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FOCCA – FACULDADE DE OLINDA CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO GABRIELA NATÁRIO ALVES PUNIÇÃO ALÉM DAS GRADES: um estudo sobre o encarceramento feminino, saúde e maternidade OLINDA – PE 2021 GABRIELA NATÁRIO ALVES PUNIÇÃO ALÉM DAS GRADES: um estudo sobre o encarceramento feminino, saúde e maternidade Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à FOCCA – Faculdade de Olinda, como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Direito. Profª. Orientadora: Danielle Christine Burichel OLINDA 2021 GABRIELA NATÁRIO ALVES PUNIÇÃO ALÉM DAS GRADES: um estudo sobre o encarceramento feminino, saúde e maternidade Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à FOCCA – Faculdade de Olinda, como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Direito. Profª. Orientadora: Danielle Christine Burichel Olinda, ____ de _____________ de _____. BANCA EXAMINADORA ________________________________________ ________________________________________ AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente ao meu Deus que me deu força, coragem, capacidade e sabedoria, não por apenas ter me sustentado até o término da minha graduação, mas por ter cuidado de mim diante de tantos altos e baixos na vida e ter me dado a certeza de que não estou só. Aos meus amados pais, Gilcilene e Cláudio, por terem acreditado em mim, por terem paciência com meus estresses por conta de trabalhos, provas e afins. Vocês são meus maiores incentivadores, obrigada por sonharem esse sonho comigo, sem vocês nada disso seria possível. Tudo que eu conquistar são para e de vocês, eu devo tudo a vocês. A minha irmã, Carina, por não pensar em outra coisa a não ser na minha conclusão do curso, nestes 5 anos, obrigada por não ser diferente de painho e mainha, você também acreditou nesse sonho e ele é nosso, obrigada por vibrar comigo a cada conquista. Aos meus sobrinhos, Ana Clara e Pietro, isso tudo é por vocês muito mais do que por mim, eu os amo de todo o meu coração, e se é possível, vocês são o meu coração fora do peito. Aos meus amigos, por entenderem e me apoiarem em tudo, vocês foram essenciais, obrigada pela paciência que tiveram ao me escutar falando sobre minha faculdade e também por ouvirem meus lamentos, eu os amo, vocês fazem parte da minha história. A minha madrinha, Rhaissa, que provavelmente é a pessoa mais especial da minha vida, a pessoa mais forte que já conheci na vida, isso também é pra você, obrigada por me incentivar e não me deixar desistir, isso também é seu, você é a minha pessoa. A minha orientada a Profª. Danielle Burichel, que apesar de todas as suas tarefas, sempre disponibilizou de seu tempo e conhecimento para me ajudar e me orientar pacientemente. Por fim, agradeço às minhas colegas de classe, por todos os puxões de orelha, por todo o companheirismo e amor em todos estes anos. Sem dúvida todo caminho se tornou muito mais leve e prazeroso com a presença de vocês. “Aviso aos delinquentes que se iniciam na profissão: Não se recomenda assassinar com timidez. O crime compensa, mas só compensa se praticado em larga escala, como nos negócios. Não estão presos por homicídios os altos chefes militares que deram a ordem de matar tanta gente na América Latina, embora suas folhas de serviço deixem rubro de vergonha qualquer bandido e vesgo de assombro qualquer criminologista. Somos todos iguais perante a lei. Perante que lei? Perante a lei divina? Perante a lei terrena, a igualdade se desiguala o tempo todo em todas as partes, porque o poder tem o costume de sentar-se em um lado da balança da justiça.” (Eduardo Galeano) RESUMO A presente monografia tem como objetivo estudar a população carcerária feminina do Brasil, bem como a forma de punição sofrida por elas tanto perante a sociedade quanto a Lei. Expondo assim em três capítulos que se encontram didaticamente divididos, onde o primeiro aborda os aspectos históricos da origem da pena, a finalidade da mesma e o surgimento dos presídios femininos. O segundo capítulo ocupa-se em abordar a condição social da mulher desde os primórdios, apontando a vulnerabilidade do gênero, a dupla estigmatização sofrida por serem mulheres e ainda serem mulheres criminosas e apresentando o perfil mais comum destas mulheres encarceradas. Por fim, o terceiro e último capítulo tratará da busca pela efetivação dos Direitos Humanos e a aplicabilidade do direito fundamental da Dignidade da Pessoa Humana, expondo também como a saúde, destas mulheres que estão sob a tutela do Estado, está sendo violada pelo seu próprio tutor e salientando a situação das gestantes, mães e lactantes nos presídios, apontando algumas políticas públicas, nem sempre eficazes e a falta de estrutura para acolher estas mães do cárcere. Palavras-chave: Gênero. Mulher. Prisão. Maternidade. Direitos Humanos. ABSTRACT This monograph aims to study the female prison population in Brazil, as well as the form of punishment suffered by them both before society and the law. Thus exposing in three chapters that are didactically divided, where the first addresses the historical aspects of origin of the sentence, its purpose and the emergence of women's prisons. The second chapter deals with addressing the social condition of women since the beginning, pointing out the vulnerability of gender, the double stigmatization suffered by being women and still being criminal women, and presenting the most common profile of these incarcerated women. Finally, the third and last chapter will deal with the search for the realization of Human Rights and the applicability of the fundamental right to the Dignity of the Human Person, also exposing how the health of these women who are under the tutelage of the State is being violated by their own tutor and highlighting the situation of pregnant women, mothers and nursing mothers in prisons, pointing out some public policies, which are not always effective, and the lack of structure to welcome these mothers in prison. Keywords: Gender. Women. Prison. Maternity. Human rights. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Países com a maior população prisional feminina Figura 2 – Faixa etária das mulheres privadas de liberdade no Brasil Figura 3 – Raça, cor ou etnia das mulheres privadas de liberdade no Brasil Figura 4 – Escolaridade das mulheres privadas de liberdade no Brasil Figura 5 – Distribuição por gênero dos crimes tentados/consumados entre os registros de pessoas privadas de liberdade no Brasil Figura 6 – Existência de berçário e/ou centro de referência em unidades femininas e mistas no Brasil. Figura 7 – Existência de creches em unidades femininas e mistas no Brasil. SUMÁRIO INTRODUÇÃO...................................................................................................11 CAPÍTULO 1 – SISTEMA PRISIONAL..............................................................13 1.1 Prisão: mecanismo de controle social aos grupos excluídos.......................13 1.2 Surgimento dos presídios femininos.............................................................14 1.3 Presídios femininos brasileiros frente às particularidades de gênero...........17 CAPÍTULO 2 – A CONDIÇÃO SOCIAL DA MULHER......................................20 2.1 Vulnerabilidade do gênero feminino.............................................................20 2.2 Dupla Estigmatização: gênero e criminalidade............................................22 2.3 Perfil da mulher encarcerada........................................................................23CAPÍTULO 3 – DIREITOS HUMANOS, SAÚDE E MATERNIDADE................28 3.1 Direitos Humanos e a Dignidade da Pessoa Humana.................................28 3.2 Violação da saúde feminina pelo estado na via carcerária...........................32 3.3 Mães do Cárcere: a maternidade atrás das grades......................................35 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................41 11 INTRODUÇÃO O presente trabalho de conclusão de curso visa abordar o sistema penitenciário brasileiro como forma de controle social e o encarceramento feminino no Brasil, visto que houve um