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O Fracasso Escolar e Suas Causas

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Ano 3 – Edição 12
Fracasso escolar
e suas causas
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✔ Dificuldade de
aprendizagem
✔ Baixo desempenho
✔ Repetência
✔ Evasão escolar
✔ Distúrbios de
aprendizagem
✔ Analfabetismo
✔ Distorção
idade-série
DOMINGO, 17 DE DEZEMBRO DE 2017
Professor-doutor Paulo Sérgio Garcia (coordenação), professor-doutor Lean-
dro Prearo, professora-doutora Maria do Carmo Romero, professor-mestre
Daniel Giatti e professor-doutor Marcos Sidnei Bassi.
E-mail: observatorioeducacao@uscs.edu.br
Observatório
da Educação
Edição
Nilton Valentim
Revisão
Francisco Lacerda
Textos
Paulo Sérgio Garcia e Daniel Giatti
Editor de Arte
Eder Marini
Editor de Fotografia
Claudinei Plaza
Diagramação
Eder Marini
Banco de Dados
Cecilia Del Gesso
Ilustração da capa
Seri
Infográficos
Agostinho Fratini
Studio
Felipe Vaz e Bruno Borsari
Paginação de Anúncios
Eduardo Pinheiro
SEDE:
Rua Catequese, 562,
Santo André,
São Paulo.
CEP: 09090-400.
Telefone/PABX: 4435-8100.
Departamento Comercial
Americo Domokos,
Everton Amauri,
Luciana Lima,
Márcia Maritan e
Renata Marcondes
O Observatório da Educação do
Grande ABC realiza, há três anos,
pesquisas que buscam contribuir
para a compreensão da qualidade
escolar da região. O projeto, de-
senvolvido pela USCS (Universi-
dade Municipal de São Caetano
do Sul), visa, entre outros objeti-
vos, identificar e analisar as esco-
las, a partir da formação e da atua-
ção dos professores, das políticas
educacionais, do desempenho
dos alunos, entre outros aspectos.
No segundo semestre de 2017,
o Observatório lançou o terceiro
livro da série de avaliações: ‘Ava-
liação da Educação Escolar no
Grande ABC Paulista: Inclusão,
desempenho e violência nas esco-
las’. Trata-se de um trabalho que
consolida estudos realizados na
região e que tem o papel de fo-
mentar debates e discussões en-
tre autoridades políticas, gestores
escolares, professores e também
com a própria comunidade.
O presente caderno, o 12º, apre-
senta um estudo de diagnóstico e
análise da situação do Ensino Fun-
damental, anos finais, das escolas
estaduais e municipais do Grande
ABC. A pesquisa tem como foco a
análise dos índices de reprova-
ção, abandono escolar e distorção
idade-série, elementos que carac-
terizam o fracasso escolar.
Foram utilizados para realiza-
ção desta pesquisa métodos mis-
tos, abordagem quantitativa e
qualitativa, em duas fases distin-
tas de coleta de dados. Na primei-
ra, realizada em 2017, foram co-
letadas informações no Censo Es-
colar (Censo Escolar/Inep) dos
anos de 2012 a 2015 (taxas de re-
provação, distorção idade-série e
abandono escolar). Esses dados
estão disponíveis nos microda-
dos no site do Inep (Instituto Na-
cional de Estudos e Pesquisas
Anísio Teixeira – http://portal.
inep.gov.br/microdados). Além
dos resultados das cidades da re-
gião, foram também coletados
dados do Estado de São Paulo e
do Brasil, com o intuito de enri-
quecer as análises.
Na segunda fase, considerando
que os resultados quantitativos di-
vulgados pelo Inep são inconsis-
tentes para a análise proposta, es-
tes dados foram contextualizados
e analisados a partir de um qua-
dro mais amplo relacionando os
fatores condicionantes do fracas-
so escolar. Diante disto, foram en-
trevistados alguns coordenadores
pedagógicos de escolas dos muni-
cípios da região para o aprimora-
mento das informações.
Equipe técnica
Fundadores
Edson Danillo Dotto
(1934-1997),
Maury de Campos Dotto,
Fausto Polesi (1930-2011)
e Angelo Puga
Que fenômeno é este?
O fracasso escolar no Ensino
Fundamental no Grande ABC
Diretor superintendente
Ronan Maria Pinto
Diretora-geral
Lidiane Fernandes Pinto Soares
Diretor de Redação
Evaldo Novelini
Diretora de
Planejamento e Gestão
Elaine Mateus da Silva
Coordenação
de Marketing
Claudia M. R. Zeber e
Josiana Abrão
No Brasil, o fracasso escolar tem
sido alvo de inúmeras discussões
entre especialistas do MEC (Minis-
tério da Educação), professores,
gestores escolares, pais e acadêmi-
cos. Cada vez mais pesquisadores
têm se dedicado a compreender es-
se fenômeno com intuito de provo-
car reflexões e auxiliar na criação
de políticas educacionais.
Dados do Censo Escolar
(2015), sobre o Ensino Fundamen-
tal mostram que elementos rela-
cionados ao fracasso escolar apre-
sentam marcas significativas, co-
mo as taxas de reprovação, que es-
tavam acima de 10% (escolas ur-
banas e rurais), as de abandono es-
colar, acima de 4,5% (escolas ru-
rais) e as de distorção idade-série,
com taxas acima de 20% (escolas
urbanas). Trata-se, portanto, de
um fenômeno crônico e ainda re-
corrente nas escolas brasileiras.
