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Farmacologi� d� Sistem� Respiratóri� 1- Quais são os principais fármacos usados no tratamento das alergias, da asma, da DPOC e da tosse? 2- Diferenciar as classes de fármacos com base em seus mecanismos de ação. 3- Como escolher o melhor tratamento com base nos sintomas apresentados? DOENÇAS RESPIRATÓRIAS: 1. Rinite Alérgica 1.1. Patogênese: Um alérgeno ambiental, como pólen, atravessa o epitélio nasal, penetra no tecido subjacente e é fagocitado pelas células dendríticas que as apresentam para os linfócitos T. Então, é gerado estímulos para que os linfócitos B se transformem em plasmócitos secretando IgE. O IgE entra em contato com mastócitos e se ligam aos receptores Fc, sensibilizando-os. Em um segundo contato, o alérgeno se liga aos anticorpos IgE que estão acoplados ao mastócito previamente sensibilizado (com IgE ligado nos receptores Fc), gerando uma ligação cruzada: complexos IgE + antígeno nos receptores Fc da superfície do mastócito. Como consequência, os mastócitos degranulam liberando histamina, que se liga aos receptores H1 das células musculares lisas da vasculatura e nas células endoteliais da mucosa nasal e nos tecidos locais, resultando em dilatação dos vasos sanguíneos e aumento da permeabilidade vascular → isso gera edemas que são os responsáveis pela congestão nasal. Histamina e mediadores inflamatórios são liberados como cininas, prostaglandinas e leucotrienos, gerando hipersecreção e a irritação característica da rinite alérgica → o prurido, espirros, rinorreia e lacrimejamento 1.2. Histamina: Molécula autacóide - secretada localmente para aumentar ou diminuir a atividade das células adjacentes, essencial nas respostas imunes e inflamatórias. As ações da histamina são mediadas por sua ligação a um de quatro subtipos de receptores acoplados à proteína G: H1, H2, H3 e H4 ● Receptor H1: Coexistem em dois estados de conformação - inativo e ativo, que estão em equilíbrio na ausência de histamina ou de anti-histamínico. Localizado no endotélio vascular e, quando ativado, estimula a eNOS a produzir óxido nítrico (NO), que se difunde para as células musculares adjacentes, aumenta GMP cíclico e causa relaxamento. Também está presente no músculo liso e, quando ativado, mobiliza o cálcio, causando contração → Ele trabalha sozinho, mas na presença de histamina torna-se ainda mais ativado, gerando edema, broncoconstrição e sensibilização das terminações nervosas aferentes primárias 1.3. Anti-histamínicos H1: Agente que se liga no mesmo sítio de ligação da histamina e, por impedir que a histamina se acople, mais receptores estarão na forma inativa. Não pode ser chamado de antagonista, já que esse receptor trabalha sozinho e somente tem a sua atividade aumentada na presença da histamina, portanto é um tipo de agonista inverso. ● Fármacos Anti-histamínicos: Indicações: Alergias, urticárias crônicas, rinite alérgica, pruridos, náuseas, vômitos, cinetose e insônia. Desempenham limitado papel no tratamento de asma ou reações anafiláticas. Os de primeira geração também são usados na insônia, ansiolítico fraco ou hipnóticos Mecanismo de Ação: Estabilizam os receptores H1 na conformação inativa para diminuir os eventos de sinalização que levariam à resposta inflamatória → Bloqueiam fortemente o aumento da permeabilidade capilar necessário para a formação de edema, pápula, prurido, sendo mais efetivo quando usados de modo profilático do que após a ocorrência de uma reação alérgica. São bem absorvidos pelo TGI e alcançam concentrações plasmáticas de 2 a 3 h. Efeitos Colaterais: SNC - sedação, diminuição da neurotransmissão e do rendimento cognitivo; Efeitos anticolinérgicos - dilatação da pupila, ressecamento dos olhos, xerostomia (boca seca) e retenção urinária Fármacos: Primeira Geração: Dimenidrinato (dramin), Difenidramina , Hidroxizina, Clorfeniramina, Prometazina e Dexclorfeniramina → são compostos neutros em pH fisiológico e atravessam prontamente a barreira hematoencefálica, bloqueando as ações dos neurônios histaminérgicos no SNC (mais usados) ∟ Segunda Geração: Loratadina, Desloratadina, Cetirizina e Fexofenadina → são compostos ionizáveis em pH fisiológico e não atravessam com precisão a barreira hematoencefálica (preferível uso prolongado) ● Fármacos Descongestionantes Nasais: Fármacos: Fenilefrina (Decongex plus); Nafazolina (Neosoro); Oximetazolina (Afrin); Cloreto de sódio (Naridrin) Mecanismo de Ação: São agentes agonistas do hormônio adrenalina e noradrenalina que se ligam aos receptores adrenérgicos alfa-1 dos vasos sanguíneos da mucosa nasal, gerando vasoconstrição, assim há diminuição da mucosa edemaciada e melhora a ventilação. Atuam de modo adequado em associação com anti-histamínicos quando a congestão nasal faz parte do quadro clínico Indicações: Congestão nasal Efeitos Colaterais: Uso prolongado (mais de três a cinco dias) pode levar à rinite medicamentosa - obstrução nasal importante, associada a ressecamento da mucosa e presença de crostas. Apesar de ser um fármaco seletivo para alfa-1, não é exclusivo da mucosa nasal, podendo gerar taquicardia 2. Asma Brônquica Trata-se de uma doença inflamatória na qual antígenos derivados de alergénios são englobados por células dendríticas apresentadoras de antígeno, desencadeando resposta das células Th1 que, em indivíduos não atópicos, é baixa e não provoca inflamação. Já nos suscetíveis à asma, os antígenos induzem a diferenciação de células Th2, que liberam citocinas inflamatórias (IL-4, por ex) e ativam células B que diferenciam-se em plasmócitos produtores de IgE - liga-se aos receptores Fc presente nos mastócitos, permitindo as ligações cruzadas com os antígenos, induzindo a desgranulação do mastócito e a liberação de mediadores inflamatórios pré-formados e os recém produzidos que desencadeiam resposta inflamatória nas vias respiratórias (hipersensibilidade 1), além de liberarem IL-13 que gera hiper-responsividade do músculo liso das vias respiratórias, produção de muco pelas células caliciformes, edema das vias respiratórias, fibrose subepitelial e broncoconstrição - obstrução recorrente e reversível das vias respiratórias 2.1 Tratamento da Asma: Tratamento das crises é imediato e o preventivo é a longo prazo, na tentativa de tornar o paciente assintomático ● Fármacos Broncodilatadores: Reverter o broncoespasmo da fase imediata ∟ Agonistas β-adrenérgicos → Fármacos de primeira escolha Fármacos: Salbutamol e Terbutalina - ação curta; Salmeterol ou Formoterol (berotec) (ação prolongada) Mecanismo de Ação: Agonistas dos receptores beta-2 adrenérgicos dos músculos lisos, dessa forma relaxam o músculo brônquico. Também inibem a liberação dos mediadores de mastócitos e a liberação de TNF-α dos monócitos, além de aumentarem a remoção do muco por ação sobre os cílios. São administrados por inalação. Os de ação curta apresentam, em sua maioria, pico de efeito aos 30 a 60 min e duração de ação de aproximadamente 3 a 5 h. Os de ação longa apresentam pico de efeito de 8 a 12 h e são administrados regularmente 2x ao dia e não conforme a necessidade Indicação: Tratamento da asma, DPOC e outras doenças pulmonares Efeitos Adversos: Podem ser absorvidos sistemicamente; Tremor é o mais comum; ∟ Antagonistas Muscarínicos Fármacos: Ipratrópio - amplamente usado (ação curta); Tiotrópio, Aclidínio, umeclidínio e glicopirrolato (ação longa) Mecanismo de Ação: São antagonistas competitivos dos receptores muscarínicos de acetilcolina. á 4 subtipos de receptores muscarínicos expressos nos pulmões, sendo o M3 excitatório o mais importante no processo de mediar contração do músculo liso e secreção glandular de muco nas vias respiratórias. Esses fármacos antagonizam o efeito da acetilcolina endógena nos receptores M3, gerando broncorrelaxamento e diminuição da secreção de muco. O ipratrópio não é seletivo, então pode bloquear os receptores M2 aumentando a liberação de acetilcolina na fenda sináptica que pode reduzir a eficácia de seu antagonismo. O efeito ocorre em no máximo 30 min e dura de 3 a 5 h. Já os de ação longa apresentam meia-vidade 5 a 6 dias Indicação: É pouco utilizado na asma e mais em casos de tosse causadas por agentes irritantes em asmáticos; Tiotrópio - tratamento para DPOC Efeitos Adversos: Boca seca, náuseas, constipação e retenção urinária ∟ Xantinas → Existem fármacos melhores Fármacos: Metilxantinas - teofilina (principal da classe), aminofilina e cafeína Mecanismo de Ação: Ainda não está muito claro. Inibem as fosfodiesterase (PDE) , impedindo a degradação de AMP/GMP cíclico das células inflamatórias (efeito anti-inflamatório) e nas células do músculo liso (relaxamento do músculo liso). Também promove antagonismo da adenosina nos receptores A1 e A2 da adenosina. Apresentam meia-vida de 3 a 7 h e índice