significativo aumento da criminalidade feminina e consequentemente a crescente destas mulheres nos presídios femininos, focando não só apenas nos números, mas também nas condições enfrentadas por estas mulheres privadas de sua liberdade em condições muitas vezes indignas e insalubres. Em 2018, de acordo com dados publicados na 2º edição do Infopen Mulheres (INFOPEN – Informações Penitenciárias) o Brasil era o 4º país com maior população carcerária feminina no mundo. Apenas em junho de 2016, 42.355 mulheres encontravam-se presas (INFOPEN, 2016), refletindo uma gritante realidade do recorte da sociedade, atrelado a estas prisões está o elevado número de casos de prisões por tráfico, prisões de mulheres jovens, de raça negra, moradoras de comunidades, com baixo nível de escolaridade. A desigualdade presente no Brasil também reflete sobre o sistema carcerário desproporcional. Ao analisarmos a inserção da mulher em prisões que desde os primórdios foram desenvolvidas para homens e por homens, é possível enxergar neste cenário, que as necessidades femininas diferem das masculinas, exigindo o reconhecimento de tal demanda por parte da sociedade/Estado (ALVES, 2016). Além disso, é importante pararmos para analisar as condições que estas mulheres, abandonadas pela sociedade após serem encarceradas, vivem. Celas precárias, insalubres, e a superlotação faz com que se tornem propícias a doenças contagiosas. Com tudo isso, a falta de higiene dos presídios femininos, a má alimentação das detentas, a falta de estrutura destes lugares, fazem com que elas, incluindo as grávidas e lactantes, que precisam viver dentro dessas celas com seus filhos, já que nem todos os presídios do Brasil oferecem creche ou uma ala de maternidade, fiquem expostas a qualquer tipo de infecção ou doença presente nas dependências dos presídios (LEAL, 2016) . 12 De acordo com o artigo 1º, III, da nossa Constituição Federal, o Brasil constitui- se em Estado Democrático de Direito e tem como um dos fundamentos a dignidade da pessoa humana, isto é, de modo obrigatório o Estado deve garantir a identidade, o respeito e a integridade física do cidadão esteja ele preso ou em liberdade, mas não é isto que encontramos na prática (BRASIL, 1988). Para que seja discutido o tema supramencionado, o mesmo será abordado em três capítulos: o primeiro fomenta sobre o surgimento dos presídios femininos, bem como seu avanço ao longo da história, e como se organiza este sistema para receber o gênero feminino visto que é um sistema prisional criado inicialmente por homens e para homens, e por fim o seu uso para exercer o controle social de grupos excluídos da sociedade. O segundo capítulo trata da condição social da mulher vista apenas como mãe e dona de casa, assim como a vulnerabilidade em que este gênero se encontra frente à sociedade, também abordará a dupla estigmatização que as mulheres sofrem pelo simples fato de serem mulheres e ainda cometerem crimes, finalizando com o perfil da mulher encarcerada brasileira. Por fim, o terceiro capítulo aborda a concretização dos direitos humanos e a saúde das mulheres nestes estabelecimentos prisionais, atrelado ao princípio da dignidade humana inerente a todos os cidadãos, quais os desafios enfrentados pelas mesmas visto que o próprio Estado é o principal violador ao tratar-se de saúde dentro dos presídios e de forma superficial como vivem com a maternidade no cárcere. A partir disto, podemos identificar a diferença no tratamento de homens e mulheres nestes estabelecimentos e na sociedade, pois o cárcere em si contempla a exclusão, a pobreza e o machismo estrutural que consegue atravessar os muros dos presídios e adentrar nas celas femininas. 13 CAPÍTULO 1 – SISTEMA PRISIONAL O intuito deste capítulo é apresentar o sistema prisional brasileiro como forma de controle social. Inicialmente observaremos toda a historicidade em que está inserido este sistema e logo após será abordado especificadamente o gênero feminino. Trataremos também do surgimento dos primeiros presídios femininos no território brasileiro, assim como sua organização administrativa era feita. Por fim, será abordado como os presídios brasileiros adaptaram-se para receber a população feminina de acordo com suas especificidades inerentes ao gênero. 1.1 Prisão: mecanismo de controle social aos grupos excluídos Antes de qualquer coisa, faz-se necessário conceituar o que de fato seria controle social, para HASSEMER (1984, p. 390), o controle social é condição básica irrenunciável da vida em sociedade. Assegura o cumprimento das expectativas de conduta e das normas sem as quais não podem existir grupos sociais e sociedade. Assegura também os limites da liberdade humana na rotina do cotidiano e é um instrumento de socialização dos membros do grupo ou da sociedade. As normas que se estabilizam com o controle social configuram a imagem do grupo ou da sociedade. Não há alternativas ao controle social. Ao longo dos séculos, aqueles que detinham o poder na sociedade, desenvolveram inúmeras técnicas de controle social e o exerceu por meio de instituições, bem como, as igrejas, escolas, quartéis. Aperfeiçoando estas técnicas, ao mesmo tempo consolidou-se o sistema capitalista aumentando a marginalização e a desigualdade, a partir disto, as classes consideradas mais “perigosas” foram diretamente atingidas por este controle social, sendo aprisionadas e excluídas de uma sociedade na qual não os aceitavam como parte dela. Entre estes que detinham o poder, a Igreja fazia o seu papel de influenciar na seara penal, talvez por isto é que a palavra “penitenciária” teve origem na palavra penitência, com isto, aquele que cometera um delito deveria ao cumprir sua pena, 14 também refletir sobre seus pecados, objetivando um possível perdão dado por Deus e pelo homem. Michel Foucault afirma que, “em qualquer sociedade, o corpo está preso no interior de poderes muito apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou obrigações” (FOUCAULT, 1999, p. 163), é certo afirmar que sempre houveram técnicas para exercer o controle social. De início, o controle social era exercido por meio da força, suplícios aos corpos destes marginalizados eram bastantes comuns, podendo chegar até a pena máxima, a morte, de acordo com o crime cometido. De fato, ao afirmar que o corpo está preso no interior de poderes muito apertados, é importante lembrar que os corpos dos delinquentes tornavam-se propriedade do rei, nestes corpos o rei imprimia sua marca através do suplicio corporal. O rei se utilizava do terror como base para o exemplo, deixando marcas em seus rostos ou ombros para que todos vissem o que acontece com quem comete crimes. A ideia de fazer uso do confinamento como pena, é relativamente recente, e foi impulsionada principalmente por ideais iluministas que pregavam uma humanização das leis criminais, dos julgamentos e das penas, a igreja, como dito anteriormente, também atuou de forma influente neste sistema. Contudo, ao adotar o cárcere como nova forma de controle social, é notório que o mesmo não vem cumprindo com seu objetivode diminuir a criminalidade. A incapacidade de reinserir os indivíduos na sociedade e a sua clara ineficácia constada pelos altos indicies de reincidência mostram que esta instituição se encontra falida. O que antes era feito para de fato segregar estas pessoas da sociedade com uma desculpa de estar protegendo a mesma, hoje em dia, o condenado deixou de ser apenas um objeto sem vontades e pensamentos próprios para ser tratado como ser humano que é e passível de pena justa, quando autor do ato infracional. 