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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 4 2 HISTÓRIA DA NUTRIÇÃO ........................................................................... 5 2.1 As Transformações da Alimentação da Partir do Século XIX ................ 6 2.2 A Alimentação e a Saúde: A Origem da Epidemiologia Nutricional ....... 7 2.3 A Saúde Pública .................................................................................... 8 3 A SAÚDE, A PROMOÇÃO DA SAÚDE E A ALIMENTAÇÃO .................... 11 4 FISIOLOGIA DIGESTIVA ........................................................................... 15 5 DIETOTERAPIA ......................................................................................... 17 5.1 O cuidado nutricional ........................................................................... 18 6 NUTRIÇÃO E CIDADANIA ......................................................................... 20 6.1 A fome e as lutas pelo acesso aos alimentos como direito humano .... 20 6.2 O direito humano à alimentação adequada no Brasil e no mundo ...... 21 7 IMPORTÂNCIA NUTRICIONAL EM SAÚDE PÚBLICA ............................. 22 7.1 Transição nutricional em saúde pública ............................................... 22 7.2 Políticas de alimentação e nutrição ..................................................... 23 7.3 Vigilância alimentar e nutricional ......................................................... 24 8 DESNUTRIÇÃO E SUAS CAUSAS ........................................................... 25 9 NUTRIÇÃO APLICADA A DESNUTRIÇÃO PROTEICO- ENERGÉTICA .. 27 9.1 Carências nutricionais ......................................................................... 28 9.2 Formas de desnutrição proteico-energética ........................................ 29 10 NUTRIÇÃO CLÍNICA APLICADA À DOENÇA RENAL ........................... 30 11 NUTRIÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ................................. 31 11.1 Principais distúrbios nutricionais na infância .................................... 32 3 12 PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS LIGADAS AO ENVELHECIMENTO .................................................................................................. 36 12.1 Impacto das alterações fisiológicas nas necessidades nutricionais dos idosos 38 13 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DO PACIENTE HOSPITALIZADO ............ 41 14 ELABORAÇÃO DE PROTOCOLOS DE AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE PACIENTES HOSPITALIZADOS ............................................................................... 44 14.1 Necessidades diárias de proteínas para pacientes hospitalizados .. 45 15 SUPLEMENTOS ORAIS ......................................................................... 46 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 49 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 HISTÓRIA DA NUTRIÇÃO Fonte: revistapilates.com.br A história da alimentação, por ser um tema universal e multidisciplinar, possui uma dimensão imensurável. Na tentativa de circundar essa história, os estudos sobre alimentação como objeto do conhecimento científico reúnem os mais diversos enfoques e vertentes históricas, englobando aspectos biológicos, econômicos, sociais e culturais (TOLEDO, 2014). De acordo com o autor citado acima, a alimentação é, antes de tudo, indispensável para vida, contudo vai além de uma necessidade puramente biológica, possuindo uma complexa estrutura de símbolos e significados sociais, religiosos, étnicos e políticos, que se modificam em função do tempo e da evolução humana. A fome em contraposição à alimentação é também muito discutida ao longo da história, “a produção dos alimentos e a sua disponibilidade social têm obedecido a dinâmica milenar de desigualdades distributivas e de crises alimentares. As fomes assolam o passado e o presente da humanidade” (CARNEIRO, 2003, p.23 apud TOLEDO, 2014). A idade média foi marcada por uma grande insegurança alimentar causada por periódicas crises na produção de alimentos em regiões da Europa, que ocasionaram a desnutrição e fome e contribuíram para o aumento considerável das mortes causadas 6 pela peste negra, uma vez que corpos desnutridos tem menor resistência a enfermidades (TOLEDO, 2014). 2.1 As Transformações da Alimentação da Partir do Século XIX A alimentação da humanidade foi, ao longo dos anos, muito influenciada pelas evoluções tecnológicas ocorridas na agricultura, na indústria, no transporte, no modo de produção, na distribuição e no consumo dos alimentos. Em especial, nos séculos XIX e XX, época que foi caracterizada pela Revolução Industrial, que ocorreu inicialmente na Inglaterra, Europa Ocidental e Estados Unidos (TOLEDO, 2014). No século XIX, destacam-se como importantes acontecimentos para a alimentação: o desenvolvimento do transporte marítimo e ferroviário, facilitando o comércio e o abastecimento dos gêneros alimentícios agrícolas entre os países; o uso de maquinas a vapor no processamento dos cereais, aumentando a velocidade e a capacidade de produção; o desenvolvimento de técnicas de conservação dos alimentos; a pasteurização do leite; a tecnologia da refrigeração, utilizada na importação dos gêneros alimentícios (PEDROCCO, 2009 apud TOLEDO, 2014). De acordo com o estudo de Thomas McKeown (1976), citado por Toledo (2014), tais acontecimentos reduziram a fome e a desnutrição nos países da Europa e Estados Unidos, que observou a diminuição das taxa de mortalidade nesses países nos séculos XVIII e XIX, como consequência do aumento da provisão alimentar, conquistado com a melhora do abastecimento, produção e conservação dos alimentos. Ainda segundo o autor citado, o crescimento econômico advindo da industrialização e do capitalismo, o processo de urbanização das cidades, o êxodo rural, a inclusão do trabalho feminino nas fábricas e escritórios, a elevação do nível de vida, ocorridos especialmente na segunda metade do século XX, modificou drasticamente o modo de vida da sociedade urbana. A disposição de menos tempo para as atividades domésticas e a necessidade frequente de alimentação fora do lar impulsionaram o surgimento de um vasto setor de alimentação, tais como: restaurantes, redes de fast-food, indústrias de alimentos “prontos para o consumo”. Da mesma forma, com intuito de facilitar as atividades 7 domésticas, surgiram novas tecnologias de equipamentos eletrodomésticos, (TOLEDO, 2014). A globalização e a intensificação comercial entre os países permitiram “a difusão de novos hábitos homogeneizados” pelas grandes cadeias multinacionais de alimentos, acarretando transformações globais nos padrões alimentares, com importantes consequências para a saúde das populações (CARNEIRO,2003 apud TOLEDO, 2014). De uma forma mais lenta, a revolução industrial atingiu os países em desenvolvimento como o Brasil, gerando grandes mudanças nas grandes cidades do país como São Paulo e Rio de Janeiro. A abolição dos escravos e a entrada de imigrantes europeus geraram uma expansão demográfica ao final do século XIX e início do XX, que somadas ao desenvolvimento do capitalismo, promoveu profundas mudanças na produção e na estrutura das classes sociais no Brasil, como, por exemplo, o aumento do trabalho assalariado (TOLEDO, 2014). 2.2 A Alimentação e a Saúde: A Origem da Epidemiologia Nutricional A história da alimentação com enfoque na saúde tem como principal informante a história da medicina, que buscava a compreensão do funcionamento do organismo e das patologias (TOLEDO, 2014). Os primeiros registros sobre a alimentação em sua função biológica surgem no século XVI, por meio de “médicos herbologistas”, que classificavam as plantas alimentícias e aquelas com propriedades medicinais. Nesses registros, os alimentos eram separados pelos seus supostos atributos para o corpo e caracterizados como quentes ou frios, secos ou úmidos. Acreditava-se que os alimentos quentes teriam a qualidade de excitar, enquanto que os frios a de acalmar. Por exemplo, segundo algumas dessas crenças “ostras, chocolate e cebola excitariam os ‘ardores de Vênus’, devendo ser evitados, especialmente pelas mulheres castas”. (CARNEIRO, 2003, p. 9 apud TOLEDO, 2014). Foi realizado em meados do século XVIII o primeiro estudo relacionando as condições alimentares com a saúde, por James Lind, em 1747. Nesse estudo, a partir da observação da alimentação dos marinheiros em longas viagens de navio, foi descoberta a associação do escorbuto com deficiência de vitamina C. Naquelas viagens as dietas eram muito pobres em frutas frescas e os marinheiros ao serem 8 realimentados com frutas (alimentos fontes de vitamina C) apresentavam melhora no quadro de saúde. Esse estudo foi considerado como pioneiro da Epidemiologia Nutricional, ciência que investiga a associação entre dieta e doença (TOLEDO, 2014). Segundo o autor, no final do século XIX e no século XX foram descobertas outras doenças de causas nutricionais: o beribéri causado pela deficiência de tiamina, em 1885, por Baron Takaki, e a pelagra, pela deficiência da niacina, em 1914, por Joseph Goldberger. Somente no século XX, a partir da descoberta das vitaminas, e do metabolismo humano nas diferentes fases, que ficou claramente fundamentado a bioquímica e fisiologia da nutrição, melhorando a qualidade da alimentação, com a apresentação de recomendações de consumo mais precisas (CARNEIRO, 2003 apud TOLEDO, 2014). As transformações no consumo alimentar da sociedade, que se intensificaram no século XX, com o aumento do consumo de alimentos industrializados (geralmente mais ricos em gorduras, sal e açúcar), com a alimentação fora do lar e com as modificações no estilo de vida, acarretaram em um novo escopo de doenças relacionadas com a alimentação, que incluem as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como é o caso do diabetes, das doenças cardiovasculares e da obesidade (TOLEDO, 2014). Segundo o autor, essa mudança ocorrida no padrão de adoecimento e no padrão de consumo alimentar das populações é chamada na epidemiologia nutricional de “transição nutricional”. De forma simplificada, há uma drástica redução das doenças carenciais e infecciosas e o surgimento e o aumento das DCNT, causadas pelos novos hábitos de vida como o consumo alimentar excessivo e o sedentarismo. No entanto, nos países em desenvolvimento, inclusive no Brasil onde a pobreza e a desnutrição ainda não foram totalmente vencidas, essa transição foi mais tardia, coexistindo tanto as doenças carenciais e infecciosas, como as DCNT, alargando os problemas de saúde pública desses países (KAC et al., 2007 apud TOLEDO, 2014). 