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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DO 2º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE DUQUE DE CAXIAS – ESTADO DO RIO DE JANEIRO PROCESSO Nº: XXXXXXXXXXXX MARIA FERNANDA DE OLIVEIRA, já qualificado nos autos em epígrafe, por um de seus advogados subscritos, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, tempestivamente, nos termos dos Artigos 41 e seguintes da Lei 9.099/95, interpor o presente RECURSO INOMINADO, em face da douta Sentença de 1º grau que julgou parcialmente procedente a presente Ação Indenizatória por Danos Morais, com as razões anexas, requerendo que as mesmas sejam remetidas à TURMA RECURSAL do TJRJ. Embora a Recorrente tenha em seu pedido inicial requerimento da justiça gratuita, formula no presente recurso concessão do benefício da justiça gratuita, junto assim, declaração de hipossuficiência e demais documentos para comprovar sua qualidade de pobreza nos termos da lei. Sendo assim, deixa de recolher as custas recursais. Pede deferimento. Duque de Caxias, 21 de outubro de 2021 IURY RAMON CASTRO DUARTE OAB/RJ - 123.456 (Lei 11.419/2006, art. 1º, § 2º, III, a) RAZÕES DO RECURSO INOMINADO EGRÉGIA TURMA RECURSAL DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. PROCESSO Nº: XXXXXXXXXXX COMARCA DE ORIGEM: 2º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE DUQUE DE CAXIAS RECORRENTE: MARIA FERNANDA DE OLIVEIRA RECORRIDA: SUPER MÓVEIS S/A RESUMO DA DEMANDA Trata-se de Recurso Inominado, interposto pela MARIA FERNANDA DE OLIVEIRA, inconformada com a sentença de 1º grau que julgou improcedente a presente Ação de Indenização por Danos Morais com pedido de restituição de valores, que foi movida em face a Recorrida. Com efeito, Eméritos Julgadores, em que pese o saber jurídico inquestionável saber da eminente Julgadora da Instância Singular, não primou à decisão atacada pela justa aplicação da lei aos fatos. Com fulcro no artigo 269, I do Código de Processo Civil, o Juízo a quo julgou improcedente a ação proposta pela autora a condenar o Réu a pagar e restituir o valor R$ 2.774,00 (dois mil setecentos e setenta e sete reais), R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de dano emergente devidamente atualizado e deixou de reconhecer o dever de indenizar a consumidora pelos transtornos que teve. I - PRELIMINARMENTE DA NECESSIDADE DO DEFERIMENTO DA JUSTIÇA GRATUITA EM SEDE RECURSAL Eméritos julgadores, trata-se de um pedido de justiça gratuita em sede recursal uma vez que o consumidor está insatisfeito com a decisão do juízo a quo, em não reconhecer que seu transtorno passou de ser um mero aborrecimento. Sendo assim, por não possuir condições financeira de arcar com as custas do processo sem prejuízo de sua família, o mesmo requer o deferimento da justiça gratuita afim de poder interpor o presente recurso e obter a verdadeira justiça! Sabe-se que a justiça gratuita pode ser requerida a qualquer momento do processo, desde que a parte solicite e apresente a declaração de hipossuficiente, uma vez que a simples alegação de hipossuficiente é presumida. Para tal benefício a recorrente junta declaração de hipossuficiência documentos que comprovam sua hipossuficiência, os quais demonstram a inviabilidade de pagamento das custas judicias sem comprometer sua subsistência, conforme clara redação do Art. 99 Código de Processo Civil de 2015. Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso. § 1º Se superveniente à primeira manifestação da parte na instância, o pedido poderá ser formulado por petição simples, nos autos do próprio processo, e não suspenderá seu curso. § 2º O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos. § 3º Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural. Assim, por simples petição, sem outras provas exigíveis por lei, faz jus o recorrente ao benefício da gratuidade de justiça: AGRAVO DE INSTRUMENTO - MANDADO DE SEGURANÇA - JUSTIÇA GRATUITA - Assistência Judiciária indeferida - Inexistência de elementos nos autos a indicar que o impetrante tem condições de suportar o pagamento das custas e despesas processuais sem comprometer o sustento próprio e familiar, presumindo-se como verdadeira a afirmação de hipossuficiência formulada nos autos principais - Decisão reformada - Recurso provido. (TJSP; Agravo de Instrumento 2083920-71.2019.8.26.0000; Relator (a): Maria Laura Tavares; Órgão Julgador: 5ª Câmara de Direito Público; Foro Central - Fazenda Pública/Acidentes - 6ª Vara de Fazenda Pública; Data do Julgamento: 23/05/2019; Data de Registro: 23/05/2019 Cabe destacar que o a lei