Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
bioecologia do desenvolvimento humano tornando os seres humanos mais humanos U R I E B R O N F E N B R E N N E R B869b Bronfenbrenner, Urie. Bioecologia do desenvolvimento humano [recurso eletrônico] : tornando os seres humanos mais humanos / Urie Bronfenbrenner ; tradução: André de Carvalho- Barreto ; revisão técnica: Sílvia H. Koller. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2012. Editado também como livro impresso em 2011. ISBN 978-85-363-2645-0 1. Psicologia do desenvolvimento. I. Título. CDU 159.922 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 Tradução técnica: André de Carvalho-Barreto Consultoria, supervisão e revisão técnica desta edição: Sílvia H. Koller Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Professora no Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2012 Versão impressa desta obra: 2011 bioecologia do desenvolvimento humano tornando os seres humanos mais humanos Urie Bronfenbrenner Obra originalmente publicada sob o título Making Human Beings Human: Bioecological Perspectives on Human Development ISBN 978-0-7619-2712-9 ©2005 by Sage Publications, Inc. Tradução autorizada por acordo firmado com SAGE Publications, Inc., Estados Unidos, Londres e Nova Delhi. Capa: Paola Manica Preparação do original: Cristine Henderson Severo Editora sênior - Ciências Humanas: Mônica Ballejo Canto Editora responsável por esta obra: Carla Rosa Araujo Equipe de auxiliares de revisão técnica: Airi Macias Sacco Carlos José Nieto Silva Clarissa Pinto Pizarro de Freitas Eva Diniz Bensaja dei Schirò Jean Von Hohendorff Jenny Amanda Ortiz Muñoz Juliana das Neves Nóbrega Susana Núñez Rodríguez Editoração eletrônica: VS Digital Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à ARTMED® EDITORA S.A. Av. Jerônimo de Ornelas, 670 - Santana 90040-340 Porto Alegre RS Fone (51) 3027-7000 Fax (51) 3027-7070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. SÃO PAULO Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 - Pavilhão 5 - Cond. Espace Center Vila Anastácio 05095-035 São Paulo SP Fone (11) 3665-1100 Fax (11) 3667-1333 SAC 0800 703-3444 � www.grupoa.com.br IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Urie Bronfenbrenner foi Professor Emérito Jacob Gould Schurman de Desenvol- vimento Humano e Psicologia da Universidade de Cornell. Sua longa carreira de devoção à teoria e à pesquisa nos campos da infância e da família deu-lhe reconhecimento internacional. É considerado um dos principais teóricos sobre a Psicologia do Desenvolvimento Humano, com especial atenção à criança e pela criação de um domínio interdisciplinar � a Ecologia do Desenvolvimento Hu- mano. Suas várias contribuições publicadas lhe concederam distintas menções honrosas e prêmios tanto nos Estados Unidos, onde viveu grande parte de sua vida, quanto no estrangeiro. Possui seis menções honrosas, três de grandes uni- versidades europeias: Universidade de Gotemburgo, Suécia, Universidade de Munster e Universidade Técnica de Berlim, ambas da Alemanha. Em 1996, ga- nhou o prêmio da American Psychological Association, que passou desde então a ser concedido anualmente em seu nome pela �Contribuição ao longo de sua vida para Psicologia do Desenvolvimento ao serviço da Ciência e da Sociedade�. Em 1994, em reconhecimento ao saber e à liderança de Urie Bronfenbrenner na relação entre fundamentação científica e políticas sociais, o Bronfenbrenner Life Course Center foi criado na Universidade de Cornell. Colaboradores Richard M. Lerner é catedrático de Bergstrom em Ciência Aplicada do Desenvolvi- mento Humano e diretor do Institute for Applied Research in Youth Development no Departamento Eliot-Pearson da Personalidade do Desenvolvimento Humano Infantil da Universidade de Tufts. Lerner recebeu da Universidade da Cidade de Nova York o título de Doutor em Psicologia do Desenvolvimento Humano. Ele é autor e organizador de 55 livros e mais de 400 artigos e capítulos. É o organiza- dor do primeiro volume Theoretical Models of Human Development, para a quinta edição do Handbook of Child Psychology, o qual contém um dos mais importantes trabalhos do Professor Bronfenbrenner referente ao seu Modelo Bioecológico. Ele também é o organizador da sexta edição do Handbook of Child Psychology, que novamente terá um capítulo do Professor Bronfenbrenner sobre sua teoria. Autores vi Autores Stephen J. Ceci, doutor, ocupa uma cadeira vitalícia em Psicologia do Desenvolvi- mento Humano da Universidade de Cornell. É autor de aproximadamente 300 artigos, livros e capítulos. Foi convidado a trabalhar nas principais universidades do mundo, também foi nomeado principal conferencista em numerosas reuniões internacionais de Psicologia. Entre as honras e os prêmios científicos de Ceci in- cluem-se uma Bolsa Sênior da Fulbright-Hayes, um Prêmio do Institute of Health Research por sua Carreira Acadêmica, uma Menção Honrosa e um prêmio por Contribuições Notórias Vitalícias da American Academy of Forensic Psychology, outro Prêmio em 2002 por Contribuições Notórias Vitalícias para Ciência e Socie- dade da American Psychological Association e o Prêmio por Contribuições Origi- nais para as Políticas Públicas da Infância da Society for Research in Child Deve- lopment. Ceci recebeu o IBM Supercomputing Prize, três Prêmios de Pesquisador Sênior da Fundação Mensa e o prêmio Arthur Rickter. Atualmente é membro de sete conselhos editoriais; do Conselho de Consultores das Diretorias Científicas Social, Comportamental e Econômica da National Science Foundation; é membro do Conselho Nacional Acadêmico Científico sobre Ciências Cognitivas, Sensoriais e Comportamentais e do Instituto Canadense para Programas de Desenvolvimen- to Humano voltados para a Pesquisa Avançada. Ceci é fundador e coeditor da revista da American Psychological Society, a Psychological Science in the Public Interest, a qual é parceira da revista Scientific American. Hoje, atua no Grupo de Trabalho da Casa Branca sobre Pesquisas Federais Prioritárias à Infância. É mem- bro de sete conselhos da American Psychological Association, American Psycholo- gical Society e American Association for the Advancement of Science (AAAS). Em 2003, recebeu a mais alta condecoração da American Psychological Association, o Prêmio por Contribuições Notórias para Psicologia Aplicada. Stephen F. Hamilton é professor de Desenvolvimento Humano na Universidade de Cornell, codiretor do Family Life Development Center e Chanceler Associado para Divulgação Comunitária. Suas pesquisas no desenvolvimento e na edu- cação de adolescentes investigam a interação na escola, na comunidade e no trabalho na transição da adolescência para a vida adulta. Com uma Bolsa de Pesquisador Sênior da Fulbright, passou um ano estudando o sistema de apren- dizagem alemão, o que resultou no livro Apprenticeship for Adulthood: Preparing Youth for the Future, que serviu como guia de Ações de Oportunidade da Escola para o Trabalho de 1994 e dirigiu com Mary Agnes Hamilton o projeto Apren- dendo Melhor no Trabalho: Escolhas para Qualidade. Juntos, Stephen e Mary Agnes, estudaram sobre como adultos tutoram jovens no trabalho e foram co- autores de um capítulo sobre �Contextos para Tutoria� no próximo Handbook of Adolescent Psychology. Outro capítulo em coautoria, �Escola, Trabalho e Adultez Emergente�, será lançado em um livro sobre adultez emergente. Eles são orga- nizadores do The Handbook of Youth Development: Coming of Age in American Communities. A minha querida esposa, Liese, sem sua mente e seu coração este livro jamais teria sido escrito. Esta página foi deixada em branco intencionalmente. Este livro retrospectivo e integrado não teria sido compilado sem a utilização de produções de outrosautores e coautores. Particularmente, estou em dívida com Robert e Beverly Cairns e Stephen Ceci, e também com muitos outros colaboradores, colegas, professores, mentores e estudantes, cujo trabalho e ideias me influenciaram e inspiraram por mais de seis décadas. Também agradeço a Kate Bronfenbrenner, Liese Bronfenbrenner, Kristen Ha- milton, Clare Holmes, Gerri Jones, Holly Mistlebaum, Beth Soll e Chong Wang, cuja dedicada assistência, como críticos construtivos, bibliotecários, auxiliares técnicos em informática e revisores, permitiu que este manuscrito fosse concluído no prazo. Estou em débito especialmente com Gerri Jones por suas habilidades editoriais ba- seadas na familiaridade com a evolução do modelo bioecológico. Sou grato a Richard M. Lerner, por escrever o Prefácio da edição norte-ameri- cana, e a Stephen F. Hamilton e Stephen J. Ceci, por assinarem o Posfácio desta pu- blicação. Fico igualmente grato ao Conselho Editorial formado por vários revisores anônimos. Obrigado também a Jim Brace-Thompson, meu editor da Sage Publica- tions, a Karen Ehrmann, assistente editorial, e aos seus colegas, pelas contribuições editoriais e técnicas durante toda a preparação e produção deste livro. Agradecimentos Esta página foi deixada em branco intencionalmente. Apresentação à edição brasileira ............................................................. 13 Sílvia H. Koller Prefácio .......................................................................................................... 19 Richard M. Lerner Introdução Tornando os seres humanos mais humanos .......................................... 37 PARTE I Sobre a natureza da teoria e da pesquisa bioecológica ...................... 41 1. A teoria bioecológica do desenvolvimento humano ................................. 43 2. A ecologia social ao longo do tempo e do espaço ................................... 55 R. B. Cairns e B. D. Cairns 3. Status, estrutura e desenvolvimento social na sala de aula ...................... 61 4. A ecologia social do desenvolvimento humano: uma retrospectiva ......... 65 5. O espaço lewiniano e a substância ecológica ........................................... 