terapêutico estreito Indicação: Utilizadas ocasionalmente no tratamento da asma Efeitos Adversos: Arritmias cardíacas, náuseas e vômitos e até levar à morte ● Fármacos Anti-inflamatórios: ∟ Antagonistas dos Receptores de cistenil-leucotrienos (Cis-LTS) → Não podem ser considerados tratamento de primeira escolha Fármacos: Pranilucaste; Zileutona; Montelucaste e Zafirlucaste - antagonizam somente os Cis-LT1 Mecanismo de Ação: Inibem os receptores expressos na mucosa respiratória e nas células inflamatórias infiltrativas para inibir a via de formação dos leucotrienos a partir do ácido araquidônico - são antileucotrienos, pois o leucotrieno ativa os receptores Cis-LTS gerando broncoconstrição. São comprimidos mastigáveis de 4 e 5 mg. Indicação: São indicados como terapia adjuvante em pacientes que não estão bem controlados sob tratamento com corticoides (asma moderada e grave) Efeitos Adversos: Cefaléia; Distúrbios gastrintestinais ∟ Glicocorticóides → Principais fármacos anti-inflamatórios usados na asma Fármacos: Beclometasona; Budesonida e Fluticasona (1 ou 2 x/dia); Mometasona e Ciclesonida Mecanismo de Ação: Esses fármacos restringem a proliferação clonal das células Th por meio da redução da transcrição do gene da IL-2 e diminuem a formação de citocinas Th2, que recrutam e ativam eosinófilos e são responsáveis por promover a produção de IgE e a expressão de receptores de IgE. Também inibem o fluxo de eosinófilos para o pulmão induzido por alérgenos, além de inibir vasodilatação, pois inibem a COX-2 e não geram prostaglandinas. Suprarregulam os receptores β2-adrenérgicos, diminuem a permeabilidade microvascular e reduzem indiretamente a liberação de mediadores dos eosinófilos, inibindo a produção de citocinas que ativam os eosinófilos e isso explica, a longo prazo, a diminuição de mastócitos na mucosa respiratória, suprimindo a resposta de fase inicial a alergênios e ao exercício. São administrados por inalação, sendo atingido o efeito pleno sobre a hiper-responsividade brônquica depois de semanas ou meses de terapia. Os orais são reservados para pacientes mais graves Indicações: Evitar crises de asma (tratamento) e prevenção a longo prazo Efeitos Adversos: Inalatórios: São incomuns, mas pode ocorrer candidíase orofaríngea (sapinho), irritação da garganta e voz rouca (usar espaçadores para diminuir a exposição da orofaringe e fazer bochecho após). Orais: Distúrbios do humor (afeta o SNC), aumento do apetite, alterações glicêmicas em diabéticos e osteoporose. Doses altas de glicocorticoides podem produzir supressão da suprarrenal ∟ Anti-IgE Fármacos: Omalizumabe Mecanismo de Ação: É um anticorpo anti-IgE monoclonal humanizado que se liga ao anticorpo IgE diminuindo seus níveis livres e os níveis que estão ligados aos receptores Fc e, além disso, regula negativamente a expressão do receptor Fc. Essas ações diminuem a liberação de mediadores e a amplitude da resposta inflamatória. Só tem efeitos significativos quando doses administradas forem suficientes para reduzir a IgE livre em mais de 90%. 1 injeção subcutânea diluída no soro a cada 2-4 semanas. Possui meia-vida de 26 dias (custo muito elevado) Indicações: Pacientes com asma alérgica grave persistente mediada por IgE, com uso contínuo ou frequente de corticosteroides orais e inalatórios (reduz a dependência) e na rinite alérgica concomitante RESUMO PARA O TRATAMENTO DE ASMA Fármaco Efeito Agonistas β2 (salbutamol/salmeterol) Broncodilatação musc. lisa brônquica Antagonistas colinérgicos (ipratrópio) Broncodilatação musc. lisa brônquica Antagonistas de cis-LT (montelucaste) Inibem os leucotrienos e suas ações Xantinas (teofilina) Diminui tônus vascular Glicocorticóides (fluticasona) Inibe PLA2 e citocinas pró-inflamatórias Cromoglicato Estabiliza membrana de mastócitos Omalizumabe Anticorpo anti-IgE 3. DPOC - Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica Distúrbios que resultam em doença pulmonar obstrutiva que geralmente, diferente da asma, não é reversível. É causada por resposta inflamatória anormal crônico a uma agressão ambiental inalada, geralmente a fumaça do tabaco é a principal causa e a poluição do ar também é etiologicamente importante → estimulam os macrófagos alveolares residentes a produzir quimiocinas que atraem os neutrófilos e, juntos, liberam proteinase que degradam a elastina, responsável pela retração elástica dos alvéolos. Em