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MENINGITES Caracterizada pela inflamação das meninges, afetando a pia-máter, aracnoide e o espaço subaracnóideo. Pode ser causada por vírus, fungos, bactérias e pode, também, ser asséptica. Tem alta morbimortalidade na pediatria. Quadro agudo: Horas a dias; Quadro crônico: ≥4 semanas; As meningites virais são mais comuns e, geralmente, autolimitadas. MENINGITES BACTERIANAS Principais agentes etiológicos: Neisseria meningitidis; Streptococcus pneumoniae; Haemophilus influenzae tipo B (Hib); Streptococcus do grupo B (GBS); Listeria monocytogenes; Os agentes variam de acordo com a faixa etária, doença de base, situação vacinal e país de origem. Em 2010, foi implementada no Programa Nacional de Imunização (PNI) a vacina contra o Meningococo C, até então principal agente causador da doença meningocócica no país. A vacina é aplicada a partir dos 3 meses de idade e, desde então, houve expressiva queda no número de casos por este subgrupo. *Não existe uma vacina única que previna todos os sorogrupos. Meningite por Haemophilus tipo B – Queda com a introdução da vacina conjugada contra este agente. Meningite Pneumocócica – Queda com a introdução da vacina conjugada pneumocócica PCV7, principalmente em crianças < 2 anos. Principais agentes etiológicos de acordo com a idade Bactérias do canal de parto: Streptococcus do grupo B (GBS) e Gram Negativos (Escherichia coli). São importantes agentes etiológicos até os 3 meses. Para crianças > 3 meses: Pneumococo e meningococo. DOENÇA MENINGOCÓCICA É a infecção invasiva causada pelo meningococo - bactéria gram-negativa com mais de 13 subgrupos distintos, sendo um quadro de alta morbimortalidade. A doença pode cursar com sepse, meningite e, não raro, ambos. Púrpura fulminans O quadro costuma ser abrupto, com febre, mau estado geral, calafrios, fraqueza, com ou sem rash maculopapular, podendo cursar com exantema petequial/purpúrico em poucas horas (purpura fulminans). O paciente pode apresentar, também, Meningites e Encefalites cefaleia, náuseas e vômitos, abaulamento de fontanelas, irritabilidade e convulsões, sinais meníngeos e alteração do sensório. *Quanto maior a criança, mais clássica e menos inespecífica se torna a apresentação do quadro clínico. A presença de sinais meníngeos NÃO é obrigatória. A Doença Meningocócica tem uma letalidade alta, com possibilidade de sequelas como perda auditiva, déficits neurológicos, amputações, dentro outras. Há grande importância no diagnóstico e antibioticoterapia precoce. MENINGITE PNEUMOCÓCICA É uma das principais causas de meningite na infância. Causada pelo pneumococo, uma bactéria gram-positiva encapsulada com mais de 90 sorotipos identificados. Está associado a quadros leves de vias aéreas superiores (otites e sinusites), podendo ser causador de doença invasiva, cursando com sepse, pneumonia grave e/ou meningite e apresentando alta morbimortalidade. Com o advento das vacinas conjugadas, houve melhor controle da doença. MENINGITES BACTERIANAS POR OUTROS AGENTES O Haemophilus influenzae tipo B causa meningite bacteriana na infância, podendo levar a casos graves e possibilidade de muitas sequelas. A Listeria monocytogenes também causa meningite bacteriana em recém-nascidos, porém menos comum. MENINGITE BACTERIANA INTRA- HOSPITALAR É uma meningite associada ao pós-operatório precoce de pacientes portadores de dispositivos de SNC, como derivações ventrículo-peritoneais (DVP). É causada, geralmente, por bactérias gram-positivas de pele, como Staphylococcus aureus e o Staphylococcus coagulase negativo, além das bactérias gram-negativas