78 6. Perspectiva de futuro ............................................................................... 86 7. Por uma história crítica do desenvolvimento humano: uma discussão propedêutica .................................................................... 95 8. Sistemas de interação no desenvolvimento humano. Paradigmas de pesquisa: presente e futuro ................................................................. 102 9. A ecologia do desenvolvimento humano: paradigma perdido ou recuperado .......................................................... 127 10. Teoria dos sistemas ecológicos ................................................................. 137 11. Hereditariedade, ambiente e a questão �como�?: Uma primeira aproximação ............................................................................................ 199 Sumário 12 Sumário 12. O crescente caos na vida de crianças, jovens e famílias: como podemos revertê-lo? ...................................................................... 209 PARTE II Usando a ecologia do desenvolvimento humano para promover a condição humana ..................................................................................... 221 13. A divisão de classe da família norte-americana ........................................ 223 14. O relatório das minorias do Fórum 15: conferência na Casa Branca sobre a infância em 1970 ................................................ 231 15. Os dois mundos da infância: Estados Unidos e União Soviética ............... 235 16. Oitenta por cento da inteligência é geneticamente determinada? ........... 253 17. O futuro da infância ................................................................................. 264 18. Fortalecendo os sistemas da família ......................................................... 277 19. Cuidado com a infância no modelo anglo-saxão ...................................... 290 Posfácio ......................................................................................................... 299 Stephen F. Hamilton e Stephen J. Ceci Índice ............................................................................................................. 301 Faz tempo que me foi concedida a honra de revisar este livro tecnicamente e de escrever este prefácio. Mais de seis meses, talvez! Já perdi as contas! Abri inú- meros arquivos em meu computador, iniciei textos, avancei um ou dois parágrafos e nada mais. Alguns deles ficaram sempre em branco, mas meu coração e minha mente não! Eram tantas ideias e tantos sentimentos que brotavam que mal conse- guia eleger o que era mais relevante. Costumo dizer aos meus alunos que quando não conseguem escrever a primeira linha, escrevam a segunda. Mas é fácil dizer, difícil, fazer. Olhava pela janela da minha casa e dos diferentes hotéis pelo mundo por onde eu andava, buscando por inspiração. Imaginava tantas palavras bonitas e verdadeiras a serem escritas, mas, na verdade, quando concretizadas na tela, elas pareciam não fazer jus à honrosa tarefa que me fora designada. Às vezes, parecia piegas, às vezes distante, e deveria ser tão fácil escrever sobre Bronfenbrenner e por que não o fazia? Afinal, seria como escrever em reverência a quem melhor definiu o desenvolvimento humano entre os teóricos de nosso tempo. Desenvolvimento é mais do que mudança, é constância. Isto tem um valor intrínseco muito importante! E eu, que não sou dada a rezar para pedir, mas para agradecer, me peguei, uma vez e outra mais, constrita em busca de uma luz. E tal fato já era uma constância! Bronfenbrenner não estava naqueles parágrafos teóricos, biográficos, vazios, distantes que eu vinha escrevendo. Eu sabia que só seriam autênticos se o expres- sassem. Eu sabia quanto ele estava aqui dentro de mim. Foi na convivência com o ser humano que ele ainda é, que me tornei mais humana. Suas ideias ainda vibram intensamente nas memórias, nos escritos, e parece que ele está por ali quando co- meço a contar as histórias de nossa breve e intensa convivência. Vejo, nos olhos vibrantes de meus alunos, quando relato estas histórias, as mesmas inquietudes que eu tinha quando era estudante de Psicologia. Quando conversava com ele, quando lia seus textos, minhas intrigantes dúvidas, perguntas, contestações faziam tanto mais sentido. E a minha maior admiração, que se revelava em suas obras, não era a falta de certezas, mas as possibilidades que sempre poderiam se apresentar. Afinal, ser humano não é ser alguém trivial. Tem que ser possível descobrir algo novo sobre ele sempre. Relia, também, o que já havia escrito sobre ele em outras obras, e não me sen- tia satisfeita. Outros textos sobre Bronfenbrenner me traziam as lembranças maravi- Apresentação à edição brasileira Urie Bronfenbrenner14 lhosas de sua vida e de nossa convivência (Koller, 2004) ou a dor profunda pela sua perda (Koller, 2005). Inúmeras vezes estes textos foram mencionados por estudantes e colegas que me diziam o quanto passaram a admirá-lo pelo meu depoimento. Ele gostaria, certamente, de ter lido. Diante dessas recordações e constatações, comecei a me perguntar como eu poderia fazer diferente agora. Mais do que escrever sobre sua teoria, suas ideias ou sua biografia, queria, de novo, escrever sobre quem ele era para mim. Queria escrever o quão humano ele era e o quão semelhante nós todos somos em nossa imensa diversidade. Certamente, escrever sobre isso era também aprender e contribuir para a aprendizagem de sua teoria! Muitos estudantes de Psicologia gostariam de saber (e talvez precisassem sa- ber) como eles são parecidos com Bronfenbrenner. Seus relatos sobre a necessidade de ir em busca dos estudos em Psicologia, ainda na juventude, para melhorcom- preender a si mesmo, pareciam tão pouco originais e tão contemporâneos. E, assim como tantos estudantes de Psicologia, Bronfenbrenner também pensava que alguns assuntos que aprendia na universidade eram maçantes e absurdos (Bronfenbrenner, 1995). Mesmo tendo aprendido, ao longo de seus anos escolares, que a Psicologia era uma ciência que, como qualquer outra, mensurava, observava e fazia experimentos, às vezes, desconfiava disso. Ele queria mais. Estava estudando seres humanos, e não podia se conformar com a redução de tão complexa realidade psicológica. Os livros escolares mostravam que não havia apenas uma Psicologia, mas dezenas delas, que os capítulos separados por faculdades psicológicas fragmentavam algo ou alguém que lhe parecia tão inteiro e natural e, portanto, não simples. Diante dessa visão tão fragmentada do ser humano, Bronfenbrenner ficava se perguntando onde mesmo é que deveria encontrar o homem ou a mulher, a criança ou o adolescente a quem estava tentando entender. Com o seguimento de seus estudos, e o aumento de suas preocupações com tais questões, Bronfenbrenner foi ficando mais convencido de que era necessária uma nova forma de conceber e analisar o desenvolvimento hu- mano. Em seus estudos sobre as diferenças individuais, percebeu que a Psicologia do ser humano se integrava em capítulos sequenciais sobre as influências do ambiente e dos fatores genéticos ao longo do desenvolvimento. Mas novamente as dúvidas surgiram, aproximando-o de tantos estudantes que vão descobrindo as diferentes Psicologias durante seus anos na universidade. Em parte Bronfenbrenner estava fascinado com novos conhecimentos, mas temia que alguns deles não estivessem devida e experimentalmente testados. Ou quem sabe estivessem até muito experi- mentalmente testados, mas distantes da ecologia do ser humano. A falta de men- suração na ciência psicológica fugia da ideia de que a Psicologia seria uma ciência de verdade, mas algumas medições lhe pareciam alienígenas, ou avaliando, alguém que fosse. Mas sua persistência e o conhecimento acumulado, desde a convivência com o pai cientista, lhe mostraram que poderia ser possível agregar tais ideias. Talvez mais do que isso, Bronfenbrenner tomou para si o desafio de fazer uma Psi- cologia que era definitivamente uma ciência, com uma atitude inovadora que é bioecologia do desenvolvimento humano 15 tão esperada contemporaneamente. A realidade psicológica não ocorria apenas em experimentos controlados. Bronfenbrenner enfatizou os experimentos naturais que a própria natureza humana experienciava em seu desenvolvimento, e que estes de- veriam ser priorizados. A observação naturalística de seres humanos reais, nos seus ambientes reais, interagindo com outros seres humanos, objetos e símbolos também reais, ainda que fossem para eles, viria a ser o núcleo central da sua teoria. Fazer ciência, afinal, conforme Bronfenbrenner enfatizou �não é apenas verificar hipóteses, mas descobrir novas, e provar para si mesmo que é possível estar errado� (1995, p. 606). Mais do que isso, deu-se conta de que a integração e o avanço da ciência psi- cológica só ocorreriam porque os �psicólogos não fazem apenas experimentos, eles também pensam � rigorosa e sistematicamente � tanto antes quanto depois de cada experimento.