O fracasso escolar tem trazido
consequências para o aluno, a fa-
mília, a escola e para a sociedade
brasileira, sendo, portanto, um te-
ma de interesse de diferentes
áreas de estudo como a psicolo-
gia, a sociologia e a pedagogia.
Um dos estudos mais importante
em relação ao tema foi realizado
no ano de 1992 por Maria Helena
Souza Patto. A pesquisadora cons-
tatou que as primeiras enuncia-
ções a respeito deste fenômeno fo-
ram formuladas no século XIX e es-
tavam atreladas ao caráter racista
e médico, influenciadas pelo da-
rwinismo social.
Na década de 1930 até meados
de 1960, a influência maior estava
relacionada à psicologia diferen-
cial, que explicava o fracasso esco-
lar com foco nas diferenças indivi-
duais que poderiam ser emocio-
nais, intelectuais, físicas, neuroló-
gicas, sensoriais. As causas do fra-
casso escolar estavam centradas
no aluno e em sua incapacidade
de aprender e baseavam-se em jus-
tificativas patologizantes e medi-
calizantes, logo alunos com dificul-
dades deveriam ser tratados.
No início da década de 1970, as
justificativas para o fracasso esco-
lar que estavam assentadas nas ca-
racterísticas individuais das crian-
ças foram deslocadas para a famí-
lia e para o ambiente social. Neste
caso, surgiram explicações teóri-
cas associadas à carência e à dife-
rença cultural. A primeira advoga
que o fracasso escolar ocorre devi-
do às condições socioeconômicas
dos alunos. Essa explicação moti-
vou o desenvolvimento de vários
projetos de educação compensató-
ria no Brasil. Na segunda, está
atrelado às diferenças existentes
entre: a) os padrões culturais da
classe média em que os progra-
mas educacionais e os conteúdos
escolares estão baseados e b)
aqueles modelos incorporados e
manifestados pelos alunos de fa-
mílias pobres.
Fonte: Elaboração dos autores. Editoria de Arte
Quadro 01 - características do fracasso escolar
DIFICULDADE DE BAIXO
REPETÊNCIA
EVASÃO DISTÚRBIOS DE
ANALFABETISMOAPRENDIZAGEM DESEMPENHO ESCOLAR APRENDIZAGEM
Trata-se do aluno que
em algum momento de
sua vida acadêmica ou
em alguma disciplina
especifica não aprende
adequadamente.
Refere-se ao
jovem que apre-
senta rendimento
escolar abaixo do
esperado para
determinada idade
e habilidades cog-
nitivas.
Refere-se ao
não prossegui-
mento dos estu-
dos.
Indica quando o
estudante deixa de
frequentar a
escola, caracteri-
zando abandono
escolar durante o
ano
letivo.
Relaciona-se a um
grupo heterogêneo
manifestado por difi-
culdades intensas na
aquisição e utilização
da compreensão
auditiva, da fala,
leitura, escrita e do
raciocínio matemático
(discalculia, disgrafia,
hiperatividade e
déficit de atenção)
Refere-se ao
desconhecimento
do alfabeto e à
incapacidade de
ler e/ou escrever.
Trata-se da pro-
porção de alunos
fora da idade
escolar ou com
mais de dois anos
de atraso escolar.
ATRASO ESCOLAR
E DISTORÇÃO
IDADE-SÉRIE
2. Observatório da Educação do Grande ABC DOMINGO, 17 DE DEZEMBRO DE 2017
O Grande ABC e as taxas de
reprovação nos municípios
Já nos anos de 1980, as expli-
cações sobre o fracasso escolar
passaram para a escola e o con-
texto social, considerando que a
instituição está inserida em uma
sociedade de classes. Nos anos
1990, continuaram as tendên-
cias de culpabilização dos alu-
nos e das famílias, no entanto,
outras explicações se fortalece-
ram, deslocandoo foco para os
professores, sua formação e a in-
capacidade desses profissionais
em lidarem com as diferenças
dos alunos, desta forma, as desi-
gualdades sociais acabavam se
transformando em desigualda-
des escolares.
A culpa pelo fracasso escolar
centrada no aluno indicava sua
baixa capacidade intelectual e
emocional que acabavam por ge-
rar problemas de aprendizagem.
Neste processo, a escola e os pro-
fessores buscavam respaldo na
solicitação de laudos médicos
que pudessem atestar esses pro-
blemas (causas) individuais das
dificuldades de aprendizagem.
Tais laudos eram justificados pe-
la desnutrição, más condições
gerais de saúde física ou mental,
problemas psicológicos, entre
outros.
Em relação à família, as teses
estavam direcionadas para a es-
trutura familiar que não favore-
cia a aprendizagem e o desempe-
nho dos alunos, uma vez que os
familiares não valorizavam a es-
cola e nem participavam da vida
escolar de seus filhos. Neste con-
texto, a formação dos pais (anal-
fabetismo), separação ou divór-
cio, violência doméstica e as con-
dições socioeconômicas eram as
justificativas mais comuns para
o fracasso escolar. Tal situação
acabava por isentar a escola e os
professores da responsabilidade
do fracasso.
