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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 2 UNIDADE 1 – PSICOLOGIA: COMEÇO DE CONVERSA ......................................... 5 1.1 Conceitos e definições ....................................................................................... 5 1.2 Surgimento e evolução ...................................................................................... 6 1.3 Objeto e objetivos ............................................................................................ 11 1.4 Campos de atuação ......................................................................................... 11 UNIDADE 2 – NEUROLOGIA ................................................................................... 16 2.1 Conceitos e definições ..................................................................................... 16 2.2 Surgimento e evolução .................................................................................... 17 2.3 Doenças abordadas pela Neurologia ............................................................... 19 UNIDADE 3 – NEUROPSICOLOGIA ........................................................................ 22 3.1 Aspectos históricos .......................................................................................... 25 3.2 A interdisciplinaridade da Neuropsicologia ...................................................... 35 3.3 Neuropsicologia molecular ............................................................................... 38 3.4 A Neuropsicologia no Brasil ............................................................................. 41 UNIDADE 4 – NEUROIMAGEM APLICADA ............................................................ 44 UNIDADE 5 – MÉTODOS QUANTITATIVOS EM NEUROPSICOLOGIA – A PSICOMETRIA ......................................................................................................... 50 5.1 Medir, provar, testar ......................................................................................... 51 5.2 A Teoria Clássica dos Testes – TCT ............................................................... 54 5.3 A Teoria de Resposta ao Item – TRI ............................................................... 56 5.4 Parâmetros dos testes: fidedignidade, validade e normatização ..................... 57 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 61 2 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. INTRODUÇÃO Velocidade de informação, inovações tecnológicas, tragédias, conquistas, novos valores, conhecimentos sendo produzidos, desconstruídos, reelaborados! Essas são algumas caraterísticas deste mundo contemporâneo em que vivemos e que ao mesmo tempo nos fascina e nos atormenta. E nesse emaranhado de fatos e sentimentos, eis que vimos surgir uma ciência, a qual muito tem contribuído para o estudo das relações cérebro- comportamento, investigando áreas cognitivas do indivíduo, a Neuropsicologia. Por dedução óbvia, Neuropsicologia é uma especialidade clínica da Psicologia que estuda a relação entre cérebro e comportamento humano, abordando questões sobre o funcionamento cerebral saudável e patológico. Figura 1: Neuropsicologia. Fonte: http://www.clinicarenove.com/Blog/12Jul16-Voce-sabe-o-que-e-Neuropsicologia Para começo de conversa, precisamos dos conceitos, definições, história e evolução da Psicologia e Neurologia para que o nosso caminhar até a Neuropsicologia seja claro e sem tropeços, por isso, neste módulo introdutório, partiremos justamente das disciplinas acima! 3 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Bastos e Rocha (2007) justificam a importância das interações que levaram à Neuropsicologia, ao afirmarem que as transições que marcam o mundo contemporâneo e, mais especificamente, a produção de conhecimento sobre ele, sinalizam claramente a falência de qualquer abordagem disciplinar que, fechada em seus próprios domínios, desconsidere o diálogo com outras disciplinas e minimize a necessidade de construir pontes entre diferentes perspectivas para uma maior e mais apropriada compreensão de qualquer parcela da realidade. Igualmente, para Xavier e Helene (2007, p. 188), ao se tratar os fenômenos psíquicos como originários de processos biológicos, ampliam-se nossas possibilidades de entendê-los, com ganhos científicos e teóricos, além dos sociais, éticos e morais, gerando-se um quadro explanatório mais coerente sobre esses fenômenos. Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se fazem necessárias: 1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas efetivamente e outras somente consultadas, principalmente artigos retirados da World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao acesso facilitado na atualidade e até mesmo democrático, ajudam sobremaneira para enriquecimentos, para sanar questionamentos que por ventura surjam ao longo da leitura e, mais, para manterem-se atualizados. 2) Deixamos bem claro que esta composição não se trata de um artigo original1, pelo contrário, é uma compilação do pensamento de vários estudiosos que têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser deixados de lado, apesar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aquela capaz de comunicar-se com o presente, mesmo que seu passado datável esteja separado pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância. 3) Em se tratando de Jurisprudência, entendida como “Interpretação reiterada que os tribunais dão à lei, nos casos concretos submetidos ao seu 1 Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, anais de congresso ou similares. 4 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. julgamento” (FERREIRA, 2005)2, ou conjunto de soluções dadas às questões de direito pelos tribunais superiores, algumas delas poderão constar em nota de rodapé ou em anexo, a título apenas de exemplo e enriquecimento. 4) Por uma questão ética, a empresa/instituto não defende posições ideológico-partidária, priorizando o estímulo ao conhecimento e ao pensamento crítico. 5) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou seja, baseada em normas e padrões da academia, portanto, pedimos licença para fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Por fim: 6) Deixaremos em nota de rodapé, sempre que necessário, o link para consulta de documentos e legislação pertinente ao assunto, visto que esta última está em constante atualização. Caso esteja commaterial digital, basta dar um Ctrl + clique que chegará ao documento original e ali encontrará possíveis leis complementares e/ou outras informações atualizadas. Caso esteja com material impresso e tendo acesso à Internet, basta digitar o link e chegará ao mesmo local. 2 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio. Versão 5.0. Editora Positivo, 2005. 5 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. UNIDADE 1 – PSICOLOGIA: COMEÇO DE CONVERSA 1.1 Conceitos e definições Psicologia é a ciência da alma, ou da psique, ou da mente, ou do comportamento. Etimologicamente a expressão Psicologia deriva das palavras gregas “psyché” (alma, espírito) e “logos” (estudo, razão, compreensão), portanto, podemos dizer: estudo ou compreensão da alma. Essa ciência refere-se, na verdade, a um conjunto de funções que se distinguem em três grandes vias: � a via ativa (movimentos, instintos, hábitos, vontade, liberdade, tendências, e inconsciente); � a via afetiva (prazer e dor, emoção, sentimento, paixão, amor); � a via intelectiva (sensação, percepção, imaginação, memória, ideias, associação de ideias). Essas três vias articulam-se em grandes sínteses mentais, tais como: atenção, linguagem e pensamento, inteligência, julgamento, raciocínio e personalidade (MEYNARD, 1958 apud GOMES, 2005). Essas funções também são conhecidas como cognitivas, afetivas e conativas. As cognições são as capacidades do intelecto, as afeições são os sentimentos e emoções, e a conação refere-se às nossas atividades, que são as respostas expressivas ou comportamentais. A Psicologia é ciência que gera uma prática profissional. Enquanto ciência tem por objetivo explicar como o ser humano pode conhecer e interpretar a si mesmo e como pode interpretar e conhecer o mundo em que vive (aí incluídas a interação dos indivíduos entre si, a interação com a natureza, com os objetos e com os sistemas sociais, econômicos e políticos dos quais façam parte). Enquanto prática profissional, a Psicologia coloca o conhecimento por ela acumulado a serviço de indivíduos e instituições (IP/USP, 2017). A Psicologia constitui-se numa ciência que, reconhecidamente, tem exercido uma função social de grande relevância, quer como área de conhecimento que tem contribuído para ampliar a compreensão dos problemas humanos, quer como campo de atuação cada vez mais vasto e efetivo na intervenção sobre estes (ANTUNES, 2014). 