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Artigo publicado na edição 47 w w w . r e v i s t a m u n d o l o g i s t i c a . c o m . b r J u l h o e A g o s t o d e 2 0 1 5 Assine a revista através do nosso site 32 www.revistamundologistica.com.br :: artigo Marco Antonio Oliveira Neves Diretor da Tigerlog Consultoria e Treinamento em Logística Ltda., possui experiência em mais de 270 projetos técnicos e no treinamento de mais de 26.500 profissionais da área de logística, de 3.500 diferentes empresas. Como vencer os desafios da logística no e-commerce? Nada parece deter o avanço do e-commerce no Brasil. O que devem fazer as transportadoras/operadores logísticos e embarcadores para adaptarem as suas operações logísticas a essa nova realidade? Saiba adaptar as operações logísticas à complexa dinâmica do comércio eletrônico Impulsionada pelo avanço da internet e por uma pro-funda mudança no comportamento de compra do consumidor, o comércio eletrônico já não desperta mais dúvidas, até mesmo, para os mais céticos e resisten- tes às recentes inovações tecnológicas. O e-commerce veio para ficar e, cada vez mais, ocupará espaço dos ca- nais de vendas tradicionais. Grandes redes varejistas ainda são muito dependen- tes de suas lojas físicas, mas, a cada dia, investem mais no mundo online. Para se ter uma ideia das oportunidades ainda existentes, o gigante Walmart, que fatura mais de US$ 1 bilhão todos os dias, em suas lojas, encontra-se bem atrás da concorrência, no comércio eletrônico, com menos de um sexto das vendas da Amazon.com, que oferece mais de 300 milhões de itens em seus websites, por todo o mundo. Em 2004, a Amazon.com apresentou um faturamento de US$ 6,92 bilhões e, em 2014, encer- rou o ano com cerca de US$ 89 bilhões, um incremento de vendas de mais de 29% ao ano, ao longo de 10 anos. Segundo estudo recente realizado pela Função Ge- tulio Vargas (FGV), intitulado 26º Relatório Anual de Tecnologia da Informação, o Brasil tem 152 milhões de computadores e tablets “em uso”, que representam três computadores para cada quatro habitantes. Desse total, 24 milhões são tablets. Se considerar outros 154 mi- lhões de smartphones, contabilizam-se 306 milhões de dispositivos conectados à internet. Estimativas do setor de e-commerce apontam para um faturamento de R$ 43 bilhões, em 2015, não con- siderando as vendas de automóveis, passagens aéreas e 33 As vendas no período de Natal, importante termô- metro para o setor, aumentaram mais de 20 vezes, entre 2004 e 2014. O ticket médio saltou de R$ 320,00, em 2004, para R$ 451,00, em 2014. Segundo o www.ebit.com.br, 51,5 milhões de pessoas fizeram, pelo menos, uma compra online, no ano de 2014, sendo 10,2 milhões entrantes. Considerando que foram feitos 103,4 milhões de pedidos, chega-se a uma média de duas compras por consumidor. Em 2015, espera-se que o número de encomendas seja 19% maior, chegan- do a 122,9 milhões. As transações realizadas por meio de aparelhos mó- veis (sem o uso de apps), no mesmo período, em 2014, eram de 7,0% e, em 2013, 2,5%. Em dezembro de 2014, 65% dessas compras foram originadas por smartphones e 35% por tablets, o que mostra uma inversão em rela- ção a janeiro de 2014, quando este último era responsá- vel por 67% das transações do mobile commerce. As clas- ses A e B são as que mais representam o consumidor do e-commerce, com 62% de participação, enquanto as classes C e D possuem 27%. As mulheres são 57% desse público, sendo que a faixa etária que mais consome é entre 35 e 49 anos, para ambos os sexos (39% das mu- lheres e 38% dos homens), e 40 anos a média de idade. Diante dessas estatísticas, você, como profissional de logística, sabe que uma hora ou outra se deparará com os desafios impostos pelo comércio eletrônico, esteja trabalhando em uma transportadora (ou operador