva, o cérebro 
da alma intelectual, e o ventre da concupiscência (apetite sexual); 
� Aristóteles (384-322 a.C.) admitia ser o coração o centro das sensações, das 
paixões e da inteligência (tese cardiocentrista), enquanto o encéfalo tinha 
como função refrigerar o corpo e a alma; 
� Herófilo (335-280 a.C.), médico de Alexandria, efetuou grandes avanços 
anatômicos, estudando com minúcias, entre outros, o sistema nervoso central 
e o periférico (PINHEIRO 2005). 
A última grande contribuição da Idade Antiga veio de Galeno (129-200 a.C.), 
cujas teorias sobre o corpo humano, com seus acertos e erros, dominaram a 
medicina por quatorze séculos. Para ele, os nervos originavam-se no cérebro e na 
medula e não no coração como ensinava Aristóteles. Os nervos seriam condutos 
que transportariam os fluidos secretados pelo cérebro e medula espinhal para a 
periferia do corpo. O cérebro seria a sede da sensação, do movimento e do 
intelecto. Galeno explicava que a sensação era a mudança qualitativa de um órgão 
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sensitivo e a percepção, enquanto ação do cérebro, era a consciência dessa 
mudança (KRISTENSEN; ALMEIDA; GOMES, 2001; PINHEIRO, 2005). 
O problema corpo-alma continuou a preocupar o homem e durante a 
segunda metade do século XVII e o início do século XVIII, motivou vários 
pesquisadores na proposição de novas interpretações; tais ideias, contudo, tinham 
como característica principal o fato de que se baseavam em especulações e não em 
observações clínicas ou experimentais. Uma das teorias melhor conhecida é a de 
René Descartes (1596-1650); esta teoria admitia que a alma (denominada res 
cogitans, “a coisa pensante”) era uma entidade livre, não substantiva, imaterial, 
indivisível e o corpo (res extensa, “extensão da coisa”) uma parte mecânica, 
material, divisível. 
Embora diferentes, a alma interagia com o corpo por meio da glândula 
pineal, que também funcionava como centro de controle. Assim, no conceito 
cartesiano, a alma (o espírito) transcende o corpo e este é matéria dotada de 
movimento, como uma máquina (KRISTENSEN; ALMEIDA; GOMES, 2001; 
PINHEIRO, 2005). 
Esta teoria provocou uma “dissociação mente e corpo e os indivíduos 
passaram a se identificar com a sua mente racional e não com o organismo” 
(SANVITO, 1991, p. 152); surgiram então as expressões “corpo sem alma”, “alma 
sem corpo”, e “de corpo e alma” (completamente, inteiramente). 
Damásio (1996) discute a afirmação “penso, logo existo” (em francês, “je 
pense, donc je suis”), publicada por Descartes, em 1637, na obra O discurso do 
método, e depois, em 1644, na obra Princípios de Filosofia (em latim, “cogito ergo 
sun”). Para Damásio, a referida citação afirma o oposto daquilo que ele acredita ser 
verdade acerca das origens da mente e da relação entre a mente e o corpo. Isso 
porque o conhecimento atual sobre o desenvolvimento filogenético (entre espécies 
biológicas) e ontogenético (em uma espécie biológica; no caso, Homo sapiens) 
permite-nos compreender que muito antes do aparecimento da humanidade, os 
seres já eram seres. O surgimento de uma consciência elementar e com ela uma 
mente simples, que com uma maior complexidade possibilitou o pensar e, mais tarde 
o uso de linguagens para comunicar e melhor organizar os pensamentos, é anterior 
ao surgimento dos humanos modernos. Mesmo no presente, quando viemos ao 
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mundo e nos desenvolvemos, começamos por existir, e só mais tarde pensamos; 
daí, para Damásio (1996, p. 279) “existimos e depois pensamos e só pensamos na 
medida em que existimos, visto o pensamento ser, na verdade, causado por 
estruturas e operações do ser”. 
 