Em relação às escolas e aos
professores, assumia-se, de cer-
ta forma, a incapacidade desses
de atuar sobre as diferenças dos
alunos. No primeiro caso, consi-
dera-se a lógica excludente das
instituições inseridas em uma so-
ciedade de classes, onde não
existe uma distribuição igualitá-
ria de conhecimento e, neste con-
texto, a cultura dominante é va-
lorizada em detrimento da popu-
lar. No segundo, acredita-se que
entre os fatores responsáveis pe-
lo fracasso escolar está, sobretu-
do a má formação docente.
As explicações que buscam jus-
tificar o fracasso escolar conti-
nuam a culpabilizar o aluno, a fa-
mília, a escola e os professores,
ou seja, aspectos extra e intraes-
colares. No entanto, uma tendên-
cia mais atual aponta para uma
multiplicidade de fatores envol-
vidos no fracasso escolar, cuja
compreensão centra-se nas rela-
ções sociais. Neste processo, es-
tão envolvidos, entre outros ele-
mentos, os alunos, a família, a es-
cola, o sistema educacional, o
currículo, os conteúdos escola-
res, o meio em que o aluno habi-
ta, os professores, suas metodo-
logias de trabalho, a prática pe-
dagógica, as formas de avalia-
ção e os vínculos com os alunos.
Trata-se de um problema que
possui várias dimensões eviden-
ciando que a busca por soluções
tem de ser também multidimen-
sional.
No Brasil, dados de 2015 do
Censo Escolar mostram a dura
realidade em relação à reprova-
ção, abandono escolar e distor-
ção idade-série.
No Quadro 02, verifica-se que
as taxas de reprovação, abando-
no escolar e distorção idade-sé-
rie são muito elevadas, tanto nas
áreas urbanas como nas rurais
do País. O que mais chama a
atenção são as taxas de distor-
ção, que em alguns casos supe-
ram os 40%. Dados de 2014
(Censo Escolar) mostram que a
distorção idade-série superava
30% no sexto ano.
Em relação às reprovações e à
distorção várias políticas têm si-
do implementadas na tentativa
de atenuar o problema. No en-
tanto, essas políticas, apesar de
serem fundamentadas em teo-
rias e dados, ou seja, na realida-
de, não se mostraram eficazes
na superação das barreiras da re-
provação e da distorção idade-sé-
rie dos alunos do Ensino Funda-
mental.
Na educação brasileira, é ain-
da preciso destacar que não se
pode mais aceitar a ideia de ter-
mos, em algumas redes de ensi-
no, um grupo de alunos que são
admirados pelos professores,
pais e mídia, enquanto outros
são excluídos da escola. As esco-
las podem ser melhores e desen-
volver uma educação de qualida-
de e com equidade para todas as
crianças.
Considerando o período
de 2012 a 2015, nota-se que
as taxas de reprovação nas
escolas estaduais estiveram
mais concentradas nos no-
nos anos. Com o passar dos
anos, essa taxa apresentou
em alguns municípios uma
redução, por exemplo, em
Santo André, em 2012 a re-
provação no nono ano era
de 15,2% e passou para
10,8% em 2015.
Entretanto, essa aparente
melhora não é verificada pa-
ra todas as séries. Voltando
ao caso de Santo André, a
média de reprovação (M) do
sexto ano mais que dobrou,
indo de 3,2% para 6,8%.
Fonte: Elaboração dos autores. Editoria de Arte
Quadro 02 - Reprovações, abandono e distorção do Brasil - 2015
Escolas Esfera
Reprovações Abandono (%) Distorção
Idade/Série
Números Números
(%) absolutos (%) absolutos (%)
Municipais Urbana 13,2 524.314 4,0 157.364 32
Rural 12,1 141.566 5,6 66.066 43
Estaduais Urbana 11,7 599.124 3,0 155.421 24
Rural 10,2 27.605 4,7 12.759 35
Fonte: Dados Censo escolar (2012, 2013, 2014 e 2015) Editoria de Arte
2015 2014 2013 2012
6° 7° 8° 9° M 6° 7° 8° 9° M 6° 7° 8° 9° M 6° 7° 8° 9° M
Santo André 6,8 2,2 4 10,8 6,2 7,9 3,7 4,3 13 7,5 2,4 3,6 4 15,9 7 3,2 4,5 4,1 15,2 7,1
São Bernardo 5,4 5,1 4,9 9,7 6,6 8,7 4,5 6 13,9 8,6 2,9 3,8 5,6 16,2 7,7 3,9 4,4 5,8 17,7 8,3
São Caetano 5,5 4,6 3,5 7,9 5,5 7,9 2,4 5,6 11,4 7,5 1,3 3,2 3,4 14,4 7,1 2,8 3,9 4,1 14,5 7,4
Diadema 4,5 3 5,1 9,1 5,6 3,3 3 4,2 9,4 5,2 2 2,6 4 8,5 4,5 2,6 2,9 5,7 10,6 5,5
Mauá 4,6 2,7 4,6 9,1 5,5 6 3,5 4,8 11,4 6,7 2,7 3,9 4,7 12 6,2 3,1 3,7 6,5 12,5 6,8
Ribeirão Pires 6,8 1,4 2,6 7,1 4,6 5,8 1,3 2,7 6 4 1,1 1,4 2,2 9,4 3,8 1,4 1,5 2,3 9,5 3,9
Rio Grande da Serra 12,4 2,3 6,2 8,5 7,3 9 2,3 4,3 8 5,9 1,3 1,3 6,7 10,5 5,4 3,2 4,3 5,4 12,2 6,6
São Paulo 5,1 3,1 3 8,2 5,3 5,9 3,4 4,4 9,6 6 2,8 3,6 4,7 10,6 5,7 3,3 4 5 11,3 6
Brasil 13,4 12,5 10,4 10,5 11,7 14,1 12,3 10,9 11,1 12,1 12,7 11,7 10,3 11 11,4 14 12,5 10,6 11,8 12,2
Tabela 01 - média de reprovações – escolas estaduais (%)
DOMINGO, 17 DE DEZEMBRO DE 2017 Observatório da Educação do Grande ABC .3
Como pode-se verificar na Ta-
bela 01, as taxas médias de re-
provação no ano de 2015 (M)
ainda permanecem em patama-
res altos de reprovação, indican-
do uma difícil realidade para os
municípios e autoridades politi-
cas. No caso dos resultados das
escolas municipais, a Tabela 02
apresenta os dados:
Em relação aos dados de re-
provação das escolas munici-
pais, pode-se observar que São
Caetano possuía as maiores ta-
xas concentradas nos sextos
anos. No entanto, destaca-se
que nas escolas deste município
as médias de fracasso escolar,
de 2012 para 2015, foram bas-
tante reduzidas (20,8% para
8,5%), sobretudo no período de
2013 para 2015. A cidade de Ri-
beirão Pires apresentou grande
variabilidade em seus índices de
reprovação em todos os anos.