intrahospitalares. Ocasionada por agentes infecciosos da flora nosocomial, tendo perfil mais resistente aos antimicrobianos e a antibioticoterapia é dependente da flora hospitalar. Em recém-nascidos: Clínica não específica, portanto, deve haver alto grau de suspeição para não perder o diagnóstico. Pode apresentar alteração de temperatura, como febre ou hipotermia, vômitos, baixa aceitação alimentar, irritabilidade, fraqueza e sonolência. A rigidez nucal e sinais de irritação meníngea não são comuns. Abaulamento de fontanela pode estar presente, bem como convulsões. Nos lactentes jovens: A clínica assemelha-se aos RNs. Procurar por sinais de choque, palpar as fontanelas e acompanhar o perímetro cefálico na evolução do quadro. Fatores de risco para meningite bacteriana: Período Neonatal: Prematuridade; Baixo peso ao nascimento (<2500g); Corioamnionite; Endometrite; Colonização materna pelo GBS; Monitorização intrauterina de duração prolongada; Ruptura das membranas por tempo prolongado; Parto traumático; Hipóxia fetal; Galactosemia; Anormalidades do trato genitourinária; Crianças: Asplenia anatômica ou funcional; Imunodeficiências primárias; Anemia falciforme; Implante coclear; Fístula de comunicação/vazamento de LCR; Infecção aguda do trato respiratório superior; Frequentar creche; Ausência ou falta de aleitamento materno; Exposição a caso de meningite meningocócica ou causada pelo Hib; Traumatismo cranioencefálico penetrante; Viagem à área endêmica de doença meningocócica; Ausência ou falta de imunização; CONDUTAS Na suspeita de meningite na urgência/emergência, checar a aparência, circulação e respiração. Realizar o MOVER e ABCDE. Seguir com estabilização clínica e hemodinâmica. A anamnese deve ser direcionada, questionando a idade, comorbidades, status vacinal, contato com doentes, sinais e sintomas, alergias, consciência e condutas tomadas. O exame físico é rápido e focado em dados vitais, nível de consciência, circulação, respiração, lesões em pele, sinais de irritação meníngea, sinais de hipertensão intracraniana e exame neurológico/pupilas. Exames Complementares: Hemograma e coagulograma; Função renal e eletrólitos; PCR; Hemoculturas (antes do ATB, se possível); Líquor; *Toda criança com suspeita de meningite deve ser admitida no hospital e conduzida com prioridade e agilidade. A antibioticoterapia NÃO deve ser atrasada devido à coleta de exames! Contraindicações à coleta do líquor: Papiledema; Coagulopatia; Sinais focais; Imunodeficiência ou alteração conhecida prévia de SNC; Infecção cutânea próxima ao sítio de punção; Instabilidade hemodinâmica ou respiratória; Na análise do líquor (LCR) há aumento de celularidade com predomínio de polimorfonucleares, baixa glicose, aumento de proteínas. Solicitar a cultura do LCR para identificação do agente infeccioso. A neuroimagem é utilizada para descartar complicações e avaliar contraindicações ao líquor. Não tem papel crucial no diagnóstico de meningite. TRATAMENTO O tratamento é direcionado. Período neonatal: Cefalosporina 3ª geração (Cefotaxima ou Ceftriaxona) + Ampicilina. Tratamento empírico de meningites da comunidade: Cefalosporina 3ª geração (Ceftriaxone ou Cefotaxima) associada ou não à Vancomicina. Pneumococo: 10-14 dias. Hib e meningococo: 7-10 dias. Se alergia aos betalactâmicos: Cloranfenicol ou Meropenem, por 7-10 dias. Uso de corticoides controverso. Se bactéria gram-negativa: Mínimo de 21 dias de tratamento. Se bactérias GBS, pneumococo ou L. monocytogenes: Tratamento mínimo de 14 dias. Somente realizar LCR de controle após tratamento se piora clínica, sinais neurológicos novos e febre persistente ou