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Introdução à Nefrologia Rim: órgão par, de localização retroperitoneal Função endócrina: ativa vitamina D; sintetiza eritropoietina (estimula a eritropoiese na medula); Participa no equilíbrio hidroeletrolítico ácido-base; Função excretora: formação da urina Parênquima renal é constituído por duas camadas: 1.cortical (mais externa): contém os glomérulos é responsável pela depuração do sangue que chega aos rins, dando início à formação do filtrado, precursor da urina. 2.medular (mais interna): é formada por 10-18 pirâmides de Malpighi. As saliências dessas estruturas cônicas nos cálices renais são as papilas renais, que possuem, nas suas porções mais ditais, 10 a 25 aberturas para passagem da urina formada. Cada papila renal se abre para um cálice menor. Envolvendo o contorno externo dos rins encontra-se uma membrana de tecido conjuntivo: a cápsula renal. Ao redor desta cápsula está a gordura perirrenal: a fáscia de Gerota. Os cálices maiores são formados pela confluência de 3 ou 4 cálices menores. A pelve renal é formada pela confluência de 2 ou 3 cálices maiores. Lobo renal: formado por 1 pirâmide de Malpighi + seu córtex suprajacente. NÉFRON É a unidade funcional dos rins. Funções: produção do filtrado glomerular nos corpúsculos de Malpighi e o processamento desse filtrado no sistema tubular. Os rins possuem em média 1,6 milhões de néfrons. Partes corticais: corpúsculos de Malpighi, túbulos contorcidos proximal e distal e parte inicial do túbulo coletor. Partes medulares: alça de Henle e a maior parte dos túbulos coletores. CORPÚSCULO DE MALPIGHI Glomérulo: estrutura cortical, que gera filtrado glomerular, o qual se transforma em urina. É um tufo capilar que é interposto entre duas circulações arteriais (Arteríola aferente e eferente). Cápsula de Bowman: envolve os glomérulos. Possui 2 folhetos: visceral e parietal. Entre esses espaços está o espaço capsular, que recebe o infiltrado glomerular. O folheto interno é formado pelos podócitos, células que emitem prolongamentos que “abraçam” as alças capilares, delimitando as fendas de filtração. Nos espaços entre as alças capilares glomerulares existe um tecido conjuntivo de sustentação denominado mesângio. Além de fornecer sustentação, está relacionado à eliminação de resíduos aprisionados durante o processo de filtração. SISTEMA TUBULAR O líquido filtrado dos capilares glomerulares flui para o interior da cápsula de Bowman e daí para o interior do túbulo contorcido proximal que se situa na zona cortical. Então, o líquido flui para o interior da alça de Henle, que mergulha no interior da medula renal. Cada alça consiste em ramos descendente e ascendente. No final do ramo ascendente existe um pequeno segmento que tem em sua parede placa de células epiteliais especializadas, conhecidas como mácula densa. Depois, o líquido entra no túbulo contorcido distal que se situa no córtex renal. Este é seguido pelo túbulo conector e túbulo coletor cortical, que levam ao ducto coletor cortical. As partes iniciais de 8 a 10 ductos se unem para formar o único ducto coletor maior que se dirige para a medula e forma o ducto coletor medular. Os ductos coletores se unem para formar ductos progressivamente maiores que se esvaziam na pelve renal, pelas extremidades das papilas renais. APARELHO JUSTAGLOMERULAR Constituído por néfrons com glomérulos perto da medula e pela mácula densa. VASCULARIZAÇÃO RENAL Cada rim recebe uma A. Renal que, no hilo, costuma se dividir em seus ramos. Ao adentrar o tecido renal, dá origem às artérias interlobares. Ao atingirem a base das pirâmides (divisão entre o córtex e a medula), as interlobares originam as arciformes ou arqueadas. Destas, surgem as interlobulares. A seguir, originam-se as arteríolas aferentes, que vão formar as alças capilares dos glomérulos. Da confluência dessas alças surgem as arteríolas eferentes, que continuam o trajeto arterial para nutrir o parênquima renal. Elas originam os vasos peritubulares encarregados da reabsorção tubular. Os vasos sanguíneos do sistema venoso progressivamente formam a veia interlobular, veia arqueada, veia interlobar e veia renal, que deixa o rim pelo hilo, paralelo à A. Renal e ao ureter. A vascularização da medula é extremamente escassa (principalmente na ponta, a papila), tornando essa região muito sensível a pequenas alterações de perfusão. Doenças que comprometem a microcirculação renal predispõem à lesão isquêmica (ex: DM, anemia falciforme). ASPECTOS FISIOLÓGICOS A gênese da urina começa com a formação do filtrado glomerular nos corpúsculos de Malpighi (Filtração Glomerular). A função renal é proporcional à formação deste filtrado e pode ser quantificada pela Taxa de Filtração Glomerular (TFG normal: 80-120mL/min). O filtrado é coletado pela cápsula de Bowman e ganha o sistema tubular CORPÚSCULOS DE MALPIGHI O filtrado glomerular é formado pela ação da P Hidrostática no interior das alças capilares em oposição a outras forças como P oncótica do plasma, P do líquido contido nos túbulos e P. do interstício renal. Níveis pressóricos glomerulares reduzidos (hipotensão arterial severa) resultam em dificuldade de formação da urina e insuficiência renal. Níveis pressóricos glomerulares constantemente elevados acabariam por lesar às alças dos glomérulos. Mecanismos de autorregulação: o fluxo sanguíneo se mantém apesar das variações da PA pela adaptação do tônus da arteríola aferente. PA: provoca VASOCONSTRIÇÃO arteriolar PA: provoca VASODILATAÇÃO arteriolar Se a PA cai a níveis inferiores a 70-80mmHg o fluxo sanguíneo sofre redução, pois os vasos já atingiram o máximo de dilatação. 4 mecanismos de controle da TFG: 1-VASOCONSTIÇÃO DA ARTERÍOLA EFERENTE Em resposta à liberação de angiotensina II, a a. eferente se contrai em condições de baixo fluxo renal, fazendo aumentar a P intraglomerular, evitando que a TFG reduza. 2-VASODILATAÇÃO DA ARTERÍOLA AFERENTE Em resposta à liberação de substâncias vasodilatadoras como a PGE2, as cininas e o óxido nítrico por condições de baixo débito, a a. aferente se dilata, aumentando o fluxo sanguíneo renal e a pressão intraglomerular. 3-FEEDBACK TUBULOGLOMERULAR Ao comunicar o túbulo contorcido distal à a. Eferente, esta estrutura é capaz de ajustar a filtração glomerular de acordo com o fluxo de fluido tubular. O mecanismo depende da reabsorção de cloreto pelas células da mácula densa. TFG -> menos NaCl chega à mácula densa-> menor reabsorção de cloreto -> céls justaglomerulares promovem vasodilatação -> correção da TFG TFG -> mais NaCl chega à mácula densa -> maior reabsorção de cloreto -> céls justaglomerulares promovem vasoconstrição -> correção da TFG 4-RETENÇÃO HIDROSSALINA E NATRIURESE Baixo fluxo renal e a redução da reabsorção de cloreto -> estímulo para secreção de renina pelas céls justaglomerulares -> angiotensina II -> aldosterona pelas suprarrenais -> retenção de sódio e água pelos túbulos renais -> restauração do fluxo renal e da TFG Alto fluxo renal -> desativação do sistema renina- angiotensina-aldosterona + liberação do peptídeo natriurético atrial nos estados hipervolêmicos -> redução da volemia -> correção da TFG TÚBULOS CONTORCIDOS PROXIMAIS(TCP) Reabsorção da maior parte do fluido tubular (65%, equivalente a 90L/dia). O principal eletrólito reabsorvido é o sódio por um processo que depende da enzima NaK-ATPase, a qual mantém o Na intracelular em baixas concentrações. Na primeira porção do TCP, o principal ânion reabsorvido é o bicarbonato (HCO3-). Para entrar na célula, o bicarbonato intraluminal precisa ser convertido em CO2 + H2O. Quando absorvido, o CO2 é novamente convertido em bicarbonato,utilizando a enzima anidrase carbônica intracelular. Na segunda porção do TCP, o principal ânion reabsorvido é o cloreto (Cl-). A água é reabsorvida por osmose. As moléculas de H2O passam pelos espaços intercelulares e levam consigo outros eletrólitos (parte do sódio, cloreto e de todo o potássio são reabsorvidos dessa maneira). Outros solutos reabsorvidos no TCP: glicose, aminoácidos, fosfato e ácido úrico. O TCP também tem função secretora: Carreador aniônico: secreção de substâncias ácidas como ác. Úrico, penicilinas, cefalosporinas. Carreador catiônico: secreção de substâncias básicas como creatinina, cimetidina. ALÇA DE HENLE Reabsorção de 25% do sódio, cloreto e potássio. Quantidades consideráveis de outros íons, como cálcio, bicarbonato e magnésio também são reabsorvidos na alça de Henle. Mecanismo de contracorrente: Porção descendente-> permeável à água, mas impermeável aos solutos -> aumento da tonicidade do fluido tubular Porção ascendente-> não há reabsorção de água, mas ocorre saída de solutos -> urina hiposmolar, com interstício renal hiperosmolar Na alça descendente, a movimentação de sódio através da membrana luminal é mediada essencialmente por cotransportador 1-sódio, 2- cloreto, 1-potássio. Os diuréticos de alça, furosemida, ácido etacrínico e bumetanida atuam inibindo este cotransportador. TÚBULO CONTORCIDO DISTAL (TCD) Reabsorção de 5% do líquido e sódio filtrados. O cotransportador sódio-cloreto move cloreto de sódio do lúmen tubular para a célula e a bomba de sódio-potássio ATPase transporta sódio para fora da célula através da membrana basolateral. Os diuréticos tiazídicos inibem o cotransportador de sódio-cloreto. Contém a mácula densa, um grupo de células epiteliais agrupadas compactadamente, que é parte do complexo