O Grande ABC e o abandono escolar nos municípios
Em relação ao abandono es-
colar ressalta-se, inicialmente,
que se trata de um fenômeno
caracterizado pela situação do
momento em que o aluno deixa
de frequentar a escola e não
mais retorna a ela. A Tabela 03
sintetiza os resultados das esco-
las estaduais.
Em nossa região, como pode
ser visto na Tabela 03, o aban-
dono escolar está, no período
analisado, mais situado nos no-
nos anos. Em alguns casos, as
taxas de abandono foram redu-
zidas de 2012 para 2014 (San-
to André, São Caetano, Diade-
ma, Rio Grande da Serra). As ci-
dades de São Bernardo e Santo
André possuíam as maiores ta-
xas em 2015 do Grande ABC,
mas menores do que a brasilei-
ra. Apesar da diminuição nas ta-
xas a situação é ainda preocu-
pante nos anos finais do Ensino
Fundamental.
O abandono nas escolas mu-
nicipais é apresentado na Tabe-
la 04, que sintetiza os resulta-
dos das duas cidades que pos-
suem este nível de ensino (São
Caetano e Ribeirão Pires).
A realidade das escolas muni-
cipais, dos municípios de Ribei-
rão Pires e São Caetano, apre-
sentou-se diferente das escolas
estaduais. Neste contexto, es-
sas cidades apresentaram taxas
quase nulas de abandono esco-
lar. Em São Caetano tinham
apenas nove evadidos em
2015.
No Brasil, em 2015, o núme-
ro absoluto de alunos do ensi-
no fundamental, anos finais, de
escolas públicas municipais e
estaduais, que deixou a escola,
de acordo com o Censo Escolar
foi de, aproximadamente, 386
mil estudantes. Realizando o
cruzamentoentre a categoria
abandono escolar e a de dias le-
tivos (200 dias), conclui-se que
em média, a cada 50 segundos,
um aluno brasileiro do Ensino
Fundamental, anos finais, aban-
donou os estudos.
No Grande ABC, em média,
um estudante, a cada duas ho-
ras e meia abandonou a escola
pública. Em relação às escolas
estaduais, em Santo André,
2015, o número absoluto de
alunos que deixou a escola foi
de 413 jovens, sinalizando que,
aproximadamente, a cada 12
horas um estudante abando-
nou a escola. Em São Bernardo,
em média, um jovem a cada,
seis horas e meia deixou os es-
tudos. Em Diadema e Mauá,
um a cada 12 horas, aproxima-
damente. As taxas de São Cae-
tano e Ribeirão Pires são quase
desprezíveis.
