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DISSERTAÇÃO_MARA-AGUIDA_PDF

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ 
Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN) 
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) 
CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE (MDMA) 
Subprograma PRODEMA/TROPEN/PRPPG/UFPI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 EPISTEMOLOGIA AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DA GESTÃO 
AMBIENTAL 
 
 
 
 
 
 
MARA ÁGUIDA PORFÍRIO MOURA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERESINA – PI 
2009
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ 
Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN) 
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) 
Curso de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA) 
 
 
 
MARA ÁGUIDA PORFÍRIO MOURA 
 
 
 
 
 
 
 
 EPISTEMOLOGIA AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL 
 
Dissertação para defesa pública do Programa 
Regional de Pós-Graduação em 
Desenvolvimento e Meio Ambiente da 
Universidade Federal do Piauí 
(PRODEMA/UFPI/TROPEN), como 
requisito para a obtenção do título de mestra 
em Desenvolvimento e Meio Ambiente. 
Área de concentração: Desenvolvimento do 
Trópico Ecotonal do Nordeste. Linha de 
Pesquisa: Políticas de Desenvolvimento e 
Meio-Ambiente. 
 
Orientador: Prof. Dr. Gerson A. de Araújo 
Neto 
 
 
 
 
 
TERESINA – PI 
2009
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
M 929e MOURA, Mara Águida Porfírio 
 Epistemologia ambiental na formação da gestão ambiental./ 
 Mara Águida Porfírio Moura. 
 Teresina: 2009. 
 82fls. 
 Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambi- 
 ente) UFPI. 
1. Gestão ambiental. 2. Epistemologia. I. Titulo. 
 C.D.D - 574.52 
 
 
MARA ÁGUIDA PORFÍRIO MOURA 
 
 
 
 
 
 EPISTEMOLOGIA DO SABER AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DA 
GESTÃO AMBIENTAL 
 
Parte da dissertação a ser apresentada à 
banca de qualificação do Programa Regional 
de Pós-Graduação em Desenvolvimento e 
Meio Ambiente da Universidade Federal do 
Piauí (PRODEMA/UFPI/TROPEN), como 
requisito parcial à obtenção do título de 
mestra em Desenvolvimento e Meio 
Ambiente. Área de concentração: 
Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do 
Nordeste. Linha de Pesquisa: Políticas de 
Desenvolvimento e Meio-Ambiente. 
 
 
 
Teresina (PI), 03 de abril de 2009. 
 
 
 
____________________________________________________ 
Prof Dr. Gerson Albuquerque de Araújo Neto 
Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI) 
 
 
_____________________________________________________ 
 Prof Dr Carlos Hiroo Saito 
Universidade de Brasília (CDS/UNB) 
 
 
____________________________________________________ 
 Prof Dr José Machado Moita Neto 
Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 Ao meu querido Paulo Moura, pelo amor, compreensão e apoio que sempre dedicou 
às nossas vidas. À minha filha, Mayara Águida, companheira e amiga, cuidando da minha 
saúde, quando as surpresas da vida me abateram. Ao meu filho, Lucas Henrique, pela sua 
dedicação e incentivo sendo, na reta final de digitação, meus braços para a conclusão deste 
trabalho. 
 
A todos os familiares, por ser a família, o grande elo que move a humanidade; 
 
A Deus, que me iluminou, sempre estando presente na vida de todos nós. 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
À Universidade Federal do Piauí, através do Programa Regional de Pós-Graduação em 
Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-TROPEN-UFPI), pela oportunidade de 
aprimorar-nos profissionalmente; 
 
Ao Profº Dr: Gerson Albuquerque de Araújo Neto, pelo apoio e por sua orientação segura e 
paciente; 
 
Aos professores da banca de qualificação, pela análise criteriosa que fizeram sobre o meu 
trabalho, pelas críticas e sugestões; 
 
Aos servidores do TROPEN, pela dedicação, em especial à Dona Maridete, pela sua forma 
amiga, fraterna e dedicada de nos orientar para o sucesso de todos dos trabalhos solicitados; 
 
Aos professores do TROPEN, especialmente àqueles que ministraram disciplinas no curso de 
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente; 
 
Aos colegas mestrandos, pelo companheirismo e solidariedade durante a realização do 
mestrado; 
 
A todos que contribuíram, de forma direta e indireta, para a realização deste trabalho. 
RESUMO 
 
Este trabalho analisa a importância da epistemologia ambiental na formação da gestão 
ambiental, identificando a relevância da educação ambiental com base no desenvolvimento 
sustentável, e aborda a necessidade de se promover a práxis científica da gestão ambiental 
sobre o enfoque epistemológico, que se constitui em uma área do conhecimento de 
abrangência interdisciplinar devido à complexidade das questões ambientais. O presente 
trabalho é constituído pelas abordagens epistemológicas de Piaget, Bachelard, Foucault e 
Morin, tendo ainda as contribuições de Leff sobre a racionalidade ambiental. Destaca as 
definições e propósitos da educação ambiental, tendo como base norteadora o 
desenvolvimento sustentável, demandando uma visão interdisciplinar que emerge a partir da 
reflexão que não procura eleger a melhor epistemologia, mas propiciar subsídios em torno do 
caráter complexo das abordagens epistemológicas que, na contemporaneidade, se revigoram 
sob o prisma de um espírito científico transformador e transformado. Para tanto, utilizaremos 
como método de investigação a pesquisa bibliográfica exploratória que possibilita o estudo 
sobre um problema ou questões de pesquisa quando há pouco ou nenhum estudo anterior, em 
que possamos buscar informações sobre a questão ou o problema. Constatamos neste trabalho 
uma discussão epistemológica, que fundamente a gestão ambiental, sendo capaz de estruturar 
essa área do conhecimento ambiental, servindo como instrumento transformador de um 
processo de mudança sobre os problemas ambientais. 
 
Palavras-chave: Epistemologia. Interdisciplinaridade. Gestão Ambiental 
ABSTRACT 
 
This work analyzes the importance of environmental epistemology in the formation of 
environmental management, identifying the relevance of environmental education based on 
sustainable development, approaching the necessity to promote the scientific praxis of 
environmental administration, on the epistemological focus, which is constituted in an area of 
interdisciplinary inclusion knowledge due to the complexity of the environmental subjects. 
This paper is constituted of Piaget’s, Bachelard’s, Foucault’s, and Morin’s epistemological 
approaches; it also has Left’s approaches on environmental rationality. It approaches the 
definitions and purposes of environmental education, having sustainable development as a 
guiding basis, demanding an interdisciplinary view that emerges from the reflection that does 
not try to choose the best epistemology, but to propitiate subsidies around the complex 
character of the epistemological approaches that are, in contemporary times, reinvigorated 
under the prism of a transforming and transformed scientific spirit. This paper will use 
exploratory bibliographical research as investigation method, which makes study on a 
problem or research subjects possible, when there is little or no previous study where we can 
look for information on the subject or problem. The purpose of this paper comes from the 
epistemological discussion that bases environmental administration, being capable to structure 
that area of environmental knowledge, serving as a transforming instrument of a change 
process about environmental problems. 
 
Key words: Epistemology; Interdisciplinary; Environmental management. 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................8 
2 VISÃO HISTÓRICA EPISTEMOLÓGICA .................................................................... 12 
3 CONSTRUÇÕES EPISTEMOLÓGICAS AMBIENTAL .............................................. 18 
3.1 EPISTEMOLOGIA GENÉTICA ................................................................................... 19 
3.2 EPISTEMOLOGIA HISTÓRICA DE BACHELARD .................................................. 21 
3.3 EPISTEMOLOGIA ARQUEOLÓGICA DO SABER DE FOUCAULT ...................... 25 
3.4 EPISTEMOLOGIA DA COMPLEXIDADE DE MORIN ............................................ 29 
3.5 EPISTEMOLOGIA AMBIENTAL ................................................................................ 33 
3.5.1 A visão de Leff sobre a epistemologia ambiental.................................................... 33 
3.5.2 Epistemologia Ambiental ........................................................................................ 39 
4 EDUCAÇÃO AMBIENTAL .............................................................................................. 43 
4.1 UMA VISÃO SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ................................................ 43 
4.2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL: contextos e normatização ............................................... 48 
5 GESTÃO AMBIENTAL ..................................................................................................... 53 
5.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ................................................................... 53 
5.2 GESTÃO AMBIENTAL: um saber em construção ....................................................... 56 
5.3 EPISTEMOLOGIA AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL . 62 
6 CONCLUSÕES .................................................................................................................... 70 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 72 
 
 
 
