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SUPERVISÃO ESCOLAR UNIASSELVI-PÓS Autoria: Dr. Antonio José Müller Indaial - 2020 2ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M958s Muller, Antonio José Supervisão escolar. / Antonio José Muller. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 135 p.; il. ISBN 978-65-5646-000-0 ISBN Digital 978-65-5646-001-7 1. Supervisão escolar. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 371.2013 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES .....................................................................................7 CAPÍTULO 2 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLA ATUAL E IDEAL ...................45 CAPÍTULO 3 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA ..............................................................83 APRESENTAÇÃO Bem-vindo à disciplina de Supervisão Escolar. Uma das principais funções de qualquer sistema de supervisão escolar é monitorar a qualidade da educação, ou seja, de escolas e professores. Espera-se que esse monitoramento tenha um impacto positivo na qualidade da educação oferecida. Como tal, a supervisão faz parte de um sistema geral de monitoramento e melhoria da qualidade, que inclui outros dispositivos, como exames e testes de desempenho, e práticas de autoavaliação por escolas e professores. A supervisão é necessária para que os três componentes do processo educativo: 1) o aluno; 2) o professor e 3) a escola funcionem de maneira eficaz. Isso pode ser feito dando prioridade ou importância para o aluno, sendo este o objetivo final do processo, que deve ser adequadamente alimentado; é o professor e seu entusiasmo e boas práticas que poderá ajudar a traçar o destino do aluno; e para que a escola sirva de palco para as experiências de aprendizagem dos alunos, esta deve ser projetada de forma que possa proporcionar este ambiente e recursos de ensino e aprendizagem. Esses três elementos são indispensáveis na execução de uma escola porque eles estão entrelaçados. Na ausência de um elemento, o processo educativo não estará condicionado dentro de uma perspectiva ideal de sucesso. Bons estudos! CAPÍTULO 1 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Compreender o processo histórico da Supervisão Escolar no Brasil, permitindo uma refl exão sobre a sua situação anterior e sua infl uência na situação atual. Conhecer e debater os importantes conceitos, características e funções do Supervisor Escolar no Brasil atual. 8 SuPErViSÃo ESCoLAr 9 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO O Super-Homem (Superman) tem várias qualidades e poderes. Ele é um super-herói invulnerável, velocíssimo e de força infi nita. Uma de suas qualidades é a de possuir uma visão privilegiada, uma “super visão”. Através dessa “super visão”, ele combina variações de visão telescópica, microscópica, de calor e de transparência para executar seus atos de heroísmo e ajudar as pessoas em perigo. Supervisão signifi ca uma “super visão”, uma visão elevada de algo, uma visão amplifi cada, melhorada e privilegiada da situação. A tarefa de supervisionar tem a ver com as características do Super-Homem, não pelo aspecto de ser uma pessoa resistente e imbatível, mas sim uma pessoa que faz uso da visão para suas funções profi ssionais no auxílio às pessoas “em perigo”, sejam elas os professores, os alunos e/ou a comunidade onde a escola está inserida. Neste sentido, a supervisão escolar é humana e, por este fato, passível às fragilidades humanas. Evitar essas fragilidades é a intenção de uma boa supervisão que, por sua vez, demanda uma boa preparação e conhecimento elevado do funcionamento do sistema educacional, do relacionamento humano, da gestão democrática e da capacidade de pensar diferente para fazer a diferença. O bom supervisor deve ter essa “super visão” para executar as tarefas exigidas na sua competência, e para transformar e ousar nas mudanças que a escola, muitas vezes, exige. Não é necessário ser o Super-Homem para se ter uma visão privilegiada da situação, mas a boa preparação, o conhecimento e a liderança podem amplifi car esta qualidade, transformando o humano comum em um “Super-Visor”, capaz de fazer a diferença entre a escola comum e a escola de qualidade. Veremos neste primeiro capítulo uma breve explanação do surgimento da supervisão, o contexto histórico da supervisão escolar no Brasil e sua transferência para o ambiente escolar. A história, neste caso, torna-se imprescindível, não apenas para conhecer os fatos, mas sim para signifi car ideias e conceitos de antigamente. Para Henri-Pierre Jeudi (1995), “a história é o fruto da própria produção dos acontecimentos e assim se constrói a antecipação da continuidade”, ou seja, a história se torna muito mais interessante e importante quando articulada com os erros e acertos verdadeiros que aconteceram na tentativa de explicar a situação atual dos fatos e consequentemente da supervisão. Você verá também as defi nições dos conceitos relevantes que devemos entender para então percebermos as funções e a importância do supervisor na escola atual. Mais do que isso, discutiremos as difi culdades da profi ssão e 10 SuPErViSÃo ESCoLAr especialmente as qualidades que fazem do supervisor o grande responsável pela boa educação, tão necessária em qualquer sociedade evoluída. 2 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES Iniciaremos esta parte do capítulo com um pouco de história sobre a supervisão escolar no Brasil, posteriormente, defi nições e conceitos sobre supervisão, e, ainda, a importância do supervisor e suas funções na escola atual. Vamos lá? 2.1 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO BRASIL – UMA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA O conceito de supervisão surgiu com o fenômeno da Revolução Industrial iniciada em meados do século XVIII na Inglaterra e expandida para outras partes do mundo no início do século XIX e que tem projeções até os dias de hoje em todo o mundo. Nesta fase de desenvolvimento social, econômico e tecnológico, as indústrias transformaram a produção de maneira artesanal para a técnica, com a utilização de máquinas em maior escala. Os trabalhadores, que anteriormente trabalhavam “para si” na agricultura familiar ou em pequenas comunidades em manufaturas, voltaram seus esforços na busca de salário, trabalhando para outras pessoas que buscavam transformar a matéria-prima em produtos comerciais, atingindo, assim, os lucros do capitalismo. Dentro dessa realidade, foi preciso criar uma função para controlar as atividades produtivas exigidas pelos patrões. Vigiar, controlar e punir eram as atribuições que uma determinada pessoa exercia sobre outros durante o processo produtivo. Esta função era, portanto, a de supervisionar o trabalho dos funcionáriosem suas atividades diárias nas fábricas na busca de um objetivo comum e orientado. 11 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES Capítulo 1 Com o surgimento das complexas organizações sociais e comerciais, vieram as defi nições de poder e controle sobre a massifi cação do trabalho. Foram criados cargos de controle e de gerenciamento das atividades. Posteriormente, esses cargos também foram adotados fora das fábricas em outras atividades humanas organizadas, como os exércitos, as associações sociais e esportivas e as escolas. O controle das atividades escolares realizado por um responsável surgiu na metade do século XIX nos Estados Unidos, ainda sem a preocupação de melhorar a qualidade da gestão educacional ou preparação de professores, tendo unicamente a intenção de fi scalizar o trabalho (RANGEL, 2000). A supervisão escolar, no Brasil, surgiu com a Reforma Francisco Campos (Decreto-Lei nº 18.890, de 1931). A intenção da lei era a de implantar novas possibilidades pedagógicas e desconsiderar os aspectos de fi scalização. Com a lei de caráter da preparação cientifi ca, surgem os chamados especialistas em educação, entre eles o supervisor. O trabalho de supervisão continuou a partir da criação da Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES), por meio do Decreto- Lei nº 34.638, de 14 de novembro de 1953, transformando-se em uma aliança entre Brasil e EUA, cuja fi nalidade era a melhoria da qualidade do ensino, utilizando-se para tanto o treinamento de recursos humanos (SAVANI, 1993). Saviani (1993) comenta que este programa chamado de Programa de Assistência Brasileiro-Americana ao Ensino Elementar (PABAEE) tinha por objetivo ‘treinar’ os educadores brasileiros a fi m de que estes garantissem a execução de uma proposta pedagógica voltada para a educação tecnicista, dentro dos moldes norte-americanos. O PABAEE teve a sua origem voltada à assistência e formação de professores leigos. “Tais alterações, nos seus fundamentos, geraram mudanças profundas na maneira de encarar a tarefa educativa e na compreensão da escola como local especializado para conduzir o processo educativo” (FERREIRA, 2000, p. 167). Na década de 1960, com a Lei 4.024/1961, atribui-se atenção maior ao que se referia aos técnicos em educação. A partir desta lei, foram criados setores especializados nas escolas. Seguindo esse conceito, Maldonado (2003, p. 7) comenta que “na proposta pedagógica do PABAEE, o mais importante não era o conteúdo, mas o meio, ou seja, o como ensinar, a partir do interesse da criança. As orientações do PABAEE predominaram até 1964”. Após o golpe militar de 1964, o governo realizou reformas de ensino, com o objetivo de ajustar a educação à nova situação. E 12 SuPErViSÃo ESCoLAr é neste contexto que o Conselho Nacional de Educação aprova o Parecer 252, incorporado à Resolução nº 2, de 12 de maio de 1969, que reformulou os cursos de Pedagogia, instituindo as habilitações em administração, inspeção, supervisão e orientação, e prevendo a existência da Supervisão Pedagógica para, além das quatro primeiras séries, as quatro últimas, ou seja, o, então, ginásio (MALDONADO, 2003, p. 7). Pela primeira vez na história educacional do Brasil, buscava-se a formação profi ssional para cargos da administração escolar. Santos (2006, p. 22) discute que “esta lei inseriu a formação de profi ssionais destinados a funções não docentes, isto é, profi ssionais que não atuavam em sala de aula, mas sim em cargos relativos à administração da escola”. Em 1971, a Lei nº 5.692 trouxe a necessidade de preparar pessoal específi co a exercer a função de supervisor. Para tanto, surgiram cursos superiores que formaram os primeiros Supervisores Educacionais. Nos anos 1980, contudo, as funções de controle e fi scalização do supervisor não combinavam com as novas tendências libertárias dos grupos ativos que exigiam uma nova educação. O país estava cansado de tanto controle e fi scalização promovidos pela repreensão e pela herança de anos de controle do sistema político, social, econômico e educacional através de militares. De acordo com Maldonado (2003), a exagerada valorização da qualidade através do uso da técnica, como garantia da efi ciência, foi contestada pelos movimentos de transformação que emergiram nos anos 1980, como reação à repressão generalizada, vivida durante quase vinte anos, por uma sociedade que, então, sonhava com a liberdade. A década de 1980 foi marcada pelo 'movimento crítico' da Educação que apontou os 'especialistas do ensino', mais especifi camente os supervisores, como responsáveis pelo insucesso escolar. [...] Na complexão da análise do capitalismo e seus desdobramentos, a especialidade isola, desarticula, setoriza e sectariza os serviços e as atividades escolares, desconectando-as entre si e com a problemática social (FERREIRA, 2000, p. 72). As tendências de supervisão como contexto de controle baseada em Frederick Taylor e as tendências educativas de John Dewey utilizadas até então, estavam dando passagem à educação transformadora, ou quem sabe, à crítica da própria educação nos moldes que esta estava sendo realizada. A função de supervisor foi extinta, deixando a educação ainda mais desarticulada e sem os princípios pedagógicos (técnicas de ensino e currículo) e profi ssionais (formação continuada dos professores) que o supervisor anteriormente determinava. 13 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES Capítulo 1 No fi nal dos anos 1980, início dos anos 1990, nascem alguns novos conceitos e tendências pedagógicas. A palavra de ordem era transformação e esta ideologia se dispersava nos discursos dos responsáveis pela escola. A necessidade de mudança de alguns paradigmas era necessária, para se pensar em um novo modo de fazer educação. Novas fi losofi as educacionais foram adaptadas pelas instituições de ensino baseadas na formação para a cidadania. As escolas então buscavam referências em Freinet, Piaget, Vygotsky, Giroux, Foucault, Gardner, entre outros, e especialmente, Paulo Freire, para contextualizar suas práticas educativas em uma escola que estava em ebulição. A escola, nesse momento, é vista como lugar dinâmico, ativo, no qual os processos de ensinar e aprender são processos dialéticos e que dependem de todos os membros da comunidade escolar, instituindo, assim, que o professor, os alunos e, consequentemente, a supervisão escolar têm papel relevante para essa mudança (MEDINA, 2002). Na década de 1990 ressurge o debate sobre o valor da supervisão, apontada como um dos instrumentos necessários aos processos de mudança nas escolas, que, por sua vez, repetia as mudanças sociais e políticas do país. Contudo, a educação, como aparelho de um sistema político, ainda enxergava na fi gura do supervisor, um mero intermediário na implantação de novas propostas curriculares amplamente divulgadas pelos órgãos ofi ciais (FERREIRA, 2000). Essa articulação era a principal realização do supervisor e somente nos anos 1990, essencialmente após a LDB, que a importância do cargo de supervisor foi colocada novamente em evidência e onde se começava a dissimular a ideia da gestão democrática nas escolas. O incentivo à participação dos profi ssionais na elaboração do projeto de ensino muda a confi guração das relações de trabalho na escola baseada, até então, na concentração do poder e na centralização das decisões. A descentralização, dentro das escolas públicas, interfere diretamente na coordenação das ações e no planejamento (MALDONADO, 2003, p. 13). Com isso, a combinação de tarefas estava fi nalmente determinada com a gestão democrática e a interação dos trabalhos com objetivos concretos e dirigidos. O conceito de gestão democrática trouxe a possibilidade da participação dos profi ssionais da educaçãopela condução das tarefas em busca de uma educação de qualidade, mas mesmo nos dias atuais, o desafi o está em “como” e “por que” trabalhar este ou aquele assunto ou programa, respeitando o currículo engessado pelo sistema nacional ou, ainda, como preparar as próximas gerações para 14 SuPErViSÃo ESCoLAr serem cidadãos atuantes e críticos, uma vez que a sociedade ainda exige uma educação preparatória ao trabalho ou apenas na preparação para entrarem nas universidades, leia-se preparação ao vestibular. A história mostra isso e na própria história se busca soluções aos problemas atuais. A história, portanto, mostra incoerências e indefi nições que interferem na ação supervisora dentro da escola, sobretudo na relação da supervisão com o professor. Da mesma forma que a supervisão, a atual organização do trabalho escolar, também mostra características semelhantes àquelas que caracterizaram a escola dos anos 1980. Apesar da existência dos Projetos Políticos-Pedagógicos, os modelos organizacionais administrativos e pedagógicos atuais ainda têm se apoiado no material didático e em estratégias, que chegam às mãos dos professores, prontos para serem executados, desconsiderando-se as diferenças regionais, locais e específi cas de cada escola. Uma equipe pensa e outra executa, mantendo-se, desta forma, a fragmentação do processo educacional. Em dezembro de 2017, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) foi homologada pelo Ministério da Educação, correspondente às etapas da Educação Infantil e Ensino Fundamental, e em dezembro de 2018, foi a vez da homologação da BNCC do Ensino Médio. A BNCC não descreve as funções do supervisor na escola, mas direciona aos gestores o desenvolvimento da educação a partir da discussão do currículo. Nessa discussão, o papel do supervisor e de toda direção da escola deve ser exímio para garantir a evolução dos alunos que se pretende servir. A gestão da escola tem a oportunidade de rever o currículo e adequá-lo às necessidades dos alunos de acordo com as suas características e interesses locais. Uma das possibilidades em que a BNCC pode fazer a diferença na escola é na construção do Projeto Político-Pedagógico (PPP). No momento de discussão do PPP, a direção se torna parceira da comunidade, pois o documento pode e deve ser construído com a participação não apenas da direção e professores, mas também de toda a comunidade escolar, em especial os alunos e os pais destes alunos. Para Souza (2016), esta é uma ótima ocasião para favorecer o protagonismo dos educadores na tomada de decisão sobre qual cidadão queremos formar. O conhecimento dos profi ssionais de ensino poderá nortear a análise dos documentos ofi ciais, pois o saber construído por eles no diálogo cotidiano é precioso e único dessa experiência. Agregar pais e o conselho escolar também é necessário e fundamental para que eles possam saber mais sobre como a escola pretende melhorar a qualidade de ensino e de aprendizagem dos alunos. Da mesma forma, a BNCC traz as sugestões para o desenvolvimento das competências dos alunos nas três etapas do ensino básico (Infantil, Fundamental 15 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES Capítulo 1 e Médio) e inclui unidades temáticas, objetos de conhecimentos, objetivos de aprendizagem e habilidades especifi cas, para as áreas de conhecimento e para cada ano escolar. Contudo, o documento será inoperante caso os professores o utilizarem de forma limitadora, buscando apenas repetir os conteúdos sugeridos e não levarem em conta a realidade dos alunos. O currículo deve considerar a realidade da escola e de sua comunidade, os saberes específi cos da região, mas também o acesso a conteúdos essenciais para o desenvolvimento educacional dos alunos, em qualquer lugar do território nacional. Para isso, estar atento ao andamento da Base Nacional faz toda a diferença (SOUZA, 2016). Estas questões são intrigantes e de difícil resposta. No entanto, as respostas para estas questões estão na cooperação de trabalhos entre os responsáveis pela educação na escola. Essa articulação pretende proporcionar a educação de forma construtiva e ao mesmo tempo transformadora, que se considera a ideal. Para se chegar a este nível, a educação necessitava, e ainda necessita, de articulação entre os professores e alunos, entre os professores e a direção, ou entre a comunidade e a escola. FERREIRA, N. S. C. Supervisão educacional: uma refl exão crítica. Petrópolis: Vozes, 2007. 1 Faça uma pequena comparação entre as tendências de supervisão como contexto de controle baseada em Frederick Taylor e as tendências educativas de John Dewey. R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________. 16 SuPErViSÃo ESCoLAr 2.2 O QUE É SUPERVISÃO ESCOLAR? CONCEITOS E DEFINIÇÕES A palavra supervisão é derivada do latim supervideo, que signifi ca visão superior, uma visão de cima para baixo; é uma visão de controle e de vistoria. Em termos de supervisão de pessoas, para Harries (1987), “a supervisão é o processo pelo qual um trabalhador recebe a função da instituição de trabalhar com outro funcionário ou funcionários com o propósito de atingir certos objetivos organizacionais, profi ssionais ou pessoais que, juntos, promovem os melhores resultados para os usuários do serviço”. Muitas pessoas confundem administração e supervisão escolar. Ambas fazem parte da gestão escolar, contudo, devem ter características totalmente diferentes no próprio processo de gestão adequada. Devemos entender que as funções e as atuações são diferentes na escola. Enquanto a administração trata de questões fi nanceiras e de comando da escola, a supervisão trata de questões pedagógicas. A nomenclatura e as responsabilidades do trabalho também podem diferir de estado, município ou de cada escola. Em alguns lugares, a administração e a supervisão da escola podem ser dois cargos diferentes. Em outros lugares, a administração e a supervisão da escola são duas funções do mesmo cargo e, geralmente, estão no domínio de diretores e vice-diretores. Assim, a defi nição de administração e supervisão educacional geralmente depende de cada local. Geralmente, a administração escolar envolve tarefas que envolvem o negócio de manter uma escola funcionando, enquanto a supervisão escolar envolve a gestão de professores e alunos nos aspectos acadêmicos. 2.2.1 O que é administração educacional? A administração educacional abrange uma variedade de cargos, incluindo diretores, vice-diretores, superintendentes, chefes de departamento, administradores de programas e os cargos de outros funcionários da escola e das secretarias de educação, em posições de liderança. A única coisa que todos esses trabalhos têm em comum é que eles são cargos de gerência. Sem este trabalho de bastidores no lado organizacional da educação, as escolas não poderiam funcionar. 17 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES Capítulo 1 2.2.2 Quais são os deveres de um administrador da escola? Os administradores das escolas geralmente se concentram nas coisas que dão respaldo e que mantêm a escola funcionando. Uma das principais tarefas de um administrador de escola é defi nir o orçamento de uma escola. É seu trabalho contabilizar os recursos, seja ele privado, municipal, estadual ou federal. Ele também decide como gastar esses recursos. Outro dever da administração da escola é gerenciar os professores e funcionários e ajudar na deliberação sobre o currículo. A administração em nível escolar ajuda a garantir que o currículo seja implementado corretamente na escola, em seus aspectos legais. Alguns administradores tambémajudam na elaboração dos regimentos disciplinares, avaliativos e didáticos. Os administradores ajudam os professores, fornecendo a eles as ferramentas necessárias para ter sucesso nas salas de aula. Os administradores também implementam ações disciplinares quando as situações com os alunos vão além das capacidades de um professor na sala de aula (RENNER, 2019). 2.2.3 O que é supervisão escolar? Em muitos lugares, as defi nições de administração e supervisão educacional são as mesmas. Algumas escolas e secretarias simplesmente usam administração e supervisão de maneira equivalente. No entanto, pode haver algumas diferenças. Como já vimos, supervisionar alguém signifi ca vigiá-lo e direcionar suas ações. A supervisão de qualquer escola normalmente se refere à melhoria da situação total de ensino-aprendizagem e das condições que as afetam. É um projeto de funções socializadas para melhorar a instrução, trabalhando com os profi ssionais que trabalham com os alunos. Para Aggarwal e Sachdeva (2007), a supervisão também pode ser defi nida em termos de funções e propósitos para os quais deve ser usado como: a) habilidades de liderança; b) habilidades em recursos humanos; c) habilidade no processo do grupo; d) habilidade na administração de pessoal; e) habilidade na avaliação. 18 SuPErViSÃo ESCoLAr 2.2.4 Quais são os deveres de um supervisor escolar? Embora as defi nições de administração e supervisão educacional sejam frequentemente equivalentes, às vezes seus deveres não são os mesmos. Além dos deveres de um administrador da escola, os supervisores da escola podem trabalhar diretamente com os funcionários da escola para ajudá-los a fazer melhor seu trabalho. A menos que indicado de outra forma em uma descrição do trabalho, a supervisão geralmente implica interação pessoal direta com as pessoas que estão sendo gerenciadas, na maioria das vezes professores. 2.2.5 Qual é a diferença entre administração e supervisão? A diferença entre os cargos de administração e supervisão se resume às defi nições estabelecidas pelas escolas, secretarias municipais e estaduais. Para alguns, há muita sobreposição. Para outros, administração e supervisão são dois empregos diferentes, e para outras instituições, administração e supervisão são sinônimas (RENNER, 2019). Os administradores e os supervisores das escolas estão lá para facilitar o trabalho dos professores. Eles se concentram nos detalhes para que os professores possam trabalhar com qualidade. 1 Sobre as características de função entre o Administrador e o Supervisor na escola, preencha o quadro relacionando as principais diferenças entre as funções: Comparação Administrador Supervisor O que representa? O que faz na organização? Qual é a sua função? 19 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES Capítulo 1 2.2.6 Tipos de Supervisão Escolar • Tipo “Laissez-faire”: essa expressão, em francês, signifi ca “deixar fazer, livremente”. Esse tipo de supervisão utiliza métodos de supervisão inspecional sem auxílio de nenhum controle objetivo, no qual os professores são observados, mas é feita uma anotação para ajudá-los a melhorar o trabalho que estão realizando. Em outras palavras, “os professores são deixados livres”, não devem ser impostos ou dirigidos. • Tipo coercitivo ou autoritário: esse tipo de supervisão é o oposto do laissez-faire. O supervisor visita os professores para observá-los. Os professores usam procedimentos ou normas e regras prontas, prescritas pelos supervisores. Nesse tipo de supervisão autocrática, a ação autoritária do supervisor é priorizada. É ele que determina ordens, sugestões e direções para o processo de ensino-aprendizagem. Desta forma, o supervisor se impõe pela autoridade e intimidação, ao invés de desenvolver um espírito de participação e democracia com o professor. Esse tipo de supervisão limita as possibilidades de desenvolvimento da instituição escolar como um todo. • Tipo treinando e orientando: esse tipo de supervisão enfatiza as melhorias dos professores, bem como suas técnicas de direção, treinamento e orientação. Procura evolução dos professores e colaboradores através da formação continuada, global ou específi ca. • Tipo liderança democrática: consiste na cooperação do professor na formulação de políticas, planos e procedimentos. O supervisor observa o professor dentro da sala de aula com o objetivo de melhorar a situação de ensino-aprendizagem por meio de processo de cooperação ou ação em grupo. Os professores, supervisores e administradores são considerados colegas de trabalho em uma tarefa comum (AGGARWAL; SACHDEVA, 2007). 1 Baseado nos tipos de supervisão que você viu, descreva qual(is) o tipo(s) adequado(s) de supervisão para as nossas escolas: R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________. 20 SuPErViSÃo ESCoLAr Na escola, esta defi nição é limitada e explicativa e gera outros argumentos relacionados às características específi cas da supervisão para a escola. No caso da supervisão voltada à escola, os conceitos de vistoria ou fi scalização, que apesar de historicamente apresentarem estas características, não são mais cabíveis na supervisão moderna. Nos conceitos atuais, o supervisor deve sim orientar, coordenar e ajudar a equipe que comanda (ANDRADE, 1976). Podemos dizer sim que o supervisor faz uso da “visão superior”, como um modo avaliativo, perceptivo ou de acompanhamento. Contudo, esta observação deve ter a condição de tirocínio e que gere outra ação criadora ou modifi cadora de algo que deve ser revisto ou desenvolvido. Tirocínio: aprendizado, experiência, prática adquirida no exercício de uma atividade ou necessária ao exercício de uma profi ssão, capacidade de discernimento. Para Gozum et al. (2017), a supervisão escolar tem características que dão ênfase ou foco em dimensões específi cas: • Ênfase na Administração: supervisão é o que o pessoal da escola faz com adultos (professores, funcionários e pais) e outras coisas para manter ou alterar o funcionamento da escola, a fi m de infl uenciar diretamente a consecução dos principais objetivos da educação. • Ênfase no currículo: a supervisão geral denota atividades como a redação e revisão do currículo, a preparação de unidades e materiais de instrução, o desenvolvimento de processos e instrumentos para relatar aos pais e preocupações tão amplas como a avaliação do programa de educação total. • Ênfase na Instrução: a supervisão da instrução é direcionada para manter e melhorar o processo de ensino-aprendizagem da escola. • Ênfase em Relações Humanas: presume-se que o comportamento de supervisão instrucional seja um sistema de comportamento adicional formalmente fornecido pela organização com o objetivo de interagir com o sistema de comportamento de ensino de maneira a manter, mudar e melhorar o fornecimento e a atualização de oportunidades de aprendizagem para os alunos. 