� (1995, p. 606) Quantos estudantes ao longo de seus anos acadêmicos gritam vigorosamente a favor disso? Quantos realmente são ouvidos? Quantos são calados? E como são calados? Tornar seres humanos mais humanos. Parece uma proposta desafiadora, com um quê de pretensão e utopia. Quem sabe? Apenas alguns poucos estudiosos em Psicologia poderiam fazer tal provocação. Apenas alguns poucos estudiosos também teriam a sensibilidade e o comprometimento de perceber que há muitos seres hu- manos por aí vivendo em condições tais que em nada correspondem a sua condição de humanos, ou que, no mínimo subjugam a humanidade (no sentido de maior realização possível) que deveriam viver. Bronfenbrenner certamente é um deles e, por isto, merece nosso mais imenso respeito e admiração. Bronfenbrenner viveu uma vida de diversidades e de adversidades. Nasceu em 1917 durante a Revolução Russa, imigrou com seus pais, depois da morte de um ir- mão pela fome, para os Estados Unidos. Viveu lá, como filho de um neuropatologista e pesquisador e uma professora de língua russa, em busca de uma melhor posição e sobrevivendo à marginalidade e à pobreza, como os estrangeiros da época. Foi bolsista em Cornell, depois da enfermidade do pai, graduou-se em Música e em Psi- cologia. Depois de Harvard e Michigan, debutou como Doutor na Segunda Grande Guerra. Após, voltou para Cornell, como professor, e por ali ficou até o final de sua vida. Teve um casamento duradouro, com uma mulher de descendência alemã, seis filhos, treze netos e uma bisneta, até sua morte em 2005. Uma vida marcada de fa- tores de risco e de proteção concomitantes que mostram em sua própria experiência o quanto custa e o quanto vale ser humano. Para Bronfenbrenner, os mundos dos seres humanos não eram apenas aqueles nos quais ele mesmo havia vivido. Seu legado é imortal, um exemplo de que mesmo vivendo tantas lutas alguém pode ser feliz e olhar em torno com esperança e con- fiança em mundos melhores. Sua teoria bioecológica do desenvolvimento humano é a expressão disso. Bronfenbrenner tinha a convicção de que o mundo era imenso e cheio de oportunidades e de que os seres humanos poderiam estar nele para me- lhorar as suas próprias vidas e as dos que estavam com eles naquela jornada. Das aprendizagens que teve com a Psicologia e dos ensinamentos que transmitiu, talvez Urie Bronfenbrenner16 estes tenham sido os mais fecundos. Estudar seres humanos, fazer ciência sobre eles, permite acreditar que há sempre possibilidades. Uma teoria � sua teoria � deveria ser capaz de encontrar uma razão de ser, sendo aplicada para melhorar a qualidade de vida de todos os seres humanos. Por que seria, então, pretensioso propor que se podem tornar seres humanos em seres ainda mais humanos? Bronfenbrenner foi um menino imigrante fugido da guerra em um país estra- nho, acompanhava seu pai em jornadas diárias por uma instituição para �deficientes mentais�, na qual sua casa se inseria. Os arames farpados passavam diante da porta de sua casa e cercavam toda a instituição para evitar que os residentes fugissem e causassem danos à sociedade. Neste cenário, ouvia diariamente como se fazia ciên- cia e como se deveria duvidar das verdades que ela podia apresentar. Foi aprenden- do em cada minúcia a ver com amplidão. Iniciar seus estudos em uma escola para meninos de diferentes etnias e idades, onde aprendeu inglês e muito sobre a cultura norte-americana, o fez transitar ecologicamente por diversos papéis e contextos. Coube a ele, em sua família, voltar à casa para �norte-americanizar� seus pais. Bronfenbrenner desempenhou um papel ativo na concepção de programas de intervenção em desenvolvimento humano, como o Head Start. Suas ideias e sua capacidade de transformá-las em possibilidades para entender e aperfeiçoar os am- bientes naturais de desenvolvimento humano inspiraram políticas sociais eficazes e bem-sucedidas na detenção do ciclo de pobreza e exclusão de muitos seres huma- nos. Educação integral, saúde, nutrição e o envolvimento das famílias em diversos contextos de participação e discussão mostravam sua atitude visionária de uma eco- logia realmente saudável para o desenvolvimento humano. Ao longo de sua vida e carreira, Bronfenbrenner perseguiu três temas que se reforçavam. Primeiro, buscava sempre uma boa teoria para o desenvolvimento hu- mano. Segundo, que esta deveria estar implicada e ser aplicada em políticas e prá- ticas para a melhoria da qualidade de vida dos seres humanos em seus ambientes. Para ele, não havia nada mais prático do que uma boa teoria� (Bronfenbrenner, 1978, p.48). E terceiro, que para efetivar a disseminação do conhecimento os pes- quisadores precisavamsempre comunicar seus achados para diversas plateias, por meio de artigos, palestras e debates. Tinha como meta ensinar, disseminar, transfor- mar. Estudantes universitários, colegas pesquisadores, famílias, público em geral, políticos eram seu alvo permanente na inquietude de passar adiante aquilo que aprendera sendo humano. Bronfenbrenner enfatizava o uso dos métodos naturalís- ticos, de observação da vida real dos seres humanos. O argumento mais sofisticado em defesa da superioridade destes métodos em relação aos experimentais nos estu- dos com seres humanos denunciava a impossibilidade prática e ética de manipular e controlar as variáveis mais significativas para o desenvolvimento psicológico. A preservação da boa espécie do querido tio Bronfy, como o chamamos em nosso Centro de Estudos, está garantida. Cheios de interesse e de dedicação os estu- dantes Airi Macias Sacco, Carlos José Nieto Silva, Clarissa Pinto Pizarro de Freitas, Eva Diniz Bensaja dei Schirò, Jean Von Hohendorff, Jenny Amanda Ortiz Muñoz, bioecologia do desenvolvimento humano 17 Juliana das Neves Nóbrega e Susana Núñez Rodríguez se dedicaram durante horas à leitura atenta e competente deste livro. A dedicação à tarefa transcendeu a compe- tência de cada um deles, mas veio carregada da preocupação de que as suas ideias fossem fielmente transmitidas. Agradeço a todos e a cada um deles pelo cuidado e responsabilidade com que revisaram comigo este livro. Ser humano, substantivo ou predicado, é uma expressão rica e difícil de defi- nir. Bronfenbrenner viveu uma vida longa, teve a capacidade de olhar para dentro de si mesmo e buscar se compreender. Essa foi a sua razão para ir em busca do es- tudo da Psicologia. Não parece muito original; na verdade, parece trivial e comum, como tem sido repetidas vezes para muitos de nós estudantes de Psicologia. Esta humanidade em Bronfenbrenner é o que fascina ao longo de sua história e sua obra. Este livro é mais uma prova disso. E, terminando esta apresentação, talvez eu agora só tenha mesmo que olhar pela janela e agradecer... Sílvia H. Koller Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Professora no Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Referências Bronfenbrenner, U. (1978). Lewinian space and ecological substance. Journal of Social Issues, 33(4), 199-212. Bronfenbrenner, U. (1995).The bioecological model from a life course perspective: Reflections of a participant observer. In P. Moen, G. H. Elder, & K. Lüscher (Eds.), Examining lives in context: Perspectives on the ecology of human development (Vol. 1, pp. 599-618). Washington, DC: American Psychological Association. Koller, S. H. (2004). Ecologia do desenvolvimento humano: Pesquisa e intervenção no Brasil. 2. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo. Koller. S. H. (2005). Urie Bronfenbrenner - Obituário. Pensando Famílias, 7(9), 161-163. Esta página foi deixada em branco intencionalmente. O estudo científico contemporâneo do desenvolvimento humano é caracteri- zado pelo compromisso de compreender a dinâmica das relações entre o indivíduo e os diversos e integrados níveis ecológicos do desenvolvimento humano. Este mo- delo de ciência do desenvolvimento humano é marcado por uma teoria centrada na temporalidade histórica, inserida nos processos relacionais pessoa-contexto, pela inclusão de modelos de mudanças dinâmicos que perpassam o sistema ecológico e influenciam as pessoas e as instituições por métodos sensíveis à mudança e inter- relacionais objetivados pela ideia que indivíduos influenciam pessoas e instituições de sua ecologia tanto quanto são influenciados por eles (Bronfenbrenner, 2001; Bronfenbrenner e Morris, 1998; Damon e Lerner, 1998; Lerner, 2002). A plasticidade (potencial para mudança sistêmica) associada à inserção do indivíduo ativo com o contexto legitima uma perspectiva otimista para a possibili- dade de que aplicações da ciência do desenvolvimento humano possam promover os percursos e os contextos da vida humana. A partir desta perspectiva, os processos básicos do desenvolvimento humano podem ser circunstanciados e refinados pela sua aplicação em políticas públicas e programas sociais destinados a promover o desenvolvimento saudável (Bronfenbrenner, 1974; Lerner, 2002). Todas essas ideias, que representam a vanguarda da ciência do desenvolvimen- to humano contemporânea, devem sua origem, articulação persuasiva e refinamen- to às contribuições singularmente criativas, teoricamente elegantes, empiricamente rigorosas e sabiamente humanas e democráticas de Urie Bronfenbrenner. Por mais de 60 anos, Urie Bronfenbrenner tem sido referência tanto de excelência quanto de consciência profissional no campo do desenvolvimento humano, terreno este que, em virtude da sua visão competente e abrangente, se tornou produtivamente multidisciplinar e multiprofissional. Hoje, o conhecimento sobre o desenvolvimento humano deve ser integrado tanto a História, políticas públicas, Medicina, Econo- mia, Ciência Política, Economia Doméstica (ciência do consumidor e da família), Educação, direitos da criança e do adolescente, desenvolvimento da comunidade Prefácio Urie Bronfenbrenner Contribuições da carreira de um cientista do desenvolvimento humano pleno Richard M. Lerner Urie Bronfenbrenner20 juvenil, Enfermagem e Direito quanto à Psicologia, à Sociologia e à Biologia. Essa ampla aliança de cientistas e de profissionais trabalhando juntos para o avanço e a promoção da compreensão sobre o desenvolvimento humano ao longo do ciclo de vida humano encontra legitimação nas contribuições social e intelectual de Urie Bronfenbrenner. A abrangência da visão científica e social de Bronfenbrenner Na primeira metade do século XX, a ciência do desenvolvimento humano era amplamente voltada ao campo descritivo, tanto por catalogar mudanças ma- turacionais do ser humano quanto por descrever a covariação entre estímulos e respostas, o que Bronfenbrenner (1977) caracterizava como condições �experi- mentais� artificiais. Bronfenbrenner argumentava que �grande parte da Psicologia do Desenvolvimento Humano, conforme existe atualmente, é a ciência do com- portamento estranho