justaglomerular e fornece controle por feedback da FG e do fluxo sanguíneo no mesmo néfron. É o principal sítio de regulação da reabsorção tubular de cálcio, sob ação do PTH. TÚBULO COLETOR (TC) Reabsorção de 5% do líquido e sódio filtrados. Néfron distal: TCP + TC Responde à ação de vários hormônios reguladores do equilíbrio hidroeletrolítico. É dividido em: TC CORTICAL: segmento responsivo à aldosterona -> controla a reabsorção distal de sódio e a secreção de potássio e H+. TC MEDULAR: segmento responsivo ao ADH ou vasopressina -> aumento da permeabilidade à água, fazendo a célula produzir mais canais luminais de H2O. ADH -> água luminal é reabsorvida em direção ao interstício hiperosmolar -> urina concentrada, com osmolaridade máxima de 1.200 mOsm/L. ADH -> não há absorção de água no TC + reabsorção dos eletrólitos ativa -> diluição do fluido tubular, com osmolaridade de 50mOsm/L (diluição urinária máxima). INJÚRIA RENAL AGUDA Definições de Injúria Renal Aguda (KDIGO-2012) Aumento da Cr sérica ≥ 0,3mg/dL dentro de 48h OU Aumento da Cr sérica ≥ 1,5x o valor de base, ocorrendo nos últimos 7 dias OU Débito urinário < 0,5ml/kg/h por mais do que 6h Na maioria das vezes, é um diagnóstico laboratorial -> elevação da ureia e creatinina plasmáticas (azotemia – Cr ≥ 1,5mg/dL em homens e ≥ 1,3mg/dL em mulheres), na ausência de sintomas. Quando a disfunção renal for grave (Cr > 4,0mg/dL, geralmente com TFG < 15-30ml/min), os sinais e sintomas da síndrome urêmica podem aparecer. -->A TFG é o parâmetro que quantifica a função renal. Seu valor normal depende da idade, do sexo e da altura, mas gira em torno de 120ml/min. Azotemia: aumento das “escórias nitrogenadas”, detectado pela elevação de ureia e creatinina no sangue. Uremia: termo sindrômico – faz referência aos sinais e sintomas que resultam da injúria renal grave – NÃO deve ser utilizado para indicar aumento da ureia! MEDIDA DA FUNÇÃO RENAL 1-UREIA SÉRICA: a ureia é formada no fígado a partir da amônia (NH3). Produz efeitos adversos somente em grandes concentrações (>380mg/dL), afetando o TGI (anorexia, náuseas e vômitos) e a hemostasia primária (disfunção das plaquetas). Os níveis de ureia se elevam (normal: 20-40mg/dL) quando TFG < 50mL/min. Não é um bom marcador da função renal, pois muitas condições não renais podem aumentar seus níveis: hipovolemia, sangramento digestivo, estados hipercatabólicos, corticosteroide, dieta hiperproteica. 2-CREATININA SÉRICA: substância atóxica produzida pelo tecido muscular, derivada da creatina. Os níveis normais dependem da massa muscular e da ingesta de carne. Homens < 1,5mg/dL Mulheres <1,3mg/dL Vantagens: produção diária constante (desde que o peso e a dieta mantenham-se constantes); não tem reabsorção pelo túbulo. Desvantagem: para que seus níveis se elevem, pode ser necessária uma queda acentuada da TFG, ou seja, estágios iniciais de injúria renal aguda podem não ser diagnosticados. Algumas drogas podem aumentar a creatinina sem que haja queda na TFG: penicilina, probenecida (uricosúrico – tto de gota), cimetidina (antagonista H2- tto de úlceras) e trimetropim. ATENÇÃO! Uma creatinina sérica de 1,3mg/dL pode ser NORMAL para um paciente jovem e musculoso, mas pode representar uma GRAVE redução da função renal em uma paciente idosa e magra. 3-CLEARENCE DE CREATININA: É o volume de plasma que fica “livre” da substância a ser eliminada a cada minuto. Costuma ser 10-15% maior que a TFG real. Valor normal do clearence de creatinina: 91- 130mL/min. Como medir: O paciente deve coletar TODA a urina durante 24h Devido aos erros de coleta da urina de 24h, pode- se utilizar de outras calculadoras: 4- CLEARENCE DE RADIOTRAÇADORES 5-CLEARENCE DE INULINA: padrão-ouro para mensuração exata da TFG, pois essa molécula é inerte (não é sintetizada e nem metabolizada no organismo), não se liga a nenhuma proteína e é inteiramente filtrada nos glomérulos, sem ser reabsorvida, secretada ou modificada pelas células tubulares. Entretanto, não é feita de rotina pois tem custo elevado e técnica complexa para realização. ETIOPATOGENIA A injúria renal pode ser causada por 3 mecanismos básicos: Hipofluxo renal (azotemia pré-renal) - 55- 60% dos casos Lesão no próprio parênquima renal (azotemia renal intrínseca) – 35-40% dos casos Obstrução do sistema uroexcretor (azotemia pós renal) – 5-10% dos casos AZOTEMIA PRÉ-RENAL É a elevação das “escórias nitrogenadas” causada pela redução do fluxo sanguíneo renal. É reversível, uma vez restaurado o fluxo renal. Principais causas: hipovolemia, estados de choque (hipovolêmicos, cardiogênico, séptico e obstrutivo), IC, cirrose hepática com ascite. Fisiopatologia: autorregulação do fluxo renal e da filtração glomerular prejudicadas -> quando a PAS fica menor que 80mmHg, a vasodilatação da a. aferente não é mais capaz de evitar o hipofluxo, pois estará em seu estado máximo de dilatação. ATENÇÃO! Em idosos, hipertensos crônicos e diabéticos de longa data, o hipofluxo renal pode se instalar com uma PAM um pouco acima de 80mmHg! A TFG pode ser regulada de forma independente do fluxo renal, por ação da angiotensina II, um potente vasoconstritor da a. eferente -> promove aumento da filtração glomerular -> manutenção da TFG. Laboratório: Relação Ur/Cr plasmática ≥ 40 Exame de urina: FE do sódio <1%; Na urinário <20; Osmolaridade da urina > 500; cilindros hialinos AINES, iECA e antagonistas do receptor de angiotensina II prejudicam a autorregulação do fluxo renal e da TFG -> podem precipitar azotemia pré-renal em pacientes com baixo fluxo renal (hipovolêmicos, ICC descompensada, nefropatia crônica ou estenose bilateral de A. Renal). O uso de drogas com efeito vasoconstritor renal, tais como noradrenalina, dopamina, ergotamina, ciclosporina e contraste iodado podetambém precipitar azotemia pré-renal. SÍNDROME HEPATORRENAL Acomete cerca de 20-40% dos portadores de cirrose hepática avançada. Caracteriza-se pela ausência de alterações estruturais no parênquima renal, sendo o mecanismo da IRA uma intensa vasoconstrição nas artérias e arteríolas pré-glomerulares (isquemia do córtex). Piora da função hepática -> aumento absurdo da vasodilatação esplâncnica -> queda acentuada da resistência vascular sistêmica + fenômenos compensatórios exageradamente intensos (ativação do sistema adrenérigo e liberação de angiotensina II, hipersecreção de aldosterona, secreção de ADH) -> redução na TFG e no ritmo de produção da urina -> oligúria (DU < 500mL/dia) e azotemia (Cr<1,5mg/dL) Tratamento: suspender AINEs, iECA, antagonista da angio II; reposição de cristaloides para os estados hipovolêmicos. AZOTEMIA RENAL INTRÍNSECA Disfunção renal aguda causada por lesão no próprio parênquima renal. Pode cursar com oligúria (necrose tubular aguda isquêmica, rabdomiólise, glomerulonefrites ou nefropatias microvasculares), anúria (necrose cortical aguda, algumas glomerulonefrites) ou não oligúria/poliúrica (necrose tubular aguda por aminoglicosídeos). Causa mais comum: Necrose tubular aguda (NTA) – 90% dos casos. Condições desencadeadoras: isquemia (choque, sepse, SIRS, pós-op); rabdomiólise; hemólise intravascular; medicamentos (aminoglicosídeos, anfotericina B, contraste iodado, ciclosporina, aciclovir); venenos (atilenoglicol, Bothrops jararaca, Loxsoceles (aranha marrom); síndrome da lise tumoral (ácido úrico). Tratamento: furosemida em infusão contínua, suporte nutricional para reduzir o catabolismo (carboidratos preferencialmente), controle hidroeletrolítico e acidobásico. Laboratório: Relação Ur/Cr plasmática ≥ 40 Exame de urina: FE de sódio > 1%; Na urinário >40; Osmolaridade da urina <350; cilindros granulosos AZOTEMIA PÓS-RENAL Disfunção renal causada por obstrução aguda do sistema uroexcretor. A hiperplasia prostática benigna (HPB) é a causa mais comum de injúria pós-renal, sendo a “retenção urinária aguda” precipitada por drogas com efeito anticolinérgico ou simpatomimético, prostatite infecciosa, infecção do trato urinário ou infarto prostático. Clínica: oligoanúria, desconforto hipogástrio e bexigoma. Alguns evoluem com síncope vaso- vagal, desencadeada reflexamente pela distensão da bexiga. A passagem de um cateter de Foley costuma resolver a obstrução e, portanto, a azotemia. Quando a retenção vesical for > 900mL, a chance do paciente voltar a urinar espontaneamente é pequena, necessitando de cirurgia prostática desobstrutiva. A injúria pós-renal aguda geralmente se instala quando ocorre obstrução total ou quase total com repercussão bilateral. Tratamento: se a passagem do cateter não for possível deve-se proceder à cistostomia. Exame de urina: hematúria, piúria, fases avançadas (nefropatia obstrutiva)= atrofia renal e FE do sódio > 1%. QUADRO CLÍNICO Na maioria das vezes ocorre elevação da ureia e creatinina em um paciente com sinais e sintomas da patologia de base (ex: sepse, hipovolemia). Síndrome Urêmica Aguda ou Uremia Aguda em quadros graves: hipertensão arterial, edema pulmonar, distúrbio da hemostasia com sangramentos, encefalopatia, crise convulsiva, coma, hiperreflexia, asterixis, mioclônus, síndrome das pernas inquietas, neuropatia periférica, distúrbios eletrolíticos e acidobásicos, náuseas, vômitos, diarreia, soluços incoercíveis, pericardite, tamponamento cardíaco. DIÁLISE NA IRA Os métodos dialíticos são empregados para reduzir a circulação de compostos azotêmicos, promover equilíbrio hidroeletrolítico e acido- básico e combater a hipervolemia. Indicações de diálise