Fonte: Dados Censo escolar (2012, 2013, 2014 e 2015) Editoria de Arte
2015 2014 2013 2012
6° 7° 8° 9° M 6° 7° 8° 9° M 6° 7° 8° 9° M 6° 7° 8° 9° M
São Caetano 9,6 8,0 10,9 5,1 8,5 13,3 13,4 10,7 4,4 11 21,8 18,9 15,8 8,6 16,8 25,8 25,3 18,9 10,4 20,8
Ribeirão Pires 2,1 3,5 6,9 1,6 3,5 1,8 7,2 5,5 0,4 3,6 8,0 1,0 2,9 2,3 3,5 6,8 5,6 8,3 0,0 5,1
São Paulo 7,6 9,8 7,1 5,1 7,2 8,4 9,8 9,1 7,1 8,6 5,5 7,4 5,8 6,1 6,2 6,0 7,7 6,0 6,1 6,5
Brasil 16,8 15,0 11,2 7,4 13,2 18,1 15,4 12,2 8,5 14,1 17,8 15,1 11,6 8,2 13,8 17,8 15,5 11,6 8,6 14,0
Tabela 02 - média de reprovações – escolas municipais (%)
Fonte: Dados Censo escolar (2012, 2013, 2014 e 2015) - Elaboração própria. Editoria de Arte
2015 2014 2013 2012
6° 7° 8° 9° T 6° 7° 8° 9° T 6° 7° 8° 9° T 6° 7° 8° 9° T
Santo André 1,5 1,1 1,3 2,7 1,7 1,3 1,3 1,6 3,3 2,0 1,5 1,7 2,5 4,2 2,6 2,1 2,6 3,2 5,1 3,3
São Bernardo 1,6 1,7 1,5 4,1 2,4 1,2 1,3 1,4 3,7 2,1 1,0 1,0 1,7 2,8 1,7 0,9 1,0 1,5 3,0 1,7
São Caetano 0,0 0,3 1,1 0,9 0,7 0,6 0,3 1,7 1,5 1,2 2,1 2,0 1,3 0,7 1,3 0,9 0,5 0,8 3,8 1,8
Diadema 0,8 0,6 1,5 2,8 1,5 1,1 1,3 1,7 2,8 1,8 1,5 1,4 2,8 3,5 2,4 1,6 2,0 2,5 4,0 2,5
Mauá 0,8 0,8 1,4 2,8 1,6 0,6 0,7 1,3 2,9 1,5 1,3 1,0 2,3 3,1 2,0 1,2 1,1 1,7 2,5 1,7
Ribeirão Pires 0,4 0,3 0,5 1,4 0,7 0,1 0,4 0,7 1,4 0,7 0,6 0,1 0,9 2,1 1,0 0,2 0,5 0,8 1,2 0,7
Rio Grande da Serra 0,2 0,2 1,4 1,8 1,0 1,1 0,8 3,6 2,1 1,9 1,8 2,3 2,7 5,8 3,3 1,6 1,7 2,3 4,4 2,6
São Paulo 1,0 1,3 1,5 2,6 1,7 1,3 1,4 1,9, 3,0 2,0 1,4 1,6 2,0 3,0 2,1 1,3 1,4 1,9 3,2 2,0
Brasil 2,8 2,8 3,0 3,5 3,0 3,3 3,0 3,3 3,9 3,4 3,4 3,2 3,5 3,9 3,5 4,2 3,7 4,0 4,7 4,1
Tabela 03 - abandono escolar – escolas estaduais (%)
Fonte: Dados Censo escolar (2012, 2013, 2014 e 2015) - Elaboração própria Editoria de Arte
2015 2014 2013 2012
6° 7° 8° 9° M 6° 7° 8° 9° M 6° 7° 8° 9° M 6° 7° 8° 9° M
São Caetano 0,2 0,1 0,3 0,1 0,2 0,3 0,5 0,6 0,5 0,5 0,1 0,0 0,0 0,1 0,1 0,0 0,0 0,3 0,1 0,1
Ribeirão Pires 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,5 0,5 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
São Paulo 1,0 1,4 1,9 1,8 1,5 1,1 1,8 1,9 2,6 1,9 1,2 1,3 1,7 2,1 1,6 1,0 1,3 1,5 1,9 1,4
Brasil 4,3 4,2 3,6 3,5 4,0 4,9 4,4 4,0 4,0 4,4 4,8 4,3 4,0 3,9 4,3 5,3 5,0 4,4 4,5 4,9
Tabela 04 - abandono escolar – escolas municipais (%)
4. Observatório da Educação do Grande ABC DOMINGO, 17 DE DEZEMBRO DE 2017
Os dados revelaram que a distorção, nos municípios do Grande ABC, nas escolas estaduais, estava mais localizada nos nonos anos. De 2012 até 2015, pode-se observar
que este fenômeno vem se mantendo quase que constante. A redução foi quase que insignificante. No Brasil, a distorção estava perto de 25%. A Tabela 05 sintetiza os
dados das escolas estaduais.
Entendendo os números: o que dizem
os coordenadores pedagógicos
Fonte: Dados Censo escolar (2012, 2013, 2014 e 2015) - Elaboração própria. Editoria de Arte
2015 2014 2013 2012
6° 7° 8° 9° T 6° 7° 8° 9° T 6° 7° 8° 9° T 6° 7° 8° 9° T
Santo André 12 7 8 10 9 7 8 8 10 9 7 9 8 12 9 7 8 8 14 9
São Bernardo 12 12 10 15 12 11 10 11 15 12 9 10 10 15 11 10 10 11 16 12
São Caetano 10 17 12 17 14 12 12 13 15 13 11 14 12 15 13 10 11 10 17 13
Diadema 8 7 9 12 9 7 7 9 12 9 7 8 10 13 10 7 9 10 14 10
Mauá 7 5 7 10 7 4 6 8 11 8 5 7 8 11 8 6 7 9 12 9
Ribeirão Pires 6 5 5 8 9 4 5 5 10 6 5 6 7 10 7 5 7 6 13 8
Rio Grande da Serra 7 5 7 12 8 4 5 10 11 8 5 8 10 14 10 8 11 10 15 11
São Paulo 10 11 10 12 11 11 10 11 13 11 9 10 11 13 11 10 11 11 15 12
Brasil 25 26 24 23 24 27 26 25 24 25 27 27 25 24 26 29 27 25 26 27
Tabela 05 - distorção idade-série – escolas estaduais (%)
O Grande ABC e as taxas de
distorção idade-série nos municípios
Dados relacionados à distorção idade-série podem estar associados a várias demandas. Entre elas, a questão de que tanto as formas excludentes de avaliação como a reprovação são
caminhos já bem consolidados no Brasil para a distorção.