A crença de Descartes em uma mente separada do corpo, uma mente 
desencarnada, contribuiu para alterar o rumo da medicina, ajudando-a a 
abandonar a abordagem da mente-no-corpo que predominou de Hipócrates 
até o Renascimento, e moldou a forma peculiar como a medicina ocidental 
aborda a investigação e o tratamento da doença (prática médica). Como 
resultado, as consequências psicológicas das doenças do corpo, 
propriamente dito, as chamadas doenças físicas, são normalmente 
ignoradas ou levadas em conta muito mais tarde; mais negligenciados ainda 
são os efeitos dos conflitos psicológicos no corpo (DAMÁSIO, 1996, p. 282). 
 
Além disso, a ideia cartesiana da mente separada do corpo explica porque 
ainda hoje muitos investigadores em Psicologia se julgam capazes de entender a 
mente sem nenhum recurso à Neurobiologia (“Psicologia sem cérebro”) ou porque 
para muitos neurocientistas a mente pode ser perfeitamente explicada em termos de 
fenômenos cerebrais, deixando de lado o resto do organismo e o meio ambiente 
físico e social (ignorando também que o próprio meio é um produto das ações 
anteriores do organismo) (PINHEIRO, 2005). 
No século XVIII, os esforços para a explicação da relação mente-cérebro 
prosseguiram com os trabalhos de David Hartley (1705-1757), de Albrecht von Haller 
(1707-1777) e do húngaro Porchaska (1749-1820). Hartley recorreu à teoria das 
vibrações no Principia de Newton, publicado em 1687, para explicar a sensação 
como um processo físico. Assim, as alterações dos nervos, produzidas pela ação de 
um objeto sobre o organismo constituindo impressões eram para ele decorrentes de 
vibrações. Para tanto, nervos, medula espinhal e cérebro eram descritos como 
uniformes, homogêneos e formados por uma só substância. 
Haller interessou-se pelas localizações cerebrais, mostrando inicialmente 
que o córtex não era a sede da sensação nem causa exclusiva do movimento. A 
base da sensação e do movimento era a substância branca do cérebro e do 
cerebelo. Ademais, Haller definiu a memória como sendo a persistência das 
impressões sobre a substância cerebral. As circunvoluções do cérebro eram para 
aumentar o espaço disponível para a memória. 
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Porchaskalocalizou as faculdades (imaginação, percepção, memória) no 
ponto terminal interno dos nervos. Mesmo com os avanços decorrentes da pesquisa 
anatômica, os cientistas no século XVIII ainda consideravam o cérebro como um 
órgão homogêneo, que distribui energia vital para todas as partes do corpo, atuando 
conforme a vontade do indivíduo (LECOURS; LHERMITTE, 1983 apud 
KRISTENSEN; ALMEIDA; GOMES, 2001). 
No século XIX, a descoberta de que o córtex cerebral, até então considerado 
homogêneo do ponto de vista funcional, apresentava áreas anatomicamente 
definidas, deu suporte à ideia de que diferentes funções mentais estavam alojadas 
nas diferentes porções do córtex. O mais ilustre e provavelmente o primeiro 
proponente da localização cerebral das funções mentais foi o austríaco Franz 
Joseph Gall (1758-1828), o qual acreditava que o cérebro era na verdade um 
conjunto de órgãos separados, cada um dos quais controlava uma “faculdade” 
(aptidão) inata separada (WALSH, 1994, p. 14 apud PINHEIRO, 2005). 
Originalmente, Gall postulou a existência de 27 “faculdades afetivas e 
intelectuais” (entre elas, benevolência, agressividade, sentido da linguagem, amor 
parental); este número foi posteriormente aumentado. O desenvolvimento de uma 
determinada “faculdade” causava uma hipertrofia na zona cortical correspondente; 
esta zona hipertrofiada exercia pressão sobre a calota craniana, produzindo neste 
local uma pequena saliência óssea. As funções pouco desenvolvidas ou ausentes 
produziam, ao contrário, uma depressão na superfície craniana. 
Assim, pelo processo da cranioscopia (apalpação das proeminências) o 
praticante da Frenologia poderia determinar a natureza das propensões do 
indivíduo. E como as “faculdades” se encontravam em áreas circunscritas, essas 
ideias deram origem à chamada corrente localizacionista (e ao consequente 
surgimento dos mapas frenológicos). 
Descartada a partir de meados do século XX enquanto procedimento 
científico, a Frenologia, ainda hoje apresenta muitos adeptos. Quem nunca ouviu as 
expressões “cabeça chata” e “testa baixa”; elas se mantêm de uso corrente e são 
usadas no cotidiano para denotar pouca inteligência ou mesmo características de 
sujeitos de “raça inferior” (numa clara alusão preconceituosa) (PINHEIRO, 2005). 
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Gall estabelecia a função a partir do sintoma, isto é, se a lesão de uma 
determinada zona do cérebro causava perturbação de um determinado 
comportamento, isso se devia ao fato desta atitude ter sua sede nesta região. 
Admitir que cada parte do córtex cerebral tem uma função diferente deveria 
permitir, por exemplo, que se provocasse deficiências comportamentais específicas 
por meio da remoção de porções circunscritas desse córtex; com o intuito de testar 
essa hipótese, muitos cientistas começaram a provocar lesões cerebrais em animais 
de laboratório e a observar suas consequências. Para Herculano-Houzel (2001, p. 
21), “estes experimentos marcaram o nascimento da neurociência experimental que 
conhecemos hoje”. 
Entre os opositores do localizacionismo, merece destaque o Fisiologista 
francês Marie-Jean-Pierre Flourens (1794-1867); este acreditava que as funções 
mentais não dependiam de áreas particulares do sistema nervoso, mas que este 
funcionava como um todo, de modo orquestrado, integrado. Suas ideias anteciparam 
a noção de equipotencialidade (plasticidade neuronal), isto é, a capacidade de 
outras partes do cérebro assumirem funções do tecido neural lesado e deram início 
ao movimento que resultou na corrente holista (não localizacionista, unitarista) da 
função cerebral. 
O século XIX foi também particularmente importante por ter demarcado o 
nascimento da Neuropsicologia da linguagem. Isso porque, embora a literatura 
inclua registros de observações clínicas sobre distúrbios de linguagem em 
decorrência de traumatismo cerebral feitos há milhares de anos, foi apenas no 
século XIX que as correlações anátomo-clínicas entre lesões cerebrais e patologia 
da linguagem tornaram-se um importante foco de atenção. 
Entre os estudiosos que investigaram indivíduos com comprometimento na 
linguagem decorrentes de lesão cerebral, destaca-se o médico e antropólogo 
francês Pierre-Paul Broca (1824-1880) e o neurologista alemão Carl Wernicke 
(1848-1905). 
 