8 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 A humanidade ao longo de sua evolução tem desenvolvido uma força modificadora 
chamada conhecimento, que é uma relação que se estabelece entre o sujeito e o objeto. Pelo 
conhecimento, o homem desenvolveu diversas áreas de abordagem, estabelecendo uma 
classificação entre as complexidades deste, organizando em níveis que identificaram o grau de 
penetração do conhecimento e sua eficácia com a realidade do sujeito. 
 Nesse sentido, a tentativa de identificar ou explicar possíveis integrações e dicotomias 
entre os saberes diversos não é novidade nos espaços acadêmicos. Discutir o que venha a ser 
conhecimento na perspectiva epistemológica nos remete uma reflexão profunda sobre a 
construção desse conhecimento. Os conceitos e divisões da epistemologia, além de uma 
etimologia que remete aos gregos, parecem imprimir maior grau de dificuldade ao tema. Ao 
analisar a problemática ambiental, numa perspectiva epistemológica, essa dificuldade de 
abordagem torna-se um dos principais incentivos para tentarmos revigorar a discussão em 
torno da epistemologia. 
 A problemática ambiental revela-se atualmente sobre o enfoque de uma crise do 
conhecimento amplamente disseminado, que aponta para recolocação de conceitos oriundos 
da necessidade de uma estrutura com base definida epistemologicamente. Nesse sentido, 
observamos a necessidade de aprofundamento de estudos que contemplem a visão 
epistemológica na amplitude ambiental, através de contribuições que foram sendo 
desenvolvidas ao longo da história do conhecimento científico e que se constituem em saberes 
que moldam os novos paradigmas socioambientais. 
 O presente trabalho de pesquisa fundamenta-se nessa abordagem, buscando identificar 
as bases da epistemologia ambiental necessárias para a formação da gestão ambiental, cuja 
abordagem concentra várias áreas do conhecimento que necessitam de uma reflexão mais 
completa e profunda, para que se possamos atuar conscientemente frente às questões 
ambientais. 
 Essa problemática demanda uma visão interdisciplinar que emerge a partir de reflexões 
que não procura eleger a melhor epistemologia, mas proporcionar subsídios para novas 
discussões em torno do caráter complexo das epistemologias que, na contemporaneidade, se 
revigoram sob a égide de um espírito científico transformado e transformador. 
 Esse espírito científico norteia os novos paradigmas dentro dos processos que trata da 
questão ambiental, proporcionando uma reflexão ampla em torno dos fatores que 
9 
 
 
historicamente contribuíram para a produção de uma cultura que pretende, a todo custo, o 
domínio sobre a natureza. Tal reflexão deve ser crítica em relação às epistemologias que 
propagam a cisão entre o homem e a natureza. 
 Nesse intuito, devemos abordar a epistemologia como epistemologia no sentido 
científico e disciplinar, partindo de uma breve menção às suas origens e etimologia, que 
proporciona uma discussão sobre a sua necessidade, características e objetivos, sem a 
pretensão de esgotarmos o assunto e, muito menos, de tomarmos como conclusão uma 
epistemologia específica como a melhor, tendo em vista que a epistemologia ambiental é 
constituída pelo conjunto de intercessões de abordagens científicas que buscam responder a 
questionamentos e a necessidades humanas decorrentes do uso errôneo dos recursos naturais. 
 Essa intercessão do conhecimento se constitui por um conjunto de novas necessidades 
dentro da problemática ambiental. Uma dessas vertentes do conhecimento que vem sendo 
estruturado nos últimos anos é a gestão ambiental, que tem como propósito o uso de práticas 
que garantam o exercício das atividades sócio-econômico-ambiental, buscando a minimização 
de impactos e o uso correto dos recursos naturais frente a um processo de desenvolvimento 
sustentável. 
 A gestão ambiental vem sendo tratada dentro das áreas do conhecimento de forma muito 
tecnicista, não sendo a visão epistemológica ambiental base de reflexão para sua estruturação. 
A discussão aqui apresentada remete-se a uma análise sobre a formação epistemológica em 
resposta a necessidade humana e que, quando tratada de forma isolada, não vislumbra uma 
abrangência interdisciplinar. 
 Este trabalho discute a relevância das epistemologias, para que possamos dar respostas, 
contemplando uma ciência em expansão interdisciplinar e metodológica, bem como 
apresentando outras dimensões que possibilitem ou intensifiquem o diálogo entre os 
saberes/conhecimentos no bojo da problemática socioambiental. Assim, este estudo estrutura-
se, no primeiro momento pela formatação de uma reflexão sobre os aspectos históricos 
epistemológicos de forma abrangente, sem definições específicas, nem modelos dominadores, 
mas constituída pela visão de vários cientistas e filósofos que permeiam diversas escolas do 
conhecimento científico. Nessa etapa, buscamos construir uma reflexão que abrange os 
questionamentos em torno da epistemologia sobre as quais diversos filósofos e cientistas 
moldaram abordagens específicas do conhecimento. 
 A epistemologia é a reflexão, o estudo de propósito crítico sobre a ciência construída ou 
em processo de construção, sendo que o conhecimento é cumulativo e que atende a interesses 
10 
 
 
e valores que se alteram com o tempo. Dessa forma, o objetivo a ser estudado é a “práxis” 
científica e não o seu produto, ou seja, a epistemologia como função de refletir não sobre a 
ciência feita, acabada, verdadeira, mas sobre o processo do desenvolvimento científico. 
 Nesse processo de desenvolvimento científico, busca-se, no segundo momento, 
identificar dentro dos modelos epistemológicos os que são considerados como constituintes da 
epistemologia ambiental que, a princípio parecem ser antagônicos, mas que, na sua essência, 
são complementares, estruturando assim a epistemologia ambiental não como mais uma 
epistemologia, mas sim um resultado interdisciplinardas concepções que a constitui. 
 A concepção da formação da epistemologia ambiental nos remete a uma análise 
individual, partindo de um discurso sobre como o conhecimento científico desencadeia 
inúmeras interpretações, desde as epistemologias tradicionais até a epistemologia constituída 
interdisciplinariamente. A epistemologia ambiental constitui-se de forma interdisciplinar, 
através das contribuições de grandes filósofos dentro de abordagens atualizadas, dinâmicas, 
sistêmicas que estruturam os novos preceitos científicos frente aos problemas complexos. A 
relevância do discurso epistemológico sobre a crise socioambiental fomentando o debate com 
alternativas concretas de planejamento e gerenciamento do uso do patrimônio natural 
necessário à aplicabilidade da gestão ambiental. 
 Observamos que essas construções do conhecimento necessitam de abordagens 
educativas de nossa época, formada pela preocupação em uma reforma de pensamento e de 
educação, tendo em vista que a amplitude desse processo norteia toda a problemática do 
conhecimento. 
 Diante desse contexto, este trabalho fundamenta-se no estudo da educação ambiental, 
que se constitui sobre o prisma da epistemologia ambiental, distanciando-se de aspectos 
tecnicistas e reducionistas, frutos de práticas pedagógicas de repetição e não de reflexão sobre 
o conhecimento. Esse fato se deve à necessidade de desenvolvermos uma consciência 
ambiental reflexiva que almeja um desenvolvimento sustentável, capaz de oportunizar novas 
propostas epistemológicas ambientais dentro do processo de disseminação do conhecimento 
científico. 
 Essa difusão do conhecimento se constitui de questionamentos que não visam à 
formação específica de mais um ramo da educação, mas sim uma reformulação das questões 
pedagógicos sobre as abordagens ambientais que necessitam de uma atuação inovadora e 
dinâmica, distanciando-se de práticas obsoletas de adestramento intelectual. O problema não 
está em novos modelos gerados pela crise de civilização, mas em velhos modelos e práticas 
11 
 
 
de atuação do conhecimento, ou seja, como se pode corrigir ou alterar essas práticas 
utilizando as mesmas práticas e modelos que geraram? 
 A educação ambiental tem assim seu maior desafio: velhos modelos que impedem uma 
nova formatação do conhecimento, oriundos dos estreitamentos de abordagens científicas pela 
hiper-especialização do conhecimento, da não valorização de uma visão interdisciplinar 
necessária para uma abordagem ampla da temática ambiental. Dentro desse foco, encontra-se 
o conjunto de abordagens que estruturam o conhecimento da gestão ambiental. Por ter 
características interdisciplinares, há limitações que moldam um modelo reducionista de 
aplicação. 
 O momento seguinte deste trabalho constitui-se pela formação de uma análise da 
abordagem interdisciplinar necessária à gestão ambiental, que se estrutura a partir da 
epistemologia ambiental, focada pelas contribuições das abordagens epistemológicas de 
Piaget, Bachelard, Foucault, Morin, Leff. Pelo enfoque do novo pensamento pedagógico, este 
estudo não se limita a práticas reducionistas indutória e sim a proporcionar discussão sobre 
práticas inovadoras capazes de avaliar, de forma interdisciplinar, a importância de uma visão 
epistemológica sobre a gestão ambiental. 
 Este arcabouço de conhecimento à gestão ambiental tem seu marco fundamental a partir 
do “Relatório de Brundtland”, que concebe a preocupação com o desenvolvimento 
sustentável. Através das práticas de gestão, busca uma reformulação do processo produtivo, 
da utilização dos recursos naturais, a partir do comprometimento por um desenvolvimento que 
garanta às novas gerações tais recursos. 
 Portanto, o presente trabalho não pretende exaurir a argumentação sobre o tema 
proposto, mas sim de suscitar o debate acadêmico e expor a importância de uma construção 
acadêmica mais epistemológica sobre a problemática ambiental, necessária para a formação 
da gestão ambiental. Desta forma, como a epistemologia ambiental se fundamenta para servir 
de base para a formação teórica da gestão ambiental? 
12 
 