2.3 A Saúde Pública Segundo Toledo (2014), a medicina social se desenvolveu a partir da industrialização, do processo de urbanização das cidades e do capitalismo, ocorrendo 9 no final do século XVIII e início do XIX, resultando em um conjunto de ações políticas e sociais, que foram realizadas em diferentes países, visando à saúde da população e, por consequência o aumento da força de trabalho. As primeiras ações nesse sentido aconteceram na Alemanha onde foi estabelecida a medicina de Estado. Nela o ensino e a prática médica passaram a ser normalizados pelo estado; os médicos foram subordinados à uma administração centralizada e foram integrados de uma organização médica estatal. Essas ações foram consideradas ações inovadoras que estatizaram e coletivizaram a saúde da época (FOUCAULT, 1992 apud TOLEDO, 2014). No final do século XVIII, em resposta ao acelerado processo de urbanização, foram propostas medidas de saneamento e organização das cidades, sobre tudo na França, que ficaram conhecidas como a medicina urbana. Ações como o afastamento dos cemitérios dos grandes centros urbanos, a reorganização da cidade para melhor arejamento e os cuidados com qualidade da água e com escoamento dos esgotos, foram realizadas para garantir a salubridade do ambiente (TOLEDO, 2014). Segundo o autor, a medicina dos pobres ou da força de trabalho, o último alvo da medicina social, foi desenvolvida em meados do século XIX e teve como exemplo a Lei dos Pobres da Inglaterra. Essa lei previa o atendimento de saúde destinado aos pobres, e garantiria a proteção da classe rica, a partir do controle de doenças. Nessa época, visando o controle sanitário da população em geral, foram criadas agências de saúde autoritárias, que se baseavam em medidas profiláticas (imunização, saneamento, gerenciamento e controle de epidemias). O movimento da medicina social desenvolvida a partir dessas ações (medicina de Estado, medicina urbana e medicina dos pobres) produziu importante base conceitual e doutrinária para o pensar das questões da saúde coletiva, ou ainda, da saúde pública, que influenciou um novo movimento na medicina conhecido como Sanitarismo (TOLEDO, 2014). Segundo Toledo (2014), “a partir do século XIX, as grandes metrópoles mundiais passam por reformas urbanas guiadas por um novo tipo de orientação técnica ditada principalmente pela Medicina que previa, com o saneamento físico do meio, a inclusão da higiene nas cidades, afastando o perigo das epidemias.” 10 No final do século XIX, com os estudos dos bacteriologistas Pasteur e Koch, um novo paradigma para explicar o processo saúde-doença foi estabelecido, com a descoberta dos micro-organismos como agentes etiológicos das doenças. Esse novo paradigma influenciou as teorias e práticas no campo da saúde, para um enfoque mais biológico, reduzindo a preocupação voltada para as condições do ambiente físico (TOLEDO, 2014). No início do século XX, o relatório de Flexner, resultou em profundas mudanças no ensino e na prática médica, nos Estados Unidos, baseadas na medicina experimental positivista, “o modelo conceitual flexneriano reforça a separação entre individual e coletivo, privado e público, biológico e social, curativo e preventivo (PAIM, 1998, p.303 apud TOLEDO, 2014). Nesse contexto, contando com o investimento de organismos como a Fundação Rockefeller, surgem nos Estados Unidos as primeiras escolas de saúde pública, que introduziram no país o ensino fundamentado no conhecimento científico bacteriológico, com bases positivitas da medicina flexneriana. A atuação dos profissionais dessas escolas, os médicos sanitaristas, “deveria estar voltada para a educação sanitária da população, normas de se viver higienicamente e com saúde dentro das cidades” (TOLEDO, 2014). Esse modelo sanitarista adotado nos Estados Unidos espalhou-se para vários países, com a implantação de novas escolas de saúde pública pela Fundação Rockefeller, inclusiveno Brasil. 11 3 A SAÚDE, A PROMOÇÃO DA SAÚDE E A ALIMENTAÇÃO Fonte: content.paodeacucar.com Somente com a criação da Organização Mundial da Saúde (OMS), após a Segunda Guerra Mundial, que um conceito mundialmente aceito sobre o significado de saúde foi estabelecido (TOLEDO, 2014). Face ao caráter internacional da entidade, desde sua fundação em 7 de abril de 1948, tem acompanhado e influenciado as políticas de saúde em todo o mundo. O Dia Mundial da Saúde passou a ser comemorado na data de fundação da OMS, quando passou a vigorar a constituição dessa organização (MATTA, 2005 apud TOLEDO, 2014). Em sua Constituição, a OMS define saúde como “um estado de completo bem- estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”, e traz como principal objetivo da organização a garantia de que todos os povos alcancem o maior nível de saúde possível. Em outras palavras, a OMS propunha um ideal de saúde extremamente amplo, para além de um enfoque centrado apenas na doença. Fazendo com que muitos autores a considerem uma meta utópica, tornando essa definição alvo de várias críticas (TOLEDO, 2014). No entanto, é por meio do conceito amplo de saúde proposto pela OMS, somado à valorização da saúde como componente importante para o desenvolvimento humano, que o conceito de promoção da saúde foi sendo construído, em uma época em que os problemas das condições de 12 saúde das populações, não eram mais sanados somente pelas estruturas do setor saúde (WESTPHAL, 2008 apud TOLEDO, 2014). O conceito de promoção da saúde foi utilizado pela primeira vez pelo médico sanitarista Henry Sigerist, no início do século XX, quando determinou as quatro funções da medicina: • promoção da saúde, • prevenção de doença, • tratamento dos enfermos, • reabilitação. Para ele a promoção da saúde era um conjunto de ações em educação em saúde, somadas a ações estruturais do Estado, para garantir melhores condições de vida. Em sua definição, já se observava uma visão voltada para ações sobre os determinantes sociais da saúde (DSS), que são as condições de vida e de trabalho que influenciam a saúde dos indivíduos, englobando os aspectos econômicos, sociais e culturais (TOLEDO, 2014). A partir do relatório do ministro canadense, que investigou as causalidades do processo de saúde/doença em seu país, bem como os investimentos em saúde, que se evidenciou a importância do estilo de vida e do ambiente como DSS, além da biologia humana e dos sistemas de saúde (TOLEDO, 2014). Segundo o autor nessa direção, na conferência de Alma Ata, em 1978, a saúde foi reconhecida pela primeira vez como um direito, envolvendo um trabalho de cooperação com outros setores da sociedade, além do setor da saúde, tendo como enfoque a Atenção Primária à Saúde. Essa proposta influenciou fortemente o pensamento e as tendências das políticas de saúde no Brasil, refletindo sobre o andamento da sua reforma sanitária no país estabelecendo a meta de “Saúde para todos no ano 2000”, formulada a partir da 27ª Assembleia Mundial de Saúde, em 1977. Dez anos após a conferência de Alma Ata, foi realizada a primeira Conferência Internacional em Promoção de Saúde, em Ottawa (Canadá), que tinha como proposta o estabelecimento os requisitos fundamentais para a saúde: a paz, a habitação, a educação, a alimentação, o poder aquisitivo, um ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade (WHO, 1986 apud TOLEDO, 2014). 