Em 1865, baseando-se em vários estudos anatomo-patológicos de 
pacientes com perda da fala (‘amnésia verbal’), Broca estabeleceu para 
sede da linguagem articulada a parte posterior da terceira circunvolução 
frontal do hemisfério esquerdo (região atualmente conhecida como área de 
Broca). O distúrbio descoberto por Broca foi por ele denominado de afemia, 
mas na literatura médica, o termo consagrado foi ‘afasia’. Anos depois, 
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Broca publicou a famosa frase ‘nous parlons avec l’hémisphère gauche’ – 
nós falamos com o hemisfério esquerdo (WALSH, 1994, p. 17). 
 
A frase de Broca depois se tornou um marco na história do funcionamento 
cerebral. A localização da sede da faculdade de expressão oral no hemisfério 
esquerdo não implicava apenas na aceitação de uma assimetria funcional dos 
hemisférios cerebrais; Broca também acreditava que, no que tange a linguagem 
expressiva, o hemisfério esquerdo era dominante sobre o direito, ou seja, o direito 
exercia apenas papel coadjuvante ou secundário. 
Note-se que a ideia da dominância hemisférica é precursora da concepção 
moderna de especialização funcional dos hemisférios cerebrais que, em síntese, 
admite que os dois hemisférios sempre trabalham em conjunto, mas como detêm 
especializações funcionais, um se encarrega de um grupo de funções enquanto o 
segundo encarrega-se de outro; no caso dos dois hemisférios realizarem a mesma 
função, as diferenças residem nos modos de execução ou estratégias funcionais de 
cada hemisfério. 
Em 1874, Wernicke mostrou que, assim como uma lesão unilateral anterior é 
suficiente para perturbar a expressão oral, uma lesão do mesmo lado localizada 
posteriormente no hemisfério esquerdo causa frequentes problemas de 
compreensão da linguagem falada. Esses problemas são associados a uma 
linguagem fluente, mas aberrante, sendo que a pessoa erra ao usar palavras ou 
sons. 
 