 
2 VISÃO HISTÓRICA EPISTEMOLÓGICA 
 
É consensual de que a crise ambiental originada pelo uso indevido dos recursos naturais 
levou o homem a buscar novas fronteiras do conhecimento, reforçando a necessidade de 
aprofundamento do conhecimento interdisciplinar importante nas bases de formação do 
conhecimento ambiental. Nesse campo, a incessante busca humana pelo conhecimento fez 
com que rompessem barreiras para responder aos questionamentos da problemática ambiental. 
Tais questionamentos vêm sendo respondidos de forma prática-tecnicista, no qual o fazer é 
visto como a resposta para tais situações ambientais. A investigação científica busca fortificar 
a nova concepção a partir de uma reflexão sobre os novos valores na relação entre o homem e 
a natureza, fazendo surgir uma revolução do conhecimento: a revolução ambiental, que é o 
resultante da quebra de paradigmas sobre o uso errôneo dos recursos naturais. Ao longo da 
história, os recursos naturais vêm sendo alocados como apêndices de todo um processo de 
evolução sócio-econômico. 
A importância do tema proposto para investigação científica possibilita a análise da 
viabilidade de uma maior compreensão sobre os aspectos epistemológicos inseridos na gestão 
ambiental. Nesse sentido, faz-se necessária uma nova postura frente às necessidades de 
respostas aos questionamentos ambientais que adentrem em áreas do conhecimento nas quais 
a visão reducionista não consegue suprir tais lacunas. 
Esses questionamentos devem buscar um meio de reflexão do qual seja possível a 
inserção de métodos reflexivos dos saberes que consistem em um conjunto de conhecimentos 
capazes, de forma conciliatória entre a ciência e a filosofia, responder a tais problemáticas 
ambientais. 
 A abordagem epistemológica nos remete a essa investigação científica, que se origina 
desde o seu aparecimento e etimologia, como destaca Carrilho; Ságua, (1991), até o momento 
em que foi considerada disciplina científica, conforme apud Blanché, (1983) e Japiassu, 
(1986). Dentro do contexto histórico, muitos foram às abordagens na quais filósofos e 
cientistas se embasaram. 
Pe. Cavalcante em seu livro: “Epistemologia e Epistemologias” (1979, p. 20-24), 
destaca que a história da epistemologia aborda três direções marcantes: 
 
 A primeira é, tipicamente, filosófica. Isto significa que a epistemologia é uma parte da filosofia, 
seja ela confundida com a gnosiologia, ou a lógica, ou a criteriologia; seja ela apenas uma parte 
da teoria do conhecimento. 
13 
 
 
 A segunda direção impressa à conceituação de epistemologia e isso só acontece, com certo afã, 
nos tempos contemporâneos, é a de encará-la como uma disciplina puramente científica. Neste 
caso, ela não teria envolvimento com a filosofia. Poderíamos dizer que a epistemologia seria, 
assim, uma metaciência, enquanto ciência da ciência. 
 A terceira direção dos epistemólogos seria uma conjunção conciliatória, que entrariam à ciência 
e a filosofia. Com efeito, para resolver problemas da ciência chamada experimental, seja ela 
humana ou natural, é necessário que a própria ciência forneça os dados e alguns elementos de 
soluções encontradas no próprio desenrolar-se da ciência. Por outro lado, objetivamente, esse 
estudo exigirá algumas respostas mais profundas e é natural que recorra à filosofia, que também 
é ciência, mas ciência baseada na especulação e que procura os princípios dos seus objetivos 
estudados. 
 
Na perspectiva histórica do conhecimento, a epistemologia se molda dentro das 
problemáticas de cada período, não sendo possível estabelecer um marco inicial desta, tendo 
assim uma vasta contribuição teórica que aponta diversas definições, bem como as origens 
sobre a ciência e a filosofiana abordagem epistemológica. Entre essas definições, destacamos 
a do Pe. Cavalcante, (1979, p. 25), afirmando que: “a ciência é a fonte fornecedora dos 
problemas a serem estudados pela epistemologia e muitas das soluções devem ser procuradas 
e encontradas na própria ciência”. 
Na concepção de Blanché, (1983, p. 9); a epistemologia significa a teoria das ciências e 
não se trata de uma palavra muito antiga. Este autor teórico, enfatiza que trata de um 
conjunto de abstrações que tenta explicar a realidade. Aponta que surgiu a epistemologia, por 
volta de 1906, nos dicionários “franceses”, mas enfatiza que, no século XIX, já havia obras 
tratando do tema. 
Segundo Japiassu, (1979, p. 24); a epistemologia significa “discurso” (logo) sobre a 
ciência (episteme) surgida no século XIX. O discurso gera toda uma indagação sobre o fato a 
ser explicado, originado pela nova concepção dos paradigmas de investigação epistemológica. 
Para Santos (2005, p 17), a reflexão epistemológica “moderna” originou-se, enquanto 
filosofia, no “[...] século XVII e atinge um dos seus pontos altos em fins do século XIX, ou 
seja, no período que acompanha a emergência e a consolidação da sociedade industrial e 
assiste no desenvolvimento espetacular da ciência e da técnica”. Nesse sentido, observamos 
que não existe um consenso sobre a origem da epistemologia, mas sim a temporalidade de 
filósofos que a classificam de acordo com o foco de abordagem pertinente frente às 
interpretações científicas da época. 
14 
 
 
Considera os autores, que a epistemologia é um meio de investigação da ciência que 
busca, através de métodos reflexivos dos saberes, um conjunto de conhecimentos capazes de 
atender à problemática originada pelos novos paradigmas, entre eles o de caráter ambiental. 
Bunge (1980 p. 104) enfatiza que o campo epistemológico emergiu para o pensamento 
contemporâneo, a partir de meados do século XX. Para ele, a epistemologia, ou “filosofia da 
ciência”, “[...] é o ramo da filosofia que estuda a investigação científica e seu produto, o 
conhecimento científico”. 
Considerando a epistemologia como importante componente (ramo) da filosofia 
(árvore), Pe. Cavalcante (1979, p. 27), aborda que a epistemologia, no sentido bem amplo do 
termo, pode ser considerada como o estudo metódico e reflexivo do saber, da organização, da 
formação, do desenvolvimento, do funcionamento e de seus produtos intelectuais. Para ele, o 
saber se apresenta como um conjunto de conhecimentos que respondem aos questionamentos 
e problemáticas, fomentando a formação intelectual do indivíduo frente aos limites de 
abordagem. 
A epistemologia consiste em um processo de reflexão, com o propósito crítico sobre a 
ciência construída ou em processo de construção, sendo o conhecimento cumulativo e atende 
a interesses e valores que se modificam com as novas necessidades. Atualmente, a 
epistemologia não se interessa em discutir a verdade da ciência, conceito que perdeu o sentido 
pela necessidade de uma maior abrangência do conhecimento, mas a gênese, a formação e a 
estruturação de cada ciência e os processos históricos de validação que aparecem. 
Nesse sentido, o estudo epistemológico está relacionado a uma reflexão crítica que 
permite a descoberta e a análise de “[...] problemas tais como eles se colocam ou se omitem se 
resolvem ou desaparecem, na prática efetiva dos cientistas”, (JAPIASSU 1979. p. 119). Com 
efeito, o objetivo a ser estudado é a “práxis” científica e não o seu produto, ou seja, a 
epistemologia tem como função refletir não sobre a “ciência feita, acabada, verdadeira”, mas 
sobre o processo de desenvolvimento científico. 
Por estar relacionada ao campo de desenvolvimento científico, a epistemologia não 
pode ter uma conceitualização única, linear, estática, enquadrada em um campo do 
conhecimento específico, ou vinculada a uma disciplina isolada, pois uma de suas principais 
características como abordagem científica é a interdisciplinaridade. 
A epistemologia, ao longo do desenvolvimento científico, foi-se dividindo por áreas de 
conhecimento, que refletiam a necessidade de explicação de pontos específicos capazes de 
nortear, ou muitas vezes, moldar as bases do conhecimento limitado. Essa construção foi 
sendo originada por escolas, abordagens, enfoques que, muitas vezes, buscaram de forma 
15 
 
 
simplória responder a problemáticas específicas. Assim, pela contribuição de vários 
epistemólogos que integram as diversas escolas, podemos destacar: epistemologia científica: 
estuda os processos cognitivos; epistemologia conscienciológica: aborda os paradigmas 
consciências; epistemologia evolucionária: aborda ao processo de evolução genética; teoria 
dos genes, seleção natural do mais apto; epistemologia filosófica: relaciona o conhecimento 
verdadeiro com as crenças; epistemologia genética: trata das propostas apresentadas por Jean 
Piaget; epistemologia geral: reflete-se nos conhecimentos científicos em geral; epistemologia 
especial: refere-se aos conhecimentos peculiares de cada ciência. Todas essas abordagens 
epistemológicas têm como missão científica e específica de definir área do conhecimento. 
Estas abordagens epistemológicas não foram abolidas do seu contexto de abrangência, mas 
foram, ao longo de evolução, apresentando-se incompletas ou muitas vezes, estáticas dentro 
da grandeza que é a complexidade de interpretação do conhecimento. 
Dentro do contexto atual destas contribuições epistemológicas podemos enfatizar a 
apresentada por Japiassu (1979, p.10-11), norteada por três agrupamentos epistemológicos: 
 Epistemologia Global: trata do saber globalmente considerado, com a 
virtualidade e os problemas do conjunto de uma organização, quer seja 
especulativa, quer seja científica; 
 Epistemologia Particular: leva em consideração um campo particular do saber, 
quer seja especulativo, quer seja científico; 
 Epistemologia Específica: é considerada uma disciplina intelectualmente 
constituída em unidade bem definida do saber e de estudá-la de modo próximo 
detalhado e técnico, mostrando sua organização, seu funcionamento e as 
possíveis relações que elas mantêm com as demais disciplinas. 
Esta classificação de Japiassu nos leva a refletir sobre a necessidade de uma 
segmentação epistemológica, que busca identificar o modo de abordagem, o contexto do 
objeto e do observador e as especificidades do objeto acrescido da interpretação do observar, 
sendo os principais aspectos condicionantes as diferentes abordagens epistemológicas. 
Nesse aspecto, as transformações do contexto científico são compreendidas como um 
conjunto de eventos em múltiplas relações. Cabe às epistemologias a identificação desses 
conjuntos de eventos científicos, ao mesmo tempo, únicos e múltiplos. Esta complexidade faz 
com que a compreensão sobre as fronteiras do conhecimento busquem não apenas explicar, 
16 
 