lo- leilões online. Se concretizado, representará um aumento de 20%, em relação ao ano anterior. Ao longo dos últi- mos 10 anos, segundo o website www.ecommerce.org.br, o comércio eletrônico cresceu a uma taxa média de 35,2% ao ano. Moda e acessórios se mantêm como a categoria mais vendida, seguida de cosméticos e perfumaria/cuidados pessoais/saúde, eletrodomésticos, telefonia e celular, e livros/assinaturas e revistas, nessa ordem. CONSUMIDOR E-COMMERCE CONSUMIDOR CONVENCIONAL NA MAIORIA DOS CASOS, SABE EXATAMENTE O QUE QUER; ESPERA QUE O CONTATO FÍSICO COM O PRODUTO OU O SERVIÇO O AJUDE NA DEFINIÇÃO; RARAMENTE ACEITA SUBSTITUIÇÕES DE PRODUTOS; MAIS ABERTO A EVENTUAIS SUBSTITUIÇÕES DE PRODUTOS; EXTREMAMENTE OBJETIVO E RACIONAL; MENOS OBJETIVO, MUITAS VEZES, EMOTIVO; MUITO BEM INFORMADO ACERCA DO PRODUTO OU SERVIÇO DESEJADO; NECESSITA DE REFORÇO DE INFORMAÇÃO; TEMPO É UM FATOR FUNDAMENTAL. QUER PRATICIDADE; TEMPO NÃO É IMPRESCINDÍVEL. ENCARA A COMPRA COMO LAZER. FILAS PARA ESTACIONAR O CARRO OU PARA PAGAR A CONTA FAZEM PARTE; POUCO TOLERANTE A FALHAS NOS PRODUTOS OU SERVIÇOS; MAIS TOLERANTE; NÃO PECHINCHA, PORQUE JÁ COMPAROU PREÇOS POR MEIO DOS MECANISMOS DA INTERNET; PECHINCHAR FAZ PARTE. ACREDITA QUE O “OLHO NO OLHO” É UMA CONDIÇÃO ESSENCIAL PARA O FECHAMENTO DA VENDA; EVITA CONTATO FÍSICO E É AVESSO A VENDEDORES; RELACIONAMENTO É FUNDAMENTAL. QUER SER OUVIDO, ÀS VEZES, BUSCA PAPARICAÇÃO; MAIS DISPOSTO A RECLAMAR, CASO NÃO SEJA CUMPRIDO AQUILO QUE FOI PROMETIDO; MAIS FLEXÍVEL; ADEPTO ÀS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS. RECEOSO QUANTO AO USO OU À APLICAÇÃO DAS NOVAS TECNOLOGIAS. Quadro 1. Diferença entre consumidor e-commerce e consumidor convencional 34 www.revistamundologistica.com.br gístico) ou em um embarcador. Portanto, esteja prepara- do. Mais do que um consumidor, você está diretamente inserido nessa dinâmica complexa do mundo do comér- cio eletrônico. A IMPORTANTE DISTINÇÃO ENTRE OS CLIENTES CONVENCIONAIS E OS CLIENTES DO COMÉRCIO ELETRÔNICO Embora seja comum uma mesma pessoa comprar por meios eletrônicos e, também, em lojas físicas, po- dem-se identificar características próprias de cada um desses consumidores, conforme o Quadro 1. Diante de um cliente mais crítico e mais exigente, a logística precisará se estruturar de forma adequa- da, para evitar custos adicionais. Um cliente típico do mundo online não tolerará atrasos na entrega ou o não cumprimento de agendamentos. Também exigirá um volume maior de informações. Para ele, deve ser fácil reclamar ou, por exemplo, devolver um produto e ter um novo bem equivalente ou ser ressarcido. Para que essa engrenagem toda funcione, será ne- cessário estruturar-se corretamente, tanto internamen- te, quanto externamente. É o modelo logístico que viabilizará a entrega em prazos diferenciados, a cober- tura de todo o território nacional, a disponibilização de um grande sortimento de mercadorias, o atendimento de datas comemorativas e dos “picos” sazonais etc. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A OPERAÇÃO DE TRANSPORTE DE CARGAS NO COMÉRCIO ELETRÔNICO Por que é tão difícil atuar no transporte dentro do comércio eletrônico? Por que muitas empresas, bem- -sucedidas nos canais convencionais, ainda não avança- ram significativamente nesse segmento? Por que muitas transportadoras e operadores logísticos ainda hesitam em atuar nesse segmento? Bem, pense em algo complexo, em termos de aten- dimento das expectativas e necessidades dos clientes. Agora, eleve isso ao quadrado. Não deixe de acres- centar algumas “pitadas” da Lei de Murphy, afinal, algo sempre pode dar errado. Mexa bem e não esqueça de considerar as restrições impostas à distribuição urbana e às dificuldades oriundas dos “gargalos” existentes na infraestrutura de transportes, em todo o País. Pense, também, na