A área atingida pelas lesões estudadas por Wernicke recebeu, 
posteriormente, em sua homenagem, a denominação de área de Wernicke 
e, atualmente, tem sido considerada restrita ao terço posterior do giro 
temporal superior esquerdo, incluindo a parte oculta do assoalho do sulco 
lateral de Sylvius (LENT, 2001, p. 636). 
 
Deve-se também a Wernicke, a elaboração do primeiro modelo científico do 
processamento linguístico − este modelo considera que a área de Broca contém os 
programas motores da fala (isto é, as memórias dos movimentos, que permitem a 
estes expressar os fonemas, compô-los em palavras e estas em frases), enquanto a 
área descrita por Wernicke contém as memórias dos sons que compõem as 
palavras, possibilitando sua compreensão. Quando as duas áreas se conectam, a 
pessoa associa a compreensão das palavras ouvidas com a sua própria fala. 
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Anatomicamente, as duas áreas são conectadas por um feixe de fibras nervosas 
que se encontra imerso na substância branca cortical e se denomina feixe arqueado. 
Assim, Wernicke previu corretamente que uma lesão desse feixe deveria provocar 
uma “afasia de condução”, na qual os pacientes seriam capazes de apresentar uma 
fala fluente, mas cometendo erros de repetição e de resposta a comandos verbais. 
A descoberta do fato de que formas complexas de atividade mental podiam 
ser localizadas em regiões circunscritas do córtex cerebral da mesma forma que 
funções elementares (tais como movimento e sensação), suscitou a realização, por 
mais de meio século, de um grande número de estudos que visavam demonstrar 
que todos os processos mentais complexos eram o resultado do funcionamento de 
áreas locais individuais. Tal abordagem de estudo é dita reducionista 
(KRISTENSEN; ALMEIDA; GOMES, 2001; PINHEIRO; 2005). 
Paralelamente ao trabalho de Broca e Wernicke, foram descritas áreas 
cerebrais responsáveis por funções não linguísticas. Por exemplo, em 1855, o 
neurologista italiano Panizza relatou uma importante descoberta: cegueira 
permanente desenvolvida em indivíduos com uma lesão na região occipital (LURIA, 
1966). 
Esta descoberta foi posteriormente reforçada pela observação de que 
animais com tais lesões, embora retivessem a visão, perdiam formas mais 
complexas de percepção visual. Em 1881, Munk observou em cachorros que a 
destruição de áreas occipitais dos hemisférios cerebrais produzia um fenômeno 
característico: o animal mantinha a habilidade para ver e evitar objetos, mas não 
conseguia reconhecê-los (Luria, 1966 apud KRISTENSEN; ALMEIDA; GOMES, 
2001). 
Após vários recortes ao longo da história, vamos chegando aos séculos XX 
e XXI, mas somente com algumas amostras dos acontecimentos, pois estes serão 
vistos em detalhes ao longo do curso. 
O termo Neuropsicologia foi usado pela primeira vez pelo neurologista 
William Osler, em 1913, mas já sabemos que essa área do conhecimento é bem 
mais antiga e interdisciplinar. A Neuropsicologia, tal como conhecemos hoje, surge, 
em 1932, na França, como o trabalho pioneiro de três autores representantes de 
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diferentes áreas: um neurologista (Aloajouanine), um psicólogo (Ombredane) e uma 
linguista (Duran). 
É importante salientar que a história da Neuropsicologia se mescla com a 
história da Neuropsicologia da Linguagem (ou Neuropsicolinguística), desde o início 
da década de 1860, com as ideias de Dax (1836) e de Broca (1861) sobre o papel 
especial do hemisfério cerebral esquerdo (HE) para a fala/linguagem. Conhecida 
inicialmente como “afasiologia”, apenas a partir de 1932 ela se torna realmente uma 
área interdisciplinar, congregando as áreas de Neurologia, Linguística e Psicologia 
(KRISTENSEN; ALMEIDA; GOMES, 2001; PINHEIRO, 2005; HAASE et al., 2012). 
Kristensen; Almeida e Gomes (2001) ressaltam que o termo Neuropsicologia 
apareceu ainda como um subtítulo na obra de 1949 de Donald Hebb chamada The 
Organization of Behavior: A Neuropsychological Theory. No entanto, anterior a esta 
data, a Psicologia já almejava o status de ciência através da Psicologia Fisiológica. 
O termo Psicologia Fisiológica foi, na verdade, proposto por Wundt como título do 
seu livro ‘Princípios da Psicologia Fisiológica’, publicado em 1874 e reeditado na 
Alemanha até 1911. Durante muitos anos ‘Psicologia Fisiológica’ foi um termo 
genérico utilizado para se referir a pesquisas realizadas em laboratório e, por isso, 
mais associado ao método do que ao objeto. As mudanças na agenda da Psicologia, 
por influência do evolucionismo, intensificaram os estudos funcionais sobre 
comportamento, pensamento e inconsciente, colocando em segundo plano as 
relações entre mente e cérebro. Esse interesse continuou com muito vigor entre 
médicos que tratavam e estudavam os problemas de afasia e a associação desta 
disfunção com alguma parte do cérebro. 
Recentemente, os sistemas linguísticos foram tratados pelos psicolinguistas 
sob uma abordagem neuropsicológica, passando-se a produzir obras especializadas 
nas bases neurais da linguagem. Entre tantas contribuições, destacam-se as 
revisões conceituais sobre as áreas de Broca e de Wernicke, anteriormente citadas. 
O “modelo neurolinguístico”, proposto por Wernicke, foi substituído pelo 
“modelo neuroanatômico conexionista da linguagem falada”, que surgiu a partir da 
análise dos sintomas de pacientes com lesões pequenas e envolve a interação de 
diversas áreas corticais, mais restritas do que as definidas por Broca e Wernicke. 
Pelo modelo conexionista, a área de Wernicke não é a responsável pela 
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compreensão do significado das palavras, mas faria a identificação das palavras 
como tal, isto é, seria uma das sedes do léxicon fonológico. 
A afasia de compreensão propriamente dita seria típica de lesões mais 
posteriores, que atingem o giro angular e o supramarginal; nessas regiões estaria 
uma das sedes do léxicon semântico ou mesmo o centro conceitualizador. Pacientes 
com lesões nestes locais repetem corretamente as palavras, mas não entendem o 
que repetiram. Outro tipo de afasia de compreensão surge a partir de lesões dos 
giros temporais médios e inferior (também locais do léxicon semântico); esta afasia é 
denominada anômica fluente porque os pacientes têm fluência verbal, mas 
incapacidade de identificar nomes de pessoas, animais ou objetos. 
 