21 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES Capítulo 1 • Ênfase na Liderança: a supervisão é ensinar aos professores como ensinar e a liderança profi ssional a reformular a educação pública, mais especifi camente, seu currículo, seu ensino e suas formas. • Ênfase na Avaliação: os supervisores são envolvidos regularmente na avaliação por meio da avaliação de programas, processos e pessoas. Como se percebe, supervisão tem defi nições variadas e, consequentemente, as interpretações acerca do desenvolvimento de uma ação criadora e modifi cadora também se traduz em algo variável e de difícil mensuração, o que pode causar confusões e limitações. O maior desafi o, contudo, está no fato dos envolvidosno processo educacional, inclusive o próprio supervisor, não saberem exatamente as suas funções na escola. O propósito deste trabalho é o de contribuir na busca destas respostas, pois para se fazer uma atividade bem-feita, precisamos estar cientes das funções de cada componente no organograma da escola, desde o operacional até a diretoria. É preciso defi nir a função exata antes, durante e depois dela. Esses critérios também são emprestados da hierarquia empresarial. Basicamente, o supervisor tem as funções de: • Acompanhar o processo de ensino e aprendizagem. • Orientar professores. • Diagnosticar a condição social e educacional dos alunos. • Dinamizar a construção e acompanhamento do projeto pedagógico da escola. • Coordenar projetos educativos na escola. • Encaminhar alunos com difi culdades a fi m de obter laudos e relatórios que auxiliem na identifi cação das causas da difi culdade de aprendizagem. • Elaborar os planos de intervenção. • Elaborar a construção do planejamento estratégico. • Aproximar a família da escola. Se os conceitos de supervisão têm diversos entendimentos, supervisão escolar gera ainda mais discussão. A difi culdade de defi nição de supervisão em relação à educação também se origina, em grande parte, de resolver problemas teóricos sobre o ensino. Simplesmente, não temos conhecimento sufi ciente do processo de ensino. Nossas teorias de aprendizagem são inadequadas, os critérios para medir a efi cácia do ensino são imprecisas, e existe um profundo desacordo sobre o conhecimento, isto é, qual o currículo é mais valioso para ensinar. Quando conseguirmos maior compreensão do que e como ensinar, e quais os resultados especiais aos alunos, teremos então uma defi nição menos vaga sobre a supervisão na educação (MOSHER; PURPEL, 1972, p. 3). 22 SuPErViSÃo ESCoLAr Supervisão escolar ainda pode ser defi nida como um serviço prestado à instituição de ensino, mais precisamente aos professores, com o objetivo de melhorar a instrução, tendo o aluno como o benefi ciário fi nal. O supervisor é uma pessoa treinada para auxiliar outros funcionários na boa prestação de serviço de acordo com um modelo conceitual. Ele ou ela deve ser um idealista na constante busca da compreensão do sentido da Educação e sua importância na vida moderna. Entre essas defi nições, uma que se pode considerar como realista e bastante fundamentada é que: A supervisão implica numa visão de qualidade, inteligente, responsável, livre, experiencial, acolhedora, empática, serena e envolvente de quem vê o que se passou antes, o que se passa durante e o que se passará depois, ou seja, de quem entra no processo para compreendê-lo por fora e por dentro, para atravessá-lo com o seu olhar e ver para além dele numa visão prospectiva baseada num pensamento estratégico (ALARCÃO; TAVARES, 2003, p. 45). A escola atual necessita de um supervisor que não só atenda às exigências do Sistema Nacional de Ensino, mas especialmente que preste suas habilidades no planejamento, no desenvolvimento e na avaliação escolar, além de promover o melhor desempenho docente. Essas habilidades podem ser amplifi cadas com a inclusão da importância da função de aplicação e organização de tarefas. O supervisor visualiza o problema, visualiza o atendimento, visualiza a formação docente, mas essencialmente pensa e age na busca interminável, incansável e até estressante de uma educação de alto nível. Na função supervisora, o bom profi ssional deve ser o apoio dos outros profi ssionais da educação no objetivo maior de construir e aprimorar o cotidiano do trabalho escolar. Por mais estressante que seja, a busca da qualidade deve ser o parâmetro para o bom funcionamento da escola e o aprimoramento das atividades oferecidas, pois, de acordo com Przybylski (1991), “a boa supervisão tem a intenção de liberar as energias das pessoas buscando a criatividade na solução de problemas comuns e individuais”. Por outro lado, a supervisão apropriada tem produzido bons efeitos quando bem aplicada, refl etindo no resultado positivo pela qual a escola existe e se propõem, ou seja, o desenvolvimento social e acadêmico do aprendiz. Indicamos a leitura do artigo “A identidade do supervisor pedagógico: um processo em construção”. Disponível em: https://www.anpae.org.br/simposio2011/cdrom2011/PDFs/ trabalhosCompletos/comunicacoesRelatos/0066.pdf. 23 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES Capítulo 1 2.3 A IMPORTÂNCIA E AS CARACTERÍSTICAS DO SUPERVISOR ESCOLAR A importância da supervisão se confunde e se completa na própria importância da educação. A boa educação deve ser algo que acontece pela elaboração e execução dos projetos, assim como a educação efi ciente e efi caz acontece pela motivação e competência dos envolvidos. Educação abrange outros aspectos tão importantes quanto a própria didática ou a preparação dos professores. A Educação é algo difícil de mensurar, complicada de aplicar e extremamente difícil de estabilizar. Uma vez que se descobre a verdadeira Educação, percebe-se suas difi culdades, seus benefícios e seus infi nitos caminhos. Apesar disso, é incontestável que as pessoas buscam o desenvolvimento humano com o desafi o de aprender e assim serem conhecedores de si e do mundo que os cerca. A Pedagogia foi e é estudada há séculos. Grandes fi lósofos e educadores já expuseram suas defi nições sobre o assunto e atualmente fazemos uso destas teorias numa combinação de ideias anteriores para uma prática dentro da realidade local (cultural e social) e que seja ao mesmo tempo útil, interessante e transformadora ao aluno. Como vemos, apesar de ideias geniais, práticas superinteressantes e utilização da tecnologia e investimentos cada vez maiores, ainda não conseguimos aplicar uma educação de qualidade para todos e em todos os níveis, mas o que signifi ca qualidade na educação? Como se percebe qualidade? Qualidade é um conceito subjetivo e difícil de mensurar em Educação. Existem hoje no Brasil e fora, conceitos que medem através de testes, o índice de conhecimento dos alunos. Testes nacionais como o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) ou internacionais com o PISA (Programme for International Student Assessment ou Programa Internacional de Avaliação do Estudante, que mede a efi ciência escolar em 65 países) avaliam e comparam estudantes entre si, porém, a educação é muito maior do que isso e o conhecimento não é limitado à linguagem ou à lógica, que normalmente são medidos pelos testes citados. Precisamos sim ter parâmetros mais verdadeiros. Com o PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação), lançado em 2007, tivemos algum avanço, sobretudo quando o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) foi introduzido. O PDE compôs um conjunto de medidas e projetos fortemente ancorados na ideia de que devemos ter parâmetros, medir, contar, quantifi car (GADOTTI, 2009). 24 SuPErViSÃo ESCoLAr O conceito de qualidade da educação é “polissêmico”: do ponto de vista social, a educação é de qualidade “quando contribui para a equidade; do ponto de vista econômico, a qualidade refere-se à efi ciência no uso dos recursos destinados à educação” (DOURADO, 2007, p. 12). Com base nas defi nições anteriormente apresentadas, é possível entender algumas das características que deliberam as competências do supervisor. Alarcão e Tavares (2003) apresentam as características essenciais ao supervisor para exercer as suas funções: a) sensibilidade para se aperceber dos problemas e das suas causas; b) capacidade para analisar, dissecar e contextualizar os problemas e hierarquizar as causas que lhes deram origem; c) capacidade para estabelecer uma comunicação efi caz a fi m de perceber as opiniões e os sentimentos dos professores e exprimir as suas próprias opiniões e sentimentos; d) competência em desenvolvimento curricular e em teoria e prática de ensino; e) skill(habilidades) de relacionamento interpessoal; f) responsabilidade social assente em noções bem claras sobre os fi ns da educação. Essas características podem ser utilizadas na função do supervisor escolar, pois não se distinguem, pelo contrário, confi rmam as funções de uma boa supervisão. Vieira (1993 apud OLIVEIRA, 2008, p. 19, grifos nossos) cita cinco funções fundamentais à atuação do bom supervisor: Informar. O supervisor deve ser uma pessoa informada e ter sempre presente a importância de partilhar informação relevante e atualizada aos professores e alunos, enriquecendo o processo de ensino-aprendizagem. Questionar. O supervisor deve problematizar o saber e a experiência adquiridos, através de interrogações que questionem a realidade observada, tentando encorajar o professor a uma postura de refl exão, como pessoa que questiona a sua prática profi ssional, procurando soluções alternativas. Sugerir. Com base nas funções anteriores, o supervisor pode partir para a sugestão de ideias, práticas e soluções, tendo sempre em consideração o poder de decisão do formando e visando sua responsabilização por atividades, projetos, dinâmicas, avaliações etc. Encorajar. O supervisor deve investir num relacionamento interpessoal baseado em sugestões que motivem o professor a evoluir e a melhorar as suas práticas educativas, sendo fundamental a afetividade em todo este processo de crescimento não só profi ssional, mas também pessoal e social. Avaliar. Tendo em conta a importância da avaliação de caráter formativo e não apenas de classifi cação, avaliar a prática 25 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES Capítulo 1 pedagógica do professor deve ser um fator de abertura e clarifi cação de um fator essencial e imprescindível ao processo de formação profi ssional. A importância do supervisor não está na defi nição de conceitos ou teorias e sim na capacidade individual de bem aplicar as suas funções. A supervisão educacional gera interpretações variadas dos acontecimentos que devem trazer à tona a realidade escolar e os paradigmas da solução pertinente. Segundo Paulo Freire (1994, p. 161), “transformar ciência em conhecimento usado apresenta implicações epistemológicas porque permite meios mais ricos de pensar sobre o conhecimento”. Esta interpretação epistemológica deve gerar uma práxis construtiva em busca de uma escola efi ciente. A educação moderna propõe, com sabedoria, que a qualidade educacional passe pela associação entre a gestão democrática e avaliação, com a participação da sociedade. Mais ainda, a reinvenção da educação passa obrigatoriamente pela organização do trabalho pedagógico. A organização das atividades, da prática educativa, da avaliação constante e justa, além da motivação dos envolvidos no árduo trabalho exigido para quem acredita na educação. 1 Sobre as cinco funções fundamentais do supervisor escolar, faça uma análise destas funções, dentro da sua perspectiva pessoal: Informar: R._____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________________________________. Encorajar: R.:____________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________. Questionar: R.:____________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________. Sugerir: 26 SuPErViSÃo ESCoLAr R.:____________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________. Avaliar: R.:____________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________. 2.4 FUNÇÕES DO SUPERVISOR ESCOLAR Seguindo com o princípio proposto neste estudo de buscar melhor defi nição para então melhor compreender as funções da supervisão escolar, é importante revermos o que diz a legislação atual e direta sobre a formação e a função do supervisor. Pretende-se também exemplifi car as funções da supervisão fazendo uso de autores que resumem as características fundamentais destes tipos que se tornam úteis neste estudo e que veremos a seguir. O supervisor escolar tem todo o seu trabalho baseado na organização, seja ela para resolver problemas, para o bom andamento das atividades e serviços pedagógicos, ou para a construção de novas possibilidades. A organização está apoiada nos conceitos de planejamento que devem aumentar a importância (empower) das pessoas e que os envolvidos tenham infl uência nas decisões, importância no sistema e que o objetivo se transforme em algo geral e não pessoal ou limitado. Empower - aumentar a importância, dar maior poder. Supervisores executam uma grande variedade de tarefas, que podem ou não incluir funções administrativas. O supervisor deve ser cumpridor das funções de coordenador, consultor, líder do grupo e avaliador dentro dos domínios do desenvolvimento instrucional, curricular e pessoal. O supervisor deve possuir 27 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES Capítulo 1 características pessoais que irão permitir-lhe trabalhar de forma harmoniosa com as pessoas e os conhecimentos e habilidades sufi cientes para executar todas as funções de forma efi caz. Liderança e habilidades de comunicação interpessoal parecem ser especialmente importantes para a supervisão de sucesso. Os supervisores devem possuir uma mistura sensata de técnicas, gerenciais e habilidades de relações humanas. Oliveira (2008) quantifi ca e qualifi ca muito bem as funções do supervisor levando e consideração toda a pluralidade da supervisão em face de questões como: (1) relação entre teoria e prática; (2) formação e investigação; (3) noção de conhecimento (como saber construído e transmissível ou construção pessoal de saberes); (4) papéis do supervisor e do professor; (5) noções de educação e de formação de professores e (6) assunção da escola como centro de formação. É óbvio que os vários cenários apresentados não se excluem mutuamente; pelo contrário, interpenetram-se. Cada um lança olhares diferentes, histórica e culturalmente contextualizados, sobre o mesmo fenômeno: a supervisão como processo intrapessoal e interpessoal de formação profi ssional que visa à melhoria da educação nas escolas (ALARCÃO; TAVARES, 2003, p. 41). A legislação vigente, que apesar de limitadora, procura colocar o cargo de supervisor como algo imprescindível para o Sistema Nacional de Educação e defi ne a função profi ssional e suas atribuições. A legislação atual que rege sobre a supervisão escolar é a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394, de dezembro de 1996) e o PLC nº 132, de 2005 (Projeto de Lei da Câmara), que foi derivado da Lei 132/1978. Ambos descrevem os processos de formação e atividades da supervisão escolar. A LDB, em seu Artigo 64, determina na íntegra que: A formação de profi ssionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional (BRASIL, 1996, s.p.). Como se pode perceber, a legislação descreve a formação do supervisor para que possa atuar na função. Determina, portanto, os pré-requisitos que este tenha graduação em pedagogia, ou que após alguma graduação, o profi ssional tenha uma pós-graduação no mínimo em nível de especialização (lato-sensu) na área específi ca. 28 SuPErViSÃo ESCoLAr Por sua vez, a LDB não determina as atividades e obrigatoriedades dos cargos administrativos daescola, o que causou, e ainda causa, alguma difi culdade nas especifi cidades de cada profi ssional. Não raro se percebe o diretor exercendo atividades que seriam de competência do supervisor ou o supervisor executado atribuições que seriam específi cas do professor. Para dissipar estas dúvidas, um Projeto de Lei foi elaborado em 2005 com base na Lei nº 132, de 1978, e na própria LDB. As atribuições do Supervisor Educacional estão descritas no PLC (Projeto de Lei da Câmara) 132/2005 e na Lei nº 132/1978, descritas a seguir. ART. 4 º DA PCL 132/2005 SÃO ATRIBUIÇÕES DO SUPERVISOR EDUCACIONAL: PLC 132/2005, em seu artigo 4º, descreve as atribuições do Supervisor Educacional: I – Coordenar o processo de construção coletiva e execução da Proposta Pedagógica, dos Planos de Estudo e dos Regimentos Escolares. II – Investigar, diagnosticar, planejar, implementar e avaliar o currículo em integração com outros profi ssionais da Educação e integrantes da Comunidade. III – Supervisionar o cumprimento dos dias letivos e horas/aula estabelecidos legalmente. IV – Velar o cumprimento do plano de trabalho dos docentes nos estabelecimentos de ensino. V – Assegurar processo de avaliação da aprendizagem escolar e a recuperação dos alunos com menor rendimento, em colaboração com todos os segmentos da Comunidade Escolar, objetivando a defi nição de prioridades e a melhoria da qualidade de ensino. VI – Promover atividades de estudo e pesquisa na área educacional, estimulando o espírito de investigação e a criatividade dos profi ssionais da educação. VII – Emitir parecer concernente à Supervisão Educacional. VIII – Acompanhar estágios no campo de Supervisão Educacional. IX – Planejar e coordenar atividades de atualização no campo educacional. X – Propiciar condições para a formação permanente dos educadores em serviço. 29 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES Capítulo 1 XI – Promover ações que objetivem a articulação dos educadores com as famílias e a comunidade, criando processos de integração com a escola. XII – Assessorar os sistemas educacionais e instituições públicas e privadas nos aspectos concernentes à ação pedagógica. Por outro lado, a Lei 132/1978, determina que os deveres do supervisor são: • Assessorar os sujeitos hierárquicos em assuntos da área da supervisão escolar. • Participar do planejamento global da escola. • Coordenar o planejamento do ensino e o planejamento do currículo. • Orientar a utilização de mecanismos e instrumentos tecnológicos em função do estágio de desenvolvimento do aluno, dos graus de ensino e das exigências do Sistema Estadual de Ensino do qual atua. • Avaliar o grau de produtividade atingido à nível de Escola e à nível de atividades pedagógicas. • Assessorar aos outros serviços técnicos da escola, visando manter coesões na forma de se permitir os objetos propostos pelo sistema Escolar. • Manter-se constantemente atualizado com vistas a garantir padrõesde efi ciência e efi cácia no desenvolvimento do processo, de melhoria curricular em funções das atividades que desempenha. Exemplos de atribuições do supervisor: • Traçar as diretrizes e metas prioritárias e serem ativadas no Processo de Ensino, considerando a realidade educacional de sistema, face aos recursos disponíveis e de acordo com as metas que direcionam a ação educacional. • Participar do planejamento global da escola, identifi cando e aplicando os princípios de supervisão na Unidade Escolar, tendo em vista garantir o direcionamento do Sistema Escolar. • Coordenar o planejamento de ensino, buscando formas de assegurar a participação atuante e coesiva da ação docente na consecução dos objetivos propostos pela Escola. • Realizar e coordenar pesquisas, visando dar um cunho cientifi co à ação educativa promovida pela Instituição. • Planejar as atividades do serviço de Coordenação Pedagógica, em função das necessidades a suprir e das possibilidades a explorar, tanto dos docentes e alunos como da comunidade. 30 SuPErViSÃo ESCoLAr • Propor sistemáticas do fazer pedagógico condizente com as condições do ambiente e em consonância com as diretrizes curriculares. • Coordenar e dinamizar mecanismos que visam instrumentalização aos professores quanto ao seu fazer docente”. FONTE: ASSERS. Atribuições do supervisor educacional. 1972. Disponível em: http://www.assers.org.br/em-foco/legislacao/ atribuicoes-do-supervisor-educacional. Acesso em: 3 jan. 2020. Apesar de as tarefas estarem determinadas em lei ou projeto, a difi culdade de supervisão não é de caráter teórico e sim na prática diária. Os principais erros de supervisão estão na interpretação da lei e das funções que estão descritas. Um erro de interpretação causa um erro de função, que, por sua vez, pode causar um erro de execução, aumentando, assim, a amplitude do erro e a frustração acadêmica. Alguns supervisores sentem difi culdades com a falta de clareza do que constitui o trabalho pedagógico e suas atribuições na função, o que acaba levando-o a repetir modelos sem uma visão crítica de sua realidade histórica e social. Repetir modelos molda o sujeito, é preciso então recriar-se, reinventar-se na função e em todo o processo da educação. Neste contexto, é essencial ao supervisor estar sempre buscando a atualização com um entendimento crítico e assim traçar novos caminhos para uma educação transformadora. Outro detalhe difícil se refere ao nosso país, que possui diferentes características e culturas. Essas diferenças determinam o sucesso ou o fracasso escolar quando se percebe que os profi ssionais, responsáveis pelo resultado, não estão engajados no sucesso, ou não possuem formação adequada, ou estão desestimulados com o trabalho desgastante e pouco valorizado da Educação Brasileira. O bom supervisor deve ter claro que suas responsabilidades e atividades devem atingir resultados positivos. O quadro a seguir descreve alguns objetivos e como atingi-los. 31 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES Capítulo 1 QUADRO 1 – O BOM SUPERVISOR OBJETIVOS ATIVIDADES • Melhoria do ato educativo. • Planejamento e execução da proposta pedagógica. • Aperfeiçoamento de professores em serviço. • Gestão democrática. • Seleção de prioridades e organização do trabalho. • Melhoria da qualidade didática e curricular. • Avaliação dos professores. • Tornar claro a todos os propósitos das tarefas a serem realizadas. • Providenciar os recursos materiais ou fi nanceiros necessários. • Motivar os esforços de todos. • Dar importância a todos os componentes da comunidade escolar. • Controlar as atividades propostas. • Tornar o serviço o mais efi ciente possível. • Avaliar constantemente para que se percebam as difi culdades e acertos. FONTE: Adaptado de Przybylski (1991) As funções do supervisor são variadas e marcantes. Elas podem ser divididas em três partes: Técnica, Administrativa e Social. FIGURA 1 – FUNÇÕES DO SUPERVISOR ESCOLAR FONTE: O autor 1. Funções Técnicas: a. Investigar a realidade da escola e da comunidade e, a partir disso, planejar cooperativamente o trabalho de supervisão que se pretende realizar. b. Orientar e coordenar as atividades de ensino e aprendizagem, material didático e os processos de avaliação realizados pelos professores. c. Formação continuada dos professores. d. Atividades de divulgação e de reuniões/relatórios. 2. Funções Administrativas: a. Organização da escola, das aulas e dos trabalhos auxiliares. b. Organização do ano letivo e do calendário de atividades. 32 SuPErViSÃo ESCoLAr c. Material didático. d. Arquivos e documentação. e. Dados estatísticos de docentes e discentes. f. Coordenação dos espaços e da distribuição física. g. Gestão democrática. 3. Funções Sociais: a. Boas relações humanas entre todos os envolvidos na comunidade. b. Promoverprojetos sociais e comunitários. c. Criação de centros e associações. d. Construção da cidadania a todos os envolvidos no processo. Não existe receita pronta para uma boa supervisão. Existem estudos e experiência que podemos discutir e considerar como válidas em nosso propósito. Um dos estudos interessantes quanto às profi ciências do supervisor foi realizado por Edward Pajak, nos Estados Unidos, em 1989. Pajak fez um grande estudo bibliográfi co sobre a escola e a função do supervisor. Ele também entrevistou vários supervisores em diferentes realidades. Após este estudo, ele concluiu que as funções da profi ssão de supervisor estão voltadas a 12 princípios essenciais com relevante conhecimento, atitudes e habilidades em cada princípio: • Relações com a comunidade: estabelecer e manter relações abertas e produtivas entre a escola e sua comunidade. • Desenvolvimento de pessoal: auxiliar no desenvolvimento facilitando oportunidades signifi cativas de crescimento profi ssional. • Planejamento e mudança: introduzir e executar estratégias desenvolvidas de forma colaborativa para a melhoria contínua. • Comunicação: comunicação clara e aberta entre os indivíduos e grupos, através da organização. • Currículo: coordenação e integração do processo de desenvolvimento e implementação do currículo. • Programa Pedagógico: apoiar e coordenar os esforços para melhorar o programa de instrução. • Atender aos professores: fornecimento de materiais, recursos e assistência para apoiar o ensino e aprendizagem. • Observação e comentários: proporcionar aos professores a conferência baseada na observação de sala de aula. • Resolução de problemas e tomada de decisão: utilizando uma variedade de estratégias para esclarecer e analisar problemas e tomar a melhor decisão. • Pesquisa e avaliação do programa: incentivo de cunho científi co e experimentação e avaliação dos resultados. • Motivar e organizar: ajudar as pessoas a desenvolver uma visão 33 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES Capítulo 1 compartilhada e alcançar os objetivos coletivos. • Desenvolvimento pessoal: reconhecer e refl etir sobre suas habilidades pessoais e profi ssionais crenças, e ações (PAJAK, 1989). O entendimento das funções do supervisor fi ca mais claro quando dispostos em forma de fi gura. Nesta condição, a fi gura a seguir descreve o “Ciclo de Supervisão” tornando o complexo processo global de supervisão mais legível e útil. FIGURA 2 – CICLO DE SUPERVISÃO FONTE: Adaptada de Oliveira (2008) 34 SuPErViSÃo ESCoLAr CICLO DE SUPERVISÃO a. Estabelecer a Relação Supervisor – Educador. Numa fase inicial compete ao supervisor desenvolver no educador um espírito de abertura, afastando ansiedades, esclarecendo os papéis que cada um desempenha neste processo, aferindo expectativas e possíveis difi culdades a superar. b. Planifi cação da Prática Pedagógica. Nesta fase, planifi cam-se as primeiras intervenções do educador na sua prática pedagógica. O plano pode ser organizado seguindo estruturas diferenciadas, no entanto, deve abordar questões fundamentais como: valores, princípios educativos, objetivos pedagógicos, questões logísticas (tempo, espaço, recursos humanos e materiais, custos etc.). c. Planifi cação da Estratégia de Observação. Além de ter em conta todos os aspectos práticos envolvidos na observação de uma aula – recursos técnicos e físicos, devidas autorizações etc. – nesta fase, deve fazer-se, também, uma refl exão conjunta sobre quais os aspectos pertinentes da prática pedagógica a observar, criando assim um enfoque na observação a realizar. d. Observação. Tendo em conta toda a temática da observação em sala de aula, o supervisor deve ter uma atitude neutra de observador e levar a cabo um escrutínio dos acontecimentos e das interações que ocorrem durante a aula, tornando o momento de observação o mais cuidadoso e sistemático possível. e. Análise do processo Ensino – Aprendizagem. Na fase inicial do ciclo de supervisão, este momento será vivido separadamente, mas com o estreitar da relação supervisor/aluno estagiário, a tendência será para que estes momentos do ciclo se realizem em conjunto, enriquecendo e abreviando o processo de Análise/ Avaliação/Reformulação. f. Planifi cação da Reunião. Deverão ser momentos em que se procura encontrar soluções, estratégias e planos alternativos que ajudem o aluno estagiário a superar possíveis difi culdades e a melhorar a sua prática pedagógica. Numa fase inicial, esta iniciativa será desenvolvida quase exclusivamente pelo supervisor. No entanto, procura-se que, com o decorrer da prática, o próprio aluno estagiário faça, também, uma refl exão crítica sobre a prática efetuada. g. Reunião. Este momento de partilha pode ser organizado de formas diferentes, com objetivos diferentes. No entanto, na maioria das vezes é um momento conjunto de refl exão de trabalho 35 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES Capítulo 1 em equipe e de avaliação entre o supervisor e o educador. Podem surgir ocasiões em que a conferência de supervisão proporcione a reunião com outros estagiários ou supervisores, o que permite enriquecer, ainda mais, todo o processo de supervisão. h. Análise do Ciclo – Mudança. Ao longo das várias fases do processo irão surgir aspectos a serem alterados e reformulados ou se tornam mesmo pertinentes reformular. Neste sentido, aluno estagiário e supervisor planejam estratégias que ajudam a superar difi culdades sentidas, reiniciando o ciclo de supervisão que, assim, vai recriando-se e otimizando-se ao longo do tempo e da prática vivida. 1 Você acompanhou algumas defi nições e princípios que compõem a ação do supervisor escolar. Agora, elabore o seu próprio conceito para a função de supervisor escolar e justifi que sua importância. R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________. 2.5 TENDÊNCIAS E CONTROVÉRSIAS NA SUPERVISÃO ESCOLAR Uma variedade de tendências pode ser vista no campo da supervisão, as quais se infl uenciam mutuamente (positiva e negativamente) em um ambiente escolar dinâmico. Uma tendência indica que os professores serão "supervisionados" pelos resultados dos testes, seja pelos pais, ou pelas instituições governamentais, no caso das provas, como a Provinha Brasil, Prova Brasil ou ENEM. Em alguns casos, os professores são responsabilizados pelo resultado de seus alunos, os resultados desses testes podem ser avaliados pelas 36 SuPErViSÃo ESCoLAr secretarias de educação e podem ser feitos julgamentos sobre a competência dos professores. Nestes casos, o supervisor deve ter a preocupação de apoiar os professores em difi culdade, auxiliando na melhoria da condição didática, assim como elogiados quando fazem um bom trabalho. Outra tendência da supervisão moderna é oferecer a oportunidade do envolvimento signifi cativo de professores na própria supervisão e no desenvolvimento de programas/projetos. Isso estimula a liderança dos professores e valoriza a função na escola. Qualquer que seja a forma de supervisão, ela foi substancialmente infl uenciada com o foco no aprendizado dos alunos (e nos desempenhos dos testes que demonstram esse aprendizado) e pela necessidade de garantir que seja dada atenção ao aprendizado de todos os alunos. Assim, a função de supervisão tende a se concentrar apenas na análise do resultado da atividade de ensino (resultado da prova) e não nas evidências de aprendizagem do aluno. Espera-se que supervisores e professores assumam a responsabilidade pela aprendizagem de alta qualidade para todos os alunos, uma responsabilidade que necessariamente muda amaneira como eles abordam seu trabalho juntos. Por fi m, todas essas tendências estão combinadas na grande tendência de focar na renovação em toda a escola. Isso signifi ca atender não apenas a questões instrucionais e curriculares, mas também as questões estruturais e culturais e que muitas vezes impedem ou prejudicam o aprendizado dos alunos. Há uma variedade de questões no campo da supervisão que precisam de resolução - ou pelo menos atenção signifi cativa. Para enfrentar a grande agenda de renovação escolar (na qual as escolas são obrigadas a responder aos padrões ou diretrizes curriculares impostas pelo estado), os sistemas de supervisão nos níveis nacional, estadual, municipal e privado precisam coordenar metas e prioridades. Outra questão que merece atenção é a divisão entre os supervisores que aceitam uma visão realista funcionalista, descontextualizada e simplifi cada do conhecimento como algo a ser entregue, e aqueles que abordam o conhecimento como algo a ser ativamente construído e realizado pelos alunos em contextos realistas e como algo cuja integridade implica uma apropriação moral e cognitiva. As suposições sobre a natureza do conhecimento e sua apropriação, muitas vezes não ditas, afetam substancialmente a maneira como supervisores e professores abordam os protocolos de aprendizagem e ensino dos alunos. Essa é uma questão sobre a qual todos os atores do drama escolar chegarão gradualmente a algum tipo de consenso. Uma questão relacionada diz respeito ao grau em que escolas e salas de aula acomodarão diversidade cultural, de classe, 37 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES Capítulo 1 de gênero, racial e intelectual (WAITE, 1995). Os supervisores não podem ignorar as implicações dessas acomodações necessárias para a proposta de ensino e desenvolvimento curricular. Essas tendências, questões e controvérsias, provavelmente se manterão dentro do campo da supervisão, como característica da própria função e circunstância de desenvolvimento dinâmico. No entanto, a falta de atenção às implicações dessas questões certamente fará com que o campo se atrofi e e se desvie para as margens irrelevantes da realidade escolar. 