A fim de ampliar a com-
preensão dos dados quan-
titativos foram realizadas
entrevistas com os coorde-
nadores pedagógicos, com
o intuito de compreender
o alto índice de fracasso es-
colar no Grande ABC.
Houve uma grande va-
riedade de respostas na
contextualização dos da-
dos a respeito das altas re-
provações, do abandono
escolar e da distorção ida-
de-série que foram reuni-
dos em cinco grandes gru-
pos relacionados à gestão
escolar, à família, ao pro-
fessor, ao aluno e também
à escola.
Fonte: Dados Censo escolar (2012, 2013, 2014 e 2015) Editoria de Arte
2015 2014 2013 2012
6° 7° 8° 9° T 6° 7° 8° 9° T 6° 7° 8° 9° T 6° 7° 8° 9° T
São Caetano 22 25 27 26 25 25 29 30 21 26 30 30 24 19 26 27 25 20 14 22
Ribeirão Pires 5 7 7 10 7 5 7 12 7 8 7 11 7 5 8 7 8 5 7 7
São Paulo 13 20 14 13 15 18 15 14 13 15 15 15 15 14 13 14 16 15 15 15
Brasil 35 36 30 26 32 38 35 31 36 33 38 35 31 26 33 39 36 31 28 34
Tabela 06 - distorção idade- série – escolas municipais (%)
DOMINGO, 17 DE DEZEMBRO DE 2017 Observatório da Educação do Grande ABC .5
O Quadro 04 mostra o que
os coordenadores pedagógi-
cos mais apresentaram co-
mo justificativas para o fra-
casso escolar (altas taxas de
reprovação, abandono esco-
lar e distorção idade-série).
De fato, uma fala recorren-
te nas entrevistas com os
coordenadores pedagógicos
foi a questão do distancia-
mento da família da escola.
Tal situação ocorre, segundo
os profissionais, porque mui-
tos pais não se interessam e
nem participam da vida esco-
lar de seus filhos como costu-
mavam fazer. Ao que parece
hoje eles mais criticam a es-
cola e os professores do que
participam dela.
O Quadro 03 revela o
que os coordenadores pe-
dagógicos mais apresenta-
ram como justificativas pa-
ra o fracasso escolar. Para
os coordenadores pedagó-
gicos que participaram do
estudo, as principais cau-
sas do fracasso escolar es-
tavam relacionadas à cul-
tura da reprovação, ao
desconhecimento sobre as
consequências do fracasso
escolar e à ausência de
um acompanhamento
mais próximo dos alunos,
sobretudo daqueles jo-
vens que apresentavam di-
ficuldades para aprender.
Nestas escolas, alguns
documentos foram anali-
sados (Projeto Político Pe-
dagógico, entre outros).
Eles mostraram, em rela-
ção a essa justificativa li-
gada à gestão escolar, que
as escolas possuíam algu-
mas estratégias para lidar
com o fracasso. A princi-
pal estava relacionada a
um projeto chamado refor-
ço escolar. E esse era indi-
cado para aqueles alunos
que apresentavam notas
abaixo da média escolar.
Esses jovens eram encami-
nhados no contraturno pa-
ra assistirem aulas com ou-
tros professores sobre
suas dificuldades. O refor-
ço era oferecido nas disci-
plinas de Português e Ma-
temática e tinha duração
média de uma hora.
Uma análise desses pro-
jetos de reforço mostrou,
no entanto, que um dos
principais entraves era a
ausência dos alunos nas
aulas. De fato, quando le-
vantada a presença dos jo-
vens nesses programas, ve-
rificou-se que não mais de
35% frequentavam regu-
larmente as aulas. Este nú-
mero crescia quando se
aproximavam as provas
das escolas, mesmo assim,
em muitos casos não ultra-
passava 60%. Os coorde-
nadores apontaram na
pesquisa que apesar da
disponibilidade do refor-
ço muitos alunos optavam
por não o frequentar.
Os projetos de reforço
analisados contavam com
documentação que tra-
ziam os objetivos, as justi-
ficativas, os tempos de
execução e os professores
responsáveis pelo traba-
lho. No entanto, não foi
encontradauma ligação
clara entre o trabalho dos
professores do reforço e
aquele realizado pelos do-
centes de sala de aula, si-
nalizando pouco diálogo
sobre os progressos dos
alunos.
Na maioria das escolas,
o monitoramento do proje-
to de reforço era realiza-
do por meio da frequên-
cia, da atitude e postura
dos alunos. Não sendo rea-
lizado um acompanha-
mento da atuação do pro-
fessor e, sobretudo dos
avanços dos alunos, o que
indica fragilidade no pro-
cesso.
Também não era realiza-
da uma avaliação final, o
que impossibilitava apu-
rar se o projeto tinha sido
bem-sucedido, para quan-
tos jovens, ou como me-
lhorá-lo para o ano seguin-
te, ou seja, não havia uma
avaliação qualitativa do
processo.
Fonte: Elaboração dos autores. Editoria de Arte
Quadro 04 - Principais justificativas para o fracasso escolar
Desajuste familiar
Trata-se de indicar como problema aquelas famílias
diferentes da formação tradicional (pai, mãe, filhos).