A revisão feita sobre a área de Broca considera que os portadores de 
distúrbios de expressão mais severos apresentam alguma disartria 
(dificuldade de articular a fala; um distúrbio claramente motor), afasia 
anômica não fluente (fala dificultada principalmente nos verbos) e 
agramatismo (dificuldade de construir frases gramaticalmente corretas). 
Contudo, nos casos de lesões mais restritas, esses sintomas aparecem 
dissociados; por exemplo, anomia com disartria surge quando as lesões 
envolvem, além da área de Broca, as regiões motoras e pré-motoras 
posteriores da fala (LENT, 2001, p. 638). 
 
A partir da segunda metade do século XX, a Neuropsicologia firmou-se 
efetivamente enquanto área de estudo, e embora a linguagem tenha sido a área 
mais amplamente investigada, diversos temas têm sido enfatizados nos últimos anos 
tais como: a atenção, a percepção visual e auditiva, e a memória. 
Ainda entre os avanços obtidos, destacam-se a introdução e o 
desenvolvimento de técnicas de observação do cérebro e/ou de sua atividade 
(tomografia computadorizada, ressonância magnética, tomografia por emissão de 
pósitrons, entre outros), o aperfeiçoamento dos instrumentos de avaliação 
neuropsicológica, e o desenvolvimento de métodos de intervenção com o objetivo de 
obter a restauração de funções psíquicas superiores comprometidas por lesão 
cerebral (PINHEIRO, 2005). 
 
Guarde... 
� Experimentalismo (século XIX) – envolve a mente e as sensações, e as 
influências do inato e do aprendido sobre estes fenômenos. 
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