6 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Figura 2: Psicologia. Fonte: http://mundodapsi.com/tag/psicologia/ 1.2 Surgimento e evolução Concordamos com Campos (2008) ao inferir que o conhecimento do passado é condição essencial para a melhor orientação das escolhas feitas no presente, e para ampliar as bases da reflexão sobre a condição humana e sobre o papel das reflexões em Psicologia ao longo dessa trajetória. Por isso, vamos falar, mesmo que com breves recortes, sobre sua evolução. Também é fato que, apesar de nossos antepassados terem uma história de muitos milhares de anos, temos que aceitar que o número “cem” é uma marca razoável para comemorações, não é verdade? Pois bem, em 1979 começaram as comemorações do centenário de fundação do laboratório de Wilhelm Wundt em Leipzig, na Alemanha. Wundt (1832-1920), médico, filósofo e psicólogo alemão, é considerado um dos fundadores da Psicologia Experimental junto com Ernst Heinrich Weber e Gustav Theodor Fechner. Podemos dizer que foi Wundt que determinou o objeto de estudo, o método de pesquisa, os tópicos a serem estudados e os objetivos da nova ciência, tanto que o ‘seu’ Primeiro Laboratório de Psicologia Experimental seguiu os modelos dos laboratórios das ciências naturais e logo se tornou um centro de investigação, 7 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. permitindo a Wundt atingir o seu principal objetivo que era contribuir para o processo de autonomização da Psicologia relativamente à Psicologia. Influenciado pelas descobertas da química, segundo as quais todas as substâncias químicas são compostas por átomos, foi decompor a mente nos seus elementos mais simples, que são as sensações. Tanto para Wundt como para os seguidores do estruturalismo, as operações mentais resultam da organização de sensações elementares que se relacionam com a estrutura do sistema nervoso. Wundt recorre aos métodos experimentais das ciências naturais, particularmente as técnicas usadas pelos fisiologistas, e adaptou os seus métodos científicos de investigação aos objetivos da Psicologia. Dessa forma, a Fisiologia e a Filosofia ajudaram a moldar tanto o objeto de estudo da nova ciência como os seus métodos de investigação. Deixemos Wundt um pouco de lado e lembremos que no mundo atual, o desenvolvimento científico e tecnológico tem alcançado patamares nunca antes imaginados. Tempo e espaço adquirem novos significados com a eliminação das distâncias pelas redes informatizadas. Novos conhecimentos vêm transformar profundamente a estrutura produtiva, a educação, a assistência à saúde, as artes, as relações humanas (ANTUNES, 2014). Alguns velhos problemas, no entanto, não apenas permanecem como tendem a agravar-se: a miséria, a exclusão social, a violência, a limitação do acesso ao saber e à saúde, o desemprego, a xenofobia, o racismo, as guerras imperialistas, a escassez de perspectivas existenciais. Nesse panorama, os problemas do presente e os que vislumbramos para um futuro próximo impõem à Psicologia tarefas cada vez maiores e mais desafiadoras; disso decorre a imperativa necessidade de reflexão sobre seu significado e sua responsabilidade na construção do devir histórico. É preciso que tenhamos uma compreensão mais ampla da Psicologia e de sua relação com a sociedade (ANTUNES, 2014). Nessas idas e vindas ao passado, que se mescla com o presente, a verdade é que conhecer a história ajuda a evitar os erros do passado e a prever o futuro, mas seu maior valor está em permitir-nos compreender o presente. 8 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Como diz Goodwin (2005), o conhecimento da história coloca os fatos da atualidade numa perspectiva melhor, contribui para que nos imunizemos contra a crença de que o presente tem problemas insuperáveis em relação aos velhos tempos. Cada era tem seus problemas. O conhecimento da história também contribui para reduzir a tendência a pensar que as realizações da atualidade representam uma culminância do “progresso” que conseguimos em relação às realizações inferiores do passado. Nesse sentido, Cambaúva (2000) reforçaque, ao mesmo tempo em que a Psicologia é uma ciência antiga, ela é jovem! Enquanto Ciência autônoma é jovem, pois data da segunda metade do século XIX; entretanto, formulações psicológicas, como psique e fenômenos psíquicos (consciência, sensação, percepção, sonhos, memória) já preocupavam os filósofos da antiguidade. Quanto à evolução no Brasil, Antunes (2014) nos conta que a preocupação com os fenômenos psicológicos fez-se presente em ‘terras tupiniquins’3 desde os tempos da colônia, aparecendo em obras escritas nas diferentes áreas do saber e, mais tarde, durante o século XIX, em produções advindas de instituições como faculdades de medicina, hospícios, escolas e seminários. As mudanças advindas com o Império (século XIX) e mesmo com autonomia relativa, trouxe profundas transformações à sociedade brasileira, entre as quais se incluem significativas mudanças no plano cultural, inserindo-se aí a produção de ideias e práticas de natureza psicológica. Nesse contexto, o pensamento psicológico produzido nesse período diferenciou-se do precedente, particularmente pela vinculação às instituições então criadas. A produção do saber psicológico ainda foi gerada, no entanto, no interior de outras áreas de conhecimento, fundamentalmente na Medicina e na Educação. As Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia foram criadas em 1832, tendo sua origem nas Cadeiras de Cirurgia, na Bahia, e de Cirurgia e Anatomia, no Rio de Janeiro, instaladas em 1808. Nessas faculdades, como exigência para a conclusão do curso, o aluno deveria defender publicamente uma tese de doutoramento ou inaugural, que lhe conferia o título de doutor. Grande parte 3 O primeiro contato dos portugueses quando chegaram ao Brasil se deu com os nativos da tribo tupiniquim, da grande família Tupi-guarani, os quais lhe ofertaram de presente papagaios e araras, espécies não existentes na Europa. Quando os portugueses voltaram para lá contaram esse encontro e por um tempo o Brasil ficou conhecido como “Terra tupiniquim ou terra dos papagaios”. 9 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. dos trabalhos sobre assuntos psicológicos, nessa época, é proveniente dessas teses, que tratavam de temas relacionados à: Psiquiatria, Neurologia, Neuriatria, Medicina Social e Medicina Legal. Muitas dessas teses antecedem a criação formal de uma cátedra afim às questões psicológicas, pois a primeira delas, denominada “Clínica das Moléstias Mentais”, foi criada em 1881 e, desde 1836, encontram-se teses que tratam do fenômeno psicológico. Os assuntos tratados são muito variados, dentre os quais: paixões ou emoções, diagnóstico e tratamento das alucinações mentais, epilepsia, histeria, ninfomania, hipocondria, psicofisiologia. Instrução e educação física e moral, higiene escolar, sexualidade e temas de caráter psicossocial (ANTUNES, 2014). Crescente interesse pela Medicina Legal é observado, assim como sua proximidade com a Psicologia Social. A tese de Júlio Afrânio Peixoto, denominada “Epilepsia e Crime”, é demonstrativa desse fato. Nos anos finais desse período, temas bastante próximos da Psicologia, propriamente dita, começam a aparecer de maneira significativa, revelando maior rigor metodológico e uma base científica mais apurada. Vale lembrar que a Psicologia conquistou o estatuto de ciência autônoma no último quartel daquele século, momento em que aparecem teses que podem ser identificadas com a ciência psicológica. No final do século XIX é defendida a tese “Duração dos Atos Psíquicos Elementares”, de Henrique Roxo, considerada por Lourenço Filho, Pessotti e Pfromm Netto como o primeiro trabalho de Psicologia Experimental, baseado em número significativo de dados obtidos experimentalmente, com o uso do “psicômetro de Buccola”. Não há duvidas de que a produção de ideias psicológicas foi também produto dessa sociedade em transformação, sobretudo na busca de respostas às necessidades que se diversificavam e se