de urgência: Síndrome urêmica inquestionável (encefalopatia, hemorragia, pericardite). Hipervolemia grave refratária (HAS, EAP) Hipercalemia grave refratária ou recorrente Acidose metabólica grave refratária ou recorrente Azotemia grave: Ureia > 200 ou creatinina >8-10 INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA “Dano renal” (geralmente detectado pela presença de albuminúria ≥ 30mg/dia, ou alterações equivalentes) e/ou “perda da função renal” (definida como uma TFG<60ml/min/1.73m²) por um período maior ou igual a 3 meses. Não ocorre regeneração do parênquima renal e a perda de néfrons é irreversível. ESTADIAMENTO FISIOPATOLOGIA Hiperfiltração Adaptativa (os néfrons remanescentes tentam excretar os solutos que os néfrons perdidos excretariam) -> lesão glomerular (processo de glomeruloesclerose segmentar focal) -> glomeruloesclerose global difusa (acompanhada de fibrose e atrofia de todo o néfron). O bloqueio do SRAA consegue prevenir ou atrasar essa evolução. Os iECA e BRA além de reduzirem a hiperflitração e a proteinúria, possuem efeito antifibrótico e anti-inflamatório no rim, retardando a progressão da nefropatia através de vários mecanismos complementares. A associação dessas drogas NÃO É RECOMENDADA, pois tem maior risco de piora da função renal e hipercalcemia. Alvoss terapêutico para evitar ou atrasar a DRFT: controle da proteinúria para níveis inferiores a 0,5-1g/dia, ou, pelo menos, uma queda superior a 50-60% em relação ao valor inicial. Nível pressório: referências mais antigas -> PA < 130X80 mmHg para portadores de DRC proteinúrica (≥ 1g/ dia de proteína na urina). JOINT VIII -> PA < 140X90 mmHg para todos os nefropatas, independente do grau de proteinúria. Abandono do tabagismo, controle glicêmico rigoroso em diabéticos e tratamento da acidose metabólica com reposição de bases. ETIOLOGIA HAS (Nefroesclerose hipertensiva) e DM (Glomeruloesclerose diabética) -> principais etiologias de DRC no Brasil e no mundo, respondendo, juntas, por cerca de 70% dos casos! BR-> HAS (35%), DM (30%), glomerulopatias primárias (12%). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS QUE RESPONDEM Á DIÁLISE SÍNDROME URÊMICA Conjunto de sinais e sintomas que aparece na DRC grave, quando a TFG < 30ml/min/1.73m². DESEQUILÍBRIO HIDROELETROLÍTICO O rim normal, através de sistemas hormonais, é capaz de variar a sua excreção de água e eletrólitos, de acordo com a quantidade ingerida. Esta resposta leva 3-5 dias para ocorrer de forma plena, momento no qual se atinge um novo estado de equilíbrio em que a excreção renal volta a se igualar a ingesta. Distúrbios mais frequentes na síndrome urêmica: Hipervolemia -> retenção de sódio e água Hiponatremia -> retenção de água livre Hipercalemia -> retenção de potássio Acidose metabólica -> retenção de H+ Hiperfosfatemia -> retenção de fosfato Hipermagnesemia -> retenção de magnésio Hipocalcemia -> deficiência de calcitriol Balanço de sódio Retenção de sódio -> hipervolemia -> HAS e edema generalizado (MMII, bolsa escrotal, face, região periorbitária, ascite, derrame pleural, derrame pericárdico). Ingesta de carga salina aguda -> EAP (ritmo de galope (B3), estertoração e insuficiência respiratória). Restrição de sal na dieta muito intensa -> balanço negativo de sódio -> hipovolemia. Balanço de água Quando TFG < 10ml/min, um consumo de água de 2-3L pode ser suficiente para promover retenção de água livre -> diluição do sódio plasmático -> hiponatremia. Balanço de potássio Quanto mais oligúrico for o paciente, maior a sua propensão a reter potássio. A uremia inibe a entrada de potássio nas células, devido à queda da atividade na enzima NaK- ATPase da membrana celular. Condições que promovem a liberação de potássio das células podem acarretar hipercalcemia em níveis perigosos: estados hipercatabólicos (infecção grave), cirurgia, trauma, acidose metabólica e uso de betabloqueadores. DESEQUILÍBRIO ACIDOBÁSICO A excreção do H+ é realizada no néfron distal, por secreção tubular, regenerando no plasma 1 HCO3 para cada 1H+ secretado no lúmen. Cerca de 2/3 do H+ é eliminado ligado à amônia. Quando a TFG está abaixo de 20ml/min, a produção renal de amônia começa a cair -> acidose metabólica hiperclorêmica (ânion gap normal). O aumento do cloreto é para compensar a queda do bicarbonato. A acidose metabólica crônica promove desmineralização óssea, pois o H+ é tamponado no osso, em troca da liberação de cálcio e fosfato. Quando a TFG está abaixo de 5-10mL/min, especialmente durante uma exacerbação aguda da DRC, surge uma acidose com anion gap aumentado. Nesse caso, o cloreto está normal. O aumento do ânion gap é decorrente da retenção do ânion sulfato proveniente da dissociação do ácido sulfúrico (H2SO4 -> H+ + SO4). Uma das consequências da acidose metabólica é aceleração do catabolismo proteico, que contribui para a perda de massa muscular típica desses pacientes. Tratamento: reposição de bicarbonato de sódio quando o bicarbonato plasmático for < 20mEq/L. MANIFESTAÇÕES GASTROINTESTINAIS Anorexia -> sintoma mais precoce Náuseas, plenitude abdominal, vômitos, disgeusia (percepção de gosto amargo na boca), diarreia. Hemorragia digestiva alta (hematêmese ou melena) e baixa (hematoquezia ou enterorragia). MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS Desorientação, letargia, fadiga, confusão mental, surto psicótico, delirium, associado a sinais de encefalopatia metabólica, nistagmo, disartria, asterixis (flapping), mioclonia espontânea, fasciculações, hiperreflexia e sinal de Babinski bilateral. Pode evoluir para convulsões tônico- clônicas generalizadas, coma e óbito por edema cerebral grave. Envolvimento dos nervos periféricos -> polineuropatia axonal, sensorimotora, simétrica e com predomínio distal e de MMII. Os sintomas iniciais são parestesias nos pés tipo “agulhadas”, que costumam piorar à noite. Exame físico: hipoestesia em bota). A perda dos reflexos tendinosos distais – hiporreflexia do Aquileu – é muito comum. Síndrome das pernas inquietas -> desconforto nos MMII e uma necessidade incontrolável de mexer as pernas. Comprometimento dos nervos periféricos do SN Autônomo (simpático e parassimpático) -> Síndrome de disautonomia (descontrole na PA, FC, arritmias malignas, anidrose, impotência, distúrbio gastrointestinal. HAS Pode ser causa ou consequência da nefropatia. Costuma ser mais grave comparada à hipertensão primária. Frequentemente é acompanhada por complicações CV: HVE, cardiomiopatia dilatada, DAC. MANIFESTAÇÕES CARDÍACAS E PERICÁRDICAS ICC Retenção volêmica -> dispneia, ortopneia, dispneia paroxística noturna, hepatomegalia congestiva, derrame pleural, ascite, edema de MMII. A falência cardíaca é a causa mais comum de óbito dos pacientes urêmicos. Derrame pericárdico: 50% dos pacientes urêmicos. Muitas vezes associado a derrame pleural e ascite. Sintomas: dor pleurítica, contínua e que piora com o decúbito dorsal, atrito pericárdico, alterações eletrocardiográficas de pericardite. O tamponamento cardíaco é a complicação mais temida da pericardite urêmica -> turgência jugular, taquicardia, pulso paradoxal, evoluindo para hipotensão arterial e dispneia. MANIFESTAÇÕES PULMONARES E PLEURAIS Edema pulmonar crônico Disfunção da musculatura respiratória pela miopatia urêmica -> dispneia Calcificação do parênquima pulmonar decorrente do hiperparatireoidismo secundário e do elevado produto cálcio-fosfato (que se depositam nos tecidos). Pacientes urêmicos tem incidência aumentada de Fibrose Intersticial Pulmonar e pleural. Cerca de 20% dos pacientes urêmicos tem derrame pleural. A causa mais comum é infecciosa, que sempre deve ser descartada. DISTÚRBIO DA HEMOSTASIA A uremia cursa com tendência a sangramento, devido a um distúrbio da hemostasia primária (agregação plaquetária). A uremia inibe a função plaquetária de adesão e agregação. As manifestações clínicas podem ir desde petéquias ou pequenas equimoses na pele até hemorragia cerebral ou digestiva. Sangramento gengival e epistaxe são comuns. INTOLERÂNCIA À GLICOSE E METABOLISMO DA INSULINA Quando TFG < 50mL/min, pode-se observar resistência periférica à insulina associada à disfunção da célula beta da ilhota pancreática. A depuração da insulina plasmática reduz-se quando a TFG cai abaixo de 40mL/min, pois os rins são responsáveis pela depuração de 30% da insulina produzida diariamente pelo pâncreas. CUIDAR PACIENTES QUE USAM SULFONILUREIAS -> PERIGO DE HIPOGLICEMIAS! Ajustar doses!!! MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS QUE NÃO RESPONDEM À DIÁLISE ANEMIA TFG < 30-40mL/min (creatinina sérica> 2,0-3,0 mg/dL). Anemia normocítica normocrômica. Sintomas: astenia, indisposição física e mental, depressão, déficit cognitivo, insônia, cefaleia, diminuição da libido, anorexia e tendência a sangramento. A gênese da anemia urêmia é MULTIFATORIAL (aumento do PTH, carência de ferro e de vitaminas, intoxicação pelo alumínio), porém o principal fator é a deficiência relativa de eritropoietina (que estimula a eritropoiese na medula óssea). Tratamento: eritropoietina recombinante por via subcutânea quando os níveis de hemoglobina caírem abaixo de 10g/dL. Alvo: entre 11 e 12g/dL. Antes de começar o tto, deve-se avaliar os estoques corporais de ferro! Determinam-se a saturação de transferrina e a ferritina sérica. Anemia ferropriva ferritina < 100ng/mL e saturação de transferrina < 20%. Neste caso, indica-se reposição de sulfato ferroso. Anemia por carência de folato (megaloblástica) -> o ácido fólico é perdido na hemodiálise. Anemia por intoxicação de alumínio -> anemia microcítica que não responde nem à reposição de eritropoietina recombinante e nem ao sulfato ferroso. OSTEODISTROFIA RENAL Distúrbio que leva à alteração da matriz do osso e sua desmineralização, predispondo o paciente à dor óssea, fraturas patológicas e deformidade esquelética. 