13 A Carta de Ottawa, resultante dessa conferência, ampliou a concepção de saúde: “saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver [...] a saúde é um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas”. E apresentava o conceito sobre promoção da saúde “processo de capacitação na comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo maior participação no controle desse processo [...] a promoção da saúde não é responsabilidade exclusiva do setor saúde, e vai para além de um estilo de vida saudável, na direção de um bem-estar global” (TOLEDO, 2014). Segundo o autor, o conceito de promoção da saúde foi se enriquecendo com uma série de declarações internacionais, periodicamente formulados em eventos em nível mundial, mantendo a motivação e interesse sobre o tema. Em 1988 na Constituição Brasileira, é criado o Sistema Único de Saúde (SUS), sob as seguintes diretrizes: “descentralização, com direção única em cada esfera de governo; atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais e participação da comunidade”, e a saúde passa a ser considerada um direito do indivíduo e dever do Estado (TOLEDO, 2014). Com o incremento das discussões sobre promoção da saúde e a preocupação com os determinantes da saúde, a alimentação passa a ganha destaque a partir da Declaração de Adelaide (1988), na qual a alimentação e nutrição é apontada como uma das quatro áreas prioritárias para promover ações imediatas em política públicas saudáveis (BRASIL, 2001 apud TOLEDO, 2014). Nesse contexto, ocorreu no Brasil em 1986, a I Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição, em 1986, que introduziu o conceito de segurança alimentar que foi consolidado somente em 1994 na I Conferência Nacional de Segurança Alimentar, onde foram estabelecidas as bases para a construção da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), que ocorreu em 1999 e que integra a Política Nacional de Saúde (TOLEDO, 2014). Segundo o autor, nessa política, a alimentação é colocada como uma das estratégias para a promoção da saúde, tendo como diretrizes: estimular ações intersetoriais que assegurem o acesso universal aos alimentos, garantir a segurança e a qualidade dos alimentos, monitoramento da situação alimentar e nutricional, 14 promoção de práticas alimentares saudáveis, prevenção e controle das doenças e distúrbios nutricionais, criação de linhas de investigação, e desenvolvimento e capacitação de recursos humanos. Em 2004, a OMS lança a Estratégia Global para a Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde, que prevê o estímulo às práticas alimentares saudáveis e à prática de atividade física, consideradas como estratégias efetivas para a promoção da saúde e redução substancial das doenças e mortes por DCNT no mundo. Sendo uma importante política mundial de promoção da saúde, cujo enfoque principal foi a alimentação. Em 2006 é aprovada a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), que tem como objetivo “promover a qualidade de vida e reduzir vulnerabilidade e riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes – modos de viver, condições de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais” (BRASIL, 2006, p.17 apud TOLEDO, 2014). Nesse contexto, fundamentalmente por se tratar de uma estratégia que articula diferentes atores sociais a proposta de promoção da saúde sugere um caminho promissor para o campo da alimentação e nutrição, focados nos conceitos como: integralidade; articulação de saberes técnicos e populares; capacitação dos indivíduos; intersetorialidade de órgãos públicos e privados; reforço ação comunitária; educação popular e cidadania (TOLEDO, 2014). Somente após 20 anos da I Conferência Nacional de Segurança Alimentar, é criada, através do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), a Lei de Segurança Alimentar e Nutricional que define: A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidadecultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. (BRASIL, 2006, Art. 3o apud TOLEDO, 2014). Ao completar dez anos de sua publicação, a PNAN teve suas diretrizes atualizadas e aprimoradas, com destaque para a Promoção da Alimentação Adequada e Saudável (PAAS). Entre as estratégias do setor saúde direcionadas à PAAS encontram-se a educação alimentar e nutricional, a regulação de alimentos (rotulagem, 15 informação, publicidade e melhoria das características nutricionais dos alimentos) e o incentivo à criação de ambientes institucionais promotores de alimentação adequada e saudável, especialmente em escolas e ambientes de trabalho. A PAAS consiste em conjunto de estratégias que proporciona ao indivíduo e às coletividades, práticas alimentares necessárias e suficientes para atender as necessidades fisiológicas e socioculturais, de modo sustentável (TOLEDO, 2014). 4 FISIOLOGIA DIGESTIVA Fonte: beduka.com O trato digestório é um tubo oco que se estende da cavidade bucal ao ânus, sendo também chamado de canal alimentar ou trato gastrintestinal. As estruturas do trato digestório incluem: boca, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, reto e ânus. A boca possui estruturas responsáveis pela mastigação, estruturas estas, denominadas dentes. A língua é muito importante no processo de deglutição do alimento, e é responsável também pela percepção dos sabores. E por último temos as glândulas salivares, que produzem e secretam a saliva que por sua vez umidifica os alimentos (DANTAS, 2011). Segundo o autor citado acima, a saliva produz uma enzima, denominada amilase salivar, também conhecida com ptialina. Essa enzima catalisa a digestão parcial do 16 amido. Após a cavidade bucal, o alimento passará pela faringe (nasofaringe, orofaringe e laringofaringe), como passará pela boca o alimento passará pela orofaringe e laringofaringe. O autor ainda descreve que a faringe participa do processo de respiração e de deglutição, responsabilizando-se por encaminhar o alimento da boca até o esôfago. A epiglote também é muito importante para encaminhar o alimento para o esôfago e não para a traqueia. O esôfago conecta a faringe ao estômago. O alimento é conduzido através de contrações musculares em ondas, denominado peristaltismo. Os movimentos peristálticos, carreia os alimentos até sua chegada ao estômago. O esôfago atravessa o músculo diafragma, através do hiato esofágico e termina na parte superior do estômago chamado esfíncter esofágico inferior, que tem como função básica, impedir que o fluxo gástrico retorne em direção ao esôfago. Quando ocorre este retorno, denominamos de refluxo gastroesofágico (DANTAS, 2011). Segundo o autor, o estômago é uma dilatação do tubo digestivo e localiza-se logo abaixo do músculo diafragma, encaminhando o alimento para o duodeno. Possui células que produzem suco gástrico. Estas células são: células mucosas que produzem muco; as células principais, que secretam o pepsinogênio que ainda é uma enzima inativa; e células parietais que produzem acido clorídrico que irá ativar o pepsinogênio e transformá-lo em uma enzima ativa chamada pepsina, que inicia a digestão das proteínas no estômago. A túnica mucosa do estômago possui células G, que produzem o hormônio gastrina que estimula a secreção do suco gástrico, aumentando a motilidade do trato gastrointestinal, relaxando o esfíncter pilórico para que o quimo passe do estômago para o duodeno. O estômago está longe de ser apenas um reservatório de alimentos. Após uma refeição, ele expande-se de acordo com a quantidade de alimentos ingerida, mistura, tritura e separa as partículas menores que serão esvaziadas no duodeno a uma velocidade compatível com a capacidade de digestão do pâncreas e absorção do intestino e, também, de acordo com o estado físico e emocional do indivíduo (READ, 1989, apud, HIRATA, 2007). No trato gastrointestinal as moléculas são quebradas, sendo que as macromoléculas, se tornam micromoléculas. A absorção da maior parte dos nutrientes 17 ocorre no intestino delgado. Gorduras, colesterol, carboidratos, vitaminas A, C, D, K e vitaminas do complexo B, minerais, ferro, zinco, cloro, monossacarídeos (derivados dos açúcares) e monoglicerídeos (derivados dos lipídeos dos alimentos ingeridos) demoram cerca de 3 a 10 horas para percorrer todo o trajeto do intestino delgado. O intestino grosso, é responsável pela produção das fezes e é onde se encontra as bactérias da flora intestinal. Responsável pela absorção de água e de íons (DANTAS, 2001). 5 DIETOTERAPIA Fonte: domalberto.edu.br Desde os tempos remotos a humanidade já utilizava os alimentos e ervas para fins medicinais, pois, ainda não existiam o que chamamos hoje de medicamentos. A dietoterapia é uma ferramenta da saúde, e em especial do profissional nutricionista, que usa dos alimentos (principalmente), para o tratamento e prevenção de enfermidades, levando ao organismo a adquirir os nutrientes necessários para a boa perfomace e saúde (EEEP, 2013). Segundo o autor, os alimentos podem auxiliar sobremaneira a recuperação da saúde, sendo, em alguns casos, a única opção de tratamento de algumas doenças. A terapia que os utiliza como complemento ou única forma de tratamento é chamada 18 dietoterapia. Dietoterapia é a parte da ciência da nutrição que se dedica às dietas especificas para cada enfermidade. 5.1 O cuidado nutricional O cuidado nutricional é o processo de ir ao encontro das diferentes necessidades nutricionais de uma pessoa e isto, vai depender do tipo de enfermidade que acomete o indivíduo. Para uma pessoa saudável, o cuidado nutricional pode significar apenas a avaliação nutricional de rotina. Uma pessoa saudável necessita de cuidado nutricional na forma de educação quanto aos hábitos alimentares. Já o cuidado nutricional para paciente enfermo ou hospitalizado é mais complexo. Deve incluir o acompanhamento da ingestão de alimentos, a adequação destes alimentos à sua patologia e quando ela for inadequada, deverá incluir o aconselhamento do paciente (EEEP, 2013). De acordo com o autor, compete aos profissionais das unidades de saúde a avaliação e identificação do estado nutricional de seus clientes. Para tanto, faz-se necessário adotar certos cuidados que dependerão da presença da doença (ou de alguma doença potencial), ambiente e estado de crescimento e desenvolvimento do indivíduo. Muitas são as etapas que compõem o cuidado nutricional. A seguir, de acordo com EEEP (2013), citamos as cinco fundamentais, ressalvando que algumas são específicas do nutricionista, mas todas envolvem o conhecimento e participação de uma equipe multiprofissional que tem por objetivo restabelecer a saúde das pessoas. 