reemergente. Avaliar caso a caso. Contactantes íntimos de casos confirmados de meningite pelos agentes meningococo ou Hib presentam indicação de quimioprofilaxia. Situações de indicação: Contato domiciliar até 7 dias antes dos sintomas; Exposição direta a secreções do paciente através de beijo, compartilhamento deescovas de dente e fômites; Ressuscitação boca a boca até 7 dias antes dos sintomas ou até dentro das primeiras 24 horas de antibioticoterapia; Passageiros sentados ao lado do caso índice no mesmo vôo/ônibus/carro por pelo menos 8h; A Rifampicina serve de profilaxia tanto para Hib (4 dias) quanto para meningococo (2 dias). Imunização – Vacinas existentes atualmente: Vacina conjugada contra o Meningococo C – Meningocócica C: Crianças a partir de 3 meses (esquema 2+1) com reforço na adolescência. Vacina conjugada contra os Meningococos ACWY: Não faz parte da rotina de imunização de crianças <1 ano pelo PNI até o momento; Vacina contra o Meningococo B: Não faz parte da rotina de imunização de crianças <1 ano pelo PNI até o momento. Disponível em clínicas privadas de imunização e número de doses depende da faixa etária em que se iniciou o esquema. Vacina Pneumocócica Conjugada 10 Valente: Disponível pelo PNI para todas as crianças a partir de 3 meses (2+1). Vacina Pneumocócica Conjugada 13 Valente: Disponibilizada apenas para grpos de altíssimo risco de doença pneumocócica invasiva (HIV, pós-transplante de células-tronco hematopoiéticas, etc). Vacina Pneumocócica Polissacaríde 23 Valente: Aplicada em 2 doses, com intervalo de 5 anos. Disponível pelo MS para grupos-alvo específicos, não estando prevista na rotina de PNI para crianças. Vacina Contra Hib Conjugada: Contemplada em vacinas pentavalentes e hexavalentes. Aplicada de rotina em crianças a partir de 2 meses pelo PNI (2, 4 e 6 meses). OUTRAS MENINGITES Meningites Virais: Causa mais comum de meningite na infância, sendo os principais vírus Enterovírus e Herpesvírus, podendo ser causado pelo influenza, arboviroses, caxumba, zika, dentre outros. Na maioria das vezes há boa recuperação. Meningite Tuberculosa: Os lactentes são o principal grupo de risco. É um quadro agudo ou subagudo, com alta morbimortalidade, mesmo que feito tratamento específico prolongado. A vacina BCG diminui, mas não elimina o risco de TB de apresentação extrapulmonar. O tratamento é prolongado, com duração mínima de 12 meses, sendo 2 meses de esquema intensivo: Crianças < 10 anos: Rifampicina + Isoniazida + Pirazinamida (RIP); Crianças > 10 anos: RIP + etambutol; E mais 10 meses de manutenção com Rifampicina + Isoniazida. Meningites Fúngicas: Não são comuns. O tratamento é prolongado (semanas), com prognóstico variável. Meningites Assépticas: Não há crescimento bacteriano no líquor. Podem ter causa infecciosa (borreliose ou TB) que não crescem em meios de cultura habituais, bem como causas virais (arboviroses) e não infecciosas (medicamentosa, inflamatória, neoplásica). O tratamento depende da suspeita clínica. ENCEFALITES É um quadro de inflamação do parênquima cerebral associado a alguns distúrbios neurológicos (alteração do estado mental, déficits neurológicos focais e/ou crises convulsivas), sendo múltiplas as causas em crianças. Apresenta quadro agudo e rapidamente progressivo. Critério Maior (Obrigatório): Pacientes com alteração do status mental – rebaixamento do nível de consciência, letargia ou distúrbio de personalidade – com duração superior a 24h. Critérios Menores (Encefalite Possível = 2, Encefalite Provável ou Confirmada ≥3): Febre documentada ≥38ºC nas 72 horas antes ou depois do quadro; Convulsões parciais ou generalizadas em