1.2 Surgimento dos presídios femininos Na Roma Antiga, as prisões não possuíam caráter punitivo, visto que as verdadeiras sanções podiam ser identificadas como vingança pública, quase que 15 exclusivamente de castigos corporais. O cárcere era usado basicamente para manter em custódia àqueles que seriam submetidos à algum tipo de tortura corporal ou a pena de morte. No século XIII, com o nascimento do Iluminismo e com a predominância da miséria devido à dificuldade econômica, os delitos aumentaram consideravelmente, foi observado que os castigos corporais ou a pena de morte já não causaram o mesmo temor de antes. Com isso, houve a substituição do martírio pela pena privativa de liberdade como meio mais eficaz de controle social. Em “Vigiar e Punir”, Michel Foucault (1999) descreve a indignação das pessoas quanto às penas desumanas sob o discurso de legalidade: “O protesto contra os suplícios é encontrado em toda parte na Segunda metade do século XVIII: entre os filósofos e teóricos do direito; entre juristas, magistrados, parlamentares; e entre os legisladores das assembleias. É preciso punir de outro modo: eliminar essa confrontação física entre soberano e condenado; esse conflito frontal entre a vingança do príncipe e a cólera contida do povo, por intermédio do supliciado e do carrasco.” (pag. 94) No Brasil, por muito tempo o número de mulheres que cometiam crimes era extremamente inferior se comparado com os homens. Com esta diferença quantitativa entre homens e mulheres, não havia preocupação por parte do Estado, em criar uma instituição penitenciária exclusiva para mulheres. A partir disto, as mulheres eram levadas aos chamados presídios mistos, onde habitavam homens e mulheres na mesma penitenciária, ou eram levadas a alas ou cômodos específicos dentro de um presídio exclusivamente masculino, de qualquer forma, as mulheres acabavam muitas vezes dividindo cela com os homens e como consequência eram violentadas sexualmente e obrigadas a se prostituírem. Com as constantes críticas acerca do assunto na sociedade brasileira, apenas em 1937 surgiu o primeiro presídio exclusivamente feminino em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, e logo após, em 1942, foi inaugurado um presídio para mulheres no estado de São Paulo e em seguida, no mesmo ano, o presídio de mulheres de Bangu no estado do Rio de Janeiro também foi inaugurado. A separação legal e efetiva de homens e mulheres nos presídios, veio no Código Penal de 1940, em seu artigo 29, § 2º, alterado pela Lei 6.416 de 1977 em que determinava: “As mulheres cumprem pena em estabelecimento especial, ou, à sua 16 falta, em seção adequada de penitenciária ou prisão comum, sujeitas a trabalho interno, admitido o benefício do trabalho externo.” (BRASIL, 1977) Vale salientar que a separação de ambos os gêneros nos presídios se deu, principalmente, com o objetivo de proteger os presos do sexo masculino, pois supostamente, a presença das mulheres perturbava a convivência destes presos e ao serem retiradas a tranquilidade dos presos seria garantida. Com isto, pode-se afirmar que esta segregação nada tem a ver com a segurança e dignidade das mulheres. (HELPES, 2014) O presídio inaugurado em 1937, na cidade de Porto Alegre, recebeu o nome de Penitenciária Madre Pelletier, pois foi fundada por freiras católicas de uma congregação chamada Nossa Senhora da Caridade. As freiras tomaram posse da administração do presídio com o objetivo de “domesticar” estas mulheres, as penas eram totalmente voltadas ao trabalho e instrução domésticos. É curioso observar que, nem todas as mulheres que eram mandadas paras esta penitenciária de fato eram criminosas, muitas delas eram apenas mulheres que “destoavam” da paisagem, como mulheres consideradas vulgares, moradoras de rua, prostitutas e até mulheres que se recusavam a casar-se com os pretendentes escolhidos pelos pais e por falta de maiores habilidades nos serviços domésticos eram mandadas para serem “ajustadas” pelas freiras. Segundo Nana Queiroz em seu livro intitulado “Presos que menstruam” (2015): “Quando as mulheres começaram a cometer crimes de verdade e ficou mais difícil manter a segurança, as freiras entregaram o presídio à Secretaria de Justiça, mas se mantiveram na direção por longos e obscuros anos. [...] Só em 1981 as irmãs deixaram a administração do presídio para o Estado.” (pág. 72) Em 1942, a Secretaria de Justiça do Estado do Rio de Janeiro em conjunto com a Congregação do Bom Pastor d’Angers foi acordado que caberia ao Estado prover habitação, lavanderia, alimentação. Às irmãs, ficariam responsáveis pela educação doméstica, ensino religioso, higiene das presas e da penitenciária. O presídio que fora, inicialmente, construído para abrigar apenas 60 mulheres e logo depois adaptado para receber um total de 120 mulheres, se viu na verdade, 17 com um total de 2.200 detentas, com isto, as freiras perderam o controle da situação, em meados de 1955. Então, em 1966, o Instituto Penal Talavera Bruce, foi criado no estado do Rio de Janeiro, um presidio de segurança máxima que abrigaria em torno de 330 pessoas. 1.3 Presídios femininos brasileiros frente às particularidades de gênero De acordo com dados colhidos pelo Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – INFOPEN Mulheres, e publicados no ano de 2018, o encarceramento feminino vem ganhando uma grande atenção devido a crescente população carcerária feminina. Entre 2000 e 2016, o país contou com um aumento de 455%, com isto, em junho de 2016 o país tinha um total de 42,6 mil presas. Com isto, o Brasil ocupa o 4º lugar de países que mais encarceram mulheres no mundo. (SIGILLÓ; GIOVANNA, 2018, online) Figura 1 - Países com a maior população prisional feminina Fonte: Infopen Mulheres, junho de 2016. Contudo, mesmo ao possuir uma das maiores populações carcerárias feminina do mundo – sendo insto, consequentemente, um dos fatores que implicariam na melhora de seus espaços penitenciários - o cárcere brasileiro ainda sim, é extremamente precário, principalmente ao olharmos diretamente para as especificidades que o gênero feminino exige. Mesmo que estas mulheres estejam em uma penitenciaria propriamente feminina, a forma com que estes espaços são construídos ainda é quase que com a 18 ideia exclusiva de que os prisioneiros são do gênero masculino e as peculiaridades femininas acabam sendo ignoradas, causando consequências quase que irreversíveis para o ser humano e com isto inferiorizando ainda mais o gênero feminino. O percentual de mulheres em situação de cárcere é bem menor se compararmos com o percentual de homens encarcerados, e por isto acabam sendo negligenciadas e tornam-se invisíveis para o próprio Estado, contudo, este percentual baixo não pode ser usado de justificativa para a violação dos seus direitos. Existe um abismo entre sistema penal e execução penal feminina, como bem disse Buglione et al. (2006): “O sistema penal, no seu tratamento às mulheres, é um reflexo da posição social designada a elas. O discurso de igualdade, aqui, assume uma faceta cruel, por abstrair a materialidade das relações. A diferença gera desigualdade e a natureza continua sendo o fundamento de práticas preconceituosas.” (pág. 86) França (2014, p. 221) discorre que “não se admite mais que os agentes públicos,responsáveis pelo aprisionamento feminino, ignorem e continuem tratando as demandas da criminalidade feminina ‘como questões de homem’.” É notório e inquestionável que as mulheres possuem necessidades especificas e consequentemente muito diferentes dos homens, então, é certo afirmar que se mulheres possuem necessidades especificas, o Estado deverá prover além de espaços, cuidados que atendam à estas especificidades. Temos como exemplo prático e comum, o kit de higiene pessoal que deveria ser distribuído tanto a homens e mulheres, com o objetivo de atender suas necessidades íntimas e pessoais. Apesar de ser de distribuição obrigatória por parte do Estado, vale salientar que comumente esta responsabilidade recai sobre seus familiares. Todavia, mesmo que o Estado consiga fornecer tal kit de higiene pessoal, muitos dos itens básicos essenciais para as mulheres, como absorventes, são extraviados, ou seja, nunca chegam nas mãos das encarceradas e isto também ocorre, de toda forma, quando são levados por seus familiares. Não é segredo que ambientes que não possuem o mínimo de limpeza e higiene só ajudam na proliferação de problemas de saúde, ainda mais em um 19 ambiente de cárcere onde em uma cela pode haver até 20 mulheres vivendo juntas diariamente, é comum que ocorram de surtos de piolhos à doenças infecto contagiosas. Diante desta realidade assombrosa, o acompanhamento assíduo do Estado se faz necessário, principalmente na área de Execução Penal, para que os direitos destas mulheres sejam garantidos e que com isto tornem-se capazes de retornar à sociedade e ao convívio familiar. No mais, restou-se claro que algumas especificidades demandam mais atenção, pois apesar de incessantes lutas diárias para que consigam inserir-se de forma igualitária na sociedade, a mulher ainda sim demanda maior cuidado. 