não exige atestada miserabilidade do recorrente, sendo suficiente a "insuficiência de recursos para pagar as custas, despesas processuais e honorários advocatícios"(Art. 98, CPC/15), conforme destaca a doutrina: "Não se exige miserabilidade, nem estado de necessidade, nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento máximos. É possível que uma pessoa natural, mesmo com boa renda mensal, seja merecedora do benefício, e que também o seja aquela sujeito que é proprietário de bens imóveis, mas não dispõe de liquidez. A gratuidade judiciária é um dos mecanismos de viabilização do acesso à justiça; não se pode exigir que, para ter acesso à justiça, o sujeito tenha que comprometer significativamente sua renda, ou tenha que se desfazer de seus bens, liquidando-os para angariar recursos e custear o processo." (DIDIER JR. Fredie. OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Benefício da Justiça Gratuita. 6ª ed. Editora JusPodivm, 2016. p. 60) "Requisitos da Gratuidade da Justiça. Não é necessário que a parte seja pobre ou necessitada para que possa beneficiar-se da gratuidade da justiça. Basta que não tenha recursos suficientes para pagar as custas, as despesas e os honorários do processo. Mesmo que a pessoa tenha patrimônio suficiente, se estes bens não têm liquidez para adimplir com essas despesas, há direito à gratuidade." (MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. MITIDIERO, Daniel. Novo Código de Processo Civil comentado. 3ª ed. Revista dos Tribunais, 2017. Vers. ebook. Art. 98) Por tais razões, com fulcro no artigo 5º, LXXIV da Constituição Federal e pelo artigo 98 do CPC, requer seja deferida a gratuidade de justiça ao Recorrente. II - DA TEMPESTIVIDADE A Requerente devidamente representada, apresenta este recurso conforme prazo estipulado, portanto, o presente Recurso Inominado é tempestivo. III – DO BREVE RESUMO DOS AUTOS A autora no dia 10/08/2019, realizou a compra junto à ré de um armário no valor de R$ 2.774,00 (dois mil setecentos e setenta e sete reais), conforme nota fiscal em anexo. Cabe esclarecer, que após a montagem, as portas estavam desniveladas, os frisos, o modulo do armário foi montado fora do alinhamento, de modo que as gavetas não abrem, existem frestas de 05 centímetros de um lado para o outro. A autora entrou em contato com a ré, informando o caso, após o prazo da reclamação, com mais de 30 dias da abertura do chamado, compareceu a residência da autora, um montador, que informou que não poderia resolver o caso da autora, pois precisava de uma furadeira, e que compareceu na residência da autora, somente para nivelar as portas, e não, proceder aos consertos ao qual o armário necessitava, é que havia no armário, um erro de montagem. Ressalta-se que a autora já esteve na loja que vendeu o produto, por três vezes, porém, passado o prazo de 30 dias, ainda não foi solucionado o caso. A autora desde a montagem vinha solicitandouma vistoria no armário, tendo em vista as avarias apresentadas no produto, bem como o desnivelamento, causando grande desgaste emocional na autora, diante da incapacidade de solucionar o caso, sendo que ao final, a preposta da ré informou que o produto da autora está fora da garantia, mais as reclamações da autora iniciaram, logo após a montagem, mais a ré não solucionou o caso, deixando passar o prazo, para agora alegar um fato que não pode ser considerado, conforme provas em anexo. Tal postura da ré causou a autora grande desgaste físico e emocional, pelo fato de a ré não ter solucionado o caso, o problema maior, é que o período para solução do caso, já encerrou e a ré nada resolveu. Conforme comprovam os documentos fotos anexadas, o produto está com avarias, porem por culpa exclusiva da ré, foi obrigada a passar por tal situação, diante de tantas dificuldades apresentadas pelo réu, não havendo nenhuma chance de solução pacifica, não resta alternativa a não ser propor a presente, sendo certo que, o produto apresenta um vício, não podendo a autora amargar pela má qualidade do produto do réu. A autora ainda assim fez questão de pontuar sobre os perigos que poderiam acarretar em face da má execução e instalação do produto, tendo em vista o nivelamento desproporcional das portas e o grande espaçamento entre trilhos das gavetas em que as mesmas se caíam ao chão quando abertas, podendo causar danos a integridade física de seus filhos menores. A recorrente e sua família estão perplexos pela decisão, sendo assim, não há de se concordar que a justiça esteja feita nos moldes da sentença, portanto, interpõe o presente recurso para se buscar a verdadeira