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DOENÇAS TUBULOINTERSTICIAIS Introdução · Temas que serão abordados: · Necrose tubular aguda - NTA · Nefrite intersticial aguda · Nefrite intersticial crônica · Necrose de papila · Distúrbios segmentares do néfron NECROSE TUBULAR AGUDA - NTA · O que fazem os túbulos? · Reabsorção do filtrado glomerular (98%) · Função ativa, com gasto de energia · Secreção ativa de escórias e eletrólitos, contra gradiente de concentração · Necrose tubular aguda - NTA · Lesão do epitélio tubular, com descamação das células epiteliais e obstrução do lúmen tubular por plugs celulares · Se o paciente sobrevive ao insulto que causou a NTA, ocorre reepitelização tubular após tempo variável - entre 07 e 21 dias · Isso significa que, na maior parte dos casos, a NTA é uma síndrome renal autolimitada · A bioquímica urinária na NTA é característica, importante para diferenciação entre NTA e IRA pré-renal: · Urina na NTA: 1. Muito SÓDIO e muita ÁGUA na urina - pois os túbulos perderam a capacidade de reabsorver água e eletrólitos Sódio Urinário ALTO (> 40mEq/l) Fração Excretada de Na ALTA (>1%) Osm Urinária BAIXA (<350 mOsm/l) - muita água na urina Densidade Urinária BAIXA (<1.015) - EAS Cilindros epiteliais granulosos pigmentares · A título de curiosidade: existem dois exames que podem indicar a evolução para NTA de forma precoce (ainda não validados com esse propósito): · NGAL (Gelatinase associada à Lipocalina) · KIM-1 (Molécula de Injúria Renal Aguda) · Como a NTA reduz a TFG??? (queda de 5-10 ml/min) a. Feedback tubuloglomerular 1. O aparelho justaglomerular é capaz de modular a TFG 1. Células da mácula densa percebem variações na concentração de eletrólitos no filtrado glomerular: 1. Altas concentrações eletrolíticas: resultam em estímulo para vasoconstrição da arteríola glomerular aferente e redução da TFG 1. Baixas concentrações eletrolíticas: resultam em estímulo para vasodilatação da arteríola glomerular aferente e aumento da TFG · NTA: · Há perda da capacidade reabsortiva nos segmentos tubulares proximais, de modo que o fluido que chega ao túbulo contorcido distal é altamente concentrado. Como resultado, o aparelho justaglomerular promove forte contração da arteríola glomerular aferente, e redução da TFG b. Plugs obstrutivos . Não há progressão do filtrado glomerular. A produção de urina é reduzida, e se aumenta a pressão retrógrada c. Backleak de escórias . O túbulo “esburacado” em decorrência da morte de células epiteliais permite retorno de escórias para o plasma · Oligúrica X Não-oligúrica · A NTA oligúrica ocorre na presença de lesão intensa, com grande volume de células necrosadas · Lesões menos intensas são mais comuns em NTA nefrotóxicas 1. Em alguns desses casos pode haver até poliúria secundária. Não há necrose e descamação de grande número de células, e não há cilindros epiteliais no EAS 1. NTA oligoanúricas são mais comuns em insultos isquêmicos (choque, hipoperfusão renal) · Causas · Isquêmicas · Na medida em que o rim passa a ser hipoperfundido, o paciente entra nesse continuum de lesão, até o momento em que a lesão deixa de ser imediatamente reversível => NTA. Obs: a IRA pré-renal é imediatamente reversível com reposição volêmica · Choque circulatório (redução do volume circulante efetivo): principal causa de NTA em pacientes hospitalizados · Hemorragia, Sepse, Grande Queimado · Tóxicas · Toxicidade tubular direta · Aminoglicosídeos (Gentamicina, Amicacina): TCP · Componente “amino” e “glicosídeo” simulam substâncias importantes para os receptores do TCP · Causam NTA por toxicidade tubular direta · Anfotericina B: AH e TC · “Detergente” de membranas lipídicas. Tem como alvo o ergosterol, molécula de membrana dos fungos · Em grandes concentrações, exerce a mesma ação sobre o colesterol presente nas membranas das células tubulares · O aumento da permeabilidade de