20 2 – A CONDIÇÃO SOCIAL DA MULHER Este capítulo trata sobre a situação da mulher na sociedade e enquanto encarcerada. Logo depois, será abordada a vulnerabilidade do gênero feminino perante o coletivo, bem como os pontos em que se destacam a dupla punição destas mulheres por serem mulheres e pelo fato de praticarem crimes e como esse gênero fica marcado por essa dupla desaprovação. Por fim, trataremos do perfil destas mulheres encarceradas, e o que, provavelmente, as leva a cometer estes crimes e pararem no encarceramento. 2.1 Vulnerabilidade do gênero feminino A posição da mulher na nossa sociedade hoje é bem diferente do que era a alguns, nem tantos, anos atrás. Como tudo no mundo, a situação da mulher e seu papel evoluiu, após muitas lutas, conseguiram o direito de votar, de trabalhar, de falar por si. Desde a antiguidade, vemos o grande papel de protagonismo que o homem exerce nos feitos históricos da humanidade, de fato, este protagonismo nunca foi dividido com as mulheres, visto que por serem taxadas como frágeis não lhe sobravam espaço, apenas o desprezo por suas condições. Observando o cenário atual, a mulher conseguiu conquistar seu direito e merecido espaço tanto no mercado de trabalho quanto ao votar, até de estudar, pois como bem se sabe, as mulheres desde sempre foram criadas para que se casassem, tivessem filhos e os educassem e principalmente para que fossem perfeitas para os trabalhos domésticos. Hoje, as mulheres tem acesso à informação e educação para que se desenvolvam plenamente tanto no âmbito educacional ao possuírem um maior nível de escolaridade, quanto no âmbito profissional ao ocupar cargos e funções importantíssimos que antes eram exclusivos ao gênero masculino. Até a década de 60, restavam para as mulheres apenas os papéis de filhas, esposas e mães, pois elas ainda eram representadas pelos pais e após o casamento, pelo marido, tornando-se parcialmente capaz, posto que o Código Civil de 1916, concedia a posição de chefe da sociedade conjugal ao marido. Com isto, elas só 21 poderiam trabalhar mediante autorização do marido, por exemplo. A figura do homem era de destaque na família, pois ele era considerado o provedor do sustento e segurança de sua esposa e seus filhos e em troca disto, para que fossem respeitadas pela sociedade, as esposas adotavam o sobrenome marital obrigatoriamente. Apenas com a edição da Lei nº 4.121, com o chamado Estatuto da Mulher Casada, de 27 de agosto de 1962, que ficou marcado o fim do rompimento da hegemonia masculina e o início da capacidade plena e da liberdade da mulher. Esta lei proporcionou às mulheres o direito ao trabalho sem precisar da autorização do marido e o direito a contribuir igualmente com o marido na sociedade conjugal. Contudo, apenas com a promulgação da Constituição Federal de 1988 que ficou expressa a concepção de igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres. Luciana Temer Castelo Branco, afirma em “Manual dos Direitos da Mulher” (2013): “Falar sobre a luta por igualdade entre homens e mulheres nos dias atuais pode aparentar ultrapassado, uma vez que nos Estados democráticos contemporâneos os direitos são assegurados aos gêneros de forma equânime. No entanto, no Brasil, bem como em outros países, a mulher continua em desvantagem em relação ao homem em vários setores da vida. Dados estatísticos demonstram esta desigualdade de fato.” As diferenças biológicas entre homens e mulheres desde sempre fizeram com que a mulher fosse discriminada ao longo dos séculos e reduzida ao limite do seu gênero, onde foi colocada num papel de docilidade e não de violência, enquanto ao homem foi determinado o papel de violento, dominador e agressor em referência a sua “força” por ser do gênero masculino. Em paralelo, a busca das mulheres por um lugar na sociedade, que é seu de direito, ainda sim é enorme para que mudanças sólidas e efetivas aconteçam. Resta claro que para fazer valer seus direitos, não basta que estejam elencados na Constituição Federal, como bem disse Luiz Alberto em seu livro: “A norma, por si, é importante instrumento, mas apenas ela não leva à efetivação do direito” (ARAÚJO, 2013, p. 31). Com isto, conclui-se que o Estado deveria promover políticas públicas como ações afirmativas para que assim consigamos neutralizar os efeitos da discriminação, 22 envolvendo os cidadãos, apresentando um conteúdo de transformação com o objetivo de, finalmente, fazer com que estes direitos se concretizem, visto que a lei dever tratar a todos igualmente. 2.2 Dupla Estigmatização: gênero e criminalidade São inerentes a sociedade patriarcal: os dissabores que margeiam a dignidade feminina por todo o mundo, bem como as disparidades de gênero. Sempre pontuada por tragédias e injustiças, a luta das mulheres ao buscar igualdade e uma vida livre onde sejam capazes de direitos e oportunidades como homens. De toda forma, mesmo ao conquistar o mínimo do que lhes cabe, ainda sim, nesta sociedade patriarcal a mulher continua possuindo dois extremos: ou você mulher serve para ser mãe e para realizar trabalhos domésticos, ou você serve para satisfazer os prazeres sexuais masculinos, de uma forma ou de outra a mulher nunca será vista como ser dotado de independência e vontades, enquanto que o homem pode atuar em diversas "extremidades" sem ser rotulado por estes dois estereótipos. É visto com frequência a mulher sendo colocada em um lugar de vítima, de um ser que precisa ser protegido pelo homem, mas nem sempre a mulher está inserida no lugar de vítima, às vezes ela é a vilã e isto, para a sociedade, é muito difícil de aceitar. “Esperar que um ser dotado de feminilidade, recato, docilidade e delicadeza, praticasse ações que fossem contra a moral e os bons costumes e, além de tudo, prejudicasse outrem, era quase inimaginável” (SILVA, 2015, p. 162). Contudo, sabemos que as mulheres são capazes sim de transgredir as normas penais e com isto cometer delitos,pois continua sendo um ser humano como qualquer outro. E é a partir deste momento que as mulheres acabam por sofrer todo o tipo de julgamento imaginável, para Lombroso a mulher desviante era o oposto da mulher mãe de família, e afirmava que o que levaria ela a cometer algum tipo de delito seria a prostituição. Podemos ver que desde o Brasil Colônia, a mulher transgressora de normas penais, não acaba por transgredir apenas normas jurídicas e sim normas morais de uma sociedade que determinou como mulheres devem se comportar de uma forma que seja aceitável ou como não se comportar para que não agrida os bons costumes. 23 Desta feita, as consequências para uma mulher que comete delito e consequentemente é encarcerada, acaba sendo desproporcionalmente mais grave do que as consequências para os homens, podemos citar dois exemplos bastante comuns para as mulheres reclusas, a primeira consequência é a perda do lar e por conseguinte a perda dos seus filhos que acaba prejudicando a vida dos mesmos. Mediante o exposto, é notável a dupla estigmatização sofrida pela reclusa, primeiro por ser mulher e segundo por ser criminosa. De certo, crimes cometidos por mulheres são em menor proporção do que aqueles cometidos por homens, por isto a ação destas mulheres acaba sendo considerada invisível, impossibilitando o desenvolvimento de estudos sobre o comportamento destas mulheres transgressoras. Destarte, podemos atrelar o lugar de subalternidade da mulher, ao fato de a criminalidade não ter tanta visibilidade e por isso a ausência de estudos. Todavia, resta claro que além de sofrer o desprezo por parte da sociedade, as mulheres também sofrem um desprezo estatal. “Enquanto o sexo masculino é punido de acordo a sua conduta e culpabilidade, cabe ao sexo feminino ser sancionado por sua infração a lei penal, pela culpabilidade e pela sua desobediência quanto aos padrões impostos pela sociedade” (COSTA; BATISTA, 2012, p. 2). Em suma, é certo que a luta da mulher para obter espaço numa sociedade extremamente machista continuará sendo árdua, não com o intuito de serem melhores do que os homens, mas com o objetivo de serem tratadas como qualquer outro cidadão e alcançar definitivamente a justiça que lhe é devida. E sim, podemos ser doces e delicadas, mas também podemos ser fortes e nada do que uma sociedade altamente patriarcal acha sobre nós, afetará nossa potência e nossa vontade de lutar e sobreviver dia após dia. 2.3 Perfil da mulher encarcerada De acordo com o Relatório do Desenvolvimento Humano 1995, “a pobreza tem o rosto de uma mulher – de 1.3 bilhão de pessoas na pobreza, 70% são mulheres.” E ainda, o INFOPEN, no ano de 2014, realizou um levantamento onde foi desenvolvido um perfil de mulheres reclusas de acordo com tipo de regime, natureza da prisão, faixa etária, raça, cor ou etnia, e escolaridade. 