 
mas entender a necessidade do desenvolvimento humano frente aos problemas que se 
fundamentam nas mais diversas áreas do conhecimento. 
Dentro dessa concepção, as abordagens são transformadas de acordo com os contextos 
relacionais e com a parcialidade observacional. Por essa razão, as questões de conhecimento, 
com suas diversas concepções sempre estiveram influenciadas por teses de ordem 
epistemológicas, seja de maneira explícita ou não. 
A noção de epistemologia dentro dos novos paradigmas da relação dicotômica 
homem/natureza justifica-se na exata medida em que, na atualidade, a abordagem do 
conhecimento tem sido mais tecnicista e reducionista, ou seja, a simplificação excessiva 
daquilo que é objeto de estudo, não sendo os aspectos filosófico-científicos valorizados. 
Somente um conhecimento básico das principais questões epistemológicas e metodológicas 
pode oferecer aos interessados em qualquer ciência uma visão ampla e fundamental do 
sentido, alcance, limite e validade da investigação, suas técnicas, procedimentos eaplicações. 
A ausência epistemológica e metodológica que sustente uma técnica de investigação 
pode representar apenas um confuso conjunto de procedimentos cuja opção de uso recai na 
escolha aleatória exclusiva de quem opta por este tipo de procedimento e que serve para 
poucos. 
De forma consensual, vários autores apontam que estudar epistemologia tem o sentido 
de ir além das aparências, da falsa ilusão da objetividade, da busca e obtenção do 
conhecimento válido, neutro e verdadeiro. Objetivam desmistificar a existência de monopólio 
da ciência sobre o conhecimento, mostrando que existem outras formas de conhecimento 
também válido. 
Este monopólio da ciência apresenta-se pelo longo tempo reducionista, tecnicista e 
fragmentado do conhecimento científico, no qual muitos autores enfatizam que o surgimento 
de tendências epistemológicas alternativas aos modelos tradicionais se deve, principalmente, 
aos questionamentos de Thomas Kunh, sobre a objetividade e racionalidade da ciência, por 
uma via, e as teorias Frankfurtianas enfatizando os aspectos ideológicos conservadores 
presentes nestes paradigmas, por outros. As teorias Frankfurtianas originaram-se pela 
iniciativa de um grupo de filósofo e cientistas sociais alemães que fundaram o Instituto de 
Pesquisa Social de Frankfurt, em 1923, com o objetivo de proceder a um exame crítico da 
sociedade em geral, abandonando os aspectos econômicos, culturais e da produção do 
conhecimento, partindo de uma perspectiva marxista renovada sem ficar preso ao historicismo 
ou ao materialismo. 
17 
 
 
Kunh, físico americano, considerado um dos filósofos da ciência mais conhecidos e 
influentes, na obra: “A Estrutura da Revolução Científica”, 1962, desencadeou uma 
desafiadora alteração na filosofia da ciência tradicional, inaugurando um discurso inovador, 
que privilegia os aspectos históricos e sociológicos na análise da prática científica, e 
desvalorizando os aspectos lógico metodológicos, que se encontravam nos discursos 
epistemológicos da época. Para o autor, o conhecimento científico é construído a partir de 
uma descontinuidade, de uma ruptura epistemológica com os saberes que o precedem. A 
ruptura epistemológica é uma abordagem que busca contrapor-se à noção de linearidade do 
conhecimento científico. Observa que o processo de construção do conhecimento científico se 
estabelece a partir de rupturas e revoluções de pensamentos como é o caso da crise ambiental 
propagada pela cisão epistemológica entre homem e natureza. 
Dessa maneira, o diálogo entre as abordagens epistemológicas faz-se necessário na 
medida em que há uma complexidade da formação teórica ambiental, conforme norteiam as 
tendências em torno da epistemologia genética de Piaget; da epistemologia histórica de 
Bachelard; da epistemologia arqueológica de Foucault; da epistemologia da complexidade de 
Morin e da epistemologia da racionalidade ambiental de Leff. Todas elas abordam o processo 
de identificação das rupturas epistemológicas, dando início à formulação de novos 
paradigmas que originaram as bases de fundamentação para a complexidade ambiental. Esta 
necessita de uma articulação dialética entre os saberes, numa relação constante de vigilância 
crítica científica. Não podemos então, entender essas articulações como meros processos 
desvinculados de sua compreensão filosófico-científica, sendo esta uma ponte entre os 
saberes. 
O problema ambiental emerge como um novo desafio do conhecimento que busca 
incessantemente por resultados dogmatistas, criando a “cegueira” e norteando a “tecnicidade”, 
o que desencadeia um obstáculo epistemológico que extrapola as condições de domínio da 
racionalidade teórico-científica. Devido às barreiras ambientais e sociais que surgem deste 
processo global e da ausência epistemológica crítica reavaliativa, a ciência é abordada 
atualmente. 
As ciências ambientais ainda reclamam pela ótica epistemológica, uma vez que as 
revoluções e/ou rupturas que ocorreram até o momento, na visão de Rhode (1996), postulam a 
epistemologia como uma verdadeira metadisciplina dentro das ciências formais. Portanto, é 
oportuna uma verificação sobre o conhecimento, sobre o saber, sobre a ciência e sobre o 
pensamento de forma geral e específica, buscando, ao mesmo tempo, fundamentar a 
complexidade da epistemologia com abordagem ambiental. 
18 
 
 
3 CONSTRUÇÕES EPISTEMOLÓGICAS AMBIENTAL 
 
As discussões sobre como o conhecimento científico se desenvolve desencadeiam 
inúmeras interpretações. Quando estudamos a evolução histórica do conhecimento científico, 
é necessário explorarmos criticamente os principais aspectos que delineiam cada pensamento 
na ciência, com o intuito de proporcionar na pesquisa não apenas uma visão cronológica, mas 
também filosófica da pesquisa científica de cada corrente da época. É notório que o 
pensamento científico, a partir do século XVI até o início do século XVIII, valoriza o 
utilitarismo, o conceito pragmático dos conhecimentos, sem dar relevância às características 
dos objetivos, balizando a prática dos cientistas durante esta etapa histórica. Sobre a 
percepção atual, esta visão é antagônica tendo em vista que a preocupação com o 
conhecimento científico não busca apenas responder a questionamentos ou lacunas dele, mas 
sim a atender às áreas do conhecimento sobre o prisma de uma reflexão metodológico-
científica contínua, dinâmica e inovadora. 
A nova percepção epistemológica, apresentada pela filósofa Ayn Rand, considera que 
“A epistemologia é a ciência devotada a descobrir quais são os métodos adequados para a 
aquisição e a validação do conhecimento”. 
Dentro desses métodos de aquisição e validação do conhecimento, encontram-se as 
abordagens epistemológicas tradicionalmente filosóficas. Os grandes filósofos foram teóricos 
do conhecimento, construíram teorias do conhecimento, visando aos diversos tipos de saber e 
suas origens: razão, imaginação, experiências. De certa forma, estiveram relacionado ao 
progresso das ciências. Partindo do pressuposto de que somente através de uma visão 
epistemológica associada a diversas áreas do conhecimento, podemos interpretar os 
conhecimentos passados, historicamente, posicionando-os como reflexão sobre as ciências, 
sobre o que fazem, como se constroem e, principalmente, numa abordagem pedagógica. 
Portanto, é através da epistemologia que a história das ciências ambientais permite discernir 
os conhecimentos científicos superados e fomentar os conhecimentos científicos atuais frentes 
às novas necessidades socioambientais. 
A epistemologia ambiental fundamenta-se nas contribuições de grandes filósofos dentro 
de abordagens atualizadas, inovadoras, dinâmicas e sistêmicas, que estruturam os novos 
preceitos científicos, diante de problemática complexa, apontando a relevância do discurso 
epistemológico sobre a crise sócio-ambiental, buscando fomentar o debate sobre alternativas 
concretas de planejamento e gestão do uso que fazemos do patrimônio natural. 
19 
 
 
Do ponto de vista científico, é interessante notar que os conceitos sobre o planejamento 
e a gestão do patrimônio natural norteiam a busca permanente da qualidade ambiental, a qual 
através de uma formação epistemológica, possa dar suporte ao processo de aprimoramento 
constante aos conhecimentos da gestão com abordagem ambiental, ou seja, a gestão 
ambiental. 
Nesse sentido, através de uma discussão epistemológica, esta dissertação busca 
fundamentar as bases necessárias para formação da gestão ambiental sobre o foco de filósofos 
e cientistas que desenvolveram múltiplas visões do conhecimento. 
 