1. Avaliar o estado nutricional do indivíduo de acordo com as recomendações relativas à sua faixa etária, utilizando os seguintes parâmetros: – antropométricos (peso, comprimento/altura, circunferências, dentre outros); – bioquímicos (sangue, urina, fezes); – clínicos (sinais e sintomas de carências nutricionais); – dietéticos (avaliação da alimentação com base em realização de entrevista sobre hábitos, alimentos ingeridos, preferências, aversões e alergias alimentares); 2. Identificar as necessidades ou os problemas nutricionais - os resultados da etapa anterior possibilitam identificar os problemas de saúde relacionados à alimentação; 19 3. Planejar e priorizar os objetivos do cuidado nutricional – compete ao nutricionista traçar um plano com dieta individualizada e orientação quanto ao cuidado e maneiras corretas de preparo dos alimentos, bem como possíveis modificações no padrão alimentar; 4. Executar as atividades nutricionais necessárias para atingir os objetivos - nessa etapa, toda a equipe de saúde deverá envolver-se com vistas ao desenvolvimento das atividades pertinentes ao sucesso do cuidado nutricional; 5. Avaliar os resultados do cuidado nutricional - esta fase é fundamental para a manutenção ou não do tratamento proposto. Com base na avaliação frequente e no monitoramento dos parâmetros nutricionais anteriormente mencionados, serão efetuadas modificações e adequações necessárias. Segundo EEEP (2013) o cuidado nutricional de pacientes hospitalizados é bem mais complexo do que o mero fornecimento de refeições. Práticas hospitalares simples podem ser aplicadas com vistas à melhoria do estado nutricional dos mesmos. Muitas delas, abaixo listadas, estão diretamente ligadas às atribuições e responsabilidades do profissional de nutrição em suas diversas áreas de atuação: – registrar as medidas antropométricas (peso e comprimento/altura) frequentemente; – conhecer a prescrição da dieta a que o paciente está submetido; – observar a aceitação da dieta pelo paciente, informando ao médico e ou nutricionista responsável as possíveis intercorrências; – observar e informar à equipe de saúde as alterações funcionais relacionadas à alimentação (diarreias, vômitos, distensão abdominal); – estimular o paciente e informá-lo acerca da importância de seguir rigorosamente a dieta prescrita; – auxiliar o paciente, se necessário, na administração de suas refeições; – procurar tornar o horário das refeições um momento de prazer para os pacientes; – informar, ao paciente e seus familiares, o funcionamento e as rotinas do serviço de nutrição (EEEP, 2013). 20 6 NUTRIÇÃO E CIDADANIA Fonte: elosdasaude.wordpress.com 6.1 A fome e as lutas pelo acesso aos alimentos como direito humano A exclusão social da maioria da população e o controle dos meios de comunicação por uma minoria geram não apenas concentração de bens materiais, mas também concentração de bens culturais, tais como a informação. O caminho para avançar na garantia da Segurança Alimentar e Nutricional e Soberania Alimentar e superar a realidade sistemática de violações ao Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) está na capacidade tanto da sociedade civil, como dos titulares de direitos em apoderarem-se da informação e dos instrumentos existentes para exigir a realização dos direitos humanos. O fortalecimento das competências das instituições governamentais e seus agentes públicos, dos membros de conselhos de políticas públicas e direitos humanos e de outros sujeitos tem igual importância para o desenvolvimento de ações necessárias ao cumprimento de suas obrigações e responsabilidades, visando ao respeito, à proteção, à promoção e ao provimento do DHAA (BURITY, 2010). Ainda de acordo com o autor,pensar em direitos humanos em pleno século XXI, quando a violação da dignidade da pessoa humana ainda é flagrante, significa refletir 21 sobre os aspectos éticos, socioeconômicos, culturais, normativos e de relação com o poder, que se apresentam em nosso dia a dia. Estes elementos convidam-nos a pensar sobre o papel de cada um enquanto agente público ou representantes de diferentes esferas do poder público, representantes de movimentos sociais e de entidades da sociedade civil e também na condição de cidadãos. O acesso à alimentação é um direito humano em si mesmo, na medida em que a alimentação se constitui no próprio direito à vida. Negar este direito é antes de mais nada, negar a primeira condição para a cidadania, que é a própria vida (VALENTE, 2002, apud BURITY, 2010). 6.2 O direito humano à alimentação adequada no Brasil e no mundo A expressão Direito Humano à Alimentação Adequada tem sua origem no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) (BURITY, 2010). Segundo o autor, o Direito Humano à Alimentação Adequada é indispensável para a sobrevivência. As normas internacionais reconhecem o direito de todos à alimentação adequada e o direito fundamental de toda pessoa a estar livre da fome, como pré-requisitos para a realização de outros direitos humanos. O direito à alimentação adequada se realiza quando todo homem, mulher e criança, sozinho ou em comunidade, tem acesso físico e econômico, ininterruptamente, a uma alimentação adequada ou aos meios necessários para sua obtenção. No Brasil, a dificuldade de acesso regular e permanente aos alimentos por um contingente significativo da população, associada à renda insuficiente, determina um quadro de insegurança alimentar e nutricional (BURITY, 2010). 22 7 IMPORTÂNCIA NUTRICIONAL EM SAÚDE PÚBLICA Fonte: cnts.org.br Na atualidade, os padrões de consumo alimentar variam fortemente em diferentes partes do mundo, dependendo do grau de desenvolvimento e condições econômicas e políticas para a produção. Paralelo à esse contexto, o aumento da população e o envelhecimento populacional, aliados ao padrão alimentar que vem seguindo estacionário, pode significar um agravamento dos problemas nutricionais (ABREU, 2001). Duas tendências se desenvolvem no escopo de obter alimentos para o futuro. A primeira, tradicionalista, se baseia em produtos primários e, concede prioridade absoluta à agricultura, recomendando a contenção ou parada na industrialização. Ao esforço de prover alimentos para o futuro, há uma segunda tendência que se encaminha para fórmulas industrializadas: alimentos processados e ultraprocessados; alimentos sintéticos; proteína texturizada a partir de oleaginosas ou produtos de cereais processados e apresentados em formas variadas; concentrados ou isolados; além dos tão discutidos alimentos transgênicos (NEUMANN et al.,2000 apud ABREU, 2001) 7.1 Transição nutricional em saúde pública No Brasil algumas condições foram seletivamente indicadas para o entendimento do processo saúde/doença em escala populacional. Inverteram-se os termos da ocupação demográfica do espaço físico: de uma população 23 fundamentalmente rural, durante os anos 50, passando à condição de um país urbanizado (IBGE, 2000), com mais de 80% das pessoas atualmente radicadas nas cidades. O desempenho reprodutivo mudou radicalmente, transitando de um quadro em que as mães tinham um padrão de seis a oito filhos, para um estágio em que nascem em média 2,3 filhos para cada mulher. A mortalidade infantil caiu substancialmente, declinando de patamares acima de 300 óbitos por mil nascidos vivos em várias regiões na década de 40, para níveis nacionais médios de 30 por mil nascimentos (IBGE, 2002 apud FILHO et al, 2003). Em função dos termos da nova equação demográfica (baixa fecundidade e reduzida mortalidade infantil e pré-escolar) a vida média elevou-se, resultando, atualmente, numa expectativa de sobrevivência de 67 anos (IBGE, 2000). A pirâmide populacional, antes formada, em sua maior composição, por crianças, adolescentes e jovens, hoje já apresenta um perfil aproximado do padrão vigente nos países desenvolvidos, com uma participação crescente de pessoas com mais de cinquenta anos nos patamares medianos e superiores de sua estrutura (FILHO et al, 2003). De acordo com o autor citado acima, oculto à rápida transição demográfica, particularmente acelerada no período 1960-1980, ocorreram outras mudanças significativas, como na estrutura de ocupações e empregos, passando de um mercado de trabalho fundado no setor primário (agropecuária e extrativismo) para uma demanda de mão-de-obra concentrada no setor secundário e, sobretudo, no setor terciário da economia. São transformações cruciais, no que se refere à geração de renda, hábitos de vida e, especificamente, demandas nutricionais. 7.2 Políticas de alimentação e nutrição A questão alimentar está relacionada com os mais diferentes tipos de interesses e essa concepção, na realidade, ainda é palco de grandes disputas. Além disso, o conceito evolui na medida em que avança a história da humanidade e alteram-se aorganização social e as relações de poder em uma sociedade (LEÃO, 2013). A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), aprovada no ano de 1999, atesta o compromisso do Ministério da Saúde com os males relacionados à 24 escassez alimentar e à pobreza, sobretudo à desnutrição infantil e materna, assim como o complexo quadro dos excessos já configurado no Brasil pelas altas taxas de prevalência de sobrepeso e obesidade, na população adulta. Sete são as diretrizes programáticas desta Política que tem como fio condutor o Direito Humano à Alimentação e a Segurança Alimentar e Nutricional: 1. Estímulo a ações intersetoriais com vistas ao acesso universal aos alimentos; 2. Garantia da segurança e qualidade dos alimentos; 3. Monitoramento da situação alimentar e nutricional; A 4. Promoção de práticas alimentares e estilos de vida saudáveis; 5. Prevenção e controle dos distúrbios e doenças nutricionais; 6. Promoção do desenvolvimento de linhas de investigação; 7. Desenvolvimento e capacitação de recursos humanos em saúde e nutrição (PNAN, 1999). 