2 tipos principais de doença óssea na DRC: Osteopatia de alto metabolismo (alto turn over) decorrente do hiperparatireoidismo secundário, também chamada de osteíte fibrosa cística. Aumento do PTH: 1diminuição da síntese de calcitriol pelos rins (a vitamina D ativada atua como regulador da síntese de PTH pelas paratideoides – feedback negativo) 2aumento dos níveis séricos de fosfato -> inibindo a produção de calcitriol pelas células tubulares. 3aumento dos níveis séricos de Ca pelo efeito quelante do cálcio pelo fosfato aumentado e pela redução da absorção intestinal de Ca pela queda dos níveis de calcitriol. Há um estímulo aumentado para reabsorção óssea, mas o novo osso formado é de baixa qualidade e suscetível a fraturas patológicas. Achados sugestivos de osteíte fibrosa cística: - Hiperfosfatemia grave (P > 6,5mg/dL) - PTH muito elevado (> 450pg/mL) - FA elevada - Achados radiológicos: depósitos teciduais e vasculares de cálcio, reabsorção subperiosteal das falanges da mão, crânio “em sal e pimenta” (áreas líticas se alternando com áreas blásticas, “tumor marrom”. Tratamento: redução dos níveis de fosfato e aumento dos níveis de calcitriol -> restrição de fosfato na dieta (<800mg/dia), se não for suficiente, está indicado o uso de quelantes orais de fosfato (ex: carbonato de cálcio). Reposição de calcitriol. Osteopatia de baixo metabolismo (baixo turn over), também chamada de doença óssea adinâmica Caracterizada por um baixo metabolismo e atividade celular do osso, determinando uma importante perda óssea. Osteomalácia Causa: intoxicação por Al, deficiência de calcitriol e pela acidose metabólica crônica MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS A pele do paciente urêmico costuma ser seca(xerose) e hiperpigmentada devido à redução da vitamina A cutânea. O prurido urêmico é multifatorial. A maioria dos pacientes com prurido intenso e refratário apresenta níveis séricos elevados de PTH, com boa resposta à paratireoidectomia subtotal. Os cabelos tornam-se quebradiços. A unha característica é denominada “unha meio a meio”, caracterizada por uma discromia bem marcada de tom marrom ou róseo na metade distal da unha. MANIFESTAÇÕES ARTICULARES E MUSCULARES Pacientes com uremia crônica podem apresentar quadros agudos de monoartrite, oligoartrite, periartrite ou tenossinovite. A fraqueza muscular está altamente ligada à osteodistrofia renal, sendo chamada de miopatia urêmica. O principal fator causal é a deficiência de calcitriol. Outros fatores que contribuem são a acidose metabólica e o efeito direto do PTH no músculo esquelético. MANIFESTAÇÕES CARDÍACAS E CORONARIANAS DAC e aterosclerose renais crônicos além de ter maior incidência de DAC, também possuem maior mortalidade (em comparação com pacientes não- nefropatas) após a ocorrência de um evento isquêmico miocárdico (ex: IAM). HVE fator de risco independente para morbidade CV. Pode causar IC tipo diastólica. Cardiomiopatia dilatada DISLIPIDEMIA Hipertrigliciridemia isolada -> mais comum Há uma queda do HDL, quando o LDL e o CT encontram-se geralmente na faixa normal. A dislipidemia é decorrente da inibição pela uremia de diversas enzimas do metabolismo lipídico. ESTADO HIPERCATABÓLICO – DESNUTRIÇÃO PROTEICO-CALÓRICA A desnutrição e a hipoalbuminemia são fatores bem documentados de mau prognóstico nos pacientes em programa de diálise. DISTÚRBIO IMUNOLÓGICO A uremia crônica está associada a uma série de alterações do sistema imunológico, levando a um estado de imunodeficiência moderada. As infecções bacterianas e fúngicas são comuns, devido à associação do estado de imunodeficiência aos procedimentos invasivos frequentemente realizados nesses pacientes. TRATAMENTO E ACOMPANHAMENTO DO DOENTE RENAL CRÔNICO 1- FASE PRECOCE (estágios G1, G2, G3a) A HAS e a proteinúria são os principais problemas desta fase. Controle da HAS -> iECA ou BRA – ao reduzirem a hiperfiltração dos néfrons remanescentes, tais fármacos reduzem a proteinúria e aliviam a hipertensão intraglomerular. Controle de outros fatores de risco CV – obesidade, sedentarismo, dislipidemia, DM. Restrição de proteínas na dieta – 0,8g de proteína/Kg de peso por dia 2- FASE INICIAL DA SÍNDROME URÊMICA (G3b, G4) Controle da HAS, da anemia, da osteodistrofia renal e do metabolismo cálcio-fósforo. A HAS exige diureticoterapia com diuréticos de alça (furosemida) em altas doses. Os iECA e BRA devem ser administrados com cautela, pelo risco de hipercalcemia e retenção aguda de escórias nitrogenadas. 3- DOENÇA RENAL EM FASE TERMINAL (G5) O paciente apresenta TFG < 15/min/1,73m², creatinina sérica > 6-8 mg/dL e ureia sérica > 129- 180mg/dL. Há a indicação de algum método de substituição renal -> transplante ou diálise. Restrição proteica menos acentuada (1,2-1,3 g/Kg/ dia) Restrição de sódio (reduzir a retenção volêmica); potássico (evitar hipercalcemia); água – 1000 a 1500 mL/dia (reduzir ou prevenir a hiponatremia). CAUSAS MAIS COMUNS DE AGUDIZAÇÃO DA DRC Hipovolemia Aminoglicosídeos AINE Contraste iodado iECA ou BRA Pielonefrite aguda Nefropatia obstrutiva LITÍASE URINÁRIA - NEFROLITÍASE EPIDEMIOLOGIA É mais comum em homens, pico de incidência aos 20-40 anos. Prevalência de 3% na população. Cerca de 12% das pessoas irão desenvolver cálculos urinários em algum momento da vida. Destes, 20-30% necessitarão de uma abordagem terapêutica intervencionista. Países pobres -> maior prevalência em crianças e os cálculos são compostos de ácido úrico. Países ricos -> maior prevalência em adultos e os cálculos são compostos de cálcio. A taxa de recorrência é de 10% no 1º ano, 35% nos 5 anos subsequentes e 50-60% em 10 anos. FATORES DE RISCO Hx pessoal de nefrolitíase; Hx familiar de nefrolitíase; baixa ingesta hídrica; urina ácida (como acontece na vigência de resistência à insulina, obesidade, DM2, diarreia crônica); Hx de gota; HAS; cirurgia bariátrica; uso prolongado de medicamentos (indinavir em adultos e ceftriaxone em crianças); infecção urinária crônica ou recorrente. COMPOSIÇÃO DOS CÁLCULOS 70-80% -> compostos por sais de cálcio – a maioria por oxalato de cálcio (40-70% de todos os cálculos renais). FISIOPATOLOGIA O 1º pré-requisito para formação de cristais urinários é a supersaturação. Condições que favorecem a supersaturação: hiperexcreção de solutos, volume urinário reduzido, alterações do pH (pH>7 dificulta a solubilidade do fosfato de cálcio; pH<5 do ácido úrico e da cistina; oxalato de cálcio NÃO é afetado pelo pH) e deficiência dos inibidores da cristalização. Alterações anatômicas que produzem estase urinária: duplicidade pielocalicial, rim esponjoso medular, rim em ferradura, ureterocele. O 2º passo é a formação dos cristais, denominada nucleação, a qual pode ser homogênea (cristais puros) ou heterogênea (cristal sobreposto a outro tipo de cristal). Após, ocorre os processos de crescimento e agregação. O principal inibidor fisiológico da formação de cálculos urinários é a água -> o aumento de ingesta hídrica inibe todas as fases de formação de um cálculo renal. O citrato e o magnésio são inibidores da nucleação do oxalato de cálcio, formando substâncias solúveis. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A dor típica da nefrolitíase é provocada pela mobilização dos cálculos. Os cálculos costumam obstruir o sistema coletor em 3 pontos principais: 1- Junção ureteropélvica (mais comum) 2- Terço médio do ureter (cruzamento dos vasos ilíacos internos 3- Junção vesicoureteral Cólica Nefrética Na tentativa de forçar a passagem do cálculo, o ureter se contrai de maneira espasmódica e repetitiva -> dor em “cólica” que costuma variar entre 20-60 min. Se a impactação provocar obstrução -> grande aumento na pressão do trato urinário -> distensão aguda da cápsula renal -> PPL positivo ou “sinal de Giordano”. Manifestações neurovegetativas como náuseas, vômitos, sudorese fria e síncope costumam acompanhar a dor. Cálculo na junção ureteropélvica -> dor em flanco e sinal de Giordano precocemente positivo. Cálculo na porção média do ureter -> dor abdominal com irradiação para o ligamento inguinal e/ou testículo/grande lábio ipsilateral. Cálculo na junção vesicoureteral -> podem ser confundidos com cistite bacteriana, cursando com disúria, polaciúria, urgência e dor uretral. Hematúria Detectada em 90% dos pacientes. Infecção A pielonefrite é a complicação mais temível da nefrolitíase. Febre alta, calafrios, leucocitose com desvio à esquerda. Obstrução Quando total acarreta hidronefrose progressiva e perda do parênquima renal caso a obstrução não seja desfeita. DIAGNÓSTICO Manifestação clínica típica com “cólica nefrética”, ou hidronefrose ou hematúria. Urinocultura e a dosagem de DHL podem ajudar na diferenciação com ITU e oclusão da A. Renal, respectivamente. Exame de imagem + exame abdominal: pode descartar aneurisma, apendicite, diverticulite. Métodos de imagem TC helicoidal não contrastada (1ª escolha) e USG do trato urinário (2ª escolha). Composição do cálculo Identificação da composição química -> investigação diagnóstica do distúrbio metabólico