dificuldade de contratar e reter mão de obra qualificada. Dessa forma, terá uma boa ideia da di- ficuldade em atuar na prestação de serviços logísticos, no comércio eletrônico. Portanto, para ganhar dinheiro no segmento e-commerce, é preciso estar muito bem preparado, em diversos aspectos, estejam eles relacio- nados a sistemas de gestão, capital humano, tecnologia, infraestrutura,processos e questões legais. Quais são, então, os fatores críticos de sucesso na lo- gística para e-commerce? Isso vale para os embarcadores e prestadores de serviços em logística. Primeiro, não tra- te a logística para e-commerce como uma mera commo- dity. Não incorra no erro de acreditar que o modelo de transporte convencional servirá para o e-commerce. As empresas que resolverem atuar nesse mercado deverão estar preparadas para todos os tipos de entregas, se- jam residenciais (em casas, apartamentos, condomínios etc) ou comerciais (lojas de diversos tipos, conjuntos comerciais, shoppings, indústrias etc), e que exijam esfor- ços particulares (montagem, configurações, içamentos, agendamento de horários etc). Segundo, também deverá saber lidar com diferentes classes de materiais, em termos de tamanho, peso, valor, risco de roubo e furto, entre outras. A maioria dos ne- gócios e-commerce é ainda muito pequena, oferecendo pouca variedade de itens. Porém, se tudo der certo, em breve, será observado um aumento exponencial do sor- timento de mercadorias. Por lidar com produtos altamente visados, em espe- cial eletroeletrônicos, calçados, artigos têxteis e outros, a prevenção e o controle de perdas serão fundamentais e uma questão de sobrevivência. É preciso estar estru- turado para investigar cada não conformidade existente, seja um furto, avaria, devolução etc. Caso contrário, seu lucro será consumido pelas intermináveis indenizações a clientes. Trabalhe para eliminar do seu dicionário a pa- lavra extravio, que, muitas vezes, é tratada como uma simples perda, como se existisse um “buraco negro” aceitável nas empresas. Extravio significa, normalmente, que alguém se apropriou de algo indevidamente, por má fé ou não. Terceiro e ainda mais complexo do que os anteriores, os embarcadores, as transportadoras e os operadores logísticos precisarão administrar expectativas e neces- sidades altamente distintas entre os diversos clientes a serem atendidos. A percepção do nível de serviço po- derá variar de forma considerável, mesmo considerando entregas semelhantes. Portanto, tenha uma clara com- preensão e um correto entendimento do serviço a ser prestado e prepare-se para o atendimento dos requeri- mentos, previamente negociados com seus clientes. Quarto, desenvolva as suas competências e habili- dades no custeio e na formação de preços dos servi- ços prestados. Acabou a Era do “frete grátis”. É preciso saber o que cobrar, como cobrar e quanto cobrar. No e-commerce, não existem “cortesias”, pois tudo custa muito caro, portanto, deixe o “paternalismo” de lado. 35 Caso contrário, em pouco tempo, a sua operação apresentará sinais de enfraquecimento e declínio. Quinto, invista em tecnologia e em suporte ao cliente. Tão importante quanto a entrega, a informação em tempo real será fundamental para a qualificação do serviço prestado. Não basta entregar, será preciso informar. Sexto, tenha muito cuidado ao dimensionar a infraestrutura opera- cional constituída da tripulação (mo- toristas e ajudantes), veículos de co- leta e entrega, terminais de apoio à operação (cross-docking, por exemplo) e parceiros entre outros modais (aéreo, por exemplo) e regiões. Acom- panhe, constantemente, o nível de aproveitamento dos veículos e a produtividade da operação. A cada indício de problemas, aja de forma rápida e objetiva, redese- nhando as rotas, redimensionando o número de veícu- los, reavaliando o perfil