 
3.1 EPISTEMOLOGIA GENÉTICA 
 
Formado em biologia, Jean Piaget foi uma dos primeiros estudiosos a pesquisar 
cientificamente como o conhecimento era formado na mente de um pesquisador, tomando 
aqui a palavra pesquisador o seu sentido mais amplo. Suas teorias buscavam explicar como se 
desenvolve a inteligêncianos seres humanos. Para Piaget, como destacam inúmeros autores, o 
mundo real e a concepção das relações de causalidade são constituídos na mente. As 
informações recebidas através da percepção são transformadas em conceitos ou construções 
organizadas em estruturas coerentes. É através dela que a pessoa passa a perceber ou entender 
o mundo exterior. A realidade consiste numa reconstituição feita através de processos mentais 
sobre os fenômenos do mundo, que foram percebidos pelos sentidos da percepção em 
construção. 
Toda esta fundamentação estrutura o processo de observação que estabelece as bases de 
sua teoria, chamada por Piaget de “Epistemologia Genética”, descrita em uma de suas obras: 
“O nascimento da inteligência na criança” (1982), na qual aborda que: 
As relações entre o sujeito e o seu meio consistem numa interação radical, de modo 
tal que a consciência não começa pelo conhecimento dos objetos nem pelo das 
atitudes do sujeito, mas por um estado diferenciado; e é desse estudo que derivam 
dois movimentos complementares, um de incorporação das coisas ao sujeito, e o 
outro de acomodação às próprias coisas. (PIAGET,1982, p. 24) 
 
Pe. Cavalcante (1979, p.200) afirma que a epistemologia, para Piaget, é um estudo 
analítico da formação dos verdadeiros conhecimentos, o que significa que é o estudo do 
desenvolvimento do conhecimento humano desde sua origem até o conhecimento científico 
propriamente dito. 
20 
 
 
Outro autor que também contribuiu para o estudo do conhecimento a respeito da mente 
humana foi Lev Vygotsky, formado em direito, história e filosofia na universidade de 
Moscou. De ideologia marxista, buscou desenvolver uma psicologia com essas características, 
cuja teoria tem como foco o desenvolvimento do indivíduo como resultante de um processo 
sócio-histórico, enfatizando o papel da linguagem nesse desenvolvimento. É considerada uma 
teoria histórico-social centrada na aquisição do conhecimento pela “interação” do sujeito com 
o meio. 
Para Vygotsky, o homem é um ser social, formado dentro de um ambiente cultural, 
historicamente definido e é justamente nesse ponto que sua teoria se diferencia da teoria de 
Piaget. Para Vygotsky, a interação é o mecanismo central, enquanto que, para Piaget, a 
construção do conhecimento humano acontece pela assimilação e acomodação frente à 
interação. 
Para Piaget, a construção do conhecimento na mente humana se fundamenta pela idéia 
de “equilibração” e “desequilibração”. Tal processo tem início quando uma pessoa entra em 
contato com um novo conhecimento, ocorrendo assim uma desequilibração e originando a 
necessidade de voltar à equilibração. O processo de reestruturação do conhecimento origina-
se com a assimilação dos novos elementos com a incorporação às estruturas já 
esquematizadas, através da interação. Nesse sentido, ocorre uma mudança no sujeito e tem 
início o processo de acomodação. 
Tanto Piaget como Vygotsky tiveram grandes contribuições a respeito do conhecimento 
humano. Piaget enfatiza os aspectos estruturais e as leis de caráter universal (de origem 
biológica) do desenvolvimento, enquanto Vygotsky destaca as contribuições da cultura, da 
interação social e a dimensão histórica do desenvolvimento mental. 
Dentro desse contexto, ambos são construtivistas em suas concepções do conhecimento 
intelectual, ou seja, sustentam que a inteligência é constituída através das relações recíprocas 
do homem com o meio. Nesse sentido, para a formação epistemológica de gestão ambiental, 
será enfatizada a epistemologia genética, que se fundamenta pela fusão das teorias (interação, 
assimilação e acomodação) existentes, por não acreditar que todo conhecimento seja, a priori, 
inerente ao próprio sujeito, nem que o conhecimento provenha totalmente das observações do 
meio que o cerca (empirismo); de acordo com suas teorias, o conhecimento, em qualquer 
nível, é gerado através de uma interação radical do sujeito com seu meio, a partir de estruturas 
previamente existentes no sujeito. 
Um dos motivos que levou Piaget a desenvolver sua teoria era dar uma fundamentação 
teórica, baseada em uma investigação científica, à forma de como se “constrói” o 
21 
 
 
conhecimento no ser humano. Para o autor, a epistemologia genética e o construtivismo não 
são uma nova metodologia pedagógica. Trata do construtivismo como uma forma de conceber 
o conhecimento: sua gênese e seu desenvolvimento. É, por conseqüência, um novo modo de 
ver o universo, a vida e o mundo das relações sociais. O construtivismo é uma teoria 
epistemológica; tal afirmação se justifica pelo fato de que foi concebido como uma forma de 
explicar a realidade da produção do conhecimento, mais precisamente do conhecimento 
científico. 
Partindo desse pressuposto, a epistemologia genética é o estudo de como conhecemos o 
mundo externo através dos próprios sentidos. A concepção epistemológica, como podemos 
analisar, subverte todas as teorias mais conhecidas sobre o comportamento do ser humano. Na 
teoria Piagiana, o comportamento dos seres vivos nem é inato, nem é resultado de 
condicionamento, mas sim construído numa interação entre o organismo, e o meio: quanto 
mais complexa essa interação, mais inteligente é o indivíduo. Nesse sentido, a inteligência 
consiste na capacidade individual de acomodação ao meio, o processo cognitivo teria início 
nos reflexos desenvolvendo-se por estágios até o período formal. Portanto, a epistemologia 
genética defende que o indivíduo passa por várias etapas de desenvolvimento ao longo da 
vida. Este processo ocorre através da aprendizagem, manifestada pelo equilíbrio entre a 
assimilação e a acomodação, resultando em adaptação. 
Para Piaget, o homem é o ser mais adaptável do mundo. Esse processo revela que 
nenhum conhecimento chega ao exterior sem sofrer alguma alteração pela nossa parte, ou 
seja, tudo que aprendemos é influenciado por aquilo que já tínhamos aprendido. 
Do ponto de vista histórico, pouco enfatizado por Piaget, a abordagem irá fundamentar-
se na concepção de Bachelard, que objetivou, em seus trabalhos, a formulação epistemológica 
das ciências nascentes, fundamentando-se nas principais proposições da filosofia das ciências, 
através da historicidade da epistemologia. 
 
 
 
3.2 EPISTEMOLOGIA HISTÓRICA DE BACHELARD 
 
Gaston Bachelard nasceu em Champagne (1884) e faleceu em Paris, França (1962). De 
origem humilde, foi um filósofo e poeta que estudou sucessivamente as ciências e a filosofia. 
Seu foco de estudo era, principalmente, as questões referentes à filosofia da ciência. É 
22 
 
 
considerado um dos mais atraentes pensadores contemporâneos é um puro e autêntico 
epistemólogo. Como afirma Pe. Cavalcante: 
 
Ele é tido e havido por muitos como o protótipo da epistemologia, enquanto a sua 
não é uma epistemologia calcada na gnosiologia, ou melhor, não é uma 
epistemologia à maneira de um apêndice de aplicação de uma gnosiologia já 
sistematizada. (CAVALCANTE, 1979, p.176) 
 
 
Considerado como um dos primeiros filósofos a tecer críticas à imagem tradicionalista 
da ciência, a visão empírico-indutivista. A epistemologia de Bachelard tem todo um cuidado 
com o mundo científico, numa construção paralela de filosofia e ciência. Adicionou a 
educação as suas preocupações pela formação do espírito científico a educação. Nesse 
sentido, preocupado com a desatualização da filosofia em relação à ciência contemporânea, 
Bachelard busca explorar, em suas idéias, os novos rumos do conhecimento científico e o 
constante trabalho de reforma presente nesta prática. A obra Bachelardiana encontra-se no 
contexto da revolução científica promovida no início do século XX (1905), pela teoria da 
relatividade. 
Todo o trabalho acadêmico bachelardiano objetivou o estudo do significado 
epistemológico desta ciência então nascente, procurando dar a esta ciência uma filosofia 
compatível com a sua novidade. Dentro desse objetivo,formula suas principais proposições 
para a filosofia das ciências: a historicidade da epistemologia e a relatividade do objeto. 
Afirma Bachelard (1978, p. 26) que “a nova ciência relativista rompe com as ciências 
anteriores em termos epistemológicos e a sua metodologia já não pode ser empirista, pois seu 
objeto encontra-se em relação, e não é mais absoluto”, ou seja, a ciência contemporânea 
modificou-se e, modificando-se, exigiu novo tratamento. 
A epistemologia histórica bachelardiana salienta que a ciência se desenvolve por 
descontinuidades, a mesma concepção é abordada por de Thomas Kuhn. Rompe com o saber 
cristalizado e sedimentado, envereda por marchas e contramarchas, idas e vindas, 
descrevendo uma trajetória sinuosa, não linear. Um novo conhecimento sempre se estabelece 
implicando uma ruptura em estruturas conceitual passadas, de maneira alguma se 
caracterizando cumulativas. A gestão ambiental se fundamenta nessa concepção, pela ruptura 
de conhecimentos cristalizados que bloqueiam a inserção de novas abordagens necessárias 
para disseminação do conhecimento científico. 
Portanto, o “novo espírito científico” origina-se da descontinuidade, da ruptura com o 
senso comum, o que significa uma distinção, nesta área da ciência, entre o universo em que se 
localizam as opiniões, os preceitos, ou seja, o senso comum e o universo das ciências, fato 
23 
 
 
imperceptível nas ciências tradicionais, estruturadas em boa medida nos limiares do 
empirismo, em que a ciência representava uma continuidade, em termos epistemológicos, 
com o senso comum. 
Destaca Bachelard que: 
 
 O espírito científico é essencial uma retificação do saber, um alargamento dos 
quadros do conhecimento. Julgar o seu passado condenando-o. A sua estrutura é a 
consciência dos seus erros históricos. Cientificamente, pensa-se o verdadeiro como 
retificação histórica de um longo erro, pensa-se a experiência como retificação da 
ilusão comum e primeira. (BACHELARD, 1996, p.120) 
 