impunham pelos novos tempos. As transformações econômicas, com suas consequências para o incremento do processo de urbanização, acabaram por trazer à tona novos problemas ou a explicitação de problemas antigos, que o país não se encontrava preparado para resolver. Nesse contexto, a Medicina e a Educação foram chamadas a contribuir 10 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. para a solução dos problemas, incluindo-se aí a preocupação com o fenômeno psicológico em várias de suas dimensões. Em resumo, o desenvolvimento do pensamento psicológico no Brasil, no século XIX, não pode ser visto apenas na sua dimensão local. É necessário considerar que a preocupação com os fenômenos psicológicos vinha, durante séculos, se desenvolvendo; entretanto, é no século XIX que a evolução da Filosofia, de um lado, e dos conhecimentos produzidos pela Fisiologia, de outro, começaram a caminhar em direção a uma possível síntese. O século XIX trouxe essa possibilidade para as ciências e para a Psicologia, foi o momento fundamental que preparou as condições para sua autonomia. Esse período não apenas sintetizou e aprofundou o conhecimento a respeito dos fenômenos psicológicos, mas, mais que isso, as mudanças ocorridas na Europa do século XVIII criaram desafios e necessidades que precisavam ser respondidas pelo conhecimento produzido no século XIX. Aparece aqui também a problemática do incremento do processo de urbanização decorrente, na Europa, do avanço do modo- de-produção capitalista. Assim, uma sociedade que enfrentava, de um lado, os problemas relativos à saúde, saneamento, habitação e outros, criados pela densidade demográfica e, por outro lado, os movimentos sociais que questionavam as bases sobre as quais aquela sociedade se erigia, precisava de instrumentos para melhor compreender tais problemas e sobre eles intervir. Era necessário buscar o controle, não apenas de problemas como epidemias, mas também da conduta humana. A isso, acrescenta-se que a ideologia burguesa colocava no indivíduo o fundamento de uma sociedade baseada na propriedade privada, portanto pessoal e individual; fazia-se necessário, pois, compreender o homem nessa dimensão. De resto, é preciso considerar que uma formação social baseada na divisão social do trabalho e no avanço técnico apontava para a especialização do conhecimento. Nesse panorama, o contato de muitos brasileiros com os movimentos intelectuais europeus inevitavelmente fez com que essas ideias, lá em franca expansão, mais cedo ou mais tarde aqui chegassem também. A profusão de ideias na Europa, somada às necessidades da sociedade brasileira, permitiu que aqui se desenvolvessem, dentre várias áreas de conhecimento, também as ideias psicológicas (ANTUNES, 2014). 11 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 1.3 Objeto e objetivos A Psicologia é uma ciência que tem como objeto de estudo os seres vivos que estabelecem trocas simbólicas como meio ambiente. Está relacionada às ciências humanas (Filosofia, Teoria do Conhecimento) e biológicas (Biologia, Neurofisiologia, Psicofarmacologia) e apresenta elementos comuns às ciências sociais (Sociologia, Antropologia) e exatas (Ergonomia, Psicofísica). Decorre daí a diversidade das abordagens e áreas de estudo na Psicologia, bem como o grau de interdisciplinaridade e convergência dos seus temas. Na Universidade de São Paulo, por exemplo, pesquisas no Instituto de Psicologia abrangem desde o nível molecular, na Psicofarmacologia, ou biofísico, na Psicofisiologia, ao epistemológico, na Epistemologia Genética, ao subjetivo, na interpretação dos sonhos e motivações inconscientes, mantendo-se como fio condutor o interesse pelo comportamento e pela experiência do indivíduo. A Psicologia é a ciência que estuda nossas atitudes, nossos valores, nossos pensamentos, nossos sentimentos, nossas ações, tanto de forma individual quanto grupal, através de nossas intra e inter-relações com o mundo que nos cerca. Souza (2011) pondera que o objeto de estudo da Psicologia de forma bem ampla é o homem, porém a Psicologia não é considerada totalmente científica, pois o pesquisador ao mesmo tempo em que pesquisa ele também está inserido na sua própria pesquisa, agregando seus pensamentos e emoções à pesquisa tornando a mesma cientificamente um tanto inválida. Levando apenas em consideração o objeto humano como estudo da Psicologia, ela pode ser de certa forma confundida com outras ciências. Mas o que faz a Psicologia diferir das outras ciências humanas é o estudo da subjetividade, e é ela que nos faz compreender a totalidade da vida humana, pois é o indivíduo em todas as suas expressões visíveis, invisíveis, singulares e genéricas. 1.4 Campos de atuação O campo da Psicologia é muito vasto. Inclui atividades consagradas como a Psicologia Clínica, Escolar, atividades em pesquisas básicas como o estudo dos processos psiconeurológicos e memória, e um enorme conjunto de possibilidades aplicadas e de pesquisa que inclui Matemática, Física, Informática, Engenharia, 12 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Enfermagem, Trânsito, Ecologia, Psicofísica, Genética, Administração, Comunidade, Sociologia, Antropologia, Educação e Marketing. A Psicologia é uma ciência aplicada, mas também é uma ciência básica de grande importância para qualquer campo de conhecimento. Uma maneira de entender o seu vasto campo é distinguir suas duas grandes tradições. De um lado, o interesse em saber o que é o nosso intelecto, isto é, a nossa capacidade de conhecer (via cognitiva). Do outro, o interesse em saber como e porque somos diferentes uns dos outros e respondemos de modos diferentes as influências ambientais (via afetiva e conativa). Por exemplo, por que de uma mesma família sai um filho altruísta e dedicado às soluções dos grandes problemas da humanidade e um outro delinquente e criminoso? Por que uma criança vai para a escola e aprende as lições com a maior facilidade e uma outra apresenta uma grande dificuldade no seu aprendizado? A Psicologia que conhecemos hoje é o resultado da confluência de preocupações e métodos oriundos da Filosofia e da Fisiologia. Todas as funções psicológicas decorrem de processos orgânicos. Avanços nos campos da Genética, Neurofisiologia e Bioquímica trouxeram importantes esclarecimentos sobre processos psicológicos básicos como, por exemplo, hereditariedade, agressividade, depressão e ansiedade (GOMES, 2005). Tanto que nosso curso será voltado para as questões neuropsicológicas, mas antes, vejamos alguns dos campos dessa ciência que, por vezes, intriga aos leigos. A Psicologia Clínica é geralmente centrada em torno de ambientes hospitalares, sendo mais um tipo de Psicologia que lida com distúrbios mentais, como a depressão, entre outros. O aspecto de aconselhamento é bastante autoexplicativo. Os terapeutas oferecem um aconselhamento familiar para resolver problemas. A Psicologia Social se concentra na interação de pessoas em condições especiais e em grupos. Em resumo, ele examina a maneira como as pessoas interagem umas com as outras. Destaca a lógica por trás daqueles que podem estar com falta de capacidade na comunicação em grupo. O estudo da Psicologia Social 13 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. seria mais bem aplicado aos grandes grupos que podem ter dificuldade em lidar com o outro também. A Psicologia aplicada ao ambiente industrial nos lembra de relações de trabalho. São atribuídos psicólogos para ajudar as grandes empresas e escritórios de empresas com problemas que os funcionários podem ter. Com o esforço contínuo de trabalho, família e finanças, bem como as relações que desempenham um papel importante na vida de tantas pessoas, o domínio industrial da Psicologia é uma grande ajuda que é oferecida pelos empregadores a seus empregados. Segundo Santos (2000), em Psicologia, o termo atividade se alinha conceitualmente às diferentes abordagens que procuram explicar a natureza do comportamento e sua previsibilidade social. A busca pela elaboração de modelos que permitam compreender os comportamentos do homem, de um lado, como um sistema de recepção e tratamento da informação, e de outro lado, como um sistema de transformação de energia, produziram diferentes formulações sobre o desempenho das pessoas naquilo que elas fazem ou se proponham a fazer. A visão de “homem” movido por determinantes internas (solicitações) ou submetido às condicionantes externas (cargas de trabalho), originou, na