membrana nas células desse segmento aumenta a secreção de potássio, o que explica a intensa hipocalemia associada · Mioglobina (rabdomiólise): TCP · Pigmento endógeno que se precipita no TCP em contexto de rabdomiólise · Possui grupamentos Heme, ricos em átomos de ferro. O ferro produz espécies reativas de oxigênio, causando estresse oxidativo nas células tubulares · Vasoconstrição de arteríolas pré-glomerulares · Contraste iodado · Tacrolimus · Ciclosporina · Mioglobina (rabdomiólise) - lesão tubular direta E vasoconstrição de arteríolas (padrão misto) · Tratamento · Não há como acelerar a regeneração dos túbulos - 07 a 21 dias para recuperar a função renal · O ideal é a PREVENÇÃO (restauração da perfusão renal, remoção das nefrotoxinas) · CONTRASTE IODADO: · HCO3, N-acetilcisteína na véspera e no dia do exame, formulação iso/hipo-osmolar em baixa dose (se possível) · Medidas indicadas para pacientes com maior risco de NTA em que não é possível evitar o contraste: 2. Nefropatas prévios, especialmente diabéticos · Medidas atualmente proscritas: · Dopamina em doses baixas => promove vasodilatação da arteríola glomerular aferente, o que a princípio seria interessante · Porém, nunca demonstrou reduzir a taxa de mortalidade por NTA. Pelo contrário, a aumenta · Por ser uma catecolamina, a dopamina pode causar taquiarritmias ventriculares no contexto de doença aguda grave · Diuréticos de alça (controverso) · Pacientes que respondem aos diuréticos de alça possuem lesão renal menos grave. Não parece ser o diurético de alça em si que promove redução da taxa de NTA · História natural · Fase inicial: intervenção precoce eficaz é capaz de evitar necessidade de diálise · Fase de manutenção: 07-21 dias (ou até 12 meses) - em geral há necessidade de diálise nesse período · Recuperação: fase de poliúria => devido à imaturidade das células recém-formadas que reepitelizam os túbulos. Durante esse período, é importante manter o paciente internado, com reposição hidroeletrolítica e monitorização laboratorial cuidadosa, pois há risco de nova lesão renal aguda NEFRITE INTERSTICIAL AGUDA - NIA Corte histológico de um rim normal Nefrite intersticial - nota-se redução do calibre dos glomérulos e túbulos renais por efeito compressivo do edema intersticial Causas · Fármaco-induzida (alérgica) - reação sistêmica causa intensa inflamação do parênquima renal, difusa e bilateral, que costuma evoluir com IR. Pensar no diagnóstico em pacientes que introduziram recentemente alguma dessas medicações: · ATB: beta-lactâmicos, sulfas, rifampicina · AINEs: derivados do ácido propiônico (terminação em “eno”): naproxeno, ibuprofeno, cetoprofeno · Diuréticos: tiazídicos e furosemida · Miscelânia: alopurinol, fenitoína, omeprazol · Infecciosa - não causa IR na maioria das vezes, pois costuma ser unilateral · Autoimune/idiopática Quadro clínico-laboratorial · IRA oligúrica + dor lombar (distensão da cápsula renal pelo edema) · Sinal de Giordano positivo bilateralmente · Aumento da ecogenicidade na USG (edema, infiltração celular inflamatória) · Febre + rash cutâneo (eritematoso maculo-papular em tronco e porções proximais dos membros) · Eosinofilia + aumento de IgE · Hematúria + proteinúria + piúria (cilindros) · FENa > 1% - perda da função reabsortiva tubular · Eosinofilúria (<⅓ dos casos) - achado CLÁSSICO · não é obrigatório e nem patognomônico, pois também pode ocorrer no ateroembolismo · Pesquisa de eosinofilúria: Coloração de HANSEL · Exceção a esse quadro clínico-laboratorial: · NIA induzida por AINEs · É comum ausência de manifestações “alérgicas” · Em 70% dos casos há síndrome nefrótica associada (Doença de Lesões Mínimas - DLM) · Período de incubação longo · BIÓPSIA RENAL · A princípio NÃO DEVE SER FEITA! · O diagnóstico é feito pelo reconhecimento dos sinais e sintomas da NIA · Conduta empírica: · Retirada do medicamento agressor · Se NIA “alérgica” típica: curso breve de corticoide · Se NIA atípica: BIÓPSIA NEFRITE INTERSTICIAL CRÔNICA – NIC Fibras colágenas coradas em azul - fibrose intersticial + atrofia tubular e glomerular. Substituição do edema intersticial por fibras colágenas e da hipercelularidadeinflamatória por hipocelularidade Peculiaridades clínicas: · Maior incidência de síndromes tubulares específicas (concentração e acidificação) · Lesões dos segmentos medulares (AH e TC) · Poliúria por dificuldade de concentração urinária · Acidose tubular renal por dificuldade de eliminação de ácidos · HAS “secundária” comumente associada - hipertensão parenquimatosa renal · Anemia desproporcional ao grau de perda da função renal - deficiência de eritropoietina · Bioquímica urinária: Semelhante à NIA, mas SEM eosinofilúria · Espera-se: hematúria não dismórfica, cilindros leucocitários e proteinúria subnefrótica Etiologia · Persistência de NIA - episódios recorrentes de NIA, com diagnósticos tardios · Ausência de NIA precedente · Nefropatia obstrutiva · Na fase aguda, há redução da TFG nas primeiras 12-24 horas devido ao aumento da pressão intra-tubular · Na fase crônica há liberação de fatores quimiotáxicos pelas células tubulares, que atraem células inflamatórias para o parênquima renal. Essas células causam lesão adicional, com necrose do epitélio tubular e formação de tecido fibrótico cicatricial 2. A NIC e a fibrose surgem nesse contexto - o quadro agora é irreversível . Nefropatia analgésica 2. Clássico: Fenacetina + Aspirina => associação foi retirada do mercado após conhecimento de seus riscos 2. Comum associação com necrose de papila - a lesão da nefropatia analgésica incide predominantemente nos vasos retos medulares renais, responsáveis pela irrigação da papila renal 2. Aspecto típico na TC de abdome: 3. Parênquima atrófico e lobulado, com calcificações papilares Córtex renal de espessura reduzida, heterogeneidade parenquimatosa (aumento de fibras colágenas), e concreções radiopacas na topografia das papilas renais (papilas necrosadas calcificadas) · Maior incidência de carcinoma urotelial nesses casos - as toxinas decorrentes da metabolização da fenacetina caiam na urina e eram deletérias para as células do epitélio de transição · Nefrocalcinose · Calcificação do parênquima renal decorrente de hipercalcemia prolongada · Ocorre predominantemente no néfron distal - causa distúrbios da concentração e da acidificação urinária · Causas possíveis - todas causas de hipercalcemia crônica: Sarcoidose Hiperviaminose D Metástases Líticas Mieloma Múltiplo ATR tipo I Hiperparatireoidismo Numerosas calcificações parenquimatosas renais, difusas e bilaterais · Nefropatia hipocalêmica · Hipocalemia grave e prolongada promove degeneração VACUOLAR (reversível) do néfron · Células do epitélio tubular passam a apresentar vacúolos citoplasmáticos, cuja causa é desconhecida · Com a identificação do quadro e reposição do potássio, em grande parte dos casos o quadro se resolve · Se nada for feito, ocorre atrofia e fibrose IRREVERSÍVEL · Principais causas de hipocalemia crônica: Abuso de laxantes Toxicidade diuréticos Bulimia nervosa Hiperaldosteronismo · Saturnismo · Intoxicação crônica pelo chumbo · A incidência vem diminuindo cada vez mais, com a melhoria das condições de trabalho na mineração · A disfunção ocorre predominantemente no TCP, pois o “chumbo é pesado” · Pode haver ainda a GOTA SATURNINA (gota tofosa grave com hiperuricemia crônica grave + HAS + IRC) · O diagnóstico é difícil - demonstração da plumbemia · A biópsia não costuma esclarecer esses casos, pois não revela o chumbo · Tratamento = Quelantes de chumbo (EDTA) · Nefrotoxicidade do Lítio · O uso prolongado (10-20 anos) causa nefrotoxicidade · O lítio tem afinidade por um canal epitelial de sódio presente no TC (ENaC) · Além do sódio, esse canal também reabsorve o lítio, que se acumula no