Segundo Bachelard, a filosofia das ciências deve progredir conforme os avanços das 
ciências, realizando constantemente revisões e ajustes em suas concepções. Todo 
conhecimento é polêmico. Antes de constituir-se, deve destruir as construções passadas e 
abrir lugar a novas construções. Observamos que tal abordagem remete uma avaliação da 
percepção construtivista de Piaget, partindo da idéia de “desequilibração”, e buscando a 
“equilibração”. É este movimento dialético que constitui a tarefa de nova epistemologia 
(JAPIASSÚ, 1979, p.53). 
A abordagem bachelardiana enfatiza que “o conhecimento do real é luz que sempre 
projeta algumas sombras”, o conhecimento empírico é causado de muitos erros, e a constante 
retificação destes erros é indispensável à formação do espírito científico. Nesse sentido, o 
permanente processo de construção e desconstrução do saber, o “erro” assume papel 
fundamental, por ser visto de maneira positiva, componente inerente à ação do conhecer. A 
constante retificação do erro e do vício do pensamento promove o avanço da ciência. Não 
podemos denotar ao conceito de erro como sinônimos de fracasso, retrocesso, entrave, mas 
atribuir a ele uma conotação mais flexível, ou seja, admiti-lo como elemento integrante da 
evolução e desenvolvimento do espírito científico. 
Bachelard concebeu a evolução da ciência como um processo dinâmico de interação 
entre razão e a experiência. O processo científico faz-se através da ruptura epistemológica 
com o senso comum, com as tradições, com os erros e com os preceitos. A ciência avança 
com a superação destes obstáculos. 
Como afirma esse autor (1996, p.123), “razão absoluta e real absoluto são dois 
conceitos filosoficamente inúteis”. A realidade é que não podemos considerar a ciência 
independentemente do seu dever. “O conhecimento vulgar tem sempre mais respostas do que 
perguntas. Tem respostas para tudo”. No entanto, o espírito científico nos proíbe de ter 
24 
 
 
opiniões sobre questões que não compreendemos, sobre questões que não sabemos formular 
claramente. Antes de tudo é preciso propor o problema. 
A construção de todo saber deve começar com perguntas, com a busca de uma solução a 
um problema, ou seja, quando não há questionamentos, não há conhecimento. Dessa forma, o 
cientista contemporâneo deve buscar superar os obstáculos epistemológicos, pois as rupturas e 
descontinuidades são características constantes da evolução do pensamento científico. O 
espírito científico é essencialmente retificação do saber, ampliação dos esquemas do 
conhecimento. Como afirma Bachelard no livro: “A Formação do Espírito Científico”, 1938, 
“na ciência não vale por si só, nada é dado, tudo é construído”. O conhecimento científico 
avança por meio de rupturas epistemológicas sucessivas. É desse modo que ele se aproxima 
da verdade: “Não encontramos nenhuma solução possível para o problema da verdade se não 
de ir descartando erros cada vez mais sutis” (BACHELARD, 1996, p. 43) 
Os obstáculos epistemológicos são idéias que impedem e bloqueiam outras idéias, são 
hábitos intelectuais cristalizados, a inércia que faz estagnar as culturas, teorias científicas 
ensinadas como dogmas, os dogmas ideológicos que dominam as diversas ciências. Conforme 
acentua Bachelard (1996 p.30), “é necessário estar em estado de mobilização continua com 
relação às armadilhas que deles podem surgir”. 
 Afirma ainda esse autor que são, através dos obstáculos epistemológicos, que se 
analisam as condições psicológicas do processo científico, enfatizando: 
 
...É ai que mostraremos causas de estagnação e de até de regressão, detectamos 
causas de inércia às quais daremos o nome de obstáculos epistemológicos [...] o ato 
de conhecer se dá contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal 
estabelecidos, superando o que, no próprio espírito, é obstáculo. (BACHELARD, 
1996, p.17) 
 
Os obstáculos epistemológicos podem ser de ordem diversa: a opinião é uma delas, “a 
opinião, por direito, está sempre errada. A opinião pensa mal, não pensa, traduz necessidades 
por conhecimentos. Decifrando os objetos segundo a sua atitude, impede-se de conhecê-los” [ 
...] (BACHELARD,1996,p.18). Outra é a falta genuína do sentido do problema, sentido que 
perde quando a pesquisa se encerra na crosta dos conhecimentos dados como adquiridos e não 
mais problematização. 
Ainda podem ser obstáculos epistemológicos as construções da própria natureza 
humana ou podem ter causas sociais. Aponta Bachelard, que os obstáculos são vícios 
concernentes ao ato de conhecer que se incrustam no pensamento, e sua permanente 
25 
 
 
superação depende diretamente de uma catarse intelectual e afetiva. Essa catarse torna-se 
absolutamente necessária se quisermos tornar possível o progresso da ciência. 
A ciência contemporânea deve estar constantemente alerta às distrações de um espírito 
desatento e acostumado com a pesquisa rotineira e conservadora. Os obstáculos estão 
presentes no pensamento científico, revelam os conceitos e noções obscuras firmemente 
salientadas no espírito científico. Bachelard não deixa de mencionar a relevância das grandes 
generalizações de construtos teóricos da cultura científica (1996, p. 71), as grandes verdades, 
definições intocáveis, são comuns em cada ciência, porém tornam-se problemas por serem 
inquestionáveis, bloqueando idéias. Por esse motivo, os conhecimentos gerais configuram-se 
obstáculos, sendo responsáveis por manter em estágio de sonolência o saber alheio a 
revoluções científicas. 
Dentro desse contexto que aborda Bachelard, é possível antecipar que os obstáculos 
epistemológicos levantados estão presentes na gestão de um saber ambiental. Analisando 
esses obstáculos para a epistemologia ambiental, ressaltamos, de modo particular, aqueles que 
afetam a produção do conhecimento ambiental e que têm conseqüências diretas na educação, 
pesquisa e aplicação desses conhecimentos para a qualidadede vida da humanidade. 
A epistemologia ambiental repousa sua base na epistemologia histórica de Bachelard, 
por fundamentar que tal evolução conceitual científica sobre as necessidades ambientais tem 
caráter histórico, por distorções conceituais inseridas na formação epistemológica ambiental, 
obstáculos epistemológicos oriundos do reducionismo, da fragmentação e cisão do 
conhecimento necessário para formação de tal conhecimento. Serão apontados, 
posteriormente, os tópicos que afetam diretamente a gestão ambiental. 
 
 
 
3.3 EPISTEMOLOGIA ARQUEOLÓGICA DO SABER DE FOUCAULT 
 
Michel Foucault (1926-1984) é um dos filósofos modernos mais comentados da nossa 
época. Suas contribuições epistemológicas estão citadas em sua obra: “Arqueologia do 
Saber”. O escopo desta obra era fazer uma análise histórica de um conjunto de saberes que 
acabaram por originar o que hodiernamente chamamos de ciências humanas, ou seja, ele faz 
uma arqueologia do saber, estudando saberes relevantes para o modo de existência atual das 
ciências humanas. Na verdade, a epistemologia de Foucault não é propriamente um tratado no 
sentido comum do termo, é uma epistemologia que nasce da análise histórico-cultural. 
26 
 
 
Ao iniciar seus estudos diacrônicos, ou seja, o desenvolvimento temporal de 
determinados fatos de caráter cultural, social, etc, observando quanto a sua evolução no 
tempo, Foucault considera, como denominador comum das suas pesquisas arqueológicas do 
saber, a “episteme”, não no sentido etimológico da palavra, ou seja, como Ciência. Para 
Foucault, a episteme tem o sentido mais para a estrutura cultural de uma época; é mais o 
espírito da cultura de um período histórico, originando um novo sentido ao termo. 
Destaca, em seu livro: “Les mots e les choses” (As palavras e as coisas), que a 
“episteme” é um campo ou espaço historicamente situado. Pe. Cavalcante (1979, p.195) 
descreve que Foucault estuda a episteme de um período histórico, pelo qual descobre todo o 
caráter cultural e intelectual desse período e, conseqüentemente, a sua estrutura científica. 
Foucault divide o estudo da episteme em três momentos: a época da renascença (século XVI); 
a época clássica da ciência (século XVII a XVIII); e a época iniciada com o século XIX até 
os dias atuais, nos quais encontramos os novos paradigmas da revolução ambiental, 
fomentada pelas discussões iniciadas em Estocolmo, 1972, e que, nas últimas décadas, vem 
sendo estruturadas dentro de uma nova percepção da relação do homem com o meio 
ambiente. Destaca Foucault, em sua análise sobre a abordagem, que a época da Renascença é 
vista como uma introdução da época clássica e seu estudo não aprofundado. 
Foucault ressalta a época clássica, que apresentava uma configuração dos saberes 
deveras distinta da época anterior. Para o filósofo, a grande diferença está na relação da 
representação e do objeto, ou seja, na época clássica, a estrutura visível dos objetos era 
priorizada, havendo uma análise das representações e das idéias dos objetos. Nesse período, o 
que epistemologicamente predomina é a relação a um conhecimento de ordem, como destaca 
Pe. Cavalcante (1979, p.196). 
Essa percepção traz à tona a concepção de Bacherlard sobre a historicidade da 
epistemologia, rompendo com a cristalização das ciências anteriores, em termos 
epistemológicos, na qual sua metodologia não pode ser considerada empírica, pois seu objeto 
de estudo encontra-se em relação, e não é mais absoluto. 
No campo epistemológico, é interessante a abordagem das ciências que Foucault 
apresentava segundo a sua análise de episteme moderna. Enfatiza que o campo da episteme 
moderna se desenvolve em um grande espaço de três dimensões: a dimensão das ciências, a 
linguagem e a reflexão filosófica. 
Enfatiza Carnap que; 
 
27 
 
 
Para Foucault, anteriormente a epistemologia moderna, isto é, antes do século XIV, 
não houve ciências humanas, o que só aconteceu quando houve uma reviravolta na 
episteme, ou seja, quando, abordando o espaço de representações, os seres vivos se 
alojaram na profundidade específica da vida, as riquezas num surto progressivo das 
formas da produção, as palavras no devir das linguagens. (CARNAP, 1975, p.119) 
 