justiça ao recorrente. IV. DAS RAZÕES PARA REFORMA Conforme apresentado na exordial a recorrente adquiriu um armário fora das condições de uso no estabelecimento do recorrido, cujo a responsável pelo fornecimento e o fabricante. O produto que recorrente somente foi possível notar que se tratava de um produto impróprio para uso depois de levar para casa, onde foi feita a montagem e dias depois notou-se de que a forma de execução e montagem foi inapropriada, tendo em vista que as gavetas não abrem, existindo frestas de 05 (cinco) centímetros de um lado para outro. Tal situação causou a recorrente e a sua família uma enorme resulta, insatisfação devido a montagem inapropriada do produto, impedindo de que fosse feito o armazenamento de tecidos e roupas na qual pretendiam e sendo assim, iniciou-se uma tentativa de receber o valor pago de volta e eventual indenização por todo o transtorno e abalo suportado, pois nunca imaginariam passar por uma situação como esta. Além disso, tal situação causou enorme constrangimento para a recorrente e sua família terem de ir à loja por três vezes durante períodos de tempo para a resolução do problema que fora descrito. Salienta que o referido produto seria destinado aos filhos da autora para que pudessem armazenar as suas roupas. O direito à indenização por danos morais encontra-se expressamente consagrado em nossa Carta Magna, como se vê pela leitura de seu artigo 5º, incisos V e X, os quais transcrevo: "É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem" (artigo 5º, inciso V, CF). "São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral, decorrente de sua violação" (artigo 5º, inciso X, CF). É correto que, antes mesmo do direito à indenização material e moral ter sido erigido à categoria de garantia constitucional, já era previsto em nossa legislação infraconstitucional, bem como, reconhecido pela Justiça. O comando constitucional do art. 5º, V e X, também é claro quanto ao direito da parte Recorrente à indenização dos danos morais sofridos. É UM DIREITO CONSTITUCIONAL. E se não bastasse o direito constitucional previsto no art. 5º, é a própria Lex Mater que em seu preâmbulo alicerça solidamente como um dos princípios fundamentais de nossa nação e, via de consequência, da vida em sociedade, a defesa da dignidade da pessoa humana. Dignidade que foi ultrajada, desprezada pela ré ao colocar no mercado de consumo um produto improprio. O Recorrido na instância do juízo a quo, apresentam documentos assinados pela autora (qualificação do atendimento) na manifestação à contestação, porém, não fez questão de se referir sobre as outras diversas tentativas de contato para a resolução do problema que aparecera após a montagem do produto. Eméritos julgadores, a indenização dos danos morais que se pleiteia é direito constitucional a todos. E no ordenamento jurídico infraconstitucional, além do CDC, está o Código de Leis Substantivas Civis de 2002 a defender o mesmo direito dos Requerentes. Com efeito o artigo 927 do Código Civil apressa se em vaticinar a obrigação de reparar que recai sobre aquele que causar dano a outrem por ato ilícito. No CDC, por seu turno, também contempla a indenização por dano moral, nos incisos VI e VII, do artigo 6º, in verbis: Art. 6º São direitos básicos do consumidor: VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; Ademais, a norma consumerista estatui que a responsabilidade por falha na prestação dos serviços é objetiva, in verbis: Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. Sendo assim, é nítido que o recorrente foi vítima de um produto com vicio de qualidade, correndo o risco de ter sua saúde lesada pela conduta das rés e não se a tentar que estariam vendendo produto no qual a montagem e execução foi feita de forma indevida, ocasionando o dano físico no produto. O MAGISTRADO A QUO ao analisar, disse que não se pode se falar em mérito do pedido, uma vez que as fotos anexadas pela autora não possuem data e que as notas do serviço executado foram avaliadas e assinadas pela autora. O artigo 18 do CDC garante ao consumidor a escolha entre três alternativas quando o produto apresentar algum defeito. 