1 Na sua opinião, como o supervisor deve lidar com as questões da diversidade cultural, de classe, de gênero, racial e intelectual no dia a dia da escola? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ _______________________. Depois tudo que vimos até aqui, sobre a história, algumas leis e normas, além dos conceitos e tipos de supervisão, é fundamental que agora podemos desenhar o que seria uma composição de como ser um bom gestor escolar, de forma direta e resumida. A revista Nova Escola Gestão apresenta um artigo escrito por Lúcia Cortez, que é gestora escolar há mais de 25 anos e que traz uma adequada discussão sobre o que é ser gestora. Veja a opinião da autora sobre a sua experiência no assunto: 1. Equilibrar as ações administrativas e pedagógicas O gestor não pode se deter apenas nas questões administrativas e fi nanceiras, isto é, nas ações burocráticas. Não podemos esquecer que a gestão pedagógica é a atividade primordial da escola, mas para que tenhamos bons resultados educacionais, temos que ter 38 SuPErViSÃo ESCoLAr uma boa gestão administrativa. Portanto, temos que ter um bom planejamento para equilibrar as duas áreas, para que possamos garantir a aprendizagem das crianças e a satisfação a todos os envolvidos no processo. O gestor tem que que ter clareza que o Projeto Político-Pedagógico (PPP) da escola é o norteador de todas ações desenvolvidas, inclusive das administrativas. Não se pode permitir ações de separação entre o administrativo e pedagógico. 2. Gerenciar no coletivo, não podemos fi car isolados Precisamos aprender a trabalhar em equipe. Todas as ações da escola devem ser pensadas e executadas no coletivo. Assim, envolvemos a todos no processo educativo, para que se sintam integrados e alinhados aos objetivos propostos. É preciso proporcionar uma gestão democrática, participativa e crítica. Envolver todos os atores da comunidade escolar. Trazer os pais e responsáveis para participarem ativamente das atividades desenvolvidas na escola, como também a comunidade dos moradores do entorno. Todos precisam se sentir acolhidos e pertencentes ao grupo. Temos que ter uma participação ativa com respeito e espírito de colaboração, numa perspectiva coletiva e solidária. 3. Garantir uma boa comunicação escolar É fundamental que tenhamos uma boa comunicação entre gestor, alunos, pais, funcionários e comunidade para evitar os ruídos que surgem no dia a dia da rotina escolar. A escola contemporânea precisa estar alinhada às novas gerações que utilizam seus smartphones como ferramenta para se comunicar e resolver seus problemas. Temos que conhecer, nos adaptar e dinamizar a cultura da informação às novas práticas pedagógicas para que possamos estar conectados com todos os segmentos da escola e demais envolvidos no processo. 4. Motivar a todos os sujeitos do processo Temos que ser entusiastas na direção escolar. Precisamos valorizar os funcionários, alunos, pais e comunitários para se engajarem com afi nco no chão da escola. É preciso dar subsídios para desempenhem seu papel de forma integrada, buscando melhorar as relações interpessoais e intrapessoais para ter um alto clima escolar de satisfação. É preciso ajudar a construir um espaço propício para se criar vínculos com as pessoas e com o espaço educativo. Precisamos promover a empatia e estabelecer relações recíprocas de amizade, respeito, alegria, tolerância e com muita afetividade. A escola é um lugar de harmonia e pessoas alegres. Precisamos fazer 39 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES Capítulo 1 a diferença não só no pedagógico, mas também para proporcionar um clima escolar agradável. Para que tenhamos qualidade de vida no trabalho e com saúde, é fundamental termos uma boa convivência e um bom relacionamento entre todas as partes envolvidas. O magistério exige resiliência. 5. Incentivar a pesquisa e a formação continuada em serviço O gestor tem que ser um articulador e incentivador para que todos sejam protagonistas da sua própria aprendizagem e que sejam pesquisadores. Estamos em processo constante de aprendizagem, portanto, temos que nos manter informados e atualizados na Educação. Todos os sujeitos envolvidos no processo educacional devem participar das formações. Profi ssionais administrativos, da cozinha da limpeza e demais áreas para que se sintam comprometidos e atuantes no processo. Todos os profi ssionais precisam investir e buscar conhecimento e colocá-lo em prática que possamos ampliar experiências educativas com foco na criatividade e inovação. Temos que criar espaços de formação continuada na escola, para troca de experiências, discussão, refl exão da teoria e prática. O gestor tem que ser o líder pedagógico para construção coletiva de um projeto formativo. 6. Inovar na escola Os processos educativos no século XXI devem estar alinhados a novas competências desta geração. Portanto, temos que buscar metodologias e práticas inovadoras. O gestor precisa ter a coragem para liderar processos de transformação, quebrar barreiras e romper com o tradicional. Trocar mobiliário, acabar as fi las, tirar o foco da lousa. Incentivar o protagonismo e estimular o exercício da cidadania. Lutar por autonomia pedagógica e administrativa. Reconhecer que a Educação acontece nos diferentes espaços escolares. Assim, a sala de aula deixa de ser o único território de aprendizagem e o professor assume o papel de mediador e facilitador do conhecimento.Dessa forma, criamos espaços de interação, fazemos e aprendemos juntos, colocando o aluno no centro das atenções da escola, promovendo uma gestão democrática e a Educação integral, valorizando o discente em todas as suas dimensões. 7. Ser fl exível e aberto ao diálogo A escola tem que ser um espaço de escuta e de diálogo. Não dá para o gestor ter uma postura infl exível, ditatorial, autoritária e centralizadora. Temos que acabar com a hierarquia para criarmos relações mais humanas e horizontais, em que as pessoas se sintam 40 SuPErViSÃo ESCoLAr acolhidas e possam formar uma rede colaborativa em um movimento cíclico. Temos que resolver os confl itos e o absenteísmo com uma conversa franca, sincera e com empatia. Temos que ser mais fl exíveis para sermos mais felizes e desfrutarmos de uma melhor qualidade de vida na escola. Uma boa conversa tem o poder de mudar concepções de vida, de quebrar e superar as adversidades. Precisamos ter certeza de que estamos no mesmo lado. Não somos inimigos, mas parceiros. Poderemos ter pensamentos divergentes, mas poderemos ter uma convivência de respeito e harmonia entre os sujeitos. FONTE: <https://gestaoescolar.org.br/conteudo/2280/o-que-aprendi- sendo-gestora>. Acesso em: 23 dez. 2019. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Mais importante do que defi nir a palavra ou as funções do supervisor escolar, pudemos perceber que a atuação dele depende essencialmente da dedicação e do estímulo individual. Muitos estão presentes, mas não ativos ou não fazem qualquer diferença no andamento da escola. Outros fazem a diferença e estão atuantes em suas funções profi ssionais. O supervisor tem suas funções profi ssionais na escola, porém seu papel é ainda mais importante quando conectado com sua relevância política e social. A função de supervisão escolar existe em quase todas as escolas. O supervisor desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do sistema de ensino público ou privado, monitorando a qualidade das escolas e apoiando sua melhoria. No entanto, em muitas realidades, essa função é alvo de críticas cada vez mais pesadas, por não terem um impacto positivo na qualidade do ensino e da aprendizagem. Essa falha normalmente é causada por uma série de más decisões de gerenciamento e planejamento. Como se observou, a supervisão moderna deve se preocupar em fornecer liderança efi caz por meio das relações de trabalho cooperativas, sendo essa a natureza democrática da supervisão. Essa supervisão é orientada à liderança e contradiz à inspeção tradicional, burocrática e autoritária. Isso implica que o supervisor deve desempenhar seu papel como líder do grupo. Para isso, ele deve exercer seu papel com compreensão dinâmica e atitude de liderança cooperativa. 41 A SUPERVISÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: HISTÓRIA, CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES Capítulo 1 O supervisor moderno e efi caz também deve ser um especialista e uma pessoa experiente com relação à supervisão escolar e à maneira como gere pessoas e instituições. Os objetivos do processo histórico da Supervisão Escolar no Brasil e de conhecer os conceitos, características e funções do Supervisor Escolar foram apresentados de forma para que se tenha uma visão profunda desses detalhes para então compreender, rever e modifi car a imprescindível atuação da supervisão escolar na escola atual. Assim, é extremamente importante considerar as funções e descrever as características do supervisor na realidade educacional do Brasil. Torna-se ainda mais relevante percebermos a importância social do supervisor em benefício dos alunos que não têm outra possibilidade de ascensão social, a não ser através da educação que lhes permita conhecer a palavra para entender o mundo. O supervisor na função social pode transportar crianças fadadas ao fatalismo e à exclusão, para um novo contexto de participação democrática na busca de uma cidadania crítica e atuante. Até o próximo capítulo. 42 SuPErViSÃo ESCoLAr REFERÊNCIAS AGGARWAL, Y. P.; SACHDEVA, M. S. Educational administration and supervision. Ludhiana: Vinod Publications, 2007. ALARCÃO, I.; TAVARES, J. Supervisão da prática pedagógica: uma perspectiva de desenvolvimento e aprendizagem. 2. ed. Coimbra: Livraria Almedina, 2003. ANDRADE, N. V. de. Supervisão em educação. Rio de Janeiro: Livros técnicos e científi cos, 1976. ASSERS. Atribuições do supervisor educacional. 1972. Disponível em: http:// www.assers.org.br/em-foco/legislacao/atribuicoes-do-supervisor-educacional. 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Promover e desenvolver o planejamento escolar como exemplo prático. 46 SuPErViSÃo ESCoLAr 47 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLA ATUAL E IDEAL Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A educação para o século XXI se destaca através das mudanças ocorridas na sociedade, que passou a ser muito mais ágil na informação e mais exigente na formação. Alunos de diversas culturas e crenças transformam a educação atual em algo ainda mais complexo, sendo esta uma realidade presente em nossas escolas públicas ou privadas, uma vez que alguns caminhos seguidos e sugestões anteriores não mais se aplicam com a mesma efi ciência no contexto mutável de hoje. Neste sentido, a complexidade da supervisão escolar passa a ter uma importância ainda maior, uma vez que pretende e deve encaminhar a educação para uma possibilidade que reconhece o aluno de agora, suas características e limitações. Neste capítulo, discutiremos o trabalho diário de supervisor em seus aspectos administrativos e pedagógicos que são características da função, mas num contexto contemporâneo, uma vez que, como foi determinado anteriormente, conectaremos estes afazeres dentro da realidade moderna do educando com o objetivo de nortear a teoria formal com a prática essencial, concreta e positiva. 2 O SUPERVISOR ESCOLAR E O PLANEJAMENTO NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO ATUAL A escola atual deve promover o ensino de forma variada. Não raro se percebem escolas que oferecem ao aluno atividades como leitura, esportes, música (nova exigência de lei), de pesquisa ou de informática. Essas atividades curriculares são exemplos do novo contexto exigido pela sociedade atual e que são promovidos por algumas escolas que pretendem gerar uma atualização em seus conceitos. Na escola pública, essas variações acadêmicas são ainda limitadas e dependem da iniciativa das secretarias de educação do município ou do estado. Nas escolas particulares, essas atividades pretendem promover uma educação integral, mas são normalmente cobradas além da mensalidade regular. De qualquer modo, a importância dessas atividades é alta e demonstra 48 SuPErViSÃo ESCoLAr que as escolas estão voltadas ao desenvolvimento presente e devem estar atualizadas na procura de uma educação conectada com a realidade do aluno e do mundo contemporâneo. Essa realidade deve fazer parte do entendimento dos trabalhadores da educação e suas funções profi ssionais. Então, o supervisor escolar precisa estar preparado para as constantes atualizações inerentes à escola e aos alunos. Além de estar ciente do que se passa na realidade em que vive e nas tendências pedagógicas, ele deve promover a inclusão de novas atitudes e dinâmicas através da construção do planejamento que respeite esta condição epistemológica. O planejamento pode ser considerado a engrenagem para uma boa educação. Nesse processo, é importante garantir que sejam seguidas três etapas: a elaboração, a execução e a avaliação. Na primeira, é necessário que o grupo explicite os ideais que norteiam suas ações. Qual realidade sonhamos vivenciar? Que tipo de pessoas formamos? Que Educação queremos para crianças e jovens? Conhecendo o desejado, é hora de analisar a realidade existente. Para que o planejamento seja realmente um instrumento de trabalho, é preciso colocá-lo em prática, ou seja, agir de acordo com o que foi imaginado; e só será possível perceber se o quadro encontrado no início do ano está sendo transformado na direção da realidade desejada se houver algum tipo de acompanhamento das ações. De acordo com Vasconcellos (2000), há a descrença na utilidade do planejamento. Ele aponta que alguns professores consideram impossível dar conta da tarefa por diferentes motivos: o trabalho em sala de aula é dinâmico e imprevisível; faltam condições mínimas, como tempo; e existe o pensamento de que nada vai mudar e, portanto, basta repetir o que já tem sido feito. Há também aqueles que acreditam na importância do planejamento, mas que não fazem parte da sua construção, desprezando-o. 2.1 COMBINAÇÕES PARA UMA ESCOLA EFICIENTE Para uma escola se tornar exemplo de efi ciência, ela deve buscar este caminho em seu planejamento. Em um estudo comparativo realizado nas escolas públicas em 2004, nos Estados Unidos, percebeu-se problemas e soluções para uma educação efi ciente. Esse estudo apontou as melhores e piores escolas e que as melhores escolas daquele país têm semelhanças entre si. As maiores qualidades foram notadamente ligadas à gestão destas escolas e como seus 49 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLA ATUAL E IDEAL Capítulo 2 gestores aplicam soluções que são práticas e que fazem diferença na qualidade de ensino. Essas indicações são perfeitamente aplicáveis na nossa realidade brasileira, pois não requerem investimentos nem grandes treinamentos do pessoal envolvido, trazem sim uma mudança de mentalidade e amplifi cam a importância da educação e o poder da escola, quando bem aplicados (PERALTA; DIAS; GONÇALVES, 2018). A partir desse estudo, as combinações para uma escola efi ciente são: 1. Ambiente Seguro e Ordenado a. Comportamento desejável do aluno. b. Ambiente que promova o ensino-aprendizagem. c. Ambiente colaborativo e cooperativo para adultos e jovens. d. Respeito à diversidade humana e aos valores democráticos. 2. Grande Expectativa para o Sucesso a. Oportunidades iguais para todos os alunos. b. Estratégias de rever as técnicas de ensino. c. Professores devem ser os “lançadores”. d. Escola deve ceder melhores ferramentas aos professores. 3. Liderança Educacional a. Escola é uma comunidade de troca de valores. b. Diretor não é o único líder e os professores devem ser encorajados. 4. Missão Clara e Consistente a. Todos os alunos devem ter a condição de sucesso. b. Desenhar o currículo que atenda às necessidades dos alunos. c. Combinação entre o alto-nível do currículo com a preparação dos professores. d. Ambiguidade: ensinar e aprender. 5. Oportunidade de Aprender e Tempo aos Alunos a. Professores melhores e organizados. b. Defi nir o que deve ser ensinado e dedicar mais tempo na elaboração desses conteúdos. c. Alunos necessitam de mais tempo para aprender. 6. Monitoramento do Progresso dos Estudantes a. Usar a tecnologia para professores e alunos acompanharem os seus progressos e ajustar os seus comportamentos. b. Avaliações mais autênticas. Ênfase no trabalho do aluno. 7. Relação Escola-Casa a. Relação pais-escola deve ser uma parceria autêntica. 50 SuPErViSÃo ESCoLAr b. Construir uma relação de confi ança e uma comunicaçãoadequada em busca do mesmo objetivo escola e educação efi cientes. FIGURA 1 – COMBINAÇÕES PARA UMA ESCOLA EFICIENTE FONTE: O autor 2.2 O CONCEITO DE PLANEJAMENTO ESCOLAR Planejamento escolar se defi ne como sendo o caminho que se deve seguir na busca de objetivos propostos antecipadamente. Estes objetivos podem ser de ordem pedagógica ou administrativa, mas sempre na expectativa de melhorias do que já se está fazendo, ou no programa de algo totalmente novo. Uma boa defi nição de planejamento em forma geral e não apenas na área educacional seria: 51 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLA ATUAL E IDEAL Capítulo 2 Entende-se por planejamento um processo de previsão de necessidades e racionalização de emprego dos meios materiais e dos recursos humanos disponíveis a fi m de alcançar objetivos concretos em prazos determinados e em etapas defi nidas a partir do conhecimento e avaliação cientifi ca da situação original (MARTINEZ; LAHONE, 1997, p. 11). Pelo planejamento se facilita e se dinamiza o trabalho acadêmico de discentes e docentes. Todas as escolas têm objetivos, funções e metas a serem atingidas, e para alcançar estes objetivos, um plano ou programa é elaborado. Na elaboração deste plano, decisões devem ser tomadas e aprovadas pela maioria para então ser transportada a um objetivo geral ou objetivos específi cos. O planejamento escolar precisa ser democrático e coerente, visto que a possibilidade de acerto deve ser sempre a intenção maior. Planejar o processo educativo é planejar o indefi nido, porque educação não é o processo, cujos resultados podem ser totalmente predefi nidos, determinados ou pré-escolhidos, como se fossem produtos de correntes de uma ação puramente mecânica e impensável. Devemos, pois, planejar a ação educativa para o homem não impondo lhe diretrizes que o alheiem, permitindo, com isso, que a educação ajude o homem a ser criador de sua história (MENEGOLLA; SANT’ANNA, 2001, p. 25). Por mais genial, utópico ou realista que o objetivo pareça, ele só terá chances de ser alcançado através de um planejamento bem elaborado. Um bom planejamento determina os objetivos, as metas, as funções e os meios que os envolvidos devem seguir na busca de resultados favoráveis. Resumidamente, o sucesso de uma escola está diretamente relacionado a um planejamento e a uma gestão efi ciente. Quando defi nido o objetivo do programa, outros princípios devem ser considerados: se este programa é viável fi nanceiramente, se os resultados são realmente atingíveis e se este é específi co à escola, uma vez que se gasta muito tempo em problemas menores ou burocráticos. O bom planejamento, porém, exige acompanhamento e reavaliação constantes para determinar os pontos fracos que o plano deve perceber e corrigir, além de maximizar os esforços dos envolvidos. O planejamento pode ser formal, como é o caso do PPP, exigido pelo órgão responsável pelo funcionamento das instituições de ensino, ou não formal, em que o planejamento acontece por uma necessidade particular, com objetivos locais. O planejamento delega funções aos participantes. Quando a pessoa responsável por determinada função não a executa ou executa de maneira inefi caz, todo o processo pode ser afetado. 52 SuPErViSÃo ESCoLAr Os profi ssionais da educação estão ligados pela parte prática que a profi ssão exige. O maior tempo de trabalho é consumido por atividades que exigem do profi ssional a preparação e, principalmente, a execução de uma tarefa prática. Aulas, reuniões, avaliações e praticamente todas as atenções e conhecimentos estão vinculados à prática e menos às teorias pedagógicas. O planejamento em sua contextualização teórica é uma parte importante no conjunto de competências que um bom profi ssional deve assumir. Segundo Vasconcellos (2000, p. 79), o conceito de planejar fi ca claro, pois “planejar é antecipar mentalmente uma ação ou um conjunto de ações a serem realizadas e agir de acordo com o previsto. Planejar não é apenas algo que se faz antes de agir, mas é também agir em função daquilo que se pensa”. Para atingir o máximo da qualidade de ensino proposto, o planejamento é necessário e pode ser fator determinante para o sucesso ou insucesso de um aluno ou de uma instituição inteira. O supervisor escolar deve respeitar princípios relevantes do planejamento e aplicá-los com sabedoria, tanto em seus aspectos práticos diários como no planejamento teórico deles. Boas atividades e boas aulas acontecem muito antes da aplicação. Para que a atividade de ensino aconteça com sucesso, é necessária a antecipação de questões/problemas e uma boa elaboração de um plano de atividades. Vários aspectos devem ser considerados quando pretendemos elaborar um planejamento em curto, médio ou longo prazo e que envolva pessoas. É essencial conhecer as características da escola (história, estrutura e cultura), além das possibilidades e limitações de alunos, professores, para, então, fazer o planejamento realista e possível. Para isso, é preciso ter uma visão crítica da realidade sociocultural em que os envolvidos no processo estão inseridos, buscar resultados a médio e longo prazo e ir avaliando e monitorando cada passo dado (CARNEIRO, 2007). Segundo Libâneo (1994, p. 222), o planejamento tem grande importância por tratar-se de “um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social”. Todo o projeto ou planejamento escolar deve considerar três questões fundamentais: 1) Qual a situação atual, uma análise de fatores e “números” que demonstrem a realidade da escola?; 2) Para que fazer o projeto, quais os objetivos, onde pretendemos chegar?; 3) Como serão feitas estas ações, como será a operação a prática do que foi determinado? De acordo com Veiga e Resende (1998), existem vários caminhos para 53 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLA ATUAL E IDEAL Capítulo 2 a construção do planejamento e do próprio PPP, uma vez que ele retrata o entendimento e o percurso possível trilhado na realidade das escolas. Todavia, é possível apontar três movimentos básicos desse processo de construção do planejamento e do PPP denominados de: Ato Situacional, Ato Conceitual e Ato Operacional. É importante perceber que estes conceitos estão em movimento, sendo assim, em constante reavaliação e melhoramentos. FIGURA 2 – CICLO DO PLANEJAMENTO ESCOLAR FONTE: Adaptada de Gandin (1986) Em resumo, planejar é programar antecipadamente o que pode acontecer, de acordo com uma visão bastante realista das situações anterior e atual de uma escola, considerando: • Filosofi a da instituição que representa os objetivos, em termos de trabalho e resultados pretendidos. • Expectativa de desempenho: principais dados anteriores, dados comparativos e resultados a serem atingidos. • Recursos e orçamento disponíveis. • Alunos e professores: quantidade, qualidades e difi culdades por turma e período. • Estrutura disponível: materiais e equipamentos, laboratórios, ginásio, salas. 54 SuPErViSÃo ESCoLAr VASCONCELLOS, C. Planejamento. Projeto de Ensino Aprendizagem e Projeto Político-Pedagógico. São Paulo: Libertad, 1999. GANDIN, D. Planejamento como prática educativa. São Paulo: Edições Loyola, 1986. 2.3 MÉTODOS E TÉCNICAS DE PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO O planejamento escolar é utilizado para resolver problemas, atingir metas e, em sua essência, melhorar os níveis da educação nas instituições escolares, mas como organizamos um projeto, como percebemos se estamos no caminho certo e como buscar atingir os objetivos com maior efi ciência? Antes de entrar nas metodologias ou conceitos de como construir um planejamento, precisamos confi rmar que o planejamento serve para: • A comunidade educativa realiza o projeto para confi rmar a sua autonomia, percebendo suas necessidadese, baseadas nestas, buscar caminhos internos, locais e possíveis. Neste sentido, Veiga e Resende (1998) descrevem que a autonomia se percebe nas: ο Possibilidades, ou quais os mecanismos viáveis que transformarão o ideal de autonomia em prática. ο Nas capacidades, ou qual a qualidade técnica do pessoal envolvido, seu grau de compromisso e competência ético-profi ssional ο Na elaboração e implementação do Projeto Político-Pedagógico, ou a concretização da identidade, das racionalidades interna e externa e da autonomia da escola. ο Na relevância de tal projeto para a comunidade, ou levando-se em consideração a realidade do educando, sua cultura e condição e dando a ele uma visão amplifi cada do mundo e na construção de sua infl uência na comunidade. ο Para a sociedade como um todo, ou a preparação do educando para atuar como cidadãos conscientes na realidade globalizada e moderna além do aprendizado constante. ο A que serve a dimensão deste plano, ou a constante avaliação da 55 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLA ATUAL E IDEAL Capítulo 2 importância da escola na construção social ou no professorado como agentes de transformação social, econômica e cultural. • Possibilitar a participação de todos os membros da escola e comunidade envolvidos na intenção da boa educação. • Orientar o desenvolvimento dos valores e princípios do projeto, baseados na legislação e do currículo ofi cial, dentro das divisões e modalidades do ensino e da escola. • Avaliação da própria instituição como avaliação de todo o processo de ensino-aprendizagem (didática, metodologia, espaços físicos, tecnologia etc.), além do currículo e formação continuada dos professores. No Planejamento de Ensino, temos alguns elementos essenciais: conhecimento da realidade; dados de identifi cação; ementa; fi nalidade; conteúdos (o quê?), factuais, conceituais, procedimentais e atitudinais; metodologia (como?); atividades discentes; cronograma; recursos (quais?); avaliação (para verifi car se os objetivos estão sendo alcançados); bibliografi a. Na construção de um plano de aula, devemos indicar o que fazer no dia a dia da sala de aula, propondo o bom emprego do plano de ensino. Os elementos de um plano de aula são: tema/assunto; público-alvo; objetivo(s), cronograma; conteúdos; atividades/estratégias; recursos; avaliação; registro das atividades. Como se pode perceber, o planejamento deve contribuir para uma educação e para uma escola realista. Deve considerar aspectos sociais da comunidade, problemas e necessidades locais, e, ainda, a diversidade multicultural que a própria escola está inserida. A seguir, você verá as características de um bom planejamento. Nesta parte, a intenção é perceber aspectos extremamente válidos e que devem ser analisados durante a elaboração do planejamento escolar. QUADRO 1 – CARACTERÍSTICAS DE UM BOM PLANEJAMENTO Tópico Característica Ensino-Aprendizagem Ter o foco na aprendizagem de todos, operacionalizando os conteúdos fundamentais para a escola. Gestão Democrática Ser o produto de uma discussão que envolva toda a comu- nidade escolar. Acompanhamento e avaliação do pla- nejamento Ter o desempenho constantemente monitorado, com aber- tura para redirecionamentos 56 SuPErViSÃo ESCoLAr Currículo Conter princípios pedagógicos que correspondam ao con- texto e à prática da sala de aula dos professores Formação Continuada Prever tempo para a formação docente e para reuniões pedagógicas. FONTE: Adaptado de Takada (2009) 2.4 NÍVEIS E ETAPAS DO PLANEJAMENTO No contexto escolar podem ser realizados diferentes níveis de abrangências de planejamento. Segundo Vasconcellos (2000), o planejamento da escola trata-se do que chamamos de Projeto Político-Pedagógico ou projeto educativo, sendo esse plano integral da instituição, que é composto de marco referencial, diagnóstico e programação. Este nível envolve tanto a dimensão pedagógica quanto a comunitária e administrativa da escola. A proposta geral das experiências de aprendizagem é oferecida pela escola e é incorporada aos diversos componentes curriculares, sendo que a proposta curricular pode ter como referência os seguintes elementos: fundamentos da disciplina, área de estudo, desafi os pedagógicos, encaminhamento, proposta de conteúdo e processos de avaliação (VASCONCELLOS, 2000). Esse nível de abrangência das escolas é realizado sempre com base nos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) que foram elaborados, de um lado, procurando respeitar diversidades regionais, culturais e políticas existentes no país e, de outro lado, considerar a necessidade de construir referências nacionais comuns ao processo educativo em todas as regiões brasileiras. Com isso, pretende-se criar condições nas escolas que permitam aos nossos jovens ter acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos como necessários ao exercício da cidadania. Os PCN vêm com intuito de fortalecer a Escola como unidade do sistema escolar, credenciá-la para a elaboração de um projeto educacional (GAMA; FIGUEIREDO, 2009). Existem etapas diferenciadas na elaboração e implementação do planejamento escolar. Para resumir esse processo, o planejamento: • Na preparação: consiste em se formular objetivos claros e a previsão de 57 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLA ATUAL E IDEAL Capítulo 2 todos os passos necessários para alcançá-los. • No acompanhamento: visa à forma de atuação do professor e o aprendizado do aluno. • No aprimoramento: busca a avaliação do alcance dos objetivos traçados. 