TC · Prevenção: · Uso de diurético de túbulo coletor, que bloqueia o canal epitelial de sódio - amiloride · Manter lítio sérico < 1mEq/l NECROSE DE PAPILA RENAL Papila renal · Estrutura onde desaguam os túbulos coletores para dentro do sistema coletor · São as porções menos perfundidas do parênquima renal - para que sangue chegue à papila, precisa atravessar a medula renal hipertônica, através dos vasos retos · O sangue já chega na papila em menor quantidade e com menor teor de oxigênio. Por isso é uma estrutura naturalmente propensa à isquemia Principais causas de Necrose de Papila => Necrose de papila é PHODA! · Pielonefrite · A infecção e o edema inflamatório são eventos isquêmicos à papila - papilite necrosante · Hemoglobinopatia S (Anemia falciforme) · O afoiçamento de hemácias na anemia falciforme naturalmente ocorre em condições como: hipoxemia, acidez e hipertonia - todas essas características são encontradas na papila renal. Há afoiçamento de hemácias durante a travessia do sangue pelos vasos retos · Obstrução urinária · Aumento de pressão dentro do sistema uroexcretor - leva à compressão das papilas e redução da perfusão tecidual · Diabetes Mellitus · Lesão microvascular obstrutiva dos vasos retos · Analgésicos · Fenacetina + AAS => produção de metabólitos tóxicos derivados da fenacetina que deixam de ser degradados devido ao efeito do AAS. Essa combinação causa lesão dos vasos retos, levando à necrose de papila A - Peça anatômica: necrose em topografia de papilas; B - Urografia excretora: sombras em anel, que representam as papilas necrosadas e descamadas para dentro do sistema coletor Clínica · Variável - em alguns casos o quadro é agudo e fulminante · Pode haver IRA pós-renal associada à cólica nefrética - pelo deslocamento das papilas necrosadas pelo sistema excretor · Por definição, há infecção urinária associada até prova em contrário - pois o conteúdo presente no sistema excretor é meio de cultura para patógenos · IRA pós-renal (pela obstrução ureteral) · Hematúria (pelo sangramento da ferida presente no parênquima renal) · Na nefropatia analgésica o quadro pode ser insidioso, e menos sintomático DISTÚRBIOS DO TCP Disfunções parciais · Glicosúria renal · Definida como a presença de glicose em excesso na urina na ausência de hiperglicemia => como resultado da incapacidade renal de reabsorver glicose · Hereditária · Pode ser lesão inicial do Mieloma Múltiplo e da doença de Wilson · Aminoacidúrias hereditárias · Cistinúria · Responsável por 2% das urolitíases · Cristais hexagonais no EAS => achado patognomônico · Dosagem urinária > 18 mg/dia corrobora o dx · Tratamento: aumento da ingesta hídrica, alcalinização urinária, abstinência de metionina, principal precursor da cistina. Indivíduos refratários: D-penicilamina – quelante de cistina · Doença de Hartnup · Perda de Triptofano (precursor endógeno da niacina – Vit. B3) · Consequência: ataques de Pelagra · Rash eritematoso, Crostoso e Fotossensível + Ataxia cerebelar + Confusão Mental + Diarreia · Diagnóstico: cromatografia da urina · Tratamento: reposição de nicotinamida (precursora da niacina) · Acidose Tubular Renal Proximal (Tipo II) · TCP é responsável pela reabsorção de HCO3 · Há uma queda no limiar de reabsorção do HCO3 – 15-20 mEq/L (normal: 22-24 mEq/L) · Tudo o que for HCO3 no plasma e ultrapassar esse limite será perdido na urina · Perda de HCO3 gera HipoK · O HCO3 é um ânion que circula no fluido tubular distal, e a secreção de potássio no TCD é eletrogênica, movida por um gradiente eletroquímico · A presença de HCO3 em níveis aumentados no fluido tubular distal eleva a secreção de potássio · Obs: a reposição de HCO3 eleva a bicarbonatúria e agrava ainda mais o quadro, pois o TCP é incapaz de reabsorver HCO3 · Déficit de Crescimento (redução de mineralização óssea) é uma complicação comum das acidoses tubulares renais · O H+ que sobra