24 Fonte: Infopen, jun/2014. Departamento Penitenciário Nacional/Ministério da Justiça. Conclui-se que, em sua maioria, o sistema penitenciário feminino é constituído por mulheres jovens, negras e de baixa escolaridade. Este cenário acaba refletindo na procura por emprego, onde as mesmas se submeterão a salários baixos e trabalhos precários para garantir o sustento da família, e é aí que estas mulheres se veem obrigadas a direcionar-se para o crime. Quanto à idade podemos observar que a maioria destas mulheres que cometem crimes tem idade entre 18 até 24 anos, correspondendo a 27% (Figura 2) da população carcerária de 2014, caracterizando-as como jovens e que possuem ao menos um filho. No tocante a raça, cor ou etnia, 68% das mulheres eram negras (Figura 3), ou seja, duas em cada três presas são negras. Figura 3 - Raça, cor ou etnia das mulheres privadas de liberdade no Brasil Fonte: Infopen, jun/2014. Departamento Penitenciário Nacional/Ministério da Justiça. Figura 2 - Faixa etária das mulheres privadas de liberdade no Brasil 25 Por fim, a baixa escolaridade também é um fator de peso, pois cerca de 50% destas mulheres encarceradas possuem o ensino fundamental incompleto (Figura 4). Figura 4 - Escolaridade das mulheres privadas de liberdade no Brasil Fonte: Infopen, jun/2014. Departamento Penitenciário Nacional/Ministério da Justiça. Importante ressaltar que a baixa escolaridade destas mulheres acaba afetando o pós-cárcere das mesmas, pois este pode ser considerado um fator que dificulta ainda mais a reinserção no mercado de trabalho, aumentando a possibilidade de haver reincidência. Mesmo que de acordo com a Lei de Execução Penal, o Estado seja obrigado a disponibilizar assistência educacional para as pessoas privadas de liberdade, ainda é muito pequeno o número de participantes nestes projetos. Todavia, é importante frisar também que dentre todos os crimes cometidos por mulheres, o tráfico de drogas é definitivamente o crime que encontra-se no topo da lista dos mais cometidos, de acordo com o INFOPEN (2018), “crimes relacionados ao tráfico de drogas correspondem a 62% das incidências penais pelas quais as mulheres privadas de liberdade foram condenadas ou aguardam julgamento em 2016, o que significa dizer que 3 em cada 5 mulheres que se encontram no sistema prisional respondem por crimes ligados ao tráfico”. Em 2014, a porcentagem de mulheres que optavam pelo tráfico como forma de sustento, por não envolver violência em sua prática e pelo retorno financeiro que aquele crime dava, correspondia a 68% (Figura 5). 26 Figura 5 - Distribuição por gênero dos crimes tentados/consumados entre os registros de pessoas privadas de liberdade no Brasil Fonte: Infopen, jun/2014. Departamento Penitenciário Nacional/Ministério da Justiça. Uma grande característica se tratando de razões para que estas mulheres se tornem transgressoras e optem pelo tráfico, recai sobre suas relações, quando seu pai, companheiro e até filhos já estão inseridos neste mundo e na fata deles, devido à alguma prisão, por exemplo, estas mulheres tomam o lugar destes homens para manter as coisas “funcionando”, sem contar que existem inúmeros casos de mulheres que assumem a prática do crime para que seus companheiros ou filhos não sejam condenados. Diante disto, as mulheres que traficam, na verdade estão mais para “massa de manobra”, visto que são utilizadas como “mulas” e geralmente pegas com uma quantidade pequena de drogas para retirar a atenção das autoridades com o objetivo de que maiores quantidades passem despercebidas. Deve ser observado que, com a promulgação da Lei 11.343 em 2006, conhecida como a “Lei de Drogas”, de certa forma houve um inchaço no que se diz respeito a população carcerária feminina, pois esta lei endureceu as penas do tráfico de drogas. Ademais, também deve ser levada em conta que algumas destas prisões realizadas são feitas sem a devida comprovação, já que é possível que uma mulher seja presa apenas por dividir a casa com seu companheiro e o mesmo utilizá-la como depósito para armazenar os entorpecentes, esta ação também é considerada como tráfico. Consequentemente, com uma maior repressão às drogas no Brasil e com o lugar de subalternização da mulher na hierarquia do tráfico de drogas, não teria como esperar um resultado diferente do que uma superpopulação nos presídios femininos. 27 O que também merece ser observado são as relações familiares que estas mulheres encarceradas mantêm, tendo em vista que como já foi dito, estas mulheres encontram-se em situação materna ou também podem ser gestantes. A consequência da quebra destas relações pode ser, por muitas vezes, mais penosa do que a reclusão em si. Diferente do homem que mesmo sendo preso continua a receber visitação de esposa, mãe, pai, irmãos e etc, a mulher quando enclausurada acaba por obter uma sensação de esquecimento, por vivermos em uma sociedadeextremamente machista, ao nos depararmos com alguma mulher encarcerada, é comum que os homens que compõem seu círculo familiar se sintam envergonhados e com isto passem a não visita-las na cadeia, isto é de grande impacto, pois ao manter as relações familiares as chances de reabilitação e de interação social são bastante altas. Por fim, é possível notar que as mulheres enfrentam desafios dentro e fora do cárcere, as situações de vulnerabilidade vivenciadas em suas trajetórias tornam a luta delas mais evidente. Contudo, o cárcere consegue reproduzir nas mulheres todo o preconceito e machismo que elas já sofrem quando estão livres. É certo afirmar que o Estado é uma instituição carente de políticas públicas eficazes. 28 CAPÍTULO 3 – DIREITOS HUMANOS, SAÚDE E MATERNIDADE O último capítulo tratará dos direitos e garantias fundamentais conferidos às mulheres encarceradas, também será explanado como o Estado promove a saúde destas mulheres em situação de cárcere e como de fato é esta questão na prática, por fim, será falado como as gestantes vivem nestes presídios, se há estrutura adequada para estas mães, se há ambientes próprios para elas e suas crianças, há exemplos de creches e como se dá o trabalho de parto das mesmas. 