2.5 AS DIFERENÇAS ENTRE PLANEJAMENTO, PLANOS, PROJETOS E PROGRAMAS O planejamento é essencial na atividade escolar. Por conta disso, a seguir, explicitaremos o signifi cado básico de alguns termos, tais como planejamento, plano, programa, projeto, plano estratégico, plano operacional, entre outros, visando dar espaço para que você possa estabelecer as relações entre eles a partir de experiências pessoais e profi ssionais. O PLANEJAMENTO EM EDUCAÇÃO: REVISANDO CONCEITOS PARA MUDAR CONCEPÇÕES E PRÁTICAS 1. PLANEJAMENTO: O Planejamento Educacional é o processo contínuo que se preocupa com o ‘para onde ir’ e ‘quais as maneiras adequadas para chegar lá’, tendo em vista a situação presente e possibilidades futuras, para que o desenvolvimento da educação atenda tanto as necessidades da sociedade, quanto as do indivíduo. O planejamento do Sistema de Educação é o de maior abrangência (entre os níveis do planejamento na educação escolar), correspondendo ao planejamento que é feito em nível nacional, estadual e municipal, incorporando as políticas educacionais. O Planejamento Curricular é o processo de tomada de decisões sobre a dinâmica da ação escolar. É previsão sistemática e ordenada de toda a vida escolar do aluno. Portanto, essa modalidade de planejar constitui um instrumento que orienta a ação educativa na escola, pois a preocupação é com a proposta geral das experiências de aprendizagem que a escola deve oferecer ao estudante, através dos diversos componentes curriculares. O Planejamento de Ensino é o processo de decisão sobre atuação 58 SuPErViSÃo ESCoLAr concreta dos professores, no cotidiano de seu trabalho pedagógico, envolvendo as ações e situações, em constantes interações entre professor e alunos e entre os próprios alunos. Este nível de planejamento trata do processo de tomada de decisões bem informadas que visem à racionalização das atividades do professor e do aluno, na situação de ensino-aprendizagem. O Planejamento Escolar é o planejamento global da escola, envolvendo processo de refl exão, de decisões sobre a organização, o funcionamento e a proposta pedagógica da instituição. É um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social. O Planejamento Político-Socialtem como preocupação fundamental responder às questões “para quê”, “para quem” e com “o quê”. A preocupação central é defi nir fi ns, buscar conceber visões globalizantes e de efi cácia; serve para situações de crise e em que a proposta é de transformação, em médio prazo e/ ou longo prazo. Tem o plano e o programa como expressão maior. No Planejamento Operacional, a preocupação é responder às perguntas “o quê”, “como” e “com quê”, tratando prioritariamente dos meios. Abarca cada aspecto isoladamente e enfatiza a técnica, os instrumentos, centralizando-se na efi ciência e na busca da manutenção do funcionamento. Tem sua expressão nos programas e, mais especifi camente, nos projetos, sendo, sobretudo, tarefa de administradores, em que a ênfase é o presente, momento de execução para solucionar problemas. 2. PLANO: O Plano é um documento utilizado para o registro de decisões do tipo: o que se pensa fazer, como fazer, quando fazer, com que fazer, com quem fazer. Para existir plano, é necessária a discussão sobre fi ns e objetivos, culminando com a defi nição deles, pois somente desse modo é que se pode responder às questões indicadas anteriormente. O plano é a apresentação sistematizada e justifi cada das decisões tomadas relativas à ação a realizar. Plano tem a conotação de produto do planejamento. O Plano é um guia e tem a função de orientar a prática, partindo da própria prática e, portanto, não pode ser um documento rígido e absoluto. Ele é a formalização dos diferentes momentos do processo de planejar que, por sua vez, envolvem desafi os e contradições. Plano Nacional de Educação é quando se refl ete toda a política 59 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLA ATUAL E IDEAL Capítulo 2 educacional de um povo, inserido no contexto histórico, que é desenvolvida a longo, médio ou curto prazo. Plano Escolar é quando são registrados os resultados do planejamento da educação escolar. É o documento mais global; expressa orientações gerais que sintetizam, de um lado, as ligações do projeto pedagógico da escola com os planos de ensino propriamente ditos. Plano de Curso é a organização de um conjunto de matérias que serão ensinadas e desenvolvidas em uma instituição educacional, durante o período de duração de um curso. Este tipo de plano é a “sistematização da proposta geral de trabalho do professor naquela determinada disciplina ou área de estudo, numa dada realidade. Plano de Ensino é o plano de disciplinas, de unidades e experiências propostas pela escola, professores, alunos ou pela comunidade. Situa-se em um nível bem mais específi co e concreto em relação aos outros planos, pois defi ne e operacionaliza toda a ação escolar existente no plano curricular da escola. 3. PROJETO: Projeto é também um documento/produto do planejamento porque nele são registradas as decisões mais concretas de propostas futuras. Trata-se de uma tendência natural e intencional do ser humano. Como o próprio nome indica, projetar é lançar para a frente, dando sempre a ideia de mudança, de movimento. Projeto representa o laço entre o presente e o futuro, sendo ele a marca da passagem do presente para o futuro. Todo projeto supõe ruptura com o presente e promessas para o futuro. Projetar signifi ca tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma estabilidade em função de promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores. 4. PROGRAMA: Um programa é constituído de um ou mais projetos de determinados órgãos ou setores, num período de tempo defi nido. O programa, dentro de um plano, é o espaço no qual são registradas as propostas de ação do planejador, visando aproximar a realidade existente da realidade desejada. Desse modo, na elaboração de um 60 SuPErViSÃo ESCoLAr programa, é necessário considerar quatro dimensões: a das ações concretas a realizar, a das orientações para toda a ação (atitudes, comportamentos), a das determinações gerais e a das atividades permanentes. FONTE: BAFFI, M. A. T. O planejamento em educação: revisando conceitos para mudar concepções e práticas. In: BELLO, José Luiz de Paiva. Pedagogia em Foco, Petrópolis, 2002. Disponível em: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/fundam02.htm. Acesso em: 10 maio 2011. 1 Enumere o termo com a devida defi nição: (1) Planejamento ( ) Formalização dos diferentes momentos do processo de planejar que, por sua vez, envolve desafi os e contradições. (2) Plano ( ) É o espaço no qual são registradas as propostas de ação do plane- jador, visando aproximar a realidade existente da realidade desejada. (3) Projeto ( ) Trata-se do plano integral da instituição, que é feito em nível nacional, estadual e municipal, incorporando as políticas educacionais. (4) Programa ( ) Representa o laço entre o presente e o futuro, sendo ele a marca da passagem do presente para o futuro. Em termos de ensino, podemos dividir ainda melhor o planejamento para então determinar sua melhor aplicação e evitar erros no transcorrer de sua execução. Para Libâneo (1994), existem o plano da escola, o plano de ensino e o plano de aula. O plano da escola é um plano pedagógico e administrativo que serve como guia de orientação para o planejamento e trabalho docente. O autor descreve os passos para a realização de um plano da escola. As principais premissas e perguntas que devemos formular para sua elaboração são: posicionamento da educação escolar na sociedade; bases teórico-metodológicas da organização didática e administrativa; características econômicas, social, política e cultural do contexto em que a escola está inserida; características socioculturais dos alunos; 61 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLA ATUAL E IDEAL Capítulo 2 diretrizes gerais sobre sistema de matérias, critério de seleção de objetivos e conteúdo; diretrizes metodológicas, sistemáticas de avaliação; diretrizes de organização e administração. Segundo Libâneo (1994), o plano de ensino é visto como o roteiro detalhado das unidades didáticas. Podemos chamar também de plano de curso ou plano e unidades didáticas. Este plano de ensino é formado das seguintes componentes: • Justifi cativa das disciplinas. • Delimitação dos conteúdos. • Os objetivos gerais. • Os objetivos específi cos. • Desenvolvimento metodológico. • Conteúdos. • Tempo provável. • Desenvolvimento metodológico. Ao elaborarmos o plano de ensino, antecipamos, de forma organizada, todas as etapas do trabalho escolar. A execução do plano consiste no desenvolvimento das atividades previstas. O plano de aula é certamente um detalhamento do plano de ensino, é uma especifi cação dele. O detalhamento da aula é fundamental para obtermos uma qualidade no ensino, sendo assim, o plano de aula torna-se indispensável. Em primeiro lugar, deve-se considerar que a aula é um período variável, sendo assim, as unidades devem ser distribuídas sabendo-se que às vezes é preciso bem mais do que uma aula para fi nalizar uma unidade ou fase de ensino. Nesta preparação, o professor deve reler os objetivos gerais das matérias e a sequência dos conteúdos; desdobrar as unidades a serem desenvolvidas; redigir objetivos específi cos por cada tópico; desenvolver a metodologia por assunto; avaliar sempre a própria aula. 1 Baseado no que vimos, diferencie os Planos da Escola, de Ensino e de Aula. R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________________________________. 62 SuPErViSÃo ESCoLAr 2.6 ROTEIRO DE ELABORAÇÃO DO PLANEJAMENTO A seguir, apresentaremos, resumidamente,um roteiro para elaboração de um planejamento escolar. Lembramos que este é apenas um exemplo de vários outros disponíveis na elaboração de um planejamento educacional. O exemplo a seguir é extremamente útil como referência e é baseado em Vallejo (2002): • Pré-planejamento: é quando as pessoas que integram a organização escolar tomam consciência de que necessitam de um plano que gere motivação e que promovam resultados. • Análise da situação atual: ο Quais são nossos pontos fortes? ο Quais são nossas defi ciências? ο Que oportunidades teremos? ο Pesquisa de opinião e questionários. Posteriormente, execute o brainstorm para selecionar as ideias principais. Atenção aos aspectos: a) Resultados anteriores. b) Fatores que explicam os resultados alcançados. c) Remodelação dos objetivos como consequência da aplicação de um plano anterior. d) Objetivos novos introduzidos. e) Disponibilidade econômica e recursos disponíveis. f) Disponibilidade pessoais existentes e suas qualifi cações. g) Métodos, instrumentos e técnicas de trabalho atuais e de futuro. h) Estrutura da organização escolar. Brainstorm: “tempestade de ideias”; é uma atividade desenvolvida para explorar a potencialidade criativa de um indivíduo ou de um grupo – criatividade em equipe – colocando-a a serviço de objetivos predeterminados no surgimento de ideias e de soluções. 63 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLA ATUAL E IDEAL Capítulo 2 • Defi nição de objetivos: de acordo com a situação atual e previsão futura, determina-se os objetivos gerais, para toda a escola, e específi cos, para cada uma de suas áreas de atividade. Defi nir a incidência de maior ou menor esforço em consequência da aplicação do conjunto de estratégias, políticas, procedimentos, programas e recursos pressupostos. • Estabelecimento de hipóteses: defi nidos os objetivos, é conveniente determinar os possíveis cenários nos quais pode-se atingir. Uma hipótese futura próxima do real pode garantir melhores planos de ação com os quais os objetivos possam ser alcançados. • Seleção da linha de atuação: análise rigorosa dos pontos fracos e fortes de cada alternativa, relevando os objetivos e as hipóteses estabelecidas, além dos fatores que podem infl uenciar. Posteriormente, a escolha de uma determinada linha de ação, que guiará o planejamento. • Estabelecimento de planos derivados: para suportar o plano principal, ou base, costuma-se defi nir uma série de planos complementares ou derivados que completam a fase de planejamento. • Execução do plano: a ação propriamente dita. É necessário que se execute tudo aquilo que foi previsto, de acordo com os métodos ou sistemas elaborados, nos planos estabelecidos e com os meios indicados. • Controle do plano: todo o plano deve incorporar os elementos necessários para poder detectar, em tempo, os desvios que ocorram em consequência das mudanças no entorno, nas previsões ou na própria dinâmica da escola, além disso, sistemas de correção que permitam que os objetivos sejam alcançados dentro do prazo previsto. 3 PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO O projeto educacional ofi cial da escola é chamado Projeto Político- Pedagógico, o famoso PPP. Este é um documento ofi cial, visto que é uma obrigatoriedade nas quais as Secretarias de Educação (do município ou do Estado) exigem a todas as escolas, sejam públicas ou privadas, de qualquer nível e modalidade de ensino, com o acompanhamento destas Secretarias. Este projeto deve demonstrar um caminho a ser seguido pela escola, de acordo com a sua realidade e suas intenções na busca de soluções de problemas e em melhorias na educação que oferece. O PPP é um instrumento que serve de guia para o planejamento anual e é onde devem estar explicitados os ideais pedagógicos da escola. Com o documento em mãos, é possível planejar ações para o ano letivo que dialoguem com esses ideais (LOPES, 2011). 64 SuPErViSÃo ESCoLAr O primeiro passo para que toda a comunidade escolar participe ativamente e democraticamente da gestão escolar está na construção do Projeto Político- Pedagógico de forma coletiva. A constituição da autonomia da escola pela via do projeto pedagógico, supõe fi nalmente, a existência de condições para a prática do trabalho coletivo, entendido este como a valorização das pessoas e a relativização das funções. Pessoas autônomas valorizam um projeto e são valorizadas por ele em razão do seu compromisso e de sua lealdade e isso não está ligado necessariamente às funções desempenhadas e às posições ocupadas (SILVA JUNIOR, 2002, p. 206). Este projeto deve contemplar informações predeterminadas e pode ser defi nido como um instrumento teórico-metodológico que visa ajudar a enfrentar os desafi os do cotidiano da escola de forma refl etiva, consciente, sistematizada, orgânica, científi ca e, essencialmente, participativa. É uma metodologia de trabalho que possibilita ressignifi car a ação de todos os agentes da escola. Se você prestar atenção, as próprias palavras que compõem o nome do documento dizem muito sobre ele (LOPES, 2011): • É projeto porque reúne propostas de ação concreta a executar durante determinado período. • É político por considerar a escola como um espaço de formação de cidadãos conscientes, responsáveis e críticos, que atuarão individual e coletivamente na sociedade, modifi cando os rumos que ela vai seguir. • É pedagógico porque defi ne e organiza as atividades e os projetos educativos necessários ao processo de ensino e aprendizagem. Por ter tantas informações relevantes, o PPP se confi gura numa ferramenta de planejamento e avaliação que você e todos os membros das equipes gestora e pedagógica devem consultar a cada tomada de decisão. Portanto, se o projeto de sua escola está engavetado, desatualizado ou inacabado, é hora de mobilizar esforços para resgatá-lo e repensá-lo. O PPP deve ser considerado o documento mais importante da escola, pois tem a capacidade de desenvolver a educação e toda a escola através da sua boa elaboração, da discussão de ideias viáveis e da participação de toda a comunidade. Contudo, em muitas escolas, este documento não é pensado desta maneira. Sendo este um documento obrigatório, muitas pessoas envolvidas enxergam como algo imposto e irrelevante. Nestes casos, o PPP se torna inoperante e limitador e não se concretiza como marco de mudança ou melhoria do qual se propõem. 65 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLA ATUAL E IDEAL Capítulo 2 Infelizmente, muitos gestores veem o PPP como uma mera formalidade a ser cumprida por exigência legal - no caso, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996. Essa é uma das razões pelas quais ainda há quem prepare o documento às pressas, sem fazer as pesquisas essenciais para retratar as reais necessidades da escola, ou simplesmente copie um modelo pronto (LOPES, 2011). O PPP deve considerar possibilidades atingíveis e não ideais impossíveis. Assim, deve considerar o objetivo como algo intencional e construído com tarefas diárias. O projeto da escola é uma ação intencional, com um sentido explícito, com um compromisso defi nido coletivamente. Planejamos o que temos intenção de fazer, de realizar, de acordo com o que temos, buscando o possível (VEIGA, 1996). Existe uma diferença muito grande em escolas onde o PPP está funcionando e outras em que o PPP não repercute da maneira que deveria ser construído. O PPP tem benefícios para a escola quando aplicado na prática e difi culdades para o ensino e professores quando não se aplica. O PPP construído de maneira ideal se torna útil e deve fazer a diferença em benefício dos alunos, professores e de toda a escola, mas quando não ativo, torna-se algo engessado e de gabinete, algo inútil. Em várias realidades, o PPP se torna inútil quando: é inexplorado, pois os envolvidos não aprofundam seus detalhes e a sua importância; é pessoal,quando apenas uma pessoa, normalmente o diretor ou o supervisor, está envolvida e assim deixando o documento impopular e antidemocrático; é inoperante, pois o que foi determinado e incluído no PPP não é viável ou não se transforma em ação prática; é de gabinete, pois fi ca engavetado no gabinete do diretor ao invés de ser um documento que mostra a escola e que todos os envolvidos no processo da escola, inclusive pais e alunos, tenham conhecimento; é repetitivo, uma vez que não sofre alterações, correções e melhorias durante os anos; é limitador profi ssional, pois não possibilita a participação dos profi ssionais da educação na sua elaboração e aplicação, ou até não promove a evolução dos professores com sugestões de melhorias, treinamentos e da formação continuada; e é burocrático, pois sendo um documento ofi cial, uma exigência burocrática, tornando-se um criador de regras e procedimentos desnecessários e inoperantes. Por outro lado, o PPP se torna útil quando: é mais bem difundido, pois toda a comunidade está ciente da missão, da visão, enfi m da importância da educação para a comunidade e de onde a escola pretende chegar, que tipo de educação será aplicada, que tipo de alunos quer desenvolver, respeitando uma fi losofi a que deve ser aplicada diariamente, com o conhecimento de todos; deve ser democrático, pois condiciona aos “atores” a participarem de forma atuante na sua construção, dar “voz” as suas solicitações e condicioná-los a serem responsáveis 66 SuPErViSÃo ESCoLAr pelas mudanças; deve ser ativo, pois expressa um conjunto de valores que devem respeitar os princípios de ação. Neste contexto, a práxis (ação-refl exão) se aplica de maneira exemplar, uma vez que o PPP gera uma discussão-refl exão em sua construção, para então se transformar em uma prática, em uma ação com o propósito transformador para então gerar outra práxis; dever ter a cara da escola, pois determina como é a escola exatamente, suas qualidades, seu contexto histórico e sua cultura. Aspectos fundamentais para o conhecimento de todos, mostrando uma “imagem” verdadeira de onde e como estamos e não uma imagem surreal; deve ser autoavaliativo, pois sendo um documento ativo, deve sofrer constantes alterações e melhorias. Deve determinar quem e quando fará a revisão e a cobrança dos prazos e ações determinadas anteriormente; deve ser valorizador do magistério, pois desde a sua construção o envolvimento dos professores deve ser promovido. Deve considerar aspectos em que o professor tenha a possibilidade de ter uma condição de trabalho adequada, com material didático, laboratórios, tempo da preparação de aulas, planejamento e de atendimento aos alunos e pais. Deve aumentar o apreço ao professor, aumentar a sua importância, a valorização pelo aluno e pela comunidade, sendo essa também uma das funções do PPP; e deve ser o promotor do sucesso acadêmico e social, pois tem como objetivo principal a educação de qualidade, a promoção social e a transformação dos alunos em alguém crítico e sabedor de suas funções, direitos e deveres na sociedade. A função social da escola, traduzida pelo sucesso de seus alunos, serve também como a gratifi cação e a certeza do trabalho pedagógico bem realizado. O bom PPP deve estar condicionado a este pressuposto maior. A seguir, veremos as realidades do PPP em relação a sua aplicabilidade, ou como ele é irrelevante quando é mal-entendido e construído em alguns casos e extremamente útil quando se percebe sua utilidade, em outros. QUADRO 2 – PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO Como Não Deve Ser Como Deveria Ser • Inexplorado • Pessoal • Inoperante • De Gabinete • Repetitivo • Limitador Profi ssional • Burocrático • Mais bem difundido • Democrático • Ativo • A Cara da Escola • Autoavaliativo • Valorizador do Magistério • Promotor do Sucesso Acadêmico e So- cial FONTE: Adaptado de Veiga (1996) 67 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLA ATUAL E IDEAL Capítulo 2 Para a construção de um PPP efi ciente, precisamos questionar e responder quatro perguntas básicas que dão fundamento e operacionalização a todo o processo, desde sua concepção até a sua efetivação. A seguir, estas quatro questões estão intercaladas e servem de resumo do que se busca quando se propõem a construir um PPP da escola e para a escola. QUADRO 3 – QUESTÕES FUNDAMENTAIS NA CONSTRUÇÃO DO PPP Análise Marco Referencial Diagnóstico Programação Quem somos? Onde queremos chegar? Como atingir os objetivos? O que fazer? Valores da instituição. Missão: propósito maior. Pontos fortes e fracos (hoje). Comunidade. Indicadores. Infraestrutura. Projetos desenvolvidos. Recursos materiais, fi nanceiros e humanos. Posicionamento: Político: visão do ideal de sociedade e de ser humano. Pedagógico: defi nição sobre a ação educativa e sobre as características que deve ter a instituição que planeja. Ė a busca das necessidades, a partir da análise da realidade e/ou do juízo sobre a realidade da instituição. Ė a busca da ação. O que é necessário e possível para diminuir a distância entre o que vem sendo e o que deveria ser. FONTE: Adaptado de Veiga (1996) 3.1 COMO FAZER O PPP DA ESCOLA Ao juntar as três dimensões (Projeto, Político e Pedagógico), o PPP ganha a força de um guia - aquele que indica a direção a seguir não apenas para gestores e professores, mas também funcionários, alunos e famílias. Ele precisa ser completo o sufi ciente para não deixar dúvidas sobre essa rota e fl exível o bastante para se adaptar às necessidades de aprendizagem dos alunos. Por isso, dizem os especialistas, a sua elaboração precisa contemplar os seguintes tópicos (TAKADA, 2009): • Missão. • Clientela. • Dados sobre a aprendizagem. • Relação com as famílias. • Recursos. • Diretrizes pedagógicas. • Plano de Ação. 68 SuPErViSÃo ESCoLAr Vamos fazer o Projeto Político-Pedagógico da Escola? a) Dicas práticas para elaborar o PPP Certas estratégias facilitam a preparação, a revisão e o acesso da equipe ao projeto político-pedagógico: • Não é preciso refazer a missão todo ano. Geralmente, ela dura de dois a cinco anos. Deve ser alterada quando a equipe percebe que os princípios já não correspondem as suas aspirações (os objetivos iniciais foram alcançados ou precisam ser modifi cados), a clientela é outra (aconteceram mudanças na comunidade) ou o contexto escolar teve alterações (introdução do Ensino Fundamental de nove anos ou a chegada da Educação Infantil ou de Jovens e Adultos). Esse trecho deve ser respaldado nos planos municipal ou estadual de Educação. • Clientela, dados sobre a aprendizagem, recursos, relação com as famílias, diretrizes e plano de ação devem ser revistos e atualizados ao longo do ano – e isso pode ser feito durante as reuniões pedagógicas e institucionais, nos encontros do Conselho Escolar e na semana de planejamento. Para tanto, a cada encontro, defi na quem será o responsável por sistematizar os dados e inseri-los no PPP. • A linguagem usada deve ser simples. • O ideal é que o PPP seja montado em um arquivo eletrônico, no computador, e, depois de impresso, colocado em uma pasta- arquivo para facilitar o acesso e as alterações durante o ano. • Professores e funcionários podem receber cópias do documento, quando possível, para que consultem sempre que surgirem dúvidas. • É interessante elaborar uma versão resumida para entregar aos pais no ato da matrícula. • Organizar o PPP em um fi chário facilita o manuseio, a conservação e a revisão ao longo do ano. b) Defi nição da missão (ou marco referencial) O que é? Conjunto dos valores nos quais a comunidade escolar acredita e das aspirações que tem com relação à aprendizagem dos alunos. Precisa responder a perguntas como: “Para nós, o que é Educação?” e “Que aluno queremos formar?”. Também pode ser chamado de marco referencial. 69 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLAATUAL E IDEAL Capítulo 2 Por que é importante? Defi ne a identidade da instituição e a direção na qual ela vai caminhar. Se um dos objetivos é formar pessoas críticas e autônomas, deve-se investir na gestão participativa e em projetos em que todos os segmentos tenham voz e assumam responsabilidades. Onde buscar informações? Duas boas referências são os planos municipal e estadual de Educação, quando existirem na rede. Contudo, usá-los como base não exime a escola de detalhar os próprios valores. É preciso que a equipe gestora ouça a comunidade para estabelecer com ela os princípios desejados. Como fazer? Os princípios e valores da escola devem ser discutidos em reuniões pedagógicas ou institucionais (com os funcionários) e assembleias do conselho escolar, do conselho de classe e do grêmio estudantil. É papel do diretor participar de todos esses encontros, levar material bibliográfi co que possa embasar as discussões e registrar o que foi debatido. Depois disso, a direção também deve fazer a redação deste trecho do PPP – levando em consideração o que dizem os planos municipal ou estadual de Educação, quando existirem –, compartilhá-lo com toda a comunidade escolar e acolher sugestões e críticas. Como apresentar no PPP? Em um texto sucinto e objetivo, que comunique a identidade da escola com clareza a qualquer leitor do documento, seja ele professor, funcionário, pai ou aluno. c) Descrição da clientela O que é? Breve histórico da comunidade e da fundação da escola e um levantamento detalhado sobre as condições social, econômica e cultural das famílias. Por que é importante? Oferece informações para que a instituição elabore as diretrizes pedagógicas e defi na a maneira pela qual vai se relacionar e se comunicar com a comunidade. 70 SuPErViSÃo ESCoLAr Onde buscar informações? A melhor fonte é a fi cha de matrícula, mas podem ser preparados questionários específi cos ou feitas entrevistas com os pais. Como fazer? Paralelamente ao processo de elaboração da missão, o diretor deve reunir as informações de todas as fi chas de matrícula (e de possíveis questionários complementares preenchidos pelas famílias), organizando-as em tabelas e gráfi cos por assunto (renda, escolaridade e profi ssão dos pais, cidade de origem, entre outros). Para um resultado mais detalhado, pode-se dividir as informações sobre cada assunto também por séries e turmas. Tabulados e analisados os dados, é preciso apresentar o resultado parcial aos demais gestores e aos professores – ainda que faltem etapas para a conclusão do PPP –, de modo que todos conheçam a clientela atendida e possam pensar na melhor forma de desenvolver projetos pedagógicos e institucionais e se relacionar com as famílias. Como apresentar no PPP? Em tabelas ou gráfi cos que organizam os dados e ajudam na visualização das características importantes (como cidade de origem, faixa de renda, grau de instrução e profi ssão dos pais, religião e hábitos que cultivam). Eles devem estar acompanhados de textos analíticos. Vale lembrar que esta é uma parte do PPP que precisa ser revista periodicamente, pois pode haver mudanças na caracterização do público. d) Levantamento dos dados sobre aprendizagem O que são? Informações quantitativas sobre matrículas, aprovação, reprovação, evasão, distorção idade/série, transferências e resultados de avaliações. Por que são importantes? Compõem um retrato da aprendizagem na escola e permitem aferir a qualidade do ensino. Deve constar dados, como evasão e repetência, para servirem de parâmetros de melhorias. Onde buscar informações? Nos quadros de aprovação, reprovação e movimentação de alunos preparados para enviar ao Ministério da Educação (MEC) e à Secretaria de Educação, nos relatórios das avaliações externas e nas avaliações internas. 