Psicologia do trabalho, concepções que contemplam ambas as definições. Na verdade, o trabalho pode ser visto como um subsistema menor das coisas que fazemos para aliviar nossas tensões, mas também pode representar a atividade principal de realização objetiva do ser humano. De uma forma ou de outra, o trabalho é incorporado subjetivamente no nosso modo de perceber e fazer as coisas que necessitamos. Além disso, podemos dizer que a diferença entre o trabalho formal (tarefa) e o trabalho real (atividade), elemento fundamental do estudo do comportamento do homem no trabalho, permite definir níveis da análise das atividades de trabalho, que podem servir à teoria psicológica geral. Segundo essa ótica, existem três grandes campos que são interdependentes, relativos ao estudo das atividades de trabalho: 1. as comunicações – para agir é necessário efetuar trocas de informações sobre o estado da situação na qual nos encontramos; 14 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 2. as regulações – toda ação consiste em reduzir a diferença entre um estado desejado de uma determinada situação e o estado atual no qual nos encontramos; 3. as competências – as modalidades e as possibilidades de reduzir esta diferença dependem diretamente das habilidades cognitivas e sensório- motoras que o sujeito dispõe (SANTOS, 2000). Pois bem, os psicólogos buscam estudarconceitos como a percepção, cognição, emoção, personalidade, comportamento, relacionamento interpessoal, individual e coletiva e do inconsciente, incluindo-se aqui questões relacionadas com a vida quotidiana, por exemplo, família, educação e trabalho. Focam também o tratamento de problemas de saúde mental, buscando compreender o comportamento social e a dinâmica social, ao mesmo tempo em que incorporam os processos subjacentes fisiológicos e neurológicos em suas concepções de funcionamento mental. Inclui muitos subdomínios de estudo e de aplicação em causa em áreas como o desenvolvimento humano, desporto, saúde, indústria, meios de comunicação social, direito (ALVES, 2008). Guarde... Psicologia é a ciência que estuda o comportamento humano e seus processos mentais, ou seja, é a área da ciência que estuda o que motiva o comportamento humano – o que o sustenta, o que o finaliza e também seus processos mentais, que passam pela sensação, emoção, percepção, aprendizagem, inteligência. Os conhecimentos produzidos pela Psicologia e a complexidade e capacidade de transformação do ser humano, acabaram por ampliar em grande medida sua área de atuação, possibilitando cada área uma gama infinita de descobertas sobre o homem e seu comportamento, ou sobre o homem e suas relações. O estado psicológico humano é fundamental para desfrutar do bem individual e, por consequência, o bem comum. Assim, a Psicologia busca 15 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. permanentemente métodos para o desenvolvimento cognitivo, emocional e relacional dos indivíduos e sua interação social. 16 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. UNIDADE 2 – NEUROLOGIA Figura 3: Neuropsicologia. Fonte: https://www.amato.com.br/content/o-que-faz-o-neurologista 2.1 Conceitos e definições A Neurologia é a especialidade médica que se dedica ao diagnóstico e tratamento das doenças estruturais do Sistema Nervoso Central (composto pelo encéfalo e pela medula espinal) e do Sistema Nervoso Periférico (composto pelos nervos e músculos), bem como de seus envoltórios (que são as meninges) (REED, 2004). Doença estrutural significa que há uma lesão identificável em nível genético- molecular (mutação do material genético DNA), bioquímico (alteração de uma proteína ou enzima responsável pelas reações químicas que mantêm as funções dos tecidos, órgãos ou sistemas) ou tecidual (alteração da natureza histológica ou morfológica própria de cada tecido, órgão ou sistema). Em outras palavras, existe uma alteração neuroanatômica ou neurofisiológica que produz manifestações clínicas, as quais devem ser interpretadas. Este exercício de associação dos sintomas e sinais neurológicos apresentados pelo paciente (diagnóstico sindrômico) com o tipo de função alterada e 17 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. com a estrutura anatômica a ela associada (diagnóstico anatômico ou topográfico) é a base do raciocínio em Neurologia Clínica. De acordo com a Academia Brasileira de Neurologia, o Neurologista, Neurocirurgião e Neurologista infantil possuem formações diferentes. � O Neurologista estuda as doenças que serão tratadas clinicamente, tendo durante a sua formação um grande aporte de conhecimento e experiência a respeito de medicamentos, as interações entre esses medicamentos e sua ação sobre a doença e sobre o indivíduo. Tem antes de tudo uma formação clínica e não realiza procedimentos cirúrgicos. � O Neuropediatra exerce o mesmo papel do neurologista, mas a sua formação é voltada especificamente para as doenças neurológicas de crianças. � O Neurocirurgião não é submetido ao mesmo tipo de treinamento do neurologista para a aprendizagem do diagnóstico, tratamento clínico e conhecimento sobre o manejo das drogas da extensíssima variedade de doenças neurológicas. O seu foco é o tratamento das doenças do sistema nervoso através de cirurgia e atua, principalmente, em centros cirúrgicos4. 2.2 Surgimento e evolução A Neurologia surgiu como uma especialidade da Medicina Interna, durante a segunda metade do século XIX, no hospital Salpêtrière, em Paris, França, com o médico Jean-Martin Charcot5. Pode-se dizer que, graças a ele, a Neurologia se desenvolveu e passou a ser lecionada no ensino universitário da França, por isso que Charcot é considerado o “Pai da Neurologia” tendo influenciado todo o mundo, inclusive na formação da escola brasileira de Neurologia, sendo este período considerado o pré-clássico da história. Além de Charcot, podemos incluir alguns discípulos como Joseph Babinski, Gilles de la Tourette, Edouard Bissaud e outros que influenciaram a formação brasileira. 4 Ver o site: http://www.cadastro.abneuro.org/site/conteudo.asp?id_secao=33&id_conteudo=51&ds_secao=Impren sa 5 Em 1882, Jean Martin Charcot (1825-1893) foi indicado na Faculdade de Medicina de Paris como professor da autônoma disciplina neurológica, notabilizada por seu detentor, apesar de pouco antes a Universidade de Harvard ter criado a cadeira de Fisiologia e Patologia de Sistema Nervoso (1864) e a Universidade da Pensilvânia, a de Neurologia. 18 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Como a maioria dos psiquiatras da segunda metade do século XIX aderiu à “Psiquiatria do cérebro”, principalmente a Escola Germânica, a prática neuropsiquiátrica era comum, mesmo no Brasil, e em alguns estados brasileiros permaneceu assim até meados do século XX. Charcot na Europa e, mais tarde, Antônio Austregésilo Rodrigues de Lima (“o pai da Neurologia brasileira”) estudaram a histeria com especial atenção. Até 1883, Neurologia e Psiquiatria indistintamente eram ministradas pelos mestres da Clínica Médica. Teixeira Brandão foi um dos fundadores da Policlínica Geral do Rio de Janeiro (1881) e médico do seu Serviço de Moléstias do Sistema Nervoso. Em 1893, foi criado no Hospício o Pavilhão de Observação que desde então foi dirigido por um professor de Doenças Nervosas e Mentais da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, e não pelo diretor do Hospício. Antônio Austregésilo Rodrigues de Lima (1876-1960), fundador da Neurologia Brasileira (1912-1943?), foi nomeado para o Hospício Nacional de Alienados em 1904 e tornou-se responsável por sua ala masculina. A avaliação de rotina no hospício incluía também um exame do sistema nervoso, além de testes antropométricos. Para superar os problemas que foram relatados por comissões anteriores, novos pavilhões foram construídos, entre eles um para as crianças e epilépticos. Entre os pavilhões preparados para epilépticos, incluíram-se Griesinger(para mulheres) e Guislain (para homens). Para esses pacientes, camas especiais foram compradas com tábuas de madeira forradas que impediam que os pacientes caíssem em caso de crises noturnas. Na época, o conhecimento era de que os pacientes com epilepsia podiam cometer o pior tipo de loucura, por isso deviam passar por um processo de ordem social e proibição de viver livres nas ruas (GOMES, TEIVE, 2012). O início da Neurologia formal começa em 1912, com a Neurologia clássica brasileira e a primeira cátedra da