da criança em situações estranhas com adultos estranhos pelos períodos de tempo mais breves possíveis�. Consequentemente, ele garantiu que apenas �experimentos criados em um ambiente natural são reais em suas consequências� e ressaltou que uma investigação deve iniciar focando na maneira como as crianças se desenvolvem em ambientes representativos de seu mundo real e natural, ou seja, em contextos ecologicamente válidos. Em vez de estudar as crianças apenas no laboratório, por exemplo, deve-se estudá-las em seus lares, escolas e áreas de lazer. Além disso, e anunciando o que viria a ser uma crescente contribuição para o estudo dos processos de desenvolvimento humano e a explicação dessas transfor- mações, Bronfenbrenner (1963), em uma revisão da história da ciência do Desen- volvimento Humano, observou que, dos anos de 1930 aos de 1960, ocorreu uma mudança progressiva de pesquisas, que envolviam uma simples coleção de informa- ções, para estudos voltados para os processos e os constructos no desenvolvimento humano. Consequentemente, descrevendo como estava o campo das pesquisas em 1963, Bronfenbrenner afirmou que, �em primeiro lugar, a reunião de dados por da- dos parece ter perdido o benefício que possuía. A principal preocupação da pesquisa do desenvolvimento humano nos dias atuais está claramente na inferência sobre processos e construtos� (p. 257). A ênfase sobre o processo do desenvolvimento humano de Bronfenbrenner foi profética. Nos 40 anos seguintes, a ciência do desenvolvimento humano presenciou a ênfase na teoria que ele previu. Uma década após sua publicação de 1963, Looft (1972) demonstrou a continuação da tendência percebida por Bronfenbrenner. A revisão de Looft, como a de Bronfenbrenner, foi fundamentada em uma análise dosprincipais manuais de Psicologia do Desenvolvimento publicados desde 1930. Cada manual representava uma reflexão do conteúdo da época, das ênfases e das preocupações da área. Looft mostrou que o primeiro manual de Psicologia do Desen- volvimento (Murchison, 1931) foi consideravelmente descritivo. Consistentemente bioecologia do desenvolvimento humano 21 com nossa análise e com as conclusões de Bronfenbrenner, Looft viu os estudiosos da época devotando-se essencialmente a coletar normas para o desenvolvimento. No entanto, a mudança em direção ao desenvolvimento integrado foi observada em 1946, e continuou de 1963 (Bronfenbrenner, 1963) a 1972 (Looft, 1972). Notada- mente, o organizador da edição de 1970 do Handbook of Child Psychology, Paul H. Mussen, assinalou que �a maioria das ênfases empíricas e teóricas contemporâneas na área do desenvolvimento psicológico [...] parece constituir explicações das mu- danças psicológicas que acontecem, dos mecanismos e dos processos relacionados com o crescimento e o desenvolvimento humanos� (p. vii). Em um comentário sobre a edição de 1970 de Mussen, Willian Damon, editor da edição de 1998 do Handbook of Child Psychology, sublinhou a consistência entre a história da ciência do desenvolvimento humano e a articulação de Bronfenbrenner (1963) feita 35 anos antes sobre a importância da teoria: O Handbook of Child Psychology, de Mussen, foi amplamente permeado por teo- rias do desenvolvimento humano. Muitas delas foram organizadas em torno de modelos que eram conhecidos em 1970 como os �três grandes sistemas�: (a) a Teoria do Desenvolvimento Cognitivo de Piaget; (b) a Teoria Psicanalítica e (c) a Teoria da Aprendizagem. À Teoria de Piaget foi oferecido o mais extensivo tratamento. Esta reapareceu no Handbook, desta vez como autor de um compre- ensivo (e talvez definitivo) capítulo sobre sua própria teoria, com menor ênfase aos exemplos de 1931/1933 e expressões verbais das crianças. Além disso, os capítulos escritos por John Flavell, David Berlyne, Martin Hoffman, Willian Kes- sen, Marshall Haith e Philip Salapatek também incluiam um ou outro aspecto da teoria de Piaget. Outros modelos também foram representados nesse Handbook. Hebert e Ann Pick explicaram a Teoria Gibsoniana em um capítulo sobre sensa- ção e percepção; Jonas Langer escreveu um capítulo sobre a Teoria Organísmica de Werner; David McNeill descreveu o desenvolvimento da linguagem segundo Chomsky; e Robert LeVine escreveu uma versão prévia do que logo se tornaria a �Teoria Cultural�. (p. xv) Em resumo, a visão preliminar de Bronfenbrenner sobre a importância da teo- ria na ciência do desenvolvimento humano foi feita na edição do Handbook of Child Psychology de 1970, como também em edições posteriores (Damon, 1998). O conhecimento transformador de Bronfenbrenner Bronfenbrenner não apenas testemunhou a crescente ênfase sobre as teorias dos processos do desenvolvimento, mas ele mesmo também foi o principal teórico dessa ênfase na metade do século XX. Realmente, apesar de haver outros grandes colaboradores para a Teoria do Desenvolvimento Humano em sua época � Jean Piaget, Erik H. Erikson, Paul B. Baltes, David Magnusson, Glen H. Elder Jr. e Gilbert Urie Bronfenbrenner22 Gottlieb, para identificar alguns dos maiores membros desse seleto grupo � Urie Bronfenbrenner colocou-se como o mais importante entre seus colegas. Suas ideias têm sido as que resistiram ao teste do tempo para representar os conceitos funda- mentais usados em todas as teorias do desenvolvimento humano que constituem a vanguarda da área (Damon e Lerner, 1998). Seu papel singular nesta história foi liderar o caminho que marcou o necessário vínculo entre teoria e aplicação, e pes- quisa e prática. Bronfenbrenner, em 1974, por exemplo, argumentou que o engajamento com as políticas públicas não somente promove a pesquisa do desenvolvimento humano, mas também aumenta a compreensão das questões teóricas pertinentes à natureza das relações pessoa-contexto: Em discussões da relação entre ciência e políticas públicas, o primeiro axioma entre os cientistas sociais é de que as políticas públicas devem ser fundamenta- das na ciência. Essa proposição não apenas tem lógica, por um aspecto, mas, o mais relevante, ela reconhece a importância fundamental e própria da ciência no planejamento dessas políticas. Aqueles que fazem as normas devem olhar para nós, não como se fossemos a verdade, mas como uma fonte de sabedoria. Em poucas palavras, as políticas públicas e sociais necessitam da ciência. Minha tese neste trabalho é dialogar sobre a proposta que, particularmente no campo da ciência do desenvolvimento humano, a ciência das políticas públicas � necessidade esta não para comandar nossas atividades organizacionais, mas para nos prover de dois elementos essenciais para qualquer desafio científico: a vitalidade e a validade dos nossos achados. (p. 1) Bronfenbrenner enfatizou que �o exercício das questões [em políticas públi- cas] são essenciais para se ir além da produção de conhecimentos e de teorias sobre o processo de desenvolvimento humano� (p. 2), porque �questões de políticas pú- blicas [servem] como ponto de partida para a identificação de significativos temas teóricos e científicos sobre o desenvolvimento do organismo humano como uma função da sua interação com seu ambiente, tanto real como potencial�. (p. 4) A visão de Bronfenbrenner sobre o poder do vínculo entre teoria e prática qualificou a plasticidade dos sistemas do desenvolvimento humano retratada em sua teoria de forma bastante eloquente e criativa. Bronfenbrenner mudou o campo de estudo do ser humano de uma área que descrevia o que �é� no desenvolvimento humano para uma ciência que, mediante suas colaborações com aqueles que faziam políticas públicas, profissionais e outros agentes de transformação social, previu o que �poderia ser� sobre o desenvolvimento humano. Sua teoria e as pesquisas que seus estudantes e colegas conduziram no âmbito do seu modelo mudaram a ciência do desenvolvimento humano, indo além da explicação e da descrição. Sua visão inclui otimização � valorizou o ciclo vital � e a produção, por intermédio das rela- ções da pessoa dentro do sistema de desenvolvimento, ressaltou o desenvolvimento bioecologia do desenvolvimento humano 23 positivo e saudável. Suas ideias focalizaram a área da ciência do desenvolvimento humano sobre o que foi e o que poderia ser o melhor do ser humano. A visão teórica de Bronfenbrenner está incorporada em sua Teoria Bioecoló- gica do Desenvolvimento Humano. Desde a década de 1970 até o presente, essa teoria envolveu uma compreensão ampla e robusta da importância da dinâmica e da multiplicidade ecológica do desenvolvimento humano. A bioecologia do desenvolvimento humano No seu artigo de 1977, �Toward an Experimental Ecology of Human Develop- ment�, e em seu clássico livro de 1979, The Ecology of Human Development,* considera- do por todos os estudiosos como um marco nas contribuições para compreensão da on- togenia, Bronfenbrenner mostrou a importância, para o desenvolvimento humano, da inter-relação dos níveis ecológicos, concebidos como sistemas entrelaçados. Ele descre- veu o microssistema como o ambiente dentro do qual o indivíduo está em atividade em um determinado momento de sua vida. Ele é �o complexo de relações entre a pessoa em desenvolvimento e o ambiente imediato no qual ela está contida� (Bronfenbrenner, 1977, p. 515). O mesossistema é o conjunto de microssistemas, constituindo o nicho do desenvolvimento da pessoa em determinado período, isto é, �as inter-relações de vários ambientes nos quais a pessoa em desenvolvimento está inserida em um determinado período de sua vida�. (p. 515) Somado a esses sistemas, o exossistema é formado pelos ambientes nos quais a pessoa em desenvolvimento não está inserida diretamente (p. ex., o local de trabalho dos pais da criança), influenciando sobre o comportamento e o desenvolvimento da pessoa, como podeocorrer quando o pai ou a mãe de uma criança tem um dia estres- sante no trabalho e como resultado ele ou ela está menos capaz de prestar cuidados de qualidade à criança. Bronfenbrenner definiu