71 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLA ATUAL E IDEAL Capítulo 2 Como fazer? Enquanto os dados sobre a clientela são tabulados (ou mesmo antes ou depois disso, caso julgue melhor), o diretor, junto ao coordenador pedagógico, deve reunir e tabular as informações sobre matrículas, aprovação, reprovação, evasão, distorção idade/série e transferências, e resultados de avaliações internas e externas. Aqui, também é necessário separar os dados em gráfi cos e tabelas (por assunto, séries e turmas), produzir textos analíticos sobre eles e depois compartilhar o material com o restante da equipe, a fi m de permitir a localização de possíveis problemas e a defi nição de metas e ações. Como apresentar no PPP? Em tabelas ou gráfi cos por tema (como evasão e aprovação) e por disciplina (para mostrar a aprendizagem de uma área ao longo do tempo), acompanhados de análises. e) Estudo do relacionamento com as famílias O que é? A defi nição da maneira como os pais podem contribuir com os projetos da instituição e participar das tomadas de decisões. Por que é importante? A escola existe para atender à sociedade e a integração das famílias no processo pedagógico é garantida tanto pela LDB como pelo Estatuto da Criança e do adolescente (ECA). Onde buscar informações? Cada projeto deve prever um tipo de participação (entrevista com os pais, ajuda na pesquisa etc.), porém é preciso consultar os instrumentos de identifi cação da clientela para analisar a viabilidade das propostas. Como fazer? Enquanto realiza os três primeiros levantamentos, o diretor também já pode fi car atento à maneira com que a escola se relaciona com as famílias dos alunos, por meio dos instrumentos de identifi cação da clientela e de conversas com as famílias – seja nas reuniões de pais, no conselho escolar ou mesmo em eventos. Já nos encontros com a equipe, o gestor deve conversar sobre como está a parceria hoje e o que se espera construir no futuro, refl exões que, em seguida, o próprio diretor formaliza em um texto escrito. 72 SuPErViSÃo ESCoLAr Como apresentar no PPP? Descrição do vínculo que se pretende construir, estabelecendo metas para o fortalecimento do Conselho Escolar e a presença nas reuniões de pais. f) Pesquisa sobre os recursos O que são? Descrição da estrutura física da escola (prédios, salas, equipamentos, mobiliários e espaços livres), dos recursos humanos (composição da equipe, qualifi cação e horas de trabalho) e fi nanceiros (Programa Dinheiro Direto na Escola, via Secretaria de Educação etc.) e dos materiais pedagógicos. Por que são importantes? Os inventários deixam explícitas as condições do espaço de que a escola dispõe para desenvolver os projetos, a formação atual da equipe e as necessidades de capacitação e quanto está disponível para reformas, construções, cursos, compra de material pedagógico etc. Onde buscar informações? É preciso fazer um levantamento de campo detalhado a respeito de cada uma das áreas – o que pode ser dividido com outros membros da equipe – e solicitar ajuda da secretaria da escola para coletar os dados sobre os funcionários (quantos são, o que fazem e a formação que têm). Como fazer? Para reunir todos esses números e informações, é recomendável solicitar ajuda dos colegas, como os profi ssionais da secretaria da escola (que podem ajudar com dados sobre composição da equipe, qualifi cação e horas de trabalho) e coordenadores pedagógicos (que sabem a estrutura e os recursos utilizados e almejados para os encontros de formação). O material coletado por eles deve ser somado às pesquisas que o próprio diretor conduz sobre os recursos físicos e fi nanceiros e relatados também pelo gestor em um texto descritivo. Como apresentar no PPP? Por meio de relatos escritos sobre a estrutura física, de tabelas mostrando a quantidade e a qualidade dos recursos pedagógicos e humanos e de gráfi cos com as informações fi nanceiras. 73 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLA ATUAL E IDEAL Capítulo 2 g) Estabelecimentode diretrizes pedagógicas O que são? Formam o currículo da escola e descrevem os conteúdos e os objetivos de ensino, as metas de aprendizagem e a forma de avaliação, por série ou ciclo por disciplina. Por que são importantes? É baseado nelas que a equipe formula planos para implantar programas e projetos e produz indicadores sobre o impacto das ações. Onde buscar informações? Nos dados de aprendizagem da escola, nos referenciais curriculares de Secretarias estaduais e municipais, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), nos indicadores de qualidade e no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Como fazer? Esta é uma seção do PPP que deve ser conduzida pela coordenação pedagógica e pelos professores da escola, que mantêm contato mais estreito com as necessidades de aprendizagem dos alunos. Assim, o levantamento sobre a situação atual e o cenário desejável pode começar já no início do processo. Depois, cabe ao coordenador responsável pela pesquisa redigir os objetivos e conteúdos de cada área ou disciplina, bem como as expectativas e metas de aprendizagem por série e ciclo, e compartilhar e ajustar o texto com toda a equipe. Como apresentar no PPP? Em forma de planilha, contemplando todos os itens (conteúdos, metas etc.) por série ou ciclo e por disciplina. h) Elaboração do plano de ação O que é? Lista completa com todas as ações e os projetos institucionais da escola para o ano letivo. Por que é importante? Com base em tudo o que foi pesquisado e estudado nas etapas anteriores do PPP, estabelece o que será feito (na prática) em benefício dos processos de ensino e de aprendizagem para atingir os objetivos defi nidos inicialmente. 74 SuPErViSÃo ESCoLAr Onde buscar informações? Em projetos que deram certo em anos anteriores, na própria escola ou em outras unidades com as mesmas necessidades de ensino, em livros de didáticas específi cas e junto à equipe técnica da Secretaria de Educação. Como fazer? Esta parte do PPP deve, em especial, ser debatida com a equipe de gestores e professores. Assim, todos podem opinar sobre os projetos necessários ao processo de ensino e aprendizagem, conhecer o conjunto do trabalho que entrará em vigor na escola e oferecer ajuda e contribuição naquilo que for possível. Ao fi nal dos debates, fi ca com os gestores a tarefa de redigir o texto que constará no projeto político-pedagógico. Como apresentar no PPP? Os tópicos necessários em cada um dos projetos descritos são: objetivos, duração, profi ssionais responsáveis, parceiros, encaminhamentos, etapas e avaliação. i) Comunicação à comunidade escolar O documento fi nal, com trechos de todas as etapas anteriores, deve ser enviado e submetido ao conselho escolar, para que os representantes de todos os segmentos possam sugerir possíveis alterações. Em seguida, o PPP deve ser divulgado a todos – uma cópia fi ca acessível na secretaria da escola, tanto para consulta como para atualizações ao longo do ano, e uma cópia é entregue à Secretaria de Educação. FONTE: TAKADA, P. Planejamento: a engrenagem da boa educação. Nova Escola: Gestão Escolar. 2009. Disponível em: http:// revistaescola.abril.com.br/planejamento-e-avaliacao/planejamento/ planejamento-escolar-427804.shtml. Acesso em: 12 jun. 2019. 75 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLA ATUAL E IDEAL Capítulo 2 1 Sendo supervisor, que ações você poderia implementar para que o PPP atinja os objetivos nele propostos? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________. A próxima seção deste capítulo discute o Plano de Ação. Este plano tem o “poder” de responder às questões vitais para a execução do que foi proposto pelo PPP. Questões como: Qual o objetivo para solucionar ou melhorar uma questão? Como atingir esses objetivos? Quando será feito? Quem será(ão) o(s) responsável(eis)? Quanto será gasto para executar determinada ação? Como saberemos se este plano está sendo realizado e se está dando certo? Essas e outras questões devem ser elaboradas no plano e respondidas na execução dele. Então vamos lá, luz, câmera e ‘Plano de Ação’. 4 PLANO DE AÇÃO As decisões tomadas pelo pessoal da escola, através do PPP, podem ser mais bem aplicadas na prática com a elaboração do plano de ação. O plano de ação pode ser considerado um resumo do que deve ser feito em um formato simples, mas não simplista, que contemple todas as ações, objetivos e períodos descritos. 76 SuPErViSÃo ESCoLAr PLANO DE AÇÃO O plano de ação é o planejamento de todas as ações necessárias para atingir um resultado desejado. É um momento importante para a entidade pensar sobre a sua missão, identifi cando e relacionando as atividades prioritárias para o ano em exercício, tendo em vista os resultados esperados. Um bom plano de ação deve deixar claro tudo o que deverá ser feito, como e quando, para o cumprimento de seus objetivos e metas, quando a sua execução envolver mais de uma pessoa, deve esclarecer quem será o responsável por cada ação, para evitar possíveis dúvidas, deve, ainda, esclarecer os porquês da realização de cada ação e onde serão feitas. Para atingir um objetivo, uma meta, precisamos fazer alguma coisa, precisamos agir – realizar uma ou, geralmente, várias ações. Até “não fazer nada” pode ser uma ação necessária para atingir um objetivo. Exceto nos casos de urgência máxima, precisamos defi nir uma data para concluir – um prazo. Quanto maior a quantidade de ações e pessoas envolvidas, mais necessário e importante é ter um plano de ação. Quanto melhor o plano de ação, maior a garantia de atingir a meta. Para aplicar as decisões tomadas pelo PPP, um bom plano de ação é indispensável. Um plano de ação pode conter além de outros dados: a) Objetivo – O QUE FAZER São propósitos específi cos, alvos a serem alcançados ao longo de determinado período de tempo, que, em conjunto, resultarão no cumprimento da missão da organização. Indica onde estarão concentrados os esforços. b) Estratégias – COMO FAZER São os caminhos escolhidos que indicam como a organização pretende concretizar seus objetivos e, consequentemente, sua missão. Constituem respostas às ameaças e às oportunidades identifi cadas, bem como aos pontos fracos e fortes encontrados. c) Cronograma – QUANDO FAZER Relaciona as atividades a serem executadas e o tempo previsto para sua realização. O cronograma permite que se faça um esforço no sentido de: 77 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLA ATUAL E IDEAL Capítulo 2 • Identifi car o tempo necessário para a execução. • Estimar o tempo em face dos recursos disponíveis. • Analisar a possibilidade de sobrepor atividades, executando-as paralelamente. • Verifi car a dependência entre as atividades. d) Responsável – QUEM IRÁ FAZER Indica o(os) responsável(eis) pela execução. e) Recursos Necessários – COM QUE FAREMOS Identifi ca os recursos necessários para a execução da ação. f) Acompanhamento e Avaliação – QUEM SERÁ O FISCAL Uma vez o Plano de Ação elaborado, é hora de acompanhar sua execução e cobrar datas e resultados. FONTE: ARAÚJO JÚNIOR, O. L. Plano de Ação. Disponível em: http://www. webartigos.com/articles/48927/1/Plano-de-Acao/pagina1. html. Acesso em: 22 jun. 2019. 1 A partir do que foi visto sobrePlano de Ação, determine a ordem exata da sequência de elaboração do Plano: ( ) QUEM IRÁ FAZER? Indica o/os responsável/eis pela execução. ( ) QUANDO FAZER? Relaciona as atividades a serem executadas e o tempo previsto para sua realização. ( ) O QUE FAZER? São propósitos específi cos, alvos a serem alcançados ao longo de determinado período de tempo, que, em conjunto, resultarão no cumprimento da missão da organização. Indica onde estarão concentrados os esforços. ( ) QUEM SERÁ O FISCAL? Uma vez o Plano de Ação elaborado, é hora de acompanhar sua execução e cobrar datas e resultados. ( ) COMO FAZER? São os caminhos escolhidos que indicam como a organização pretende concretizar seus objetivos e, consequentemente, sua missão. ( ) COM QUE FAREMOS? Identifi ca os recursos necessários para a execução da ação. 78 SuPErViSÃo ESCoLAr Exemplo de Plano de Ação QUADRO 4 – EXEMPLO DE PLANO DE AÇÃO OBJETIVO (O Que Fazer?) ESTRATÉGIA (Como Fazer?) CRONOGRAMA (Quando Fazer?) RESPONSÁVEL (Quem Fará?) RECURSOS (Quanto?) AVALIAÇÃO (Acompanhar) Diminuir a evasão Ministrar aulas mais dinâmicas e atrativas Ano letivo Coordenador Pedagógico; Professores “Maria” Nenhum Trimestral – “Maria” Estimular a prática docente e o nível de satisfação profi ssional Reuniões de avaliação permanente; Auxílio na preparação do plano de aula; Participação em cursos de aperfeiçoamento. Ano letivo Diretor; Supervisor; Coordenador Pedagógico; Professores “João” R$ 10.000,00 Semestral – “João” Aumentar a participação da comunidade escolar Reuniões e atividades periódicas com os pais; Criação da APP Mensalmente, na 1ª segun- da-feira do mês Supervisor; Coordenador Pedagógico. Coordenador de Turma “Pedro” Nenhum Mensal – “Pedro” FONTE: Adaptado de Gandin (1986) Apesar de ser de 2006, o MEC desenvolveu um material extremamente útil para o desenvolvimento do Plano de Desenvolvimento da Escola, com exemplos práticos e sugestões de aplicabilidade. Recomendamos a leitura e a aplicação: BRASIL. Como elaborar o Plano de Desenvolvimento da Escola. Aumentando o desempenho da escola por meio do planejamento efi caz. 3. ed. Brasília: FUNDESCOLA/DIPRO/FNDE/ MEC, 2006. Disponível em: ftp.fnde.gov.br › web › fundescola › publicacoes_manuais_tecnicos. Acesso em: 4 fev. 2020. 79 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLA ATUAL E IDEAL Capítulo 2 Agora é com você! Esperamos que realize um bom trabalho na elaboração do Plano de Ação de sua escola. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Nesse capítulo, vimos sobre a importância do planejamento escolar em suas etapas e difi culdades na circunstância de supervisor. Identifi camos os desafi os da supervisão na elaboração do planejamento escolar e sua aplicabilidade na escola atual e para a escola ideal e discutimos o planejamento escolar como possibilidade de mudança no ambiente escolar. Percebemos que a função de um bom supervisor está intimamente ligada ao planejamento. O conhecimento do planejamento, seja o PPP, os planos ou projetos, é fundamental no dia a dia da escola, não apenas no conhecimento desta ferramenta, mas também na boa elaboração e, principalmente, na aplicação das ideias na realidade escolar. Nesse sentido, a complexidade da supervisão escolar passa a ter uma importância ainda maior, uma vez que pretende e deve encaminhar a educação para uma possibilidade que reconhece o planejamento, suas características e limitações, para uma escola em evolução. Nesse capítulo, discutimos o trabalho teórico do supervisor em seus aspectos administrativos e pedagógicos, através do planejamento. Sugerimos exemplos e modelos que podem ser úteis na construção do trabalho na escola. Logicamente que esses conceitos são aplicáveis na escola, mas o sucesso deles depende da boa “propaganda” aos professores e à comunidade da importância que esses conceitos têm em promover mudanças e melhorias necessárias para a escola e para a atividade docente e discente. 80 SuPErViSÃo ESCoLAr REFERÊNCIAS CARNEIRO, V. M. O. Planejamento: um vai e vem pedagógico. 2007. Disponível em: http://www.moc.org.br/artigos/23-05-2007_16_10_09.pdf. Acesso em: 4 maio 2019. GAMA, A. de S.; FIGUEIREDO, S. A. de. O planejamento no contexto escolar. Revista Discursividade, Campo Grande, n. 4, ago. 2009. Disponível em: http:// www.discursividade.cepad.net.br/EDICOES/04/Arquivos04/05.pdf. Acesso em: 10 jun. 2019. GANDIN. D. Planejamento como prática educativa. São Paulo: Loyola, 1986. LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. LOPES, N. PPP na prática. 2011. Disponível em: http://revistaescola.abril. com.br/ planejamento-e-avaliacao/planejamento/7-elementos-essenciais-ao- ppp-610996.shtml. Acesso em: 12 jun. 2019. MARTINEZ, M. J.; LAHONE, C. O. Planejamento escolar. São Paulo: Saraiva, 1997. MENEGOLLA, M.; SANT’ANA, I. M. Por que Planejar? Como Planejar? Currículo e Área-Aula. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 2001. PADILHA, R. P. Planejamento dialógico: como construir o projeto político- pedagógico da escola. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2001. PERALTA, D. A.; DIAS, A. L. B.; GONÇALVES, H. J. L. Educação Profi ssional nos EUA: traços históricos, legais e curriculares. Educ. Real, Porto Alegre, v. 43, n. 3, jul./set. 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S2175-62362018000300969. Acesso em: 12 fev. 2020. SILVA JUNIOR, C. A. O espaço da administração no tempo da gestão. In: MACHADO, L. M.; FERREIRA, N. S. C. (Orgs.). Políticas e gestão da educação: dois olhares. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. TAKADA, P. Planejamento: a engrenagem da boa educação. 2009. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/planejamento-e-avaliacao/planejamento/ planejamento-escolar-427804.shtml. Acesso em: 12 jun. 2019. 81 O PLANEJAMENTO ESCOLAR E OS DESAFIOS DA SUPERVISÃO PARA UMA ESCOLA ATUAL E IDEAL Capítulo 2 VALLEJO, J. M. B. Uma escola com projeto próprio. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. VASCONCELLOS, C. dos S. Planejamento: Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político-Pedagógico. 7. ed. São Paulo: Libertad, 2000. VASCONCELLOS, C. dos S. Construção do conhecimento em sala de aula. São Paulo: Libertad, 1995. VEIGA, I. P. A. Projeto Político-Pedagógico da escola: uma construção coletiva. In: VEIGA, I. P. A. (Org.). Projeto Político-Pedagógico da escola: uma construção possível. Campinas: Papirus, 1996. VEIGA, I. P. A.; RESENDE, L. G. de (Orgs.). Escola: espaço do projeto político- pedagógico. Campinas: Papirus, 1998. 82 SuPErViSÃo ESCoLAr CAPÍTULO 3 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Entender a importância da gestão democrática e a sua aplicação no bom andamento da gerência das instituições de ensino. Investigar novas possibilidades da educação como ferramenta de transformação social e cultural para uma sociedade justa. Discutir criticamente as atribuições dos personagens que compõem os cargos de orientação e supervisão e a boa integração entre eles. 84 SuPErViSÃo ESCoLAr 85 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Depois de discutirmos o planejamento, transcorreremos sobre a gestão democrática, suas características e aplicação como uma forma de gestão que pretende trazer para a escola decisões que atendam aos anseios dos alunos, em se tratando da parte pedagógica, além de atender também as possibilidades para uma escola inclusiva e transformadora para toda a comunidade. Teremos também um momento para descrever novas possibilidades socioculturais, em que a escola se torna ofi cialmente uma instituição de transformação de seus envolvidos na busca de uma sociedade justa e na promoção do aluno-cidadão em sua plenitude. É válido também descreveros personagens nesta gestão democrática e os caminhos de interação entre eles como um bom time que luta para o sucesso, realizando cada um, funções coletivas ou individualizadas, mas sempre em benefício de todos. Nesta parte do livro, compreenderemos as atribuições práticas do supervisor em seu trabalho na escola. Neste sentido, perceberemos que o supervisor escolar atua como peça fundamental na construção do currículo, no auxílio aos professores no processo de ensino-aprendizagem, e nos métodos de aprendizagem, além de ser decisivo na colaboração da escolha do material didático e no processo de avaliação, seja de aprendizagem, dos projetos, entre outros planos. Sugerimos meios e técnicas para que o supervisor seja sabedor de suas atribuições no dia a dia de sua rotina. Para tanto, descrevemos funções, mas especialmente, conceitos e novas possibilidades para que o trabalho do supervisor possa transcender do óbvio, para algumas possibilidades que servirão em um propósito ainda maior, o de buscar a educação de qualidade, a valorização do professorado, através da formação continuada, a integração escola-família para uma escola atuante, marcante e fonte de transformação de alunos, professores, pais, comunidade e o próprio supervisor. Neste capítulo, identifi caremos as possibilidades mais comuns ao cargo de supervisor escolar. Sugerimos possibilidades para que o trabalho seja bem realizado e para que nesse processo o supervisor seja ainda mais atuante e, assim, mais efetivo no processo escolar. É importante percebermos que essas técnicas sugeridas são apenas algumas de tantas outras de que o supervisor pode fazer uso para incrementar ainda mais suas funções como articulador efi ciente da construção dos trabalhos para uma escola em busca de excelência pedagógica. 86 SuPErViSÃo ESCoLAr 2 A GESTÃO DEMOCRÁTICA Para início de conversa, apresentaremos a gestão democrática como forma de gestão escolar com participação da comunidade escolar (professores, alunos, pais, direção, equipe pedagógica e demais funcionários) nas decisões da escola. De acordo com a LDB nº 9.394/96, as instituições públicas que ofertam a Educação Básica devem ser administradas com base no princípio da Gestão Democrática. Então vamos ver o que diz a lei. 2.1 A GESTÃO DEMOCRÁTICA NA LDB Quando se fala em democracia, muitos de nós pensamos em política ou forma de governo. Na verdade, democracia tem, sim, a ver com política, pois dá ao cidadão o “poder” de decidir de maneira direta em situações que afetam a sua vida. A democracia legítima se baseia na busca dos ideais de igualdade e liberdade para todos. É interessante percebermos que na educação a democracia está presente, normalmente, na escolha da escola onde estudaremos, na escolha do gestor e principalmente na oportunidade de todos participarem na formação do conselho escolar, de forma democrática e positiva, para a melhoria da educação e da escola. Outro fator, crucial para uma educação transformadora e social, é a possibilidade de o aluno participar livremente e opinar com consciência sobre a realidade em que vive e sobre as possibilidades que a própria educação pode promover. Poderíamos então chamar essa constituição da opinião como uma preparação para atuar na sociedade de forma cidadã, promovendo assim uma formação democrática. A LDB, em seus artigos 14 e 15, apresenta as seguintes determinações a respeito da gestão democrática: Art. 14 – Os sistemas de ensino defi nirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I. Participação dos profi ssionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola. II. Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. Art. 15 – Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa 87 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 e de gestão fi nanceira, observadas as normas de direito fi nanceiro público (BRASIL, 1996, s.p.). Está determinado, portanto, que a gestão deve contar com a participação do corpo docente e da comunidade e que a escola tem autonomia gerencial. As normas desta gestão devem ser determinadas pelo gestor da escola, que deve buscar nesta prática repensar a realidade da escola e principalmente a estrutura de poder. De acordo com Veiga e Fonseca (2003), a socialização do poder que o gestor deve promover, propicia a prática da participação coletiva; da solidariedade, que supera a opressão; da autonomia, que anula a dependência de órgãos intermediários que elaboram as políticas educacionais das quais a escola é mera executora. Como se percebe, a gestão democrática não é uma possibilidade fácil na realidade das escolas, mas pretende, e consegue em alguns casos, promover a cidadania, a pedagogia emancipatória e a mobilização social. 2.2 PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS DA GESTÃO DEMOCRÁTICA A gestão democrática deve seguir certos conceitos para que se respeite a própria concepção de “democrática”. O estilo de gestão com ênfase na democracia deve preceder de ações concretas e competências profi ssionais que assegurem o desenvolvimento de práticas de gestão com a participação e infl uência democrática (LIBÂNEO, 2003). Baseadas em Libâneo (2003), algumas ações concretas são combinadas com os princípios da gestão e estão determinadas a seguir: a) Autonomia • Autonomia da escola e da comunidade educativa: mesmo tendo que seguir as diretrizes gerais (do fi nanciamento escolar, do pagamento dos salários dos professores, da legislação e do currículo) deve ter autonomia em gerenciar suas decisões, administrar livremente seus recursos fi nanceiros e poder traçar objetivos futuros. b) Participação da comunidade e dos profi ssionais na gestão • Relação orgânica entre a direção e a participação dos membros da equipe escolar: a participação de professores, pais, alunos, 88 SuPErViSÃo ESCoLAr funcionários e outros representantes da comunidade, na própria escolha destes representantes, bem como a viabilização dessa participação, determinam a gestão democrática. • Formação de uma boa equipe de trabalho: pessoas qualifi cadas trabalhando de forma cooperativa e solidária. Defi nição de formas de gestão e determinação das funções de cada componente na estrutura organizacional de acordo com as especialidades dos membros. • Envolvimento da comunidade no processo escolar: o conselho da escola deve ter a presença da comunidade, especialmente de pais, para preparar o projeto pedagógico e acompanhar e avaliar a qualidade dos serviços prestados. Neste caso, vale lembrar que uma visão externa é relevante e pode perceber defeitos e desenvolver ideias que os envolvidos tradicionais (professores e diretores) não percebem nitidamente. Com a participação comunitária, a escola propicia uma cultura de aprendizagem, em que toda a comunidade está imbuída na melhoria da educação e assim se tornar uma comunidade de aprendizagem. • Fortalecimento de formas de comunicação e de difusão de informações: a boa gestão deve estar baseada também na difusão de informações para a comunidade escolar. As decisões tomadas pelo conselho ou a direção, devem ser transmitidas e absorvidas por todos, para o bom andamento do processo educacional. A comunidade deve estar ciente de possíveis alterações e novas ideias para então instaurar uma prática com o entendimento que se torne público e transparente. c) Planejamento das atividades • Há a necessidade de um plano de ação ou projeto pedagógico que busque uma ação racional de estratégias de ação, de provimento e ordenação dos recursos disponíveis, de cronogramas e formas de controle e avaliação. d) Formação e desenvolvimento profi ssional • Formação continuada para o desenvolvimento pessoal eprofi ssional dos integrantes da comunidade escolar: a gestão democrática valoriza a capacitação profi ssional e a competência técnica. A organização e gestão do trabalho escolar requerem o constante aperfeiçoamento profi ssional – político, científi co, pedagógico – de toda a equipe. • Ações de desenvolvimento profi ssional: destinam-se à formação continuada do pessoal da escola durante a jornada de trabalho (participação no PPP, novas práticas, metodologias, pesquisas, cursos, pós-graduação a distância etc.) e fora da jornada de trabalho (cursos, seminários, simpósios, palestras, pós-graduação etc.). 89 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 e) Solução de problemas • Utilização de informações concretas e análise de cada problema em seus múltiplos aspectos, com ampla democratização das informações: gestão baseada na coleta de dados e de informações reais e seguras, bem como uma análise global dos problemas (buscar sua essência, suas causas, seus aspectos fundamentais, para além das aparências). Isso signifi ca verifi car a qualidade das aulas, o cumprimento dos programas, da qualifi cação e a experiência dos professores, as características socioeconômicas e culturais dos alunos e da comunidade, os resultados dos trabalhos que a equipe propôs atingir, a saúde dos alunos, a adequação entre métodos e procedimentos didáticos, entre outros. f) Avaliação • Avaliação compartilhada: avaliação e acompanhamento constante e mútuo dos procedimentos organizativos. • Avaliação do sistema escolar, das escolas e da aprendizagem: a avaliação não deve ser apenas do aluno, mas sim de todo o sistema educacional e da escola. Existem meios formais de avaliar as políticas de educação e de gestão, como os exames nacionais de cunho pedagógico (ex. ENEM) e de cunho de gestão (ex. IDEB). A intenção é formular parâmetros quantitativos e qualitativos sobre alunos, professores, estrutura organizacional, recursos físicos e materiais etc. A escola assim tem a possibilidade de perceber suas falhas e virtudes para então buscar uma educação efi ciente, de acordo com a sua própria situação. g) Envolvimento de pais e alunos • Relações humanas produtivas e criativas, assentadas na busca de objetivos comuns: relações humanas que preservem a exigência e o respeito, além de valorizar a experiência e o diálogo. • Envolvimento dos alunos em processos de solução de problemas e de tomadas de decisões: os alunos devem ser estimulados ao diálogo, praticar refl exões e atuar nos conteúdos escolares com a intenção de transformar o seu próprio pensamento e comportamento. Neste contexto, podem ser explorados assuntos de formação social, econômicos, políticos e culturais. Também temos a chance de cobrir tópicos, como as drogas, a violência, a prostituição infantil, entre outros de cunho social. • Regras disciplinares: os alunos devem estar envolvidos no desenvolvimento das normas disciplinares. Devem participar para melhor discutir e assim melhor respeitá-las. Nesta construção democrática das 90 SuPErViSÃo ESCoLAr normas, o aluno se sente valorizado e respeitado e acaba cobrando a postura disciplinar de outros colegas e até de professores. • Envolvimento dos pais: as melhores escolas do mundo têm em comum certas virtudes. Uma delas é a intensa participação dos pais no acompanhamento do desempenho escolar para que seus fi lhos atinjam o melhor em termos educacionais. Esta participação acontece na própria escola, onde os pais são atuantes na Associação de Pais e Mestres, ou no Conselho de Classe, assim como fora da escola, acompanhando e estimulando seus fi lhos fora do ambiente formal da escola, em tarefas ou outras atividades de cunho formativo e pedagógico. Exemplos da Participação Democrática 1. Na Escola Municipal Casa Meio Norte, em Teresina, os conselheiros são responsáveis pelo acompanhamento da frequência das crianças e acionados para visitar as famílias em caso de faltas. Os integrantes participam ainda das decisões pedagógicas e administrativas, bem como da destinação dos recursos. Para se ter ideia do envolvimento da comunidade, uma das conselheiras da escola é a vice-presidente da associação de moradores do bairro, e os alunos também têm vez. Os líderes de turma, eleitos pelas crianças e adolescentes, conversam diretamente com a direção e os professores, além de integrarem os conselhos de classe. 