7.3 Vigilância alimentar e nutricional A identificação da situação alimentar e nutricional configura-se, ainda, como importante instrumento para o monitoramento da realização do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) e da promoção da soberania e da segurança alimentar e nutricional, na medida em que a análise de indicadores de saúde e nutrição expressa as múltiplas dimensões da (in) segurança alimentar e nutricional, permitindo aos gestores públicos e às instâncias de controle social e de participação da sociedade civil analisar a situação e construir uma agenda de políticas públicas coerentes com as necessidades da população (BRASIL, 2015). O cenário epidemiológico brasileiro apresenta a coexistência de sobrepeso e obesidade, desnutrição e carências de vitaminas e minerais. Nesse contexto, a organização da Vigilância Alimentar e Nutricional (VAN) nos serviços de saúde dos territórios é uma demanda crescente, possibilitando o monitoramento e a avaliação desses agravos e seus determinantes. A VAN pode auxiliar gestores e profissionais na garantia do cuidado integral à saúde, dando subsídio à elaboração de estratégias de 25 prevenção e de tratamento dos agravos e o desenvolvimento de ações de promoção da saúde e de segurança alimentar e nutricional (BRASIL, 2015). A vigilância em saúde objetiva fornecer subsídios para que gestores e profissionais qualifiquem a atenção integral às pessoas por meio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde. Para tanto, pressupõe a análise contínua da situação de saúde da população, que abrange tanto a dimensão técnica de combinações tecnológicas destinadas a controlar determinantes, riscos e danos quanto a dimensão gerencial que organiza os processos de trabalho, confrontando os problemas e necessidades de saúde num dado território (AREAZZA, 2010, apud, BRASIL, 2015). 8 DESNUTRIÇÃO E SUAS CAUSAS Fonte: africaurgente.org A desnutrição pode ser definida como uma condição clínica decorrente de uma deficiência ou excesso, relativo ou absoluto, de um ou mais nutrientes essenciais. A desnutrição pode apresentar caráter primário ou secundário, dependendo da causa que a promoveu. Entende-se por causa primária a pessoa que come pouco ou “mal”. Ou seja, tem uma alimentação quantitativa ou qualitativamente insuficiente em calorias e nutrientes. As causas secundárias estão presentes quando a ingestão de alimentos não é suficiente porque as necessidades energéticas aumentaram ou por qualquer outro fator não relacionado diretamente ao alimento. Exemplos: presença de 26 verminoses, câncer, anorexia, alergia ou intolerância alimentares, digestão e absorção deficiente de nutrientes (SILVA, 2012). De acordo com a OMS (2000), desnutrição grave é uma desordem tanto de natureza médica como social, ou seja, os problemas médicos da criança resultam, em parte, dos problemas sociais do domicílio em que a criança vive. A desnutrição é o resultado final da privação nutricional e, frequentemente, emocional por parte daqueles que cuidam da criança. Estes, devido, possivelmente, à falta de entendimento, pobreza ou problemas familiares, são incapazes de prover a nutrição e o cuidado que a criança requer. É imperativo lembrar que o sucesso no manejo da criança gravemente desnutrida requer que ambos os problemas, médico e social, sejam reconhecidos e corrigidos. Se a doença é vista como sendo apenas uma doença médica, é provável que a criança recaia quando voltar para casa, e que outras crianças da família permanecerão em risco de desenvolver o mesmo problema. O Programa Saúde da Família, já implantado em diversas cidades do país, é um aliado para as práticas de promoção da saúde na comunidade, pelas estratégias de educação em saúde que fazem parte das ações do programa e pelo vínculo que é estabelecido entre a equipe de saúde e os usuários do serviço através das visitas domiciliares. Estas permitem aos profissionais vivenciarem a influência dos aspectos culturais nos cuidados com a saúde, algo que perpassa as gerações e que precisa ser valorizado, em especial, nos casos das crianças desnutridas que necessitam de cuidado diferenciado (FROTA, 2009 apud SILVA, 2012). Segundo Silva (2012), a criança com Desnutrição Infantil, devido à pouca resistência imunológica, está mais sujeita às intercorrências clínicas (sobretudo doenças infecciosas pulmonares, intestinais e digestivas). Ainda de acordo com o autor, a criança depende da intervenção da mãe para ter acesso ao tratamento. Isso demonstra a importância do papel dessas mães na observância ao tratamento, bem como na percepção de uma enfermidade ou desconforto em seu filho. O autor ainda afirma que as mães das crianças desnutridas residentes em áreas rurais, na sua maioria, têm maior tempo para cuidar dos filhos, mesmo na vigência de condições sociais e econômicas desfavoráveis, mas ignoram a melhor forma de fazê- lo. Pontua, ainda, ser necessário que os profissionais de saúde realizem estratégias educativas, a fim de incentivarem hábitos alimentares saudáveis, direcionado à realidade local, explorando as riquezas da terra e a importância do consumo de cada 27 alimento e que a equipe multidisciplinar de saúde, em especial do Programa Saúde da Família, executa função significante no desenvolvimento de estratégias de promoção da saúde, como oficinas educativas, atentando ao padrão de vida da região, suas culturas, costumes, economia, dentre outros fatores da realidade vivida por cada família. A abordagem adequada da recuperação nutricional, baseada em conhecimento científico atualizado e implementada por profissionais devidamente capacitados, deve ser efetivada nos diferentes níveis de atenção à saúde incluindo à família/comunidade (BRASIL, 2005 apud SILVA, 2012). 9 NUTRIÇÃO APLICADA A DESNUTRIÇÃO PROTEICO- ENERGÉTICA Fonte: alimentacaomelhor O Brasil vem, rapidamente, substituindo as questões da escassez de alimentos por aquelas ligadas à opulência. A desnutrição, embora ainda relevante, vem diminuindo em todas as idades e em todos os estratos econômicos, enquanto o aumento na prevalência da obesidade entre adultos ocorre em todos os estratos econômicos, com aumento proporcional mais elevado nas famílias de mais baixa renda MONTEIRO et al, 2000 apud BASSLER et al, 2009). A população brasileira, nas últimas décadas, experimentou grandes transformações sociais que resultaram em mudanças no seu padrão de saúde e consumo alimentar. Essas transformações acarretaram impacto na diminuição da pobreza e exclusão social e, consequentemente, da fome e escassez de alimentos, 28 com melhoria ao acesso e variedade destes, além da garantia da disponibilidade média de calorias para consumo, embora ainda existam cerca de 16 milhõesde brasileiros vivendo na extrema pobreza. A diminuição da fome e da desnutrição veio acompanhada do aumento vertiginoso da obesidade em todas as camadas da população, apontando para um novo cenário de problemas relacionados à alimentação e nutrição (BASSLER et al, 2009). Na saúde, ressalta-se a publicação do Decreto 7.508, de 28/06/2011, que regulamenta a Lei 8.080, com a instituição da Rede de Atenção à Saúde e dos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas que possibilitarão avanços para a organização e oferta das ações de Alimentação e Nutrição no âmbito do SUS (BRASIL, 2011, apud, BRASIL, 2013). 9.1 Carências nutricionais Apesar da diminuição da desnutrição, estudos têm mostrado que a redução da prevalência das carências nutricionais não acontece com a mesma velocidade, ou seja, atrelado ao aumento de sobrepeso e obesidade na população brasileira verifica-se também grande privação do consumo de micronutrientes, que caracteriza o desenvolvimento de deficiências nutricionais específicas, que por muito tempo estiveram relacionadas com a desnutrição em crianças. Trata-se de duas situações que se agravam simultaneamente, mas que são opostas por definição: carência nutricional e obesidade, condição típica dos excessos alimentares (SANTOS et al, 2016). Estudos recentes sobre deficiências de micronutrientes, especialmente em crianças, de até 5 anos de idade a partir de recordatório alimentar de 24 horas, em que se observou que a prevalência de inadequação dos micronutrientes foi elevada, principalmente de ferro e zinco, naquelas acima de 12 meses de idade. Outro estudo, realizado por Pedraza et al. em 2013, no Estado da Paraíba, com crianças matriculadas em creches públicas, a partir da observação dos níveis séricos de micronutrientes, constatou que 23,3% das crianças apresentavam deficiência de vitamina A, 15,4% eram anêmicas e 13,8% manifestaram deficiência de zinco. Nesse sentido, cabe ressaltar que condições socioeconômicas e ambientais como renda, saneamento, habitação, acesso à água e outros, são responsáveis por uma parcela significativa da situação de saúde infantil (SANTOS et al, 2016). 