Por exemplo, o aluno é filho de pais separados ou
aquele em que o pai está preso.
Ausência de participação dos responsáveis na
vida escolar do filho
Traduzido pela falta de acompanhamento familiar na
escola (a cultura familiar que muitas vezes não
estimula os estudos, os pais não vão à escola, não
cobram do aluno boas notas)
Fonte: Elaboração dos autores. Editoria de Arte
Quadro 03 - Principais justificativas para o fracasso escolar
Cultura de
reprovação
Em muitas escolas essa
cultura já estava muito bem
estabelecida entre os profes-
sores.
Falta de compreensão sobre o fenô-
meno fracasso escolar
Trata-se de um processo, segundo os coor-
denadores, que ainda é a causa de muita
polêmica entre os professores.
Falta de monitoramento dos alunos
ao longo do ano
Ausência de uma sistemática clara
para acompanhar os alunos por parte
da coordenação pedagógica.
EM RELAÇÃO À FAMÍLIA
EM RELAÇÃO À GESTÃO ESCOLAR:
6. Observatório da Educação do Grande ABC DOMINGO, 17 DE DEZEMBRO DE 2017
Fonte: Elaboração dos autores. Editoria de Arte
Quadro 05 - Principais justificativas para o fracasso escolar
Desinteresse do
jovem na escola
Muitos alunos se sentem desmoti-
vados para ir para a escola e para
permanecer nela.
Baixa frequência no reforço
escolar oferecido pela escola
Poucos jovens consideram
importante esta participação no
reforço escolar
Excesso de
atividades diárias
Trata-se das múltiplas ativi-
dades realizadas pelos alunos
como trabalho, cursos,
esporte, etc..
O Quadro 05 traz o que os
coordenadores pedagógicos
mais apresentaram como cau-
sas para o fracasso escolar em
relação aos alunos. Ou seja,
como o fenômeno pode ser
explicado na opinião deles.
São apontadas questões re-
levantes para o entendimen-
to do fracasso escolar para os
gestores escolares e para
aqueles que atuam na forma-
ção dos jovens. O desinteres-
se do jovem pela escola pode
indicar um distanciamento
entre a cultura juvenil e a es-
colar, tornando importante
que a escola se planeje para
reaproximá-los. Quais políti-
cas e projetos podem ser de-
senvolvidos para essa reapro-
ximação?
Fonte: Elaboração dos autores. Editoria de Arte
Quadro 06: Principais justificativas para o fracasso escolar
Ausência de
Reflexão
Em relação à aprendizagem do
aluno e ao desempenho
do jovem
Ausências de
Conhecimento
Relacionado à
questão pedagógica
Ausência de
Envolvimento
Liga-se à falta de relação
emocional e afetiva com o
jovem
EM RELAÇÃO AOS ALUNOS
O maior número de jus-
tificativas quanto às altas
taxas de reprovação, aban-
dono escolar e distorção
idade-série estava relacio-
nada aos professores. Es-
tas foram categorizadas
em três grandes grupos:
ausência de reflexão, de
conhecimento e de envol-
vimento. O Quadro 05
mostra o que os coordena-
dores pedagógicos mais
indicaram como causas
do fracasso escolar.
Quanto à ausência de
reflexão em relação à
aprendizagem do aluno e
ao desempenho do jovem,
os coordenadores afirma-
ram que são poucos os
professores neste nível de
ensino que realizavam es-
sas reflexões. Na maioria
dos casos, os docentes es-
tavam mais preparados
para ministrar seus con-
teúdos do que realizar
ponderações a respeito
dos alunos.
Em relação à ausência
de conhecimento, os coor-
denadores ressaltaram:
falta de monitoramento
dos alunos, alegando que
alguns professores apre-
sentam dificuldades para
realizar tal processo; falta
de compreensão a respei-
to da reprovação (fracas-
so escolar) e de seus efei-
tos sobre os estudantes;
falta de variabilidade na
avaliação, uma vez que as
avaliações eram as mes-
mas para todos os alunos.
Neste sentido, foi citada
também a situação de que
alguns professores não
souberam criar atividades
adaptadas para os alunos
com algum tipo de laudo
(pertencente ao grupo de
inclusão escolar).
Quanto ao envolvimen-
to foi indicada a ausência
de vínculo entre professor
e aluno. Neste nível de en-
sino, segundo os coorde-
nadores, os professores se
envolvem menos com os
alunos emocionalmente.
De acordo com eles, os
professores priorizam
cumprir seus conteúdos e
possuem poucos conheci-
mentos em relação aos
alunos (fases psicológi-
cas, emocionais e a cultu-
ra destes alunos).
Em relação à escola, os
dados mostraram que mui-
tos coordenadores peda-
gógicos culpabilizam ou-
tras escolas. Neste caso,
um terço dos profissio-
nais entrevistados indi-
cou que os problemas de
reprovação estavam rela-
cionados ao fato de que
muitos alunos vinham de
outras unidades escolares
já apresentando dificulda-
des de aprendizagem, al-
tas reprovações e distor-
ção idade-série.