consequência, ocorre morte celular, formando o aumento característico dos espaços aéreos típicos do enfisema, aumento de muco e fibrose. A DPOC é dividida em duas doenças que frequentemente se superpõem: enfisema e bronquite crônica. O enfisema refere-se a aumento dos alvéolos causado por destruição das paredes alveolares e perda da retração elástica pulmonar, enquanto a bronquite crônica é diagnóstico clínico estabelecido com base na ocorrência de tosse crônica durante 3 meses ou mais, por 2 anos consecutivas, que não pode ser atribuída a outra causa O quadro clínico se inicia com crises de tosse matinal durante o inverno e evolui para tosse crônica com exacerbações intermitentes, muitas vezes iniciadas por uma infecção das vias respiratórias superiores, quando o escarro se torna purulento; Dispneia progressiva que se agrava aos esforços; Hipertensão pulmonar como complicação tardia ∟ Tratamento da DPOC Nenhum tratamento atualmente permitido reduz a progressão da DPOC ou suprime a inflamação em pequenas vias respiratórias e no parênquima pulmonar O tratamento inclui abandonar o tabagismo; Imunização contra influenza; Tratar infecções Glicocorticóides inalados: reduzem a frequência e a gravidade das exacerbações agudas da DPOC, por isso são indicados para pacientes que apresentam exacerbações graves e frequentes - melhoram a qualidade de vida, mas não influenciam no declínio progressivo da função pulmonar. Também pode ser administrado glicocorticoide sistemicamente ativo - hidrocortisona intravenosa ou prednisolona oral Broncodilatadores: Proporcionam modesta melhora no fluxo aéreo, aliviando significamente os sintomas, mas não alteram a inflamação subjacente Agonistas B-adrenérgicos e Agentes Colinérgicos: Provocam broncodilatação - associação deles (formoterol e tiotrópio) pode ser benéfico. Acetilcolina promove broncoconstrição → administração de antagonista dos receptores para ach para que a acetilcolina não tenha efeito broncoconstrição quando liberada na ativação do parassimpático Suporte Ventilatório: (a longo prazo) Ventilação com pressão positiva intermitente - O2 pouco acima da concentração atmosférica (24 a 28%) para não precipitar a retenção de CO2 prolonga a vida em pacientes com doença grave e hipoxemia 4. Tosse É um reflexo protetor que retira material estranho e secreções dos brônquios e bronquíolos, iniciado pela irritação da membrana mucosa do trato respiratório que manda uma mensagem para o centro da tosse medulares que controlam o diafragma e os músculos intercostais. Pode ser desencadeada por inflamação do trato respiratório, por exemplo, por asma não diagnosticada ou refluxo crônico com aspiração, ou por neoplasia Pode ser aguda (< 3 semanas); Subaguda (entre 3 a 8 semanas); Crônica (> 8 semanas); e pode ser seca ou produtiva ∟ Tratamento - Antitússicos: Sempre que possível, tratar a causa subjacente e não a tosse ● Antitussígenos: Diminuem ou inibem a tosse seca somente em casosde tosse não produtiva e de curta duração; Fármacos: Clobutinol - antitussígeno de ação seletiva no centro da tosse; dropropizina e levodropropizina; difenidramina/prometazina (anti-histamínico); dextrometorfano (isomero da codeína sem propriedades analgésicas que age elevando o limiar da tosse); codeína (supressor moderado) Mecanismo de Ação: Atua bloqueando o reflexo da tosse, no centro da tosse, podendo suprimir tosses de todas as etiologias Indicações: Efeitos Adversos: Pode causar hipotensão e arritmias ● Expectorantes: Indicado para o tratamento da tosse produtiva e agem localmente, na secreção ∟ Mucolíticos: Diminuem a viscosidade das secreções Fármacos: Acebrofilina (brondilat) - broncodilatador, mucolítico e expectorante; Ambroxol (anabron, mucosolvan) - inibe a liberação de citocinas Mecanismo de Ação: Facilitam a excreção da secreção brônquica que se apresenta espessa e purulenta, reduzindo a viscosidade do muco ou ainda, promove o aumento do conteúdo líquido, aumentando a fluidez da secreção ∟ Fluidificantes: Fármacos: Iodeto de potássio - quase não há provas da sua eficácia clínica; Guaifenesina (xarope vick) Mecanismo de Ação: Aumenta o fluxo das secreções Efeitos Adversos: Contém açúcar - cuidado com diabéticos Referências: Golan, D. E.; et al.; Princípios de Farmacologia Rang, H.P; Dale, M.M.; Farmacologia - 29 Sistema Respiratório; Editora Elsevier, 9aedição.
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