29 9.2 Formas de desnutrição proteico-energética A Desnutrição Enérgetico-Protéica (DEP), segundo a OMS apud Escobar (2000), é uma síndrome definida como “uma gama de condições patológicas causada pela falta concomitante de calorias e proteínas, em proporções variáveis, que ocorre com maior freqüência em crianças de baixa idade, estando geralmente associada à infecção”. A DEP pode ser classificada conforme sua gravidade em 1°, 2° e 3° grau, segundo critérios de Gómez que se baseiam na perda de peso apresentada pela criança (MONTEIRO et al, 2009). Ainda de acordo com o autor, a desnutrição de 3° grau é o extremo da DEP, ela pode ser dividida em dois tipos clínicos e um intermediário: Marasmo, Kwashiorkor e Kwashiorkor-Marasmático. Marasmo Segundo Escobar (2000) “o marasmo, tem como característica uma deficiência crônica de energia, com perda da massa muscular e ausência de gordura subcutânea, normalmente a criança apresenta peso abaixo de 60% da média para a idade (abaixo de 12 meses), devido ao desmame precoce e a baixa ingestão, principalmente de calorias e proteínas. Dessa forma, o aspecto físico da criança marasmática é caracterizado por membros superiores e inferiores extremamente magros, com baixa estatura para a idade, expressão facial envelhecida, abdômen saliente e pele enrugada e solta na região das nádegas, além de apresentar baixa atividade física, diarréia, parasitoses, tuberculose, hipotermia, anemia e desidratação, afetando também o aspecto emocional em que a criança tende a ficar triste chorosa e irritada. O kwashiorkor consiste basicamente em deficiência protéica, que pode ser associada também na deficiência de calorias. A criança que apresenta esta síndrome tem como quadro clínico, algumas alterações na pele dos membros inferiores, atraso no crescimento, perda da gordura subcutânea e muscular (menos intensa que no marasmo), apresentam edema, fraqueza muscular, distensão abdominal, hepatomegalia e dificilmente responde a estímulos (MONTEIRO et al, 2009). “A desnutrição do tipo kwashiorkor pode ser caracterizada pela deficiência de proteína na dieta, além de vitaminas e sais minerais, onde a alimentação ingerida na forma de carboidrato é normal (arroz, milho e mandioca, por exemplo; alimentos de baixo custo), não ocorrendo o mesmo com a ingestão de fontes alimentares ricas em proteínas (como por exemplo, a carne bovina 30 e/ou de aves; alimento de custo elevado”). (VOLTARELLI et al, 2008, p.76 apud MONTEIRO et al, 2009). 10 NUTRIÇÃO CLÍNICA APLICADA À DOENÇA RENAL Fonte: cn3.com.br A terapêutica nutricional é um componente complexo, porém essencial, do sucesso do tratamento da doença renal e deve ser feita por um Nutricionista, com experiência na área. Um dos maiores desafios relacionados com a prescrição do plano alimentar para doentes com DRC está na necessidade de efetuar os cálculos referentes, principalmente, à quantidade de energia, de proteínas, bem como de sódio, de potássio e de fósforo. Assim, o plano alimentar e o plano de cuidados nutricionais devem ser individualizados e adaptados a cada doente (MIRA et al, 2017). Ainda segundo autor, embora algumas diretrizes padronizadas sejam utilizadas, as necessidades e as preferências individuais devem ser consideradas e incorporadas no plano de cuidados alimentares. Uma avaliação nutricional meticulosa é a base para definir os objetivos e definir as estratégias de tratamento nutricional. Devem ser avaliados os conhecimentos do doente acerca da doença e das recomendações alimentares a ela associada, a estimativa da ingestão alimentar habitual e o padrão de refeições, as suas preferências e outras necessidades individuais específicas – clínicas, culturais, educacionais, religiosas, financeiras e psicossociais. 31 Além disso, para assegurar o sucesso da intervenção nutricional o doente deve ser envolvido e incentivado, por toda a equipa multidisciplinar que o segue, a aderir aos cuidados e ao plano alimentar prescrito pelo Nutricionista. Uma vez que os planos alimentares prescritos na DRC pré-diálise têm, habitualmente, baixo teor de alguns nutrientes (por exemplo proteínas) e que a desnutrição é frequente nestes doentes, é importante a monitorização periódica pelo Nutricionista, de forma a reavaliar a adequação do plano alimentar ao estado nutricional do doente. Os dados relativos à elevada mortalidade nos primeiros 90 dias de diálise, relacionada com a caquexia, reforçam a necessidade dos cuidados nutricionais pré-diálise (MIRA et al, 2017). 11 NUTRIÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Fonte: espacodescomplicado.com.br A infância é marcada por uma série de transformações caracterizadas pelo aumento do peso e da altura, desenvolvimento de funções vitais, entre outras. Tais situações resultam no aumento das necessidades nutricionais, originando a vulnerabilidade a desequilíbrios nutricionais (MOREIRA, 2015). É sabido que o padrão de beleza idealizado por nossa sociedade está associado à magreza, sendo, porém um tanto quanto paradoxal, pois somos expostos e influenciados pela mídia à oferta de alimentos altamente calóricos, gordos e doces. Meninos e meninas lidam com as transformações em seus 32 corpos de modo distinto, pois a identidade construída até então para um corpo infantil, passa a ser modificado para um corpo em acelerada transformação influenciada por inúmeros hormônios em quantidades e velocidades diferentes em cada sexo (PEREIRA et al, 2013 apud MOREIRA, 2015). Segundo o autor, o corpo das meninas é transformado com a chegada da menstruação e do desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, e são estimuladas a diminuírem seu peso para atenderem às exigênciasdos padrões estéticos. Já os meninos, constroem a imagem do seu próprio corpo a partir de elementos que valorizam um corpo musculoso como o padrão ideal. Os hábitos alimentares são formados na infância, sendo necessário o entendimento dos vários fatores determinantes, para que seja possível propor processos educativos mais efetivos. Nesse sentido, os pais são os formadores do ambiente alimentar familiar, ao propiciar precocemente o contexto alimentar da criança, através de atitudes, crenças e práticas alimentares, que modelam as ofertas de alimentos (MOREIRA, 2015). 11.1 Principais distúrbios nutricionais na infância A desnutrição infantil é tida como uma doença de múltiplas causas e complexa. O baixo peso leve e acentuado ocorre quando o organismo não recebe nutrientes necessários para o seu funcionamento, devido à falta de aporte ou problema na utilização do que lhe é oferecido. Dessa forma, na maioria dos casos, a desnutrição é consequência da ingestão insuficiente de alimentos, ou fome, associada ou não a outras doenças (MOREIRA, 2015). São inúmeros as causas das alterações nutricionais infantil, dentre eles: a renda familiar, ocupação, escolaridade, fatores ambientais, aspectos produtivos (idade da mãe, número e ordem de nascimento, intervalo interpartal) e de situações mais imediatas como o consumo de alimentos, valor da dieta, entre outros (LEAL et al, 2012 apud MOREIRA, 2015). A desnutrição apresenta forte associação com o peso ao nascer, constituindo um expressivo fator de risco para futuros retardos no crescimento e desenvolvimento infantil. Além disso, o saneamento básico e as condições de saúde também exercem influência significativa nos indicadores nutricionais, 33 contribuindo para uma melhor ou pior situação de saúde da população. Tal fato se dá por estas situações potencializarem os riscos de doenças infecto-parasitárias, as quais, por sua vez, possibilitam as crianças desnutridas um processo de agravamento do quadro de forma maciça. Além disso, a falta de saneamento está, muitas vezes, relacionada à pobreza, a qual reflete a situação da financeira familiar, outro fator crucial na determinação do estado nutricional (MOREIRA, 2015). Segundo o autor, o estilo urbano contemporâneo, marcado pelo sedentarismo, impactos dos meios de comunicação e modo de consumo, configurado pelo poder econômico e socioeducacional, refletem no padrão alimentar das famílias. A obesidade infantil é um problema emergente de saúde pública mundial, sendo considerada uma doença crônica, multicausal, com alta taxa de morbimortalidade, resultante do desequilíbrio crônico entre a ingestão e o gasto energético, podendo ocasionar consequências biológicas e psicossociais, identificadas em todas as faixas etárias. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o excesso de peso atinja cerca de 42 milhões de crianças menores de cinco anos de idade, residentes em sua maioria, em países em desenvolvimento. No Brasil, um estudo nacional realizado entre os anos de 2008 e 2009, apresentou que a prevalência de excesso de peso foi maior em meninos do que em meninas na faixa etária dos dez aos dezenove anos de idade (TENORIO, 2011 apud MOREIRA, 2015). Estudo demonstrou que distúrbios nutricionais na infância são fatores de risco de obesidade na idade adulta, possibilitando, portanto, a ocorrência de doenças cardiovasculares crônicas (LEAL et al, 2012). O excesso de peso na infância aumenta as chances de obesidade na idade adulta, além de constituir um fator de risco para doenças cardiovasculares, dislipidemias, hipertensão arterial, resistência à insulina e doença gordurosa não alcóolica do fígado, além de afetar psicologicamente o indivíduo que tende a carregar marcas desses transtornos por toda vida. Medidas preventivas no intuito de evitar e combater a obesidade infantil são necessárias, uma vez que as repercussões dela tem sido preocupante para a sociedade e profissionais da saúde da criança (MOREIRA, 2015). 