esse sistema como �uma extensão do mesossistema, abraçando [...] estruturas sociais específicas formais e informais que não contêm a pessoa em desenvolvimento, mas que influencia ou acompanha os am- bientes imediatos no qual a pessoa se encontra e, portanto, delimita, afeta ou mesmo determina o que lá ocorre�. (p. 515) Finalmente, o macrossistema é o nível que engloba todos os outros da ecologia do desenvolvimento humano; este nível envolve a cultura, as macroinstituições, como o governo federal, e as políticas públicas. O macrossistema influencia a natureza das interações de todos os outros níveis da ecologia do desenvolvimento humano. As formulações de Bronfenbrenner (1977, 1979/1996) tiveram amplo impac- to sobre o campo do desenvolvimento humano, promovendo considerável interesse, durante a década de 1980, nos efeitos do sistema ecológico no curso da vida do indivíduo. Ainda no fim da década de 1980 e início da seguinte, Bronfenbrenner mostrou estar insatisfeito com a natureza de suas contribuições para a teoria, a * N. de T.: Livro traduzido pela Artmed Editora sob o título A ecologia do desenvolvimento humano. Urie Bronfenbrenner24 pesquisa ou as aplicações políticas pertinentes para ressaltar a ecologia da vida da criança, promovendo seu desenvolvimento positivo. Em 1989, por exemplo, Bron- fenbrenner assinalou que: Estudos da ciência do desenvolvimento humano que contribuíram para um mo- delo ecológico forneceram mais conhecimentos sobre a natureza dos ambientes relevantes para o desenvolvimento, próximos e distantes, do que sobre as carac- terísticas do desenvolvimento individual do aqui e agora. [...] A crítica que fiz também se aplica aos meus escritos [...] Em nenhuma parte de meu estudo de 1979/1996, como em nenhum outro trabalho até hoje, se achou um conjunto paralelo de estruturas que conceitualizam as características do desenvolvimento da pessoa. (p. 188) Bronfenbrenner acreditava, assim como outros teóricos que escreveram sobre as noções dos sistemas do desenvolvimento humano (p. ex., Baltes, 1997; Baltes, Lindenberg e Staudinger, 1998; Brandtstädter, 1998; Elder, 1998; Gottlieb, 1997; Magnusson, 1999a, 1999b; Sameroff, 1983; Thelen e Smith, 1998), que todos os níveis de organização envolvidos na vida humana são integralmente ligados à cons- tituição do trajeto da ontogenia individual. Enquanto o livro de 1979/1996 de Bron- fenbrenner fez enormes contribuições para essas concepções de desenvolvimento humano, oferecendo aos estudiosos ferramentas conceituais para a compreensão e o estudo dos diferenciados, mas integrados, níveis do contexto de desenvolvimento humano, Bronfenbrenner reconheceu que sua teoria poderia estar incompleta até que ele incluísse os níveis estrutural e funcional do indivíduo (aspectos biológicos, psicológicos e comportamentais), unindo-os dinamicamente com os sistemas ecoló- gicos criados anteriormente por ele. Consequentemente, Bronfenbrenner e seus colegas (p. ex., Bronfenbrenner, 2001; Bronfenbrenner e Ceci, 1993, 1994; Bronfenbrenner e Crouter, 1983; Bron- fenbrenner e Morris, 1998), por mais de uma década, trabalharam para integrar os outros níveis do sistema do desenvolvimento humano, a Biologia, a Psicologia e o comportamento, dentro do modelo do desenvolvimento humano que ele mesmo formulou. A amplitude dos níveis, os quais ele procurou sintetizar em seu mode- lo � desde a Biologia até o mais amplo da ecologia do desenvolvimento humano � explica a denominação bioecológico que ele uniu ao seu modelo. Resumidamen- te, Bronfenbrenner procurou, por mais de uma década, levar as características da pessoa em desenvolvimento para dentro do seu sistema ecológico (Bronfenbrenner, 2001; Bronfenbrenner e Morris, 1998). Modelo processo-pessoa-contexto-tempo (PPCT) Segundo a descrição de Bronfenbrenner (1977), o modelo que surgiu deste estudo tinha quatro componentes interligados: (a) o processo de desenvolvimento, bioecologia do desenvolvimento humano 25 envolvendo a fusão e a dinâmica de relação entre o indivíduo e o contexto; (b) a pessoa, com seu repertório individual de características biológicas, cognitivas, emo- cionais e comportamentais; (c) o contexto do desenvolvimento humano, definido como níveis ou sistemas entrelaçados da ecologia do desenvolvimento humano já descritos (Bronfenbrenner, 1977, 1979/1996); e (d) o tempo, conceituado como envolvendo as dimensões múltiplas da temporalidade (p. ex., tempo ontogênico, tempo familiar e tempo histórico), constituindo o cronossistema que modera as mu- danças ao longo do ciclo de vida (p. ex., Elder, 1998). Juntos, esses quatro elementos constituem a Teoria Bioecológica de Bronfen- brenner, pelo modelo processo-pessoa-contexto-tempo (PPCT) para conceitualizar o sistema de desenvolvimento integrado e delinear pesquisas que estudem o curso do desenvolvimento humano. Bronfenbrenner acreditava que, da mesma forma que todos os componentes desse modelo deviam ser incluídos em qualquer especifica- ção conceitual do dinâmico sistema do desenvolvimento humano, também deviam investigar o papel de todos eles para prover informações adequadas à compreensão do desenvolvimento humano. Conforme Bronfenbrenner e Morris (1998), o primeiro componente do mode- lo, o processo, abrange formas particulares de interação do organismo com o ambiente, chama- das processo proximal, que operam ao longo do tempo e são situadas como os mecanismos primários que produzem o desenvolvimento humano. Contudo, a força desses processos para influenciar o desenvolvimento humano é presumida, e mostrada, por variar substancialmente como função das características da Pes- soa em desenvolvimento, do Contexto tanto imediato quanto mais remoto e dos períodos de Tempo nos quais o processo proximal ocorre. (p. 994) Das três propriedades remanescentes definidas do modelo � pessoa, contexto e tempo � Bronfenbrenner e Morris (1998, p. 994) indicaram que deram prioridade à definição das características biopsicossociais da pessoa, visto que, como observado por Bronfenbrenner em 1989, em suas formulações prévias do modelo (p. ex., Bronfenbren- ner, 1979/1996), existia uma lacuna com relação a este elemento-chave da teoria. Três tipos de características da Pessoa são distinguidos como os mais influentes para moldar o sentido do desenvolvimento futuro, em razão da sua capacidade de influenciar a direção e a força do processo proximal durante o ciclo de vida. O primeiro deles é denominado como disposições* que podem ativar os proces- sos proximais em um domínio particular do desenvolvimento, continuando a sustentar sua operação. O seguinte são recursos bioecológicos de capacidade, experiência, conhecimento e habilidade necessários para o funcionamento efe- * N. de T.: Grifos do tradutor. Urie Bronfenbrenner26 tivo dos processos proximais em um determinado estágio do desenvolvimento humano. Finalmente, existem características de demanda que convidam ou de- sencorajam reações do contexto social que podem fomentar ou interromper a operação dos processos proximais. A diferenciação dessas três formas leva suas combinações a padrões da estrutura da Pessoa, que podem explicar as diferenças na direção e na força dos processos proximais resultantes como seus efeitos no desenvolvimento. (Bronfenbrenner e Morris, 1998, p. 995) Consistente com o caráter integrativo da teoria dos sistemas do desenvol- vimento humano, Bronfenbrenner e Morris indicaram que, quando o componente Pessoa do modelo bioecológico é expandido desta forma, o resultado é uma rica compreensão do sistema ecológico (contexto) no qual o desenvolvimento da pessoa é consolidado (p. 995): Essas novas formulações de qualidade da pessoa que moldam seu desenvolvimen- to futuro tiveram o efeito não previsto de promover maior diferenciação,expansão e integração do conceito original de 1974 sobre o ambiente em termos do entre- laçamento do microssistema com o macrossistema. [...] Os três tipos de caracte- rísticas da Pessoa, por exemplo, são também incorporados na definição de micros- sistema, como as características dos pais, parentes, melhores amigos, professores, mentores, colegas, cônjuge ou outras pessoas que participam da vida da pessoa em desenvolvimento com regularidade e durante longos períodos de tempo. Definitivamente, Bronfenbrenner redefiniu o que caracterizava o microssiste- ma, ligando-o, centralmente, para o que era descrito como o �centro de gravidade� (Bronfenbrenner e Morris, 1998, p. 1013) � a pessoa como biopsicossocial � para a teoria atualmente elaborada. Apesar de Bronfenbrenner ainda perceber a Ecologia do Desenvolvimento Humano como �o ambiente ecológico... concebido como uma série de estruturas encaixadas, uma dentro da outra, como um conjunto de bonecas rus- sas�, como descreveu anteriormente (Bronfenbrenner, 1979/1996, p. 5), ele ampliou sua definição do que era privado � a estrutura do microssistema dentro desta ecologia pela incorporação de atividades, relacionamentos e papéis da pessoa em desenvolvi- mento dentro desse sistema. Em 1994, ele definiu microssistema como, um padrão de atividades, papéis e relações interpessoais experienciados pela pessoa em desenvolvimento em um dado ambiente onde estabelece relações face a face com características físicas, sociais e simbólicas específicas que convidam, permitam ou inibam seu engajamento, sustentando atividades progressivamente mais complexas em um contexto imediato. (p. 1645) O que pode ser particularmente significantivo para Bronfenbrenner nessa ex- pansão da definição de microssistema é a inclusão das interações da pessoa não bioecologia do desenvolvimento humano 27 somente com outras pessoas neste nível do sistema ecológico, mas também com o mundo dos símbolos e da linguagem (o sistema semiótico). Esse é um componente das relações ecológicas que os teóricos da atividade também acreditam ser especial- mente importante no entendimento da formulação de intenções, objetivos