3.1 Direitos Humanos e a Dignidade da Pessoa Humana Sob um ponto de vista histórico, alguns doutrinadores franceses apontam que a dignidade da pessoa humana teve uma origem cristã, visto que a corrente cristã afirma que a pessoa humana é digna pelo fato de Deus tê-la criado à sua imagem e semelhança, e por isto todos são iguais. Desta forma, os homens teriam direito igualmente à vida, liberdade, trabalho, família, à condições de vida minimamente aceitáveis. Os direitos humanos foram sendo desenvolvidos fortemente entre os séculos XVIII e XX. O marco histórico da Revolução Francesa em 1789 também abrigou a elaboração da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, inspirados pelos iluministas, a declaração garante aos homens os direitos de liberdade, propriedade, segurança, e resistência à opressão”. Assim, diz solenemente em seu artigo 16 “a sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição”. A segunda guerra mundial ocorrida entre os anos de 1938 e 1945 marcou a internacionalização dos Direitos Humanos, como resposta às tragédias e horrores cometidos pelo nazismo, representantes de 50 países reuniram-se em São Francisco de 25 de abril a 26 de junho de 1945, onde foi elaborada a Carta das Nações Unidas, documento que deu origem à Organização das Nações Unidas, órgão que garante o respeito universal aos Direitos Humanos e às liberdades fundamentais. Em 1948, houve a elaboração e promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, no qual o Brasil foi adepto, a Declaração possui 30 artigos e discorre sobre promoção de uma vida digna para todos independentemente de 29 nacionalidade, cor, sexo e orientação sexual, política e religiosa. Com isto, Bobbio (2004) discorre o seguinte: “Com essa declaração, um sistema de valores é — pela primeira vez na história — universal, não em princípio, mas de fato, na medida em que o consenso sobre sua validade e sua capacidade para reger os destinos da comunidade futura de todos os homens foi explicitamente declarado. (...) Somente depois da Declaração Universal é que podemos ter a certeza histórica de que a humanidade – toda a humanidade – partilha alguns valores comuns; e podemos, finalmente, crer na universalidade dos valores, no único sentido em que tal crença é historicamente legítima, ou seja, no sentido em que universal significa não algo dado objetivamente, mas subjetivamente acolhido pelo universo dos homens.” (pág. 96) No Brasil, a primeira Constituição Federal foi outorgada por D. Pedro I em 1824, já previa a garantia dos direitos fundamentais dos homens, visto que a mesma se ajustava com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, tornando- se a primeira a positivar estes direitos. Houveram outras Constituições nos anos de 1891, 1934, 1937, 1946, 1967, e 1969, onde estes direitos mantiveram-se incluídos e em constante evolução. Porém, apenas com a Constituição Federal de 1988 que estes direitos foram plenamente propagados. Os Direitos Humanos estão presentes na Constituição Federal de 1988 encontra-se dividido em cinco capítulos, onde os mesmos são chamados de Direitos e Garantias Fundamentais, são eles: Direitos Individuais e Coletivos, Direitos Sociais, Nacionalidade, Direitos Políticos e Partidos Políticos. No tocante ao Direito Penal, estes direitos se estenderam até ele, visto que os direitos dos presidiários encontram-se positivados no texto constitucional, onde práticas como prisão perpétua e pena de morte são vetadas, pois o texto constitucional dispõe que as penas privativas de liberdade devem respeitar a dignidade da pessoa humana, conforme está disposto no art. 5º, XLVII e XLIX, da Constituição Federal de 1988: “XLVII – não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; 30 d) de banimento; e) cruéis; XLIX - é assegurado aos presos o respeito a integridade física e moral;” De acordo com o caput do art. 3º da Lei de Execução Penal nº 7.210/1984, dispõe que: “Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei”. Ou seja, a proteção à dignidade da pessoa humana deve atingir os homens e mulheres que se encontram em situação de cárcere. Porém, sabemos que na teoria deveria ser assim, na prática o que conseguimos observar é uma série de violações a estes direitos. É certo que o Estado priva alguém de sua liberdade como forma de punição penal por alguma infração cometida anteriormente, o que de fato se espera é que o infrator tenha somente o direito à liberdade retirado. Sendo assim, os direitos restantes inerentes ao ser humano devem permanecer intactos para que a identidade do preso não se perca neste sistema. Apesar destas violações e ausência destas garantias fundamentais serem observadas no encarceramento masculino, a violação mais aparente e cruel encontra- se no encarceramento feminino. Como já dito anteriormente, os presídios carregam um histórico estritamente masculino, onde este sistema carcerário fora criado por homens e para homens, com isto, é possível observar que o sistema carcerário não está preparado para receber estas mulheres de forma eficiente. É sabido que a Lei de Execução Penal – LEP brasileira é considerada uma das mais desenvolvidas mundialmente, contendo como objetivos: resguardar direitos, reinserir o indivíduo na sociedade e protegê-los. O intuito destes objetivos é beneficiar tanto a sociedade quanto ao indivíduo, pois isto permite que tanto o primeiro e o segundo estejam em constante progresso. A Lei de Execução Penal busca promover além de programas com raízes ressocializadoras, também tem como escopo dar assistência ao preso seja material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa. Quando se trata de presídios, sabemos que não é bem assim que funciona na prática. De acordo com o art. 12, da LEP “a assistência material ao preso e ao internado consistirá no fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas”. Contudo, o que acontece é que os presos são negligenciados pelo próprio Estado. 31 É público e notório que os presídios não possuem instalações adequadas à subsistência humana. Celas imundas, os sistemas hidráulicos, elétricos e sanitários decadentes, combinados com apouca iluminação e a falta de iluminação, representam um perigo constante para estas mulheres, pois além de tudo sofrem com o risco biológico de contrair doenças e infecçõescausadas pelas más instalações. As presas não tem acesso a água limpa, produtos de higiene básica, como papel higiênico ou absorvente íntimo, tendo muitas que se submetem a usar miolos de pão para conter o sangramento menstrual. Ficando expostas a todo tipo de violência moral, física, psicológica. O momento de “respiro” dado a estas presas, o chamado banho de sol, na verdade não tem nada de respiro, muitos presídios possuem esgotos abertos nos pátios por onde escorrem os excrementos como fezes e urina. Sem contar na superlotação de celas, quando na verdade a própria Lei de Execuções Penais – LEP em seu artigo 88, parágrafo único, dispõe: “Art. 88. O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório. Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular: a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana; b) área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados).” Todos estes problemas impedem a realização da ressocialização destas mulheres, a instituição que se diz capaz de ressocializar, na verdade acaba se tornando um palco de abusos e abandonos. Com toda esta violência vivenciada, ao serem marginalizadas, violentadas e terem suas identidades extirpadas sendo tratadas não como seres humanos dignos e sim mais parecidas como animais, é de se esperar que estas mulheres em vez de saírem prontas para uma nova vida, caiam nos braços do crime novamente, pois tudo que conheceram está envolta de dor e revolta. É de se entender que tanto a saúde psicológica quanto a física saiam muito mais afetada do que quando ingressara na instituição. De acordo com o Ministro Edson Fachin em análise da ADPF 347 indagou que: 32 “Quando o Estado atrai para si a persecução penal e, por conseguinte, a aplicação da pena visando à ressocialização do condenado, atrai, conjuntamente, a responsabilidade de efetivamente resguardar a plenitude da dignidade daquele condenado sob sua tutela. A pena não pode se revelar como gravame a extirpar a condição humana daquele que a cumpre. Deve funcionar sim como fator de reinserção do transgressor da ordem jurídica, para que reassuma seu papel de cidadão integrado à sociedade que lhe cerca.” (2015, online) De certo, é correto afirmar que o objetivo da pena é punir, isto é óbvio, mas há mais entre objetivo de pena e objetivo do sistema carcerário do que só apenas punir. É de fácil observância que o Brasil é signatário de vários tratados cuja temática recai sobre Direitos Humanos, mas a violência nos presídios brasileiros continua sendo cotidiana, com a deficiência e violação dos direitos fundamentais das presas e a falência do Estado em operar e assegurar os serviços básicos e suas próprias leis, bem como políticas públicas. Por fim, o Estado torna-se não um agente ressocializador, mas um verdadeiro carrasco para estas mulheres que encontram-se sob sua tutela. 