34 A adolescência é marcada pela dualidade entre o amadurecimento do corpo e do psicológico relacionado com algum grau de instabilidade emocional, podendo tal situação acarretar inúmeros problemas, dentre eles os distúrbios alimentares (como anorexia e bulimia) (ARAÚJO et al, 2010 apud MOREIRA, 2015). Segundo o autor, a aparência física é tida como um importante atributo na adolescência, sendo marcada por um conflito entre mídia e indústria de alimentos. A mídia estimula os jovens a buscarem o corpo “perfeito”. Por outro lado, a indústria de alimentos disponibiliza cada vez mais produtos acessíveis e agradáveis ao paladar, porém extremamente calóricos. É válido lembrar do sedentarismo nessa população, o que resulta, imediatamente, quando associado a esses fatores, na prevalência de sobrepeso e obesidade em todas as faixas etárias e a crescente e inevitável insatisfação com o peso corporal. Imagem corporal consiste na idealização física e subjetiva de como o indivíduo percebe e se sente frente ao seu próprio corpo. Funciona como resultado de uma projeção da mente consequente às experiências, emoções, fatores históricos, culturais, sociais e biológicos (SANTOS et al, 2012 apud MOREIRA, 2015). De acordo com o autor, os adolescentes demonstram tamanha preocupação com seu peso, visando um ideal de beleza imposto pelo corpo magro, e a não aceitação de seu corpo, o que os torna frustrados. Foi o que demonstrou um estudo realizado por Santos et al, (2012), onde os adolescentes abordados, no geral, tiveram a percepção de sua imagem como algo desvirtuada, demonstrando sentimento de inferioridade. Já no estudo de Pereira et al, (2013) os estudantes perceberam seu corpo de maneira distinta entre os sexos, sendo que aqueles com excesso de peso tiveram percepção não adequada de seu peso corporal como acima do normal. O bom entendimento dos indivíduos sobre a sua condição de saúde e o conhecimento do profissional da saúde sobre essa percepção do indivíduo, bem como a expectativa em relação ao tratamento, possibilita ao profissional desenvolver estratégias mais efetivas para o tratamento e conscientização do indivíduo sobre a sua condição, contribuindo assim com uma maior adesão ao tratamento (SANTOS et al, 2012 apud MOREIRA, 2015). 35 É sabido que o excesso de peso vem aumentando em todo o mundo sendo considerado um problema de saúde pública e que este processo é decorrente de maus hábitos alimentares adquiridos durante a infância, tendendo a persistir na vida adulta. Segundo Moreira (2015) a preferência dos alimentos pode estar relacionada a influência do conhecimento sobre a qualidade dos mesmos. Minten et al (2013, p.28), citam em sua pesquisa o estudo de Birch, o qual refere que crianças pequenas preferem alimentos adocicados dos quais já estejam familiarizadas. Isso se justifica, porque as crianças são, notoriamente, exigentes durante a alimentação e isso pode resultar em obstáculos pra uma alimentação saudável. O estilo alimentar também é influenciado pelos pais por meio dos seus próprios comportamentos na escolha dos alimentos como modelo. O hábito alimentar que cada um desenvolve e define como características da ingestão são grande parte, aprendidos. Esse padrão de ingestão diz respeito ao “estilo alimentar” que implica, portanto, na capacidade de auto regulação da ingestão e controle do tamanho, duração e frequência das refeições (GONÇALVES et al, 2012 apud MOREIRA, 2015). Outro fato importante a ser levantado é que as crianças e adolescente passam grande parte do seu dia na escola, lugar este responsável em prover uma alimentação equilibrada e saudável. O Consumo Alimentar (CA) na escola, considerando o total de Kcal consumido, registrou um consumo médio superior nos rapazes quando comparado com as raparigas. No entanto, as raparigas consumiram produtos de mais alta densidadeenergética quando comparadas com os rapazes [...]. No que diz respeito ao perfil do consumo, constatamos que os rapazes consomem mais refrigerantes, bolo, croissant/lanches, água e lacticínios do que as raparigas. As raparigas, por seu lado, registram um consumo mais elevado de pão, bolachas e chocolates (GONÇALVES et al, 2012 apud MOREIRA, 2015). O mesmo foi observado na pesquisa de Nobre; Lamounier; Franceschini (2012, p.135), a qual avaliou a prática alimentar em crianças em idade pré-escolar e observou uma aumentada ingestão de açúcar, de gorduras totais e saturadas, de produtos industrializados como biscoitos e refrigerantes, além da redução na ingestão diária de arroz e feijão e baixo consumo de frutas e hortaliças (MOREIRA, 2015). [...]as crianças apresentaram um bom nível de conhecimento sobre a qualidade dos alimentos, embora tenham maior preferência por alimentos de alta densidade energética, que sabem ser prejudiciais à saúde e acrescentam 36 ainda, que [...] a educação continuada possa ser efetiva na formação de hábitos alimentares saudáveis (MINTEN et al, 2013 apud MOREIRA, 2015). 12 PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS LIGADAS AO ENVELHECIMENTO Fonte: terceiraidadeconectada.com Para compreendermos por que razão os idosos têm necessidades nutricionais que diferem, em vários aspetos, dos indivíduos de meia-idade, teremos que conhecer e ter em conta algumas alterações fisiológicas ligadas ao envelhecimento e o seu impacto sobre as necessidades nutricionais de cada um (FERREIRA, 2012). Segundo o autor citado acima, a perda de massa muscular esquelética (sarcopénia) – parece estar relacionada com uma menor atividade física ligada ao envelhecimento, embora esta interação não seja ainda muito clara. Claro é, sem dúvida, o papel essencial da nutrição neste processo; - envelhecimento bucodentário - a perda de dentes ou problemas nas gengivas modifica a escolha dos alimentos: reduzem o consumo de carne, de frutas e de legumes, mais difíceis de mastigar e deglutir. Além disso, uma má mastigação reduz a saliva, dificultando assim a preparação dos alimentos para serem deglutidos e digeridos. Os problemas de mastigação podem também ser provocados por próteses dentárias inadequadas ou desajustadas que provocam mal – estar ou dor; - perda ou diminuição de capacidades sensoriais, como o olfato ou o paladar. A falta de paladar, 37 ou o seu enfraquecimento, leva a salgar ou adoçar os alimentos em excesso. O excesso de sal contribui para a elevação da tensão arterial e para a retenção de líquidos que se manifesta por edemas dos tornozelos e pés sobretudo se, o que é frequente, o idoso tiver um estilo de vida muito sedentário (FERREIRA, 2012). Ainda de acordo com o autor, o excesso de açúcar pode facilitar o aparecimento da diabetes porque o organismo, ao envelhecer, produz menos insulina e torna-se menos capaz de processar o açúcar. O enfraquecimento do olfato pode levar à ingestão de alimentos que já não estão em boas condições, porque não sente o cheiro; - perda da sensação real de sede O idoso pode estar desidratado e não ter a correspondente sensação de sede No tempo quente isto será ainda mais grave porque a perda de água é acelerada. Por isso a pirâmide dos alimentos adaptada para idosos põe em grande evidência vários copos de água diários. Deverá beber água mesmo que não sinta sede. O autor afirma que a dose geralmente recomendada é de cerca de 1,5 litros de água, mesmo tendo em conta a água contida nos alimentos; - alteração no aparelho digestivo – diminui a produção de saliva, como já foi referido, sobretudo se a mastigação for deficiente e houver défice de hidratação. O estômago tem menor produção de ácido clorídrico, a passagem dos alimentos do estômago para o restante tubo digestivo é mais demorada, todo o intestino funciona mais lentamente do que no jovem. Por isso as digestões são mais demoradas, havendo frequentemente problemas de obstipação. A estas dificuldades, frequentes no envelhecimento normal, podemos ainda acrescentar: - anorexia – devida ao efeito secundário de alguns fármacos, infeções crónicas ou recorrentes, diversas patologias, depressão e solidão; - desidratação por aumento de perdas devido a infeções, alterações de consciência, comprometimento cognitivo ou ingestão de diuréticos; - patologia mental e psiquiátrica. Para além dos problemas atrás referidos, há inúmeros fatores que influenciam a ingestão alimentar e, consequentemente, o estado nutricional do idoso, e que serão analisados mais em pormenor no decorrer deste trabalho FERREIRA, 2012). 38 12.1 Impacto das alterações fisiológicas nas necessidades nutricionais dos idosos Observemos uma tabela que relaciona as principais alterações fisiológicas que se verificam nos idosos com eventuais repercussões nas suas necessidades nutricionais: Fonte: FERREIRA, 2012. Para uma melhor compreensão desta relação, apresenta-se em seguida uma listagem das vitaminas e minerais nela referidos, suas funções no organismo e alguns dos alimentos em que se encontram segundo Ferreira (2012). Vitaminas • Vitamina D – encontra-se armazenada na pele. Este “armazenamento” processa-se através de alimentos que são fonte deste nutriente e é ativado através dos raios ultravioletas durante a exposição correta ao sol. Tem também como função a absorção de cálcio, pois estimula o transporte deste pelas células da mucosa do intestino. Atua na mobilização do cálcio dos ossos e aumenta a 39 absorção de cálcio e fósforo. É também importante para o equilíbrio das funções neurológicas e cardíacas e para coagulação sanguínea. As fontes alimentares desta vitamina são: sardinha, gema de ovo, fígado, óleo de peixe. • Vitamina B6 ou Piridoxina – atua no equilíbrio hormonal feminino, depressão, tensão pré-menstrual, gravidez, stresse, enxaqueca e outros. Fontes alimentares: carne, fígado, grãos integrais, gérmen de trigo, peixes, aves, ovos, amendoim, leguminosas (lentilha, feijão, grão de bico, ervilha), banana, abacate, batata e couve-flor. • Vitamina E – atua como antioxidante, combatendo os radicais livres, responsáveis