da frota utilizada e até a parceria estabelecida. Tenha cuidado com o custo fixo, pois ele responderá por cerca de 70% a 75% do custo opera- cional total. Sétimo, monitore cuidadosamente as não conformi- dades operacionais, como entregas não realizadas, atra- sos, reentregas etc. Prepare-se para resolver o problema rapidamente, antes que ganhe dimensões assustadoras. Por isso, trabalhe com um foco de melhoria contínua, utilizando as ferramentas da qualidade total para a análi- se e solução de problemas. Oitavo, tenha contratos. Isso vale para ambos os la- dos, contratada e contratante. Especifique claramente o escopo do serviço prestado, os direitos e deveres de cada parte, as limitações operacionais e o nível de ser- viço desejado. Atendendo a todos os requisitos anteriores, com certeza, a sua empresa estará altamente capacitada para atuar no e-commerce e usufruir de todos os benefícios que esse segmento proporcionará ao seu negócio, seja um embarcador ou uma transportadora, ou operador logístico. QUESTÕES ESTRATÉGICAS, TÁTICAS E OPERACIONAIS NA OPERAÇÃO DE TRANSPORTES NO E-COMMERCE A atividade de gestão de transportes compreende uma série de ações envolvendo as esferas estratégi- ca, tática e operacional. Ao desenhar e dimensionar a operação logística, no e-commerce, os embarcadores se depararão com diversos dilemas. Eles, normalmen- te, estarão relacionados ao modelo operacional, que envolverá diversas decisões, como: • Devo desenvolver competências de gestão logística ou transferi-las para os parceiros, concentrando meus esforços no core business da empresa? • Operar com frota própria ou com terceiros? Ou em um modelo mis- to? • Utilizar muitas ou poucas transpor- tadoras? Centralizar ou descentra- lizar? • Trabalhar com grandes/médias transportadoras ou optar por pequenas empresas? • Buscar empresas especializadas no e-commerce ou desenvolver os parceiros em um modus operandi es- pecífico, adequado ao seu negócio? • Compartilhar a operação com outros embarcadores ou utilizar parceiros dedicados à sua operação? • Qual o nível de automação do controle realizado no dia a dia? Não existe uma única resposta para esses questio- namentos. Tudo tem prós e contras. Recentemente, um dos maiores players do comércio eletrônico, no Brasil, optou, de forma surpreendente, por adquirir uma das maiores transportadoras especializadas no e-commerce, no País. Estaria ele certo ou errado? Mais importante do que responder a essas questões pontualmente, é equa- cionar as questões estratégicas, táticas e operacionais, que envolvem o transporte de cargas. A esfera estratégica compreende ações relacionadas ao desenho e dimensionamento da malha logística, o planejamento da demanda por transporte, a identifica- ção das mais adequadas fontes de transportes, a defini- ção do nível de serviço, as políticas tarifárias, a utilização de tecnologias para o apoio à operação, as políticas e diretrizes voltadas à operação e às questões de seguran- ça e meio ambiente, entre outras. No nível tático, tem de se responder a importantes questões, como: • Qual o perfil mais adequado das empresas de trans- portes nas parcerias a serem estabelecidas? • Quantas transportadoras utilizar e como dividi-las geograficamente? • Qual o tamanho e o perfil da frota necessários para o atendimento da demanda prevista? • Qual a infraestrutura de apoio necessária à opera- ção? • Como deve ser e o que precisa constar no contrato Ao desenhar e dimensionar a operação logística, no e-commerce, os embarcadores se depararão com diversos dilemas. 