área. A fundação da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) se configurou no arauto da Neurologia moderna. A Neurologia pós-moderna se situa na atualidade e, especialmente, no âmbito da world wide web (rede de alcance mundial), na revolução de costumes, incremento ainda maior de conhecimento e de divulgação/ intercâmbio (GOMES; TEIVE, 2012). Dando um grande salto na história (século XX e XXI), tempos de constantes mudanças sociais, políticas e tecnológicas, o campo da Neurologia conta com as 19 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. mais variadas técnicas, instrumentos, metodologias e conceitos para estudo, diagnóstico e tratamento de doenças neurológicas. Enfim, as fases pelas quais passou a Neurologia no Brasil foram muitas. Sugerimos a quem interesse por essa parte da história que leia a publicação da Associação Brasileira de Neurologia “História da Neurologia Brasileira” que se encontra disponível em: http://www.cadastro.abneuro.org/site/Livro%20ABN%20Historia%20da%20Neurologi a%20no%20Brasil.pdf 2.3 Doenças abordadas pela Neurologia Se considerarmos a enorme complexidade anatômica e funcional do Sistema Nervoso, entende-se que os sinais e sintomas que sugerem uma doença neurológica sejam muito variados e possam ocorrer de forma isolada ou combinada (REED, 2004). Tais sintomas e sinais neurológicos são principalmente: a) alterações psíquicas (distúrbios da consciência, do comportamento, da atenção, da memória, da organização do pensamento, da linguagem, da percepção e da organização de atos complexos, retardo do desenvolvimento neuropsicomotor e involução neuropsicomotora); b) alterações motoras (déficit de força muscular ou paralisias nos diferentes segmentos corporais, distúrbios da coordenação e do equilíbrio, movimentos involuntários, por exemplo, tremores, e outros); c) alterações da sensibilidade (anestesias, formigamentos, entre outros); d) alterações da função dos nervos do crânio e da face (olfação, visão, movimentos dos olhos, audição, mastigação, gustação, deglutição, fala, movimentação da língua, do ombro e do pescoço); e) manifestações endócrinas por comprometimento do hipotálamo ou hipófise, que são as áreas do Sistema Nervoso que controlam as glândulas endócrinas (atraso de crescimento, puberdade precoce, diabetes insipidus, e outras); 20 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. f) alterações dependentes da função do sistema nervoso autônomo (cardiovasculares, respiratórias, digestivas, da sudorese, do controle de esfíncters anal e vesical e outras); g) manifestações devidas ao aumento da pressão intracraniana, em decorrência do aumento de volume de um dos três componentes que ocupam a caixa craniana (tecido cerebral, vasos sanguíneos cerebrais ou líquido cefalorraquidiano), tais como dor de cabeça e vômitos; crises epilépticas, com ou sem convulsões motoras, com ou sem alterações da consciência; manifestações de comprometimento das meninges, principalmente rigidez de nuca. Por sua vez, as doenças neurológicas podem ter diferentes origens: � genética ou hereditária; � congênita, ou seja, dependente de um distúrbio do desenvolvimento embrionário ou fetal do Sistema Nervoso Central ou Periférico; � adquirida, ou seja, ocorrendo, com maior ou menor influência do ambiente, ao longo dos diferentes períodos da vida, desde a fase neonatal até a velhice (REED, 2004). Quanto às doenças mais comuns tratadas pelo neurologista são: � cefaleias ou dores de cabeça; � distúrbios do sono (insônia, excesso de sono, sono não restaurador, ronco, apneia do sono); � doenças cérebro-vasculares (AVC) ou “derrames”; � distúrbios do movimento (como tremores, tics e doença de Parkinson); � demências (como doença de Alzheimer); � doenças desmielinizantes (como a Esclerose Múltipla); � neuropatias periféricas (como a diabética); � doenças musculares e de junção (como a Miastenia Gravis); � desmaios, crises convulsivas e epilepsias; � tonturas e vertigens; � infecções do sistema nervoso (como meningites e encefalites); � tumores; � doenças degenerativas; � déficit de atenção e hiperatividade; 21 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. � formigamentos, perda de memória, confusão, perda de força, alteração na visão, mudança de comportamento, entre outros. A Neurologia tem interface com a psiquiatria e pode tratar de casos de depressão, ansiedade, irritabilidade, pânico, entre outros (JACOBINA, 2017). 22 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. UNIDADE 3 – NEUROPSICOLOGIA Figura 4: Neuropsicologia. Fonte: http://www.inpn.pt/neurop.htm O Art. 3º da Resolução nº 02, de 03 de março de 2004, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), define assim a especialidade de Neuropsicologia: Atua no diagnóstico, no acompanhamento, no tratamento e na pesquisa da cognição, das emoções, da personalidade e do comportamento sob o enfoque da relação entre estes aspectos e o funcionamento cerebral. Utiliza-se para isso de conhecimentos teóricos angariados pelas neurociências e pela prática clínica, com metodologia estabelecida experimental ou clinicamente. Utiliza instrumentos especificamente padronizados para avaliação das funções neuropsicológicas envolvendo principalmente habilidades de atenção, percepção, linguagem, raciocínio, abstração, memória, aprendizagem, habilidades acadêmicas, processamento da informação, visuoconstrução, afeto, funções motoras e executivas. Estabelece parâmetros para emissão de laudos com fins clínicos, jurídicos ou de perícia; complementa o diagnóstico na área do desenvolvimento e aprendizagem. O objetivo teórico da Neuropsicologia e da reabilitação neuropsicológica é ampliar os modelos já conhecidos e criar novas hipóteses sobre as interações 23 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escritodo Grupo Prominas. cérebro-comportamentais. Trabalha com indivíduos portadores ou não de transtornos e sequelas que envolvem o cérebro e a cognição, utilizando modelos de pesquisa clínica e experimental, tanto no âmbito do funcionamento normal ou patológico da cognição, como também a estudando em interação com outras áreas das neurociências, da medicina e da saúde. Os objetivos práticos são levantar dados clínicos que permitam diagnosticar e estabelecer tipos de intervenção, de reabilitação particular e específica para indivíduos e grupos de pacientes em condições nas quais: a) ocorreram prejuízos ou modificações cognitivas ou comportamentais devido a eventos que atingiram primária ou secundariamente o sistema nervoso central; b) o potencial adaptativo não é suficiente para o manejo da vida prática, acadêmica, profissional, familiar ou social; ou, c) foram geradas ou associadas a problemas bioquímicos ou elétricos do cérebro, decorrendo disto modificações ou prejuízos cognitivos, comportamentais ou afetivos. Além do diagnóstico, a Neuropsicologia e sua área interligada de Reabilitação Neuropsicológica visam realizar as intervenções necessárias: i. junto ao paciente, para que possam melhorar, compensar, contornar ou adaptar-se às dificuldades; ii. junto aos familiares, para que atuem como coparticipantes do processo reabilitativo; iii. junto a equipes multiprofissionais e instituições acadêmicas e profissionais, promovendo a cooperação na inserção ou reinserção de tais indivíduos na comunidade quando possível, ou ainda, na adaptação individual e familiar quando as mudanças nas capacidades do paciente forem mais permanentes ou a longo prazo. Ainda no plano prático, fornece dados objetivos e formula hipóteses sobre o funcionamento cognitivo, atuando como auxiliar na tomada de decisões de profissionais de outras áreas, fornecendo dados que contribuam para as escolhas de tratamento medicamentoso e cirúrgico, excetuando-se as psicocirurgias, assim como em processos jurídicos nos quais estejam em questão o desempenho intelectual de 24 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. indivíduos, a capacidade de julgamento e de memória. Na interface entre o trabalho teórico e prático, seja no diagnóstico ou na reabilitação, também desenvolve e cria materiais e instrumentos, tais como testes, jogos, livros e programas de computador que auxiliem na avaliação e reabilitação dos pacientes. Desenvolve atividades em diferentes espaços: a) instituições acadêmicas, realizando pesquisa, ensino e supervisão; b) instituições hospitalares, forenses, clínicas, consultórios privados e atendimentos domiciliares, realizando