1) a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; 2) a devolução do valor pago; 3) o abatimento proporcional do preço. Vejamos as seguintes jurisprudências: CONSUMIDOR. AQUISIÇÃO DE MÓVEIS. DEFEITO NA MONTAGEM. TENTATIVAS INFRUTÍFERAS DE SOLUÇÃO AMIGÁVEL. DANO MORAL CONFIGURADO. I. Descumprimento contratual configurado, tendo em vista que a montagem dos bens adquiridos apresentou defeito, não podendo ser utilizados para o fim ao qual se destinavam. II. Em matéria de responsabilidade contratual, a concessão de indenização por danos morais somente deve ser deferida em casos excepcionais. III. No caso concreto, houve desconsideração para com a pessoa do consumidor, face à demora na solução, inclusive com a realização de audiência junto ao PROCON, sugerindo a invocação da função dissuasória da responsabilidade civil. IV. Quantum arbitrado em observância às peculiaridades do caso concreto e aos parâmetros da espécie. RECURSO PROVIDO. (TJ-RS - Recurso Cível: 71003368289 RS, Relator: Fernanda Carravetta Vilande, Data de Julgamento: 19/10/2011, Segunda Turma Recursal Cível, Data de Publicação: 21/10/2011) CONSUMIDOR. MÓVEIS PLANEJADOS. DEFEITOS NA MONTAGEM. ACABAMENTOS PRECÁRIOS. RESCISÃO DO CONTRATO. DANOS MATERIAIS COMPROVADOS. RESTITUIÇÃODOS VALORES PAGOS. DANO MORAL EXCEPCIONALMENTE CONFIGURADO. QUANTUM REDUZIDO. 1. O conjunto probatório trazido aos autos evidencia a ocorrência de defeitos nos acabamentos dos móveis sob medida adquiridos pela autora, sendo desnecessária a dilação probatória. Assim, deve ser afastada a preliminar de incompetência dos Juizados Especiais Cíveis. 2. Da mesma forma, não merece prosperar a preliminar de ilegitimidade passiva, pois ficou comprovada a participação da empresa demandada na contratação realizada entre as partes. 3. Configurada a má prestação do serviço prestado pela ré na montagem dos móveis, os quais apresentaram avarias nos acabamentos e alguns itens em desacordo com o contratado, conforme demonstram as fotografias das fls. 54/57. 4. Demonstrada a negativa de solução da controvérsia pelas vias administrativas, tendo em vista que a autora compareceu ao PROCON, sem que fosse realizado acordo (fl. 59). 5. Rescisão do contrato entabulado entre as partes, devendo a ré recolher os móveis da residência da demandante e devolver a quantia de R$9.575,00, correspondente às duas primeiras parcelas, quantia que sequer foi impugnada nas razões recursais. 6. Dano moral excepcionalmente configurado, considerando que a autora, pessoa idosa e com problemas de saúde, permaneceu sem poder utilizar os mobiliários de três cômodos de sua residência (cozinha, banheiro e dormitório), convivendo por longo período com a desordem causada pela impossibilidade de organizar seus pertences, o que ficou demonstrado através das fotografias trazidas aos autos. 7. Quantum indenizatório que comporta redução, a fim de se adequar aos parâmetros adotados pelas Turmas Recursais em casos semelhantes. RECURSO PROVIDO EM PARTE. (Recurso Cível Nº 71004662524, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Cleber Augusto Tonial, Julgado em 27/02/2014) (TJ-RS - Recurso Cível: 71004662524 RS, Relator: Cleber Augusto Tonial, Data de Julgamento: 27/02/2014, Terceira Turma Recursal Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 05/03/2014) Nesse contexto, o Código de Defesa do Consumidor protege o consumidor contra produtos que coloquem em risco a sua segurança e a sua saúde física e psíquica. Desse dever legal de proteção é que decorre, conforme previsto pelo artigo 12 do CDC, a responsabilidade de o fornecedor reparar o dano causado ao consumidor por defeitos decorrentes de fabricação, fórmulas, manipulação ou acondicionamento de seus produtos. No presente caso, é indubitável que o produto estragado expôs o consumidor a risco, seja à sua saúde física, seja à sua integridade psíquica. A respeito do tema, discorre Sérgio Cavalieri Filho: “O fornecimento de produtos e serviços nocivos à saúde ou comprometedores da segurança do consumidor é responsável pela grande maioria dos acidentes de consumo. Ora é um defeito de fabricação ou montagem de uma máquina de lavar, numa televisão, ou em qualquer outro aparelho eletrodoméstico, que provoca incêndio e destrói a casa; ora uma deficiência no sistema de freio do veículo que causa um acidente com graves consequências; ora, ainda, é um erro na formulação de medicamento ou substância alimentícia que causa danos à saúde do consumidor, como câncer, aborto, esterilidade etc”. No presente caso, o vício de qualidade do produto foi a causa do dano do Recorrente, sendo que a doutrina explica que “são considerados vícios as características de qualidade ou quantidade que tornem os produtos ou serviços impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam e também que lhes diminuam o valor” (Rizzatto Nunes. Curso de Direito do Consumidor. São Paulo: Saraiva, 7ª ed., 2012, p. 229). No presente caso o produto causou defeito de segurança ao consumidor expondo ao um dano eminente, que ocorreu quando, além de