36 www.revistamundologistica.com.br firmado entre as partes? • Que indicadores de desempenho medir e quais as metas a serem alcançadas? • Que planos contingenciais serão necessários? • Como integrar as informações e uniformizar concei- tos junto a todos os parceiros? Na operação, será necessário desenvolver padrões operacionais relacionados a atividades, como: • Emissão de documentos e apontamentos diversos; • Apuração dos indicadores de desempenho e geração dos relatórios gerenciais diários; • Elaboração das escalas de trabalho e alocação da tri- pulação; • Designação e alocação dos veículos; • Elaboração dos programas de viagens (rotogramas); • Roteirização e rastreamento das cargas; • Elaboração de manuais operacionais (manuseio, acondicionamento e transporte dos materiais); • Aplicação de checklists na entrada e saída dos veí- culos; • Atendimento a outros departamentos internos; • Atendimento amotoristas e clientes; • Outros procedimentos específicos de cada negócio No transporte de cargas, no comércio eletrônico, dada à sua dinâmica e complexidade, será vital desen- volver sólidas competências nas seguintes atividades: • Dimensionamento (e constante atualização) da ma- lha operacional; • Contratação de transporte; • Planejamento e execução de embarques; • Otimização da capacidade disponível; • Auditoria e pagamento de fretes; • Administração de não conformidades em transporte; • Relatórios de desempenho em transporte; • Visibilidade da operação; • Programa de Excelência em Transporte (avaliação, ranqueamento e premiação dos parceiros operacio- nais); • Gerenciamento de risco; • Projetos em transporte; • Soluções em transporte global; • Logística reversa; • Serviços especiais (entregas noturnas, entregas em finais de semana, instalações de equipamentos, mon- tagem de móveis etc). Para uma gestão de transportes perfeitamente ali- nhada ao atendimento das expectativas e necessidades de clientes tão especiais, recomenda-se a estruturação de uma torre de controle, já abordada em outro artigo publicado na Revista MundoLogística (edição 33, maio/ junho 2013 - Conceito de torre de controle aplicado à gestão de transportes). UMA ABORDAGEM EFICAZ PARA O COMÉRCIO ELETRÔNICO: A TORRE DE CONTROLE Pense no funcionamento de um aeroporto e adapte essa realidade ao transporte de cargas, no comércio ele- trônico. Imagine um departamento atuando como uma torre de controle, utilizando informações em tempo real para a tomada de decisão. A torre de controle corresponde a uma metodologia de gestão, que tem como objetivo primário agilizar o processo de tomada de decisão em transportes, forne- cendo à equipe operacional informações de forma rá- pida, objetiva e em tempo real, integrando os três níveis de decisão: operacional, tático e estratégico. A torre de controle envolve o monitoramento de variáveis-chaves da operação, em tempo real. Esse mo- delo de gestão permite que alterações significativas em indicadores de alta e média criticidades sejam rapida- mente identificadas e corrigidas. Variáveis-chaves monitoradas na torre de controle: • Atendimento da demanda por transporte; • Tempos improdutivos, que envolvem o tempo para- do em congestionamentos e o tempo de espera para carga e descarga nos clientes; • Aproveitamento do frete-retorno; • Produtividade da frota (quilometragem rodada men- salmente/número de viagens realizadas/total de cole- tas e entregas feitas); • Nível de aproveitamento da capacidade do veículo; • Controle do consumo e do rendimento dos insumos produtivos (diesel, peças de veículos e pneus); • Custos operacionais; • Indicadores de avarias, furtos e extravios; • Nível de serviço ao cliente (pontualidade na entrega, documentação correta, nenhum material faltante); • Turnover e absenteísmo de motoristas; • Reclamações de clientes. O aprendizado diário levará à adoção de mecanis- mos de prevenção, transformados, provavelmente, em políticas de gestão da área de transportes. Por meio da torre de controle, consegue-se balancear a performance entre o planejamento, a gestão e a operação. Para o perfeito funcionamento da