e ações (cf. Brandtstädter, 1998, 1999). São introduzidos conceitos e critérios mais amplos sobre as diferenças entre as características ambientais que favorecem ou afetam o desenvolvimento do pro- cesso proximal. Particularmente significativos neste âmbito são o aumento de atividade, a instabilidade e o caos nos ambientes nos quais a competência e o caráter humano são formados, por exemplo, na família, nas escolas, nos arranjos para o cuidado das crianças, nos grupos de amigos e na vizinhança. (p. 995) A ênfase sobre uma redefinição e ampliação do conceito de microssistema con- duziu para a última definição da formulação atual de sua Teoria do Desenvolvimento Humano. De acordo com Bronfenbrenner e Morris (1998, p. 995), a quarta e última propriedade definida do modelo bioecológico, a que vai além da antecessora (Contexto) é a dimensão do Tempo. O livro de 1979/1996 pou- co o mencionou, enquanto, na formulação atual, ele teve um lugar notório em três níveis sucessivos: microtempo, mesotempo e macrotempo. O microtempo refere-se à continuidade versus descontinuidade dentro de episódios contínuos do processo proximal. O mesotempo reporta-se à periodicidade desses episódios por amplos intervalos, como dias e semanas. Finalmente, o macrotempo focaliza nas expectativas e eventos em mudança no âmbito da ampla sociedade, tanto dentro como através das gerações, como influenciam e são influenciados pelos processos e resultados do desenvolvimento humano ao longo do ciclo de vida. Proposições do modelo bioecológico O modelo bioecológico de Bronfenbrenner é, pelo menos em dois sentidos, um sistema vivo (Ford e Lerner, 1992). Inicialmente, a teoria em si representa a dinâmica das relações do desenvolvimento humano entre um indivíduo que está em atividade e seu ambiente complexo, integrado e mutável. Somado a isso, a teoria está em si mesma em desenvolvimento (p. ex., como em Bronfenbrenner, 2001), o próprio autor procurou fazer suas definições cada vez mais precisas como um guia mais operacional para pesquisas relevantes como o modelo PPCT sobre o caráter dinâmico do processo de desenvolvimento humano. Assim, o modelo bioecológico evoluiu para incluir várias proposições. Esses conjuntos de ideias promovem uma visão dinâmica da relação contexto-pessoa ao processo de desenvolvimento humano. Como explicado por Bronfenbrenner e Mor- ris (1998, p. 996), uma proposição-chave de modelo bioecológico afirma que: Urie Bronfenbrenner28 Especialmente em suas fases iniciais, mas também durante o ciclo de vida, o desenvolvimento humano toma lugar nos processos de interação recíproca, pro- gressivamente mais complexos entre um organismo biopsicossocial em atividade e as pessoas, objetos e símbolos existentes no seu ambiente imediato. Para ser efetiva, a interação deve ocorrer em uma base estável em estendidos períodos de tempo. Esses padrões duradouros de interação no contexto imediato são deno- minados como processo proximal. Exemplos de padrões duradouros de processo proximal são encontrados na amamentação ou conforto do bebê, nas brincadei- ras com uma criança pequena, nas atividades entre crianças, no grupo ou na ação solitária, na leitura, na aprendizagem de novas habilidades, nas atividades físicas, na solução de problemas, no cuidado de pessoas doentes, na elaboração de planos, na execução de tarefas complexas e na aquisição de um conhecimento ou experiência. A segunda proposição da Teoria Bioecológica afirma que: A forma, a força, o conteúdo e a direção dos processos proximais influenciam o desenvolvimento, variando sistematicamente como uma função articulada das ca- racterísticas da pessoa em desenvolvimento; o contexto � tanto imediato como o mais remoto � no qual o processo está fazendo parte; a natureza dos resultados do desenvolvimento considerados; e as continuidades sociais e de mudanças que ocorrem ao longo do tempo durante o ciclo de vida e o período histórico no qual a pessoa tem vivido. (Bronfenbrenner e Morris, 1998, p. 996) As duas proposições enfatizam um tema encontrado em outros casos da teoria dos sistemas do desenvolvimento humano (Lerner, 2002) � que o indivíduo dentro do sistema bioecológico é imerso temporalmente na sua dimensão relacional e que o multinível ecológico é um agente ativo no seu desenvolvimento. Realmente, Bron- fenbrenner e Morris (1998, p. 996) chamam a atenção de seus leitores para: as características da pessoa aparecem atualmente duas vezes no modelo bioeco- lógico. A primeira como um dos quatro elementos influenciadores �da forma, da força, do conteúdo e da direção do processo proximal� e a seguinte como �re- sultados do desenvolvimento�; isto é, qualidades da pessoa que surgem depois de um determinado tempo, como o resultado da combinação conjunta e intera- tiva, reforçando mutuamente os efeitos dos quatro componentes antecedentes do modelo bioecológico. Em suma, no modelo bioecológico, as características da pessoa funcionam como um produtor indireto e como um produto do desen- volvimento. bioecologia do desenvolvimento humano 29 Sintetizando, a contribuição do indivíduo para o processo do desenvolvimento é realizada por uma síntese, uma integração, entre a pessoa em atividade com o seu contexto também ativo. Dentro da Teoria Bioecológica, como em outros modelos do desenvolvimento humano sistêmicos, as relações entre o indivíduo ativo constitui-se em um contexto também ativo no processo básico do desenvolvimento humano. Realmente, Bron- fenbrenner (2001) apresenta proposições adicionais que ressaltam o papel relacio- nal do desenvolvimento humano. De acordo com a proposição a seguir, Ao longo do ciclo da vida, o desenvolvimento humano toma lugar mediante processos de interação recíproca, progressivamente, mais complexos de um or- ganismo humano ativo, biopsicologicamente emevolução, com as pessoas, os objetos e os símbolos presentes no seu ambiente imediato. Para ser efetiva, a interação deve ocorrer em uma base regular, em períodos estendidos de tempo. Essas formas duradoras de interação no ambiente imediato são denominadas como processo proximal. (p. 6965) Em resumo, as relações entre um indivíduo em atividade com o contexto no qual ele a realiza e o multinível ecológico constituem a direção da força do desen- volvimento humano. Essas relações são também o centro da visão de Bronfenbren- ner para promover o curso da vida humana. A regulação adaptativa das relações pessoa-contexto � trocas entre a pessoa e seu ambiente ecológico que funcionam para beneficiar a ambos � de acordo com a perspectiva do modelo bioecológico, deve ser o centro do estudo do desenvolvimento humano e do esforço para melho- rar o curso da vida humana nos níveis tanto individual quanto no seu mundo social. A plasticidade dessas relações e a habilidade para maximizar a possibilidade para regular adaptações no desenvolvimento definem a essência do ser humano dentro do sistema de Bronfenbrenner. Quer escrevendo Two Worlds of Childhood (1940), no qual procurou ampliar a compreensão científica e cultural do desenvolvimento humano nos Estados Unidos e na sua terra natal, Rússia (ele nasceu em Moscou em 1917 e imigrou para os Esta- dos Unidos aos 6 anos*); quer trabalhando como um dos fundadores do Head Start;** quer esforçando-se para influenciar a ciência e as políticas públicas por meio de conferências, artigos e livros; ou quer formando outras pessoas, uma a uma ou em pequenos grupos, por meio sempre de seu estilo convencional dedicado e incisivo, Urie Bronfenbrenner defendeu a ideia de que podemos, como estudiosos e cidadãos, agir para �tornar o ser humano mais humano�, com apoio na promoção da dinâmica * N. de T.: A biografia completa de Urie Bronfenbrenner encontra-se disponível em http://www.human. cornell.edu. ** N. de T.: Criado em 1965, o programa Head Start foi um dos pioneiros na atenção a crianças pré-escolares e familiares em situação de risco, oferecendo-lhes apoio social e afetivo. Urie Bronfenbrenner30 das relações dos indivíduos e seus ambientes naturais planejados. Ao mesmo tempo, ele foi a bússola moral para o campo do desenvolvimento humano. Sua voz foi clara e firme, como, por exemplo, em The State of Americans: This Generation and the Next (Bronfenbrenner et al., 1996), no qual alerta estudiosos e políticos influentes para a existência de ameaças macrossistêmicas para a humanidade e lembra da capacidade de continuarmos humanos, justos e democratas. Os eventos do 11 de setembro de 2002 motivaram o Professor Bronfenbrenner a elaborar este livro para uma vez mais formar o seu grande e único intelecto criativo, explicando que, individual e coletiva- mente, temos a capacidade para promover o melhor do desenvolvimento humano. Organização deste livro Este livro é dividido em duas partes: �Sobre a natureza da teoria e da pesquisa bioecológica� e �Usando a ecologia do desenvolvimento humano para promover a condição humana�. A primeira parte apresenta versões editadas dos principais artigos e capítulos de livros publicados pelo Professor Bronfenbrenner durante seus mais de 60 anos de carreira que refletem as bases e o desenvolvimento de sua Teoria Bioeco- lógica. Essas produções manifestam sua convicção contínua de que pesquisas rigo- rosas destinadas a elucidar interdependências do sistema bioecológico, podem pro- mover aplicações teóricas e práticas pertinentes sobre o papel das crianças, famílias e comunidades na promoção do desenvolvimento humano positivo. As produções da primeira parte iniciam com os escritos mais recentes do Professor Bronfenbrenner so- bre a Bioecologia do Desenvolvimento Humano. No Capítulo 1, ele revê suas primei- ras preocupações sobre as deficiências do modelo como fundamento para uma área científica de estudo. Em resposta a essas preocupações, descreve uma conceituação atualizada da Bioecologia do Desenvolvimento Humano, definindo suas prioridades. Na maioria de seus escritos sobre a Bioecologia do