diagnóstico, reabilitação, orientação à família e trabalho em equipe multidisciplinar. Pois bem, a Neuropsicologia é uma área do conhecimento em pleno e constante desenvolvimento. Sua interface com diferentes disciplinas a torna indispensável para uma melhor compreensão dos processos cognitivos normais e de suas alterações em diferentes estados patológicos. Um dos aspectos da Neuropsicologia que vem ganhando grande destaque no mundo todo é sua aplicação no estudo dos processos cognitivos envolvidos no envelhecimento normal, bem como no das alterações cognitivas associadas a diferentes doenças comuns aos idosos, em particular as neurodegenerativas e cerebrovasculares (DINIZ, 2013). Outros conceitos trazidos6 por Haase et al (2012): A Neuropsicologia é considerada uma disciplina científica que se ocupa das relações cérebro/funções cognitivas, ou seja, das funções cognitivas e suas bases biológicas (RODRIGUES, 1993). É uma ciência de caráter interdisciplinar em suas origens, que busca estabelecer uma relação entre os processos mentais e o funcionamento cerebral, utilizando conhecimento das neurociências, que elucidam a estrutura e o 6 RODRIGUES, N. Neuropsicologia: uma disciplina científica. Em: Rodrigues, N. & Mansur, L. L. (Eds.). Temas em neuropsicologia, 1, 1-18. São Paulo: Tec Art., 1993. SERON, X. Toward a cognitive neuropsychology. International Journal of Psychology, 17, 149-156, 1982. LEZAK, M. D., HOWIESON, D. B., & LORING, D.W. Neuropsychological Assessment (4th ed.). New York: Oxford University Press, 2004. BARBIZET, J., & DUIZABO, P. Manual de Neuropsicologia. Porto Alegre: Artmed, 1985. LURIA, A. R. Higher cortical functions in man. New York: Basic Books, 1966. BENTON, A. L. Introducción a la neuropsicología. Barcelona: Fontanella, 1971. 25 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. funcionamento cerebral, e da Psicologia, que expõe a organização das operações mentais e do comportamento (SERON, 1982). Define-se também como uma ciência dedicada a estudar a expressão comportamental, emocional e social das disfunções cerebrais (LEZAK et al., 2004), os déficits em funções superiores produzidos por alterações cerebrais (BARBIZET & DUIZABO, 1985), as inter-relações entre cérebro e comportamento, cérebro e funções cognitivas (LURIA, 1966) e, de forma mais ampla, as relações entre cérebro e comportamento humano (BENTON, 1971). Entre as funções neuropsicológicas estão atenção, percepção, orientação autopsíquica, temporal e espacial, linguagem oral e escrita, memória, aprendizagem, funções motoras, praxias, raciocínio, cálculos e funções executivas. 3.1 Aspectos históricos Mais uma vez vimos enaltecer a história, pois ela sempre é um recurso precioso para o estudo do movimento das ideias, isto é, o surgimento de uma determinada proposição, seu impacto imediato ou tardio, seu declínio, seu retorno em outro tempo sob condições diferentes, ou a rejeição definitiva pela falta de evidências (KRISTENSEN; ALMEIDA; GOMES, 2001). A Neuropsicologia é uma ciência do século XX, que se desenvolveu inicialmente a partir da convergência da neurologia com a Psicologia, no objetivo comum de estudar as modificações comportamentais resultantes de lesão cerebral. Atualmente, podemos situá-la numa área de interface entre as neurociências (neste caso, ela também pode ser chamada de neurociência cognitiva), e as ciências do comportamento (Psicologia do desenvolvimento, Psicolinguística, entre outras) entendendo que o seu enfoque central é o estudo da relação sistema nervoso, comportamento, e cognição, ou seja, o estudo das capacidades mentais mais complexas como a linguagem, a memória, e a consciência (PINHEIRO 2005). Vamos nos contradizer... embora, seja uma ciência nova, em franco desenvolvimento e recheada de novas descobertas, podemos dizer que sua história começa na Antiguidade. Vejamos: De acordo com Lent (2002), desde os primórdios, as antigas civilizações como: astecas, maias, egípcios, chineses e assírios tinham curiosidade em 26 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. compreender a mente em relação ao corpo, inclusive cogitavam que o encéfalo era essencial para a vida, pois era a base da cognição e doscomportamentos humanos. Posteriormente, grandes colaboradores para o avanço da ciência como Hipócrates, Aristóteles, Galeno, Charles Darwin, Galvani, Broca, Franz Gall, entre outros, mostram diferentes estudos sobre a anatomia do corpo sob diversos pontos de vista. Os filósofos afirmavam que a mente estava localizada no cérebro, pois a questão da região em que encontrava-se a mente era muito evidente, veja: � Pitágoras (580-510 a.C.) admitia que no encéfalo estava situada a mente, enquanto no coração localizavam-se a alma e as sensações; � Alcmeon (cerca de 500 a.C.) descreveu os nervos ópticos e investigou os distúrbios funcionais do encéfalo, considerando-o a sede do intelecto e dos sentidos; � Hipócrates (cerca de 460-370 a.C.) discutiu a epilepsia como um distúrbio do encéfalo, e o considerava como sede da inteligência e das sensações (tese cefalocentrista); � Platão (427-347 a.C.) considerava o encéfalo como sede do processo mental e julgava a alma tríplice, sendo o coração a sede da alma afetiva, o cérebro da alma intelectual, e o ventre da concupiscência (apetite sexual); � Aristóteles (384-322 a.C.) admitia ser o coração o centro das sensações, das paixões e da inteligência (tese cardiocentrista), enquanto o encéfalo tinha como função refrigerar o corpo e a alma; � Herófilo (335-280 a.C.), médico de Alexandria, efetuou grandes avanços anatômicos, estudando com minúcias, entre outros, o sistema nervoso central e o periférico (PINHEIRO 2005). A última grande contribuição da Idade Antiga veio de Galeno (129-200 a.C.), cujas teorias sobre o corpo humano, com seus acertos e erros, dominaram a medicina por quatorze séculos. Para ele, os nervos originavam-se no cérebro e na medula e não no coração como ensinava Aristóteles. Os nervos seriam condutos que transportariam os fluidos secretados pelo cérebro e medula espinhal para a periferia do corpo. O cérebro seria a sede da sensação, do movimento e do intelecto. Galeno explicava que a sensação era a mudança qualitativa de um órgão 27 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. sensitivo e a percepção, enquanto ação do cérebro, era a consciência dessa mudança (KRISTENSEN; ALMEIDA; GOMES, 2001; PINHEIRO, 2005). O problema corpo-alma continuou a preocupar o homem e durante a segunda metade do século XVII e o início do século XVIII, motivou vários pesquisadores na proposição de novas interpretações; tais ideias, contudo, tinham como característica principal o fato de que se baseavam em especulações e não em observações clínicas ou experimentais. Uma das teorias melhor conhecida é a de René Descartes (1596-1650); esta teoria admitia que a alma (denominada res cogitans, “a coisa pensante”) era uma entidade livre, não substantiva, imaterial, indivisível e o corpo (res extensa, “extensão da coisa”) uma parte mecânica, material, divisível. Embora diferentes, a alma interagia com o corpo por meio da glândula pineal, que também funcionava como centro de controle. Assim, no conceito cartesiano, a alma (o espírito) transcende o corpo e este é matéria dotada de movimento, como uma máquina (KRISTENSEN; ALMEIDA; GOMES, 2001; PINHEIRO, 2005). Esta teoria provocou uma “dissociação mente e corpo e os indivíduos passaram a se identificar com a sua mente racional e não com o organismo” (SANVITO, 1991, p. 152); surgiram então as expressões “corpo sem alma”, “alma sem corpo”, e “de corpo e alma” (completamente, inteiramente). Damásio (1996) discute a afirmação “penso, logo existo” (em francês, “je pense, donc je suis”), publicada por Descartes, em 1637, na obra O discurso do método, e depois, em 1644, na obra Princípios de Filosofia (em latim, “cogito ergo sun”). Para Damásio, a referida citação afirma o oposto daquilo que ele acredita ser verdade acerca das origens da mente e da relação entre a mente e o corpo. Isso porque o conhecimento atual sobre o desenvolvimento filogenético (entre espécies biológicas) e ontogenético (em uma espécie biológica; no caso, Homo sapiens) permite-nos compreender que muito antes do aparecimento da humanidade, os seres já eram seres. O surgimento de uma consciência elementar e com ela uma mente simples, que com uma maior complexidade possibilitou o pensar e, mais tarde o uso de linguagens para