pela oxidação do nosso metabolismo. Combate a agregação plaquetária. Fontes alimentares: óleo de gérmen de trigo, óleo de milho, óleo de soja, óleo de girassol, amêndoas, batata doce, abacate, damasco, azeite de oliveira, gema de ovo. • Vitamina B12 ou Cobalamina – está relacionada com o metabolismo de todas as células, especialmente as do trato gastrointestinal, as da medula óssea e as do sistema nervoso. A sua absorção é facilitada pelo suco gástrico. Como a produção deste diminui com a idade, é necessária a ingestão diária deste nutriente que, juntamente com outros micronutrientes como a vitamina C, ácido fólico, ferro, cobre e vitamina B6, é necessário para a formação de hemácias. Encontra-se quase exclusivamente em alimentos de origem animal como fígado, leite, ovos, peixe, queijo e carne. • Vitamina C ou ácido ascórbico – tem um papel importante na formação de colágeno, pelo que é essencial no metabolismo do tecido conjuntivo, ósseo, cartilaginoso, bem como nos processos de cicatrização. Principais fontes alimentares: sumo de acerola, sumo de laranja, pimentos verdes, Kiwi, manga, melão, papaia, morangos, entre outros. • Ácido fólico – é essencial na formação e na maturação de hemácias e de leucócitos na medula óssea. É necessário ao equilíbrio das funções cerebrais e à saúde mental e emocional. A sua deficiência é comum na gestação, alcoolismo, desnutrição, leucemia, terceira idade e doença de Hodgkin. As suas 40 principais fontes alimentares são: fígado, leguminosas (feijão, lentilha, grão-de- bico e ervilha), espinafres, espargos, sumo de laranja e brócolos. Minerais • Cálcio – é o mineral mais abundante no organismo,representando cerca de 1,5 a 2,0% do peso corporal. Atua na composição estrutural dos ossos e dentes; é necessário na contração dos músculos; estabiliza a frequência cardíaca e a pressão arterial; ativa enzimas que ajudam reações metabólicas; ativa hormonas e os neurotransmissores. Encontra-se em: sardinha, leite e derivados, tofu, espinafres e couve. • Zinco – é o material envolvido no maior número de funções metabólicas que se conhece. As suas principais funções são: produção de energia, manutenção da pele saudável, formação de colágeno, participa da estrutura mineral de ossos e dentes, no sistema imunológico, na produção de anticorpos, atua na preservação do paladar, olfato e visão, entre outras. Fontes alimentares: gérmen de trigo, carne vermelha, ostras, fígado, ricota e arroz integral. • Ferro – é pouco absorvível a partir dos alimentos de origem vegetal, enquanto as carnes têm ferro mais bio disponível. A sua absorção é facilitada se ingerido juntamente com vitamina C. Tem como função o transporte de oxigénio, produção de energia, proteção do organismo (porque reforça o sistema imunológico). Existe no fígado, ervilhas, feijão, carne vermelha, gérmen de trigo, espinafres, entre outros (FERREIRA, 2012). 41 13 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DO PACIENTE HOSPITALIZADO Fonte: einstein.br Na Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), na primeira diretriz “Organização da Atenção Nutricional”, a atenção nutricional é defi nida como cuidados relativos à alimentação e nutrição voltados à promoção e proteção da saúde, à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento de agravos, devendo estar associados às demais ações de atenção à saúde do SUS para indivíduos, famílias e comunidades, contribuindo para a conformação de uma rede integrada, resolutiva e humanizada de cuidados (BRASIL, 2016). O Ministério da Saúde, em 2009, publicou a Portaria nº 120/SAS/MS, de 14 de abril, que conceituou a Assistência de Alta Complexidade em Terapia Nutricional (papéis e qualidades técnicas necessárias), estabelecendo critérios e rotinas para habilitar serviços no atendimento para a assistência nutricional; subsidiando tecnicamente o controle e a implantação de serviços hospitalares; estabelecendo uma nova conformação para a Tabela de Procedimentos, Medicamentos e Materiais Especiais do SUS e instituindo a necessidade de Protocolos de Triagem e Avaliação Nutricional e Protocolos de Indicação e Acompanhamento Nutricional. A terapia nutricional tem como principais objetivos prevenir e tratar a desnutrição, preparar o paciente para o procedimento cirúrgico e clínico, melhorar a 42 resposta imunológica e cicatricial, modular a resposta orgânica ao tratamento clínico e cirúrgico, prevenir e tratar as complicações infecciosas e não infecciosas decorrentes do tratamento e da doença, melhorar a qualidade de vida do paciente, reduzir o tempo de internação hospitalar, reduzir a mortalidade e, consequentemente, reduzir custos hospitalares (BRASIL, 2016). Estudos realizados apontam que parte dos indivíduos não se alimenta corretamente no período de internação hospitalar, levando à desnutrição, ao aumento das complicações e, consequentemente, ao aumento dos custos de internação para o SUS. Ministério da Saúde 16 No Brasil, a desnutrição representa o fator de risco de morte mais importante em adultos entre 60 e 74 anos vivendo na comunidade, e essa associação se mostrou ainda mais forte em indivíduos acima de 75 anos de idade (FERREIRA et al, 2011 apud BRASIL, 2016). Outro dado importante é que muitos pacientes já chegam às unidades de internação apresentando desnutrição, aproximadamente 50% dos pacientes admitidos, podendo chegar a 80% em pacientes com câncer de cabeça e pescoço, pâncreas e do trato gastrointestinal. Na Europa, a desnutrição relacionada à doença é altamente prevalente, havendo 20 milhões de pacientes desnutridos, o que custa para os governos europeus 120 bilhões de euros por ano. Estudos europeus mais específicos sobre idosos vivendo na comunidade mostraram que a prevalência de desnutrição associada à doença varia de 19% na Rússia até 84% na Irlanda (FREIJER et al, 2012 apud BRASIL, 2016). Segundo o autor, infelizmente, os dados brasileiros sobre desnutrição são ainda mais negativos que os europeus. Um estudo descritivo, realizado na Escola Nacional de Saúde Pública, verificou que, no Brasil, entre 1980 e 1997, ocorreram 36.955 óbitos por desnutrição em idosos. Desse total, a maioria ocorreu na faixa etária de 70 anos e mais. No idoso, a perda de massa muscular característica dessa etapa (sarcopenia), em geral, está associada à desnutrição, que, por sua vez, relaciona-se com o aumento da susceptibilidade às infecções, maior taxa de mortalidade e redução da qualidade de vida. Entretanto, a desnutrição é frequentemente ignorada, pois é vista, erroneamente, como parte do processo normal de envelhecimento (BRASIL, 2016). De acordo com estudo multicêntrico realizado com base nos dados da pesquisa coordenada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), denominada Saúde, 43 bem-estar e envelhecimento (Sabe), em que foram avaliados idosos residentes no domicílio na cidade de São Paulo no ano 2000, a prevalência de desnutrição foi de 2,2% (n=15.600) e o risco de desnutrição foi de 23,1% (n=161.511), ou seja, ¼ (25,3%) da população apresentava algum déficit do ponto de vista nutricional. O mesmo estudo também verificou que a probabilidade de o idoso apresentar desnutrição aumenta de forma significativa com a idade, confirmando que a idade é fator de risco para desnutrição (ALVES, 2006). Assim como os idosos, as crianças também constituem um grupo etário que merece atenção do ponto de vista nutricional. De acordo com estudo organizado pelo MS/Opas e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que avaliou a prevalência de desnutrição em 904 crianças hospitalizadas de nove capitais brasileiras (Fortaleza, Natal, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Pará e Brasília) no ano 2000, 16,3% das crianças apresentaram baixo peso/estatura e 30% baixa estatura para idade na admissão, sendo que 56,7% não tinham registro no prontuário do estado nutricional e da terapia nutricional adotada (BRASIL, 2016). A desnutrição pode afetar adversamente a evolução clínica de pacientes hospitalizados, aumentando a incidência de infecções, doenças associadas e complicações pós-operatórias, prolongando o tempo de permanência e os custos hospitalares (NORMAN et al., 2008). A identificação da desnutrição constitui importante objetivo de atenção ao tratamento global do paciente internado. Um diagnóstico adequado é essencial para que a terapia nutricional individualizada seja iniciada o mais brevemente possível (BEGHETTO et al., 2008 apud BRASIL, 2016). Estudo multicêntrico, transversal, foi realizado em hospitais em diferentes regiões geográficas do Brasil (2009 a 2011). Conforme a Avaliação Global Subjetiva (AGS), a prevalência de úlcera por pressão (UP) foi de 16,9%, sendo que 52,4% dos pacientes avaliados estavam desnutridos. De acordo com esse estudo, a desnutrição é um dos fatores de risco mais importantes, associados com o desenvolvimento e a gravidade de UP em hospitais. O estudo revela, ainda, que os pacientes que estão desnutridos são mais propensos a desenvolver UP (BRASIL, 2016). Critérios para detectar o risco nutricional na admissão e durante a permanência no hospital são necessários e devem ser implementados nos procedimentos de rotina hospitalar, uma vez que a depleção nutricional pode ocorrer durante a internação. Por 44 meio do estudo Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional Hospitalar (Ibranutri), foi possível detectar a progressão da desnutrição durante a internação hospitalar. De acordo com esse estudo, a desnutrição chegou a atingir 61,0%
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