subjacente. Solicitar ao paciente que, durante o período de crise, urine através de uma gaze, a fim de resgatar o cálculo quando passar pela uretra. Após,enviar ao laboratório para aplicar técnicas como espectroscopia por infravermelho. Outros exames de urina: Sedimentoscopia (EAS) -> pesquisa de cristais Urinocultura pH da urina Identificação do fator predisponente Não há consenso na literatura em relação ao momento ideal para a realização de exames para a identificação do fator causal. Fontes dizem que seria ideal após o primeiro episódio e outras dizem que seria prudente somente em indivíduos com “doença ativa” (litíase de repetição). TRATAMENTO AGUDO Analgesia 1ª opção: AINEs -> efeito analgésico e previnem o espasmo da musculatura lisa do ureter. Opioides -> para pacientes que não respondem aos AINEs ou que não os toleram. Bloqueadores alfa-1-adrenérgicos Relaxam diretamente a musculatura lisa ureteral Tamsulosin na dose de 0,4mg/dia Pacientes com cálculos ureterais pequenos (<10mm), cujos sintomas conseguem ser bem controlados e que não apresenta indicações formais para uma abordagem urológica imediata, podem tentar a Terapia Médica Expulsiva (TME – AINE + alfa-1-adrenérgico) por um período de até 4-6 semanas. Hidratação Quando for necessário corrigir um quadro de desidratação (náuseas e vômitos). Dissolução química do cálculo O único cálculo que pode ser “dissolvido” é o de ácido úrico, o qual se forma em urinas ácidas. A alcalinização urinária (bicarbonato VO) é capaz de dissolvê-lo. ESSA PRÁTICA É POUCO EMPREGADA!!! Seguimento Cálculos < 10mm podem ser manejados de maneira conservadora. Mas, se em 4-6 semanas o cálculo não for expelido, deve-se programar uma abordagem intervencionista. Intervenção urológica Existem 4 modalidades: 1- Litotripsia com ondas de choque extra- corpórea (LOCE) Primeira escolha para os cálculos renais e ureterais proximais com tamanho < 20mm. Principal complicação: hematoma perinéfrico 2- Litotripsia por ureterorrenoscopia (endourológica) É o método de escolha para a retirada de cálculos impactados em ureter distal. 3- Nefrolitotomia percutânea (cirurgia minimamente invasiva) Indicada em cálculos > 2cm; cálculos coraliformes; localizados no polo renal inferior; refratários à LOCE. 4- Nefrolitotomia aberta Pouco utilizada atualmente. Principais indicações: ->Refratariedade aos métodos não invasivos ou minimamente invasivos ->Cálculos anatomicamente complexos e extensos, em geral coraliformes. Tratamento da Litíase Complicada Cálculo obstrutivo + infecção ou quando sobrevém IRA pós-renal por obstrução ureteral total bilateral ou em rim único 1º passo -> desobstruir a via urinária! 2 procedimentos de emergência podem ser usados: nefrostomia percutânea (cateter “único-J” ou stent ureteral (cateter duplo-J). TRATAMENTO CRÔNICO Aumento da ingesta hídrica (mínimo 2-3L de água por dia) TODOS! CÁLCULOS DE CÁLCIO Hipercalciúria idiopática (excreção urinária de Ca > 300mg/dia em homens ou > 250mg/dia em mulheres ou > 4mg/Kg/dia em ambos os sexos, na vigência de normocalcemia) e ausência de hipercalcemia e outras doenças causadoras de hipercalciúria. A prevenção se baseia na restrição dietética de sal e proteína e NÃO de cálcio, pois a quantidade de cálcio absorvida no intestino é relativamente constante, independente da ingestão. A reabsorção de sódio está atrelada à reabsorção de cálcio no túbulo proximal -> a restrição salina, ao reduzir a volemia, aumenta a reabsorção de sódio e, consequentemente, de cálcio -> menos cálcio é perdido na urina. Restrição proteica: o metabolismo proteico aumenta a produção de H+, estimulando a retirada de cálcio do osso (elevando a calciúria). Com menos proteína na dieta, menos H+ é gerado, liberando menos cálcio dos ossos e produzindo menos calciúria. Diuréticos tiazídicos: a HCTZ aumenta a reabsorção tubular de cálcio. Hiperoxalúria Hipocitratúria -> o citrato se liga ao cálcio formando citrato de cálcio, altamente solúvel na urina. CÁLCULOS DE ESTRUVITA CÁLCULOS DE ÁCIDO ÚRICO CÁLCULOS DE CISTINA SÍNDROMES GLOMERULARES Glomerulonefrite Aguda ou Síndrome Nefrítica; Glomerulonefrite Rapidamente Progressiva Síndrome Nefrótica Alterações Urinárias Assintomáticas: hematúria glomerular isolada e proteinúria isolada Doenças glomerulares trombóticas SÍNDROME NEFRÍTICA – Glomerulonefrite Difusa Aguda (GNDA) Conjunto de sinais e sintomas que surgem quando um indivíduo tem os seus glomérulos renais envolvidos por um processo inflamatório agudo. Manifestações clínicas: Hematúria, proteinúria subnefrótica (menor que 3,5g em 24h), oligúria, edema e HAS. A redução do débito urinário provoca retenção volêmica, justificando o edema generalizado e a HAS. A hematúria é o sinal mais característico e é detectada pelo exame do sedimento urinário (EAS). As hemácias são características -> dismorfismo eritrocitário (as hemácias estão deformadas, fragmentadas e hipocrômicas). Também há o achado de cilindros hemáticos. O sedimento urinário comumente releva piúria (leucocitúria) e cilindros leucocitários. Em termos de patogenia, mais de 70% dos casos de GNDA são decorrentes da deposição glomerular de imunocomplexos, contendo imunoglobulinas (IgG, IgM ou IgA) e fatores do complemento (C3). A Glomerulonefrite Aguda Pós-Estreptocócica (GNPE) é o protótipo das GNDAs! A GNPE deve ser encarada como uma sequela renal tardia de uma infecção por cepas específicas do estreptococo beta-hemolítico do grupo A (ou Streptococcus pyogenes). As cepas “nefritogênicas” podem estar presentes numa piodermite estreptocócica como impetigo crostoso ou erisipela ou numa faringoamigdalite. O risco de uma GNDA após uma estreptococcia oscila em torno de 15%. É tipicamente uma doença de crianças e adolescentes (2-15 anos). Manifestações clínicas: início abrupto de hematúria macroscópica, oligúria, edema e hipertensão arterial, acompanhada de mal-estar e sintomas gastrointestinais vagos (dor abdominal e náuseas) e dor lombar bilateral por entumescimento da cápsula renal). O paciente refere “urina presa” e “escura”. A hipercalcemia pode ocorrer em alguns pacientes, devido a queda na TFG, resultando em hipervolemia, o que tende a reduzir a secreção de renina, causando um estado de hipoaldosteronismo (e consequentemente uma diminuição da capacidade de excretar potássio). A função renal é comprometida em até metade dos casos, podendo haver azotemia. A proteinúria subnefrótica é comum (menor que 3,5g/24h). Diagnóstico: Questionar o paciente sobre faringite ou piodermite Verificar se o período de incubação é compatível Documentar a infecção estreptocócica através do laboratório Demonstração dos anticorpos contra uma ou mais das 5 exoenzimas estreptocócicas conhecidas (ASLO, anti-DNAse B, anti-NADase, anti- Hialuronidase, antiestrptoquinase). Demonstrar uma queda transitória típica de complemento (C3 – VR= 85 a 185 mg/dL), com um retorno ao normal em no máximo 8 semanas, a contar dos primeiros sinais de nefropatia. A biópsia renal é indicada quando há aspectos atípicos, que podem sugerir uma outra causa de Glomerulonefrite aguda que não a GNPE. Diagnóstico diferencial: Outras GN pós-infeccionas (endocardite bacteriana subaguda); GN lúpica; GN membranoproliferativa (GNMP) As manifestações renais que ocorrem durante uma infecção, podem representar a exacerbação de uma glomerulopatia crônica pré-existente, como a doença de Berger ou nefropatia por IgA!!! Tratamento Repouso e restrição hidrossalina Diuréticos de alça (furosemida1ª escolha) Vasodilatadores se a PA não for controlada com os diuréticos (nifedipina, hidralazina) Diálise, se refratariedade à medicação ** As alterações no EAS, especialmente a hematúria e a proteinúria podem persistir por até 1-2 anos e até 2-5 anos, respectivamente. GN AGUDA INFECCIOSA, NÃO PÓS- ESTREPTOCÓCICA As mais frequentes envolvidas são a endocardite bacteriana subaguda, as infecções supurativas crônicas (abscessos viscerais, empiemas cavitários, osteomielite), shunt ventrículo- peritoneal infectado, pneumonia por micoplasma, hepatite viral e a mononucleose infecciosa. GLOMERULONEFRITE RAPIDAMENTE PROGRESSIVA (GNRP) Causada quando um paciente que desenvolve síndrome nefrítica, evolui para falência renal de curso acelerado e fulminante (com necessidade de diálise), de forma que, sem tratamento precoce, há esclerose de quase todos os glomérulos, além de fibrose tubulointersticial generalizada, tornando necessária a diálise ou transplante renal. Manifestações clínicas: oligúria marcante, podendo evoluir para anúria. Sintomas de “síndrome urêmica” quando a TFG torna-se inferior a 20% do normal -> encefalopatia, pericardite, sangramento urêmico. Diagnóstico: biópsia renal é padrão-ouro para o diagnóstico e classificação da GNRP. 3 exames sorológicos também auxiliam na classificação: 1- Anticorpo anti-MBG elevado: Tipo I (GN anti-MBG, síndrome de Goodpasture) 2- C3, CH50 (complemento sérico) reduzido: Tipo II (GN por imunocomplexos) 3- ANCA positivo: tipo III (GN pauci-imune ou relacionada a vasculites sistêmicas). GNRP Pauci-imune (ANCA Positivo) Nos adultos velhos é a forma mais comum de GNRP. Pode ser primária (idiopática), quando limitada ao rim, ou fazer parte de uma vasculite sistêmica do tipo poliarterite microscópica ou granulomatose de Wegener. Clinicamente, não há diferença em relação às outras causas de GNRP, a não ser a presença de uma vasculite sistêmica. O tratamento é feito com corticoide e imunossupressores. SÍNDROME