torre de controle, é necessário definir, claramente, os papéis desempenha- dos por gerentes (ou coordenadores), analistas e assis- tentes de transportes. Normalmente, identificam-se analistas atuando como assistentes, desempenhando atividades repetitivas, que poderiam (e deveriam) ser totalmente ou parcialmen- te automatizadas, e gerentes sobrecarregados, sendo 37 “obrigados” a descer e ocupar o espaço vago deixado pelos analistas. Resumindo, ninguém desenvolve satisfatoriamente as atribuições para as quais foi contratado ou se preparou. Paralelamente às atividades de execução, recomenda-se que a torre de controle contemple a alocação de recursos voltados, exclusivamente, à engenharia logística, dedicada aos projetos de melhoria contínua na área. Esses profissionais atuarão, por exemplo, em projetos que envolvam desenvolvimento de novos parceiros, modelos fiscais, embalagens e unitização de cargas, novas tecnologias, seguros de cargas etc. Ao gerente de Logística (ou de Transportes) caberá o planejamento estratégico de operações, a disponibilização de meios para a execução do trabalho e a reali- zação das metas da empresa, a definição das políticas de gestão de transportes e nível de serviço, a realização da interface com outros departamentos e clientes, a gestão da equipe, o controle da performance operacional, por meio de indicadores de desempenho, e o desenvolvimento de ações preventivas e corretivas, o moni- toramento dos planos de ação, a administração dos programas de excelência em transportes e o atendimento dos requisitos técnicos do contrato e das normas e diretrizes estabelecidas pelos órgãos de regulação (Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por exemplo). Os analistas de Projetos (ou engenheiros logísticos) deverão zelar pela melhoria contínua na operação, em projetos internos ou em soluções que envolvam forne- cedores e/ou clientes. Os projetos de melhoria contínua poderão lidar, simulta- neamente, com diferentes frentes de atuação, como processos, infraestrutura, tec- nologia, pessoas e sistemas de gestão. Também poderão atuar na startup de novas operações (abertura de um novo centro de distribuição, por exemplo). Já os analistas de Transportes se envolverão com a contratação e a administração de parceiros, as cotações de fretes regulares e eventuais, o planejamento de embar- ques e a otimização da capacidade de carga disponível, a roteirização da entrega e a alocação dos veículos e da tripulação, a administração das não conformidades em transportes, a conferência e a autorização de fretes a pagar, a geração de relatórios de desempenho em transporte e dos indicadores de performance, a elaboração e a manutenção de manuais de procedimentos operacionais e a realização de inter- PL A N EJ A M EN TO NÍVEL DE ATIVIDADE TEMPO REAL CURTO PRAZO MÉDIO PRAZO LONGO PRAZO O PE R A Ç Ã O 38 www.revistamundologistica.com.br faces internas e externas. Os assistentes de Transportes se encarregarão do re- gistro de dados em sistemas informatizados ou em pla- nilhas paralelas, a realização de apontamentos diversos, o rastreamento e monitoramento de veículos, o apoio a motoristas em viagem, o acerto de contas com motoris- tas, o atendimento a clientes e a execução de atividades administrativas diversas. CONCLUSÃO As palavras-chaves para o sucesso na implantação de uma eficaz operação de transportes, no comércio ele- trônico, são visibilidade e colaboração. Não importa o modelo operacional selecionado, o embarcador não de- verá nunca abdicar de suas responsabilidades e deveres, mas sim atuar de forma harmoniosa e complementar junto às suas transportadoras e operadores logísticos. No mínimo, deve somar competências, pois o ideal seria multiplicá-las. É necessário, desde o princípio, dimensionar a operação logística ao seu propósito de obter