 
Foucault, a partir desse novo sentido epistemológico, apresenta a arqueologia não como 
um estudo à semelhança da história das idéias que pretende, partindo de um determinado 
texto, encontrar-lhe filiação teórica e os fundamentos que garantam sua relação. 
A história para filósofos é uma espécie de grande e vasta continuidade onde vêm se 
emaranhar a liberdade dos indivíduos e as determinações econômicas e sociais. Foucault 
recusa este tipo de história quase mitológica da continuidade na qual se emaranham liberdades 
individuais e causalidades sociais. Em sua obra: “Arqueologia do Saber” (1967), apresenta no 
primeiro capítulo, os pressupostos teóricos que fundamentam sua arqueologia, tais como a 
descontinuidade e a noção de arquivo. O conceito de descontinuidade (conceito operatório) é 
desenvolvido de maneira incisiva. Destaca que uma nova forma de história venha a ser 
praticada em contraposição à história tradicional e sua ampliação da periodização histórica 
que isola, na forma de longa-duração, grandes continuidades. É um fator importante sobre a 
percepção de descontinuidade na qual se encontra presente também nas abordagens de Kuhn, 
Piaget e Bachelard, evidenciando a relevância de uma nova concepção da ciência. 
Para Foucault, o problema não é mais a tradição e o rastro, mas o recorte e o limite; não 
é mais o fundamento que se perpetua, e sim as transformações que valem como fundação e 
renovação dos fundamentos. Tais fatos podem ser percebidos dentro dos recortes, limites e 
transformações necessárias para a estruturação conceitual da gestão ambiental. 
Na arqueologia do saber, 
 
 Os fenômenos simplesmente começam em pontos históricos particulares, não se 
originam em algum lugar que seria como o lugar próprio da sua verdade: um espírito 
da época, uma mentalidade coletiva ou uma consciência individual; numa única 
palavra, um sujeito. O tempo é uma sucessão de descontinuidades, de começos nos já 
começados; não é o devir de um pensamento ou de uma razão que, desde a sua 
origem, se arrasta na evolução lenta e continua do seu progresso. (FOUCAULT, 
1997, p. 202) 
 
Nesse sentido, não é simplesmente o nível de tempo-realidade que estrutura esta nova 
história, da qual a arqueologia do saber vai ao mesmo tempo a que se afasta retirar os 
pressupostos teóricos que a fundamentam. Para Machado (2006, p.143), Foucault fundamenta 
sua abordagem a partir da definição metodológica arqueológica sobre o discurso; o enunciado 
e o saber. 
28 
 
 
O discurso, na arqueologia do saber, é analisado na sua dispersão. É constituído como 
objeto principal de análise. Não tem sistemacidade à maneira da ciência, seus elementos são 
dispersos, pois são constituídos com objetivos pragmáticos: as formações discursivas são 
encaradas como campo de relação entre os enunciados. 
Os enunciados, na Arqueologia do Saber, têm uma função de existência de articulação, 
não uma unidade. “Uma função que cruza um domínio de estruturas e de unidades possíveis e 
que faz aparecer com conteúdos concretos, no tempo e no espaço” como apresenta Foucault 
na sua obra “Arqueologia do saber” (1997, p.115) e enfatiza Machado em seu livro: Foucault 
a ciência e o saber, (2006, p. 151). Dessa forma, quando tomamos como fundamental os 
enunciados, percebemos as diferenças entre os discursos no tempo. A arqueologia se distingue 
da história da idéias tradicionais em inúmeros pontos como enfatiza Foucault. Para o autor, 
descontinuidade arqueológica não é a negação do problema do sujeito e como se fosse sua 
conseqüência, a recusa da história. Para Foucault, antes de um fundamento dos discursos, o 
sujeito é apenas uma posição ocupada por aquele que enuncia algo; é, por conseguinte,uma 
função do discurso. Ao rejeitar a linearidade das mudanças históricas, causadas pela formação 
de novos paradigmas do conhecimento, evidência as transformações discursivas que 
possibilitam novas regras de enunciação. 
O saber, na Arqueologia do Saber, introduz o conceito de história arqueológica em 
oposição à noção de descontinuidade estrutural. Distingue-se das histórias das idéias, do 
pensamento ou das ciências (descritivas) porque é uma história conceitual que se define em 
continuidade com a história epistemológica, dos modelos e dos instrumentos conceituais. 
(MACHADO, 2006, p, 153) 
Nesse sentido, enfatiza Machado que: 
 
Como regime de prática, analisa os discursos a partir dos documentos; delimitando as 
regras de formação dos objetivos, das modalidades enunciativas, dos conceitos, dos 
termos, das teorias com o objetivo de estabelecer o tipo de positividade que os 
caracteriza. Essa positividade é a de um saber, não de uma ciência. Os saberes são 
independentes da ciência (estão também em outros tipos de discursos), mas toda 
ciência se localiza no campo do saber (MACHADO,2006, p.154). 
 
 
Portanto, o sistema de representações tal como era é desmontado, e o homem ganha 
mais consciência da história. O novo saber dispensa a representação pura e imediata para, na 
verdade, esgotar o fenômeno lógico da coisa em si. Os núcleos epistemológicos transformam-
se; essas transformações, comparáveis aos “obstáculos epistemológicos” de Bachelard, são 
importantes para a formação epistemológica ambiental. 
29 
 
 
A abordagem de Foucault transformou e modificou nossa relação com o saber e a 
verdade, modificou as relações de poder e saber na cultura contemporânea, nas formas de 
conceber e fazer ciência. Enfatiza que, atualmente, estamos em um mundo plural, no qual os 
fenômenos surgem deslocados, ocorrendo bastantes imprevistos. Devemos estar preparados 
para interpretar essas descontinuidades de forma que não desmonte e mutile esses 
acontecimentos, mas que saibamos interpretar estes acontecimentos com objetividade e 
clareza. 
Foucault denomina como epistemológicas, a análise das estruturas teóricas de um 
discurso científico, a análise do material conceitual, dos campos de aplicações desses 
conceitos e das regras de utilização dos mesmos. Tal fato instrumenta a gestão ambiental, não 
podendo ser vista como uma técnica de aplicação sem uma definição epistemológica que 
norteia o conhecimento de sua formação. É necessária, portanto, a avaliação de mecanismos 
de mensuração teórica desses conhecimentos. 
 
 
 
 3.4 EPISTEMOLOGIA DA COMPLEXIDADE DE MORIN 
 
 Pensador contemporâneo, Edgar Morin é um filósofo, sociólogo e epistemólogo 
transdisciplinar. Nascido na França, em 1921, situa boa parte de sua produção (obras) no 
campo das novas percepções e concepções científicas ocorridas ao longo do século XX. Entre 
elas, destacamos “O método”, “Introdução ao pensamento complexo”, “Ciência com 
consciência” e “Os setes saberes necessários para a educação do futuro”. Autor da 
epistemologia da complexidade, a qual se origina da cibernética, sendo incorporada em suas 
obras a partir da década de 60, integra os diversos modos de pensar, opondo-se ao pensamento 
linear, reducionista e disjuntivo. 
 A cibernética é uma teoria dos sistemas de controle baseada na comunicação entre os 
sistemas e o meio ambiente; e dentro do próprio sistema. Compreende os processos físicos, 
fisiológicos, psicológicos, entre outros, na transformação da informação. 
 A proposta da complexidade de Morin refere-se a um conjunto de eventos, 
principalmente aqueles ligados à área científica, que ocorrem no final do século XIX e que 
foram sendo debatidos, combatidos e assimilados no decorrer do século passado. Entre esses, 
encontra-se a gestão ambiental que, pela sua complexidade de estrutura, requer uma dimensão 
transdisciplinar do conhecimento. Sua proposta é de uma abordagem transdisciplinar dos 
30 
 
 
fenômenos e a mudança de paradigmas. A transdisciplinar trata de uma prática de unir e não 
separar o múltiplo e o diverso no processo de construção do conhecimento. O desafio é o 
processo de constituição de um paradigma que institua princípios comuns que, tecidos juntos 
com princípios específicos a cada campo, se interpenetrem a um ponto de serem capazes, em 
simultânea, configurando uma experiência para a qual ainda não há uma linguagem adequada. 
 Esse processo originou certa revolução, como afirma Japiassu, aos quase três séculos de 
determinismo, de racionalismo, de univocidade, de concepção mecânica de mundo e, 
principalmente, da certeza de que se transferia ao experimento científico. Tudo isso se 
fragmentaria com as descobertas da própria ciência. (MORIN, 2001) 
 Em sua obra “Introdução ao Pensamento Complexo”, o autor aborda alguns 
pressupostos teóricos, resultantes dos elementos de fundamentação e concepção do que venha 
a ser complexidade. Objetiva sensibilizar as enormes carências do nosso pensamento e fazer 
compreender que um pensamento mutilador conduz necessariamente a ações mutiladoras 
(MORIN, 2001, p. 22). Essa expressão “mutiladora” é considerada como uma patologia do 
saber, intitulada como inteligência cega, que opera pelo princípio da “disjunção”, da 
“redução” e da “abstração” denominada de “paradigma da simplificação”. Para Morin, no 
desenvolvimento da ciência, há uma hiperespecialização do conhecimento, chegando à 
inteligência cega, que “destrói os conjuntos e as totalidades, isola todos os objetivos daquilo 
que os envolve”. (MORIN, 2001, p.18) 
 Os hiperespecialistas ao qual Morin se refere são pretensos conhecedores, mas, de fato, 
praticantes de uma inteligência cega, posto que é parcelar e abstrata, evitando a globalidade e 
a contextualização dos problemas. Dessa forma, propõe uma epistemologia da complexidade, 
na qual a rigidez da lógica clássica seja substituída pela dialógica, e o conhecimento da 
integração das partes num todo é seja completado pelo reconhecimento da integração do todo 
no interior das partes, alertando para a importância vital da contextualização. 
 Dentro desse foco teórico, o paradigma da simplificação, na visão de Morin: 
 