Desenvolvimento Humano, ele descreve de forma detalhada sobre um ou dois estudos que mostram a promessa de um modelo completo, como no estudo de Small e Luster (1990) sobre juventude de risco no Estado de Wisconsin, EUA. Bronfenbrenner mostra como o modelo completo (pessoa ↔ processo ↔ contexto ↔ tempo) pode ser aplicado para revelar proces- sos com consequências tanto benéficas quanto funestas. Estudiosos mostram como o acompanhamento parental, por exemplo, dependendo de suas variações sistemáticas nos componentes do modelo, pode funcionar a favor ou contra os melhores interesses da criança. No Capítulo 2, Robert Cairns e Beverly Cairns discutem as produções do Pro- fessor Bronfenbrenner realizadas durante mais de 50 anos. O objetivo deles é ex- plicar as principais ideias utilizadas na atual ciência do desenvolvimento humano para compreender a Ecologia Social no Desenvolvimento Humano. Cairns e Cairns situam seu trabalho no contexto de um apelo que existe há mais de um século para o uso de uma ciência do desenvolvimento integrada que melhor compreenda a ontogenia social. Eles esboçam a evolução do entendimento moderno do papel bioecologia do desenvolvimento humano 31 da Ecologia Social que advém dos resultados da tese de Bronfenbrenner publicados em 1943 e 1944 na revista Sociometry. Cairns e Cairns explicam que a ideia por ele apresentada sobre o caráter integrado do desenvolvimento social manteve-se como ênfase em seus escritos, tornando-se um ponto convergente na ciência do desen- volvimento humano. Essas ideias envolvidas no contexto da elaboração de novos métodos de pesquisa e de técnicas de análises de dados forneceram um modelo útil para promoção da saúde e prevenção do caos social. O Capítulo 3 é um trecho da tese de 1942 do Professor Bronfenbrenner, que apresenta uma percepção inicial de sua Teoria Ecológica do Desenvolvimento Hu- mano. Os resultados das análises sociométricas de toda uma população de estudan- tes de uma escola primária vinculada à Universidade de Michigan sugerem que a avaliação do status e da estrutura social exige a concepção do individual e do grupal como unidades em desenvolvimento. Os elementos do status e da estrutura social são interdependentes e organizados em modelos complexos. São análises, feitas pontualmente, de aspectos e atributos isolados insuficientes e até deturpados. Os psicólogos do desenvolvimento humano têm trabalhado com pesquisas experimentais tradicionais que colocam consideráveis limitações teóricas e práti- cas para a compreensão das forças que influenciam o desenvolvimento humano. O ambiente de laboratório não reflete as situações reais sobre as quais as crianças se desenvolvem. Assim, o conhecimento usado no delineamento de programas que pretendam promover o desenvolvimento de crianças e de famílias é limitado. O Ca- pítulo 4 faz uma revisão de estudos que acidental ou intencionalmente registraram o papel do contexto social sobre processos específicos do desenvolvimento humano. A dinâmica, a evolução e os efeitos interativos da �Ecologia Social� com a �Ecologia do Desenvolvimento Humano� são mostrados, variando em função do nível de de- senvolvimento da criança. No Capítulo 5, o Professor Bronfenbrenner explica suas consideráveis dívidas conceituais a Kurt Lewin. Ele enfatiza a importância intelectual de Lewin, especial- mente no que se refere ao desenvolvimento da ligação entre a ciência fundamen- tal e as políticas públicas, uma ligação que se torna cada vez mais proeminente na sociedade contemporânea. A riqueza do conjunto das ideias de Lewin, como sua preocupação nas conexões entre as pessoas e os ambientes, e seu conceito de pesquisa-ação, proporcionaram uma visão científica convincente para integração da teoria e da prática para melhor elaborar o conhecimento e ensejar sociedades mais saudáveis. O modelo ecológicodiscutido no Capítulo 6 mostra a relação entre ciência e políticas públicas. Segundo este modelo, o indivíduo existe em um nível mais ínti- mo de relações formado por um conjunto de estruturas entrelaçadas que, juntas, compõem seu contexto ecológico. A ênfase é posta nas interconexões e significado de desenvolvimento dessas estruturas, que variam no seu grau de proximidade, influenciando o desenvolvimento da pessoa. Essa complexa teoria permite a identi- ficação científica das influências sistêmicas no desenvolvimento humano. Urie Bronfenbrenner32 O Capítulo 7 é a versão de um debate envolvendo o Professor Frank Kessel, William Kessen, Sheldon White e o Professor Bronfenbrenner no encontro bianual de 1983 da Society for Resarch in Child Development; esse capítulo é editado ape- nas com a parte do Professor Bronfenbrenner. No segmento, o Professor Bronfen- brenner amplia a discussão que ele e Ann Crouter apresentaram no Handbook of Child Psychology de 1983 sobre a evolução dos modelos de pesquisa na ciência do desenvolvimento humano durante o século XX. Ele sugere que precisamos especi- ficar e integrar na pesquisa dois tipos de sistemas empíricos � o biopsicológico e o socioeconômico-político � a fim de entender como a complementaridade entre esses sistemas pode possibilitar a melhor compreensão do florescer do desenvolvimento humano. Ele sugere também que esses sistemas se tornam progressivamente desor- ganizados e fragmentados em virtude da escassez de investigações que os integrem, podendo essa integração favorecer a Psicologia do Desenvolvimento Humano como ciência. Ele discute, entretanto, a noção de que podemos estar na iminência de supe- rar a desorganização e a fragmentação da ciência do desenvolvimento humano por termos finalmente tomado como nosso laboratório a sociedade na qual as crianças crescem. Consequentemente, a pesquisa no desenvolvimento humano pode se tor- nar mais capaz de contribuir para a integração positiva entre esses sistemas e para promover seres humanos e sociedades mais saudáveis. O Capítulo 8 esboça as limitações do modelo social tradicional e dos modelos atribuídos ao desenvolvimento humano para explicar os esforços da integração entre Biologia e Ecologia. Utilizando a tese de Tulkin (1970) como abertura, ele conduz os leitores por meio de cada componente de seu emergente modelo pessoa-processo- contexto, mostrando como a união de cada componente fornece uma explicação poderosa. Finalmente, ele adiciona ao modelo o quarto componente, �tempo�, argu- mentando que as dimensões, pessoal e histórica, precisam ser levadas em conside- ração. Apesar de o modelo completo ser cientificamente convincente e bastante pro- missor, sugere que ele ainda é raramente empregado, de modo que pouca evidência foi encontrada para sua validação científica. É este o futuro expresso no título do capítulo: a validação completa do modelo pessoa-processo-contexto-tempo. O Capítulo 9 questiona se suas ideias foram uma vítima de seu próprio su- cesso. Ele repete uma de suas célebres frases que consta no livro A Ecologia do Desenvolvimento Humano, sobre a triste condição da crescente pesquisa na ciência do desenvolvimento, referindo-se às principais pesquisas como �a ciência do com- portamento estranho da criança em situações estranhas com adultos estranhos pelos períodos de tempo mais breves possíveis�. Neste volume, ele pede maior atenção aos estudos do desenvolvimento humano no contexto. Um dos aspectos deste capítulo é o lamento do Professor Bronfenbrenner de que seus colegas desenvolvimentalistas foram bem-sucedidos: �agora temos um excesso de estudos sobre �contexto sem desenvolvimento��. No Capítulo 10, o Professor Bronfenbrenner discute o que para ele tem sido um desafio ao longo de sua vida, por ser tanto criador quanto crítico de seu próprio bioecologia do desenvolvimento humano 33 trabalho. Grande parte deste capítulo é dedicado a estabelecer maneiras específicas de intercessão dos processos de desenvolvimento ambientais, fundamentados nos resultados de pesquisas transculturais como em um trabalho realizado por Stephen Ceci sobre crianças e adultos dos Estados Unidos. Falando de sua perspectiva, com base na Teoria de Campo, de K. Lewin, o Professor Bronfenbrenner mostrou que fal- ta aos modelos teóricos clássicos o dinamismo necessário para desalinhar processos entrelaçados. Ele usou como exemplo, dentro desta questão, estudos sobre gravidez na adolescência e bebês que nascem abaixo do peso, expondo como o processo influencia variáveis demográficas pelas mudanças contextuais. Ele repete esse tipo de análise na exploração de outras questões, como os efeitos da modernidade e do temperamento. No Capítulo 11, o Professor Bronfenbrenner e o Professor Stephen J. Ceci pro- põem uma versão do modelo bioecológico. Eles estruturam esta apresentação pela re- conceitualização da controvérsia entre o que é inato e aprendido (nature x nurture). Na segunda parte, �Usando a Ecologia do Desenvolvimento Humano para me- lhorar a condição humana�, especifica as formas diversas nas quais as ideias do Professor Bronfenbrenner podem melhor estruturar programas e políticas públicas, promovendo o desenvolvimento humano positivo. Neste módulo, o Professor Bron- fenbrenner enfatiza a necessidade crucial de que as comunidades trabalhem apoian- do os esforços das famílias em criar crianças saudáveis. De acordo com a primeira produção desta seção, o Capítulo 12, explica a im- portância da ligação entre a condução da pesquisa dentro dos moldes do modelo bioecológico e as aplicações de políticas públicas e de programas sociais que pode- riam diminuir o caos contemporâneo que atinge crianças e famílias. O Capítulo 13 descreve características do contexto atual da vida da criança e dos familiares, in- cluindo o papel dos pares na moderação do desenvolvimento da criança. O Capítulo 14 explica os importantes desafios para o desenvolvimento positivo de crianças, que existem no amplo escopo dos ambientes socioeconômicos onde vivem. O Professor Bronfenbrenner enfatiza nesse trabalho os