não corresponder à expectativa do consumidor, sua utilização ou fruição for capaz de criar riscos à sua incolumidade ou de terceiros. A insegurança, portanto, é um vício de qualidade que se agrega ao produto ou serviço como um novo elemento de desvalia e que transcende a simples frustração de expectativas. Daí a denominação de “fato do produto e do serviço” trazida pelo CDC, pois se tem um vício qualificado pela insegurança que emana do produto/serviço. A sistemática implementada pelo CDC protege o consumidor contra produtos que coloquem em risco sua segurança e, por conseguinte, sua saúde, integridade física, psíquica etc. Segundo o art. 8º do CDC “os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores”. Existe, portanto, um dever legal, imposto ao fornecedor, de evitar que a saúde ou segurança do consumidor sejam colocadas sob risco. Desse dever legal decorre a responsabilidade do fornecedor de “reparar o dano causado ao consumidor por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos” (art. 12, CDC). Segundo o CDC, “o produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera (...), levando-se em consideração (...) o uso e os riscos” razoavelmente esperados (art. 12, § 1º, II, CDC). Em outro dizer, há defeito – e, portanto, fato do produto – quando oferecido risco dele não esperado, segundo o senso comum e sua própria finalidade. Assim, a hipótese não é de mero vício (o qual, como visto, não congrega um fato extrínseco; na espécie, consubstanciado no risco oferecido). O CDC é paradigmático porque, “observando a evolução do direito comparado, há toda uma evidência de que o legislador brasileiro se inspirou na ideia de garantia implícita do sistema da common law (implied warranty). Assim, os produtos ou serviços prestados trariam em si uma garantia de adequação para o seu uso e, até mesmo, uma garantia referente à segurança que dele se espera. Há efetivamente um novo dever de qualidade instituído pelo sistema do CDC, um novo dever anexo à atividade dos fornecedores”. (MARQUES, C.; BENJAMIN, A.; e MIRAGEM, B. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: Ed. RT, 2ª ed., 2006, p. 258). PORTANTO, É INDISCUTÍVEL A RESPONSABILIDADE DAS RECORRIDAS EM INDENIZAR O RECORRENTE EM VIRTUDE DE QUE O PRODUTO VICIADO QUE LHE EXPÔS A RISCO, SEJA À SUA SAÚDE FÍSICA, SEJA À SUA INTEGRIDADE PSÍQUICA. De todo o exposto, deve-se ser reconhecido o direito do Recorrente ser indenizado em decorrência do risco a que fora exposto. Ainda que, na espécie, a potencialidade lesiva do dano não se equipare à hipótese de um produto com defeito em sua execução e montagem (diferença que necessariamente repercutirá no valor da indenização), é certo que o valor requerido na inicial se mostra justo, o ao menos que outro valor seja fixado de acordo com o entendimento dessa turma. V - DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS Ante o exposto, requer: a) O DEFERIMENTO DA JUSTIÇA GRATUITA nos termos do art. 98 do CPC, uma vez que a Recorrente não possui condições de arcar com as custas do processo conforme declaração de hipossuficiência e documentos anexos. b) O Recebimento, Conhecimento e Processamento do presente RECURSO inominado, em razão de ser próprio e tempestivo c) No mérito, seja o presente RECURSO ACOLHIDO E PROVIDO para modificar a sentença de primeira instância, julgando totalmente procedente a presente ação e condenar as Requeridas a indenizarem ao Recorrente nos danos morais sofridos em decorrência do ressico que esteve pelo produto viciado e pelos danos e transtornos que esse lhe causou, tais como o constrangimento, mal-estar, abalo psicológico, aquisição produto com defeito, trauma para nunca mais comprar móveis na loja descrita neste processo. d) A indenização poderá ser fixada na importância pretendida na inicial R$ 12.774,00 (doze mil setecentos e setenta e quatroreais) em um patamar que seja suficiente para garantir o caráter educativo para o Recorrido não vender produtos onde não há profissionais qualificados para a execução de sua instalação, e compensatório para o dano suportado pela Recorrente. e) Seja as Recorridas condenada ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, fixando estes no máximo admitido legalmente, no caso de sucumbência. Pede deferimento. Duque de Caxias - RJ, 21 de outubro de 2021 IURY RAMON CASTRO DUARTE OAB/RJ - 123.456 I - PRELIMINARMENTE DA NECESSIDADE DO DEFERIMENTO DA JUSTIÇA GRATUITA EM SEDE RECURSAL II - DA TEMPESTIVIDADE IV. DAS RAZÕES PARA REFORMA V - DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS
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