no plasma é tamponado de diversas formas. Uma delas é o sequestro de H+ na matriz óssea mineralizada · Como o H+ é um cátion, sua entrada na matriz óssea depende da saída de outro cátion => o cálcio · Há assim um processo de descalcificação esquelética. Se a ATR for hereditária (comumente é), o paciente (criança) desenvolve raquitismo; se for um adulto, o osso já formado fica mais “mole” (osteomalácia) · Tratamento · Reposição de bases => Citrato de K+ (dose alta) – O HCO3 propriamente ditoé pouco palatável, o que inviabiliza sua reposição oral · Citrato é rapidamente convertido em HCO3 no fígado · Associado a Potássio para reposição deste eletrólito, pois continuará havendo bicarbonatúria, e consequentemente hipocalemia (defeito tubular é irreversível) Disfunção generalizada · Síndrome de Fanconi · Todas as funções relativas ao TCP são perdidas · Clínica: · Glicosúria · Aminoacidúria · Fosfatúria · ATR II · Deficiência de Calcitriol => forma ativa da vitamina D, produzida pelas células do TCP · Paciente evolui com grave desmineralização óssea · Principal causa: · MIELOMA MÚLTIPLO · Cadeias leves do MM lesam de forma predominante o TCP DISTÚRBIOS DA ALÇA DE HEINLE Síndrome de Bartter · Condição geneticamente mediada que acomete a porção ascendente espessa da AH, mais especificamente os mecanismos do cotransporte tríplice Na/K/2Cl – logo, costuma acontecer em crianças · Detalhe: uma medicação que simula este processo é a FUROSEMIDA · Clínica: · Poliúria/Polidipsia (distúrbio da concentração urinária) · A porção ascendente espessa da AH é responsável pela concentração da medula renal, gerando um ambiente medular hipertônico, essencial para a reabsorção de água e eletrólitos no túbulo coletor · PA normal ou baixa · Alcalose metabólica HipoK e HipoCa · Mecanismo: o Na não está sendo direcionado à medula pela AH, e permanece no fluido urinário. Quando chega ao TC em altas concentrações, é reabsorvido às custas da liberação de K+ ou H+ · Além disso, é no ramo ascendente espesso da AH que ocorre a reabsorção de cálcio. Dessa forma, a perda desse segmento promove hipercalciúria e hipocalcemia · Retardo no crescimento · Doença esquelética, sequelas neurológicas que levam a déficits nutricionais, infecções de repetição, etc · HIPERALDOSTERONISMO HIPER-RENINÊMICO · Espoliação de sal e água promove redução do volume circulante efetivo. A hipoperfusão renal estimula liberação de renina pelo aparelho justaglomerular (ativação do SRAA) · Há ainda grande aumento da produção de Prostaglandina E2 (PGE2) no parênquima renal em pacientes com formas graves da síndrome de Bartter · A mesma lesão bioquímica presente na porção ascendente espessa da AH ocorre no aparelho justaglomerular. Nesses pacientes existe um aumento da atividade da produção de PGE2 · A PGE2 em excesso aumenta a espoliação renal de potássio e a incapacidade renal de concentrar a urina · Tratamento: · Espironolactona – antagonista do receptor de aldosterona · Amiloride (pode ou não ser associado) – bloqueador da reabsorção distal de sódio · AINEs – redução da síntese de PGE2 DISTÚRBIOS DO NÉFRON DISTAL Disfunção do TCD · Síndrome de Gitelman · Doença geneticamente mediada que causa disfunção no cotransporte de NaCl no TCD · Esse mecanismo é simulado pelos diuréticos TIAZÍDICOS · Clínica: · Atinge pacientes pediátricos · Não há distúrbio da concentração urinária – pois aqui o problema não atinge a AH · Ausência de poliúria/polidipsia · Alcalose metabólica hipocalêmica de causa obscura – no TC, o Na+ é reabsorvido em troca da secreção de K+ ou H+ · A redução da reabsorção de Na+ em qualquer segmento que antecede o TC faz com que a reabsorção no TC se intensifique · Logo há maior secreção de K+ e H+ · HipoMg grave (mecanismo desconhecido) · Acidose Tubular Renal Distal (Tipo I) · H+ ATPase na célula intercalada do Túbulo Coletor · Incapacidade de acidificação máxima (quando necessário, o pH urinário normal pode chegar até cerca de 4.5) · No paciente com ATR I o pH urinário não cai abaixo de 5.3, mesmo na presença de acidose grave!!! · Clínica: · Acidose metabólica HipoK => como há defeito na H+ ATPase, somente o K+ é secretado na reabsorção de Na+ · Hipercalciúria/Nefrolitíase/Nefrocalcinose · Déficit de crescimento (crianças) · Tratamento: citrato de K+ (baixa dose) · A dose é menor que na ATR II, pois aqui o rim é capaz de reter HCO3 · Principal etiologia adquirida de ATR I (adultos): · Síndrome de Sjögren · Acidose Tubular Renal tipo IV · Defeito da célula principal do TC (aquela que responde à aldosterona) · Fenótipo de “hipoaldosteronismo” · Hipoaldosteronismo verdadeiro OU · Pseudo-hipoaldosteronismo (resistência à aldosterona) · Clínica: · Acidose metabólica HiperK => redução da reabsorção de Na+ no TC, consequentemente retendo H+ e K+ neste segmento do nefron · Diabetes Insipidus Nefrogênico - DIN · Caracterizado pela resistência do TC ao ADH, com consequente incapacidade de concentrar urina · Clínica: · Poliúria/Polidipsia (às vezes surge HiperNa pela perda de água livre – especialmente em idosos acamados e crianças, que não se hidratam adequadamente quando sentem sede) · Não responde ao dDAVP – análogo do ADH, pois há uma resistência do TC ao hormônio · Principais causas: · Síndrome de Sjögren – causa NIC, ATR I e DIN · Lítio · Nefrocalcinose · Tratamento: · Se não há resposta ao dDAVP, como tratar? · DIURÉTICO TIAZÍDICO · Inibe o cotransporte de NaCl no TCD, segmento imediatamente anterior ao TC, o que aumenta a osmolaridade urinária e reduz a perda urinária necessária para manter o equilíbrio osmótico corporal. A ideia é: se o indivíduo tem a urina “muito diluída”, precisa perder um volume urinário muito grande para eliminar uma quantidade satisfatória de solutos. Ao concentrar a urina, o tiazídico reduz o débito urinário nesses pacientes. DOENÇA RENOVASCULAR ESTENOSE DE ARTÉRIA RENAL Principais causas · Aterosclerose: placa aterosclerótica levando à obstrução parcial de uma ou ambas as artérias renais. É a causa mais comum (90% dos casos). Ocorre predominantemente em indivíduos idade > 65 anos, com um ou mais fatores de risco para doença aterosclerótica (HAS essencial, dislipidemia, tabagismo, doença cerebrovascular, doença isquêmica do miocárdio, arteriopatia obstrutiva de MMII). · Localização: Lesões em óstio e 1/3 proximal das artérias renais, uni ou bilateral · Displasia fibromuscular: doença de mulheres jovens (15-40 anos). · Localização: Lesões em 1/3 médio e distal das artérias renais, unilateral Estenose de artéria renal UNILATERAL Definição: A estenose de artéria renal significativa é toda aquela capaz de causar hipoperfusão renal importante. Em geral, são obstruções superiores a 75% do lúmen OU >50% do lúmen associada a dilatação pós-estenótica) Consequência fisiológica: A hipoperfusão renal estimula a produção de renina e ativação do SRAA. · Angiotensina II: é um vasoconstritor direto, e induz vasoconstricção sistêmica; também estimula liberação de aldosterona, o que promove a reabsorção de Na e água e a liberação de K+ e H+ em excesso, tendo como consequências: Hipertensão arterial RENOVASCULAR e Alcalose metabólica Hipocalêmica · Um conceito importante é o de que o principal mediador da HAS renovascular é a angiotensina II!!! · Para o rim que está sendo hipoperfundido, a angiotensina II é benéfica, pois provoca vasoconstrição da arteríola eferente e aumenta a TFG. Logo, a angiotensina II mantém a filtração do rim doente · Assimetria renal: a hipoperfusão renal crônica resulta em assimetria renal, pois o rim isquêmico sofre redução volumétrica Estenose de artéria renal BILATERAL – Nefropatia Isquêmica Definição: Obstrução significativa de ambas as artérias renais. Também se aplica neste tópico a estenose de a. renal unilateral em pacientes com