haver distúrbio convulsivo pré-existente; Achados neurológicos focais novos; Leucócitos no líquor ≥5/mm³; Achados novos ou de início agudo em neuroimagem de parênquima cerebral sugestivo de encefalite; Alterações de eletroencefalograma (ECG) compatíveis com encefalite e sem outra causa; E excluídas outras causas como: Encefalopatia pós-trauma; Distúrbios metabólicos; Tumor; Abuso de álcool; Sepse; Outras causas não infecciosas; ETIOLOGIAS INFECCIOSAS Vírus: Enterovírus (echovírus, parechovirus, coxsackievirus A e B, poliovirus e numerados); Herpesvírus (HSV 1 e 2, Varicela Zoster, Epstein-barr, citomegalovírus, Vírus da Imunodeficiência Humana – HIV); Arboviroses (Vírus do Oeste do Nilo, encefalite japonesa, dengue, etc); Vírus da Raiva; Vírus Influenza; Vírus do Sarampo, da Caxumba e da Rubéola; Bactérias: Mycoplasma pneumoniae; Listeria monocytogenes; Mycobacterium tuberculosis; Treponema pallidum; Bartonella henselae (Doença da arranhadura do gato); Borrelia burgdorferi (Doença de Lyme); Coxiella burnetii (febre Q); Rickettsia rickettsii (febre maculosa); Fungos: Cryptococcus neoformans; Coccidioides species; Histoplasma capsulatum; Parasitas: Toxoplasma gondii; Plasmodium falciparum; Naegleria fowleri; Acanthamoeba sp; Taenia solium (cisticercose); ETIOLOGIAS AUTOIMUNES São as causas não infecciosas, com evolução clínica não favorável ou fora do habitual. Encefalite anti-NMDAR (Anti-N-methyl-D-aspartate receptor) é a forma mais comum, que tem correlação com tumores ovarianos (teratomas) em mulheres jovens. O quadro apresenta alterações psiquiátricas, convulsões, perda de memória e mutismo. Solicitar acompanhamento com a neuropediatria e imunologia. ADEM (Acute disseminated encephalomyelitis) é um quadro desmienilizante do SNC, acometendo mais comumente crianças de 5-8 anos. Pode se apresentar isoladamente, ter base autoimune ou vir em contexto pós-infeccioso (mais raramente, pós-vacinal). Para firmar diagnóstico, solicitar RMN. QUADROS CLÍNICOS E ETIOLOGIAS Quadros autoimunes ou infecção pelo herpes vírus: Presença de disfunção cognitiva associada a convulsões. Raiva: Hipersalivação, delirium e hidrofobia. Poliovírus, enterovírus 71 e alguns flavivírus: Paralisia flácida e tremores. Varicela Zóster, enterovírus, sarampo, dengue, riquetsioses e meningococo: Presença de rash ao exame físico. Mycoplasma pneumoniae e influenza: Pneumonia associada. Caxumba: Dores testiculares e parotidite. CMV e EBV: Adenopatia cervical. TRATAMENTO A avaliação deve ser feita com urgência seguida de estabilização clínica e hemodinâmica (via aérea pérvia, monitorização, oxigenoterapia/suporte ventilatório, controle da convulsão e hidratação venosa, se necessário), além de iniciar a investigação complementar e tratamento empírico com ATB. As cefalosporinas de 3ª geração são as drogas de escolha, associadas ao Aciclovir (cobertura empírica de herpes simples vírus). HSV: Aciclovir endovenoso: 14 a 21 dias. CMV: Redução de imunossupressão e introdução de Ganciclovir ou Foscarnet. ADEM: Metilprednisolona 30mg/kg/dia em crianças, máx 1000mg (dose do adulto) por 3-5 dias em acompanhamento com o neurologista. Autoimune: Terapia imunossupressora sob orientação de um neurologista/imunologista + investigação de possíveis tumores. A recuperação é lenta, podendo levar de 6-12 meses. A diminuição do nível de consciência na admissão, bem como mal epiléptico refratário, admissão em UTI, sinais neurológicos focais, extremos de idade, imunossupressão, alterações na neuroimagem e atraso no início da terapia parecem se correlacionar com piores desfechos.
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