NEFRÓTICA Conjunto de sinais, sintomas e achados laboratoriais que se desenvolvem quando ocorre aumento patologicamente exagerado da permeabilidade dos glomérulos às proteínas, levando à proteinúria maciça -> superior a 3,5g/1,73m2/24h. A proteinúria maciça é o estigma da síndrome! Resulta em -> hipoalbuminemia, edema, hiperlipidemia (a queda da concentração de albumina estimula o fígado a produzir mais albumina, mas também aumenta a síntese hepática de lipoproteínas, especialmente a LDL) e lipidúria. A hiperlipidemia Nefrótica contribui para a aterogênese e suas complicações, como DAC. Complicações da Síndrome Nefrótica 1- Fenômenos tromboembólicos (Trombose da Veia Renal, TEP...) Estado de hipercoagulabilidade -> TVP, especialmente das veias renais. Suspeita de TVR: varicocele do lado esquerdo (a veia testicular E drena diretamente na veia renal), hematúria macroscópica, mudanças no padrão da proteinúria, redução inexplicada do débito urinário, assimetria do tamanho e/ou função dos rins. 2- Alta suscetibilidade a infecções Devido a deficiência de imunoglobulina do tipo IgG e componentes da via alternativa do complemento, perdidos pelos glomérulos. O Streptococcus pneumoniae é a bactéria mais envolvida. Infecção muito comum: peritonite bacteriana espontânea. DOENÇAS RENAIS PRIMÁRIAS QUE SE APRESENTAM COM SÍNDROME NEFRÓTICA Doença por Lesão Mínima (DLM) 85% de todos os casos de síndrome Nefrótica em crianças. 10-15% em adultos. Fisiopatogenia: resulta da perda da carga negativa de barreira, originando um tipo seletivo de proteinúria. Na MO, é característico o achado de fusão dos processos podocitários. Manifestações Clínicas: em muitos casos, a proteinúria intensa se inicia logo após fatores desencadeantes, como episódios virais ou reações a picadas de insetos. Existe associação com fenômenos atópicos (asma, eczema). A função renal não costuma estar alterada. A excreção urinária de proteínas pode chegar a 40g/dia nos casos graves e o nível sérico de albumina quase sempre está menor que 2g/dL. A instabilidade hemodinâmica com choque circulatório é a complicação mais séria. A DLM pode estar relacionada a uma série de doenças sistêmicas – o linfoma de Hodgkin é o principal. Exames laboratoriais: a proteinúria costuma ser seletiva (mais albumina); não há consumo de complemento; pode haver hematúria microscópica em até 20% dos casos; os níveis de IgG costumam estar bastante reduzidos, mas os de IgM, aumentados; o EAS não revela sinais de glomerulite. Curso clínico e tratamento: 2 características básicas: 1- Períodos de remissão e atividade 2- Resposta dramática à corticoterapia. A evolução natural da DLM é boa; em crianças pode haver remissão espontânea do quadro. Adultos -> prednisona 1mg/kg/dia, uso diário, por 8 semanas. Crianças: prednisona 60mg/m2/dia, por 4-6 semanas. Se a proteinúria persistir por mais de 8 semanas, a criança é classificada como “resistente aos corticoides”. No adulto, se persistir após 16 semanas. Nesses casos, a biópsia está indicada. Nos casos que desenvolvem a forma recidivante frequente (maior ou igual a 4 recidivas/ano), deve- se associar imunodrepressores (ciclofosfamida). Glomeruloesclerose Focal e Segmentar (GEFS) Diversas condições sistêmicas específicas, como anemia falciforme, HAS e infecção pelo HIV podem estar relacionadas à GEFS. Forma Primária Distúrbio dos linfócitos T, que secretariam uma citocina responsável pela lesão do epitélio visceral glomerular (podócitos). Neste caso, a lesão seria mais grave do que na DLM, afetando a arquitetura das fendas de filtração, o que determinaria proteinúria não seletiva. Os primeiros glomérulos a serem acometidos são os justa-medulares localizados na “ponta”. Com a progressão da doença, os glomérulos mais corticais vão sendo comprometidos e o processo de esclerose se estende para as alças capilares mais próximas ao hilo glomerular. A natureza focal do processo denota que nem sempre o material colhido por biópsia flagra as alterações patológicas típicas. Amostras de biópsia renal consideradas “representativas” contém por volta de 10-20 glomérulos, englobando glomérulos justamedulares. Esclerose Glomerular: se refere ao acúmulo de material homogêneo não fibrilar, levando ao colapso de capilares gromerulares. Na GEFS idiopática, este material é hialino, derivado de proteínas plasmáticas que extravasam pelo epitélio visceral lesado (hialinose gromerular). Manifestações clínicas e laboratoriais: na forma idiopática tem início abrupto e manifesta-se por uma síndrome Nefrótica clássica. As formas secundárias tem início insidioso, muitas vezes com níveis subnefróticos de proteinúria. A proteinúria é do tipo não seletiva, refletindo as áreas focais de esclerose com desestruturação da arquitetura das fendas de filtração. Manifestações que não fazem parte da síndrome Nefrótica clássica: HAS e hematúria microscópica. A GEFS é uma importante causa de hipertensão arterial secundária em adultos! Na GEFS idiopática os níveis de complemento sérico estão normais. Curso clínico e tratamento: a base terapêutica é a corticoterapia -> prednisona 1mg/Kg/dia, diariamente por 3-4meses. O grau de proteinúria é um dos principais fatores prognósticos, pois o aumento da concentração de proteínas no lúmen tubular provoca lesão tubulointersticial, por lesar o epitélio, provocando a liberação de citocinas inflamatórias e fibrosantes. iECA e BRA -> reduzem a proteinúria ao inibir o efeito constritor da angiotensina II na arteríola eferente. Glomerulopatia Membranosa (GM) Pode aparecer de forma isolada (primária ou idiopática) ou ser secundária a diversas condições sistêmicas específicas,como lúpus, hepatite viral e neoplasias, ou até mesmo após o uso de medicamentos como captopril, sais de ouro e penicilamina. No Brasil, é a segunda forma mais comum de síndrome Nefrótica primária em adultos. Característica histológica: espessamento da membrana basal glomerular (MBG), na ausência de proliferação celular. Apresenta comprometimento uniforme dos glomérulos (padrão difuso e homogêneo). Existem imunodepósitos subepiteliais de IgG e C3 que interagem com a matriz da MBG. Manifestações clínicas e diagnóstico: na maioria dos casos, a GMi é uma síndrome Nefrótica clássica, insidiosa, que ocorre na maioria das vezes numa faixa etária entre 30-50 anos. Complicações: trombose da veia renal, embolia pulmonar e TVP; Glomerulonefrite rapidamente progressiva. Laboratório: proteinúria maciça não seletiva, hematúria microscópica e complemento sérico normal. Todo paciente que desenvolve síndrome Nefrótica por nefropatia membranosa deve ser submetido aos seguintes exames: FAN, Complemento sérico Anti-DNA HBsAg, anti-HCV, VDRL RX tórax, US abdominal, sangue oculto >50 anos: mamografia, colonoscopia Área endêmica: pesquisar esquistossomose, malária Curso clínico e tratamento: evolução extremamente variável: 10-20% -> remissão completa espontânea 25-40% -> remissão espontânea parcial 40-50% -> perda progressiva de função renal, evoluindo para DRC num prazo médio de 15 anos. Para os pacientes com bom prognóstico (jovens, mulheres, proteinúria < 10g/dia, ausência de IR e de alterações tubulointersticiais na histopatologia renal) a conduta pode ser expectante, devendo observar a evolução desses pacientes de perto por 3-4 anos. A terapia imunossupressora está indicada nos casos de mau prognóstico: proteinúria > 10g/dia, hiperlipidemia severa, homens > 50 anos com proteinúria Nefrótica persistente, sinais ominosos na biópsia e creatinina plasmática elevada. Imunossupressor (ciclofosfamida) + prednisona por 6-12 meses. iECAou BRA e estatinas também estão indicadas. ALTERAÇÕES URINÁRIAS ASSINTOMÁTICAS Glomerulopatias que costumam se apresentar com hematúria assintomática ou oligossintomática: Doença de Berger Doença do adelgaçamento da membrana basal glomerular Mal de Alport Doença de Berger ou Nefropatia por IgA É a mais frequente entre todas as patologias glomerulares primárias, sendo responsável pela maior parte dos casos de hematúria macroscópica recorrente de origem glomerular. Predominância em homens, entre 10-40 anos e em asiáticos. A doença deve ser sempre considerada em homens jovens com hematúria recorrente!!! A fisiopatologia está relacionada a um descontrole dos mecanismos que regulam a produção das IgA, talvez em resposta a algum estímulo ambiental. Apresentações clínicas 1- Hematúria macroscópica recorrente Paciente típico: episódios recorrentes de hematúria macroscópica que duram 2-6 dias. Podem estar associados a febre baixa, mialgias, astenia, dor lombar e disúria. Na maioria das vezes, esses episódios são concomitantes à infecções respiratórias altas (faringite, amigdalite) ou a outros quadros infecciosos como gastroenterite, ITU. 2- Hematúria microscópica persistente Hematúria microscópica persistente com ou sem proteinúria subnefrótica. A persistência da hematúria indica que a injúria glomerular é constante, indicando um pior prognóstico. 3- Síndrome nefrítica clássica Apresentação clássica: hipertensão arterial, oligúria, edema, retenção azotêmica) em 10% dos casos. Exames complementares e diagnóstico: Sedimento urinário: hematúria de padrão glomerular (dimorfismo, cilindros hemáticos). Hematúria + proteinúria Os níveis de IgA sérica estão elevados em 50% dos casos, não havendo relação com a atividade da doença. Biópsia renal -> quando hematúria coexista com proteinúria significativa (>1g/dia), sinais de síndrome nefrítica ou mesmo insuficiência renal. Os pacientes com hematúria isolada (macro ou micro) devem ser apenas acompanhados clínica e laboratorialmente. Curso clínico e tratamento: evolução variável: 60% -> doença evolui com permanência assintomática de hematúria microscópica e da proteinúria, mas com estabilidade da função renal a longo prazo. 