São princípios supralógicos de organização do pensamento, princípios ocultos que 
governam a nossa visão das coisas e do mundo sem que disso tenhamos consciência. 
(...) um paradigma é constituído por certo tipo relação lógica extremamente forte entre 
noções mestras, noções chaves e princípios chaves. Essa relação e estes princípios vão 
comandar todos os propósitos que obedecem inconscientemente ao seu império. 
(MORIN, 2001, p.15) 
 
 Nessa perspectiva, a teoria da complexidade fundamenta-se inicialmente e avança a 
partir das concepções teóricas dos sistemas, da organização da informação e da cibernética, 
31 
 
 
considerando que o conhecimento não se reduz à incerteza; a concepção do conhecimento está 
associada aos pressupostos da organização, da auto-organização e da desordem; compreende 
o mundo como um horizonte de realidade mais vasto, reconhece a sociedade, o 
conhecimento, o ser humano como um sistema aberto, e o sujeito e o mundo interagem e se 
desenvolvem. Destaca que um dos problemas da teoria da complexidade é a complexidade 
lógica e a organizacional. Chama a atenção para o seguinte item: “o complexo não é o mesmo 
que complicado”. Portanto, a epistemologia da complexidade não pode ser entendida como 
uma epistemologia da complicação, uma epistemologia da dificuldade. 
 Um dos pontos que mais chamam a atenção na discussão da teoria da complexidade é 
que ela interpenetra, perfeitamente na idéia de complicada quando tentamos fundamentar a 
epistemologia ambiental, tendo em vista que a dificuldade de estrutura e de definição reside 
na visão científica específica desenvolvida ao longo da história da ciência. Tal concepçãoé 
compartilhada por Bachelard, Foucault, Kuhn e, mais recentemente, por Leff. 
 Morin considera que, para entendermos os paradigmas da complexidade, devemos a 
piori entender o paradigma da simplificação, no qual considera a desordem um processo 
fundamental. Destaca que: 
 
A complexidade da relação ordem/desordem/organização surgem quando se verifica 
empiricamente que os fenômenos desordenados são necessários em certas 
condições, em certos casos, para a produção de fenômenos organizados, que 
contribuem para o aumento da ordem. (MORIN, 2001, p.91) 
 
 Essa concepção da relação de ordem/desordem/organização pode ser nitidamente 
observada na percepção de Piaget com a equilibração e desequilibração na construção do 
conhecimento; por Bachelard, através da ruptura epistemológica entre a ciência 
contemporânea e o senso comum; pela abordagem de Foucault, que modificou e transformou 
nossa relação com o saber e com a verdade, fruto da visão histórico-cultural do conhecimento. 
Todos tinham o mesmo objetivo, apresentar, de forma distinta, a idéia de que a construção do 
conhecimento se origina quando um novo paradigma vem substituir o antigo ou entender 
novas abordagens fruto das necessidades de reorganização do conhecimento. 
 Morin (2001, p.99) postula que o que é complexo releva por um lado do mundo 
empírico, da incerteza, da incapacidade de estar seguro de tudo, de formular uma lei, de 
conceber uma ordem absoluta. Revela, por outro lado, de algo lógico, quer dizer da 
incapacidade de evitar contradições. A complexidade leva à insegurança, à aspiração da 
completude. Nunca poderemos ter um saber total. “A totalidade é a não verdade”. 
32 
 
 
 Com muita propriedade, Morin aborda que tais concepções só são possíveis através da 
razão, que é um dos instrumentos racionais, capaz de permitir o conhecimento acerca do 
universo complexo e fazer uma autocrítica. Enfatiza que a “razão” são aspectos lógicos que 
corresponde à visão coerente dos fenômenos, das coisas e do universo; a “racionalidade” se 
constitui no diálogo incessante entre o nosso espírito que cria estrutura lógica e que as aplica e 
dialoga com o mundo real; a “racionalização” consiste em querer encerrar, o mundo em um 
sistema coerente o que se contradiz a isto é visto como ilusão ou aparência, ou seja, 
explicação simplista. 
 A falta de limite entre a racionalidade e a racionalização leva o indivíduo a uma 
tendência seletiva sobre o que favorece a idéia e uma desatenção sobre o que desfavorece. A 
racionalização desenvolve-se no próprio espírito do cientista. Nesse sentido, o pensamento 
complexo busca desenvolver não somente a crítica, mas a autocrítica de um diálogo 
permanente com a coerência, considerando três princípios norteadores: dialógico, recursão 
organizacional e hologramático. 
 Na argumentação sobre o pensamento complexo, o “dialógico” permite manter a 
dualidade no seio da unidade, associado, ao mesmo tempo, a termos complementares e 
antagônicos, como a ordem e a desordem. Na “recursividade organizacional”, a idéia 
recursiva é uma ruptura com a idéia linear de causa e efeito, de produto/produtor, de 
estrutura/superestrutura, uma vez que tudo o que é produzido volta sobre o que produziu num 
ciclo do qual ele mesmo autoconstitutivo, auto-organizador e autoprodutor”. (MORIN, 2001, 
p. 108) O “hologramático” perpassa a idéia de que não apenas está no todo, mas o todo está 
na parte. 
 Reconhece-se assim que, com o “paradigma da complexidade”, surgirá o conjunto de 
novas concepções, de novas visões, de novas descobertas e de novas reflexões que vão 
conciliar-se e juntar-se” (MORIN, 2001, p. 112). O paradigma da complexidade foca o 
desafio do diálogo entre a certeza e a incerteza, propiciando que os indivíduos vivenciem uma 
realidade marcada pela indeterminação, a interdependência e a causalidade entre os diferentes 
processos. 
 A epistemologia da complexidade se norteia por essa concepção inovadora dos 
paradigmas, a qual não traz em si complicadores, pelo contrário, possibilita o pensar no ser 
em si, na sua relação com o mundo, nas relações do mundo com o mundo e do ser com o ser. 
Trata-se de uma epistemologia aberta sem princípios rígidos direcionadores. Fundamenta-se a 
partir dos eventos do conhecimento, para estudar o próprio conhecimento, ou seja, o 
conhecimento do conhecimento. Assim, o conhecimento se condiciona, determina-se e se 
33 
 
 
limita pelo não condicionamento, pelo indeterminismo e pela condição ilimitada em sua 
gênese, que é justamente o seu limite. Como afirma Morin (1996, p. 201) que “não há 
conhecimento sem autoconhecimento”. 
 Portanto, a necessidade de abordar-se a epistemologia da complexidade numa 
perspectiva ambiental decorre da percepção quanto ao incipiente processo de reflexão sobre 
as práticas existentes e as múltiplas possibilidades que estão sendo postuladas, para pensar a 
realidade de modo complexo, defini-la como uma nova racionalidade e como um espaço no 
qual se articulam natureza, técnicas e culturas, considerando a complexidade como um 
desafio e não uma resposta. 
 Nesse sentido, é cada vez mais notória a complexidade do processo de transformação de 
conhecimento sobre o meio ambiente planetário, não apenas no tangente ao ecossistema ou 
aos aspectos físicos, mas também ao conhecimento, diretamente afetado pelos processos de 
disseminação do conhecimento sobre esta problemática. 
 A epistemologia da complexidade preconiza, de forma clara, o propósito da 
epistemologia ambiental, fomenta, nas bases do conhecimento científico-filosófico, que não 
tem visão linear e sim uma visão aberta, proativa e desafiadora frente às novas mudanças 
planetárias, oriundas das novas abordagens ambientais, colocando-se em um processo 
contínuo de reflexão e construção desse novo conhecimento. Dessa forma, o postulado de 
Morin enfatiza que “a totalidade não é a verdade” suscita a preocupação e a investigação por 
se tratar de uma abordagem nascente e emergente. A gestão ambiental necessita de uma base 
epistemológica com fundamentação científico-filosófica que aborde as complexidades das 
questões ambientais frente às atividades inerentes a sua área de atuação. 
 
 
3.5 EPISTEMOLOGIA AMBIENTAL 
 
3.5.1 A visão de Leff sobre a epistemologia ambiental 
 
 Dentro do contexto científico sobre a epistemologia ambiental, um dos grandes 
precursores atuais é Enrique Leff, doutor em Economia de Desenvolvimento pela 
Universidade de Paris na década de 70, considerado um intelectual latino-americano que vem 
estudando a temática ambiental dentro de uma perspectiva capaz de reduzir, de forma 
acelerada, o abismo entre teoria e prática ambiental. É coordenador, desde 1996, da Rede de 
34 
 
 
Formação Ambiental da América Latina e Caribe e do Programa das Nações Unidas para o 
Meio Ambiente (PNUMA). 
 Devido ao seu interesse com teorias e práticas ambientais, é autor de mais de 150 livros 
e artigos publicados no México, Espanha, Argentina, Brasil, Colômbia, Chile, EUA, 
Inglaterra, Itália, Alemanha, Holanda e em diversos países da América Latina. Entre suas 
principais obras, destacam-se “Saber Ambiental”, “Racionalidade Ambiental” e 
“Epistemologia Ambiental”. Esta última é considerada uma obra de grande valia para as 
discussões dos novos paradigmas ambientais. 
 Na obra “Saber Ambiental”, apresenta como objetivo central a discussão de elementos 
cosntrutores de um saber que possa realmente ser adjetivado como ambiental e que ao mesmo 
tempo permitam o questionamento sobre as abordagens ambientais. Enfatiza Leff que: 
 
O saber ambiental excede as ciências ambientais, constituídas como um conjunto de 
especialização surgida da incorporação dos enfoques ecológicos as disciplinas 
tradicionais – antropologia ecológica ecologia urbana, saúde, psicologia, economia

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