estresses que todos os pais experimentam na criação de crianças saudáveis. O Capítulo 15 é extraído do estudo comparativo Bronfenbrenner sobre a infân- cia nos Estados Unidos e na antiga União Soviética. Ele demonstra a utilidade singu- lar da perspectiva bioecológica na compreensão das discrepâncias entre os objetivos sociais para as crianças e as práticas atuais associadas à educação infantil. No Capítulo 16, o Professor Bronfenbrenner usa novamente a Teoria Bioecoló- gica para compreender a relação entre o que é aprendido com o que é inato, na qual a questão proposta é a hereditariedade do escore de QI. Sua apresentação explica as falhas conceituais e empíricas importantes na reivindicação de que os genes e o meio contribuem separadamente para a variação da inteligência. No Capítulo 17, estende a discussão sobre a estreita relação entre o desenvol- vimento humano saudável dos pais e a capacidade de promover o desenvolvimento Urie Bronfenbrenner34 positivo dos filhos. Ele oferece várias ideias provocativas para promover o desenvol- vimento dos pais e das crianças. O aspecto principal do modelo conceitual do Professor Bronfenbrenner é a ên- fase na importância do desenvolvimento infantil saudável, sustentado pela relação entre o cuidado do adulto e do jovem. No Capítulo 18, ele explica a importância do cuidado no desenvolvimento humano, incitando seus colegas a prosseguir funda- mentando interações na promoção do cuidado da criança. Na sua última produção, Capítulo 19, ele amplia o modelo bioecológico para avaliar transnacionalmente as práticas de cuidado da criança. Ele usa essa abordagem comparativa para formular propostas importantes que promovem as políticas públicas de cuidado da infância nos Estados Unidos. Conclusão Finalmente, Urie Bronfenbrenner, em mais de seis décadas de uma carreira produtiva e significativa, oferece ao mundo um presente de esperançae de poder. Podemos continuar esperançosos de que, por intermédio de nossas próprias energias e contribuições ativas para com nosso mundo, seremos capazes de otimizar nossas vidas e as vidas de outros com quem compartilhamos a frágil ecologia de nossa exis- tência. Se prosseguirmos o trajeto das aplicações da ciência e dos programas e polí- ticas públicas, para as quais a visão de Bronfenbrenner nos direcionou, poderemos também sustentar uma ecologia humana e promoção de saúde às gerações futuras. Tal contribuição certamente é um grande legado de Urie Bronfenbrenner, sendo uma garantia de que a dignidade humana e a justiça social podem prosperar. Referências Baltes, P. B. (1997). On the incomplete architecture of human ontogeny: Selection, optimiza- tion, and compensation as foundations of developmental theory. American Psychologist, 52, 366-380. Baltes, P. B., Lindenberger, U., & Staudinger, U. M. (1998). Life-span theory in developmental psychology. In W. Damon (Series Ed.) & R. M. Lerner (Vol. Ed.), Handbook of child psychol- ogy: Vol. 1. Theoretical models of human development (5th ed., pp. 1029-1144). New York: John Wiley. Brandtstãdter, J. (1998). Action perspectives on human development. In W. Damon (Series Ed.), & R. M. Lerner (Vol. Ed.), Handbook of child psychology: Vol. 1. Theoretical models of human development (5th ed., pp. 807-863). New York: John Wiley. Brandtstãdter, J. (1999). The self in action and development: Cultural, biosocial, and ontoge- netic bases of intentional self-development. In J. Brandtstãdter & R.M. Lerner (Eds.), Action and self-development: Theory and research through the life-span (pp. 37-65). Thousand Oaks, CA: Sage. Bronfenbrenner, U. (1963). Developmental theory in transition. In H. W. Stevenson (Ed.), Child psychology: Sixty-second yearbook of the National Society for the Study of Education, part 1 (pp. 517-542). Chicago: University of Chicago Press. Bronfenbrenner, U. (1970). Two worlds of childhood: LIS and USSR. New York: Russell Sage Foundation. bioecologia do desenvolvimento humano 35 Bronfenbrenner, U. (1974). Developmental research, public policy, and the ecology of childhood. Child Development, 45, 1-5. Bronfenbrenner, U. (1977). Toward an experimental ecology of human develop ment. American Psychologist, 32, 513-531. Bronfenbrenner, U. (1979). The ecology of human development: Experiments by nature and design. Cambridge, MA: Harvard University Press. Bronfenbrenner, U. (1989). Ecological systems theory. In R. Vasta (Ed.), Six theories of child development: Revised formulations and current issues (pp. 185-246). Greenwich, CT: JAI. Bronfenbrenner, U. (1994). Ecological models of human development. In T. Husen & T. N. Postlethwaite (Eds.), International encyclopedia of education (2nd ed., Vol. 3, pp. 1643-1647). Oxford, UK: Pergamon/Elsevier Science. Bronfenbrenner, U. (2001). The bioecological theory of human development. In N. J. Smelser & P. B. Baltes (Eds.), International encyclopedia of the social and behavioral sciences (Vol. 10, pp. 6963-6970). New York: Elsevier. Bronfenbrenner, U., & Ceci, S. J. (1993). Heredity, environment, and the question �How�: A new theoretical perspective for the 1990s. In R. Plomin & G. E. McClearn (Eds.), Nature, nurture, and psychology (pp. 313-324). Washington, DC: American Psychological Association. Bronfenbrenner, U., & Ceci, S. J. (1994). Nature-nurture reconceptualized in developmental perspective: A bioecological model. Psychological Review, 101, 568-586. Bronfenbrenner, U., & Crouter, A. C. (1983). The evolution of environmental models in develop- mental research. In P. H. Mussen (Series Ed.) & W. Kessen (Vol. Ed.), Handbook of child psy- chology: Vol. 1. History, theory, and methods (4th ed., pp. 357-414). New York: John Wiley. Bronfenbrenner, U., McClelland, P., Wethington, E., Moen, P., & Ceci, S. J. (1996). The state of Americans: This generation and the next. New York: Free Press. Bronfenbrenner, U., & Morris, P. A. (1998). The ecology of developmental process. In W. Damon (Series Ed.) & R. M. Lerner (Vol. Ed.), Handbook of child psychology: Vol. 1. Theoretical mo- dels of human development (5th ed., pp. 993-1028). New York: John Wiley. Damon, W. (Ed.). (1998). Handbook of child psychology (5th ed.). New York: John Wiley. Damon, W. (Series Ed.), & Lerner, R. M. (Vol. Ed.). (1998). Handbook of child psy chology: Vol. 1. Theoretical models of human development (5th ed.). New York: John Wiley. Elder, G. H., Jr. (1998). The life course and human development. In W. Damon (Series Ed.) & R. M. Lerner (Vol. Ed.), Handbook of child psychology: Vol. 1. Theoretical models of human development (5th ed., pp. 939-991). New York: John Wiley. Ford, D. L., & Lerner, R. M. (1992). Developmental systems theory: An integrative approach. New- bury Park, CA: Sage. Gottlieb, G. (1997). Synthesizing nature-nurture: Prenatal roots of instinctive behavior. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum. Lerner, R. M. (2002). Concepts and theories of human development (3rd ed.). Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum. Looft, W. R. (1972). The evolution of developmental psychology. Human Development, 15, 187- 201. Magnusson, D. (1999a). Holistic interactionism: A perspective for research on personality de- velopment. In L. A. Pervin & O. P. John (Eds.), Handbook of personality: Theory and research (2nd ed., pp. 219-247). New York: Guilford. Magnusson, D. (1999b). On the individual: A person-oriented approach to devel opmental rese- arch. European Psychologist, 4, 205-218. Mussen, P. H. (Ed.). (1970). Carmichael�s manual of child psychology (3rd ed.). New York: John Wiley. Urie Bronfenbrenner36 Sameroff, A. J. (1983). Developmental systems: Contexts and evolution. In P. H. Mussen (Series Ed.) & W. Kessen (Vol. Ed.), Handbook of child psychology: Vol. 1. History, theory, and methods (4th ed., pp. 237-294). New York: John Wiley. Snyder, C.R. & Lopez, S.J. (2009). Psicologia positiva: Uma abordagem científica e prática das qualidades humanas. (R.C. Costa, Trad.) Porto Alegre: Artmed. Thelen, E., & Smith, L. B. (1998). Dynamic systems theories. In W. Damon (Series Ed.) & R. M. Lerner (Vol. Ed.), Handbook of child psychólogy: Vol. 1. Theoretical models of human develop- ment (5th ed., pp. 563-633). New York: John Wiley. A tese principal deste livro é a de que, em maior medida do que para muitas outras espécies, o ser humano cria o ambiente que dá forma ao seu desenvolvimento humano. Suas ações influenciam os diversos aspectos físicos e culturais que mode- lam sua ecologia, sendo este esforço o que faz os seres humanos � para melhor ou para pior � produtores ativos de seu próprio desenvolvimento. O desenvolvimento humano é uma área de investigação em que grandes avan- ços científicos ocorreram nas últimas duas décadas, avanços que expandem signifi- cativamente o conhecimento, abrindo outras áreas de investigação científica não re- conhecidas anteriormente. Os achados produzidos pelas novas perspectivas teóricas e estratégias de pesquisa indicam que as grandes mudanças sociais que ocorreram recentemente nas modernas sociedades industrializadas, especialmente nos Esta- dos Unidos, podem ter modificado tão drasticamente as condições ambientais que conduzem o desenvolvimento humano a tal ponto que o processo de tornar os seres humanos mais humanos pode estar em perigo. Os novos avanços e implicações científicas são costumeiramente desconheci- dos, não somente pelo público em geral, mas também pela maioria dos grandes po- líticos, profissionais e até para muitos pesquisadores do desenvolvimento humano. A razão para essa falta de consciência é que o avanço simultaneamente ocorre em disciplinas díspares e sem conexão com outras áreas do conhecimento. Os achados reunidos neste livro, por exemplo, vêm de áreas diversas, como Genética Huma- na, Levantamento Demográfico, Biologia Humana, Psicologia Cognitiva, Sociologia Estrutural, Estatística, Educação e Políticas Públicas. Especialmente
Compartilhar