3.2 Violação da saúde feminina pelo estado na via carcerária O sistema carcerário brasileiro é respaldado numa lógica de encarceramento em massa, em que a forma de erradicar a criminalidade está diretamente ligada a construção de presídios e privações de liberdade. Com isto, os presídios acabam se encontrando em situações precárias e não alcançando seu objetivo de torná-las aptas para o convívio em sociedade, consequentemente não garantindo condições dignas para a recuperação desejada. Quando começamos a tratar especificamente de mulheres, conseguimos colocá-las em um local diferente dos homens, pois estas mulheres possuem peculiaridades biológicas que são ignoradas pelo Estado corriqueiramente. O que temos é uma realidade que se distancia diante da previsão legal que se encontra na nossa Carta Magna de 1988, em seu artigo 5º, XLIX, onde dispõe que: “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”. O Estado não consegue garantir a aplicação eficaz dessa lei, um dos fatores que mais atrapalha a execução desta garantia é a corrupção, causando um ciclo vicioso onde os que estão sob a tutela do 33 Estado são mantidos desprotegidos da desumanidade e das falhas do sistema punitivo. Na legislação brasileira, podemos observar que o direito à saúde é um tema com notória relevância para o legislador, ainda na Constituição Federal, em seu artigo 196: “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos”, onde a responsabilidade pela saúde é total e indiscutível do Estado, sem diferenciação. É importante salientar que até a década de 70, as mulheres só tinham direito a atendimento médico voltados à gravidez e ao parto, pois as mesmas carregavam ainda o estigma de que ser mulher é ser mãe. Em 1984, foi elaborado pelo Ministério da Saúde o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, onde foi definido que as mulheres seriam atendidas integralmente de acordo com suas necessidades em consonância com o Sistema Único de Saúde - SUS, excluindo então a visão de apenas tratar de casos de gravidez e partos. Apenas em 2004, o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher surgiu devidamente aprovado pelo Conselho Nacional de Saúde, promovendo ações para que grupos historicamente marginalizados possam ser atendidos, no qual as mulheres presas se encaixam neste grupo. Além da Constituição Federal garantindo estes direitos às presas, a Lei de Execução Penal também visa garanti-los, muitas vezes esta lei é considerada punitivista aos que a desobedecem, mas foi criada com o intuito de ressocializar. Em seu artigo 14, a Lei de Execução Penal dispõe: “Art. 14. A assistência à saúde do preso e do internado de caráter preventivo e curativo, compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico. (...) § 2º Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência médica necessária, esta será prestada em outro local, mediante autorização da direção do estabelecimento. § 3º Será assegurado acompanhamento médico à mulher, principalmente no pré-natal e no pós-parto, extensivo ao recém- nascido.” (BRASIL, 1984, online) O dispositivo possui um caráter preventivo, porém sua aplicação não acontece na prática, tornando-a meramente utópica. As mulheres acabam enfrentando uma 34 dupla punição, a de já estar privada de sua liberdade e o fato de o Estado negligenciar sua saúde por todo o tempo em que ela se encontra encarcerada. A ausência de manutenção da saúde faz com que a lei que deveria possuir caráter ressocializador, objetivando o mesmo, na verdade torna-se apenas mais uma promessa escrita em um papel de fácil destruição, e o Estado que deveria ser o principal mantenedor, acaba sendo na verdade, o principal violador. Nas penitenciárias femininas brasileiras, diversos são os problemas enfrentados pelas presas, dentre eles podemos citar alguns como: ausência de roupas limpas, alimentação adequada, higiene nas celas, iluminação, energia, o atendimento médico precário, isso quando se é oferecido, a falta de profissionais de saúde nestes lugares combinados com a falta de medicamentos pode ocasionar até a morte de alguma detenta. Importante salientar que a proliferação de bactérias nestes lugares é muito alta, ocasionando uma série de doenças contagiosas, tornando o sistema penitenciário um local caótico carente de atenção governamental e recursos. Quando falamos de saúde automaticamente remetemos à saúde física de alguém, mas também temos outro problema grave que afetam as presas, de acordo com a Irmã Petra Pfaller, da coordenação nacional da Pastoral Carcerária: “80% das mulheres presas tomam remédios para dormir, para ansiedade, elas precisam de um acompanhamento psicológico que simplesmente não existe.” (2017, online) As presas quando chegamao sistema penitenciário carregam consigo uma vasta bagagem marcada por violência de gênero, abandono social, pobreza, exclusão social, abandono familiar, falta de acesso à educação, que afetam diretamente à saúde mental delas, causando consequências devastadoras. Marcas antigas de descaso, o fato destas mulheres terem que recorrer à vida delituosa para garantir a própria subsistência ou a de seus filhos, o uso de substâncias ilícitas antes da prisão, ou até mesmo o uso de drogas lícitas como o álcool, acabam fazendo parte da rotina da maioria destas mulheres, as fazendo se sentir compelidas a tal. O isolamento social também é um dos fatores que afeta diretamente a saúde mental destas presas acarretando um grave estado de depressão, também podemos citar como fatores secundários: o tempo de isolamento, poucas visitas ou quase nenhuma da família e dos amigos, a morosidade judiciária, o afastamento causado entre elas e seus filhos. É uma situação inimaginável para pessoas que não precisam 35 enfrentar a privação de sua liberdade e os possíveis efeitos na mente destas mulheres. Ao refletir acerca da saúde nas penitenciárias femininas, é importante que enquanto for tratada como um problema de segurança pública e não como um possível reflexo social, as medidas tomadas não serão eficazes e consequentemente estas mulheres não sairão reestabelecidas e de forma diferente do sistema prisional, afundando enfim o objetivo de ressocialização dos presídios e normas jurídicas. É sabido que os presídios não possuem estrutura afim de abrigar estas mulheres. A ausência de investimentos, a população carcerária que só aumenta, acaba piorando o quadro do sistema penitenciário, aumentando também o descrédito da reabilitação destas mulheres. 3.3 Mães do Cárcere: a maternidade atrás das grades A maternidade tem sido assunto central na vida das mulheres desde o início das sociedades, historicamente falando, a mulher sempre foi vista como objeto de reprodução e reduzida ao papel de mãe e esposa. Consequentemente, a maternidade é vista quase como algo decorrente de ser mulher. Temos um cenário bastante discutido quando observamos a mulher que é mãe e que está encarcerada, de fato, o sistema penitenciário é penoso, mas para muitas a pena maior é ficar distante de seus filhos e sem poder criá-los como tanto desejam, pois apesar de tudo elas ainda sim são mães e é importante lembrar que estas mulheres não são consideradas menos mães por estarem onde estão, a sociedade ao supor que mães encarceradas não são mães acabam por adicionar-lhes penas. Um momento que deveria ser de grande alegria, atrás dos muros das prisões torna-se na verdade um pesadelo, tanto para estas mulheres quanto para seus filhos recém-nascidos. As condições degradantes das celas em que as gestantes e lactantes precisam se submeter, bem como os atendimentos médicos e remédios escassos, apenas contribuem para que esta fase vivida por estas mulheres seja uma das mais traumáticas. As instituições penitenciárias não são estreitadoras dos laços entre mães e filhos. Muitas delas têm seus filhos ainda durante seu tempo na prisão, e mesmo assim e permanecem com eles, por força de lei, às vezes por um período curtíssimo de tempo. O tempo garantido para estas mães estarem com seus filhos está disposto na 36 Resolução nº 04/2009 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, em seu artigo 2º: “Art. 2º. Deve ser garantida a permanência de crianças no mínimo até um ano e seis meses para as(os) filhas(os) de mulheres encarceradas