40% -> evolução lentamente progressiva para insuficiência renal. 20% -> rins terminais ao longo de 10-20 anos. Evolução para insuficiência renal terminal em menos de 4 anos do diagnóstico. Menos de 4% -> Remissão completa da doença, sem complicações futuras. Para a maioria dos pacientes não está indicado tratamento específico. Pacientes com proteinúria maior que 1g/dia ou hipertensão moderada ou creatinina > 1,5mg/dL e os que apresentam alterações à biópsia renal sugestivas de mau prognóstico devem receber tratamento com corticoides e outros imunossupressores. iECA ou BRA para todos os hipertensos ou com proteinúria > 1g/dia. Hipercolesterolemia -> estatina Proteinúria isolada Proteniúria -> níveis superiores a 150mg na urina de 24h. Proteinúria isolada é a presença de proteinúria com o restante do sedimento urinário normal e ausência de uma doença renal ou urológica prévia. Faixa nefrítica ou subnefrótica -> 150mg/dia a 3,5g/dia. Faixa Nefrótica -> acima de 3,5g/dia. Pode ser classificada em forma persistente e intermitente: Persistente: origem glomerular, tubular ou por hiperfluxo. Esse quadro pode representar a fase inicial de um processo mais amplo como GN proliferativa mesangial, GEFS, GMi, nefropatia diabética, amiloidose. Intermitente: ocorre em razão de algum fator externo detectável e geralmente não nocivo, originando-se de alterações funcionais dos mecanismos de formação do filtrado. Não existem distúrbios renais propriamente ditos. Causas: exercício intenso; proteinúria postural ou “ortostática”; febre alta ou doença aguda; ICC; gestação; estresse grave, exposição ao frio. HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA Prevalência no BR: 35%, sendo 75% acima de 70 anos. Antes da menopausa, há maior prevalência de homens, relação que pode se inverter na pós- menopausa. É mais comum e mais grave em negros. Definição: é uma entidade clínica na qual o indivíduo apresenta valores de PA maiores ou iguais a 140x90mmHg aferidos em duas ou mais consultas, os quais conferem um significativo aumento do risco de eventos cardiovasculares, a curto ou a longo prazo, justificando uma programação terapêutica. Variabilidade da PA: variação circadiana – costuma cair 10-7,5mmHg durante as horas de sono, aumentar repentinamente nas primeiras horas após despertar, estabilizando-se durante o resto do dia em níveis que oscilam por diversos fatores (cigarro, café, exercício físico, álcool, emoções). Diagnóstico clínico: Hipertensão do jaleco branco: 30% dos hipertensos. O prognóstico é melhor que o dos realmente hipertensos, mas até 70% deles terão HAS pela MAPA em um período de 10 anos. Critérios diagnósticos da HAS: PA no consultório: Média entre 2 medidas da PA, em pelo menos duas consultas, com níveis iguais ou maiores que 140 x 90 mmHg. MRPA (monitorização residencial) Média de várias aferições da PA maiores que 130 x 85 mmHg, feitas corretamente por um aparelho calibrado. MAPA (monitorização ambulatorial) Média as aferições automáticas. Período de vigília: valores maiores que 130 x 85 mmHg; PA de 24h com valores maiores que 125 x 75 mmHg e PA no sono com valores maiores que 110 x 70 mmHg. Hipertensão sistólica isolada: 70% dos hipertensos acima de 65 anos tem apenas elevação sistólica. Essa condição também aumenta o risco de eventosCV e deve ser tratada! Pré-hipertensão: os indivíduos com PA maior ou igual a 130 x 85 mmHg tem uma chance de 50-60% de se tornarem hipertensos nos próximos 25 anos. Avaliação clínica e laboratorial Avaliação inicial de rotina: Análise de urina (EAS); K+; creatinina e TFG; glicemia de jejum; CT, HDL, TG; ácido úrico; ECG. Exames adicionais em função de características individuais do paciente: RX tórax: suspeita de ICC, acometimento pulmonar e/ou aórtico. Ecocardio: HAS estágio 1 e 2 sem HVE no ECG, mas com 2 ou mais fatores de risco; suspeita de IC Microalbuminúria: hipertensos diabéticos; hipertensos com síndrome metabólica ou com 2 ou mais fatores de risco. Doppler de carótidas: sopro carotídeo; sinais de doença cerebrovascular ou doença aterosclerótica em outros territórios. Teste ergométrico: suspeita de DAC estável ou diabetes. Hemoglobina glicada: glicemia de jejum entre 100- 125. Fisiologia e patogênese PA= DC X RVP 95% dos casos: HAS de causa desconhecida, chamada de “Hipertensão primária” ou “Hipertensão essencial”. Outros 5%: HAS secundária (doença parenquimatosa renal, estenose de A. renal, coarctação da aorta, Sd de Cushing, foecromocitoma, hiperaldosteronismo 1º, hipo e hipertireoidismo, hiperparatireoidismo 1º, acromegalia, policitemia vera, uso de drogas ilícitas). Fisiopatologia da HAS primária As principais teorias patogênicas da HAS explicam o aumento inicial da PA através do aumento do DC, geralmente por retenção de sal e água. O remodelamento vascular ocasionado pelo aumento da PA leva a um aumento da RVP, servindo como principal fator de manutenção ou progressão da HAS. Retenção de sódio e água: cerca de 50% dos hipertensos são hipersensíveis à administração do sódio. A retenção de sódio e água aumenta a volemia e, consequentemente, o DC. SRAA: renina -> produzida no aparelho justaglomerular das a. aferentes renais, função de converter o angiotensinogênio em angiotensina I. ECA -> converte a angiotensina I em angiotensina II, afetando a PA: vasoconstrição arterial e venosa, retenção de sódio e água. Além disso, a renina tem um papel no remodelamento vascular. Aspecto genético: 30-60% dos casos há predisposição genética. HAS é mais comum e mais grave em negros. Baixo peso ao nascer: comprometimento do desenvolvimento renal na fase uterina, levando em crescimento compensatório na fase extrauterina, o que promove hipertrofia dos glomérulos -> HAS por maior secreção basal de renina. Também há relação com um menor número de néfrons ao nascimento, estimulando a hiperfiltração, com consequente retenção de sal e líquido. Lesões de órgãos-alvo Lesão vascular A lesão do endotélio é o evento inicial desse processo. Ocorre pelo remodelamento vascular. Arteriolosclerose hialina: espessamento hialino homogêneo da parede das arteríolas, com consequente redução do seu lúmen. Esta lesão pode levar aos comprometimento orgânico lento e progressivo (nefroesclerose hipertensiva). Arteriolosclerose hiperplásica: encontrada na HAS acelerada maligna (PA 200 x 120 mmHg) e é a responsável pela nefroesclerose hipertensiva maligna. Espessamento laminado concêntrico das arteríolas. Microaneurismas de Charcot-Bouchard: pequenas dilatações pós-estenóticas presentes em pequenas artérias cerebrais. A ruptura desses microaneurismas é responsável pelo AVE hemorrágico intraparenquimatoso relacionado à HAS. Aterosclerose: HAS é um dos fatores de risco. Consiste na formação, na camada íntima das artérias, de placas contendo um cerne lipídico envolto por uma capa fibrosa. Estas placas podem obstruir parcialmente o lúmen (angina estável, angina mesentérica, claudicação intermitente) ou evoluir para a formação de um trombo oclusivo (AVE isquêmico, IAM, isquemia mesentérica aguda, gangrena de MMII). A HAS, através do seu efeito lesivo no endotélio e por estimular o remodelamento vascular, aumenta a formação de fatores de crescimento e citocinas. A disfunção endotelial permite a oxidação do LDL, o recrutamento de leucócitos e torna o leito arterial altamente propenso à vasoconstrição e ao vasoespasmo. Cardiopatia hipertensiva: -->HVE: o aumento crônico da pós-carga ventricular impõe uma sobrecarga sistólica ao VE. Como resposta, o ventrículo se hipertrofia. A HVE é a repercussão mais comum da HAS. Está presente em quase 50% dos hipertensos não tratados. Disfunção diastólica: Também é comum o achado de déficit de relaxamento ventricular -> grau leve de disfunção diastólica. Dos casos de ICC relacionados à HAS, 40-50% são por disfunção diastólica pura. Disfunção sistólica: HAS é a primeira ou segunda causa de IC no Brasil e mundo. Na maioria das vezes, reflete uma disfunção sistólica associada à dilatação ventricular. Doença coronariana: a HAS é o principal fator de risco para doença aterosclerótica das artérias coronárias. O IAM é uma das principais causas de óbito nos hipertensos. Doença cerebrovascular: principal consequência da HAS. Várias manifestações: AIT, AVE isquêmico, AVE hemorrágico intraparenquimatoso, hemorragia subaracnoide, demência multivascular e atrofia cerebral devido à arterioloesclerose difusa. A doença cerebrovascular é maior causa de óbito no Brasil, suplantando o IAM e a ICC!!! NEFROPATIA HIPERTENSIVA Histopatologicamente: arterioloesclerose hialina nas arteríolas aferentes renais -> nefroesclerose hipetensiva. O primeiro sinal de comprometimento renal é a presença da microalbuminúria, definida como a excreção de albumina em 24h entre 30-300mg. Nefroesclerose hipertensiva maligna: mais comum em negros, em que as arteríolas renais sofrem um processo de arterioloesclerose hiperplásica e necrose fibrinoide arteriolar. O quadro clínico é de uma IRA, associada à proteinúria e hematúria. Retinopatia hipertensiva: as arteríolas retinianas pode ser avaliadas pela fundoscopia. Classificação: Grau 1: estreitamento arteriolar Grau 2: cruzamento arteriovenoso patológico Grau 3: hemorragias e/ou exsudatos retinianos Grau 4: papiledema Existe correlação entre retinopatia hipertensiva e presença de nefropatia hipertensiva. HAS SECUNDÁRIA Causas: Doenças parenquimatosas renais: cerca de 85% dos nefropatas com creatinina > 1,5mg/dL o DCE < 50mL/min são hipertensos. As glomerulopatias, em especial a glomerulopatia diabética e a GESF idiopática, são as principais causas de HAS 2ª. A investigação deve ser feita com US abdominal, urinálise e medida da DCE e proteinúria de 24h. a presença de proteinúria acima de 2g/24h é altamente sugestiva de HAS 2ª à doença renal parenquimatosa. Tratamento: iECA ou BRA. Cuidar hipercalcemia e piora da função renal. Estenose de A. Renal: chamada de Hipertensão Renovascular. Deve ser suspeitada em pacientes que ficam hipertensos com menos de 20 anos ou mais de 55 anos, em hipertensos graves refratários e em hipertensos cuja função renal piora com uso de iECA ou BRA (estenose bilateral de A. renal ou unilateral em rim único). Exames: eco-doppler de artérias renais, cintilografia renal com e sem captopril, angiorressonância renal. O exame confirmatório é a angiografia renal convencional ou com subtração digital. TRATAMENTO Modificações dos hábitos de vida: Restrição de sódio: 1g sal= 0,4g de Na. Restrição moderada (6g de sal ou 2,4g de Na). A melhor maneira de reduzir a ingesta diária de sal é evitar o consumo de produtos processados e preparar os alimentos caseiros com pouco sal. Principais fontes de sal da dieta: sal de cozinha, ketchup, mostarda, molho shoyu, embutidos (salsicha, mortadela, linguiça, presunto, salame), conservas (picles, azeitona, aspargo, palmito), enlatados (extrato de tomate, milho, ervilha), bacalhau, charque, carne seca, defumados, glutamatomonossódico (sopas de pacote), queijos. Dieta DASH: rica em vegetais e frutas, laticínios não gordurosos, pobre em gordura saturada. Correção da obesidade: IMC > 30Kg/m2. Cálculo: peso / altura2 A cada 1Kg de redução no peso corporal, a PA cai em média, 1,6/1,3 mmHg. Moderar o consumo de álcool: estimulação adrenérgica central. O etanol possui um efeito pressórico crônico em quantidades diárias acima de 30mL, correspondente a 625mL de cerveja (1 garrafa), 312mL de vinho (2 taças) e 93,7mL de destilados. Parar de fumar: eleva agudamente a PA através de descarga adrenérgica, voltando por sua vez ao valor prévio 15-30min depois. O tabagismo atua diretamente no endotélio, reduzindo seu potencial vasodilatador, além de piorar o perfil lipídico e a resistência insulínica. Exercício físico regular: prática regular combinada de exercícios aeróbicos e exercícios de resistência, reduz de forma independente os níveis de PA (média de 5mmHg) e aumenta os níveis de HDL, diminuindo o risco CV. Deve ser realizado pelo menos 3x/5x por semana em períodos de 30-45 min. DROGAS ANTIHIPERTENSIVAS Diuréticos Mecanismo de ação: redução da volemia Classificação: 1-Tiazídicos -> inibição da reabsorção de NaCl no túbulo contorcido distal. 2-Diuréticos de alça -> reduzem a reabsorção de sódio pela inibição do co-transportador NA+K++Cl- na porção ascendente espessa da alça de Henle. 3-Poupadores de potássio -> inibem a reabsorção de Na+ no túbulo coletor, reduzindo o principal estímulo para a secreção de K+ e H+. Estrutura química: compostos sulfonamídicos -> contraindicados em alérgicos às sulfas! Resistência ao diurético: alta ingesta salina, IR (os tiazídicos perdem o efeito com DCE< 30mL/min ou Cr > 2,5mg/dL), uso de AINEs (inibem a ação dos diuréticos) e hipocalemia. OS AINEs INIBEM A AÇÃO DE TODOS OS ANTIHIPERTENSIVOS, EXCETO BCC!!! Uso clínico: os tiazídicos são os mais indicados para o tratamento da HAS. Indicados como monoterapia no estágio 1 e como terapia combinada no estágio 2. Hidroclorotiazida – 12,5 – 25mg/dia Clortalidona – 12,5 – 25mg/dia Indapamida – 1,25-2,4 mg/dia A clortalidona é mais potente que a HCTZ e tem efeito mais duradouro, mas a custa de mais efeitos colaterais. Prescrição: Hidroclorotiazida 25mg – uso contínuo Tomar 1 comprimido, via oral, uma vez ao dia, pela manhã. Efeitos adversos: dose-dependentes 4 HIPO 3 HIPER Hipovolemia Hiperglicemia Hipocalemia Hiperlipidemia Hiponatremia Hiperuricemia Hipomagnesemia A hipocalemia é o mais comum. Os distúrbios eletrolíticos são detectados após cerca de 2 semanas do início do diurético ou do aumento de sua dose. A hipocalemia pode desencadear taquiarritmias atriais ou ventriculares. Impotência (13%) – especialmente clortalidona Contra-indicação: hiperuricemia com história de gota. Os tiazídicos aumentam a reabsorção de cálcio no túbulo contorcido distal, tento efeito hipocalciúrico. Os diuréticos de alça são indicados: 1-na crise hipertensiva (são mais rápidos) 2-ICC 3-IR com Cr > 2,5mg/d 4-edema periférico de causa não cardíaca Efeitos adversos semelhantes aos tiazídicos, exceto hipocalciúria. Ao contrário, os diuréticos de alça tem feito hipercalciúrico. Furosemida – 20-80mg/dia Bumetanida – 0,5-2mg/dia Piretanida – 6-12mg/dia Prescrição: Furosemida 40mg – uso contínuo Tomar, via oral, 1 comprimido, 2 vezes ao dia. Os poupadores de potássio são indicados para associação com tiazídicos para reverter ou prevenir hipocalemia e hipomagnesemia. Nos indivíduos em que os níveis pressóricos não foram controlados com 3 medicações (incluindo 1 diurético em dose plena), a associação de espironolactona na dose de 25-50mg/dia parece estar relacionada a um melhor controle hemodinâmico. Espironolactona – 25-100mg/dia Eplerona – 30-200mg/dia Amilorida – 5-10mg/dia Beta-bloqueadores Mecanismo de ação: redução do DC, consequente à inibição do inotropismo e cronotropismo cardíacos. Atuam como antagonistas das catecolaminas endógenas nos receptores beta adrenérgicos. Uso clínico: mais eficazes em hipertensos jovens e brancos, principalmente naqueles com síndrome hipercinética (taquicardia e aumento do DC). Os beta-bloqueadores, salvo quando há indicações específicas para seu uso (pós-IAM, IC, taquiarritmias, angina), tem sido preteridos no tratamento da HAS sem comorbidades. Não seletivos, Lipossolúveis Propranolol – 40-160mg/dia Não seletivos, não lipossolúveis Nadolol – 40-120mg/dia Beta-1-seletivos, lipossolúveis Metoprolol – 50-100mg/dia Bisoprolol – 2,5-10mg/dia Beta-1-seletivos, não lipossolúveis Atenolol – 25-100mg/dia Com atividade simpaticomimética intrínseca Pindolol – 10-40mg/dia Alfa e beta bloqueador Carvedilol – 12,5-50mg/dia Contra-indicação: broncoespasmo, claudicação intermitente, IC sistólica descompensada, bradiarritmias (BAV de 2º e 3º graus), angina de Prinzmetal, overdose de cocaína, glaucoma de ângulo fechado. Efeitos adversos: diminuição da sensibilidade à insulina; alteração do perfil lipídico, aumentando os TG e diminuindo os nível de HDL (exceto carvedilol e nebivolol; redução da capacidade física devido à diminuição do DC, impotência (menos comum que com diuréticos), fenômeno de Raynauld, piora da psoríase. iECA Mecanismo de ação: efeito vasodilatador arterial, reduzindo a RVP e venodilatador, diminuindo o retorno venoso. Efeitos benéficos secundários: prevenção dos efeitos deletérios da angiotensina II no remodelamento cardíaco. Efeito "nefroprotetor" -> a vasodilatação das arteríolas eferentes reduz a hiperfiltração glomerular e, consequentemente, a progressão da glomeruloesclerose. Quando usados na nefropatia diabética ou na DRC de qualquer etiologia, reduzem a progressão da lesão renal e melhoram a proteinúria. Uso clínico: medicamento aprovado para uso em monoterapia, assim como os diuréticos. A resposta anti-hipertensiva é maior nos pacientes com renina alta, como na hipertensão renovascular e nos pacientes jovens brancos. A associação com diuréticos é sinérgica. Os iECA podem prevenir a hipocalemia diurético-induzida. Droga de escolha no hipertenso que apresenta IC, isquemia coronariana, nefropata diabético e no nefropata crônico não diabético. Captopril – 25-100mg/dia (2 tomadas) Enalapril – 2,5-40mg/dia Ramipril – 2,5-20mg/dia Efeitos adversos: hipotensão de primeira dose, tosse seca, broncoespasmo leve, hipercalcemia e IRA reversível com a suspensão da droga. Contraindicações: hipercalemia, estenose de A. renal bilateral ou unilateral em rim único, história de tosse com iECA, broncoespasmo ou angioedema com uso prévio e gravidez. BRA Mecanismo de ação: antagonizam o efeito da angiotensina II nos receptores AT1, presentes nas musculatura dos vasos periféricos -> vasodilatação arterial e venosa. Uso clínico: tem as mesmas indicações que os iECA, sendo equivalente na prevenção dos eventos CV. Indicado quando intolerância aos iECA (tosse) Losartan – 25-100mg/dia Valsartan – 80-320mg/dia Candesartan – 8-32mg/dia Telmisartan – 40-80mg/dia Losartan possui efeito uricosúrico, sendo uma boa escolha para pacientes com hiperuricemia. Efeitos adversos: hipotensão de primeira dose, hipercalcemia e IRA reversível com a suspensão da droga. Contraindicações: hipercalemia, estenose de A. renal bilateral ou unilateral em rim único, história e gravidez. BCC Mecanismo de ação: agem através do bloqueio dos canais de cálcio, reduzindo o influxo celular de cálcio. Diidropiridínicos (amlodipina, nifedipina) -> ação preferencial na musculatura lisa vascular, especialmente em artérias e arteríolas. Vasodilatação -> reduzindo a RVP. Não-diidropiridínicos
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