2. Já na Escola Municipal Professor José Negri, em Sertãozinho (SP), os pais têm permissão para assistir às aulas e conhecer de perto a metodologia de cada professor. Eles aproveitam também o espaço para realizar atividades comunitárias e melhorar as instalações, como a quadra de esportes e a biblioteca – ambas construídas com o apoio das famílias, que organizaram abaixo-assinado e reivindicaram recursos junto ao prefeito e aos vereadores. 3. A Escola Estadual Professora Guiomar Gonçalves Neves, em Trajano de Moraes (RJ), por sua vez, aposta em um conselho fi scal escolar para acompanhar a aplicação de todos os recursos. Um painel no corredor, logo na entrada, informa os visitantes sobre o uso do dinheiro. Além disso, os pais participam de reuniões bimestrais da 91 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 Associação de Apoio à Escola (AAE), que debate inclusive o projeto político-pedagógico da instituição. FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/2867/transparencia-e- gestao-participativa-aliadas-a-qualidade>. Acesso em: 30 jun. 2019. 2.3 GESTÃO DEMOCRÁTICA E A ESCOLA ATUAL Entende-se como gestão democrática a possibilidade de “oferecer” ao aluno uma gerência das dimensões pedagógicas, administrativas e fi nanceiras de uma escola, realizada por pessoas que têm conhecimento do processo educacional e que estão preocupadas com o andamento das atividades cotidianas com intenção de melhorar a escola. A gestão democrática pretende dar a oportunidade a um grupo de pessoas de participarem na discussão de possibilidades para a escola. Esta concepção pretende conectar a concepção de ideias e a sua aplicação, o pensar e o fazer e entre teoria e prática. Pretende, portanto, promover uma refl exão/decisão/ação do que é possível dentro do contexto de cada escola e da comunidade que ela representa. A gestão escolar tem diversas concepções, que vão desde a Tradicionalista, em que o diretor tem função centralizadora de tomada de decisão e condução das tarefas, até a gestão Democrático-Participativa. Libâneo (2003) determina que a gestão democrático-participativa acentua a busca de objetivos comuns assumidos por todos através das decisões coletivas e que estas decisões sejam aplicadas e avaliadas pelos membros da gestão. A escola atual necessita entender as transformações e o próprio supervisor compreender que a escola tradicional deve passar por uma renovação. Medina (2002, p. 88) traz o que os profi ssionais apontam como ‘ação supervisora tradicional’, fazendo um paralelo com a ‘ação supervisora renovada’, as quais são destacadas a seguir: 92 SuPErViSÃo ESCoLAr QUADRO 1 – PARALELO ENTRE A AÇÃO SUPERVISORA TRADICIONAL E A RENOVADA TRADICIONAL RENOVADA Ter como objetivo a harmonia do grupo. Explicitar as contradições, trabalhando o confl ito com o objetivo de estabelecer relações de trabalho no grupo da escola. Buscar a igualdade num processo de mascaramento da realidade. Trabalhar as diferenças. Trabalhar a partir do seu próprio desejo. Trabalhar buscando criar demandas. Produzir modelos de conhecimento. Criar formas próprias de conhecimento. Enfatizar procedimentos linearizados. Enfatizar a produção do professor no interior da escola, num movimento de ensinar e aprender. Ser um facilitador. Ser um problematizador. Ter o conhecimento como um dado absoluto. Ter o conhecimento como um dado relativo. Ter comportamento de neutralidade. Ter comportamento expresso com clareza. Trabalhartendo em vista um tipo ideal de homem. Trabalhar tendo em vista o sentido da vida humana. FONTE: Medina (2002, p. 88) 1 Considerando o quadro anterior, relacione o gestor correspondente à ação, sendo a letra “T” para a Tradicional e “R” para a Renovada: ( ) Discutir problemas de caráter social. ( ) Agir de maneira neutra. ( ) Pensamento claro. ( ) Pensamento nas qualidades e fraquezas do homem. ( ) Formação do homem padronizado. ( ) Todos somos iguais. ( ) Todos somos diferentes. Para a escola atual, o supervisor precisa entender as exigências atuais. A escola moderna demanda o supervisor moderno. O conceito moderno de supervisão visa sempre o aperfeiçoamento da situação total de ensino- aprendizagem através do conhecimento da situação; da avaliação dessa situação; das modifi cações das condições que afetam a aprendizagem. Isso vem a ser as três funções primordiais da supervisão: diagnosticar; avaliar; aperfeiçoar (BRUM; ZUZE, 2006). De acordo com os autores: 93 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 1) A supervisão moderna só pode ser justifi cada em termos de sua relação com a situação de ensino-aprendizagem. Ela não tem um fi m em si mesma e só será positiva enquanto seus efeitos sobre o ensino e a aprendizagem forem positivos, enquanto estiver conseguindo melhoria nesses aspectos. 2) A supervisão moderna implica bom relacionamento humano, comunicação e liderança para que haja interação mútua e contínua. É importante que o supervisor seja aceito pelo grupo com o qual trabalha, pois supervisão é uma atividade cooperativa. A efi ciência da supervisão não se mede pelo esforço e competência do supervisor e sim, pelas modifi cações verifi cadas no comportamento do grupo. 3) A supervisão moderna é planejada. Com as inúmeras responsabilidades diárias de supervisão, hoje em dia, o planejamento torna-se essencial para uma atuação efi ciente. 4) A supervisão moderna dirige a atenção para os fundamentos da educação. O supervisor deve procurar ter consciência clara dos conceitos e crenças que determinam sua maneira de agir, dos fi ns que pretende atingir e dos meios a utilizar. Isso corresponde à fi losofi a que baseia sua atividade supervisora. Por outro lado, faz-se necessário que ele conheça a natureza do homem com quem está lidando, buscando auxílio na Biologia e na Psicologia, bem como conheça a natureza da sociedade em que esse homem está inserido, o que é explicado pela Sociologia. Só assim será possível orientar e ajudar, de acordo com as necessidades. Dentro da concepção Democrático-Participativa, Libâneo (2003) propõe a necessidade de combinar a ênfase sobre as relações humanas e sobre a participação das decisões com as ações efetivas para atingir os objetivos da escola. O quadro a seguir resume os conceitos defi nidos para uma escola com gestão democrática. Isso é possível dentro destas características: Concepção Democrático-Participativa: o regime da democracia participativa ou democracia deliberativa é um regime em que se pretende que existam efetivos mecanismos de controle da sociedade civil sobre a administração pública, não se reduzindo o papel democrático apenas ao voto, mas também estendendo a democracia para a esfera social. A democracia participativa é considerada um modelo ou ideal que justifi que o exercício do poder político apoiado no debate público entre cidadãos livres e em condições iguais de participação. 94 SuPErViSÃo ESCoLAr QUADRO 2 – O PROCESSO GERENCIAL DA ESCOLA E A GESTÃO DEMOCRÁTICA Escola e o Processo Gerencial Gestão Democrática Planejamento Defi nição explícita, por parte da equipe de trabalho, com objetivos tanto sociopolíticos quanto pedagógicos. Articulação da atividade de direção com a iniciativa e participação das pessoas da escola e das que se relacionam com ela. Organização Qualifi cação e competência profi ssional. Direção Busca de objetividade no trato das questões da organização e da gestão, mediante coleta de informações reais. Avaliação Acompanhamento e avaliação sistemáticos com fi nalidade pedagógica: • diagnóstico; • acompanhamento dos trabalhos; • reorientação de rumos e ações; • tomada de decisões. Todos dirigem e são dirigidos, todos avaliam e são avaliados. Ênfase tanto nas tarefas quanto nas relações. FONTE: Adaptado de Libâneo (2003) Como vimos, os processos de gestão na escola devem seguir princípios democráticos. Os participantes, nessa gestão, têm a possibilidade de promover a democracia ativa e participativa, que se constitui como um modelo ou processo de discussão política caracterizado pela contribuição dos “atores” da escola com o interesse coletivo e competência administrativa. A seguir, debateremos uma forma de gestão com a participação democrática, através da criação dos conselhos escolares. 2.4 AS DIMENSÕES DA GESTÃO DEMOCRÁTICA A Gestão democrática deve estar calcada em critérios fundamentais, que vão desde a: 1) gestão de resultados educacionais, na qual se tem a percepção da realidade, através da coleta de dados de número de alunos, rendimento destes e frequência; 2) gestão participativa, dentro da construção e da avaliação coletiva do planejamento e do PPP, além dos planos de ação da escola; 3) gestão pedagógica, auxiliando nos processos e práticas do trabalho pedagógico, em respeito ao projeto pedagógico e na busca do sucesso acadêmico; 4) gestão de pessoas, em que o grande envolvimento e o compromisso dos professores, com a valorização destes, são indicadores de qualidade; e 5) gestão de serviços e 95 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 recursos, em que os processos e práticas efi cientes e efi cazes de gestão dos serviços de apoio, recursos físicos e fi nanceiros fazem a diferença no bom andamento da escola. Em 2011, o Estado do Tocantins elaborou uma proposta de atuação do supervisor escolar. Essa proposta defi ne as atribuições e o fazer do supervisor. A Proposta da Supervisão Escolar do Estado do Tocantins tem o intuito de provocar e promover a refl exão da equipe gestora quanto ao trabalho nas cinco Dimensões da Gestão Escolar – Gestão de Resultados, Gestão Pedagógica, Gestão Participativa, Gestão de Pessoas e Gestão de Serviços e Recursos, de forma coletiva e articulada com todos os setores da escola, primando sempre pela qualidade do ensino e da aprendizagem. A seguir, apresentaremos os modelos dessa proposta que servem de exemplo e são muito úteis para o acompanhamento dos trabalhos do supervisor na escola nas cinco dimensões da gestão escolar: 1 - Gestão de Resultados Educacionais: abrange processos e práticas de gestão para a melhoria dos resultados de desempenho da escola – rendimento, frequência e profi ciência dos alunos. Destacam- se como indicadores de gestão de resultados: a avaliação e melhoria contínua do projeto pedagógico da escola; a análise, divulgação e utilização dos resultados alcançados; a identifi cação dos níveis de satisfação da comunidade escolar, com o trabalho da sua gestão; e a transparência de resultados. 2 - Gestão Participativa: abrange processos e práticas que respondam ao princípio de gestão democrática do ensino público. São destacados como indicadores de qualidade: o planejamento e a avaliação do projeto pedagógico e dos planos de ação da escola, de forma participativa; a atuação de órgãos colegiados – conselhos escolares, APMs, grêmios estudantis, entre outros; o estabelecimento de articulações e parcerias; e a utilização de canais de comunicação com a comunidade escolar. 3 - Gestão Pedagógica: abrange processos e práticas de gestão do trabalho pedagógico, orientados diretamente para assegurar o sucesso da aprendizagem dos alunos, em consonância com o projeto pedagógico da escola. Destacam-se como indicadores de qualidade: a atualização periódica da proposta curricular, o monitoramento da aprendizagem dos alunos, odesenvolvimento da inovação pedagógica, as políticas de inclusão com equidade, o planejamento 96 SuPErViSÃo ESCoLAr da prática pedagógica e a organização do espaço e tempo escolares. 4 - Gestão de Pessoas: abrange processos e práticas de gestão visando o envolvimento e compromisso das pessoas (professores e demais profi ssionais, pais e alunos) com o projeto pedagógico da escola. São considerados como indicadores de qualidade: a integração entre os profi ssionais da escola, pais e alunos; o desenvolvimento profi ssional contínuo; o clima organizacional; a avaliação do desempenho; a observância dos direitos e deveres e a valorização e o reconhecimento do trabalho escolar. 5 - Gestão de Serviços e Recursos: abrange processos e práticas efi cientes e efi cazes de gestão dos serviços de apoio, recursos físicos e fi nanceiros. Destacam-se como indicadores de qualidade: organização dos registros escolares; a utilização das instalações e equipamentos; preservação do patrimônio escolar; interação escola/comunidade; captação e aplicação de recursos didáticos e fi nanceiros. FONTE: <h ttp://www.slideshare.net/juliocesarocha/cdocuments-and- settingsgenyjldesktopproposta-superviso-escolar>. Acesso em: 1º jul. 2019. 2.5 OS CONSELHOS ESCOLARES, OS COLEGIADOS E A GESTÃO DEMOCRÁTICA Uma das ideias de promover a gestão democrática vem através do Ministério da Educação, que desenvolve um trabalho de fortalecimento dos Conselhos Escolares ou Colegiados. A intenção é que cada escola deve estabelecer regras transparentes e democráticas de eleição dos membros do conselho, que, por sua vez, é constituído por representantes de pais, estudantes, professores, funcionários da escola, membros da comunidade local e o próprio diretor da escola. O objetivo do conselho é cuidar da escola e participar da gestão administrativa, pedagógica e fi nanceira, contribuindo com as ações dos dirigentes escolares, a fi m de assegurar a qualidade de ensino. Ele tem função deliberativa, consultiva, fi scal e mobilizadora, garantindo a gestão democrática nas escolas públicas. É função do conselho defi nir e fi scalizar a aplicação dos recursos destinados à escola e discutir o projeto pedagógico com a direção e os professores (BRASIL, 97 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 2011). Segundo Veiga e Resende (1998, p. 115), “o Conselho Escolar é concebido como local de debate e tomada de decisões”. Na elaboração do conselho, se oportuniza a autonomia das decisões em prol da escola. O problema está na capacidade dos elementos do conselho em discutir e sugerir novas possibilidades para a educação, além da própria execução destas decisões na vida escolar de sua comunidade. Alguns conselhos espalhados pelo país sentem difi culdade na formação do corpo de membros do conselho que, normalmente, é constituído pelos gestores da escola e de pais e alunos com mais de 16 anos de idade, e que deveriam abranger também um número maior de professores e contar com membros da comunidade local. Contudo, várias ações têm sido desenvolvidas em todo o Brasil com a intenção louvável de pretender capacitar os multiplicadores que atuam nas secretarias estaduais e municipais de educação do país. Para isso, foram elaborados materiais impressos que orientam o trabalho das secretarias e dos conselheiros das escolas. Este Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares conta com sete cadernos para a capacitação das redes e dos conselheiros, assim descritos: • Caderno “Conselhos escolares: uma estratégia de gestão democrática da educação pública” é destinado aos dirigentes e técnicos das secretarias municipais e estaduais de Educação. Ele fala da importância dos conselhos e traz uma análise de diversas legislações municipais e estaduais sobre o assunto. • Caderno “Indicadores da qualidade na educação” orienta os conselheiros a construírem mecanismos de avaliação na escola para traçar o projeto pedagógico. • Cinco cadernos para a formação dos conselheiros, sobre os seguintes temas: ο democratização da escola e construção da cidadania; ο atuação dos conselhos na melhoria da aprendizagem; ο respeito e valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade; ο aproveitamento signifi cativo do tempo pedagógico; e ο gestão democrática da educação e escolha do diretor (BRASIL, 2011). Para ilustrar o Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, você acompanhará, a seguir, algumas publicações que o programa fornece e que são extremamente úteis para o entendimento dos benefícios da criação e funcionamento desses conselhos para as escolas de todo o Brasil. 98 SuPErViSÃo ESCoLAr FIGURA 1 – PUBLICAÇÕES DOS CONSELHOS ESCOLARES FONTE: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_ content&view=article&id=12619&Itemid=661>. Acesso em: 11 maio 2019. O Conselho Escolar deve ser criado com o objetivo de discutir questões pedagógicas, estruturais e fi nanceiras. Os Conselhos Escolares na educação básica, concebidos pela LDB como estratégias de gestão democrática da escola pública, têm como pressuposto o exercício de poder, pela participação, das comunidades escolar e local (BRASIL, 1996). Sua atribuição é deliberar, nos casos de sua competência, e aconselhar. O Conselho será a voz e o voto dos diferentes atores da escola, internos e externos, desde os diferentes pontos de vista, deliberando sobre a construção e a gestão de seu projeto político-pedagógico. Conselhos na gestão da educação dos dirigentes, no que julgar prudente, sobre as ações a empreender e os meios a utilizar para o alcance dos fi ns da escola. O conselho existe para dizer aos dirigentes o que a comunidade quer da escola e, no âmbito de sua competência, o que deve ser feito (BRASIL, 2009). Assim, o conselho será um instrumento de tradução dos anseios da comunidade e não de legitimação da voz da direção. Para falar por si, os governos eleitos não necessitam de conselhos para legitimar sua voz. No mais, quando se arrogam poderes autocráticos, imperiais, devem assumir suas decisões. Por isso é fundamental que o conselho congregue em si a síntese do signifi cado social da escola, para que possa constituir-se a voz da pluralidade dos atores sociais a quem a escola pertence. 99 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 O quadro a seguir descreve resumidamente o Conselho Escolar, em sua essência de criação, composição e funcionamento (BRASIL, 2009). QUADRO 3 – O CONSELHO ESCOLAR Descrição Conselho Escolar Criação Com base em legislação específi ca do sistema de ensino, ou por iniciativa da própria escola. Personalidade Faz parte da estrutura da escola. Não precisa de registro em cartório. Jurídica Pessoas das comunidades escolar e local. Abrangência de atuação Constitui-se como a própria expressão da escola, como seu principal instrumento de tomada de decisões referentes a questões administrativas, fi nanceiras e pedagógicas. Reuniões Mensais, com pelo menos três assembleias gerais anuais. Legislação LDB, PNE, PDE, legislação do sistema de ensino. Organização Pode ter um presidente eleito entre os membros, ou uma coordenação eleita entre os conselheiros. A estrutura e o funcionamento são defi nidos no Regimento Interno do Conselho Escolar. Recursos Financeiros Deve sistematizar as necessidades dos segmentos da comunidade escolar, participar das decisões de como aplicar todos os recursos da escola, bem como fi scalizar a aplicação e a prestação de contas dele, para que contribua com a implementação do projeto político-pedagógico da escola. FONTE: Adaptado de Brasil (2009) 1 Considerando os estudos feitos e sua experiência profi ssional, registre no quadro a seguir o modo como os princípios de uma escola democrática têm se manifestado na escola em que você atua: PRINCÍPIOS DE UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA COMO ESSES PRINCÍPIOS TÊM SEMANIFESTA- DO EM MINHA ESCOLA? 1) Acesso à Educação. 2) Conteúdos do ensino e da educação democrática. 3) As práticas organizacionais e pedagógicas. 4) As relações interpessoais. 5) Relações entre escola e comunidade. 100 SuPErViSÃo ESCoLAr 2.6 FORMAÇÃO DO SUPERVISOR PARA A ESCOLA MULTICULTURAL A escola atual refl ete a sociedade atual, em que gerações se confundem em gostos, valores e atitudes. A geração que está em sala de aula tem uma concepção de mundo e de educação que muitos professores, gestores e pais não têm. A geração atual entende que o mundo não tem limites de fronteiras, por estarem vinculados às tecnologias, como o computador, o MP3, o celular e, essencialmente, a internet. A própria educação passa pela transformação com a intenção de sempre estar atualizada para corroborar com a geração de alunos. Na realidade, a própria gestão democrática promove uma relação multicultural, sendo que oportuniza pessoas de vários credos e origens a opinarem e executarem a sua participação no desenvolvimento da escola, porém, alguns destes alunos estão excluídos da sociedade por diversos fatores e na escola pode-se realizar a justiça social. Libâneo (2003, p. 367), comenta que: Por meio da formação cultural – de sólidos conhecimentos e de capacidades cognitivas fortemente desenvolvidas –, os fi lhos das camadas médias e pobres da população podem tomar posse de uma vida mais digna e mais completa, com maior capacidade operativa (saber fazer, saber agir) e maior participação democrática. A percepção de que a educação por si só traz a possibilidade de transformar e incluir pessoas não é uma certeza, em que se você estudar estará “pronto” para a ascensão e a inclusão social. Mesmo assim, devemos perceber que teremos muito mais chances de que a transformação aconteça em pessoas com o conhecimento amplifi cado, especialmente se este conhecimento for construído de forma crítica, discernindo eticamente sobre as suas condições e a sua importância na comunidade. A maior evidência de transformação social pelo ensino acontece no ensino de jovens e adultos, pois é nesta modalidade que se discute aspectos históricos, culturais e sociais de cunho regional ou global, transformando o estudante comum em cidadão atuante e consciente de seus atos e sabedor de seus direitos e deveres. A transformação acontece desde que o aluno tenha a possibilidade de ser estimulado a desenvolver suas potencialidades plenamente. Não apenas na continuação do presente vivido pelo aluno, mas essencialmente na construção de um futuro baseado em valores verdadeiros construídos criticamente e não repetidos. Em outras palavras, não repetir o currículo pronto, mas sim adaptar o currículo para algo realmente importante para aquele aluno e/ou comunidade, afi nal, a palavra pronta não permite diálogo e o professor que repete conteúdos não oportuniza a discussão, abortando, assim, a mudança e a possibilidade de transformação. 101 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 De acordo com Giroux e McLaren (1994, p. 134): Para muitos professores que se veem lecionando para alunos de classe operária ou integrantes de minorias, a falta de uma estrutura bem articulada para o entendimento das dimensões de classe, cultura, ideologia e gênero, presentes na prática pedagógica, favorece a formação de uma alienada postura defensiva e de uma couraça pessoal e pedagógica que frequentemente se traduz na distância cultural entre “nós” e “eles”. Sobre a função da supervisão escolar, Vieira (2009, p. 202) faz a seguinte refl exão: A transformação da educação exige um investimento sistemático e deliberado na reconstrução da visão de educação que orienta a ação educativa e na problematização dos contextos da práxis profi ssional. Nesta hora que a importância do supervisor é maior, pois deve promover a refl exão crítica sobre as condições culturais que classifi cam os estudantes e a escola; apoiando a construção colaborativa de uma visão da educação capaz de resistir ao poder erosivo dessas forças; interrogando as inúmeras formas de autoridade a que o educador está sujeito; orientando-o para a gestão da incerteza e da complexidade; questionando os interesses aos quais a escola serve; mantendo a esperança na possibilidade de melhorar as condições irracionais, injustas e insatisfatórias da educação. Enquanto atividade de natureza conceitual e experiencial, a pedagogia é movida por quatro forças estruturantes e inter-relacionadas, frequentemente em tensão: visão + ação + refl exão + contexto. Transformar as teorias e práticas pedagógicas implica indagar e refazer o modo como estas forças se (des)articulam ou (re)forçam entre si. Esta será a principal função da supervisão pedagógica como prática de regulação (VIEIRA, 2009). A escola torna-se transformadora quando possibilita ao aluno a inserção de sua realidade aos “assuntos” da escola. Assim, o aluno entende a importância da educação como algo que faz parte do contexto em que vive e que através do conhecimento e das experiências positivas vividas, a escola fi nalmente se transforma em algo importante. Atualmente, a metodologia de ensino para a escola multicultural e transformadora está assentada em quatro referências básicas: • ligação entre a cultura elaborada e a cultura experienciada pelo aluno; • uma pedagogia do pensar, que promova o aprender a pensar e o aprender a aprender; • uma pedagogia diferenciada; 102 SuPErViSÃo ESCoLAr • ensino e prática de valores e de atitudes na escola e na sala de aula (LIBÂNEO, 2003, p. 367). A escola que pretende transformar alunos em cidadãos críticos e conscientes deve proporcionar a oportunidade para que estes alunos desenvolvam o senso crítico e criativo. Não raro se percebe escolas que defi nem a construção crítica como uma das missões da educação e até descrevem teoricamente este aspecto no próprio PPP, mas não conduzem, na prática, seus alunos a agirem e pensarem criticamente e, portanto, não promovem cidadãos críticos. Para conceber a criticidade, devemos dar voz e respeito aos alunos, deixá-los discutir livremente e apimentarmos um feedback, também de maneira crítica e verdadeira. Afi nal, como podemos promover a criticidade se não damos oportunidade ao aluno de falar ou de expressar a sua opinião. 2.7 A INTEGRAÇÃO ENTRE SUPERVISOR, DIRETOR E ORIENTADOR EDUCACIONAL A gestão escolar é feita por uma equipe de profi ssionais que devem ter como expertise a administração e a liderança educacional. Diferente de uma fábrica onde o produto fi nal é algo que segue normas de qualidade, como um parafuso que é descartado quando fabricado fora dos padrões, a escola trabalha com pessoas e, portanto, é difi cultada na sua essência em atender a todos de maneira igual e ter o resultado idêntico, ao fi nal do processo, como se fosse uma fábrica de parafusos. Esta difi culdade é característica da escola ou de qualquer instituição humanista. Para amenizar as difi culdades e buscar o sucesso escolar, os gestores devem estar articulados na busca de uma escola que atenda às necessidades dos alunos e da sociedade. Normalmente, as escolas determinam funções específi cas para cada profi ssional com a intenção de abranger e direcionar as atividades para cada especialista. Cada um dos especialistas, o diretor, o supervisor educacional e o coordenador pedagógico, tem a sua parte integrante e compartilhada na condução da escola em seus aspectos administrativos, pedagógicos e humanos. A partir da promulgação da atual LDB, o Supervisor Escolar recebeu o grande compromisso de coordenar a elaboração e acompanhar a execução da proposta pedagógica com a participação da comunidade escolar. É imprescindível que as atribuições do Supervisor sejam planejadas em parceria com o Diretor e o Orientador Educacional, principalmente no aspecto de articulação com a 103 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADESPARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 comunidade escolar. Basicamente, as atribuições de cada profi ssional são: Diretor: o diretor tem as funções administrativas, além de coordenar o desenvolvimento das atividades pedagógicas como responsável formal e legal pela administração da escola. O diretor gerencia todas as atividades da escola, auxiliado pelos demais componentes do corpo de especialistas e de técnico- administrativos, atendendo às leis, regulamentos e determinações dos órgãos superiores do sistema de ensino e às decisões no âmbito da escola e pela comunidade. A seguir, pontuaremos aspectos administrativos e pedagógicos que se destacam como atribuições do diretor da escola. Administrativamente, este deve: • Organizar e articular todas as unidades competentes da escola. • Controlar os aspectos materiais e fi nanceiros da escola. • Articular e controlar os recursos humanos. • Articular escola-comunidade. • Articular a escola com o nível superior de administração do sistema educacional. • Formular normas, regulamentos e adotar medidas condizentes com os objetivos e princípios propostos. • Supervisionar e orientar a todos aqueles a quem são delegadas responsabilidades (LÜCK, 2007). Pedagogicamente, este deve: • Dinamizar e assistir aos membros da escola para que promovam ações condizentes com os objetivos e princípios educacionais propostos. • Liderar e inspirar no sentido de enriquecimento desses objetivos e princípios. • Promover um sistema de ação integrada e cooperativa. • Manter um processo de comunicação claro e aberto entre os membros da escola e entre a escola e a comunidade. • Estimular a inovação e a melhoria do processo educacional (LÜCK, 2007). Coordenador pedagógico: este profi ssional deve focar na formação do aluno. O coordenador pedagógico ou professor coordenador supervisiona, acompanha, assessora e avalia as atividades pedagógico-curriculares. Sua atribuição prioritária é prestar assistência pedagógico-didática aos professores em suas respectivas disciplinas no que diz respeito ao trabalho interativo com os alunos. Há lugares em que a coordenação se restringe à disciplina em que o coordenador é especialista; em outros, a coordenação se faz com relação a 104 SuPErViSÃo ESCoLAr todas as disciplinas. Outra atribuição que cabe ao coordenador pedagógico é o relacionamento com os pais e a comunidade, especialmente no que se refere ao funcionamento pedagógico-curricular e didático da escola e comunicação e interpretação da avaliação dos alunos. O setor pedagógico compreende as atividades de coordenação pedagógica e orientação educacional. As funções desses especialistas variam conforme a legislação estadual e municipal, sendo que em muitos lugares suas atribuições ora são unifi cadas em apenas uma pessoa, ora são desempenhadas por professores. Como são funções especializadas, envolvendo habilidades bastante especiais, recomenda-se que seus ocupantes sejam formados em cursos de Pedagogia ou adquiram formação pedagógico-didática específi ca (LIBÂNEO, 1999). A formação específi ca de supervisores ou coordenadores pedagógicos tem sido motivo de bastante polêmica entre os educadores, com diferenças marcantes de posições. Para melhor conhecimento do assunto, veja o livro Pedagogia e Pedagogos, para quê?, de Libâneo (1999), e o artigo de Libâneo e Pimenta na revista Educação e Sociedade, n. 68 (1999). A descrição das várias funções da estrutura organizacional das escolas está bem explicada no livro de Vitor H. Paro, Por Dentro da Escola Pública (1996). A integração nas ações dos especialistas em educação é importante para a inserção de propostas construtivas que permitem à ação pedagógica o entendimento dos objetivos propostos. Através do acompanhamento da prática docente e prática discente, ambos os profi ssionais poderão, dentro das suas atribuições, agregar valores quanto ao papel de supervisor escolar e orientador educacional na escola. Neste sentido, o supervisor escolar é também responsável pela leitura de sociedade e de mundo, procurando ir além dos aspectos individuais que permeiam 105 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 a sala de aula e todos os seus elementos confl ituosos e o orientador educacional é responsável pela postura metodológica do professor. Ambos, supervisor escolar e orientador educacional, trabalham para o bom andamento do trabalho pedagógico, assim é fundamental que: • Mantenham registros de acompanhamento da prática docente e discente de responsabilidade mútua que possam ser analisados visando à avaliação do cenário e tomada de decisões em conjunto. • Realizem sessões de estudo que tratem de temas apropriados para a fundamentação da prática da equipe. • Realizem visitas em sala de aula para acompanhamento da prática de ensinagem e aprendizagem. • Elaborem o plano de ação anual e/ou semestral elencando os objetivos e ações, tendo como suporte o desempenho acadêmico dos alunos, o perfi l dos professores e da comunidade de pais e/ ou responsáveis pelos alunos articulado com o Plano de Ação do gestor escolar. FONTE: VALANDRO, C. O papel do supervisor escolar na formação continuada dos professores do Fundamental II. 2011. Disponível em: http://www.avm.edu.br/docpdf/monografi as_ publicadas/t206869.pdf. Acesso em: 22 jun. 2019. 