informa- ção em tempo real e, mais do que isso, poder atuar, em tempo real, na reversão de possíveis efeitos indesejados, evitando retrabalho e custos adicionais, principalmente, com a logística reversa. Desenvolver ou contar com parceiros que apresen- tem robustas e consistentes competências na gestão de transportes será primordial. O aperfeiçoamento dos mecanismos de planejamento, gestão e controle de transportes será imprescindível, diante de tantos desa- fios, como: • As limitações impostas pela lei que disciplina a jorna- da dos motoristas; • O turnover da mão de obra e a dificuldade em atrair profissionais para atuar como motoristas e ajudantes; • A ampliação das restrições à circulação de veículos de portes grande e médio nas cidades mais populo- sas do Brasil, permitindo apenas a utilização de equi- pamentos de menor porte, como Veículos Leves de Carga (comprimento máximo de 6,30 m), Veículos Urbanos de Carga(comprimento máximo de 5,50 m), vans e utilitários; • A redução da velocidade de circulação dos veículos, em função dos congestionamentos nas regiões urba- nas, que acaba impactando diretamente na produti- vidade dos veículos, reduzindo, de forma significativa, o número de entregas e a quilometragem percorrida diariamente; • O aumento do número de itens comercializados e a diversidade do mix de produtos, impactando direta- mente na questão da unitização das cargas, aprovei- tamento dos veículos, avarias etc; • A concentração das vendas em determinados perío- dos, principalmente, devido à datas comemorativas, como Dia das Mães, Dia dos Namorados, Dia das Crianças, Páscoa, Natal ou promoções, como o Black Friday; • A redução no tamanho dos pedidos, resultando em maiores dificuldades para a unitização das cargas e em um maior número de viagens (em veículos de menor porte), para o atendimento da demanda do cliente; • A diversidade de clientes, exigindo a realização de coletas e entregas em diferentes locais e condições operacionais; • O aumento dos requerimentos dos serviços exigi- dos pelos clientes, relacionados ao agendamento das cargas e descargas, redução dos tempos de resposta, horários de entregas e coletas, tipos de veículos utili- zados, serviços adicionais etc; • O aumento das exigências, por parte das segurado- ras, tornando o Plano (ou Programa) de Gerencia- mento de Risco cada vez mais rigoroso e difícil de ser cumprido. Em uma realidade operacional, aparentemente de- sanimadora, a visibilidade também é fundamental. Com as tecnologias Global Positioning System (GPS), General Packet Radio Service (GPRS), WEB/Wireless Application Protocol (WAP) e com os sistemas de telemetria, é pos- sível obter as informações em campo e trabalhá-las em tempo real. Será necessário, obviamente, desenvolver interfaces entre os sistemas dos embarcadores e dos parceiros logísticos para a captura, seleção e tratamento dos dados. Porém, cuidado, pois a partir da captura dos dados, haverá outro problema: o que fazer com tanta informação? A empresa deverá filtrar os dados e de- cidir pelo tipo de informação desejada. Poderá optar por atuar apenas nas não conformidades operacionais. Outros embarcadores poderão definir raios de atua- ção, especificando, claramente, onde atuará e onde seus parceiros trabalharão. Volta-se novamente à questão da colaboração. Tudo isso deverá representar, na prática, custos adi- cionais em transportes. Entretanto, nesse caso, é impor- tante avaliar a relação custo-benefício. Venderei mais? Te- rei menos problemas no dia a dia, e, portanto, menores custos para o atendimento de meus clientes? Poderei almejar novos horizontes? Uma operação de comércio eletrônico bem-sucedi- da exigirá, necessariamente, uma logística forte e com- petitiva. Portanto, invista. Trabalho não faltará.
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