rim único. É mais comumente causada por aterosclerose. Há um processo intenso de ativação do SRAA, com hipertensão renovascular e dependência da angiotensina para manter a TFG em ambos os rins · IECA: nesses pacientes desencadeia Injúria renal aguda Aspectos clínicos suspeitos para o diagnóstico: · Piora inexplicada da HAS em idosos · Piora progressiva da função renal Hipertensão Renovascular · Quando suspeitar? · Hipertensão “inesperada” e agressiva em indivíduos < 30 ou > 50 anos · Resistente ou refratária · Resistente: uso de mais de 03 classes de droga para controle da PA · Refratária: não controla PA mesmo em uso de 04 ou mais drogas · Sopro abdominal · EAP recorrente · Assimetria renal na USG => nem sempre significaestenose unilateral, pois as lesões podem ser bilaterais com níveis obstrutivos diferentes · Hipocalemia e Alcalose metabólica · Ocorre em decorrência dos níveis elevados de aldosterona · Um diagnóstico diferencial importante nesses casos é o hiperaldosteronismo primário (Tumor de Conn) · Como investigar? · Existem quatro opções de testes iniciais: · Duplex scan de artérias renais: mede a velocidade do fluxo sanguíneo no local da lesão · Velocidade de pico sistólico > 200-300 cm/seg sugere estenose > 60% · Índice de Resistência Intrarrenal (IRIR): · IRIR > 80 – má resposta à Revascularização (indica elevado grau de fibrose parenquimatosa, atrofia tubular) · IRIR < 80 – boa resposta à Revascularização · Vantagem: pode ser feito em pacientes com DRC · Desvantagens: obesidade, técnica operador dependente · Angio-TC Helicoidal de Artéria Renal · Acurácia melhor que o duplex scan // não fazer se paciente tiver retenção de escórias nitrogenadas devido ao contraste iodado · Angiorressonância de Artéria Renal · Acurácia melhor que o duplex scan // não fazer se TFG < 30mL/min, pois nesse contexto o gadolíneo pode provocar Fibrose Sistêmica Nefrogênica · Estenose hemodinamicamente significativa (vista por Angio-TC ou AngioRNM): >75% ou >50% com dilatação pós-estenótica · Cintilografia Renal com DTPA Pré e Pós Captopril · Possui uma limitação importante: a retenção de escórias nitrogenadas atrapalha a interpretação do exame · Como é feito o exame: É feita uma cintilografia renal inicial, que serve como parâmetro do estado renal. Administra-se Captopril 25-50mg e, em seguida, é feita outra cintilografia renal. Em indivíduos com estenose renal unilateral significativa, o bloqueio do SRAA pelo IECA se expressa no exame por redução da captação do radiotraçador, que é um processo dependente da perfusão do órgão · Não pode ser feito em indivíduos com estenose bilateral · Outros dados relevantes sobre o exame: · Muito pouco usado atualmente · Baixa correlação com benefícios pós-angioplastia · Perde utilidade na presença de elevação de escórias · PADRÃO-OURO · ARTERIOGRAFIA RENAL · Está indicada quando um dos testes iniciais for positivo, SE houver proposta de revascularização · Ex: estenose bilateral significativa, diagnosticada pelo duplex scan Apresentação típica das duas principais causas de estenose de artéria renal na arteriografia Seta: Aspecto em Colar de Contas, típico da displasia fibromuscular · Planejamento Cirúrgico · EXAME FUNCIONAL INVASIVO · Indicado para casos de Estenose bilateral, para identificar o rim mais implicado na produção de Renina. O objetivo é ser menos invasivo e atuar em apenas um dos rins, pois a angioplastia bilateral com stent deve ser evitada · Outra aplicação é em casos de Rim unilateral atrófico, para identificar se ele ainda produz renina. · Ausência de função renal (cintilografia) + Lateralização da renina (Exame funcional) => NEFRECTOMIA · Parâmetros do exame – estenose bilateral: · Coleta de sangue de ambas as veias renais E da veia cava infrarrenal. Com esse sangue, calcula-se: · ARP da veia renal de um rim / ARP da veia renal de outro rim ≥ 1,4 =>> Lateralização da renina · O que isso significa: um dos rins está comandando a produção de renina, e seu tratamento é prioritário! · Se ARP da veia renal > 50% da ARP da cava infrarrenal =>> confirma a lateralização · Como tratar? · TRATAMENTO CLÍNICO · Estenose Unilateral: IECA ou BRA-II são as drogas principais do esquema · Estenose Bilateral: Antagonista dos Canais de Cálcio é a droga principal · REVASCULARIZAÇÃO - INDICAÇÕES · Displasia fibromuscular (sempre) · Aterosclerose Bilateral (sempre) – o ideal é tentar a revascularização de uma das artérias renais (o com maior produção de renina) · Aterosclerose Unilateral SE: · Hipertensão refratária · Hipertensão acelerada maligna (encefalopatia hipertensiva, fundo de olho graus III ou IV, nefroesclerose arteriolar maligna) · Edema agudo de pulmão hipertensivo · Insuficiência Cardíaca · REVASCULARIZAÇÃO DA ARTÉRIA RENAL - MÉTODOS · Angioplastia Transluminal Percutânea de Artéria Renal · Na aterosclerose – se utiliza o stent para reduzir o risco de reestenose · Na Displasia fibromuscular – sem stent, pois o risco de recidiva é baixo · Cirurgia de Revascularização Renal · Cada vez menos recomendada · PRINCIPAIS INDICAÇÕES: · Artérias Renais Múltiplas e Pequenas · Ramificação Precoce da Artéria Renal · Reconstrução Aórtica concomitante (ex: aneurisma de aorta abdominal associado) · Falência da Angioplastia Exemplo: Bypass da aorta para a artéria renal OCLUSÃO ARTERIAL AGUDA DA ARTÉRIA RENAL Classificação: · Embólica: mais frequente · 90% de origem cardíaca · FA na estenose Mitral · Trombo mural pós-IAM · Endocardite · Mixoma atrial · A a. renal esquerda costuma receber mais êmbolos que a a. renal direita => por sair da aorta em um ângulo mais agudo · Trombótica: origem em placa aterosclerótica na a. renal, por: · Ruptura espontânea da placa · Ruptura após procedimentos – ex: cateterização da a. renal Quadro clínico · Dor (“cólica renal”) – em flanco, súbita, acompanhada de náusea e/ou vômitos · Hematúria – mais comumente microscópica · Febre – após 1 a 2 dias · Hipertensão Renina-Dependente – por hipoperfusão renal Laboratório · Aumento expressivo de LDH · TGO discretamente elevada · EAS: Hematúria, Proteinúria Diagnóstico · Angio TC, AngioRM => na maioria dos casos esses pacientes não possuem IRA e podem fazer o exame · Angiografia renal => reservada para indivíduos candidatos à revascularização: · (1) Trombose ou Embolia unilateral com circulação colateral intrarrenal presente · (2) Trombose ou Embolia bilateral – obrigatória revascularização Circulação renal com múltiplos trombos Tratamento · Revascularização (Cir ou Angioplastia) – INDICAÇÕES: · (1) Trombose ou Embolia unilateral com circulação colateral intrarrenal presente · (2) Trombose ou Embolia bilateral · Anticoagulação => na ausência das condições citadas acima ATEROEMBOLISMO RENAL Definição: Complicação da doença ateromatosa ulcerativa da aorta abdominal · Em situações como trauma ou cateterismo aórtico, ocorrem lesões nas placas ateroscleróticas presentes no interior do vaso. A partir daí há uma pulverização de êmbolos para diversas regiões do corpo (ex: pele, retina, rim, pâncreas, músculos) · Nos rins: Impactação de microêmbolos de colesterol na microcirculação renal, que tem como consequências: · Perda progressiva da função renal · Hipertensão arterial grave Renina-Dependente · Manifestações sistêmicas: · Mialgias – acometimento muscular · Isquemia de extremidades – livedo reticularis · Leucocitose com eosinofilia · Aumento de CPK e TGP · Consumo do sistema complemento · Fundo de olho: Placas de Hollenhorst Lesões brilhantes – êmbolos de colesterol impactados na vasculatura da retina · Biópsia renal: Fissuras vasculares biconvexas As fissuras representam os locais onde estavam os microêmbolos, que se dissolvem durante a preparação do material Tratamento: Suporte. 1
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