3 SETORES DE ATUAÇÃO DO SUPERVISOR EDUCACIONAL A elaboração do projeto e a execução dele devem ser organizadas e priorizadas pelo supervisor escolar. Esta organização se refere ao suporte pedagógico-didático necessário à organização dos trabalhos na escola. Estão contemplados o currículo, a organização pedagógico-didática (planos, metodologias, organização dos níveis escolares, horários, distribuição de alunos por classes etc.), assistência pedagógica sistemática aos professores, avaliação, formação continuada, conselhos de classe etc. (LIBÂNEO, 2003). É imprescindível que o supervisor colabore com os professores em sala de aula e contribua com o desenvolvimento intelectual dos alunos. Sugerimos, a seguir, os principais suportes em que o supervisor deve focar o seu trabalho e atenção. Estes suportes são funções do supervisor, mas não são limitados a ele. 106 SuPErViSÃo ESCoLAr 3.1 SUPERVISÃO E CURRÍCULO O currículo escolar é o referencial da proposta pedagógica, é a concretização das intenções e das orientações expressas no projeto pedagógico de uma instituição de ensino (LIBÂNEO, 2003). Assim, os objetivos e estratégias de ensino propostos no projeto pedagógico devem ser compartilhados e executados através do currículo que se pretende seguir. O currículo pode ser defi nido como o conjunto dos conteúdos cognitivos e simbólicos (saberes, competências, representações, tendências, valores) transmitidos (de modo explícito ou implícito) nas práticas pedagógicas e nas situações de escolarização, isto é, tudo aquilo a que poderíamos chamar de dimensão cognitiva e cultural da educação escolar (FORQUIN, 1993). Existem vários tipos de currículo baseados na história do desenvolvimento da educação e nas dimensões humanas. Estes modelos estão resumidos no quadro a seguir e servem de refl exão para que tipo de currículo devemos utilizar na escola, de acordo com a intenção de desenvolvimento humano. Neste contexto, o autor descreve que existe o currículo de “Fato”, baseado no trabalho; o da “Prática”, baseado na linguagem e o “Crítico”, baseado no poder. Esses estão apoiados no contexto de que alunos querem formas, seja para o trabalho, seja de formação e remetem a uma interpretação crítica da realidade e, assim, à emancipação e à transformação. Descreve também os principais nomes de referência para cada tipo de currículo, para a educação técnica, consensual e dialógica. Por fi m, descreve os modelos de currículo em sua contextualização interpretativa, seja ele empírico, baseado na experiência científi ca, seja ele hermenêutico,que traz uma refl exão interpretativa e fi losófi ca da história e da relação do aluno com os objetos de aprendizagem, com os colegas e até mesmo com o currículo e com destaque ao praxiológico, em que novamente a práxis aparece como fundamento da educação, valiosa em sua conscientização com relação ao poder, à pesquisa e à prática. QUADRO 4 – SÍNTESE DAS DIMENSÕES DA VIDA HUMANA E CURRÍCULO TIPOS DE CURRÍCULO BASEADOS EM CONCEITOS DE QUE SE APOIA NO NOMES MODELOS FATO TRABALHO TÉCNICO. CONTROLE. INFORMAÇÃO. TÉCNICO. LINEAR. (R. Tyler) EMPÍRICO / ANALÍTICO. CIÊNCIAS EXATAS. 107 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 PRÁTICA LINGUAGEM CONSENSO. INTERESSE PRÁTICO. INTERPRETAÇÃO. CIRCULAR. CONSENSUAL (Greene/Pinar). HISTÓRICO. HERMENÊUTICO. MÉTODOS HISTÓRICOS INTERPRETATIVOS. DIALÓGICO/ CONSENSUAL. INTERSUBJETIVIDADE. CRÍTICO PODER EMANCIPADOR / DE CRÍTICA. RAÍZES DO PENSAMENTO CURRICULAR. DINÂMICO. DIALÓGICO (Freire, Apple/ Giroux). PRAXIOLÓGICO. AÇÃO, REFLEXÃO, TRANSFORMAÇÃO, PODER. DIFERENTES ENFOQUES DA PESQUISA. FONTE: Adaptado de Zimbres (2001) Os currículos utilizados nas instituições de ensino são ofi cializados por um órgão ofi cial, seja o MEC, as secretarias de educação dos estados ou as dos municípios. Apesar de ofi cial e necessário, o currículo imposto e mal elaborado pode limitar o aprendizado do aluno, ou ainda confi nar a atuação didática do professor a assuntos predeterminados. Cabe ao supervisor, com os professores, discutir a importância do currículo e sua aplicação na realidade dos alunos e da escola. Existem outras formas de ensinar e assim vários níveis de currículo. Existem ainda as divisões de currículo, que acontecem de maneira formal e informal. Dentro dessa ideia, Libâneo (2003) descreve que há pelo menos três tipos de currículo, o formal, o real e o oculto. Currículo formal: estabelecido pelo sistema ofi cial de ensino, expresso pelas diretrizes curriculares nacionais e propostas curriculares dos estados e municípios, nos objetivos e nos conteúdos das áreas ou disciplinas de estudo. Currículo real: é o que de fato acontece na sala de aula, em decorrência do plano de ensino e do projeto pedagógico. É a maneira de como o professor transmite o que determina o currículo e, especialmente, em como e o que o aluno realmente aprende. Currículo oculto: são as infl uências que afetam a aprendizagem dos alunos e o trabalho dos professores e são provenientes da experiência cultural, dos valores e dos signifi cados trazidos de seu meio social de origem e vivenciados no ambiente escolar. Não está descrito no planejamento, mas possui grande importância no trabalho escolar, uma vez que a cultura do aluno interfere na 108 SuPErViSÃo ESCoLAr consolidação do ensino e no interesse do aluno pela escola. Defi nidos os tipos de currículo, é extremamente importante determinar que o currículo não seja apenas a descrição das disciplinas e a metodologia a ser aplicada no ensino. Veiga e Fonseca (2003, p. 26) descrevem que o currículo deve servir como a organização do conhecimento escolar, pressupondo a construção do entendimento social do aluno, sendo que “currículo implica, necessariamente, a interação entre sujeitos que têm um mesmo objetivo e a opção por um referencial teórico que o sustente”. Nesta perspectiva, o currículo verdadeiro deve considerar que os alunos aprendem de diversas maneiras e a cultura (história e gostos) dos alunos, do professor e da própria escola deve ser levada em consideração. Podemos determinar um currículo dentro de um formato justo e que promova uma refl exão profunda do processo de ensino e de aprendizagem, desde que considere alguns princípios básicos (VEIGA; FONSECA, 2003): • O currículo não é um instrumento neutro. O currículo justo deve expressar uma cultura, uma ideologia. • O currículo não pode estar separado do contexto social do aluno, sendo que deve estar situado e determinado como processo de cidadania. • A organização curricular não deve estar baseada em fragmentação e sim em uma perspectiva integradora, sendo que cada conteúdo passa a ter uma importância explícita no contexto geral. • O currículo formal repete uma forma de controle e domínio social. Contra isso, o currículo oculto se torna imprescindível, pois é através dele que alunos e professores têm a oportunidade de discutir assuntos relacionados às desigualdades sociais, discriminação e liberdade, em um nível de discussão crítica e atuante. • O currículo não deve ser limitador, mas sim favorecer a autonomia do aluno, o gosto pelo estudo, considerar uma expectativa alta de retorno e aprendizado e dar a oportunidade de que todos aprendam, explorando ao máximo os seus potenciais. A partir da compreensão do que é currículo e de seus níveis, o trabalho do supervisor está relacionado à elaboração e desenvolvimento do currículo e demais projetos. Mais importante do que entender os tipos de currículo é perceber suas aplicações na prática. Em outras palavras, como o currículo descrito deve se transformar em aulas e atividades interessantes aos alunos? O trabalho do supervisor relacionado à elaboração e controle do currículo deve focar em alguns pontos, os quais veremos a seguir. 109 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 3.2 SUPERVISÃO E PROGRAMAS/ PROJETOS O supervisor é responsável pela organização de projetos pedagógico- curriculares. Estes projetos devem respeitar a gestão democrática e ser realizados através de um planejamento consciente. Para Libâneo (2003, p. 345), “o planejamento consiste em ações e procedimentos para a tomada de decisões a respeito de objetivos e de atividades a serem realizadas em razão destes objetivos”. Lembrando que o projeto terá sucesso quando bem planejado. Em outras palavras, a execução não é a parte mais difícil e sim a preparação para esta e quanto mais se planeja menos chances de possíveis erros na execução. O plano de trabalho deve prever todas as situações possíveis, evitando o improviso e a falta de rumo. O bom plano deve indicar objetivos e determinar como eles serão alcançados, um mapa desenhado para se chegar a um destino de maneira mais rápida e segura possível. Os projetos educacionais têm as seguintes características, conforme Moura e Barbosa (2006, p. 21). • são atividades orientadas para a realização de objetivos específi cos; • têm uma duração fi nita, com princípio e um fi m bem defi nidos; • são atividades voltadas para a realização de algo único, exclusivo; • os recursos disponíveis são limitados (pessoas, tempo, dinheiro etc.); • apresentam dimensões de complexidade e incerteza (ou risco) em sua realização; • surgem, em geral, em função de um problema, uma necessidade, um desafi o ou uma oportunidade (de uma pessoa ou instituição). 3.3 SUPERVISÃO E MATERIAL DIDÁTICO A escolha do livro didático é essencial para a democratização da escola, uma vez que possibilita uma escolha pelos interessados do livro, que servirá de guia para uma educação dentro dos princípios de liberdade e participação total. A boa aula depende da boa escolha do material que se deve utilizar e um bom livro pode fazer a diferença no grau de interesse ou de importância de determinada disciplina no contexto da aprendizagem, do gosto pelos estudos e pelo interesse do aluno. 110 SuPErViSÃo ESCoLAr A função do supervisor escolar é promover a discussão com os professores da unidade escolar sobre a escolha do material didático, sendo este mais um exemplo do trabalho democrático que envolve a participação dos professores das disciplinas. Na escola pública, o Governo Federal executa três programas voltados ao livro didático: o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), o Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM) e o Programa Nacional do Livro Didático para a Alfabetização deJovens e Adultos (PNLA). Seu objetivo é o de prover as escolas das redes federal, estadual e municipal e as entidades parceiras do programa Brasil Alfabetizado com obras didáticas de qualidade. Os livros didáticos são distribuídos gratuitamente para os alunos de todas as séries da educação básica da rede pública e para os matriculados em classes do programa Brasil Alfabetizado. Também são benefi ciados, por meio do programa do livro didático em Braille, os estudantes cegos ou com defi ciência visual, os alunos das escolas de educação especial públicas. Cada aluno do Ensino Fundamental tem direito a um exemplar das disciplinas de língua portuguesa, matemática, ciências, história e geografi a, que serão estudadas durante o ano letivo. Além desses livros, os estudantes do primeiro ano recebem uma cartilha de alfabetização. No Ensino Médio, cada aluno recebe um exemplar das disciplinas de português, matemática, história, biologia, química, geografi a e física. O FNDE executa diretamente os programas, não havendo repasse de recursos para as aquisições de livros, que são realizadas de forma centralizada. Depois da compra, eles são enviados aos estados, municípios, entidades comunitárias e fi lantrópicas e entidades parceiras do Brasil Alfabetizado. A defi nição do quantitativo de exemplares a ser adquirido para as escolas estaduais, municipais e do Distrito Federal é feita com base no censo escolar realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC), que serve de parâmetro para todas as ações do FNDE. Outras informações sobre o programa (PNLD) você encontra no site do FNDE/MEC. Disponível em: www.fnde.gov.br – “Livro Didático”. 111 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 3.4 SUPERVISÃO E ENSINO- APRENDIZAGEM O processo de ensino-aprendizagem abrange todas as operações que se realizam para concretizar as decisões do plano curricular. Estas operações organizam-se por meio de planos de ensino, que constituem detalhamentos do plano curricular. A coordenação do processo de ensino-aprendizagem se faz por meio de conselhos pedagógicos, reuniões interdisciplinares, programas de treinamento em serviço para o pessoal docente, assistência a atividades docentes e discentes, entrevistas e outros meios que permitam ao Supervisor o acompanhamento, a avaliação e a revisão constantes do trabalho docente. A supervisão educacional deve viabilizar a prática didática, a integração dos trabalhos pedagógicos e a articulação entre os professores, em função da qualidade de ensino. A função do supervisor é dar assistência no processo de ensino-aprendizagem aos professores, ajudando-os a conceber, construir, administrar situações de aprendizagem adequadas às necessidades educacionais dos alunos. De acordo com Libâneo (2003), com relação ao ensino-aprendizagem, o supervisor deve: • Acompanhar as atividades de sala de aula, colaborando com o professor. • Supervisionar a elaboração de diagnósticos, seja para o PPP ou para outros planos e projetos. • Organizar e desenvolver o currículo, incluindo a assistência direta aos professores na elaboração dos planos de ensino, na escolha de livros didáticos, nas práticas de avaliação da aprendizagem. • Coordenar reuniões pedagógicas e entrevistas com professores para promover relação horizontal e vertical entre disciplinas, estimular a realização de projetos interdisciplinares. • Diagnosticar problemas de ensino e aprendizagem, através da adoção de medidas pedagógicas preventivas e adequar conteúdos, metodologias e práticas avaliativas (recuperação paralela, avaliações diferenciadas etc.). • Propor e coordenar atividades de formação continuada e de desenvolvimento profi ssional dos professores. 3.5 SUPERVISÃO E MÉTODOS DE ENSINO É importante perceber que a escola deve buscar o aprimoramento do 112 SuPErViSÃo ESCoLAr ensino. A função principal da escola, sendo ela pública ou particular, é ter gestão democrática, ter boa formação dos professores, entre outros aspectos, deve sempre estar relacionada à melhoria do ensino. Libâneo (2003) determina que os requisitos básicos aos professores, são: • Domínio dos conteúdos e adequação destes aos conhecimentos que o aluno já possui. • Adequar o conteúdo ao desenvolvimento mental dos alunos e às características socioculturais e suas diferenças. • Domínio das metodologias de ensino correspondentes aos conteúdos a serem descritos. • Clareza dos objetivos propostos, amplifi cando o desenvolvimento das capacidades cognitivas e de habilidades de pensar e aprender. • Planos de ensino e de aula que possibilitem o desenvolvimento de todas as potencialidades dos alunos. • Uma classe organizada, alunos motivados e sem tensão. • Dominar procedimentos e instrumentos de avaliação da aprendizagem, desenvolvendo possibilidades de avaliações justas e individualizadas. 3.6 SUPERVISÃO E AVALIAÇÃO Outra área de atuação do supervisor é a avaliação. Neste caso, não se refere apenas à avaliação de aprendizagem dos alunos, mas também da própria instituição (trabalho dos professores e da gestão da escola), através da avaliação institucional. A avaliação deve ser entendida como um auxílio na percepção de que o trabalho está sendo feito ou não de maneira adequada. Avaliar o processo de ensino-aprendizagem, examinando relatórios ou participando de conselhos de classe, para aferir a validade dos processos de ensino. O supervisor deve perceber a avaliação, suas características em seus diversos conceitos e sua relação com a atualidade, além de entender a avaliação, suas funções, categorias e critérios: avaliação de projetos, de planos institucionais; avaliação no sistema educacional brasileiro e a avaliação na atual legislação brasileira; entender o Sistema de Avaliação Nacional: SAEB, ENEM e PROVÃO, os Parâmetros Curriculares, entre outros. Através da avaliação é que se determinam os problemas e se defi nem estratégias para a solução deles, se dá o acompanhamento e as correções de planos e projetos, além do PPP. 113 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 Sant’Anna (2001) compreende que a avaliação é um processo pelo qual se procura identifi car, aferir, investigar e analisar as modifi cações do comportamento e rendimento do aluno, do educador, do sistema, confi rmando se a construção do conhecimento se processou, seja este teórico (mental) ou prático. A autora aponta características e pressupostos do processo avaliativo. São características da avaliação: continuidade, temporalidade, totalidade, organização e orientação. Quanto aos pressupostos, afi rma: • É dinâmica: não é estática. • É contínua: não é terminal. • É integrada: não é isolada do ensino. • É progressiva: não é estanque. • É voltada para o aluno, não para os conteúdos. • É abrangente: não restrita a alguns aspectos da personalidade do aluno. • É cooperativa: não realizada somente pelos professores. • É versátil, não se processa sempre da mesma forma. Outra defi nição importante é apresentada por Libâneo (1994, p. 195), que propõe a seguinte refl exão: A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem. Através dela, os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados com os objetivos propostos, a fi m de constatar progressos, difi culdades, e reorientar o trabalho para as correções necessárias. [...] é uma refl exão sobre o nível de qualidade do trabalho escolar tanto do professor como dos alunos. Os dados coletados no decurso do processo de ensino, quantitativos ou qualitativos, são interpretados com relação a um padrão de desempenho e expressos em juízo de valor (muito bom, bom, satisfatório etc.) acerca do aproveitamento escolar. Para uma avaliação justae verdadeira, devemos considerar alguns critérios fundamentais. Estes critérios, quando respeitados, podem promover uma avaliação que realmente meça o nível de aprendizagem do aluno. A boa avaliação envolve três passos (NOVA ESCOLA, 2009): • Saber o nível atual de desempenho do aluno (etapa também conhecida como diagnóstico). • Comparar essa informação com aquilo que é necessário ensinar no processo educativo (qualifi cação). 114 SuPErViSÃo ESCoLAr • Tomar as decisões que possibilitem atingir os resultados esperados (planejar atividades, sequências didáticas ou projetos de ensino, com os respectivos instrumentos avaliativos para cada etapa). 1 Existem vários métodos e técnicas de avaliação. O mais tradicional é a prova, porém existem outros métodos mais efi cazes que devem ser considerados para uma avaliação mais justa e real. Quais os métodos que você considera mais justos? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ __________________________________________________. 4 MEIOS E TÉCNICAS DE SUPERVISÃO ESCOLAR Na escola, o supervisor deve determinar um momento de união para discutir ideias entre os especialistas da educação. Neste momento fundamental, o supervisor deve buscar as discussões relevantes para um melhor andamento dos trabalhos pedagógicos e estruturais com professores e o pessoal administrativo. 4.1 REUNIÕES E SUAS VARIAÇÕES Reuniões têm a função de gerar ideias, discutir informações e tomar decisões em conjunto, para benefícios de todos. Defi niremos agora os tipos de reuniões para um melhor esclarecimento e entendimento de como prepará-las e conduzi-las e assim colher os resultados esperados. 115 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 QUADRO 5 – TIPOS DE REUNIÕES ITENS PLANEJAMENTO DELIBERATIVA INFORMATIVA CONCEITO Para solucionar problemas orientados para o futuro • Tomada de decisão • Solução de problemas Para compartilhar dados e informações DURAÇÃO Mais de 4 horas Até 4 horas Até 1 hora NÚMERO DE PESSOAS 2 a 7 pessoas 2 a 7 pessoas 30 a 50 pessoas D I S P O S I Ç Ã O DO LOCAL Cadeiras em semicírculo e uma mesa 1 mesa com cadeiras Auditório RECURSOS • Retroprojetor • Flip-chart • Microcomputador • Quadro magnético • Retroprojetor • Flip-Chart • Microcomputador • Quadro magnético • Retroprojetor • Data show • Telão PRAZOS PARA CONVOCAÇÃO 2 semanas No mínimo 5 dias No mínimo meio dia CONVOCAÇÃO Por escrito e nominal Por escrito e nominal Por telefone Circular Quadro de aviso Fax CONTEÚDO DA CONVOCAÇÃO • Agenda da reunião • O que os participantes devem levar à reunião • Quem serão os partici- pantes • Agenda da reunião • O que os participantes devem levar à reunião • Quem serão os partici- pantes • Agenda da reunião • Objetivos da reunião • Data • Local • Horário AVALIAÇÃO oral oral • Escrita • Escrita sem identifi - cação • Impresso já defi nido FONTE: O autor Nas reuniões com professores, o supervisor deve ser o motivador e deve possibilitar o desenvolvimento profi ssional de todos. Segundo Pinzan e Maccarni (2003, p. 21, apud REME, 2008, p. 43), a supervisão escolar, comprometida com o trabalho coletivo, contribui na formação do professor na medida em que: Não se limita ao controle, ou ao repasse de técnicas aos professores, mas no sentido de oferecer-lhes assessoramento teórico-metodológico diante dos problemas educacionais cotidianos, cria momentos de refl exão teórico-prática e, com o respaldo da fundamentação teórica e uma visão do ato de ensinar e de aprender como algo articulado, coordena tais discussões. 116 SuPErViSÃo ESCoLAr Esses momentos de refl exão teórico-metodológico são o momento de melhoria e discussão de pontos fracos e fortes na prática diária, além de fornecer novas técnicas e possibilidades de ensino. Organizar reuniões de estudos, em que se aprofundam teorias que dão luz às práticas desenvolvidas é uma tarefa da supervisão. Para tanto, é necessário, também, estudar muito, ler e, principalmente, fazer a leitura do cotidiano das práticas, diálogos e apelos dos professores. Com relação às reuniões, o supervisor escolar tem como atribuições: • Promover reuniões para integração, através da sensibilização para o trabalho em equipe. • Realizar sessões de estudos da proposta pedagógica. • Promover reuniões e/ou encontros para troca de experiências e conhecimentos. • Acompanhar, coordenar e avaliar as reuniões. • Realizar encontros individuais com professores. • Acompanhar a prática do professor. a) Reuniões com professores Toda reunião deve ser preparada com antecedência na discussão da pauta, que deve ser objetiva e estimulante. É importante distribuir a pauta a todos os participantes para acompanhar e discutir o que está determinando. Neste momento, aspectos formais são discutidos. Dizem respeito ao processo de ensino e cronograma. Atividades complementares, projetos ou eventos que devem ter a participação, o empenho, ou o conhecimento de todos na escola, estando ou não diretamente envolvidos. b) Reuniões com o conselho escolar O supervisor deve realizar as reuniões do conselho de ensino e nestes momentos promover a discussão sobre os diversos assuntos ligados à escola, procurando trocar experiências, coletar sugestões e estimular a participação de todos nas decisões em benefício dos alunos e de toda a escola. Assim, alguns passos devem ser seguidos na construção e boa funcionalidade do conselho. O primeiro passo é a criação do conselho e o cuidado para, sempre que encerrado o mandato, realizar imediatamente uma nova eleição, para evitar que entre um mandato e outro fi que um espaço vazio. 117 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 O segundo passo é realizar as reuniões periodicamente. É preciso ter cuidado para não marcar reuniões apenas em virtude de alguma crise. O terceiro passo é a defi nição da pauta das reuniões. Além de discutir o projeto político-pedagógico, a prestação de contas, o calendário escolar etc., é importante ouvir a comunidade escolar sobre os problemas da escola e tentar transformar a voz de pais, alunos, professores, servidores e direção em pontos a serem debatidos nas reuniões do conselho. c) Reuniões com pais e alunos As reuniões com os pais devem ser consideradas como um ótimo momento de aproximação entre a comunidade e a escola. Neste momento, os pais têm a possibilidade de conhecer aspectos de caráter formativo, projetos, instalações, atividades extracurriculares, como esporte, música ou teatro, nos quais os alunos estão envolvidos. Em outras palavras, esta é uma oportunidade única de trazer os pais à escola e para poder divulgar o que está sendo feito em benefício dos alunos e da comunidade. Infelizmente, em muitas escolas, os pais vão à escola apenas em eventos sociais (festas juninas, dia das mães etc.) ou esportivos e não para discutir aspectos que envolvem o ensino de seus fi lhos. Outro aspecto que se percebe é que os pais são chamados à escola apenas quando seu fi lho tem algum problema. Apesar de vital para o desenvolvimento da educação do aluno, isso limita a intenção dos pais em irem à escola, pois não se sentem confortáveis com críticas aos seus fi lhos. O ideal é convidar os pais a participarem de atividades da escola para aproximá-los. Deve-se também convidar os pais quando o fi lho tenha realizado algo que mereça elogios, ou ainda, quando convidar para discutir aspectos críticos da educação, como disciplina ou a falta de interesse dos fi lhos, buscar elogiar antes de criticar. Desta maneira, os pais podem se interessar ainda mais com aspectos da escola, da educação do fi lho, para então acontecer uma participação efetiva na educação ideal. Normalmente, estas reuniões acontecem mensalmente e são distribuídas por turmas,em que os professores e pais têm a oportunidade de se conhecerem e discutirem a situação dos alunos. As reuniões são organizadas pelo supervisor, já com a pauta de referência para a turma em questão, com dados a serem discutidos com os pais e responsáveis, em relação aos alunos em particular ou em relação à turma como um todo. É importante contar com o responsável pela turma, o regente de turma, ou similar, que tenha uma imagem clara dos alunos e de suas virtudes e difi culdades. 118 SuPErViSÃo ESCoLAr Para a Revista Nova Escola (2009), as reuniões com os pais devem seguir passos na preparação e na execução, tornando a reunião proveitosa. Assim, uma reunião bem conduzida faz a diferença. O ideal é dividi-la em duas partes: a primeira, mais geral, fi ca a cargo da direção ou da coordenação; a segunda, em classe, é com o professor. A sugestão é seguir pontos importantes, principalmente em se tratando da primeira reunião do ano letivo. 10 PASSOS PARA SE SAIR BEM NA PRIMEIRA REUNIÃO DE PAIS 1. Defi nir o roteiro com a direção Para não perder o foco, vale organizar antecipadamente com a direção um roteiro do que será dito às famílias. A primeira parte da reunião é para todos os pais. Neste momento, devem ser esclarecidos pontos de funcionamento e da pedagogia que a escola deve seguir, além de assuntos gerais, mas não menos importantes. Depois dessa discussão, os pais são encaminhados para grupos diversos, de acordo com a série dos fi lhos, para a reunião com os professores. 