junto as suas mães, visto que a presença da mãe nesse período é considerada fundamental para o desenvolvimento da criança, principalmente no que tange à construção do sentimento de confiança, otimismo e coragem, aspectos que podem ficar comprometidos caso não haja uma relação que sustente essa primeira fase do desenvolvimento humano; esse período também se destina para a vinculação da mãe com sua(seu) filha(o) e para a elaboração psicológica da separação e futuro reencontro.” (2009, online) Como dito na própria resolução, a fase da primeira infância que corresponderia do 0 aos 6 anos é a mais importante, pois é ali que o ser humano desenvolve sua personalidade, e tudo no ambiente externo influencia esse desenvolvimento bom ou ruim. Contudo, já sabemos que o ambiente carcerário já não possui estrutura para adultos que dirá para bebês. É inviável que uma mãe permaneça em contato com seu bebê num ambiente destes com seus filhos, com isto, duas possíveis situações podem a vir desenrolar-se. A primeira, é que estes bebês podem ser entregues a familiares ou a parentes da presa. A segunda situação, a mais difícil, é que estes bebês podem acabar em instituições para serem adotados, e por conta da morosidade do judiciário, estas mães acabam perdendo o paradeiro dos seus filhos devido ao sistema. Em 8 de março de 2016 foi promulgada a Lei nº. 13.257, conhecida como Marco Legal da Primeira Infância, considerada uma conquista para as mulheres e seus filhos, onde nos casos em que não houver nenhum parente próximo que possa cuidar de seus filhos abaixo de 12 anos, será concedido a esta mãe o direito de cuidar dos seus filhos em prisão domiciliar e não mais em prisão preventiva. A lei acaba por proteger também a seus filhos, pois a pena da mãe não deve ultrapassar e estender-se a seus filhos. Ao retornarmos para dentro dos muros dos presídios femininos, temos a criação das chamadas Unidades Materno-Infantis, localizadas dentro dos presídios com o intuito de acolher recém-nascidos e suas mães, e garantir a eles proteção e o aleitamento correto. Todavia, ainda é escasso o número de presídios que possuem este tipo de unidade em suas dependências, como podemos ver na figura 6 que 37 demonstra os dados recolhidos pelo Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – INFOPEN Mulheres. Figura 6 - Existência de berçário e/ou centro de referência em unidades femininas e mistas no Brasil. Fonte: Infopen, jun/2014. Departamento Penitenciário Nacional/Ministério da Justiça. Também foram criadas creches para que as apenas tenham a oportunidade de ficar mais tempo com seus filhos, voltadas para as mães que deram à luz, enquanto presa, ou para aquelas que foram presas poucos meses depois do parto, neste caso a criança será encaminhada para à penitenciaria por meio de autorização judicial. Segue dados recolhidos pelo Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – INFOPEN Mulheres em 2014: Figura 7 - Existência de creches em unidades femininas e mistas no Brasil. Fonte: Infopen, jun/2014. Departamento Penitenciário Nacional/Ministério da Justiça. 38 Em relação ao momento do parto, de acordo com a Lei 11.108/05, todas as gestantes tem direito a um acompanhante durante o parto, tendo o mesmo que ter sido indicado com antecedência e estar cadastrado na lista de visitantes do presídio. É necessário que o parto ocorra em situações dignas, com isto, é proibido o uso de algemas durante o trabalho de parto, no trajeto para o hospital e após o parto, de acordo com o artigo 3º, do Decreto 8.858/2016. É nítido ver a falta de confiança destas mulheres nas instituições estatais, ainda mais quando se trata de algo delicado de suas vidas que é o parto, mediante tantas histórias já contadas como mulheres que deram à luz em suas celas insalubres, ou o retardo do encaminhamento destas mulheres à um hospital e a possibilidade de perder seus filhos. Por fim, observa-se que, por mais que leis surjam ou que políticas públicas passem a ser promovidas, que tenham como objetivo proteger estas mulheres e seus filhos, reinseri-las na sociedade e reabilitá-las, os projetos precisam sair do papel, deixar de ser teoria e passar a buscar a prática efetiva destas. As práticas de saúde fragilizadas só contribuempara que este sistema continue caótico. É importante que o poder judiciário combinado com estas políticas busque soluções para garantir a estas mulheres um trabalho de parto digno de um ser humano independentemente de onde ele se encontra. 39 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ante o exposto, conclui-se que as penitenciárias femininas brasileiras são dotadas de uma triste realidade, onde as egressas sofrem com a dupla punição. A primeira punição diz respeito ao sistema judiciário que ao puni-las, acabam direcionando-as para uma instituição criada por e para homens, sem nenhuma estrutura para atender às suas especificidades. A segunda punição está diretamente ligada a sociedade machista, pois até hoje a mulher é vista como o sexo frágil, nascida e criada apenas para ser mãe, dona de casa e esposa, não sendo capaz de, ao se ver sem opção, cometer algum tipo de delito e como consequência é afastada de seus filhos e familiares. De forma clara, o preconceito consegue ultrapassar os muros das prisões e atingir o gênero feminino, atingindo da estrutura até a falta de atenção às peculiaridades femininas. De certo, é preciso que haja a efetiva aplicação das leis que existem afim de manter a dignidade destas mulheres, sem qualquer discriminação do gênero, com maior atenção advinda do Estado para que as mesmas consigam sair do sistema penitenciário ressocializadas e prontas para reintegrar a sociedade. As instituições carcerárias continuam a manter seu estado de miserabilidade, onde o sistema ainda se encontra em déficit, sofrendo com diversas crises, o que torna o objetivo de ressocializar o apenado um fracasso. Por se manter desta forma, os direitos das apenadas perdem-se neste sistema, ficando esquecidos e quando não estão esquecidos, acabam sendo negados, tornando o tempo dentro dos presídios um pesadelo, já que os meios básicos de subsistência lhe são negados e negligenciados por quem deveria garanti-los. Se para as apenadas solteiras o sistema prisional é debilitante e pesaroso, isso se transforma num peso a mais para as mulheres que já são mães, gestantes e lactantes e que precisam lidar com a distância de seus filhos, ou em relação as gestantes e lactantes ter que lidar com o medo e a incerteza de como será o parto, se dará tempo de ser levada ao hospital, ou quanto tempo poderá ficar com seu bebê de fato, se irão perder os seus filhos no sistema de adoção. Contudo, as críticas e fatos apresentados não tem por finalidade extinguir as punições dadas a quem comete delitos na sociedade, e sim chamar atenção na forma 40 com que o sistema carcerário se encontra falido e como estas mulheres que erraram enfrentam este sistema. Tendo privado além de seu direito de ir e vir, sua liberdade e seus laços familiares, também precisam enfrentar um sistema que as diminui como ser humano, as reduzindo a nada, marginalizando-as e tratando-as como a escória da sociedade. Em contrapartida, o que precisam é de atenção estatal, um meio eficiente que garanta a sua reinserção na sociedade para que não voltem a delinquir, como mostrado também precisam de apoio profissional, psicológico, de toda forma, não basta jogá-las numa cela e esperar que aquilo seja o suficiente para que não mais cometam crimes, é imprescindível que oportunidades sejam dadas. Por fim, faz-se necessário que esta problemática seja tratada com a seriedade exigida, afim de que estas mulheres sejam inclusas na sociedade, possibilitando uma maior compreensão do que as leva a cometer certos crimes e entender qual sua posição atual na sociedade que as leva a cometê-los, bem como quais são os reais motivos para que a sociedade apesar de moderna, ainda insista em manter sobre as mulheres olhares machistas e repressivos. 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ______. Decreto-Lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. 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