comunicar e melhor organizar os pensamentos, é anterior ao surgimento dos humanos modernos. Mesmo no presente, quando viemos ao 28 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. mundo e nos desenvolvemos, começamos por existir, e só mais tarde pensamos; daí, para Damásio (1996, p. 279) “existimos e depois pensamos e só pensamos na medida em que existimos, visto o pensamento ser, na verdade, causado por estruturas e operações do ser”. A crença de Descartes em uma mente separada do corpo, uma mente desencarnada, contribuiu para alterar o rumo da medicina, ajudando-a a abandonar a abordagem da mente-no-corpo que predominou de Hipócrates até o Renascimento, e moldou a forma peculiar como a medicina ocidental aborda a investigação e o tratamento da doença (prática médica). Como resultado, as consequências psicológicas das doenças do corpo, propriamente dito, as chamadas doenças físicas, são normalmente ignoradas ou levadas em conta muito mais tarde; mais negligenciados ainda são os efeitos dos conflitos psicológicos no corpo (DAMÁSIO, 1996, p. 282). Além disso, a ideia cartesiana da mente separada do corpo explica porque ainda hoje muitos investigadores em Psicologia se julgam capazes de entender a mente sem nenhum recurso à Neurobiologia (“Psicologia sem cérebro”) ou porque para muitos neurocientistas a mente pode ser perfeitamente explicada em termos de fenômenos cerebrais, deixando de lado o resto do organismo e o meio ambiente físico e social (ignorando também que o próprio meio é um produto das ações anteriores do organismo) (PINHEIRO, 2005). No século XVIII, os esforços para a explicação da relação mente-cérebro prosseguiram com os trabalhos de David Hartley (1705-1757), de Albrecht von Haller (1707-1777) e do húngaro Porchaska (1749-1820). Hartley recorreu à teoria das vibrações no Principia de Newton, publicado em 1687, para explicar a sensação como um processo físico. Assim, as alterações dos nervos, produzidas pela ação de um objeto sobre o organismo constituindo impressões eram para ele decorrentes de vibrações. Para tanto, nervos, medula espinhal e cérebro eram descritos como uniformes, homogêneos e formados por uma só substância. Haller interessou-se pelas localizações cerebrais, mostrando inicialmente que o córtex não era a sede da sensação nem causa exclusiva do movimento. A base da sensação e do movimento era a substância branca do cérebro e do cerebelo. Ademais, Haller definiu a memória como sendo a persistência das impressões sobre a substância cerebral. As circunvoluções do cérebro eram para aumentar o espaço disponível para a memória. 29 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Porchaskalocalizou as faculdades (imaginação, percepção, memória) no ponto terminal interno dos nervos. Mesmo com os avanços decorrentes da pesquisa anatômica, os cientistas no século XVIII ainda consideravam o cérebro como um órgão homogêneo, que distribui energia vital para todas as partes do corpo, atuando conforme a vontade do indivíduo (LECOURS; LHERMITTE, 1983 apud KRISTENSEN; ALMEIDA; GOMES, 2001). No século XIX, a descoberta de que o córtex cerebral, até então considerado homogêneo do ponto de vista funcional, apresentava áreas anatomicamente definidas, deu suporte à ideia de que diferentes funções mentais estavam alojadas nas diferentes porções do córtex. O mais ilustre e provavelmente o primeiro proponente da localização cerebral das funções mentais foi o austríaco Franz Joseph Gall (1758-1828), o qual acreditava que o cérebro era na verdade um conjunto de órgãos separados, cada um dos quais controlava uma “faculdade” (aptidão) inata separada (WALSH, 1994, p. 14 apud PINHEIRO, 2005). Originalmente, Gall postulou a existência de 27 “faculdades afetivas e intelectuais” (entre elas, benevolência, agressividade, sentido da linguagem, amor parental); este número foi posteriormente aumentado. O desenvolvimento de uma determinada “faculdade” causava uma hipertrofia na zona cortical correspondente; esta zona hipertrofiada exercia pressão sobre a calota craniana, produzindo neste local uma pequena saliência óssea. As funções pouco desenvolvidas ou ausentes produziam, ao contrário, uma depressão na superfície craniana. Assim, pelo processo da cranioscopia (apalpação das proeminências) o praticante da Frenologia poderia determinar a natureza das propensões do indivíduo. E como as “faculdades” se encontravam em áreas circunscritas, essas ideias deram origem à chamada corrente localizacionista (e ao consequente surgimento dos mapas frenológicos). Descartada a partir de meados do século XX enquanto procedimento científico, a Frenologia, ainda hoje apresenta muitos adeptos. Quem nunca ouviu as expressões “cabeça chata” e “testa baixa”; elas se mantêm de uso corrente e são usadas no cotidiano para denotar pouca inteligência ou mesmo características de sujeitos de “raça inferior” (numa clara alusão preconceituosa) (PINHEIRO, 2005). 30 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Gall estabelecia a função a partir do sintoma, isto é, se a lesão de uma determinada zona do cérebro causava perturbação de um determinado comportamento, isso se devia ao fato desta atitude ter sua sede nesta região. Admitir que cada parte do córtex cerebral tem uma função diferente deveria permitir, por exemplo, que se provocasse deficiências comportamentais específicas por meio da remoção de porções circunscritas desse córtex; com o intuito de testar essa hipótese, muitos cientistas começaram a provocar lesões cerebrais em animais de laboratório e a observar suas consequências. Para Herculano-Houzel (2001, p. 21), “estes experimentos marcaram o nascimento da neurociência experimental que conhecemos hoje”. Entre os opositores do localizacionismo, merece destaque o Fisiologista francês Marie-Jean-Pierre Flourens (1794-1867); este acreditava que as funções mentais não dependiam de áreas particulares do sistema nervoso, mas que este funcionava como um todo, de modo orquestrado, integrado. Suas ideias anteciparam a noção de equipotencialidade (plasticidade neuronal), isto é, a capacidade de outras partes do cérebro assumirem funções do tecido neural lesado e deram início ao movimento que resultou na corrente holista (não localizacionista, unitarista) da função cerebral. O século XIX foi também particularmente importante por ter demarcado o nascimento da Neuropsicologia da linguagem. Isso porque, embora a literatura inclua registros de observações clínicas sobre distúrbios de linguagem em decorrência de traumatismo cerebral feitos há milhares de anos, foi apenas no século XIX que as correlações anátomo-clínicas entre lesões cerebrais e patologia da linguagem tornaram-se um importante foco de atenção. Entre os estudiosos que investigaram indivíduos com comprometimento na linguagem decorrentes de lesão cerebral, destaca-se o médico e antropólogo francês Pierre-Paul Broca (1824-1880) e o neurologista alemão Carl Wernicke (1848-1905). Em 1865, baseando-se em vários estudos anatomo-patológicos de pacientes com perda da fala (‘amnésia verbal’), Broca estabeleceu para sede da linguagem articulada a parte posterior da terceira circunvolução frontal do hemisfério esquerdo (região atualmente conhecida como área de Broca). O distúrbio descoberto por Broca foi por ele denominado de afemia, mas na literatura médica, o termo consagrado foi ‘afasia’. Anos depois, 31 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Broca publicou a famosa frase ‘nous parlons avec l’hémisphère gauche’ – nós falamos com o hemisfério esquerdo (WALSH, 1994, p. 17). A frase de Broca depois se tornou um marco na história do funcionamento cerebral. A localização da sede da faculdade de expressão oral no hemisfério esquerdo não implicava apenas na aceitação de uma assimetria funcional dos hemisférios cerebrais; Broca também acreditava que, no que tange a linguagem expressiva, o hemisfério esquerdo era dominante sobre o direito, ou seja, o direito exercia apenas papel coadjuvante ou secundário. Note-se que a ideia da dominância hemisférica é precursora da concepção moderna de especialização funcional dos hemisférios cerebrais que, em síntese, admite que os dois hemisférios sempre trabalham em conjunto, mas como detêm especializações funcionais, um se encarrega de um grupo de funções enquanto o segundo encarrega-se de outro; no caso dos dois hemisférios realizarem a mesma função, as diferenças residem nos modos de execução ou estratégias