EM RELAÇÃO À ESCOLA
EM RELAÇÃO AO PROFESSOR
DOMINGO, 17 DE DEZEMBRO DE 2017 Observatório da Educação do Grande ABC .7
Os índices de reprovações
nas escolas estaduais nos muni-
cípios do Grande ABC, no perío-
do analisado, são elevados e es-
tão mais situados nos nonos
anos, um fator que pode ser
compreendido, entre outras coi-
sas, em virtude dos ciclos exis-
tentes na rede estadual, que, so-
mente permitia a reprovação
nos anos finais. Já nas escolas
municipais, a cidade de São Cae-
tano possuía os maiores índices
situados nos sextos anos e, ao
mesmo tempo, a maior redução
da reprovação de 2012 para
2015, com a queda em mais de
12% das reprovações.
Em relação ao abando-
no escolar, dados das es-
colas estaduais das cidades
revelaram que eles estavam
mais concentrados nos nonos
anos. Uma possível explicação
é que como não há repetências
nos anos anteriores, os alunos
não abandonam a escola, mas
no nono ano, quando percebem
que é eminente a reprovação,
passam a não frequentá-la
mais. Nas escolas municipais, as
taxas de abandono escolar fo-
ram quase que inexistentes.
Um achado preocupante em
relação ao abandono atrelou-se
ao fato de que em média a cada
duas horas e meia um aluno
abandonava a escola no Grande
ABC. Esse dado se associa a ou-
tro encontrado pelos pesquisa-
dores na mesma região no ano
de 2016, que indicou que a ca-
da hora um jovem do Ensino
Médio Estadual abandonava a
escola. Esses resultados sinali-
zam uma situação generalizada
e que necessita, urgentemente,
de políticas educacionais, proje-
tos de gestão e práticas pedagó-
gicas para ser solucionada.
Na região, tanto nas escolas
municipais e como nas esta-
duais, existem
elevadas ta-
xas de distor-
ção idade-sé-
rie. Essas es-
tavam mais
concentradas
nos nonos anos e se mantendo
quase que constante no período
estudado, entre 2012 até 2015.
Este quadro de reprovação,
abandono e distorção, ou seja,
de fracasso escolar elevado é ca-
racterístico da realidade brasilei-
ra e as políticas educacionais
criadas e implementadas nas úl-
timas décadas não conseguiram
alterá-lo em relação ao Ensino
Fundamental, exceto em raras
situações pontuais.
No Grande ABC, analisando
o fracasso escolar em alunos
do Ensino Fundamental, anos
finais, pode-se dizer que se tra-
ta de um fenômeno dissemina-
do em todas as cidades apesar
de diminuições significativas,
sobretudo na cidade de São
Caetano.
A contextualização (explica-
ções) dos resultados, a respeito
do fracasso escolar revelou que
os coordenadores pedagógicos
atribuíamessa realidade a uma
multiplicidade de fatores. As jus-
tificativas foram relacionadas à
gestão escolar, à família, ao pro-
fessor, ao aluno e à escola.
Em relação à gestão escolar,
os apontamentos estavam cen-
tralizados na cultura de reprova-
ção existente nas escolas, na fal-
ta de compreensão sobre o fenô-
meno fracasso escolar e na au-
sência de monitoramento dos
alunos ao longo do ano. No caso
deste último, um projeto era co-
mum a todas as escolas: o refor-
ço escolar. No entanto, tal proje-
to se mostrou frágil para resol-
ver os problemas da reprovação
e da distorção, à medida que,
na maioria dos casos, se tratava
mais de oferecer o espaço do
que ter mecanismos efetivos pa-
ra a recuperação da aprendiza-
gem do aluno.
Em relação à família, as res-
postas dos coordenadores peda-
gógicos indicaram o desajuste
familiar e a ausência de partici-
pação dos responsáveis na vida
escolar do filho, como causas do
fracasso escolar. Quanto ao alu-
no, foram mencionados o desin-
teresse do jovem nas aulas e a
baixa frequência no reforço ofe-
recido pela escola.
No caso do professor, os
coordenadores pedagógicos
apontaram três grandes gru-
pos para explicar os números
altos do fracasso. O primeiro
relacionado à ausência de refle-
xão dos docentes a respeito do
aluno e do processo de ensino
e aprendizado. O segundo, es-
tava atrelado à falta de conhe-
cimento e o terceiro à ausência
de envolvimento dos docentes
com o aluno e com a escola.
Esses dados estão em conso-
nância com as tendências mais
recentes que situam o fracasso
escolar a uma multiplicidade
de fatores (aluno, a família, a
escola e os professores). Sua
compreensão está atrelada, en-
tre outros aspectos, às rela-
ções sociais.
Por fim, a pesquisa traz como
dado relevante a situação de
que mesmo em uma das regiões
mais ricas do Brasil, com altos
índices sociais, econômicos e
educacionais, o Grande ABC, as
médias de reprovação, de distor-
ção idade-série e de abandono
escolar são elevadas. Ou seja, o
fracasso escolar é um fenômeno
ainda presente e deve, portan-
to, ser pauta prioritária para as
autoridades educacionais, políti-
cas, gestores escolares, professo-
res e comunidade.
É necessário e urgente a cria-
ção de políticas educacionais
que contemplem medidas que
melhorem o sistema, conside-
rando a escola, o professor, a sa-
la de aula e o aluno.
Sintetizando os resultados dos
municípios do Grande ABC
8. Observatório da Educação do Grande ABC DOMINGO, 17 DE DEZEMBRO DE 2017

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