2. Preparar e enviar os convites O convite, enviado com pelo menos uma semana de antecedência, deve conter: O aviso claro da reunião, com dia, local, hora para começar e terminar. Os temas a serem tratados. Entre eles devem estar o programa do ano ou pelo menos do primeiro bimestre, as normas da escola, o material escolar a ser providenciado (e, se possível, dicas de lugares que tenham preços mais baixos), qual o sistema de avaliação, os horários e a importância das tarefas de casa. Um lembrete de que não haverá tempo para falar das crianças individualmente e que isso será feito durante todo o ano em reuniões periódicas. 3. Cuidar do ambiente O local do encontro deve ser preparado com cuidado para que todos se sintam esperados e acolhidos. Alguns professores costumam pedir às crianças para fazer desenhos e com eles decoram a sala onde será a reunião. Dar aos pais a oportunidade de identifi car o trabalho do fi lho entre tantos outros é uma forma afetuosa de dar 119 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 boas-vindas. Nem sempre isso é possível, mas uma faixa simples ou uma saudação na lousa são outras formas simpáticas de acolher os pais. Se a reunião for feita à noite, é bom providenciar água, café e biscoitos para quem vier direto do trabalho. 4. Garantir a participação ativa dos pais na reunião Isso é fundamental para o sucesso do encontro entre escola e família. Reserve um tempo para os pais fazerem perguntas e propostas. Questões específi cas sobre uma criança, que não sejam do interesse geral, fi cam para depois, como informado no convite. 5. Fazer um resumo do programa de sua disciplina e da metodologia a ser usada Todos os professores devem se apresentar aos pais e expor seu programa. Quando a reunião é com os responsáveis por alunos de 5ª a 9ª série, fi ca encarregado pela conversa o orientador pedagógico ou um professor escolhido pelos colegas. Eles explicam sua proposta para a matéria e como pretendem colocá-la em prática. O tempo de cada professor deve ser determinado antes para que todos possam participar. 6. Falar da periodicidade dos encontros Se os pais sabem quando terão novas oportunidades de encontrar os professores, é criado um compromisso entre a família e a escola. Atualmente, os pais trabalham demais, têm uma vida corrida e tendem a delegar a educação do fi lho totalmente à escola. É importante, no entanto, mostrar que a aprendizagem só acontece se a escola, o aluno e a família trabalharem juntos. 7. Preparar a leitura de um bom texto literário Para descontrair os pais e fazer com que se sintam mais à vontade, uma dinâmica pode funcionar bem. Escolha uma que facilite a integração, mas que não demore mais do que 15 minutos. Aplique logo depois da apresentação dos professores, explicando antes o que eles vão fazer e qual o objetivo. 8. Mostrar a escola Em uma pequena excursão, leve os pais para conhecer as salas de aula, biblioteca, laboratório, banheiros e quadras. 9. Apresentar os funcionários Todas as pessoas que trabalham na escola devem ser apresentadas aos pais: o pessoal da merenda ou da cantina, quem 120 SuPErViSÃo ESCoLAr cuida do pátio na hora do recreio, os funcionários da secretaria, os faxineiros. Além das devidas apresentações, o professor deve explicar o que cada um faz, os horários das merendas, as normas, os cuidados com a higiene. O importante é que os pais saibam que seus fi lhos estão sendo cuidados e bem tratados por todos. É o que eles esperam da escola que escolheram. 10. Enfatizar a importância da presença dos pais nas atividades escolares dos fi lhos Uma boa maneira de concluir o encontro é lembrar aos pais o papel deles na aprendizagem dos fi lhos. Dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) mostram que crianças que fazem parte de uma família que participa de forma direta do dia a dia escolar dos fi lhos apresentam desempenho superior em relação às demais. Essa participação se dá de modo simples: conversar sobre o que acontece na escola, acompanhar o dever de casa e incentivar a leitura, por exemplo. Nada garante que eles sairão completamente confi antes da reunião, mas se você a conduzir bem, com fi rmeza e paciência, a ansiedade dará lugar ao espírito de cooperação. FONTE: DELFINO, R. 10 passos para se sair bem na primeira reunião de pais. Revista Nova Escola: Gestão Escolar, São Paulo, n. 189, fev. 2006. Bimestral. 4.2 FORMAÇÃO DOS PROFESSORES E O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL Se a escola serve para educar os alunos, também deve servir para melhor preparar os professores. Ensinar os professores a serem melhores preparados com relação à didática, às metodologias, aos projetos e na própria organização pessoal, faz parte das atualizações continuadas. Para uma escola atual, o professor precisa atualizar-se. De acordo com a LDB, a escola deve orientar o corpo docente no desenvolvimento de suas potencialidades profi ssionais, assessorando-o técnica e pedagogicamente para incentivar-lhe a criatividade, o espírito de autocrítica, o espírito de equipe e a busca de aperfeiçoamento. Para Libâneo 121 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 (2003), o desenvolvimento profi ssional, como articulação de formação docente, deve acontecer junto ao desenvolvimento pessoal e com o desenvolvimento organizacional. Em outras palavras, o desenvolvimento profi ssional deve acontecer para todos em benefício de todos. O MEC, através do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação, desenvolve a Rede Nacional de Formação Continuada de Professores de Educação Básica, as principais diretrizes e intenções deste programa estão relacionadas a seguir e servem para determinar uma condução para a formação continuada dos professores. A REDE NACIONAL DE FORMAÇÃO CONTINUADA Princípios e diretrizes Para implementar a Rede Nacional de Formação Continuada, o MEC defi niu princípios e adotou algumas diretrizes norteadoras do processo: a) A formação continuada é exigência da atividade profi ssional no mundo atual A formação inicial exigida para a habilitação ao exercício da profi ssão, estruturada por meio de uma sólida formação teórico- prática, se complementa com saberes construídos na refl exão do cotidiano. O conhecimento adquirido na formação acadêmica se reelabora e especifi ca, entre outros,na atividade profi ssional para atender à mobilidade, à complexidade e à diversidade das situações que solicitam intervenções diversas. A formação de professores há de observar a adequação às diversidades que caracterizam o país. A comunidade indígena é atendida de forma mais adequada por professores índios, que deverão ter acesso a cursos de formação inicial e continuada, especialmente planejados para o trato com as comunidades indígenas. As comunidades Quilombolas possuem dimensões signifi cativas, que devem ser resgatadas na formação de professores. Além disso, é preciso pensar no atendimento das necessidades especiais dos estudantes, criando uma cultura de respeito em contraposição ao estigma do preconceito. Portanto, é preciso pensar a formação docente (inicial e continuada) como momentos de um processo de construção de uma prática qualifi cada e de afi rmação da identidade e profi ssionalização 122 SuPErViSÃo ESCoLAr do professor. Exigência do mundo atual, a formação continuada não pode ser reduzida a paliativo compensatório de uma formação inicial aligeirada. b) A formação continuada deve ter como referência a prática docente e o conhecimento teórico A articulação teoria e prática, necessária na formação inicial, é fundamental na formação continuada, pois favorece a retroalimentação do conhecimento consagrado com observações do cotidiano escolar, levando à construção de novos saberes. Assim, a prática passa de mero campo de aplicação a campo de produção do conhecimento, à medida que a atividade profi ssional envolve aprendizagens que vão além da simples aplicação do que foi estudado e os saberes construídos no fazer passam a ser objeto de valorização sistemática. A formação continuada deve voltar-se para a atividade refl exiva e investigativa, incorporando aspectos da diversidade e o compromisso social com a educação e a formação socialmente referenciada dos estudantes. c) A formação continuada vai além da oferta de cursos de atualização ou treinamento Vê-se que a concepção de formação continuada tem uma dimensão relacionada à complementação da formação inicial e à reelaboração teórico-crítica da prática cotidiana, ao longo de toda a carreira profi ssional. Na formação continuada não se podem desconsiderar as dimensões pessoais e profi ssionais, incluindo os aspectos concernentes à subjetividade, que permitem aos professores a apropriação dos processos de formação, uma vez que o saber é construído ao longo do percurso. A noção de experiência e de construção do conhecimento mobiliza uma pedagogia interativa e dialógica, considerando os diferentes saberes e a experiência docente. Assim, a formação continuada não pode ser reduzida à atualização, menos ainda a um treinamento ou capacitação para a introdução de inovações ou compensação de defi ciências da formação inicial. Devido a experiências anteriores, é comum entre os professores considerar programas institucionais como pacotes a serem executados, gerando uma atitude refratária a eles e comprometendo propostas de formação continuada. Por isso, torna-se urgente desenvolver uma cultura de formação alicerçada na refl exão crítico-teórica, considerando os determinantes sociais mais amplos e as suas implicações no cotidiano do professor e no seu processo profi ssional. Se a formação continuada supõe cursos, 123 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 palestras, seminários, atualização de conhecimentos e técnicas, ela não se restringe a isso, mas exige um trabalho de refl exão teórica e crítica sobre as práticas e de construção permanente de uma identidade pessoal e profi ssional em íntima interação, como também das dimensões individual e social dos atores envolvidos no processo educativo. Deve-se considerar o professor como sujeito, valorizando suas incursões teóricas, suas experiências profi ssionais e seus saberes da prática, permitindo que, no processo, ele se torne um investigador capaz de rever sua prática, atribuir-lhe novos signifi cados e compreender e enfrentar as difi culdades com as quais se depara. d) A formação para ser continuada deve integrar-se no dia a dia da escola A dinamização da formação pedagógica, bem como a sua integração no dia a dia da escola requer reuniões dos professores em conjunto com o diretor e pessoas do apoio pedagógico da escola para realizar estudos, partilhar dúvidas, questões e saberes num processo contínuo e coletivo de refl exão sobre os problemas e as difi culdades encontradas e o encaminhamento de soluções. Para que isso ocorra são necessárias algumas condições concretas de trabalho na unidade escolar, além de uma nova interação das escolas com os órgãos dos sistemas de educação e destes com as instituições formadoras dos docentes. O envolvimento da equipe gestora tem sido apontado como um dos fatores decisivos para o bom desenvolvimento de programas de formação continuada com amplo envolvimento dos profi ssionais da educação. Nessa direção, o diretor e os demais componentes da equipe gestora, enquanto docentes, vivenciam e estimulam a participação de seus pares nos processos de formação. O fortalecimento dos conselhos escolares coloca-se como um aporte fundamental nas políticas de gestão, organização e democratização das relações no dia a dia da escola. Ainda, as Secretarias de Educação devem prever na carga horária do professor tempo para essas reuniões e/ou frequência a cursos e palestras, além de respaldar as escolas em suas necessidades e apoiar e acompanhar suas atividades pedagógicas. Já as instituições formadoras devem oferecer recursos mobilizáveis para as ações de formação continuada e de melhoria da escola à medida que conheçam as suas necessidades. Isso não signifi ca limitar suas ações a meras demandas pontuais das escolas ou dos sistemas, mas supõe a noção de redes articuladas de parceria em que a escuta mútua e mais prolongada que a realização de um curso 124 SuPErViSÃo ESCoLAr permita o trabalho coordenado e voltado para a efetivação do direito de todos a uma educação de qualidade. Pretende-se que, com a Rede Nacional de Formação Continuada, a necessidade de articulação entre as Universidades e os Sistemas se concretize tanto no sentido de socializar o avanço do conhecimento produzido nas IES como no de revisitar e ampliar suas teorias, considerando, nesse processo, a profícua interlocução com os professores da rede pública de educação básica. Nesse movimento de experiências e de saberes, todos ganham e todos passam a fazer parte de uma rede maior de intercâmbio. Nesse contexto, as modalidades de cursos a distância, sobretudo os semipresenciais, resguardada a garantia de qualidade social, surgem como mais uma alternativa de ampliação das ações formadoras. e) A formação continuada é componente essencial da profi ssionalização docente Não se pode perder de vista a articulação entre formação e profi ssionalização, entendendo que uma política de formação implica o encaminhamento de ações efetivas no sentido de melhorar as condições de trabalho, bem como a estruturação do trabalho pedagógico da escola. Desse modo, os planos de carreira devem incentivar a progressão por meio da qualifi cação inicial e continuada do trabalho docente, visando à valorização dos professores. FONTE: BRASIL. Rede Nacional de Formação Continuada de Professores de Educação Básica. Orientações gerais. Brasília: MEC, 2005. Disponível em: http://www.oei.es/quipu/brasil/Red_Nac_ form_continua.pdf. Acesso em: 12 jun. 2019. p. 23-27. A formação continuada dos profi ssionais da educação deve ocorrer durante toda a carreira profi ssional. O supervisor tem a função de estimular os professores e buscar alternativas para que os professores participem. Ele também deve buscar o aprimoramento de todos, mesmos os mais experientes, de maneira que novas possibilidades e tecnologias sejam aplicadas pelo professor.A formação continuada do professor pode acontecer dentro ou fora da escola. A escola pode promover as capacitações no início do ano letivo ou no início do segundo semestre, ou os professores podem participar, em outras instituições, de seminários, cursos e palestras que venham a acrescentar em suas carreiras pedagógicas. Também é de extrema importância o interesse da supervisão e 125 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 administração da escola em estimular a participação dos professores nos cursos de pós-graduação em nível de lato ou stricto sensu. Outro fator que devemos considerar é a possibilidade de que tanto o professor quanto o supervisor podem rever e refl etir sobre a sua prática como educadores e gestores da educação. Essa refl exão pode também ser feita junto ao aluno. De qualquer modo, um “momento” de desenvolvimento do potencial deve ser dado ao professor para que este faça uma análise de sua atuação, que sirva para uma atualização e assim busque uma transformação constante para uma melhor atuação nas suas atividades acadêmicas. A refl exão da autoconsciência nos estudantes/professores com relação as suas concepções pode desvelar seu potencial como atores sociais, tanto na realidade sócio-histórica de suas vidas, na formação docente, quanto na sua capacidade coletiva para transformar atividades profi ssionais convencionais e desenvolver estudos refl exivos da sua prática que os levem a atividades de pesquisa, de críticas e de refl exão, na reconstrução dessa prática (OLIVEIRA, 2008, p. 38). O envolvimento do supervisor na formação continuada do professor transmite ao docente um caráter de respeito, podendo, assim, criar um vínculo que envolve o crescimento de todos na busca de uma educação exemplar. 4.3 PALESTRAS, OFICINAS, WORKSHOPS E CONFERÊNCIAS É fundamental ao supervisor acompanhar o trabalho desenvolvido em salas de aula, ofi cinas, laboratórios etc., propondo alternativas de aproveitamento profi ssional. Além disso, deve dar subsídios para seus professores com relação à participação de cursos na área de formação, ou de interesse deles, ou da escola. Os cursos devem ser um conjunto articulado de ações pedagógicas, de caráter educativo, social, cultural, científi co ou tecnológico, com objetivo bem defi nido e prazo determinado. Os cursos podem ser de caráter teórico ou prático, presencial ou à distância, planejados e organizados de modo sistemático, com carga horária mínima e processo de avaliação. Estes eventos implicam na apresentação e exibição pública e livre, ou também com clientela específi ca, do conhecimento ou produto cultural, científi co e tecnológico desenvolvido, conservado ou reconhecido pela comunidade científi ca e que os professores e alunos podem ser estimulados a participar e apresentar suas pesquisas. Portanto, promove a valorização do professor e 126 SuPErViSÃo ESCoLAr se tem a oportunidade de desenvolver a ciência. Da mesma maneira, a escola deve promover o conhecimento científi co com o apoio e estímulo à produção de textos e relatório de pesquisa. Estas publicações atrelam o bom nome da escola com o professor e caracterizam-se como a produção de publicações e produtos acadêmicos decorrentes das ações de extensão, para difusão e divulgação cultural, científi ca ou tecnológica. 4.4 PESQUISA E VISITAS Questionar, criticar e responder a questões deve ser o propósito da pedagogia. Para tanto, o professor deve ser estimulado a realizar pesquisa na busca de respostas e do próprio aprimoramento científi co. Freire (1996, p. 29) afi rma que “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino”, pois enquanto o professor ensina continua buscando, pesquisando, evoluindo cientifi camente. A pesquisa tem o poder de não apenas solucionar problemas, mas também criar possibilidades e descobertas. Entre as novas possibilidades, está a condição de percebermos uma nova dinâmica de sala de aula, ou uma produção científi ca em que amplifi que a importância da disciplina e do professor para os alunos e para a comunidade. Fazer e promover a pesquisa é fundamental para a solução de problemas teóricos ou práticos com o emprego de processos científi cos. Existem muitas soluções que os próprios professores realizam em suas práticas diárias, mas não desenvolvem de maneira científi ca. Com a pesquisa essas práticas podem ser mais bem estruturadas e divulgadas para outros profi ssionais. O supervisor também pode organizar grupos de pesquisa dentro do ambiente da escola com a gerência dele ou de um professor da área, com a participação de alunos. Isso estimula a pesquisa e, assim, o conhecimento. A própria LDB determina que o supervisor deva desenvolver pesquisas de campo, promovendo visitas, consultas e debates no sentido socioeconômico educativo, para cientifi car-se dos recursos, problemas e necessidades da área educacional de sua responsabilidade. Sobre essa questão, o MEC defende que: Os problemas que ocorrem nas situações de ensino e de aprendizagem devem ser solucionados com base nos princípios da pesquisa em ação. O Supervisor deve coletar dados que lhe permitam identifi car as possíveis causas dos problemas. Em conjunto com os professores, deve levantar alternativas de solução, que serão vistas como hipóteses de trabalho. “Todas as hipóteses devem ser avaliadas com a equipe docente 127 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 quanto a sua aplicabilidade à situação em estudo, prevendo-se tempo e recursos necessários a sua concretização. A hipótese selecionada deverá ser testada em situação real durante um tempo predeterminado, sendo sua validade verifi cada por meio de registros ou observações” (e outros procedimentos) “que evidenciem, se as modifi cações se fazem de maneira a resolver o problema”. Se as evidências coletadas demonstrarem que as causas do problema não estão sendo removidas, “suspende- se o procedimento e recomeçam-se as etapas anteriores” (BRASIL, 1996, p. 24-25). A aplicação do método científi co imprime grande fl exibilidade ao processo de planejamento curricular, transformando os objetivos educacionais em hipóteses a serem confi rmadas, imprimindo aos meios pedagógicos (conteúdos, técnicas e recursos didáticos) o sentido de cursos prováveis de ação a serem revistos sempre que as evidências coletadas indicarem sua inadequação ao contexto, fazendo da avaliação em processo o mecanismo ideal para a eleição entre caminhos críticos. Portanto, pode-se afi rmar que a pesquisa é importante para a prática pedagógica de qualidade dos professores pelos seguintes motivos (MACIEL; SHIGUNOV NETO, 2004): • proporciona condições de interferir, modifi car e melhorar sua prática pedagógica; • possibilita a construção do conhecimento; • possibilita refl etir sobre os problemas do cotidiano da sala de aula; • possibilita interagir com os alunos na busca do aprendizado; • possibilita uma verdadeira preocupação com a aprendizagem dos alunos. O estímulo à pesquisa deve ser considerado pelo supervisor através da elaboração de estratégias que desenvolvam o interesse pela pesquisa discente. Devemos perceber a preocupação em compreender que a ausência da pesquisa implica a negação de um ensino de qualidade, pois sem pesquisa não há ensino. A ausência de pesquisa degrada o ensino a patamares típicos da reprodução imitativa. Entretanto, isso não pode levar ao extremo oposto, isolando-se no espaço da produção científi ca. 128 SuPErViSÃo ESCoLAr 1 Prezado acadêmico, você deve saber que existem vários tipos de pesquisa. Dentre elas, a Bibliográfi ca, a Explicativa, a Exploratória e a Descritiva. Com suas palavras, defi na as diferenças entre elas e que tipo de pesquisa pode ser utilizado na realidade escolar e por quê. R.: ____________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________. 4.4 INTEGRAÇÃO COM PAIS E COMUNIDADE A parceria entre escola e comunidade é indispensável para uma educação de qualidade e depende de uma boa relação entre familiares, gestores, professores, funcionários e estudantes. Todo educador sabe que o apoio da família é crucial no desempenho escolar. Pais (pai e mãe, não apenas um dos dois, normalmente o pai não participa como a mãe e isso não deve ser exemplo ou desculpa) que acompanham os fi lhos nas atividades pedagógicas, nos eventos promovidos pela escola, nas reuniões e outros eventos, pais cooperativos e atentos no desempenho escolar dos fi lhos na medida certa, esse é o desejo de qualquer professor. COMO ATRAIR OS PAIS PARA A ESCOLA O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), de 1999, apontou que nas escolas que contam com a parceria dos pais, onde há troca de informações com o diretor e os professores, os alunos aprendem melhor, porém, essa atuação dos pais ainda é bem rara e para maior integração com a escola e melhor acompanhamento, mais encontros e palestras interessantes devem ser promovidos. 129 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 Diversos educadores brasileiros também defendem que a família realize um acompanhamento da escola, verifi cando se seus objetivos estão sendo devidamente alcançados. Por que pais e professores ainda não conseguem se entender? A maior parte dos educadores atribui aos pais a origem dos problemas de disciplina, e apontam como fatores o novo modelo familiar, no qual os adultos permanecem pouco tempo em casa, ou ainda aquele que apresenta uma organização diferente da tradicional. Como melhorar a relação A discussão deve avançar na procura das melhores oportunidades de promover um encontro positivo entre pais e professores. Para isso acontecer, alguns conceitos precisam ser revistos: • Perceba a construção da família atual e não mistifi que o modelo do passado como ideal. • Tenha claro que é direito dos responsáveis pelos estudantes opinar, fazer sugestões e participar de decisões sobre questões administrativas e pedagógicas da escola. • Apoie a Associação de Pais e Mestres, para que ela não se restrinja a apenas arrecadar dinheiro. Não dá para contar com os pais apenas na organização de festas. • Para que as reuniões tenham quórum, é preciso ter objetivos bem defi nidos e conhecer as famílias e a comunidade em que a escola está inserida. Planejamento é essencial. • Refl ita sobre os preconceitos e as discriminações existentes na escola. Não é necessariamente o grau de instrução do pai e da mãe que motiva uma criança ou um adolescente a estudar, mas o interesse em participar de suas lições de casa e da vida escolar. • Não parta do princípio de que a família precisa ser ajudada pela escola e sim de que a escola precisa dela. • Todo diretor tem que dar conta da participação familiar e para isso a gestão não pode ser autoritária. FONTE: BENCINI, R. Como atrair os pais para a escola. Revista Nova Escola: Gestão Escolar, v. 18, n. 166, p. 38-39, out. 2003. Disponível em: encurtador.com.br/jnuUW. Acesso em: 16 maio 2019. 130 SuPErViSÃo ESCoLAr Nessa leitura podemos perceber que o supervisor pode promover a participação dos pais no desenvolvimento de seus fi lhos na escola. É função do supervisor encontrar maneiras de atrair os pais para a escola e assim aproveitar a situação para melhorar a relação com os professores e alunos e a relação entre os pais e a escola como um todo. As melhores escolas do Brasil e do mundo têm em comum a participação explícita e atuante dos pais na formação dos alunos e na contribuição para a escola, que pode ser fi nanceira, mas especialmente em termos de participação ativa no auxílio, nas ideias, no conselho, entre outros, para uma escola que deve trazer benefícios a todos. 1 Você deve estar pensando em como trazer os pais para a escola. Dentro de sua realidade comunitária, que tipo de convite ou evento você poderia desenvolver para que essa participação possa aumentar? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ _________________________________________________. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Nesse capítulo percebemos a importância da gestão democrática e a sua aplicação no bom andamento da gestão das instituições de ensino. Indagamos também novas possibilidades da educação como ferramenta de transformação social e cultural para uma sociedade atual mais justa. Ainda, debatemos criticamente as atribuições dos agentes que compõem os cargos de orientação e supervisão e a boa integração entre eles, com sugestões de atuação, em benefício de todos. Acreditamos que o ponto mais importante desse capítulo foi a discussão sobre a aplicação da gestão democrática como uma forma de estimular a participação coletiva nas melhorias da escola, reconhecendo que a democracia permite atender às possibilidades para uma escola inclusiva e transformadora para o aluno, os professores, a direção e para toda a comunidade. Nesse sentido, os envolvidos na gestão têm a possibilidade amplifi cada de melhor entender as necessidades da geração atual e, assim, contribuir na ascensão do aluno-cidadão em sua plenitude. 131 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 Percebemos também o valor do debate acerca da importância da escola democrática para contribuir para a melhora da sociedade por meio da formação de cidadãos críticos e conscientes de sua condição na sociedade. Através da concepção democrática, o aluno pode perceber a sua condição fatalista, que pode ser de exploração, de discriminação ou de opressão para então buscar a compreensão do sistema em que vive e buscar o incremento da sua condição social. Nesse capítulo, procuramos caracterizar o processo de atuação prática do supervisor educacional nos diversos setores da escola. Também discutimos a práxis do supervisor no processo organizacional e suas especifi cidades como agente atuante na construção dos aspectos pedagógicos da escola. Além disso, repassamos algumas orientações sobre a aplicação da teoria na prática profi ssional do supervisor nas escolas. Também vimos as atribuições práticas do supervisor em seu trabalho na escola. Assim, você percebeu que o supervisor escolar atua como elemento fundamental na constituição, discussão e melhorias do currículo, no auxílio aos professores no processo de ensino e nos métodos de aprendizagem e de avaliação, além de ser crucial na colaboração da escolha do material didático que deve ser escolhido como o mais adequado dentro do contexto em que a escola está inserida. Nesse capítulo podemos resumir que foram discutidos todos os aspectos que realmente fazem a diferença no aprendizado. Esses aspectos incluem a escolha do material (livro) que deve ser utilizado como fonte de referência aos alunos; a maneira como se deve executar o ensino propriamente dito (aulas), com a intenção de auxiliar os professores a criarem dinâmicas atraentes aos alunos; os projetos que podem incrementar os níveis de conhecimento e o nível de interesse das atividades pedagógicas; como avaliar todos esses aspectos de ensino e aprendizagem dentro da promoção de uma avaliação justa e verdadeira, que considere o aprendizado do aluno e para o aluno, além de avaliar a prática docente. Prezado acadêmico, chegamos ao fi m desse livro com o capítulo sobre as possibilidades organizacionais que o supervisor pode e deve trazer para a sua atividade na escola. Essas sugestões são apenas algumas entre um universo que pode ser ainda mais explorado pelo profi ssional em questão. Nesse capítulo nós identifi camos as especifi cidades e as possibilidades da função organizadora através de meios e técnicas que são possíveis e viáveis no ambiente escolar pelo supervisor educacional. 132SuPErViSÃo ESCoLAr Também discutimos e analisamos algumas estratégias na elaboração do trabalho de supervisão com relação às ações de trabalho na busca de uma educação de qualidade. Lembramos sempre que a escola é feita por professores, gestores e alunos, mas que a boa escola é feita por bons profi ssionais, por sua formação continuada e estímulo à participação em cursos e especialmente no fomento da pesquisa e pela participação ativa dos pais e da comunidade, em reuniões e eventos, que são cruciais no sucesso dos alunos. 133 A GESTÃO ESCOLAR E AS POSSIBILIDADES PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA Capítulo 3 REFERÊNCIAS BENCINI, R. Como atrair os pais para a escola. Revista Nova Escola: Gestão Escolar, v. 18, n. 166, p. 38-39, out. 2003. Disponível em: encurtador.com.br/ jnuUW. 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