funcionais de cada hemisfério. Em 1874, Wernicke mostrou que, assim como uma lesão unilateral anterior é suficiente para perturbar a expressão oral, uma lesão do mesmo lado localizada posteriormente no hemisfério esquerdo causa frequentes problemas de compreensão da linguagem falada. Esses problemas são associados a uma linguagem fluente, mas aberrante, sendo que a pessoa erra ao usar palavras ou sons. A área atingida pelas lesões estudadas por Wernicke recebeu, posteriormente, em sua homenagem, a denominação de área de Wernicke e, atualmente, tem sido considerada restrita ao terço posterior do giro temporal superior esquerdo, incluindo a parte oculta do assoalho do sulco lateral de Sylvius (LENT, 2001, p. 636). Deve-se também a Wernicke, a elaboração do primeiro modelo científico do processamento linguístico − este modelo considera que a área de Broca contém os programas motores da fala (isto é, as memórias dos movimentos, que permitem a estes expressar os fonemas, compô-los em palavras e estas em frases), enquanto a área descrita por Wernicke contém as memórias dos sons que compõem as palavras, possibilitando sua compreensão. Quando as duas áreas se conectam, a pessoa associa a compreensão das palavras ouvidas com a sua própria fala. 32 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada,seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Anatomicamente, as duas áreas são conectadas por um feixe de fibras nervosas que se encontra imerso na substância branca cortical e se denomina feixe arqueado. Assim, Wernicke previu corretamente que uma lesão desse feixe deveria provocar uma “afasia de condução”, na qual os pacientes seriam capazes de apresentar uma fala fluente, mas cometendo erros de repetição e de resposta a comandos verbais. A descoberta do fato de que formas complexas de atividade mental podiam ser localizadas em regiões circunscritas do córtex cerebral da mesma forma que funções elementares (tais como movimento e sensação), suscitou a realização, por mais de meio século, de um grande número de estudos que visavam demonstrar que todos os processos mentais complexos eram o resultado do funcionamento de áreas locais individuais. Tal abordagem de estudo é dita reducionista (KRISTENSEN; ALMEIDA; GOMES, 2001; PINHEIRO; 2005). Paralelamente ao trabalho de Broca e Wernicke, foram descritas áreas cerebrais responsáveis por funções não linguísticas. Por exemplo, em 1855, o neurologista italiano Panizza relatou uma importante descoberta: cegueira permanente desenvolvida em indivíduos com uma lesão na região occipital (LURIA, 1966). Esta descoberta foi posteriormente reforçada pela observação de que animais com tais lesões, embora retivessem a visão, perdiam formas mais complexas de percepção visual. Em 1881, Munk observou em cachorros que a destruição de áreas occipitais dos hemisférios cerebrais produzia um fenômeno característico: o animal mantinha a habilidade para ver e evitar objetos, mas não conseguia reconhecê-los (Luria, 1966 apud KRISTENSEN; ALMEIDA; GOMES, 2001). Após vários recortes ao longo da história, vamos chegando aos séculos XX e XXI, mas somente com algumas amostras dos acontecimentos, pois estes serão vistos em detalhes ao longo do curso. O termo Neuropsicologia foi usado pela primeira vez pelo neurologista William Osler, em 1913, mas já sabemos que essa área do conhecimento é bem mais antiga e interdisciplinar. A Neuropsicologia, tal como conhecemos hoje, surge, em 1932, na França, como o trabalho pioneiro de três autores representantes de 33 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. diferentes áreas: um neurologista (Aloajouanine), um psicólogo (Ombredane) e uma linguista (Duran). É importante salientar que a história da Neuropsicologia se mescla com a história da Neuropsicologia da Linguagem (ou Neuropsicolinguística), desde o início da década de 1860, com as ideias de Dax (1836) e de Broca (1861) sobre o papel especial do hemisfério cerebral esquerdo (HE) para a fala/linguagem. Conhecida inicialmente como “afasiologia”, apenas a partir de 1932 ela se torna realmente uma área interdisciplinar, congregando as áreas de Neurologia, Linguística e Psicologia (KRISTENSEN; ALMEIDA; GOMES, 2001; PINHEIRO, 2005; HAASE et al., 2012). Kristensen; Almeida e Gomes (2001) ressaltam que o termo Neuropsicologia apareceu ainda como um subtítulo na obra de 1949 de Donald Hebb chamada The Organization of Behavior: A Neuropsychological Theory. No entanto, anterior a esta data, a Psicologia já almejava o status de ciência através da Psicologia Fisiológica. O termo Psicologia Fisiológica foi, na verdade, proposto por Wundt como título do seu livro ‘Princípios da Psicologia Fisiológica’, publicado em 1874 e reeditado na Alemanha até 1911. Durante muitos anos ‘Psicologia Fisiológica’ foi um termo genérico utilizado para se referir a pesquisas realizadas em laboratório e, por isso, mais associado ao método do que ao objeto. As mudanças na agenda da Psicologia, por influência do evolucionismo, intensificaram os estudos funcionais sobre comportamento, pensamento e inconsciente, colocando em segundo plano as relações entre mente e cérebro. Esse interesse continuou com muito vigor entre médicos que tratavam e estudavam os problemas de afasia e a associação desta disfunção com alguma parte do cérebro. Recentemente, os sistemas linguísticos foram tratados pelos psicolinguistas sob uma abordagem neuropsicológica, passando-se a produzir obras especializadas nas bases neurais da linguagem. Entre tantas contribuições, destacam-se as revisões conceituais sobre as áreas de Broca e de Wernicke, anteriormente citadas. O “modelo neurolinguístico”, proposto por Wernicke, foi substituído pelo “modelo neuroanatômico conexionista da linguagem falada”, que surgiu a partir da análise dos sintomas de pacientes com lesões pequenas e envolve a interação de diversas áreas corticais, mais restritas do que as definidas por Broca e Wernicke. Pelo modelo conexionista, a área de Wernicke não é a responsável pela 34 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. compreensão do significado das palavras, mas faria a identificação das palavras como tal, isto é, seria uma das sedes do léxicon fonológico. A afasia de compreensão propriamente dita seria típica de lesões mais posteriores, que atingem o giro angular e o supramarginal; nessas regiões estaria uma das sedes do léxicon semântico ou mesmo o centro conceitualizador. Pacientes com lesões nestes locais repetem corretamente as palavras, mas não entendem o que repetiram. Outro tipo de afasia de compreensão surge a partir de lesões dos giros temporais médios e inferior (também locais do léxicon semântico); esta afasia é denominada anômica fluente porque os pacientes têm fluência verbal, mas incapacidade de identificar nomes de pessoas, animais ou objetos. A revisão feita sobre a área de Broca considera que os portadores de distúrbios de expressão mais severos apresentam alguma disartria (dificuldade de articular a fala; um distúrbio claramente motor), afasia anômica não fluente (fala dificultada principalmente nos verbos) e agramatismo (dificuldade de construir frases gramaticalmente corretas). Contudo, nos casos de lesões mais restritas, esses sintomas aparecem dissociados; por exemplo, anomia com disartria surge quando as lesões envolvem, além da área de Broca, as regiões motoras e pré-motoras posteriores da fala (LENT, 2001, p. 638). A partir da segunda metade do século XX, a Neuropsicologia firmou-se efetivamente enquanto área de estudo, e embora a linguagem tenha sido a área mais amplamente investigada, diversos temas têm sido enfatizados nos últimos anos tais como: a atenção, a percepção visual e auditiva, e a memória. Ainda entre os avanços obtidos, destacam-se a introdução e o desenvolvimento de técnicas de observação do cérebro e/ou de sua atividade (tomografia computadorizada, ressonância magnética, tomografia por emissão de pósitrons, entre outros), o aperfeiçoamento dos instrumentos de avaliação neuropsicológica, e o desenvolvimento de métodos de intervenção com o objetivo de obter a restauração de funções psíquicas superiores comprometidas por lesão cerebral (PINHEIRO, 2005). Guarde... � Experimentalismo (século XIX) – envolve a mente e as sensações, e as influências do inato e do aprendido sobre estes fenômenos. 35 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com
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